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Revista Eletrc3b4nica Simposio 2007 Integra
Revista Eletrc3b4nica Simposio 2007 Integra
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3
SUMÁRIO
A
rtigos dos docentes convidados
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Viviane Louro 1
Lisbeth Soares2
Organizadoras do Simpósio de Educação Musical Especial
Embora há muito ocorra a reflexão sobre a inclusão da pessoa com deficiência nos
diversos segmentos sociais, no âmbito da educação musical esta discussão ainda é recente.
Até pouco tempo atrás, somente a musicoterapia se propunha a refletir sobre o fazer musical
de pessoas com necessidades educacionais especiais – unicamente por um prisma terapêutico
– mas de uns anos para cá, os responsáveis pela educação musical começaram a preocupar-se
com esta temática, iniciando as discussões nesta área.
Apesar da inclusão ser vigente – e urgente – poucos são os educadores musicais
que estão, de fato, preparados para lecionar música a alunos com deficiência. Ainda é escasso
o número de pesquisas sobre esse assunto no campo acadêmico musical; além disso, pouco se
sabe sobre o desenvolvimento de materiais e metodologias específicas ou adaptadas para o
fazer musical artístico-pedagógico dessa população. Devido à necessidade de tal demanda,
não podemos deixar de lado essa discussão no âmbito da educação musical.
H. J. Koellreutter, conceituado educador alemão naturalizado brasileiro, afirma
que a educação musical é um meio de desenvolver todas as faculdades do homem, pois, ela
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Doutorando em Neurociências pela UNIFESP. Mestre em música pela Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Bacharel em piano pela Faculdade de Artes Alcântara Machado (FAAM) com estágio no setor de musicoterapia
da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD). Professora de Música na Fundação das Artes de São
Caetano do Sul , sendo também responsável pelo Programa de Apoio Pedagógico e Inclusão nesta mesma
instituição. É organizadora do Simpósio de Educação Musical Especial e do site Música e Inclusão. É autora de
4 livros na área de educação musical inclusiva, consultora pedagógica em inclusão em diversas instituições
artísticas do país e palestrante em todo território nacional sobre esse tema. E-mail: viviane_louro@uol.com.br
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Mestre em Educação Especial pela Universidade Federal de São Carlos. Pedagoga pela Faculdade de Educação
da Universidade de São Paulo, com especialização em Psicopedagogia da Educação Especial, realizada na
Universidade Metodista de São Paulo. É professora de Educação Especial em São Bernardo do Campo/SP desde
1998, atuando no Atendimento Educacional Especializado (AEE) na Educação Infantil e no Ensino
Fundamental. Também atua, desde 1993, como professora de Musicalização Infantil na Fundação das Artes de
São Caetano do Sul/SP, sendo professora responsável pelo Programa de Apoio Pedagógico e Inclusão na mesma
instituição. Trabalhou como tutora virtual e como professora do Curso de Licenciatura em Música da UFSCar,
na modalidade EaD. Atualmente é tutora virtual do curso de Licenciatura em Música da Ação Educacional
Claretiana. Autora do Material Didático “Música e Educação Especial” (Ação Educacional Claretiana). É
organizadora do Simpósio de Educação Musical Especial. E-mail: lisbethsoares@gmail.com
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há muitos recursos que podem ser utilizados e que poderiam ser disponibilizados a todos os
profissionais.
Certamente, o ideal seria que todos os professores de música possuíssem
formação ou pelo menos informações sobre os princípios da inclusão, sobre as adaptações
pedagógicas, metodologias especializadas, recursos materiais e físicos em relação à educação
musical especial, mas não é esta a realidade da maioria dos profissionais, gerando a
necessidade de uma busca independente por tais informações, o que requer disposição, tempo
e investimento financeiro. Infelizmente, nem todos os educadores musicais têm esses
recursos, dificultando assim a inclusão no processo pedagógico musical.
Portanto, para que a educação inclusiva ocorra de forma eficaz no contexto
musical, além de boa vontade é necessário compromisso dos educadores musicais e uma
política educacional eficaz por parte das autoridades, para que as pessoas com deficiências
tenham as mesmas oportunidades em relação à cultura, expressão artística e aprendizagem
musical. De acordo com Claus Bang “os deficientes têm o direito moral, cívico e legal de
receber um nível de educação artística semelhante ao das pessoas não deficientes” (RUUD,
1991).
Referências bibliográficas
ATACK. Sally M. Atividades artísticas para deficientes. Trad. Thaís Helena F. Santos.
Campinas: Papirus, 1995. 196 p. (Coleção Educação Especial).
RUUD, Even. (org). Música e saúde. Trad. Vera Bloch Wrobel, Glória Paschoal de Camargo
e Miriam Goldfeder. São Paulo: Summus, 1991. 175 p.
SANTOS, Luís Otávio Gomes do. Arte e reabilitação. Revista Integração, São Paulo, n. 7,
1989.
SILVA, Otto Marques da. A epopeia ignorada – A pessoa deficiente no mundo de ontem e
hoje. São Paulo: CEDAS, 1998. 470 p.
Resumo: Este artigo tem como objetivo elucidar as relações entre os processamentos da
informação na aprendizagem e suas inter-relações.
As neurociências
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Professor de flauta transversal e teoria musical em instituições especializadas ao atendimento cultural e
pedagógico de pessoas com múltiplas deficiências. Professor particular de música para crianças autistas.
Participou de diversos cursos na área da deficiência física, mental, autismo, surdez e psicomotricidade em vários
estados brasileiros. Ministra, constantemente, cursos e palestras para professores de música e pessoas ligadas à
área da deficiência. Atualmente, cursa pedagogia com licenciatura em Deficiência Mental pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie. E-mail: alexfda@yahoo.com.br
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Por isso, a importância do estudo da neurociência, isto é, ela nos é útil para
conseguirmos fazer uma leitura diferenciada de cada aluno, para que possamos dialogar com
diferentes tipos de pessoas e articular novas práticas, diversificando estratégias, com o
objetivo de colaborar para que nossos alunos tenham maior possibilidade de aprender. —
“Afinal, o que o cérebro faz melhor é aprender, o cérebro se autorrenova a cada estímulo,
experiência ou comportamento” (JENSEN, 2002, p. 26).
Referências bibliográficas
Viviane Louro 4
A psicomotricidade
ter acesso aos símbolos e à abstração, isto é, a psicomotricidade é essencial para a construção
dos conceitos e aquisição da aprendizagem.
seja, de cima para baixo (cefalocaudal). Nenhuma criança anda antes de sustentar a cabeça, ou
senta, antes de desenvolver a visão, a não ser que ela tenha uma deficiência que a impeça de
se desenvolver em determinadas questões. Da mesma forma, a motricidade grossa é
desenvolvida antes da fina, ou seja, do todo para as partes (proximodistal). A criança
inicialmente desenvolve a preensão manual grossa que vai, com o passar dos anos, sendo
refinada e nunca ao contrário.
E o que faz com que haja esse desenvolvimento adequado das funções
neurológicas? Principalmente as vivências, os estímulos dados à pessoa, essencialmente nos
seus primeiros anos de vida. Por isso, as vivências são tão importantes para o processo de
aprendizagem. Integram essas vivências: a criança perceber e tocar no seu corpo; os estímulos
auditivos, visuais, tátil-sinestésicos; estímulos do paladar e olfato; rolar, engatinhar, correr,
pular, brincar; ler, cantar... enfim, praticamente tudo!!!
pontas dos pés; equilíbrio dinâmico: movimentos locomotores como andar, marchar e
correr.
• Lateralização: é a dominância lateral da pessoa que é construída por dados
neurológicos (hemisfério cerebral dominante) e hábitos sociais (destro ou canhoto).
• Lateralidade: é o eixo imaginário que divide o corpo em duas partes semelhantes,
mas que não são iguais (consciência de direção – direita/esquerda).
• Orientação espaço-temporal: orientação do mundo exterior referindo-se, primeiro ao
eu, depois a outros objetos ou pessoas em posição estática ou em movimento. A noção
espacial se desenvolve através dos primeiros movimentos que atua no campo espacial
limitado pelos seus deslocamentos, e que, com o tempo e vivência cria-se seu próprio
campo espacial, seu espaço próprio subjetivo. Capacidade de situar-se em função da
sucessão dos acontecimentos: antes, depois, durante; consciência de duração: longos e
curtos; capacidade de diferenciar ritmos regulares e irregulares e noções de tempo: lento,
rápido.
Portanto, uma pessoa que deixa de vivenciar devidamente seu corpo ou possui um
atraso em seu desenvolvimento psicomotor, devido a uma deficiência ou falta de estimulação,
pode apresentar sérios problemas quanto à construção de seu esquema corporal, temporal,
espacial, lateralização, coordenação motora, postura, entre outros. Consequentemente, tais
déficits poderão prejudicar o desenvolvimento da aprendizagem e a aquisição de habilidades.
Assim sendo, uma criança que, por exemplo, nasceu com deficiência visual total
poderá ter um déficit no que se refere a seu desenvolvimento de marcha, ou mesmo de postura
já que, não possuindo estímulo visual, não sente tanta necessidade de ir em busca do objeto ou
de manter sua cabeça ereta, além do que, o fato de não ver dificulta sua locomoção
livremente, podendo acarretar uma distorção da construção espaço/tempo, da marcha e dos
movimentos de seu corpo.
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Música e psicomotricidade
Mas o que isso tudo que acabamos de abordar tem a ver com a aprendizagem
musical?
necessários, entre outras coisas, para uma boa aprendizagem futura, seja esta musical ou outra
qualquer.
Breve conclusão
Referências bibliográficas
LOUREIRO, Maria Beatriz da Silva. Psicomotricidade. São Paulo: ISPE – GAE, 2003.
LOURO, et al. Educação musical e deficiência: propostas pedagógicas. São Carlos: edição
do autor, 2006.
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Resumo: O presente relato tem como objetivo principal apresentar e discutir alguns dados
coletados em recente pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Educação da
Universidade Federal de São Carlos, no período de 2002 a 2004. O objetivo geral e norteador
na elaboração da referida pesquisa foi: conhecer e discutir como os professores de
instrumento musical, que lecionam para crianças numa escola de ensino específico, relatam
seu processo de aprendizagem para a docência a partir de dois eixos centrais: ensinar e
avaliar. Partindo da temática sugerida nesta mesa-redonda centralizaremos o desenvolvimento
deste texto nos dados apresentados sobre os dilemas vivenciados pelos professores no início
da docência. Optamos pela pesquisa qualitativa e realizamos entrevistas de caráter
semiestruturado, em que participaram dez professores de instrumento. O diálogo final aponta
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Texto apresentado no IV Simpósio de Educação Musical Especial – FEFISA/Santo André – SP (02, 03 e 04 de
novembro de 2007)
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Doutora em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (2010). Desde 2009 é professora efetiva do
Departamento de Artes e Comunicação da UFSCar, atuando nos cursos de Licenciatura em Música (presencial) e
Licenciatura em Educação Musical (a distância pela UAB), do qual é coordenadora. Concluiu o Bacharelado em
Música - Flauta Doce em 1996 pela Faculdade de Artes Alcântara Machado. Foi professora de Rítmica na Escola
de Música da Fundação das Artes de São Caetano do Sul de 1993 a 2009, da qual foi coordenadora pedagógica
no ano de 2006. Na área de EaD exerceu atividade como tutora virtual do Curso de Educação Musical da UAB-
UFSCar, formadora no Programa Descubra a Orquestra (OSESP) e no Projeto Guri. Atualmente orienta a
elaboração de trabalhos de conclusão de curso de graduação e iniciação científica nas áreas de educação musical,
ensino de instrumento e uso de recursos tecnológicos musicais.. E-mail: profa.isamara@gmail.com.
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Professora do curso de Licenciatura em Música com habilitação em Educação Musical na Universidade Federal
de São Carlos (UFSCar), mestre em Educação Especial e doutora em Educação, professora orientadora no
Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSCar. Coordenadora do programa de extensão “Educação
Musical na UFSCar”, fundadora e coordenadora do programa de formação de orquestras da UFSCar, regente da
Camerata Vivace e da Orquestra Experimental da UFSCar. E-mail: ilzazenker@gmail.com
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Nome fictício da escola de música onde leciona o grupo de professores pesquisados.
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Bacharelado em Instrumento,
10% P5
Composição e Regência
“Eu queria tocar violão. Eu não tinha muito essa ideia: O que eu vou fazer da
minha vida? Como eu vou ganhar dinheiro? Nunca pensei nisso assim, né.
Eu queria tocar. Queria tocar e ter tempo para estudar (P4)”.
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P equivale a professor e o número ao lado significa a ordenação das entrevistas. Assim, P1 foi o
primeiro entrevistado.
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“Mestra PM, ela não foi a minha primeira professora de violino, mas foi a
pessoa mais importante da minha vida, durante muitos anos e... sabe
aquela... porto seguro?!” (P5).
“Mexeu comigo assim, a forma como ele tratava a gente, a forma como ele
orientava, o carinho que ele tinha pela questão pedagógica, de como fazer a
gente entender e de como ele tirava as coisas da gente” (P4).
Neste sentido, Tardif (2002) traz a formação escolar anterior e as condições reais
de trabalho como uma das fontes de desenvolvimento da docência, sendo a primeira tão forte
que pouco se desestabiliza com a formação docente acadêmica. Em relação aos saberes
proporcionados pela experiência em sala de aula, endossamos a opinião do grupo de
Mizukami (1999) e Pimenta (2002) de que deve haver discussão sobre a qualidade dos
saberes que a prática ofereceu no contexto de cada escola e na história escolar e pessoal de
cada professor. “Não nos acomodarmos com o que julgamos saber” (LACORTE, 2003, p.
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A obra de Paulo Freire, apesar de ter na educação de adultos seu eixo condutor,
apresenta-nos uma série de conceitos que poderão ser transportados para diferentes contextos
educacionais, possibilitando discussões, avaliações e revisões de nossas escolhas. Educação
para todos como direito de sujeito historicamente contextualizado. Educação para todos,
entendendo-se com “todos” diversidade de raça, de gênero, de renda, religião, saúde,
aprendizagem etc. Educação para todos, em que a diversidade não é obstáculo ou justificativa
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para o não aprender e o tão popular fracasso escolar, e na qual o espaço escolar não é o único
privilegiado para situações de aprendizagem.
Educação para todos, na qual a situação não é, apenas está sendo, devendo, assim,
ser transformada para a promoção de todos. —É triste, mas, que fazer? A realidade é mesmo
esta. A realidade, porém, não é inexoravelmente esta. Está sendo esta como poderia ser outra
e é para que seja outra que precisamos, os progressistas, lutar” (FREIRE, 1999, p. 83).
Um amor armado de Paro (2001), Hoffman (2000, 2002a, 2002b e 2003), Luckesi
(1998 e 2003), Rios (2003), Vasconcellos (1998) e Moreto (2003 e 2004)10, que não aceitam
mais que a escola e a sociedade responsabilizem o educando por sua não aprendizagem.
Hoffman (2003) diz que muito tempo é perdido discutindo-se instrumento de coleta de dados
para avaliação e não concentramos energia e tempo suficientes para uma discussão sobre
metodologias de ensino, nem para uma melhor mediação entre educador e educando.
10
Os autores foram agrupados por compartilharem uma indignação contra o abuso das práticas avaliativas
autoritárias, excessivamente classificatórias e excludentes.
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orientação e de nossa ajuda para evitar que qualquer falha detectada torne-se
definitiva” (MÉNDEZ, 2002, p. 17).
P5 não recorda a presença dessa dificuldade em seus primeiros anos, porém, faz
um desabafo que denuncia quão desencontrados caminham ensino prático-instrumental e
ensino da linguagem musical. Em sua fala, constatamos P5 muito frustrado com os limites de
compreensão da linguagem musical apresentados por seus alunos nas aulas práticas. P5 tem
algumas expectativas a que os professores do núcleo de formação musical12 (iniciação
musical e níveis iniciais do curso livre), responsáveis direto pelo ensino da linguagem, não
correspondem.
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Livros com exercícios técnicos e repertório de músicas específicas de cada instrumento.
12
Curso dividido em três módulos grandes: Iniciação musical (5 anos de duração / público: infantil), Curso livre
(6 semestres de duração / público: adolescentes e adultos), Profissionalizante Nível Médio (4 semestres de
duração / público: adolescentes e adultos)
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Agora se o cara tem capacidade de tocar “Atirei o pau no gato” num violino,
afinado, não é possível que ele não consiga escrever quaternário” (P5)!
A área de educação musical nos mostra diferentes produções que refletem esse
embate entre prática instrumental e sistematização da linguagem. Segundo Fonterrada (2001)
os trabalhos desenvolvidos e sistematizados por educadores musicais da primeira metade do
século XX, tais como C. Orff (1895-1982), E. Willems (1890-1978), J. Dalcroze (1865-1950)
e Z. Kodály (1882-1967), são unânimes na orientação de que o professor deve criar situações
favoráveis à experimentação, manipulação e criação da música em seus diferentes aspectos:
audição, prática vocal, prática instrumental, improvisação e consciência corporal. A
sistematização da música como linguagem é entendida como etapa posterior, na obra desses
educadores.
A introdução à leitura e escrita precisa ser feita com cuidado pois é a ponte
que possibilita aos alunos a passagem do “concreto para o abstrato” o que
permite afirmar que esta etapa só deverá acontecer na vida musical depois de
vencidas etapas anteriores (BORGES, 1997, p. 66).
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Neste sentido, Gordon (2000) traz a ideia de que a audição (audição interior e
significativa) deve ser anterior à sistematização da linguagem e à destreza técnica
instrumental. Inicialmente, o estudante será estimulado a ouvir interiormente e a cantar
padrões tonais e rítmicos familiares. Só posteriormente fará a transposição para um
instrumento externo ao seu corpo.
Não há um método único de sucesso garantido para todos. Assim, a adoção dos
diferentes métodos, justificados por P1 e P2 como sendo o motivo de uma pressão para a
urgente notação, parece demonstrar uma submissão das escolhas do professor de instrumento
em virtude de um método (conjunto de estudos técnicos ou repertório). O tal método ou livro
foi elaborado a partir de um referencial de criança-aluno, sociedade, época, que não
necessariamente condiz com o nosso e o de nossos alunos. Esta autonomia dada aos métodos
pode provocar um desconforto, pois os alunos reais não correspondem, muitas vezes, à
disponibilidade temporal, corporal, de interesse musical e técnico prevista por tais livros.
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Referências bibliográficas
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1999. p. 165.
______. Professora sim, tia não – Cartas a quem ousa ensinar. 9. ed. São Paulo: Olho
d'Água, 1998. p. 127.
______. Avaliação, mito e desafio – Uma perspectiva construtivista. 31. ed. Porto Alegre:
Mediação, 2002b. p. 118.
______. Avaliar para promover – As setas do caminho. 2. ed. Porto Alegre: Mediação,
2002a. p. 217.
LACORTE, Marisa Rosana. A música como portadora de valores humanos essenciais. 213
f. Dissertação (Mestrado em Música). – Instituto de Artes, Universidade Estadual Paulista,
São Paulo, 2003.
MÉNDEZ, Juan Manuel Êlvarez. Avaliar para conhecer – Examinar para excluir. Porto
Alegre: Artmed, 2002. p. 133.
______. Prova – um momento privilegiado de estudo – não um acerto de contas. 3. ed. Rio
de Janeiro: DP&A, 2003. p. 150.
PARO, Vitor H. Reprovação escolar – renúncia à educação. São Paulo: Xamã, 2001. p. 168.
PIMENTA, Selma Garrido. Professor reflexivo: construindo uma crítica. In: PIMENTA,
Selma Garrido e GHEDIN, Evandro (Orgs.). Professor reflexivo no Brasil – Gênese e crítica
de um conceito. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2002. p. 17-52.
Lisbeth Soares 13
Resumo: O presente artigo propõe a discussão sobre as demandas atuais do ensino de música,
enfatizando a importância dos saberes musicais e dos saberes pedagógicos na atuação do
educador. Discute, também, a necessidade de rever os paradigmas, principalmente
considerando os princípios de educação para todos, apresentando algumas das práticas
inclusivas desenvolvidas em uma escola de música.
O educador musical, nos dias de hoje, não deve mais ser aquele que apenas
transmite técnicas relativas aos instrumentos ou conceitos referentes aos elementos teóricos da
música; sua atuação deve estar pautada na reflexão constante sobre suas práticas e sobre os
desempenhos dos alunos, nos diferentes níveis. Várias autoras (DEL BEN, 2003,
BELLOCHIO, 2003; CARVALHO, 2004, SOARES, 2006) destacam que, para ensinar
música, saberes musicais e saberes pedagógicos são fundamentais, pois já não é mais possível
acreditar que apenas saber tocar um instrumento seja suficiente.
O diálogo com outras áreas de conhecimento, tais como psicologia, sociologia,
antropologia e filosofia também se faz necessário, visto que poderá fornecer subsídios “para a
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Mestre em Educação Especial pela Universidade Federal de São Carlos. Pedagoga pela Faculdade de
Educação da Universidade de São Paulo, com especialização em Psicopedagogia da Educação Especial,
realizada na Universidade Metodista de São Paulo. É professora de Educação Especial em São Bernardo do
Campo/SP desde 1998, atuando no Atendimento Educacional Especializado (AEE) na Educação Infantil e no
Ensino Fundamental. Também atua, desde 1993, como professora de Musicalização Infantil na Fundação das
Artes de São Caetano do Sul/SP, sendo professora responsável pelo Programa de Apoio Pedagógico e Inclusão
na mesma instituição. Trabalhou como tutora virtual e como professora do Curso de Licenciatura em Música da
UFSCar, na modalidade EaD. Atualmente é tutora virtual do curso de Licenciatura em Música da Ação
Educacional Claretiana. É organizadora do Simpósio de Educação Musical Especial. E-mail:
lisbethsoares@gmail.com
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compreensão do significado da música para o homem e dos papéis que ela pode desempenhar
na atualidade”. (FONTERRADA, 2007, p. 31). Para o educador musical, tais referências
podem colaborar para o entendimento da música como linguagem construída cultural e
socialmente, procurando quebrar com as dicotomias a muito estabelecidas, quais sejam:
música popular/música erudita; música de ontem/música de hoje; música de jovens/música de
velhos; música fácil/música difícil (BEINEKE, 2001; FREGA, 2007), já que estas parecem
indicar que há uma escala de valores, havendo músicas mais importantes do que outras.
Também é necessário que o educador musical reflita sobre o contato que as pessoas têm com
a música, pois este não está restrito às escolas especializadas, posto que existem diferentes
espaços – escolas, associações de bairro, ONGs, igrejas etc. – nos quais práticas musicais são
realizadas.
Segundo Fonterrada (2007, p. 30), “o valor atribuído à educação musical, em cada
época, é estreitamente dependente do valor conferido à música” e os educadores musicais
devem estar conscientes das demandas de seu tempo e das características das crianças, jovens
e adultos que estão envolvidos no processo de aprendizagem musical. É importante refletir,
também, que esse processo acontece de formas distintas, de acordo com as particularidades de
cada sujeito envolvido, o que implica em considerar que não há uma única maneira de
aprender e de ensinar.
Para Batres (2006), o futuro educador musical deve ser um “desconstrutor de
Paradigmas”, ou seja, deve ser um profissional que provoque mudanças sem deixar de
respeitar os saberes tradicionais e os seus próprios valores culturais, atuando de forma a
facilitar o acesso de todos ao conhecimento musical. (SOARES, 2006).
14
Entre estes educadores convém destacar: Dalcroze, Orff, Koellreutter e Swanwick .
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Na Escola de Música da Fundação das Artes de São Caetano do Sul (São Paulo),
foram iniciadas, em 2007, algumas atividades visando fornecer informações importantes e
orientações pedagógicas aos professores, bem como dar apoio aos alunos e seus familiares,
buscando o melhor desempenho destes no curso escolhido. Estas práticas fazem parte de um
projeto de apoio à inclusão, o qual visa colaborar com professores e alunos, em relação às
necessidades de adaptações de materiais, de procedimentos, de planejamentos e de currículos
no que diz respeito ao atendimento à diversidade. As ações realizadas até o presente momento
são as seguintes:
Tais ações estão baseadas nos princípios da educação inclusiva, segundo a qual a
escola deve preparar-se para atender a todas as necessidades decorrentes das diferenças entre
as pessoas, oferecendo diferentes oportunidades para o crescimento de todos. Ainda são ações
pequenas, mas que, aos poucos, vêm demonstrando a importância de um trabalho cooperativo
entre os diferentes profissionais, alunos e seus familiares, conforme ressalta Mendes (sd., p.5):
Algumas conclusões
devem proporcionar oportunidades de demonstrar como estes veem o mundo e como se veem
no mundo, o que é preconizado, também pelas diferentes metodologias da educação musical.
Cabe ao professor fazer as adaptações necessárias, visando valorizar, sempre, as
potencialidades de todos. As escolas de música não podem ficar alheias a estas demandas,
considerando que a inclusão é um direito e uma conquista de todos.
Referências bibliográficas
Artes, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, São Paulo, 2003. p. 208.
______. Radicalização do debate sobre inclusão escolar no Brasil. 2005 (não publicado).
SACKS, O. Alucinações musicais: relatos sobre a música e o cérebro. Trad. Laura Teixeira
Mota. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
Resumo: O Coral Cênico Cidadãos Cantantes atua como política pública (Secretaria de Saúde
/Cultura) de inclusão social pela convivência de diferentes atores sociais, visando a
constituição de grupo heterogêneo que se agrega em torno de uma tarefa comum, utilizando,
para isso, de espaços públicos, como o Centro Cultural São Paulo e a Galeria Olido no
desenvolvimento de suas atividades. Pretende-se nesta comunicação discutir a respeito da
interface possível entre canto coral, arte e saúde na contemporaneidade e o trabalho com
grupo heterogêneo, sob o ponto de vista da produção artística e a construção de sentidos no
Coral Cênico Cidadãos Cantantes. Para alimentar essa discussão lançou-se mão das ideias de
Samuel Kerr, Ana Mae Barbosa, Elizabeth M. F. Lima, Peter P. Pelbart e Foucault,
principalmente pela conformação do conceito de biopolítica, pelo qual revela uma sociedade
em que o controle, a categorização e a vigilância estão cada vez mais presentes. Este estudo
recupera o sentido da arte como um atributo humano capaz de transformar atitudes, lugares do
saber e lugares de existência.
Introdução
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Bacharel em Composição e Regência pelo Instituto de Artes da Unesp (1990). Mestre em Música pela
Universidade Estadual Paulista – Instituto de Artes (2005). Atualmente é professor de música da Escola
Municipal de Iniciação Artística, regente do FALAMUNDO Coral com Imigrantes, na Galeria Olido, diretor
musical do Coral Cênico Cidadãos Cantantes e regente do Grupo Vocal Independente Canto Porque Gosto. Tem
experiência na área de Artes, com ênfase em Regência, atuando principalmente nos seguintes temas: coral e
cidadania, canto coral, coral, artes cênicas arranjo coral. E-mail: juliomaluf@terra.com.br
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depressão, como “tábua de salvação”; em outro, esta experiência artística é vivida quase como
um milagre, possibilitando novos sentidos de vida, especialmente quando se trata da
realização de uma criação própria, carregada de vivência e subjetividade. Nas palavras de um
dos participantes: “compor uma música dentro da minha história”. Essa experiência, na visão
do cantor, deu lugar a uma ressurreição, um renascimento, dando vida a algo que ele já
julgava morto.
Algumas produções artísticas individuais demonstram a necessidade de expressão
que sintetiza outras necessidades, como a de falarem e serem ouvidas, de serem olhadas em
suas individualidades, em suas potencialidades, e não naquilo que lhes falta.
A participação de todos na construção do repertório a partir de suas vivências
pessoais e pesquisas em grupo, se aproxima muito da maneira do maestro Samuel Kerr pensar
a atividade coral. Kerr diz que a pesquisa, dentro de um projeto sonoro Coral, “(...) é irmã da
invenção e filha da canção. É a busca de um repertório sem ponto final. Tem muitos
caminhos, nem sempre musicais...” (KERR, S.; BREIM, R., 1989, p. 54). Em outro texto seu,
o autor reitera a importância da pesquisa e do resgate da memória do cantor e da comunidade,
como busca de elementos para se “oxigenar” a prática coral, numa perspectiva que busca
valorizar mais o processo (a pesquisa em si) que o resultado final, chamando a esse
procedimento de “partituras de utopia” (KERR, 2000, p. 12).
A ideia de o trabalho no Coral Cênico se dar pela produção artística e não apenas
pela convivência, direta ou indiretamente, perpassa praticamente todos os depoimentos dos
entrevistados, pois todos defendem o mesmo ponto de vista, que valoriza o indivíduo que faz
arte, e participa de um grupo que congrega os mesmos objetivos, no que diz respeito à
inclusão e ao respeito às diferenças. É interessante notar que o fazer artístico neste grupo
inclui lidar com o outro, e reconhecer o outro em suas diferenças e similaridades, pelo
respeito aos ritmos individuais, às escutas diversas e às diferentes vozes.
Num grupo com as características apontadas, é necessário desconstruir alguns
conceitos prévios acerca do trabalho Coral, que tem a homogeneidade sonora como meta, ou
mesmo alguns conceitos acerca da afinação e de se ter “boa voz para cantar”. O Grupo se
propõe a trabalhar com as diferenças e não apesar delas. Julga-se que este conceito seja atual
e necessário para a construção de uma sociedade mais tolerante do que aquela em que
vivemos. Como pontua Lima (2003b, p. 70): é no desejo das diferenças que a arte busca seu
alimento, não pelo interesse no exótico ou no diferente em sua subjetividade, mas sim nas
relações novas que podem ser criadas a partir dessa abertura ao outro.
Acredita-se que é na convivência com as diferenças que se dá a grande
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singularidade desse projeto, e que essa condição influi tanto no campo da criação, quanto no
campo social, tendo alcance terapêutico não como fim, mas como consequência do
envolvimento dos participantes com a produção artística do grupo.
Construção do repertório
Heterogeneidade e singularidades
Considerações finais
uma dada harmonia, e que tal harmonia é, também, um dado cultural e histórico que pode e
deve ser entendido dentro de seu contexto.
O filósofo Focault aponta para o fato de que onde o poder se faz presente, é neste
mesmo lugar que irá se instalar uma força de resistência a esse mesmo poder (FOUCAULT,
p. 135-6, 1985; LIMA, 2003b; PELBART, 2003), ao propor a transformação da negatividade
da ação do biopoder, isto é, do poder sobre a vida, em positividade da biopotência, ou seja, do
poder da vida.
O Coral Cênico Cidadãos Cantantes se apresenta como possibilidade de
resistência quando constrói sua produção musical e artística sob o alicerce da diversidade de
seus integrantes, do uso de espaço público, e do trabalho interdisciplinar de sua equipe,
propondo o questionamento dos padrões de normalidade, musicalidade e eficiência na
atividade coral, trazendo, assim, benefícios a todos os envolvidos, sejam cantores ou
orientadores.
Referências bibliográficas
FOUCAULT, M. Doença mental e psicologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2000.
99 p.
______. História da sexualidade I: a vontade de saber. 6. ed. Rio de Janeiro: Edições Graal,
1985. 152 p.
KERR, S.; BREIM, R. Monitores corais. São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura, 1989.
118 p.
KERR, S. História da atividade musical na Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo. São
Paulo: EDICON, 2000. 173 p.
______. Vida capital: ensaios de biopolítica. São Paulo: Iluminuras, 2003. 252 p.
SCHAFER, R. M. Patria and the theatre of confluence. Indian River: Arcana, 1991.
45
Soraya Rebouças 16
16
Formada em Psicopedagogia pela Universidade São Marcos/SP e em Pedagogia com Especialização em
Educação Especial - área Deficiência Intelectual pela PUC/Campinas. Tem formação em Educação Artística
(Artes Cênicas) pela FAINC e Laban pela Escola livre de Danças de Santo André/SP. Trabalhou como
professora da Educação Especial na Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo/SP, desenvolvendo
também atividades na rede privada e terceiro setor. Atualmente, atende clinicamente como Psicopedagoga,
oferecendo consultoria a escolas sobre inclusão de pessoas com necessidades especiais.
É focalizadora de Danças Circulares, desenvolvendo ações nos parques públicos de São Bernardo do Campo, em
cursos de formação para professores, na Faculdade Aberta da Terceira Idade (FATI) e em Encontros de Dança.
E-mail: sorayareboucas@hotmail.com
17
Este projeto foi desenvolvido no ano de 2007.
46
melhores na frente e os não tão melhores no fundo! A roda e as Danças Circulares, em sua
maioria, são dançadas de mãos dadas o que permite um maior conforto e segurança aos seus
integrantes; além disso, ao dançarmos em círculo e não em linha neutralizamos o medo do
erro, pois ele acaba passando despercebido pela grande maioria dos integrantes da roda.
Acrescentamos a essa escolha a criação de um repertório de movimento e uma ampliação do
universo cultural desses adolescentes. Esses adolescentes frequentam escolas da Rede
Estadual de São Paulo e da Rede Municipal de Ensino de São Bernardo do Campo, sendo
uma escola de Ensino Fundamental II (de 5ª à 8ª série), outra de Ensino Fundamental I (1ª à 4ª
série) e uma Escola de Educação Especial. Na escola de Educação Especial existe, desde
1998, um programa de Artes; esse programa aborda as várias linguagens da Arte e através
dele foi iniciado um trabalho em Danças Circulares com os alunos com necessidades
educativas especiais. Referido trabalho foi ampliado como um convite para participação de
alunos de outras escolas para que, além do trabalho com dança, pudéssemos trabalhar em uma
proposta de inclusão através da Arte.
Os resultados do trabalho têm sido muito satisfatórios, e além de grandes
conquistas no quesito inclusão acabamos conseguindo um resultado bastante expressivo em
qualidade de movimento. Por esse resultado apresentado resolvemos ampliar o trabalho,
acrescentando as ideias de Laban, a dança contemporânea, e o uso de objetos às Danças
Circulares. Nessa nova proposta baseamos nossa abordagem em funções cinéticas
elementares: dobrar, esticar e torcer.
O corpo dobra, estica e torce. Estas são as funções mecânicas do corpo humano
(há corpos que não dobram ou não torcem). Sim, são apenas três funções, e, a partir delas, o
mundo do movimento acontece. (RENGEL, 2006, p.17).
Percebemos que os alunos tinham grande dificuldade em interpretar o torcer,
como realizar esse movimento corporalmente, como colocar em oposição as partes do seu
corpo, e essa dificuldade não era apenas dos adolescentes com necessidades educativas
especiais, mas era uma dificuldade de todo o grupo. Para auxiliar nesse entendimento foi
acrescentado às aulas o uso de tecidos individuais e posteriormente um grande tecido. O uso
do tecido tinha a função de tornar visível, naquele suporte, os movimentos de dobrar, esticar
e, principalmente, torcer. Aos poucos notamos uma melhora qualitativa proporcionada pelo
uso dos tecidos, mas a essa melhora estava associada movimentos muito interessantes que o
grupo conseguiu junto a esse suporte, e assim surgiu a ideia de continuarmos com os tecidos
nas apresentações.
Estamos na nossa terceira coreografia após um ano e três meses de trabalho. Essa
48
coreografia foi elaborada para comemorarmos o nosso aniversário de um ano que foi no mês
de agosto de 2007, e foi apresentada no Teatro Cacilda Becker no Projeto Quintas Especiais
do Departamento de Cultura de São Bernardo do Campo, no Hospital Mário Covas de Santo
André, no I Encontro de Pacientes Reabilitados, na Escola Livre de Dança de Santo André, e
agora no IV Simpósio de Educação Musical Especial. Notamos que ao se apresentarem os
adolescentes que já eram do grupo a mais tempo – pois, como foi dito anteriormente existia
um grupo de danças na escola de educação especial –, mostraram mais tranquilidade, já os
adolescentes das outras escolas precisaram de mais tempo para enfrentarem suas barreiras
frente ao público. Quanto mais idade apresenta o adolescente mais dificuldade de se expor ele
demonstra. Para os adolescentes com necessidades especiais este trabalho tem sido positivo,
pois permitiu que pessoas da comunidade próxima à escola especial os vissem como capazes
de produzir, e assim, serem aceitos por colaborarem de fato com o grupo; e para os
adolescentes sem necessidades educativas especiais o trabalho também é muito importante,
pois os ensinou a respeitar o ritmo de pessoas com habilidades e competências diferenciadas,
mas capazes de produzir; outro fator bastante significativo foi a ampliação do universo social
e cultural desses adolescentes, que por pertencerem a classes sociais menos favorecidas não
tinham essa possibilidade, não só por questões financeiras mas, muitas vezes, pelo
desconhecimento, porque muitos nunca tinham entrado em um teatro. Contudo, não posso
dizer que seja um trabalho fácil de ser realizado. Essa união de grupos com interesses tão
distintos e tão iguais no que se refere à dança, gera desafios constantes a cada encontro, que
exigem dos profissionais envolvidos extrema habilidade. Pensando em todo esse percurso,
nosso último espetáculo foi batizado de Trajetórias:
No início era a rigidez da forma, pessoas que cruzavam os mesmos caminhos, mas
ainda não se conheciam... pouco a pouca a rigidez foi sendo quebrada e os movimentos mais
sinuosos e as pessoas mais felizes por estarem juntas trouxeram beleza, leveza para o palco...
por fim, perceberam que podiam trabalhar juntas e assim criar algo para todos! E só para não
esquecer como tudo isso foi possível voltamos à roda, onde todos somos um só!
O trabalho continua e apesar de muitas conquistas, sabemos que muito ainda
temos a Percorrer. O caminho se faz também ao caminhar e caminhando juntos, de mãos
dadas, nos fortalecemos como pessoas, que aprendem umas com as outras e se transformam à
medida que dialogam e vencem suas dificuldades.
49
Referências bibliográficas
BARTON, Anna. Dançando o caminho sagrado. Trad. Márcia Schubert. RAMOS, Renata
Carvalho Lima (Org.). São Paulo: Triom 2006.
GARAUDY, Roger. Dançar a vida. Trad. Antônio Guimarães Filho e Glória Mariani. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1980.
LABAN, Rudolf. Domínio do movimento. Trad. Anna Maria Barros de Vecchi e Maria
Sílvia Mourão Neto. ULLMANN, Lisa (Org.). São Paulo: Summus, 1978.
Sérgio Zanck 18
18
Ator formado pela Fundação das Artes de São Caetano do Sul. Experiência profissional de 10 anos em
produção, criação artística e atuação, em teatro e música, bem como, em aulas de teatro para pessoas com
deficiências. Foi diretor artístico do Grupo Cênico-Musical Trupe do Trapo, formado por pessoas com e sem
deficiência. Como músico já participou de várias bandas em shows, gravações de CDs e da produção de trilhas
sonoras de várias peças teatrais. Como ator, atualmente estuda “teatro físico e circo-teatro”. Há dois anos
desenvolve a pesquisa “A música em cena e música que encena”, processo investigativo onde analisa as
diferenças e semelhanças das duas linguagens. E-mail: sergiozanck@hotmail.com
51
19
Fragmento extraído da revista “Integração. Arte e reabilitação”, de matéria publicada em Dezembro de 1989.
20
SPOLIN, Viola. “Improvisação para o teatro”. 1963.
52
Trupe do Trapo
Referências bibliográficas
21
SANTOS, Marilene Ribeiro dos. Fragmento extraído da apresentação do caderno de textos do
“Arte sem Barreiras”.
2002.
53
Margarete de Oliveira22
Amanda Pinto da Fonseca Tojal23
Pinacoteca do Estado de São Paulo – Núcleo de Ação Educativa
Introdução
22
Licenciada em Letras e Pós- Graduada (Lato Senso) em “Práxis Artística e Terapêutica: Interfaces da Arte e da
Saúde”, ambos pela USP. Possui experiência em projetos e ações educativas nas áreas de Arte, Literatura,
Educação e Educação Especial; Assessoria na área de Educação Especial em museus de arte e elaboração de
material didático multissensorial. Participou de vários congressos, cursos e seminários na área de iniciação
científica, arte e educação especial. Possui experiência como docente de cursos para formação de professores na
área de arte e inclusão. E-mail: moliveira@pinacoteca.org.br
23
Doutora em Ciências da Informação pela Escola de Comunicações e Artes /USP. tendo cursado o Mestrado na
mesma instituição. Especialização em Museologia pela Faculdade de Sociologia e Política de São Paulo e curso
superior em Licenciatura em Educação Artística pela Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando
Álvares Penteado(FAAP). É atualmente sócia-diretora da Empresa ArteInclusão Consultoria em Ação Educativa
e Cultural. Contato: http://www.arteinclusao.com.br
55
outros sentidos. O repertório sonoro ampliou a investigação das obras, pois traduz em sons a
representação plástica visual, descrevendo cenas e contextualizando musicalmente e
historicamente as obras selecionadas, levando em consideração uma análise descritiva,
aspectos narrativos e aspectos históricos.
O que se pode notar nas visitas com os grupos, e em especial com grupos de
alunos com deficiências mentais e autistas, é que a música tornou-se uma grande aliada no
processo de apreciação da obra de arte. O recurso sonoro tem aproximado o grupo na
atividade de apreciação das obras, permitindo uma maior concentração, além de ampliar a
possibilidade de comunicação interpessoal, entre o grupo e o educador.
Diante da música, a criança ou adolescente que a princípio parecia não interagir
com o ambiente, a atividade e o seu grupo passou a reagir de forma mais participativa à
proposta apresentada.
Sendo assim, podemos observar que a utilização da música como recurso didático
nas visitas orientadas pelo Programa Educativo Públicos Especiais (PEPE) tem possibilitado
uma ampliação do canal de comunicação desses alunos, que em muitos casos é extremamente
comprometido quando se trata de grupos com deficiências mais graves.
Referências Bibliográficas
Sidney Molina24
Resumo: Este texto fez uma análise do filme Sonata de outono (Horstsonat), dirigido por
Ingmar Bergman (1918-2007), em 1978, a partir da forma musical clássica da sonata.
Procuramos mostrar como o título do filme não é uma metáfora, mas traduz com precisão a
forma escolhida pelo artista para a sua obra. Ao mesmo tempo sugerimos que o diretor sueco
amplia os horizontes da forma musical clássica, cujos ciclos, tensões, transições e
recapitulações passam a ser vistos como formas possíveis da vida humana.
O filme
24
Bacharel em Filosofia pela USP e Doutor pela PUC-SP. Atua como professor de Estética Musical e Violão da
Uni FIAM / FAAM (SP) e da Fundação Carlos Gomes (PA). É membro fundador do Quarteto de Violões
Quaternaglia e autor do livro Mahler em Schoenberg: angústia da influência na Sinfonia deCâmara n. 1
(Rondó, 2003). E-mail: sidney@quaternaglia.com.br
25
Cabe prevenir que a sonata barroca não deve ser confundida com forma sonata clássica. É esta última que será
utilizada por Bergman como forma do filme.
58
1. Formas de sonata
de música hoje em dia. Em linhas gerais, podemos resumir a forma sonata da seguinte
maneira:
2. Introdução
O filme começa com o pastor Viktor observando a sua mulher sem que ela
perceba. Trata da relação entre o amor – “significado da vida” – e a impossibilidade de
exprimi-lo. Eva é amada plenamente, mas o pastor não consegue dizê-lo de forma que ela
acredite. O contato é sempre exterior, e o sentido inexoravelmente interno, incomunicável.
Eva já aparece como “motivo” musical do filme, isto é, com uma função
estrutural central, a partir da qual toda a obra é gerada. Nesse momento, ela escreve a carta
60
3. Exposição: tema A
4. Exposição: tema B
Eva ocupa a função de “tema B” da sonata – que, como vimos acima, costuma ser
frequentemente “mais lírico”. Sua apresentação é inaugurada pela conversa com a mãe no
quarto de Erik, filho de Eva e Viktor, que morreu afogado um dia antes de completar quatro
anos de idade: a exemplo do primeiro tema, portanto, o segundo também começa falando de
uma morte.
26
Há controvérsias sobre a data exata do nascimento do compositor alemão. A certidão de batismo traz a data 17
de dezembro. É provável que Beethoven tenha nascido no dia 16 de dezembro e tenha sido batizado no dia 17 do
mesmo mês. Cabe mencionar que a atriz Liv Ullmann (Eva) também nasceu no dia 16 de dezembro.
61
5. Desenvolvimento: tema B
Tal como algumas sonatas – sobretudo de Beethoven –os dois temas da exposição
serão submetidos a um desenvolvimento na segunda seção.27 Bergman opta por iniciar com o
“tema B”, e, ao contrário da exposição – que havia sido dominada por Charlotte – aqui Eva
terá mais espaço.
Ela expressa calmamente o seu ódio em relação à mãe, define a sua personalidade
como sufocada, e expõe a tese de que as palavras da mãe, em sua infância, “não combinavam
com o seu olhar”.
Há um acirramento da tensão entre Eva e Charlotte, o que mais uma vez concorre
para a caracterização dessa sonata como “beethoveniana”, já que o contraste dialético entre os
temas – inclusive no sentido estritamente hegeliano da expressão – é muito mais característico
da produção de Beethoven do que de autores como Haydn ou Mozart. Dentro desse contexto,
mesmo durante o desenvolvimento do “tema B” (Eva), Charlotte (“tema A”) tem o seu o
momento de reflexão, que apenas servirá de alimento para a filha levar sua fala às últimas
consequências. O clímax do filme ocorre nesse momento, com a revelação de uma passagem
da vida de Eva que seu marido desconhecia. Todas as personagens participam direta ou
indiretamente da cena, uma vez que Viktor, furtivamente, presencia a revelação da esposa,
enquanto Helena começa a gritar, como se quisesse dar também o seu próprio depoimento.
Eva conclui esse trecho com a constatação das injúrias da mãe passadas à filha,
com o cordão umbilical nunca rompido, com a afirmação do triunfo da mãe, e com a grave
sentença que atribui a “desgraça da filha” a um “prazer secreto da mãe”.
27
Frequentemente os autores de sonatas escolhem apenas um dos dois temas apresentados na exposição para ser
trabalhado no desenvolvimento.
62
6. Desenvolvimento: tema A
Charlotte terá nesse ponto o seu espaço de defesa, isto é, o “tema A” será também
submetido a um desenvolvimento. Ela fala de sua própria infância, e ressalta que nunca se
lembra dos rostos – nem o próprio, nem o de sua mãe, nem o das filhas. Afirma que nunca
amadureceu, que não tem vivido – apenas “existido” – e que não tem talento para buscar o
“sentido das coisas”.
Na transição para a reexposição, e simetricamente ao que havia ocorrido durante a
seção anterior, agora Eva (“tema B”) terá igualmente o seu momento de interferência, e revela
a relação de sua irmã com Leonardo, à qual atribui a deflagração incontrolável da doença.
O desenvolvimento, em sua tensão, conclui com o pedido de perdão de
Charlotte, não aceito por Eva, sincronizado com mais um chamado solitário, e aparentemente
inútil, de Helena.
7. Reexposição: temas A e B
Uma dificuldade formal, resolvida de modo virtuosístico por Ingmar Bergman, diz
respeito ao modo de realizar cinematograficamente a seção final da forma sonata. Ao
contrário das sonatas musicais, onde a recapitulação dos dois temas em sua condição original
é bem-vinda, como elo da memória e preparação para a conclusão, no cinema uma
reexposição poderia parecer artificial e redundante.
O artista sueco resolve a dificuldade e escapa do formalismo alternando as falas
de Charlotte (“tema A”) e Eva (“tema B”). Assim, Charlotte expressa o seu sentimento de
culpa ao silencioso empresário durante a viagem de volta no trem, enquanto Eva, deprimida,
busca no cemitério, o contato psíquico direto e sem fronteiras com o filho que morreu.
Ao mesmo tempo ocorre um encontro inédito entre Helena, o elemento
desencadeador que havia pontuado todas as transformações intrínsecas da obra, e Viktor – a
quem esteve destinada desde sempre a mera narração descritiva e exterior das relações entre
as personagens.
8. Coda
mulher sem que ela saiba”. Ao escrever uma segunda carta à mãe, Eva pede perdão. Fala em
misericórdia e persistência, em espaço para o amor. E afirma corajosamente que ainda não é
tarde demais.
Tal como ocorre nas sonatas clássicas, os temas parecem ter retornado a seu
estado inicial de pré-desenvolvimento, onde aparentavam certa independência um do outro.
Aqui, também Charlotte e Eva voltaram para as suas vidas comuns, assustadas pelo impacto
do encontro, arrependidas por não terem evitado o desfecho, e ainda incapazes de estabelecer
entre si uma comunicação madura. Nesse sentido, a forma sonata estabelece – ao reapresentar
os seus dois temas – um movimento cíclico inexorável, e evita deslizar para idealizações de
qualquer ordem.
Mas, da mesma forma como uma sonata de Beethoven pode revelar, nos detalhes
da reexposição ou da coda, uma transformação sutil dos temas que passaram pelo duelo do
desenvolvimento, a sonata que Bergman esculpe no tempo também traz, para a forma da vida,
pequenos detalhes para sempre impregnados na relação entre mãe e filha, após a exacerbação
do conflito.
Dois momentos podem servir de exemplo em Beethoven: como entender o
misterioso solo de oboé que interrompe o fluxo narrativo na reexposição da Quinta Sinfonia?
(BEETHOVEN, 1951, compasso 269). Ou a irrupção do movimento cadencial como princípio
unificador na Appassionata, que passa a ocupar cada vez mais espaço conforme o discurso
avança? (BEETHOVEN, 1980, p. 131).28
Em Sonata de outono os dois temas parecem um pouco mais fracos na
reexposição, apesar de aparentemente retomarem todas as suas características originais. E
uma singela sutileza pontua o final do filme: durante a leitura da segunda carta de Eva,
Bergman superpõe a imagem do olhar assustado de Charlotte, como se, para além de
condicionamentos de uma vida inteira, uma escuta precisa pudesse insinuar a possibilidade
inédita desse diálogo outonal, nas formas da sonata.
28
Trata-se da figura réb-réb-réb-dó, que surge pela primeira vez no compasso 10. Ver OLIVEIRA, 1979, p. 26.
64
Referências bibliográficas
BERGMAN, Ingrid. Sonata de sutono (Horstsonat). Suécia, 1978. Continental Home Video
(DVD).
GROUT, Donald; PALISCA, Claude. História da música ocidental. Tradução de Ana Luísa
Faria. Lisboa: Gradiva, 1994.
HEGEL, Georg Friedrich. Estética. Tradução de Êlvaro Ribeiro Orlando Vitorino. Lisboa:
Guimarães, 1993.
ROSEN, Charles. Formas de sonata. Tradução de Luis Romano Haces. Barcelona: Labor,
1987.
______. The classical style: Haydn, Mozart, Beethoven. New York: Norton, 1997.
65
A
rtigos dos trabalhos
apresentados
66
Resumo: O presente trabalho descreve o programa Oficina Inverso: teatro, dança e música,
desenvolvido na Escola de Educação Especial da APAE de Bauru (SP). Tal programa iniciou
suas atividades em 1997, e atualmente conta com a participação de 16 alunos da instituição,
com deficiência intelectual e múltipla; dois coordenadores: professor de Expressão Corporal e
professor de Educação Musical. O desenvolvimento do programa proporciona aos
participantes a oportunidade de expressar seus sentimentos e opiniões, além de toda uma
gama de atividades artísticas referentes às áreas de dança, teatro e música. No decorrer do
projeto constatou-se um aumento significativo quanto às habilidades artísticas, sociais e
independência no grupo.
Introdução
29
Mestrando do Programa de Pós Graduação em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem da
UNESP/Bauru. Graduado em Música – Habilitação em Educação Musical pela Universidade do Sagrado
Coração. Especialização em Educação Especial e Inclusiva pela Faculdade de Itápolis. Professor de Educação
Musical da APAE Bauru. Docente visitante na Universidade do Sagrado Coração nos cursos de Especialização
em Educação Musical e Educação Especial e Inclusiva. E-mail: ederprof@ig.com.br
30
E-mail: lucianogrotto@hotmail.com
31
E-mail: priscila.foger@yahoo.com.br
67
32
OFICINA. In: Minidicionário da língua portuguesa. São Paulo: FTD/LISA, 1996.
33
Percepção de si mesma.
68
A arte, neste contexto, exerce fundamental importância, não como via única de
inserção social para essas pessoas, mas como elemento mediador na construção do
desenvolvimento da pessoa com deficiência.
A cidadania
Segundo Pinsky (2003, p. 18), “a cidadania enfaixa uma série de direitos, deveres
e atitudes relativos ao cidadão...”, aquele indivíduo que estabeleceu um contrato com seus
iguais para utilização de serviços em troca de pagamento (taxas e impostos) e de sua
participação, ativa ou passiva, na administração comum, ou seja, qualquer atitude cotidiana
que implique na manifestação de pertinência e de responsabilidade coletiva.
Nas últimas décadas, várias áreas de conhecimento, que têm o corpo como objeto
central de estudo, vêm buscando novas formas de apreensão dessa linha de pesquisa.
Analisando o corpo como um todo, sem padrões de normalidade, surgem assim novos
horizontes teóricos, como constata Bertherat (1991, p. 187), “a pessoa ao despertar o próprio
corpo, ao tornar-se gradativamente mais disponível a si mesma, modifica o comportamento
daqueles que devem “responder” à sua linguagem corporal”.
Do ponto de vista musical, segundo Yogi (2003, p. 17), “a música tem o dom de
envolver, unir, encantar, despertar emoções e desejos...”. Assim, é necessário que o trabalho
seja direcionado ao aprendizado e tenha-o como foco central desse processo. Por se tratar de
pessoas com deficiência, adapta-se a música ao indivíduo, no que se refere às suas
especificidades: técnica vocal, canto, ritmo e notação musical. Ao interligarmos as áreas
acima citadas, temos como base um complexo ativo de possibilidades, cujas habilidades
34
Desejo de domínio é a vontade que todos temos de dominar uma situação.
70
específicas são testadas e treinadas, a fim de que todos os participantes do grupo possam
identificar-se com seus atributos.
Objetivo geral
Objetivos específicos
Metodologia
Os ensaios possuem carga horária de oito horas semanais, em que são trabalhados
os aspectos referentes ao teatro – aquecimento corporal, postura e marcação de palco – à
dança – movimento associado ao ritmo – e à música – técnicas de expressão vocal, canto e
ritmo. De acordo com SILVA (2006, p. 28): “O desenvolvimento do ritmo auxiliará
substancialmente na fase de aquisição da linguagem oral, mesmo que esta apresente uma
frequência anormal (voz) e linguagem expressiva no que se refere à prosódia e inteligibilidade
da fala”.
Resultados
Durante o processo, foi possível observar que as pessoas com deficiência têm
ainda muita dificuldade para se impor na sociedade, demonstrando um preconceito também
consigo mesmo quanto à sua capacidade. O processo artístico lhes proporciona encarar essa
dura realidade sem frustração, pois na arte não existem classificações, tabus etc., e para
exercitá-la não deve existir medo.
Referência bibliográfica
BUENO, Roberta Puccetti. A arte, ensino e produção artística na diferença. In: Programa
Arte Sem Barreiras, Funarte, Caderno de textos. Rio de Janeiro: Quarted, 2002. p. 19-32.
BERTHERAT, Thérèse. O corpo tem suas razões: antiginástica e consciência de si. São
LIMA NETO, Pedro Antonio de. A participação. São Paulo: Editora do Brasil, 1989.
LOURO, Viviane dos Santos; ALONSO, Luis Garcia; ANDRADE, Alex Ferreira. Educação
musical e deficiência: propostas pedagógicas. São José dos Campos/SP: Ed. do autor, 2006.
SASSAKI, Romeu. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: Wva
Editora, 1997.
SILVA, Eder Ricardo. A reação de bebês com deficiência à música: ritmo e andamento.
f.
YOGI, Chizuko. Aprendendo e brincando com música e com jogos. Belo Horizonte: Fapi,
2003.
74
Resumo: Este trabalho relata alguns resultados alcançados pelas aulas de iniciação Musical,
ministradas na Escola de Educação Infantil e Ensino Fundamental Profª Botyra Camorim
Gatti da APAE de Mogi das Cruzes – SP no período de 2005 ao 1º semestre de 2007. 10
alunos participaram de práticas musicais coletivas e individuais, tomando contato com vários
estilos musicais além de terem acesso a instrumentos de percussão, teclado, plaquetas e cordas
(violão e baixo elétrico). Após uma primeira fase dedicada exclusivamente à prática musical,
o grupo passou a conhecer outras linguagens artísticas como o cinema, acompanhada de uma
breve introdução ao teatro. Esta segunda fase do trabalho proporcionou aos alunos uma nova
compreensão da música como auxiliar na narração e na compreensão do filme. Os gêneros e
personagens que foram apresentados e interpretados de uma forma cênica, simultaneamente à
execução de algumas trilhas sonoras, proporcionou aos alunos várias oportunidades de
apresentações artísticas e auxiliou no contexto interdisciplinar da instituição na inclusão dos
mesmos no mercado de trabalho.
Objetivos
apresentações musicais como uma forma de aumentar a autoestima de cada aluno, valorizando
esta experiência estética compartilhada com o público presente. Além de propiciar o acesso
aos elementos básicos da música, permitiu um contato com instrumentos de percussão, de
plaquetas, teclados e cordas (violão e contrabaixo elétrico) como um estímulo e preparação de
um estudo posterior de um instrumento específico.
Objetivou, ainda, após uma fase de adaptação com a música, o contato com outras
linguagens artísticas como o cinema, onde foram apresentados aos alunos alguns gêneros,
personagens, trilhas sonoras e uma breve introdução à representação cênica.
Fundamentação teórica
Metodologia
Esses estilos variaram entre músicas folclóricas, populares, de jazz e da música erudita. Cada
estilo foi apresentado através de gravações ou execuções musicais, para posteriormente ser
vivenciado pelos alunos.
Durante as aulas de musicalização das salas de Ensino Fundamental e da
Educação de Jovens e Adultos (EJA), alguns alunos demonstraram um maior interesse pela
prática musical proposta, demonstrando uma inteligência musical que precisava ser
estimulada tanto para se atingir alguns objetivos pedagógico-musicais, como para auxiliar na
linguagem, no relacionamento interpessoal, na noção espacial etc.
Em uma prática musical coletiva de um grupo formado inicialmente com dez
alunos, vários ritmos foram trabalhados como ritmos brasileiros e americanos, e através de
instrumentos de percussão como surdos, caixas, ganzás, pandeiros etc.
Em outra fase, instrumentos de plaquetas como metalofones e liras diatônicas
foram utilizados no trabalho melódico e harmônico. Nesse momento, houve o interesse de
alguns alunos em instrumentos de teclado e cordas (violão e contrabaixo elétrico).
Um repertório começou a ser formado com uma variação na instrumentação. Em
uma adaptação para O trenzinho do caipira, das bachianas nº 2, de Heitor Villa-Lobos, os 10
alunos que apresentavam diferentes graus de dificuldades de aprendizagem executaram este
arranjo com cerca de 30 instrumentos entre percussão, teclado e cordas. Outras adaptações
foram realizadas com músicas do próprio Villa-Lobos, dos Beatles etc., na questão do arranjo
e da instrumentação, conforme sugerem Louro, Alonso e Andrade, 2006.
No início de 2007, o projeto “O cinema, a vida e suas trilhas sonoras” começou
com a audição de algumas trilhas sonoras. A seguir, ocorreram discussões sobre o cinema,
seus gêneros mais comuns, seus personagens e as músicas compostas para eles. Um repertório
foi formado com temas de diversas épocas do cinema como: Missão impossível, A Pantera
cor-de-rosa, Tempos modernos e The wall.
Após assistir as cenas escolhidas que caracterizassem o gênero, ou personagem,
foram realizados alguns exercícios de reconstituição da interpretação corporal, conforme
sugere Marcos Napolitano em seu livro sobre a utilização do cinema na sala de aula
(NAPOLITANO, 2006).
Algumas cenas foram interpretadas pelos próprios alunos do grupo durante a
performance musical, realizando uma citação cênica a cada filme representado pelas trilhas
sonoras.
77
Resultados
Referências bibliográficas
LOURO, Viviane dos Santos; ALONSO, Luís Garcia, ANDRADE, Alex Ferreira de.
Educação musical e deficiência: propostas pedagógicas. Luís Garcia Alonso, Alex Ferreira
de Andrade. São José dos Campos – SP: Ed. do autor, 2006.
78
SCHAFER, Murray. O ouvido pensante. Tradução Marisa Fonterrada. São Paulo: Editora da
Unesp, 1991.
79
36
Monografia apresentada para conclusão do curso de Licenciatura Plena com Habilitação em Música do
Instituto Villa-Lobos da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Unirio, sob a orientação da
Professora Dra. Maria Angela Monteiro Corrêa, em Julho de 2006.
37
Natural do Rio de Janeiro, Economista formada pela PUC-RJ em 1981 e graduada em Licenciatura em
Educação Artística com Habilitação em Música pela Unirio – RJ, em Junho de 2006. Na área de música,
dedicou-se à Educação Infantil, trabalhando em creches e escolas de Ensino Fundamental de 1999 a julho de
2007, no Município de Teresópolis, RJ. Trabalhou com crianças com deficiência visual. E-mail:
marthaabrantes@terra.com.br
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possibilidades de trabalho desse professor, assim como sua capacitação para lidar com
diversas situações. O benefício para a sociedade é resultado das ações de apoio e do
aprendizado que as próprias crianças levarão para casa. Quando a sociedade é chamada a
participar de um processo como esse, não há como ficar alheia, porque valores como o da
igualdade, passam a dar um novo significado para a própria vida dentro dessa comunidade.
Assim, devemos utilizar todos os recursos que estiverem à nossa disposição e que
possam contribuir para esta efetivação. A educação musical neste contexto, é concebida aqui
como um recurso extremamente valioso, uma vez que diz respeito a um aspecto da nossa vida
cotidiana, das nossas relações com a emoção e com o afeto e que passa, neste momento, pela
busca de sua identidade como componente fundamental no sistema educacional brasileiro.
Na primeira metade do século XX, o trabalho com artes baseava-se na
transmissão de padrões e modelos das classes sociais dominantes. “Na escola tradicional,
valorizavam-se principalmente as habilidades manuais, os ‘dons artísticos’, os hábitos de
organização e precisão, mostrando ao mesmo tempo uma visão utilitarista e imediatista da
arte” (Brasil, 1997b, p. 23).
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), naquela época, o
ensino de arte era voltado, essencialmente, para o domínio técnico, mais centrado na figura do
professor, a quem competia “transmitir” aos alunos os códigos, conceitos e categorias que
tinham em comum, sempre, a reprodução de modelos. Ou seja, o professor detinha o
conhecimento e ao aluno cabia a atitude passiva no recebimento da informação.
Na linguagem musical, o Canto Orfeônico dominou o cenário escolar a partir dos
anos 30, tendo à frente o compositor Villa-Lobos. Este projeto pretendia levar a linguagem
musical a todo o país. Em função do momento histórico e político da época, em que vigorava
o Estado Novo, “o Canto Orfeônico, além de orientações musicais, procurou difundir ideias
de coletividade e civismo” (Brasil, 1997b, p. 24). Porém, acabou transformando a aula de
música em uma teoria musical, com a memorização de peças orfeônicas de caráter folclórico,
cívico e de exaltação. Foi substituído pela Educação Musical, que trouxe os métodos do suíço
Emile Jacques Dalcroze, do húngaro Zoltan Kodály e do alemão Carl Orff, para o cenário
escolar As contribuições dos pedagogos musicais brasileiros também ganham destaque nesta
fase, tais como as propostas de musicalização de Liddy Chiafarelli Mignone, o método Sá
Pereira, além das ideias do compositor e educador alemão Hans-Joachim Koellreutter. Assim,
passa a existir um outro enfoque no ensino de música: ela pode ser sentida, tocada, dançada,
além de cantada. Era a livre expressão dominando o cenário, levando contudo, a um
esvaziamento de conteúdos musicais na aprendizagem, pois carecia de um acompanhamento
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mais técnico do professor na aula de música (Beyer, 2000). Atualmente, podemos contar com
diversas abordagens na educação musical, metodologias que garantem o aprendizado de
conceitos básicos e desenvolvem habilidades ligadas ao fazer musical, à apreciação e à
criatividade.
Por fazer musical, entendemos todas as formas através das quais o indivíduo
possa se relacionar com a prática musical, cantando, tocando algum instrumento, sozinho ou
participando de um grupo. O desenvolvimento da apreciação musical implica em
disponibilizar ao aluno uma gama de estilos musicais de forma que ele possa apurar um senso
crítico em relação à escuta dos sons, ou seja, uma escuta crítica.
Em relação à criatividade, enfatizamos a importância do aluno utilizar os
conhecimentos adquiridos nas aulas de música para desenvolver seu potencial criativo, seja
por meio de composições musicais, seja por construção de instrumentos musicais não
convencionais, ou ainda, pela elaboração de novas formas de fazer musical. O que precisamos
é que o espaço escolar seja efetivamente disponibilizado para que possamos colocar em
prática todo esse ferramental, e com isso garantir o acesso de todos à educação musical. A
educação musical na escola regular, por sua vez certamente beneficiará o processo de
inclusão, onde todos os recursos precisam estar disponibilizados. Nada mais justificado do
que poder contar com essa ferramenta tão prazerosa e capaz de potencializar o
desenvolvimento humano.
Para Garcia (2005) a contribuição da música no crescimento geral do educando
pode configurar-se como agente de desenvolvimento sensorial e emocional, estímulo mental,
como forma de sensibilização, além de proporcionar gratificação e êxito. A autora ressalta que
esses aspectos entrelaçados fundem a mente, o corpo e as emoções numa experiência
importante ao desenvolvimento dos processos cognitivos.
A proposta da educação musical não é profissionalizar, nos diz Soares (2004), ao
contrário, é desenvolver a sensibilidade estética e artística, assim como a imaginação e o
potencial criativo, além de favorecer a atenção, a percepção de detalhes e a memorização,
proporcionando aos alunos a oportunidade de fazer e apreciar música na sua realidade e de
outros contextos, ampliando sua visão de mundo.
Para confirmar essa ideia, França (2005) complementa que a música pode auxiliar
crianças portadoras de atraso do desenvolvimento ao “oferecer recursos motivacionais e
mobilizadores altamente adequados para o desenvolvimento da atenção, memória,
comunicação, habilidades motoras, amadurecimento emocional e socialização” (p. 4).
A música também pode favorecer o desenvolvimento emocional de pessoas com
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Referências bibliográficas
CORRÊA, Maria Angela Monteiro. Educação especial. Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ,
2003. v. 1.
LOURO, Viviane dos Santos. As características que norteiam a educação musical inclusiva de
portadores de deficiência. Revista nacional de reabilitação. maio/jun. 2003, ano VI, nº 32, p.
2-3.
Miriam Utsunomiya 38
Fundamentação teórica
O canto em grupo não escolhe raça, cor, classe social. É uma forma de expressão
em colaboração mútua, desenvolvendo o respeito pelo espaço do outro, organização interior,
disciplina, atenção, percepção auditiva e conhecimento corporal. O canto em grupo não requer
grandes investimentos financeiros nem recursos especiais. O baixo custo de manutenção de
grupos desta natureza, permitem retornos imensuráveis para aqueles que nele investem, pois
atendem às determinadas necessidades pessoais daqueles que participam, e institucionais –
por parte da organização que a promove –, reafirmando a sua imagem perante a comunidade,
desenvolvendo, assim, um marketing institucional saudável, através do incentivo às artes –
marketing cultural (VAZ, 1995, p. 225) – e do exercício da cidadania – marketing social
(UTSUNOMIYA, 2001).
Objetivos
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Meste em Música pela Escola de Comunicaçãoes de Artes (ECA/USP). Bacharel em Música pela Escola de
Música e Belas Artes do Paraná e Pedagoga pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. É professora no
curso de bacharelado em música e coordenadora do PROMUS – Programa de Difusão da Cultura Musical da
Universidade Cruzeiro do Sul. Regente de corais infantis.
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Metodologia
Resultados obtidos
Cerca de 300 crianças passaram pelo projeto desde a sua implantação, em março
de 2005. O coral já gravou músicas para trilha sonora de um DVD – documentário e
participou de inúmeras apresentações. Duas delas com a participação de Orquestras
(ASSATEMEC de Itu/SP e Orquestra de Câmara Intermusic).
Mais do que dados quantitativos, temos inúmeros depoimentos de professores da
escola que testemunharam o crescimento individual das crianças participantes do coral,
principalmente no que diz respeito à concentração, disciplina e maior facilidade no processo
de alfabetização.
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Referências bibliográficas
VAZ, Gil Nuno. Marketing institucional: o mercado de ideias e imagens. São Paulo:
Pioneira, 1995.
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Mirna Domingos 39
Sinopse
Metodologia
Nas oficinas de desenvolvimento da musicalidade, as técnicas utilizadas ocorrem
de acordo com a necessidade e interesse do grupo e seus participantes, fundamentado em
Swanwick (modelo “T.E.C.L.A”). A proposta inicial foi de que, a partir da vivência e do
conhecimento dos participantes, construir o repertório das cidades brasileiras que eles já
conhecem.
39
E-mail: mirnadomingos@gmail.com
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Objetivos Gerais
Objetivos específicos
Estratégias
Resultados
trabalho.
A pesquisa sonora de timbres, ritmos e observação das melodias resultou na
harmonização em conjunto das músicas que o grupo apresentou durante o trabalho e
descoberta de novas habilidades pessoais.
A observação em outros territórios artísticos (teatro, artes visuais) proporcionou,
também, tornar audíveis os movimentos, gestos e formas como trilha sonora e efeitos
especiais, utilizando-se de instrumentos construídos a partir de recicláveis.
O crescimento e desenvolvimento da musicalidade proporcionaram aos participantes
o autoconhecimento, melhora da autoestima, sociabilização, crescimento pessoal e do grupo
e conhecimento geral, através da pesquisa dos lugares das músicas trabalhadas.
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Resumo: este trabalho foi realizado dentro do Projeto Axé na cidade de Salvador, Bahia,
usando como base as Pedagogias do Desejo e a Antroposófica, ou seja, respeitando o desejo
de cada criança e o ritmo de aprendizado de cada uma delas. As crianças que participaram
deste grupo estavam em situação de altíssimo risco, algumas morando nas ruas da cidade,
outras com situação familiar bastante complicada. O trabalho realizado através da música teve
início de uma forma tradicional de ensino, dentro de uma sala de aula. Quando foi decidido
sair da sala e passar para um espaço externo e amplo, houve a possibilidade de uma
distribuição diferente das crianças de forma que elas podiam se concentrar e se ouvir melhor e
os educadores conseguiam ter uma relação individualizada com o educando. As crianças
tiveram a possibilidade de escolher o instrumento que gostariam de tocar, e isso despertou
nelas a vontade de aprender. Crianças inquietas e com baixo grau de concentração, passaram a
estudar o instrumento durante duas ou mais horas seguidas, tocando muito concentradas.
Como resultado deste trabalho, ao final de seis meses, depois de um belíssimo processo, elas
haviam preparado um repertório de oito músicas. O grupo pôde se apresentar tanto dentro do
próprio projeto, como em outros lugares da cidade.
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Mônica Leoni Maffei – Flautista formada pela Faculdade Paulista de Artes em 1986, concluiu o mestrado em
Pedagogia Musical na Universidade de Frankfurt, Alemanha no ano de 1994. Também na Alemanha, se formou
no curso para professores em Pedagogia Waldorf. Entre 2000 e 2004 trabalhou no Projeto Axé em Salvador, BA,
dando oficinas de música e aulas de instrumento para crianças e adolescentes em situação de risco. Atualmente,
trabalha com crianças e adolescentes em situação de risco na cidade de Botucatu, SP. Atua, também, como
regente de coral, professora de flauta transversal, flautista e oferece oficinas de musicalização e sensibilização
dos sentidos para grupos de adultos. Concluiu, em julho deste ano, o curso Antropomúsica: Música para o
Desenvolvimento Humano na Arte, Pedagogia e Terapia, e cursa, atualmente, no conservatório de Tatuí, o curso
de Improvisação em MPB e Jazz. E-mail: mleoni@bol.com.br
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Introdução
Para este tipo de trabalho foi necessário que os educadores estivessem muito atentos e
perceptivos para o que estava acontecendo com cada criança, em cada dia de atividade.
A continuação deste trabalho foi bastante fluida, pois as crianças se envolveram
de tal forma, que a maior dificuldade que tivemos, foi quando alguns dos instrumentos não
estavam disponíveis.
Todos os dias a atividade começava com todos juntos, para se resolver um
eventual problema, ou para ouvirmos alguma música nova ou ler algum texto. No final do
período, todos se reuniam novamente e tocavam juntos. Com isso, deu-se a socialização do
grupo, eles começaram a se ouvir e aprenderam a esperar a sua hora de tocar. Quando uma
criança conseguia aprender uma música, ela ajudava, por espontânea vontade, outras que
estavam com mais dificuldade.
No final de seis meses, quando todos tinham um repertório com oito músicas bem
ensaiadas, puderam fazer várias apresentações dentro e fora do projeto, com um
comportamento muito bom e com bastante responsabilidade. A alegria e o bem-estar ficava
estampado nos rostos das crianças a cada apresentação.
Resultados
Discussão
acolhê-las, então, devemos começar atendendo suas necessidades. Qual seria a melhor forma
de conseguir isso? Colocando 30 crianças dentro de uma sala e querendo que elas fiquem
quietas e aprendam o que pensamos que seja importante para elas? Ou será que se deve pensar
numa forma estrutural onde seja possível oferecer a elas um atendimento individualizado,
onde cada criança possa se expressar individualmente e sempre tenha alguém que a escute
com atenção? Essas crianças estão acostumadas com espaços abertos, elas experimentam uma
liberdade de escolha grande, dentro das possibilidades que lhes são oferecidas.
O espaço utilizado tem uma grande influência no tipo de atividade que pode ser
desenvolvida. Se o espaço pensado são salas fechadas, dificilmente dois ou três educadores
terão a possibilidade de atender individualmente cada criança. Se o espaço pensado for com
salas abertas, mais amplas ou, simplesmente, o mesmo espaço pensado de forma diferente,
pode oferecer a possibilidade ao educando de escolher a sua atividade, ou escolher uma
possibilidade dentro desta atividade. Se o espaço possibilitar que ele trabalhe sozinho por um
tempo, o educador poderá lhe dar um atendimento individualizado, quando isto for necessário.
Esta questão do espaço se torna mais evidente em relação ao trabalho com a
música. Para se conseguir trabalhar verdadeiramente a questão musical, temos de poder
trabalhar a questão do silêncio e do ouvir conscientemente. Isto só pode acontecer se o espaço
o permitir.
Uma das coisas mais importantes que essas crianças podem receber é a
possibilidade do silêncio. Elas vivem em espaços, geralmente pequenos, e com muitas
pessoas, onde a possibilidade do estar só e ouvir o silêncio são quase nulas. Oferecer esta
possibilidade para elas é um enorme presente. Além disso, a música lhes oferece a
possibilidade de reconhecerem o seu próprio valor, de perceberem que elas têm a capacidade
de produzir algo muito bonito e que as outras pessoas valorizam.
Quando elas aprendem a ouvir os instrumentos que estão tocando, têm a
possibilidade de ouvir o seu próprio interior e sentir o seu ritmo interno. Elas aprendem a
ouvir os outros com atenção e a hora correta de agir e de interagir.
A possibilidade de escolha é de enorme importância para todos, sejam crianças,
adolescentes ou adultos. Qualquer atividade que parta do desejo individual é feito com mais
dedicação, concentração e vontade. A escolha é de enorme importância como treino da
vontade pessoal, pois muitas dessas crianças não sentem desejo, pois nunca lhes foi dada a
possibilidade da escolha. O que acontece quando todos são forçados a participar ao mesmo
tempo de uma mesma atividade é que perdemos a chance de aproveitar o interesse do aluno a
favor do aprendizado. Simplesmente porque cada um tem o seu tempo, tem seu foco
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Conclusão
Referências bibliográficas
BEILHARZ, Gerhard. (Org.) Erziehen und heilen durch Musik. Stuttgart: Verlag Freies
Geistesleben, 1989.
BERENDT, J. E. Das Dritte Ohr: Vom Hoeren der Welt. Hamburg: Rowohlt, 1988.
BIANCHI, Ana (Org.). Plantando axé: uma proposta pedagógica. São Paulo: Cortez,
2000.
BRITO, Teca A. Koellreutter educador: o humano como objetivo da educação musical. São
Paulo: Peirópolis, 2001.
CRAEMER, Ute. Crianças: entre luz e sombras. São Paulo: Associação Comunitária Monte
Azul.
HORTON, Myles; Freire, Paulo. O caminho se faz caminhando: conversas sobre educação
e mudança social. In: BELL, Brenda; GAVENTA, John; Peters, John (Org.). Tradução de
Vera Lúcia Mello Josceline. Petrópolis: Vozes, 2003.
STEINER, Rudolf. Das wesen des musikalischen und das tonerlebnis im Menschen.
Dornach: Rudolf Steiner Verlag, 1975.