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DIREITO
ADMINISTRATIVO
DISCIPLINAR FEDERAL
Direito Material e Processual
2020
1ª Edição
DIREITO ADMINISTRATIVO
DISCIPLINAR FEDERAL
Nota sobre o autor
Site: www.salmonsouza.com.br
E-mail: carvalhodesouzas@gmail.com
Instagram: @salmon_souza_advocacia
APRESENTAÇÃO
Idealizada a partir de resumos e anotações feitas durante o tempo de militância
na condução de processos administrativos disciplinares na Corregedoria-Geral da
União, a obra tem por objetivo apresentar ao leitor as principais questões jurídicas e
práticas envolvendo o direito administrativo disciplinar na esfera federal.
O conteúdo do livro abrange o direito administrativo punitivo material e o
direito processual disciplinar. Na parte material são abordados temas como
abrangência objetiva e subjetiva da punição disciplinar, deveres e proibições a que se
submetem os agentes públicos federais, tipificação das condutas proibidas e
respectivas sanções, extinção e excludentes da punibilidade, entre outros assuntos não
menos relevantes. A parte processual trata dos instrumentos utilizados na esfera
federal para a apuração de responsabilidade funcional, dedicando-se especial atenção
aos ritos e procedimentos exigidos por lei para cada um dos procedimentos
investigativos.
O texto foi escrito em linguagem clara e objetiva, com a indicação de
entendimento jurisprudencial dos tribunais superiores, na medida do possível
acompanhado da opinião fundamentada do autor, de modo a possibilitar ao leitor
formar o seu próprio juízo de valor sobre os principais argumentos suscitados.
A obra trata de um tema da mais alta relevância para o país, particularmente
diante da crescente conscientização da sociedade no que diz respeito à exigência de
uma conduta ética e honesta por parte daqueles que atuam em nome do Estado. Os
tempos são outros e há muito não se admite que agentes desonestos utilizem os cargos
que ocupam visando o enriquecimento próprio, em detrimento da dignidade da função
pública.
O livro é destinado aos estudantes das ciências jurídicas, especialmente aqueles
que pretendem atuar na área administrativa, aos advogados que militam nesse ramo
do direito, aos membros do Ministério Público e a todos aqueles agentes que atuam
em Corregedorias e Tribunais de Contas.
O Autor
Direito Administrativo Disciplinar Federal
(Direito Material e Processual)
2020
1ª Edição
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, por qualquer meio
ou forma, para fins de comercialização, sem a prévia e expressa autorização
do autor. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei n.
9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Sumário
APRESENTAÇÃO 3
DIREITO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR 16
1.1 – NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 16
1.2 – NORMAS QUE REGEM O DIREITO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR 16
1.3 – APLICAÇÃO SUPLETIVA E SUBSIDIÁRIA 17
1.4 – FONTES NORMATIVAS DA PUNIÇÃO DISCIPLINAR 17
RESPONSABILIDADE DO SERVIDOR PÚBLICO 20
2.1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS 20
2.2 – RESPONSABILIDADE CIVIL 20
2.3 – RESPONSABILIDADE PENAL 22
2.4 – RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA 23
2.5 – INDEPENDÊNCIA DAS INSTÂNCIAS 24
2.5.1 – INDEPENDÊNCIA EM RELAÇÃO ÀS DECISÕES DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO 26
2.6 – SUJEITOS DA INFRAÇÃO DISCIPLINAR 28
2.6.1 – SUJEITO ATIVO 28
2.6.2 – SUJEITO PASSIVO 30
2.7 – ABRANGÊNCIA OBJETIVA 30
2.7.1 – ATOS DA VIDA PRIVADA 30
PENALIDADES DISCIPLINARES 33
3.1 – NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 33
3.2 - ADVERTÊNCIA 34
3.4 - SUSPENSÃO 34
3.4.1 – CONVERSÃO DA SUSPENSÃO EM MULTA 35
3.5 - DEMISSÃO 35
3.5.1 – PONTOS CONTROVERTIDOS SOBRE A PENA DE DEMISSÃO 36
3.6 – CASSAÇÃO DE APOSENTADORIA OU DISPONIBILIDADE 37
3.6.1 – TEMA PARA REXLEXÃO SOBRE A APLICAÇÃO DA PENA DE CASSAÇÃO DE
APOSENTADORIA 38
3.7 – DESTITUIÇÃO DO CARGO EM COMISSÃO 39
3.8 – DESTITUIÇÃO DA FUNÇÃO COMISSIONADA 40
CAUSAS QUE EXTINGUEM A INFRAÇÃO OU A PUNIBILIDADE 41
4.1 – CONCEITO E NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 41
4.2 – MORTE DO AGENTE 41
4.3 – RETROATIVIDADE DE LEI MAIS BENÉFICA 42
4.4 – ANISTIA, GRAÇA E INDULTO 43
4.5 – PRESCRIÇÃO 44
4.6 – LEGÍTIMA DEFESA 45
4.7 – ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL 45
4.8 – ESTADO DE NECESSIDADE 46
4.9 – ERRO SOBRE A ILICITUDE DO FATO 47
4.10 – OBEDIÊNCIA HIERÁRQUICA 47
4.11 - INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA 48
4.12 – EXONERAÇÃO DO CARGO EFETIVO 48
DEVERES E PROIBIÇÕES 50
5.1 - INTRODUÇÃO 50
5.2 - DEVERES 50
5.2.1 – ARTIGO 116, I 51
5.2.2 – ARTIGO 116, II 51
5.2.3 – ARTIGO 116, III 52
5.2.4 – ARTIGO 116, IV 52
5.2.5 – ARTIGO 116, V 53
5.2.6 – ARTIGO 116, VI 54
5.2.7 – ARTIGO 116, VII 54
5.2.8 – ARTIGO 116, VIII 54
5.2.9 – ARTIGO 116, IX 55
5.2.10 – ARTIGO 116, X 56
5.2.11 – ARTIGO 116, XI 56
5.2.12 – ARTIGO 116, XII 57
5.3 – PROIBIÇÕES 58
5.3.1 – ARTIGO 117, I 58
5.3.2 – ARTIGO 117, II 58
5.3.3 – ARTIGO 117, III 59
5.3.4 – ARTIGO 117, IV 59
5.3.5 – ARTIGO 117, V 60
5.3.6 – ARTIGO 117, VI 60
5.3.7 – ARTIGO 117, VII 60
5.3.8 – ARTIGO 117, VIII 61
5.3.9 – ARTIGO 117, IX 62
5.3.10 – ARTIGO 117, X 63
5.3.11 – ARTIGO 117, XI 64
5.3.12 – ARTIGO 117, XII 65
5.3.13 – ARTIGO 117, XIII 66
5.3.14 – ARTIGO 117, XIV 66
5.3.15 – ARTIGO 117, XV 67
5.3.16 – ARTIGO 117, XVI 69
5.3.17 – ARTIGO 117, XVII 70
5.3.18 – ARTIGO 117, XVIII 71
5.3.19 – ARTIGO 117, XIX 71
5.4 – OUTRAS INFRAÇÕES PUNIDAS COM DEMISSÃO 72
5.4.1 – ARTIGO 132, I 72
5.4.1.1 – PERAD DO CARGO COMO EFEITO DA CONDENAÇÃO 73
5.4.2 – ARTIGO 132, II 74
5.4.3 – ARTIGO 132, III 76
5.4.4 – ARTIGO 132, IV 77
5.4.5 – ARTIGO 132, V 77
5.4.6 – ARTIGO 132, VI 79
5.4.7 – ARTIGO 132, VII 79
5.4.8 – ARTIGO 132, VIII 80
5.4.9 – ARTIGO 132, IX 80
5.4.10 – ARTIGO 132, X 81
5.4.11 – ARTIGO 132, XI 81
5.4.12 – ARTIGO 132, XII 82
5.5 – TRATAMENTO DISPENSADO ÀS INFRAÇÕES CAPITULADAS COMO CRIME 84
5.6 – INFRAÇÕES DISCIPLINARES TIPIFICADAS FORA DO ESTATUTO DOS SERVIDORES
PÚBLICOS FEDERAIS 85
5.6.1 – INFRAÇÕES PREVISTAS NA LEI DE ACESSO À INFORMAÇÃO 85
5.6.1.1 – ARTIGO 32, I 86
5.6.1.2 – ARTIGO 32, II 87
5.6.1.3 – ARTIGO 32 III 87
5.6.1.4 – ARTIGO 32 IV 88
5.6.1.5 – ARTIGO 32, V 88
5.6.1.6 – ARTIGO 32, VI 88
5.6.1.7 – ARTIGO 32, VII 89
5.6.2 – LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE 89
5.6.2.1 – INFRAÇÕES PREVISTAS NA LEI Nº 13.869/2019 90
5.7 – REINCIDÊNCIA 90
5.7.1 – ESPÉCIES DE REINCIDÊNCIA 92
5.7.2 – RENCIDÊNCIA NA ESFERA DISCIPLINAR 92
5.8 – AUTORIA DA INFRAÇÃO DISCIPLINAR 94
5.8.2 – AUTOR DA INFRAÇÃO 95
5.8.3– AUTORIA MEDIATA 96
5.8.4 – AUTORIA COLATERAL 97
5.9 – CONTINUIDADE INFRACIONAL 97
5.9.1 – REQUISITOS DO CRIME CONTINUADO 98
5.9.2 – CONTINUIDADE DELITIVA E INFRAÇÃO DISCIPLINAR 98
5.10 – DOLO E CULPA NA INFRAÇÃO DISCIPLINAR 100
5.10.1 - A DESVINCULAÇÃO DOS ELEMENTOS CULPA E RESULTADO 100
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 101
6.1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS 101
6.2 – CONTROVÉRSIA SOBRE A CONSTITUCIONALIDADE DA LEI DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA 103
6.3 – ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 105
6.3.1 – ENRIQUECIMENTO ILÍCITO 105
6.3.2 – ATOS QUE CAUSAM PREJUÍZO AO ERÁRIO 108
6.3.3 – APLICAÇÃO INDEVIDA DE BENEFÍCIO FINANCEIRO OU TRIBUTÁRIO 112
6.3.4 – ATOS QUE ATENTAM CONTRA OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 112
6.4 – SUJEITO PASSIVO DA IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 115
6.5 – SUJEITO ATIVO DA IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 116
6.5.1 – AGENTES PÚBLICOS 116
6.5.2 - PARTICULARES 117
6.6 – PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO 118
6.7. MEDIDAS CAUTELARES 119
6.8 – NATUREZA DA AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 120
6.9 – PRESCRIÇAÕ DA AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 121
6.9.1 – PRESCRIÇÃO DE CINCO ANOS (Art. 23, I) 122
6.9.2 – SERVIDORES ESTATUTÁRIOS E EMPREGADOS PÚBLICOS 123
6.9.3 – PRESCRIÇÃO NO CASO DE RECEBIMENTO DE SUBVENÇÃO, BENEFÍCIO OU INCENTIVO
FISCAL 123
6.9.4 – PRESCRIÇÃO DA AÇÃO DE RESSARCIMENTO 125
PRESCRIÇÃO 127
7.1 – CONCEITO E ORIGEM HISTÓRICA 127
7.2 – DIFERENÇA ENTRE PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA 128
7.3 – FUNDAMENTOS DA PRESCRIÇÃO 128
7.4 – PRESCRIÇÃO NA ESFERA DISCIPLINAR 129
7.4.1 – INÍCIO DA CONTAGEM DO PRAZO PRESCRICIONAL 130
7.4.2 – INTERRUPÇÃO E SUSPENSÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL 132
7.4.3 – ESPÉCIES DE PRESCRIÇÃO DISCIPLINAR 133
7.4.3.1 – PRESCRIÇÃO EM PERSPECTIVA 133
7.4.3.2 – PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE 134
7.4.4 – PRESCRIÇÃO DISCIPLINAR REGIDA PELAS REGRAS DA PRESCRIÇÃO PENAL 134
7.4.5 – PRESCRIÇÃO E ANOTAÇÃO NOS ASSENTAMENTOS FUNCIONAIS DO SERVIDOR 138
7.4.6 – PODER/DEVER DE APURAÇÃO – PRESCRIÇÃO OU DECADÊNCIA? 140
7.4.7 - A RESPONSABILIDADE DA AUTORIDADE JULGADORA 141
DIREITO PROCESSUAL DISCIPLINAR 143
8.1 – CONCEITO E NOÇÕES INICIAIS 143
8.2 – PRINCÍPIOS APLICADOS AO DIREITO DISCIPLINAR 144
8.2.1 – PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 144
8.2.2 – PRINCÍPIO DA TAXATIVIDADE 145
8.2.3 – PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL 145
8.2.4 – PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA 146
8.2.5 – PRINCÍPIO DA PERSONALIDADE OU DA INTRANSCENDÊNCIA 146
8.2.6 – PRINCÍPIO DO PRIVILÉGIO CONTRA A AUTOINCRIMINAÇÃO 147
8.2.7 – PRINCÍIO DA CONFIANÇA 147
8.2.8 – PRINCÍPIO DA VERDADE REAAL 148
8.2.9 – PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA 148
8.2.9.1 – CONTRADITÓRIO E PRINCÍPIO DA VERDADE SABIDA 149
8.2.10 – PRINCÍPIO DO FORMALISMO MODERADO 150
8.2.11 – PRINCÍPIO DA ECONOMIA PROCESSUAL 150
8.2.12 – PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE 150
8.2.13 – PRINCÍPIO DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO OU CELERIDADE PROCESSUAL
151
8.2.14 – PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO 152
8.2.15 – PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA 152
8.2.16 – PRINCÍPIO DA LEALDADE PROCESSUAL 153
8.2.17 – PRINCÍPIO DO NE BIS IN IDEM 153
8.2.18 – PRINCÍPIO DA PLURALIDADE DAS INSTÂNCIAS 154
8.2.19 – PRINCÍPIO DA INTERVENSÃO MÍNIMA 154
8.2.20 – PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA OU DA BAGATELA 155
8.2.21 – PRINCÍPIO DA EVENTUALIDADE OU PRECLUSÃO 155
8.2.22 – PRINCÍPIO DA IMPARCIALIDADE 156
COMPETÊNCIA 156
9.1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS 156
9.2 – COMPETÊNCIA EM MATÉRIA DISCIPLINAR 157
9.3 – CONFLITO DE COMPETÊNCIA 160
ATOS PROCESSUAIS 162
10.1 – CONCEITO E NOÇÕES INICIAIS 162
10.2 - PRECLUSÃO 164
10.3 – NULIDADES 164
PROVAS 166
11.1 - INTRODUÇÃO 166
11.2 – DESTINATÁRIO DA PROVA 167
11.3 – ÔNUS DA PROVA 168
11.4 – SISTEMA DE VALORAÇÃO DA PROVA 168
11.5 – PROVA EMPRESTADA 169
11.6 – PROVA PROIBIDA 170
11.6.1 – PROVA PROIBIDA POR DERIVAÇÃO 171
11.7 – PROVA TESTEMUNHAL 172
11.7.1 – PESSOAS PROIBIDAS DE DEPOR COMO TESTEMUNHA 173
11.7.2 - ACAREAÇÃO 174
11.7.3 – COMPROMISSO COM A VERDADE 175
11.8 – CONFISSÃO 176
11.9 – DELAÇÃO E CONFISSÃO DELATÓRIA 177
11.10 – DELAÇÃO PREMIADA 177
11.11 - DENÚNCIA 177
11.11.1 – DENÚNCIA ANÔNIMA 178
11.12 – REPRESENTAÇÃO 179
11.13 – PROVA DOCUMENTAL 180
11.14 – PROVA INDICIÁRIA 181
11.15 – PROVA PERICIAL 182
11.16 – INDEFERIMENTO DE PROVA 183
IMPEDIMENTO E SUSPEIÇÃO 183
12.1 – INTRODUÇÃO 183
12.2 - IMPEDIMENTO 184
12.3 – SUSPEIÇÃO 185
INCIDENTES PROCESSUAIS 186
13.1 – CONCEITO E NOÇÕES INICIAIS 186
13.2 – EXCEÇÃO DE LITISPENDÊNCIA 187
13.3 – EXCEÇÃO DE IMPEDIMENTO E SUSPEIÇÃO 188
13.4 – EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA 189
13.5 – INCIDENTE DE FALSIDADE DOCUMENTAL 190
13.6 – INCIDENTE DE SANIDADE MENTAL 191
PROCEDIMENTOS INVESTIGATIVOS NÃO PUNITIVOS 193
14.1 – CONCEITO E NOÇÕES INICIAIS 193
14.2 – INVESTIGAÇÃO PRELIMINAR 193
14.2.1 – INVESTIGAÇÃO PRELIMINAR PELO RITO ORDINÁRIO 193
14.2.2 – INVESTIGAÇÃO PRELIMINAR PELO RITO SUMÁRIO 194
14. 3 – SINDICÂNCIA INVESTIGATIVA 195
14.4 – SINDICÂNCIA PATRIMONIAL 196
14.4.1 – ASPECTOS PROCESSUAIS 197
PROCEDIMENTOS PUNITIVOS 200
15.1 – CONCEITO E NOÇÕES INICIAIS 200
15.2 – PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR PELO RITO ORDINÁRIO 200
15.2.1 – INSTAURAÇÃO 201
15.2.2 – JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE 202
15.2.3 – CONSTITUIÇÃO DA COMISSÃO 203
15.2.4 – PRAZO PARA A CONCLUSÃO DO PROCESSO 205
15.2.5 – EXONERAÇÃO E APOSENTADORIA VOLUNTÁRIA 206
15.2.6 – PORTARIA INSTAURADORA 207
15.2.7 – ATA DE DELIBERAÇÃO 208
15.2.8 – CITAÇÃO E INTIMAÇÃO 208
15.2.9 – NOTIFICAÇÃO PRÉVIA 209
15.2.9.1 – NOTIFICAÇÃO POR MANDADO 210
15.2.9.2 – NOTIFICAÇÃO POR HORA CERTA 210
15.2.9.3 – NOTIFICAÇÃO POR EDITAL 211
15.2.10 – FASE DE INSTRUÇÃO 212
15.2.11 – AFASTAMENTO PREVENTIVO DO INVESTIGADO 212
15.2.12 - INTIMAÇÃO 213
15.2.12.1 – INTIMAÇÃO POR MANDADO 214
15.2.12.2 – INTIMAÇÃO POR MEIO ELETRÔNICO 214
15.2.12.3 – INTIMAÇÃO POR EDITAL 214
15.2.12.4 – INTIMAÇÃO POR HORA CERTA 215
15.2.13 – ACOMPANHAMENTO DO PROCESSO 215
15.2.14 – CONTRATO DE MANDATO 216
15.2.14.1 – SUBSTABELECIMENTO 217
15.2.15 – DEPOIMENTO DE TESTEMUNHAS 217
15.2.16 - CONTRADITA 218
15.2.17 – CARTA PRECATÓRIA 218
15.2.18 – INTERROGATÓRIO 219
15.2.19 – DIREITO AO SILÊNCIO 220
15.2.20 – ALEGAÇÕES FINAIS 222
15.2.21 – INDICIAMENTO OU INDICIAÇÃO 223
15.2.22 – DEFESA ESCRITA 225
15.2.22.1 – ESTRUTURA DA DEFESA 226
15.2.22.2 – PRODUÇÃO DE PROVAS DURANTE O PRAZO DE DEFESA 226
15.2.22.3 – PRAZO COMUM 227
15.2.22.4 – DEFESA TÉCNICA 227
15.2.22.5 – DEFESA INEPTA 228
15.2.23 - A CONFIGURAÇÃO DA REVELIA 229
15.2.24 – RELATÓRIO FINAL 231
15.2.25 - JULGAMENTO 232
15.2.26 – RECURSOS ADMINISTARTIVOS 234
15.2.27 – COISA JULGADA ADMINISTRATIVA 234
15.2.28 – REVISÃO DO PROCESSO 236
15.2.29 – REVISÃO DA DECISÃO PELO PODER JUDICIÁRIO 237
15.2.29.1 – LIMITES DA ATUAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO 238
15.3 – SINDICÂNCIA PUNITIVA 239
15.3.1 – PROCESSO ADMINISTARTIVO DISCIPLINAR DERIVADO DA SINDICÂNCIA 241
15.4 – PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR PELO RITO SUMÁRIO 242
15.4.1 – PARTICULARIDADE DA APURAÇÃO DE ACUMULAÇÃO ILEGAL DE CARGO OU
FUNÇÃO PÚBLICA 242
15.5 – PROCEDIMENTOS ESPECIAIS 244
15.6 – TERMO CIRCUNSTANCIADO ADMINISTRATIVO - TCA 244
15.6.1 – ASPECTOS PROCESSUAIS 245
15.7 - TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA – TAC 246
15.7.1 – SUSPENSÃO DO PRAZO DE PRESCRIÇÃO 247
15.7.2 – ASPECTOS PROCESSUAIS 248
15.8 – PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR ENVOLVENDO EMPREGADO DE EMPRESA
PÚBLICA E SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA 249
15.9 – APURAÇÃO DE RESPONSABILIDADE DE PESSOA JURÍDICA 250
15.9.1 – RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA 251
15.9.2 – CÁLCULO DA MULTA 252
15.9.3 – PUBLICAÇÃO EXTRAORDINÁRIA DA DECISÃO CONDENATÓRIA 253
15.9.4 – SUJEITO ATIVO DO ATO LESIVO À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 254
15.9.5 – ASPECTOS PROCESSUAIS 254
15.9.6 – PROCESSO DE APURAÇÃO DE RESPONSABILIDADE DE PESSOA JURÍDICA - PAR 254
15.9.7 – COMPETÊNCIA NO PROCESSO DE RESPONSABILIZAÇÃO 256
15.9.8 – DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA 257
15.9.8.1 – CONCEITO E FINALIDADE 258
15.9.8.2 – ORIGEM HISTÓRICA 259
15.9.8.3 – DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NA LEI ANTECORRUPÇÃO 259
15.9.9 – ACORDO DE LENIÊNCIA 260
15.9.9.1 – REQUISITOS PARA A CELEBRAÇÃO DO ACORDO 261
15.9.9.2 – DESCUMPRIMENTO DO ACORDO DE LENIÊNCIA 262
15.9.9.3 – INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO 263
15.9.9.4 – CADASTRO NACIONAL DE EMPRESAS INIDÔNEAS 263
DIREITO ADMINISTRATIVO
DISCIPLINAR FEDERAL
PRIMEIRA PARTE
DIREITO MATERIAL
16
CAPÍTULO 1
DIREITO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR
que uma sociedade combate os desvios éticos cometidos pelos agentes que a
representam. A elaboração de normas claras e eficazes, aliada à presença de um corpo
funcional qualificado e bem treinado constitui uma importante ferramenta do Estado
no enfrentamento da corrupção.
A responsabilização dos agentes públicos pela prática de atos ilícitos contra a
Administração Pública tem como principal suporte jurídico o texto constitucional. No
Capítulo VII, mais precisamente no art. 37, ficou estabelece que a administração
pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá, entre outros preceitos, aos princípios da
legalidade, impessoalidade e moralidade. Mais adiante (§ 5º) ficou estabelecido que
os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos,
a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário,
na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
Em nível infraconstitucional, a Lei nº 1.711, de 28 de outubro de 1952 (antigo
Estatuto dos Funcionários Civis Públicos da União) dedicava um título inteiro ao
regime disciplinar. Trazia um rol de deveres e proibições a que se submetiam os
servidores públicos federais, previa a responsabilidade nas esferas administrativa,
civil e criminal, bem como as punições que poderiam ser impostas ao agente
transgressor, com destaque para a prisão administrativa, pelo prazo máximo de
noventa dias, imposta ao responsável por dinheiro e valores pertencentes à Fazenda
Nacional, ou que se acharem sob sua guarda, no caso de alcance ou omissão em
efetuar as entradas nos devidos prazos.
A Lei nº 1.711/52 foi revogada pelo atual Estatuto dos Servidores Públicos
Federais (Lei nº 8.112/90), que dedica um título inteiro ao regime disciplinar (artigos
116 a 142) e outro ao processo administrativo disciplinar (artigos 143 a 182).
Quase uma década após a aprovação da Lei nº 8.112/90 foi publicada uma lei
específica para a disciplina do processo administrativo no âmbito da Administração
Pública Federal (Lei nº 9.784/99), cujo texto contempla procedimentos básicos de
natureza processual aplicados ao processo administrativo em geral, inserindo-se entre
estes o processo administrativo disciplinar previsto no estatuto dos servidores.
É oportuno deixar claro que a Lei nº 9.784 não revogou nenhum dispositivo
previsto em lei mais antiga que disciplina processo administrativo, de sorte que os
processos administrativos para os quais existem leis regulamentadoras específicas
continuarão por estas sendo disciplinados, como é o caso do processo administrativo
fiscal, que continuará sendo regido pela Lei nº 70.235/72. Portanto, trata-se de norma
a ser aplicação apenas na hipótese de ausência de legislação específica que trata do
processo administrativo ou, se houver, quando esta apresentar lacunas que a torne
insuficiente para regular o assunto.
Em junho de 1992 foi aprovada a denominada Lei de Improbidade
19
CAPÍTULO 2
RESPONSABILIDADE DO SERVIDOR PÚBLICO
Lei nº 8.112/90
Art. 122. A responsabilidade civil decorre de ato omissivo ou comissivo, doloso ou
culposo, que resulte em prejuízo ao erário ou a terceiros.
Constituição Federal
Art. 37 [...]
[...]
§ 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de
22
serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade,
causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos
casos de dolo ou culpa.
Lei nº 8.112/90
Art. 123. A responsabilidade penal abrange os crimes e contravenções imputadas ao
servidor, nessa qualidade.
Código Penal
Art. 92 - São também efeitos da condenação:
I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um
ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a
Administração Pública;
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro)
anos nos demais casos.
que pela mesma conduta ilícita o agente público poderá responder nas três esferas.
Disso resulta que, via de regra, a condenação ou absolvição do agente público na
esfera criminal ou civil não repercutirá necessariamente na esfera administrativa.
Em síntese, da independência das instâncias decorrem as seguintes
consequências: a) a absolvição ou condenação na esfera cível ou criminal, via de
regra, não vincula a administrativa; b) pela mesma conduta ilícita o servidor pode ser
penalizado nas três esferas – administrativa, civil e criminal; e c) a instauração de
procedimento investigativo em qualquer das três esferas não fica condicionada à
apuração nas demais esferas do direito.
As exceções a esta regra foram previstas pelo art. 126 da Lei nº 8.112/90,
segundo o qual a responsabilidade administrativa do servidor será afastada no caso de
absolvição criminal que negue a existência do fato ou sua autoria. Significa dizer que
a decisão na esfera criminal vincula a decisão na esfera disciplinar quando restar
comprovado que: a) o fato não ocorreu; ou, b) se ocorreu, o agente não foi o autor.
Visando facilitar a compreensão, vamos utilizar um exemplo hipotético: o
servidor “A” responde a processo administrativo disciplinar por suposta fraude em
processo licitatório (valimento do cargo) e, concomitantemente, responde a processo
criminal pela prática do crime previsto pelo art. 90 da Lei nº 8.666/93 (frustrar ou
fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro expediente, o caráter
competitivo do procedimento licitatório, com o intuito de obter, para si ou para
outrem, vantagem decorrente da adjudicação do objeto da licitação). Suponhamos
ainda que ao final da ação penal chega-se à conclusão de que o suposto ilícito foi
praticado pelo servidor “B”, e não por “A”. Nesta situação hipotética, o servidor “A”
deverá ser inocentado no processo disciplinar, por restar configurada uma das
hipóteses em que a decisão na esfera criminal vincula a esfera disciplinar – negativa
de autoria. O mesmo ocorreria se a conclusão da investigação criminal comprovasse
que não houve fraude licitatório – negativa de ocorrência do fato.
Em nosso opinião, ao contrário sensu, se a conclusão da ação penal fosse
desfavorável ao agente “A”, ou seja, se restasse comprovado que o servidor de fato,
praticou o delito licitatório, não haveria mais nada a ser questionado na esfera
disciplinar, prevalecendo a decisão criminal. O raciocínio nos parece óbvio. Se na
ação penal, com todos os recursos postos à disposição do juiz e do representante do
Ministério Público, concluiu-se pela culpabilidade do servidor, não nos parece
razoável admitir que a comissão processante, dispondo de limitados recursos
investigativos, possa chegar a uma conclusão diametralmente oposta.
A independência das instâncias significa, ainda, que a instauração de
procedimento investigativo disciplinar visando apurar infração funcional não pode
ficar na dependência do ajuizamento da ação correspondente nas esferas cível ou
criminal, quando a infração praticada pelo agente repercutir nas três esferas. A
observância dessa regra é de salutar importância, notadamente diante da constatação
26
de que os processos criminais, via de regra, se arrastam por anos sem uma decisão
definitiva, muitas vezes se revelando inúteis em razão da prescrição da pretensão
punitiva.
Essa mesma lógica é obedecida na área cível no que diz respeito à ação de
reparação de danos causados pelo crime. Nada obstante com o trânsito em julgado da
sentença criminal condenatória não caber mais discussão sobre a responsabilidade
cível, eis que esta fica vinculada à decisão proferida na esfera criminal, conforme se
extrai do art. 935 do Código Civil, a existência de decisão penal condenatória não
constitui requisito para o ajuizamento da correspondente ação cível. Dito em outras
palavras, o manejo de ação cível de reparação dos danos causados pelo crime
independe do andamento da correspondente ação na seara criminal.
O mesmo vale para o processo administrativo disciplinar. Não pode a
Administração deixar de apurar a infração disciplinar com repercussão na esfera cível
ou criminal a pretexto de aguardar a conclusão da apuração em qualquer dessas
esferas, sob pena de excessiva vulneração do postulado da independência das
instâncias.
A despeito de não constar de forma expressa na lei, quando se tratar de infração
disciplinar também capitulada como crime, a extinção da pretensão punitiva ou
executória pela prescrição na seara criminal vincula a administração. O tema será
abordado com mais profundidade no capítulo que trata da prescrição disciplinar.
também é verdadeira, ou seja, o fato de o gestor ter sido punido disciplinarmente não
implica a rejeição de suas contas pelo Tribunal de Contas.
Não são raras as vezes que patronos de acusados em processo administrativo
disciplinar peticionam perante a administração requerendo o arquivamento das
investigações sob a alegação de que as contas do cliente foram julgadas regulares pelo
Tribunal de Contas, que do inquérito policial não resultou oferecimento de denúncia,
que a ação civil de improbidade administrativa foi arquivada, etc. Tudo em vão, pois
a apuração de infrações funcionais goza de autonomia em relação aos demais
procedimentos, salvo no caso de absolvição criminal que negue a existência do fato
ou sua autoria.
Nada obstante a prevalência da independência das instâncias, há precedente no
Poder Judiciário admitindo a vinculação a ação penal à decisão proferida em processo
de tomada de contas. Nos autos do HC 88.370-RS, tendo como relator o Ministro
Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 2008, o Superior Tribunal de Justiça
concedeu a ordem para trancar a ação penal referente a suposta dispensa ilícita de
licitação para compra de combustível, cuja ilicitude foi afastada em processo de
tomada de contas instaurado pelo Tribunal de Contas do respectivo estado. O
trancamento da ação penal teve como fundamento o fato de o objeto da persecução
penal ser o mesmo do processo de tomada de contas, julgada regular pela Corte de
Contas. Em síntese, temos aqui o inverso do estabelecido pelo art. 126 da Lei nº
8.112/90, ou seja, a decisão na esfera administrativa afastando a responsabilidade
criminal pela negativa da existência do fato.
Mais recentemente a Advocacia Geral da União - AGU aprovou o Parecer
Vinculante nº GQ-55, segundo o qual a decisão do Tribunal de Contas da União,
adotada em vista de sua função institucional, repercute na ação disciplinar dos órgãos
e entidades integrantes da Administração Pública na hipótese em que venha negar
especialmente a existência do fato ou a autoria. Ainda segundo a AGU, o julgamento
da regularidade das contas, por si só, não indica a falta de tipificação de infração
administrativa (ratificando o que falamos antes).
Lei nº 8.112/90
Art. 125. As sanções civis, penais e administrativas poderão cumular-se, sendo
independentes entre si.
Lei nº 8.112/90
A responsabilidade administrativa do servidor será afastada no caso de absolvição
criminal que negue a existência do fato ou sua autoria.
Código Civil
28
doutrinária que defende a punição disciplinar por atos da vida privada, bastando que
os mesmos tenham a potencial capacidade para macular a imagem da Administração
Pública perante a sociedade.
Para José Armando da Costa, transgressão disciplinar é o “proceder anômalo,
interno ou externo, do agente público que, além de pôr em descrédito a
administração, redunda em detrimento da regularidade do serviço público”. Ainda de
acordo com o eminente administrativista, para a configuração do ilícito disciplinar é
indiferente o fato de a transgressão ter ocorrido no ambiente interno ou externo à
repartição, bastando que a mesma tenha a aptidão para macular a imagem da
Administração Pública perante a sociedade.
Em nosso modo de ver, o entendimento de José Armando da Costa é o que
mais se harmoniza com os princípios que norteiam a atuação do agente público. Não
nos parece razoável admitir que a pessoa que atua em nome do Estado, de quem se
espera uma conduta exemplar, pratique conduta reprovável do ponto de vista social,
repercutindo negativamente na imagem da Administração Pública, fique impune
apenas porque o fato ocorreu no âmbito da vida privada. Corrobora esse entendimento
o fato de o Código de Ética do Servidor Público Civil do Poder Executivo, aprovado
pelo Decreto nº 1.171/94, ter estabelecido entre as regras deontológicas aquela
segundo a qual “A função pública deve ser tida como exercício profissional e,
portanto, se integra na vida particular de cada servidor público. Assim, os fatos e
atos verificados na conduta do dia-a-dia em sua vida privada poderão acrescer ou
diminuir o seu bom conceito na vida funcional”. Como dito em tópico pretérito, nada
obstante referido decreto seja de observância obrigatória apenas no âmbito do Poder
Executivo Federal, nada impede que as demais esferas (Poderes Judiciário e
Legislativo) os adotem como obrigatório ao seu corpo funcional.
Para reforçar nosso entendimento, imagine a situação em que um agente
administrativo pratica a exploração sexual de menores fora do ambiente do trabalho e
em circunstâncias que não guardam nenhuma relação com o cargo que exerce. Em
nosso modo de pensar, a despeito da total desvinculação do ato com as atribuições do
cargo, a legitimidade da punição na esfera disciplinar nos parece inquestionável, ainda
que não haja persecução penal. É incontroverso que ato de tamanha rejeição social
inevitavelmente atingirá negativamente a confiança depositada pela sociedade nos
órgãos estatais. Nessa situação hipotética apresentada, não nos parece razoável a
Administração se manter inerte, não punindo disciplinarmente o agente pelo simples
fato de a conduta ter ocorrido fora do ambiente de trabalho.
Lei nº 8.112/90
Art. 148. O processo disciplinar é o instrumento destinado a apurar
responsabilidade de servidor por infração praticada no exercício de suas
atribuições, ou que tenha relação com as atribuições do cargo em que se encontre
32
investido.
Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo
Federal.
Das Regras Deontológicas
[…]
VI - A função pública deve ser tida como exercício profissional e, portanto, se
integra na vida particular de cada servidor público. Assim, os fatos e atos
verificados na conduta do dia-a-dia em sua vida privada poderão acrescer ou
diminuir o seu bom conceito na vida funcional.
Das Vedações ao Servidor Público
XV - E vedado ao servidor público;
[…]
n) apresentar-se embriagado no serviço ou fora dele habitualmente;
33
CAPÍTULO 3
PENALIDADES DISCIPLINARES
3.2 - ADVERTÊNCIA
Entre as sanções disciplinares previstas no Estatuto dos Servidores Públicos
Federais é a mais branda e é aplicada nos casos de violação de proibição constante do
art. 117, incisos I a VIII e XIX, e de inobservância de dever funcional previsto em lei,
regulamentação ou norma interna, que não justifique imposição de penalidade mais
grave (Art. 129 da Lei 8.112/90). Por imposição legal, deverá ser aplicada por escrito,
com a respectiva anotação nos assentamentos funcionais do servidor punido.
Observem que a lei fala em “inobservância de dever funcional previsto em lei,
regulamentação ou norma interna”, o que nos permite inferir que a aplicação da
advertência não se restringe às transgressões tipificadas pela Lei nº 8.112/90,
abarcando infrações previstas em qualquer instrumento normativo infralegal, como é
o caso de portaria e instrução normativa, bastando que estes instrumentos normativos
imponha um dever funcional a ser observado e este venha a ser descumprido pelo
servidor.
A penalidade de advertência terá seu registro cancelado, após o decurso de três
anos de efetivo exercício, se o servidor não houver, nesse período, praticado nova
infração disciplinar (art. 131 da Lei nº 8.112/90). Nada obstante o silêncio da lei,
entendemos que o cancelamento do registro da punição pelo decurso de três anos
implica a retirada de qualquer informação relacionada à punição na ficha funcional do
servidor. Após o transcurso dos três anos todos os registros mantidos em bancos de
dados pela Administração Pública deverão ser apagados, sob pena de ser tornar inócua
o imperativo legal.
A pena de advertência é destinada apenas aos servidores que ainda se
encontram em atividade, não incidindo sobre o agente aposentado que não mais exerce
função pública, ainda que a infração tenha sido praticada na atividade. Como será
visto em tópico mais adiante, a instauração de procedimento disciplinar em desfavor
do aposentado tem cabimento exclusivamente quando se tratar de infração punida com
a demissão, caso ainda estivesse na atividade.
3.4 - SUSPENSÃO
Segundo o disposto pelo art. 130 da Lei nº 8.112/90, a pena de suspensão será
aplicada em caso de reincidência das faltas punidas com advertência e de violação das
demais proibições que não tipifiquem infração sujeita a penalidade de demissão. Pelo
35
que se extrai do texto legal, a conduta punida com suspensão é identificada por
exclusão, se não couber a advertência nem a demissão será o caso de suspensão. A
pena consiste no afastamento compulsório do servidor de suas funções por um período
que varia de um a noventa dias, salvo no caso de recusa injustificada de submissão a
inspeção médica determinada pela autoridade competente, hipótese em que o período
máximo de suspensão será de quinze dias.
A lei nada diz a respeito do critério de contagem do prazo de suspensão, se
abrange apenas os dias úteis ou dias corridos, nem tampouco estabelece restrição
quanto à coincidência da punição (ou não) com feriados e finais de semana. Diante do
silêncio da lei, embora não seja razoável, nada impede que a autoridade julgadora
suspenda o servidor em dia que não há expediente na repartição. Nesse caso, o único
efeito prático da reprimenda será o desconto na remuneração do servidor.
3.5 - DEMISSÃO
Para facilitar a compreensão do assunto, preliminarmente faz-se necessário
traçar as diferenças entre os institutos da demissão e exoneração.
A demissão tem natureza punitiva e é cabível nos casos em que o servidor for
ocupante de cargo efetivo e pratica qualquer das infrações passíveis de imposição
dessa espécie de pena (art. 132 da Lei nº 8.112/90). Não existe a figura da demissão a
pedido, como muitos advogam. Por sua vez, a exoneração não tem caráter punitivo é
36
sabemos que a autoridade que nomeia o servidor para uma função comissionada detém
poderes para exonerá-lo a hora que bem entender, independentemente de o servidor
ter ou não cometido infração disciplinar.
CAPÍTULO 4
CAUSAS QUE EXTINGUEM A INFRAÇÃO OU A
PUNIBILIDADE
Código Penal
Art. 107 - Extingue-se a punibilidade:
I - pela morte do agente;
II - pela anistia, graça ou indulto;
III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;
IV - pela prescrição, decadência ou perempção;
V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação
privada;
VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite;
VII - Revogado
44
VIII - Revogado
IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.
4.5 – PRESCRIÇÃO
Dada a relevância do assunto, a prescrição será abordada em capítulo
45
tal mister; b) que a ordem seja legítima; e c) que haja compatibilidade entre o teor da
ordem e a atuação do servidor que a recebeu. Se o servidor for além dos limites do
seu dever legal restará configurada o abuso de poder, na forma excesso de poder. Ou
seja, o servidor foi além do cumprimento do dever estabelecido em lei.
Como sabemos, a Lei nº 8.112/90 (art. 16, XI) impõe a todos os servidores
públicos o dever de tratar com urbanidade as pessoas. Nada obstante essa exigência
legal, não podemos exigir de um agente da Polícia Federal essa mesma urbanidade ao
conduzir coercitivamente uma pessoa suspeita de prática de crime. Nessa situação, o
estrito cumprimento do dever legal prevalece sobre o dever de urbanidade
preconizado pela norma. Todavia, nessa mesma situação, restará configurada a
infração (penal e administrativa) se o agente policial for além dos limites legais e, a
pretexto de cumprir ordem superior, agredir a pessoa conduzida.
não pode a Administração punir o servidor pela prática de transgressão funcional cuja
ilicitude tenha sido excluída na esfera criminar por se encontrar o agente acobertado
pelo estado de necessidade.
legal o art. 22 do Código Penal, segundo o qual “Se o fato é cometido [...] em estrita
obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível
o autor [...] da ordem”.
Infere-se da literalidade do artigo que a exclusão da culpabilidade em análise
deve preencher os seguintes requisitos: a) conduta praticada em cumprimento de
ordem superior; b) que a ordem não seja manifestamente ilegal; e c) atuação dentro
dos limites da ordem emanada do superior hierárquico. A excludente da ilicitude estará
afastada sempre que o agente ultrapassa os limites da ordem.
Na obediência hierárquica não ocorre concurso de agentes, ou seja, ou o agente
subalterno praticou a conduta acobertado pela excludente e a pena recai sobre o autor
da ordem; ou ocorre a situação contrária (ausência dos requisitos) e o agente
responderá sozinho pelo ilícito praticado.
servidor não entrar em exercício no prazo estabelecido na lei. Com efeito, não existe
a possibilidade de exoneração por ato unilateral da Administração fora das situações
anteriores. No caso de servidor ocupante de cargo em comissão ou função de
confiança, a exoneração pode ocorrer tanto de ofício como a pedido do servidor
interessado.
A punição disciplinar aplicada aos ocupantes de cargo em comissão e função
comissionada é a destituição do cargo em comissão ou da função comissionada,
conforme o caso. Foi visando possibilitar a punição desses agentes quando a apuração
ocorrer após o rompimento do vínculo com a Administração Pública que a Lei nº
8.112/90 previu no parágrafo único do art. 135 que “constatada a hipótese de que
trata este artigo, a exoneração efetuada nos termos do art. 35 será convertida em
destituição de cargo em comissão”. Dito em outas palavras: quando no ato da
imposição da pena a autoridade competente constatar que o agente a ser punido foi
exonerado a pedido ou por decisão unilateral da administração, a exoneração (que não
é pena) será convertida na pena de destituição do cargo em comissão ou função
comissionada.
Por sua vez, o parágrafo único do art. 172 diz que “ocorrida a exoneração de
que trata o parágrafo único, inciso I do art. 34, o ato será convertido em demissão,
se for o caso.” Destrinchando o que diz a lei: quando no ato da imposição da pena a
autoridade competente constatar que o servidor não mantém mais vínculo com a
Administração Pública por ter sido exonerado de ofício por não ter satisfeito os
requisitos do estágio probatório, o ato de exoneração (que não é pena) será convertida
em demissão (que é pena disciplinar).
A solução dada pela lei seria perfeita se não fosse um detalhe. De acordo com
as regras estabelecidas pela Lei nº 8.112/90, a exoneração do cargo em comissão pode
ocorrer de duas formas: a) a pedido do próprio servidor; ou b) a juízo da autoridade
competente, ou seja, ex ofício. Por sua vez, a exoneração do cargo efetivo pode ocorrer
de três formas: a) a pedido do servidor; b) de ofício pela autoridade competente
quando não satisfeitas as condições do estágio probatório; c) quando, tendo tomado
posse, o servidor não entrar em exercício no prazo estabelecido.
Inobstante isso, a lei não previu a conversão da exoneração do cargo efetivo
em demissão, quando o evento (exoneração) ocorrer a pedido do próprio servidor ou
quando decorrer da não entrada em exercício no prazo legal, diferentemente do que
ocorre com o cargo em comissão, que será convertido em destituição do cargo em
comissão pouco importando se a exoneração ocorreu a pedido ou de ofício. Sendo
assim, tanto a exoneração voluntária do cargo efetivo como a exoneração por não ter
entrado em exercício no prazo legal funcionam como causas sui generis de extinção
da punibilidade. Nesse contexto, o resultado de processos administrativo disciplinar
instaurado em desfavor de servidor efetivo nessas duas situações servirá, na melhor
das hipóteses, como subsídio para a instauração de ação de reparação de danos,
50
CAPÍTULO 5
DEVERES E PROIBIÇÕES
5.1 - INTRODUÇÃO
5.2 - DEVERES
O art. 116 da Lei nº 8.112/90 traz um rol de deveres a serem observados pelos
servidores públicos como requisitos para o bom desempenho de seus encargos e
regular funcionamento dos serviços públicos. Cabe destacar que se trata de rol
meramente exemplificativo, existindo outros instrumentos legais que impõem outros
51
expressão “ser leal”. A lei não define as exatas fronteiras entre o que é ser leal e ser
desleal às instituições, transferindo para o aplicador do direito no caso concreto uma
larga margem de discricionariedade, abrindo brechas para julgamentos casuísticos e
até mesmo para perseguição de subordinados. Ademais disso, entendemos que o dever
de lealdade se insere no contexto dos demais deveres elencados no art. 116. Apenas
para exemplificar, quem não exerce com zelo e dedicação as atribuições do cargo ou
não observa as normas legais e regulamentares está sendo desleal para com a
instituição a que serve.
desvio de finalidade – o agente público pratica um ato que é de sua competência, mas
o utiliza para uma finalidade diversa da prevista ou contrária ao interesse público.
5.3 – PROIBIÇÕES
As proibições são condutas vedadas aos servidores públicos, cujo
descumprimento acarreta a aplicação de uma das sanções previstas na lei. Essas
proibições estão especificadas no art. 117 da Lei nº 8.112/90. Das dezenove proibições
elencadas no artigo acima mencionado oito são punidas com demissão e as demais
com advertência, salvo quando justificar a imposição de penalidade mais grave. Nos
tópicos seguintes analisaremos de forma resumida cada uma das proibições elencadas
no artigo 117 da Lei nº 8.112/90.
que aqueles que ocupam cargos de direção se encontram imunes à proibição. Aliás, é
exatamente nessas pessoas que concentra mais poderes para impor resistência ao
andamento dos serviços, notadamente porque exercem influência sobre os
subordinados.
praticou o ato ilícito fora do ambiente de trabalho, em um período que sequer exercia
suas funções (férias), mas a informação privilegiada foi obtida em razão do cargo.
Elemento subjetivo da conduta: A descrição da conduta proibida nos leva à
conclusão de que a configuração do ilícito funcional exige a presença do elemento
subjetivo dolo. Aliás, a conduta é incompatível com a modalidade culposa, pois é
impossível que alguém possa praticar uma ação visando finalidade específica por
negligência, imprudência ou imperícia. Além disso, exige-se ainda que a vantagem
auferida indevidamente seja individualizada. Ou seja, a vantagem deverá ser
identificada e, se possível, quantificada. Dito em outras palavras, não basta a mera
alegação de que o agente praticou a conduta visando interesse próprio ou alheio.
O ato de valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem, em
detrimento da dignidade da função pública é punido com a pena capital (demissão),
ficando o agente incompatibilizado para nova investidura em cargo público federal,
pelo prazo de 5 (cinco) anos, segundo o disposto pelo art. 137 da Lei nº 8.112/90.
figura apenas como sócio ou acionista, ainda que nessa qualidade participe ativamente
das discussões inerentes à condição de empresário. Vejam que o dispositivo fala em
“sociedade privada personificada ou não personificada”, indicando que para efeitos
da proibição é indiferente o fato de a sociedade ter ou não os seus atos constitutivos
(o contrato social) registrados nos órgãos governamentais competentes.
A vedação é extensiva ao exercício do comércio, salvo na qualidade de
acionista (possuidor de ações de uma sociedade), cotista (possui cotas ou parcela do
capital), acionista (possui ações de uma sociedade). A vedação prevista no inciso não
se aplica ainda no caso de participação nos conselhos de administração e fiscal de
empresas ou entidades em que a União detenha, direta ou indiretamente, participação
no capital social ou em sociedade cooperativa constituída para prestar serviços a seus
membros, bem como quando se tratar de servidor em gozo licença para o trato de
interesses particulares (Art. 91), observada a legislação sobre conflito de interesses.
A inaplicabilidade da vedação no caso em que o servidor se encontra em gozo
de licença para tratar de interesses particulares nos parece salutar, pois durante esse
período o agente não exerce atribuição pública (é como se o servidor tivesse sido
exonerado), mantendo-se apenas a prerrogativa de o mesmo requerer o retorno ao
cargo que exercia.
Ao que tudo indica, a proibição tem como objetivo prevenir eventuais conflitos
de interesses, dadas as prerrogativas que são inerentes ao exercício da função pública.
Ou seja, evitar que as prerrogativas do cargo possam ser utilizadas em prol do negócio
da sociedade. Não nos filiamos à corrente que defende a tese de que o dispositivo
também visa evitar o comprometimento da dedicação do servidor às suas funções na
repartição. Em primeiro lugar, inúmeras outras situações não abarcadas pela proibição
apresentam maior potencialidade de prejudicar a dedicação do servidor ao serviço
público, como é exemplo o exercício da advocacia. Em segundo lugar, a
Administração dispõe de outros mecanismos para compelir o servidor a se dedicar ao
serviço, tais como registro de ponto, avaliação de desempenho, entre muitos outros.
A pena prevista para o servidor que descumprir a proibição é a demissão.
a pessoa pratica a usura na condição de agente público. Nessa situação especial não
nos interessa a conduta do agente na esfera privada. A razão é simples: o processo
disciplinar tem como finalidade apurar responsabilidade de servidor por infração
praticada no exercício de suas atribuições, ou que tenha relação com as atribuições do
cargo em que se encontre investido (art. 148 da Lei nº 8.112/90), não abarcando as
condutas da vida privada, salvo quando se tratar de conduta capaz de macular a
imagem da Administração Pública, o que não ocorre com a prática da usura, segundo
nos parece.
A pena prevista para o servidor que descumprir a proibição é a demissão.
Codice Penale
Art. 644.Usura.
Chiunque, fuori dei casi previsti dall'articolo 643, si fa dare o promettere, sotto
qualsiasi forma, per sé o per altri, in corrispettivo di una prestazione di denaro o di
altra utilità, interessi o altri vantaggi usurari, è punito con la reclusione da due a
dieci anni e con la multa da euro 5.000 a euro 30.000.
Lei nº 1.521/52
Art. 4º. Constitui crime da mesma natureza a usura pecuniária ou real, assim se
considerando:
a) cobrar juros, comissões ou descontos percentuais, sobre dívidas em dinheiro
superiores à taxa permitida por lei; cobrar ágio superior à taxa oficial de câmbio,
sobre quantia permutada por moeda estrangeira; ou, ainda, emprestar sob penhor
que seja privativo de instituição oficial de crédito;
b) obter, ou estipular, em qualquer contrato, abusando da premente necessidade,
inexperiência ou leviandade de outra parte, lucro patrimonial que exceda o quinto
do valor corrente ou justo da prestação feita ou prometida.
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, de cinco mil a vinte mil
cruzeiros.
cumprimento da atribuição.
Por outro lado, a vedação não pode ser levara ao extremo de impedir o
desempenho de atividades de menor complexidade e que não exige formação
acadêmica específica. Por exemplo: o fato de um servidor ter sido contratado para o
cargo de estatístico não o impede de desempenhe outras atividades, tais como a
elaboração de ofício, fiscalização da execução de um contrato, entre muitas outras. O
que o inciso proíbe é o desvio de função, ou seja, a atribuição de tarefas incompatíveis
com a área de formação do servidor, como é o caso da elaboração de parecer jurídico
por ocupante do cargo de enfermeiro. Nesse caso, a recusa de cumprimento da ordem
emanada do superior hierárquico não configura o ilícito tipificado pelo inciso IV do
art. 116 da Lei nº 8.112/90, por se tratar de ato manifestamente ilegal.
Lei nº 8.112/90
Art. 138. Configura abandono de cargo a ausência intencional do servidor ao
serviço por mais de trinta dias consecutivos.
Código Pena
Art. 323. Abandonar a função cargo público, fora dos casos permitidos em lei.
JURISPRUDÊNCIA SOBRE O TEMA
DEMISSÃO. SERVIDOR PÚBLICO. ABANDONO. CARGO.
A Seção concedeu o "writ" ao entendimento de que a ausência do servidor público
por mais de trinta dias consecutivos ao serviço, sem o animus abandonandi não
basta para sua demissão por infringência ao art. 138, c/c o 132, II, da Lei n.º
8.112/90, visto que seu não comparecimento ao local de trabalho deveu-se à
restrição a seu direito de ir e vir originária de órgão judicial: ele seria recolhido à
prisão decorrente de sentença ainda não transitada em julgado. Com efeito, para a
tipificação de abandono de cargo, caberia investigar necessariamente se houve, de
fato, a intenção deliberada. No caso, em razão da ilegalidade da custódia contra si
expedida, reconhecida posteriormente, que o impossibilitou de ir ao trabalho, são
devidos a sua reintegração no cargo, as vantagens financeiras e o cômputo do tempo
de serviço para todos os efeitos legais, a contar da data do ato impugnado. MS
12.424-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 28/10/2009.
máximo de sessenta horas semanais. Segundo o que dispõe a alínea c do inciso XVI
do art. 37 da CF, é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto,
quando houver compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto
no inciso XI, a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com
profissões regulamentadas. Por se constituir como exceção à regra da não
acumulação, a acumulação de cargos deve ser interpretada de forma restritiva.
Ademais, a acumulação remunerada de cargos públicos deve atender ao princípio
constitucional da eficiência, na medida em que o profissional da área de saúde
precisa estar em boas condições físicas e mentais para bem exercer as suas
atribuições, o que certamente depende de adequado descanso no intervalo entre o
final de uma jornada de trabalho e o início da outra, o que é impossível em condições
de sobrecarga de trabalho. Observa-se, assim, que a jornada excessiva de trabalho
atinge a higidez física e mental do profissional de saúde, comprometendo a eficiência
no desempenho de suas funções e, o que é mais grave, coloca em risco a vida dos
usuários do sistema público de saúde. Também merece relevo o entendimento do
TCU no sentido da coerência do limite de sessenta horas semanais – uma vez que
cada dia útil comporta onze horas consecutivas de descanso interjornada, dois
turnos de seis horas (um para cada cargo), e um intervalo de uma hora entre esses
dois turnos (destinado à alimentação e deslocamento) –, fato que certamente não
decorre de coincidência, mas da preocupação em se otimizarem os serviços públicos,
que dependem de adequado descanso dos servidores públicos (TCU, Acórdão
2.133/2005, DOU 21/9/2005). MS 19.336-DF, Rel. originária Min. Eliana Calmon,
Rel. para acórdão Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 26/2/2014
(Informativo nº 549).
contravenção penal.
Não significa com isso que a Administração estará obrigada a demonstrar, de
forma irrefutável, que o ilícito administrativo praticado pelo investigado constitui
crime ou contravenção penal, até mesmo porque a proficiência em direito penal não
constitui requisito para compor comissão de processo administrativo disciplinar. É
suficiente que o colegiado desconfie de que a infração verificada na esfera
administrativa possa também ser considerada crime ou contravenção penal. A solução
dessa controvérsia compete exclusivamente ao Poder Judiciário, a quem cabe decidir
conclusivamente se determinada conduta se amolda ou não ao tipo penal incriminador.
Compete ao colegiado apenas sugerir a remessa de cópia dos autos ao
Ministério Público, cabendo à autoridade instauradora, embasada em parecer da
assessorada jurídica, fazer juízo de valor sobre a pertinência (ou não) da adoção da
medida.
É pertinente esclarecer que inobstante a Lei nº 8.112/90 seja omissa, a remessa
dos autos ao Ministério Público se faz necessária também na hipótese de a infração
disciplinar for capitulada como ato de improbidade administrativa. Segundo o
disposto pelo art. 15 da lei nº 8.429/92 (Lei de improbidade administrativa), “a
comissão processante dará conhecimento ao Ministério Público e ao Tribunal ou
Conselho de Contas da existência de procedimento administrativo para apurar a
prática de ato de improbidade”, sendo facultado ao MP ou ao TCU designar
representante para acompanhar o procedimento administrativo. Ademais disso, nos
termos do art. 17 do mesmo diploma legal “a ação principal, que terá rito ordinário,
será proposta pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica interessada dentro de
trinta dias da efetivação da medida cautelar.” Come é possível inferir do texto acima
reproduzido, é do Parquet a legitimidade para propor ação civil de improbidade
administrativa, justificando-se a necessidade de remessa dos autos ao Ministério
Público pela autoridade competente.
5.6.1.4 – ARTIGO 32 IV
Divulgar ou permitir a divulgação ou acessar ou permitir acesso indevido à
informação sigilosa ou informação pessoal.
Nada obstante a redação do inciso não ser das melhores, é possível inferir que
a intenção do legislador, ao tipificar tais condutas como ilícitas, foi preservar as
informações protegidas por sigilo. A presença do termo “indevido” indica que não há
a configuração do ilícito funcional quando a divulgação ou o acesso ocorrer dentro
das regras legais. A título meramente exemplificativo, informações cuja guarda esteja
a cargo do Estado e que dizem respeito à intimidade, honra e imagem das pessoas não
são públicas, podendo ser acessadas apenas pelos próprios indivíduos e, por terceiros,
apenas em casos excepcionais previstos em lei.
5.7 – REINCIDÊNCIA
Em qualquer ramo do direito sancionador reincidente é a condição atribuída
àquele que volta a delinquir depois de ter sido punido pala prática de infração anterior,
91
Código Penal
ter sido condenado em decisão de que não caiba recurso administrativo, venha a
praticar a mesma ou outra transgressão (Art. 313, § 3º). Aqui também é indiferente o
tipo de transgressão, para fins de configuração da reincidência. Todavia, o transcurso
do prazo de cinco anos após a condenação impede a configuração da reincidência. Ou
seja, passados cinco anos da condenação o servidor passa automaticamente à condição
de primário.
Na esfera federal, diante da lacuna deixada pela Lei nº 8.112/90, surgiu uma
corrente doutrinária que defende a tese de que caracteriza a reincidência a prática de
uma segunda transgressão disciplinar punível com advertência. Com a devida vênia,
não concordamos com esse entendimento. Como visto em passagem anterior, a Lei nº
8.112/90 não traz o conceito de reincidência, ou seja, não descreve as situações fáticas
em que o servidor será considerado reincidente, como ocorre no Código Penal e na
Lei das Contravenções Penais. Observem que no art. 130 consta apenas a expressão
“em caso de reincidência”, e não o conceito da reincidência. Nesse contexto, o fato
de o mencionado diploma legal ter previsto que a reiteração da prática de infração
punida com advertência (reincidência) implica a punição com suspensão não significa
que a reiteração na prática de outras espécies de infrações não configura a
reincidência.
Ao que tudo indica, a opção do legislador por restringir o agravamento da
punição apenas à situação em que ocorre a reiteração de infração punível com
advertência teve o propósito de compatibilizar a punição disciplinar aos princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade, evitando-se (por exemplo) a punição com pena
excessivamente grave (demissão) pela reincidência de infração leve, punida com
suspensão por exemplo. Além disso, ao contrário do que ocorre na esfera criminal,
onde as penas privativas de liberdade, restritiva de direito e multa) podem ser
agravadas tanto pela reincidência como em razão das circunstâncias em que o crime
ocorreu, a maioria das penas disciplinares previstas pela Lei nº 8.112/90 são
incompatíveis com o agravamento. Por exemplo, na esfera criminal é possível uma
pena de reclusão de quatro anos ser aumentada para seis anos em razão da
reincidência. O mesmo não ocorre com as penas disciplinares, pois a pena de demissão
e de cassação de aposentadoria serão sempre as mesmas, inexistindo uma forma mais
grave do que outra.
que não admitem a coautoria, sendo praticada necessariamente por um único agente
público.
Nesse contexto, essa mesma classificação pode ser utilizada para as infrações
disciplinares, com as devidas adaptações. Unissubjetiva é toda infração disciplinar
que somente pode ser praticada por um único agente público. É o que ocorre, por
exemplo, com o abandono de cargo (Art. 132, II), onde a imputação de
responsabilidade disciplinar recairá necessariamente sobre o detentor do cargo
abandonado. Não há como imputar ao servidor “A” a responsabilidade pelo abandono
do cargo levado a efeito pelo servidor “B”. Por outro lado, é plurissubjetiva é a
infração que, a despeito de poder ser praticada por um único servidor público, admite
a participação de mais de um. Exemplo: coagir ou aliciar subordinados no sentido de
filiarem-se a associação profissional ou sindical, ou a partido político (Art. 117, VII).
Pela própria natureza da infração, embora seja mais comum a ação nuclear ser
praticada por um único servidor, nada impede que dois ou mais agentes, em comum
acordo, unam esforços visando coagir ou aliciar um terceiro servidor no sentido de
filiar-se ao sindicato da categoria, situação na qual ambos responderão pela mesma
infração.
alemão, a teoria do domínio do fato surgiu na primeira metade do século passado e foi
idealizada a partir dos estudos desenvolvidos por Hans Welzel. Para os adeptos dessa
teoria, ter domínio sobre o fato criminoso é uma característica inerente à condição de
autor, de sorte que poderá ser considerado autor não só aquele que executa diretamente
a conduta criminosa, mas também aquele que mantém total domínio sobre os fatos
ilícitos praticados pelos agentes que lhes são subordinados, dispondo o autor
dominante de plenos poderes para determinar a continuidade ou não da empreitada
criminosa.
A teoria do domínio do fato é adotada no combate dos crimes cometidos por
organização criminosa cuja estrutura é hierarquizada, onde o legítimo responsável
pelo crime se limita a transmitir ordens aos agentes subalternos, ficando estes
encarregados da execução da empreitada. Na esfera administrativa tem aplicabilidade
notadamente na repressão aos ilícitos funcionais praticados no âmbito de órgãos e
entidades em que os cargos são preenchidos por indicações políticas, adotando-se
como critério de escolha não as credenciais do agente para o desempenho da função,
e sim a aptidão para obedecer incondicionalmente as ordens dos legítimos
idealizadores da empreitada criminosa. No contexto da autoria de escritório, via de
regra o mentor intelectual do fato se cerca de todas as precauções para desvincular seu
nome da infração praticada, recaindo toda a culpa sobre o executor direto do ilícito
administrativo.
mais crimes da mesma espécie em circunstâncias tais que faz presumir que o segundo
seja mera continuidade do primeiro, na reincidência o agente pratica nova infração
depois de ter sido punido por falta anterior, pouco importando as circunstâncias que
ambos tenham sido praticadas.
CAPÍTULO 6
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
modo, o fato de o agente ímprobo ter sido condenado pela Justiça Eleitoral ao
pagamento de multa por infringência às disposições contidas na Lei das Eleições
não impede sua condenação em quaisquer das sanções previstas na LIA, não
havendo falar em bis in idem. AgRg no AREsp 606.352-SP, Rel. Min. Assusete
Magalhães, julgado em 15/12/2015, DJe 10/2/2016.
inferior ao de mercado;
V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem ou
serviço por preço superior ao de mercado;
VI - realizar operação financeira sem observância das normas legais e
regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidônea;
VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a observância das
formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;
VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo seletivo
para celebração de parcerias com entidades sem fins lucrativos, ou
dispensá-los indevidamente;
IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não autorizadas em lei
ou regulamento;
X - agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda, bem como
no que diz respeito à conservação do patrimônio público;
XI - liberar verba pública sem a estrita observância das normas
pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular;
XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça
ilicitamente;
XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veículos,
máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade
ou à disposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1° desta
lei, bem como o trabalho de servidor público, empregados ou terceiros
contratados por essas entidades.
XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por objeto a
prestação de serviços públicos por meio da gestão associada sem observar
as formalidades previstas na lei;
XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público sem suficiente e
prévia dotação orçamentária, ou sem observar as formalidades previstas
na lei.
XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a incorporação, ao
patrimônio particular de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas
ou valores públicos transferidos pela administração pública a entidades
privadas mediante celebração de parcerias, sem a observância das
formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie; XVII -
permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize
bens, rendas, verbas ou valores públicos transferidos pela administração
pública a entidade privada mediante celebração de parcerias, sem a
observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à
110
espécie;
XVIII - celebrar parcerias da administração pública com entidades
privadas sem a observância das formalidades legais ou regulamentares
aplicáveis à espécie;
XIX - agir negligentemente na celebração, fiscalização e análise das
prestações de contas de parcerias firmadas pela administração pública
com entidades privadas;
XX - liberar recursos de parcerias firmadas pela administração pública
com entidades privadas sem a estrita observância das normas pertinentes
ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular.
XXI - liberar recursos de parcerias firmadas pela administração pública
com entidades privadas sem a estrita observância das normas pertinentes
ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular.
Os atos de improbidade administrativa que causam lesão ao erário acima
enumerados se relacionam a condutas comissivas ou omissivas, dolosas ou culposas,
que acarretam perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação
dos bens ou haveres da Administração Pública e demais entidades mencionadas no
art. 1º da Lei nº 8.429/92. Como o próprio título sugere, a configuração do ato de
improbidade exige a comprovação da ocorrência de prejuízo ao erário, pouco
importando se houve enriqueceu ilicitamente do agente transgressor ou não.
Elemento subjetivo: a configuração do ato de improbidade administrativa que
causa lesão ao erário pode ocorrer a título de culpa ou dolo, a depender da natureza
da conduta do agente. Apenas a título de exemplo, o ato de “frustrar a licitude de
processo licitatório ou de processo seletivo para celebração de parcerias com
entidades sem fins lucrativos, ou dispensá-los indevidamente” (inciso VIII) é
incompatível com a forma culposa. Ou seja, ninguém frauda alguma coisa por
negligência, imprudência ou imperícia (elementos da culpa). Por outro lado, o ato de
“agir negligentemente na celebração, fiscalização e análise das prestações de contas
de parcerias firmadas pela administração pública com entidades privadas” (inciso
XIX) necessariamente deverá ocorrer por culpa. A presença da expressão “agir
negligentemente” na redação do inciso não deixa dúvida. A negligência é a forma
negativa da culpa.
Alcance do termo erário: não há consenso entre os doutrinadores quanto ao
alcance da expressão “erário” utilizada pelo legislador na redação da lei. A
divergência decorre da não coincidência de significado dos termos “patrimônio
público” e “erário”. Aquele tem alcance mais abrangente, alcançando inclusive os
bens de natureza não econômica; enquanto que este se relaciona a recursos financeiros
provenientes dos cofres públicos.
111
daquelas para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com menos
de cinquenta por cento do patrimônio ou da receita anual.
Para fins de identificação do sujeito passivo do ato de improbidade
administrativa leva-se em consideração a titularidade do bem jurídico atingido, seja
ele de natureza econômica ou não. Sendo assim, entendemos que podem figurar ainda
como vítima de ato ímprobo partidos políticos, Organizações Sociais - OS,
Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público - OSCIPs, Serviços Sociais
Autônomos (Sistema S) e qualquer ente que administre recursos públicos ou que
atuam em nome do Estado.
Lei nº 1.079/50
Art. 13. São crimes de responsabilidade dos Ministros de Estado:
1 - os atos definidos nesta lei, quando por eles praticados ou ordenados;
2 - os atos previstos nesta lei que os Ministros assinarem com o Presidente da
República ou por ordem deste praticarem;
3 - A falta de comparecimento sem justificação, perante a Câmara dos Deputados ou
o Senado Federal, ou qualquer das suas comissões, quando uma ou outra casa do
Congresso os convocar para pessoalmente, prestarem informações acerca de assunto
previamente determinado;
4 - Não prestarem dentro em trinta dias e sem motivo justo, a qualquer das Câmaras
do Congresso Nacional, as informações que ela lhes solicitar por escrito, ou
prestarem-nas com falsidade.
JURISPRUDÊNCIA SOBRE O TEMA
DIREITO ADMINISTRATIVO. POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA LEI DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA A ESTAGIÁRIO.
O estagiário que atua no serviço público, ainda que transitoriamente, remunerado
ou não, está sujeito a responsabilização por ato de improbidade administrativa (Lei
8.429/1992). De fato, o conceito de agente público, constante dos artigos 2º e 3º da
Lei 8.429/1992 (Lei de Improbidade Administrativa), abrange não apenas os
servidores públicos, mas todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem
remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra
forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função na
Administração Pública. Assim, na hipótese em análise, o estagiário, que atua no
serviço público, enquadra-se no conceito legal de agente público preconizado pela
Lei 8.429/1992. Ademais, as disposições desse diploma legal são aplicáveis também
àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do
ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma, direta ou indireta. Isso
porque o objetivo da Lei de Improbidade não é apenas punir, mas também afastar
do serviço público os que praticam atos incompatíveis com o exercício da função
pública. REsp 1.352.035-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 18/8/2015,
DJe 8/9/2015.
6.5.2 - PARTICULARES
Fazem parte desse rol as pessoas que, mesma sem vínculo com a
Administração Pública, de alguma forma colaboram para a prática do ato de
improbidade administrativa. Essa é a conclusão que se extrai da redação do art. 3º da
118
razão do previsto pelo § 6º do art. 17, segundo o qual “a ação será instruída com
documentos ou justificação que contenham indícios suficientes da existência do ato
de improbidade ou com razões fundamentadas da impossibilidade de apresentação
de qualquer dessas provas…”.
O procedimento poderá ser instaurado a partir de representação feita por
qualquer pessoa, seja física ou jurídica, exigindo-se apenas que a mesma preencha os
requisitos estabelecidos na lei, quais sejam: a) seja elaborada na forma escrita ou
reduzida a termo e assinada; b) contenha a qualificação do representante; c) apresente
informações sobre o fato e sua suposta autoria; e d) indique as provas de que tenha
conhecimento. O não preenchimento dos requisitos acima indicados implica a rejeição
da representação por parte da autoridade competente, mediante decisão devidamente
fundamentada. Todavia, a rejeição pela autoridade competente, por si só, não impede
que a pessoa interessada represente ao Ministério Público, que de posse das
informações recebidas poderá requisitar a instauração de inquérito policial ou
procedimento administrativo.
confiança.
As três classes de agentes acima mencionadas apresentam em comum a
inexistência de vínculo efetivo com a Administração Pública. Os cargos de mandato
eletivos geralmente são preenchidos por tempo previamente determinado e seus
ocupantes exercem função de natureza política. Por sua vez, os cargos em comissão e
função de confiança, nada obstante inexistir um prazo final determinado para a sua
ocupação, são casos que cabem a exoneração ad nutum, ou seja, a autoridade
competente para nomear pode exonerar a qualquer momento, prescindindo de
motivação.
É importante deixar claro que a regra prevista pelo inciso I não se aplica no
caso em que o ocupante do cargo em comissão mantém vínculo efetivo com a
Administração Pública, prevalecendo, nesse caso, o prazo previsto pelo inciso II.
CAPÍTULO 7
PRESCRIÇÃO
de direito essas relações se assentam em dois pilares básicos: a segurança das relações
jurídicas (segurança jurídica) e a ideia de justiça.
aludido prazo; e
b) a necessidade de proteger os obrigados, especialmente os devedores, contra
as dificuldades de prova a que se exporiam caso o devedor pudesse exigir em data
muito distante do negócio a prestação que, acaso já até tivesse recebido; com efeito,
não é curial que as pessoas guardem indefinidamente os comprovantes dos
pagamentos feitos e, assim, até mesmo as obrigações adimplidas poderiam não ter
como ser comprovadas, se o interessado não fosse protegido pela prescrição.
Na esfera criminal a corrente doutrinária predominante é aquela que defende a
tese de que a prescrição é alicerçada em três pressupostos básicos: 1) a teoria do
esquecimento do fato pelo decurso do tempo; 2) a correção do infrator; e 3) a
negligência do Estado, como detentor exclusivo do poder de punir. A teoria do
esquecimento do fato é fundamentada na tese de que o decurso do tempo demonstra
a falta de interesse do Estado em apurar o ilícito e punir o infrator, sem perder de vista
que, qualquer que seja a reprimenda, a sua aplicação intempestiva resulta na perda de
eficácia, resultando daí a impertinência da sanção. A correção do infrator se assenta
na ideia de que o transcorrer do tempo sem a reiteração da prática delituosa faz
presumir a reintegração social do agente infrator, não restando, portanto, razões para
que o mesmo seja punido. Por fim, a negligência do Estado é caracterizada quando os
órgãos estatais responsáveis pela persecução penal não atuam com zelo e celeridade.
Esse dever de celeridade passou a receber respaldo constitucional com o advento da
Emenda Constitucional nº 45/2004, por meio da qual foi acrescido ao artigo 5º a
garantia de que “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a
razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua
tramitação.”
Sem discordar dos posicionamentos anteriores, entendemos que a extinção da
pretensão punitiva pela prescrição tem na segurança das relações jurídicas seu
principal alicerce, que não seria alcançada se o titular do direito atingido dispusesse
de tempo ilimitado para ter a sua pretensão satisfeita. Na seara punitiva, o infrator
jamais teria segurança se fosse atribuído ao titular do ius puniendi o livre arbítrio de
escolher quando impor a sanção, pouco importando a passagem do tempo. É com base
nesse fundamento que a lei estabelece para o Estado um limite temporal, impedindo
que o direito de punir se arraste, ao longo dos anos, ou para a eternidade.
esfera administrativa por uma conduta cuja punição na esfera criminal já tenha sido
atingida pela prescrição; ou na situação inversa, o servidor ser punido criminalmente
por infração cuja punibilidade já se encontra prescrita na esfera disciplinar.
Todavia, a lei foi omissa ao não disciplinar de forma pormenorizada o tema,
dando margem ao surgimento das mais variadas interpretações. A título meramente
exemplificativo, a lei não indica qual prescrição aplicada na esfera criminal
(prescrição da pretensão punitiva ou prescrição da pretensão executória) deve ser
utilizada nas infrações disciplinares também capituladas como crime. O iminente
professor José Armando da Costa aponta ainda a omissão da lei ao não estabelecer a
quem compete estabelecer esse juízo de similitude para fins de incidência da
prescrição penal, se instância disciplinar ou a criminal.
Acrescenta-se, ainda, que a lei não define a partir de qual estágio da
persecução penal os prazos de prescrição previstos na Lei nº 8.112/90 aplicam-se às
infrações disciplinares capituladas também como crime. Nesse ponto o Estatuto dos
Servidores do Governo do Distrito Federal, aprovado pela Lei Complementar nº
840/2013, foi mais preciso, ao estabelecer no parágrafo quinto do artigo 208 que “os
prazos de prescrição previstos na lei penal, havendo ação penal em curso, aplicam-
se às infrações disciplinares capituladas também como crime”. Ou seja, para a
aplicação da prescrição criminal às infrações administrativas basta tão somente a
constatação de que a denúncia oferecida pelo Ministério Público foi recebida pelo
Poder Judiciário.
Outro ponto digno de destaque é que, nem sempre, haverá uma perfeita
correlação entre uma infração disciplinar e o tipo penal correspondente. Vamos a um
exemplo: o crime de abandono de função (Art. 323 do Código Penal) fica configurado
quando o agente abandona o cargo, fora dos casos permitidos em lei; já o ilícito
correspondente na esfera administrativa (Art. 138 da Lei nº 8.112/90) fica configurado
quando o servidor abandona intencional o serviço, por mais de trinta dias
consecutivos.
Como se percebe, o abandono do cargo pelas normas disciplinares não
corresponde necessariamente ao abandono regido pelo Código Penal. Enquanto na
seara penal a conduta pode ficar tipificada com uma única falta ao serviço, desde que
esta aconteça fora dos casos previstos em lei, na esfera administrativa o ilícito
correspondente somente fica configurado quando o abandono perdurar por mais de
trinta dias, exigindo-se ainda a presença da intenção de abandonar o serviço. Isso nos
leva a inferir que, em certas circunstâncias, com a mesma conduta o servidor poderá
cometer uma infração penal no exercício do cargo sem necessariamente ter cometido
um ilícito administrativo.
Como enfatizado antes, a imperfeição da lei deu margem ao surgimento de
múltiplas interpretações. Na prática administrativa o entendimento predominante é de
que para a aplicação do disposto pelo parágrafo segundo do artigo 142 do Estatuto
136
dos Servidores Federais basta tão somente que a conduta do servidor também seja ou
tenha sido objeto de inquérito policial ou de ação penal, sendo insuficiente a mera
presença de indícios sem a devida apuração na esfera criminal.
Com a devida vênia, não corroboramos esse entendimento. Advogamos a tese
de que o disposto pelo § 2 do artigo 142 da Lei nº 8.112/90 (os prazos de prescrição
previstos na lei penal aplicam-se às infrações disciplinares capituladas também como
crime) deverá ser interpretado de forma que a prescrição na seara administrativa tenha
como paradigma a prescrição penal apenas quando houver, pelo menos, acolhimento
da denúncia pelo Poder Judiciário, não sendo suficiente a mera instauração do
inquérito policial. Este (o inquérito) é ato de natureza administrativa, conduzido pela
autoridade policial sem observância do contraditório e da ampla defesa, muitas vezes
sem que o investigado sequer tenha ciência do procedimento. Como é sabido, não são
raras as vezes em que o inquérito é rejeitado pelo Ministério Público, dada a
fragilidade dos elementos probatórios que fundamentaram a decisão pelo
indiciamento.
Outro obstáculo a ser enfrentado na aplicação da prescrição penal aos ilícitos
administrativos também capitulados como crime resulta da divergência que existe
entre a legislação disciplinar e criminal no que diz respeito ao termo inicial da
passagem do prazo prescricional. Segundo o disposto pelo parágrafo segundo do art.
142 da Lei nº 8.112/90, na esfera administrativa a contagem do prazo tem início com
o conhecimento do fato pela Administração; já pelas regras do art. 111 do Código
Penal a prescrição começa a correr, via de regra, na data em que o crime se consumou.
Essa divergência de tratamento acaba por viabilizar o surgimento de situações
em que a aplicação da prescrição penal nas infrações disciplinares é benéfica ao
infrator. Imagine a situação em que o servidor, valendo-se das prerrogativas do cargo
que exerce, solicita vantagem indevida em proveito próprio. Como sabemos, essa
conduta configura o ilícito funcional valimento do cargo (cuja pena prescreve em
cinco anos) e, concomitantemente o delito tipificado pelo art. 317 do Código Penal
(corrupção passiva), cuja pena em abstrato prescreve em dezesseis anos.
Supondo ainda que somente 16 anos após a consumação do ato as autoridades
judiciárias e administrativas tenham tomado ciência da infração. Pelas regras
disciplinares a prescrição da pretensão punitiva ainda não teria ocorrido, tendo em
vista que a marco inicial da contagem do tempo é o conhecimento do fato pela
Administração. Em sentido contrário, a pretensão punitiva na esfera criminal já teria
sido extinta, tendo em vista que o marco inicial da contagem do prazo é a consumação
do fato. Nessa situação hipotética apresentada, a utilização do disposto pelo art. 142
da Lei nº 8.112/90 implica necessariamente a extinção da pretensão punitiva para a
Administração, tendo em vista a prescrição da pretensão punitiva na esfera criminal.
No âmbito dos tribunais superiores a regência da prescrição disciplinar pelas
regras aplicadas ao direito penal ainda é controvertida, conforme se verifica nas
137
8.112/1990.
Não deve constar dos assentamentos individuais de servidor público federal a
informação de que houve a extinção da punibilidade de determinada infração
administrativa pela prescrição. O art. 170 da Lei 8.112/1990 dispõe que, "Extinta a
punibilidade pela prescrição, a autoridade julgadora determinará o registro do fato
nos assentamentos individuais do servidor". Entretanto, o STF declarou
incidentalmente a inconstitucionalidade do referido artigo no julgamento do MS
23.262-DF (Tribunal Pleno, DJe 29/10/2014). Nesse contexto, não se deve utilizar
norma legal declarada inconstitucional pelo STF (mesmo em controle difuso, mas
por meio de posição sufragada por sua composição Plenária) como fundamento
para anotação de atos desabonadores nos assentamentos funcionais individuais de
servidor, por se tratar de conduta que fere, em última análise, a própria CF. MS
21.598-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 10/6/2015, DJe 19/6/2015.
punitiva, ou seja, o direito de impor a pena e não a ação em si mesma. Por outro lado,
se a lei tivesse estabelecido um prazo para a Administração exercer o direito
(poder/dever) de apurar o ilícito funcional (o que não ocorreu), este deveria se
submeter à decadência, e não à prescrição.
Adotando-se essa linha de raciocínio, chega-se à conclusão de que os ilícitos
funcionais se submetem tanto à prescrição como à decadência. O prazo atribuído à
Administração para exercer o poder/dever de apuração é decadencial, por se relacionar
a uma ação constitutiva. Por outro lado, o prazo para a imposição da penalidade
correspondente é prescricional, por se relacionar a uma ação condenatória, onde o
exercício do direito de punir por parte da Administração contrapõe ao dever de
suportar a punição por parte do servidor punido.
SEGUNDA PARTE
DIREITO PROCESSUAL
DISCIPLINAR
143
CAPÍTULO 8
DIREITO PROCESSUAL DISCIPLINAR
observância às regras que regem o processo, contempla o devido processo legal sob a
perspectiva substancial, que traduz a exigência e garantia de que referidas regras
sejam razoáveis, adequadas, proporcionais e equilibradas.
Nesse contexto, a obediência do devido processo legal pressupõe
necessariamente as seguintes garantias: a) desenvolvimento do processo na forma da
lei; b) direito ao contraditório e à ampla defesa; c) direito de ser ouvido; d) direito de
ser informado de todos os atos processuais; e e) direito de ter acesso à defesa técnica.
Art. 5º, LIV, da CF — Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o
devido processo legal.
Art. 5º, LVII, da CF — Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado
de sentença penal condenatória.
Constituição Federal
Art. 5º, XLV, - Nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a
obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos
da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do
patrimônio transferido.
Constituição Federal
Art. 5º, LV, — Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados
em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os recursos a ela
inerentes.
Constituição Federal
Art. 5º, LXXVIII: a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a
razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua
tramitação.
primeira”.
A vedação da dupla punição pelo mesmo fato é princípio geral do direito,
aplicável a qualquer ramo da ciência jurídica, incluindo-se nesse rol o Direito
Administrativo Disciplinar.
É importante deixar claro que o princípio veda a múltipla punição da mesma
natureza pelo mesmo fato. Com efeito, não configura violação ao princípio em questão
a punição, pelo mesmo fato, nas esferas administrativa, cível e penal. Tal conclusão
decorre da possibilidade de uma mesma conduta praticada pelo servidor configurar,
concomitantemente, ilícito administrativo, cível e disciplinar. Foi prevendo tal
possibilidade que o legislador estabeleceu no art. 121 do Estatuto dos Servidores (Lei
nº 8.112/90) o preceito segundo o qual o servidor responde civil, penal e
administrativamente pelo exercício irregular de suas atribuições.
Acrescente-se, ainda, que a previsão da independência das instâncias consta de
outros textos normativos. Menciona-se, a título de exemplo, o art. 935 do Código
Civil, no qual ficou expresso que a responsabilidade civil é independente da criminal,
não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu
autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal. Em síntese, o
artigo diz que, nada obstante a decisão criminal vincular a esfera cível no tocante à
ocorrência do fato e à autoria, a responsabilidade civil é independente da criminal.
No mesmo sentido seguiu o Código de Processo Penal, em cujo art. 67 ficou
previsto que “não impedirão igualmente a propositura da ação civil: I - o despacho
de arquivamento do inquérito ou das peças de informação; II - a decisão que julgar
extinta a punibilidade; III - a sentença absolutória que decidir que o fato imputado
não constitui crime”. Em resumo, a propositura da correspondente ação civil
independe de qualquer decisão proferida na esfera criminal.
bens jurídicos mais importantes para o convívio social. Significa dizer que o direito
punitivo é de utilização residual e subsidiária, somente justificável nas hipóteses em
que os demais ramos do direito se demonstrarem ineficazes na solução do conflito.
A formulação desse princípio parte da premissa de que os demais ramos do
direito são capazes de dar uma resposta satisfatória aos conflitos de menor relevância,
sem a necessidade da intervenção do direito penal. Nesse contexto, sempre que o
Estado dispuser de meios menos lesivos para solucionar os conflitos surgidos no
convívio em sociedade deles deve se utilizar, evitando o emprego do direito punitivo.
Com base nesse princípio deve a Administração se abster de utilizar o direito punitivo,
com todo rigor que lhe é inerente, visando reprimir a prática de infrações de mínima
relevância, sempre que dispuser de outro instrumento capaz de cumprir
satisfatoriamente o mesmo objetivo.
CAPÍTULO 9
COMPETÊNCIA
CAPÍTULO 10
ATOS PROCESSUAIS
o apego a regras, fórmulas e ritos rígidos, de sorte que o ato será reputado válido
sempre que atingir a finalidade para a qual foi destinado. Em última análise, o que
importa para o processo é que o ato atinja o escopo almejado, ainda que não tenha
sido praticado rigorosamente com a observância de todos os requisitos formais
exigidos.
Os atos do processo devem ser produzidos por escrito, em vernáculo, com a
data e o local de sua realização e a assinatura da autoridade responsável. A lei exige a
forma escrita mesmo quando se tratar de ato que, pela sua própria natureza, são
produzidos oralmente. É o que ocorre, por exemplo, com o interrogatório do
investigado e os depoimentos das testemunhas. A esse respeito, a Lei nº 8.112/90 foi
peremptória ao preceituar que “o depoimento será prestado oralmente e reduzido a
termo, não sendo lícito à testemunha trazê-lo por escrito” (art. 158).
Nada obstante a previsão legal, com a implantação do sistema de
videoconferência (inclusive no âmbito do Poder Judiciário), a exigência de redução a
termo foi flexibilizada, admitindo-se a partir de então a coleta de interrogatório ou
depoimento gravados. Na seara criminal a flexibilização da forma escrita consta de
forma expressa no Código de Processo Penal, em cujo art. 475 ficou estabelecido que
“o registro dos depoimentos e do interrogatório será feito pelos meios ou recursos de
gravação magnética, eletrônica, estenotipia ou técnica similar, destinada a obter
maior fidelidade e celeridade na colheita da prova”.
Seguindo essa mesma toada o § 1º do art. 405 do mesmo diploma legal
estabeleceu que “sempre que possível, o registro dos depoimentos do investigado,
indiciado, ofendido e testemunhas será feito pelos meios ou recursos de gravação
magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinada a
obter maior fidelidade das informações”. Por sua vez o § 2º do mesmo artigo diz que
“no caso de registro por meio audiovisual, será encaminhado às partes cópia do
registro original, sem necessidade de transcrição” (grafamos). A inexigibilidade de
transcrição de depoimentos e interrogatórios encontra respaldo também nos princípios
da economia e celeridade processual. Aliás, não nos parece razoável a redução a termo
(transcrição) de um evento registrado em meio que reproduz com mais fidedignidade
o que de fato aconteceu na audiência, se comparado com a forma escrita.
Segundo o disposto pelo art. 24 da Lei nº 9.784/99, “inexistindo disposição
específica, os atos do órgão ou autoridade responsável pelo processo e dos
administrados que dele participem devem ser praticados no prazo de cinco dias, salvo
motivo de força maior”. Por sua vez, no parágrafo único do mesmo artigo ficou
estabelecido que “o prazo previsto neste artigo pode ser dilatado até o dobro,
mediante comprovada justificação”. A interpretação literal do dispositivo nos conduz
à seguinte conclusão: inexistindo disposição legal em contrário e na ausência de
motivo que justifique, as partes devem praticar o ato no prazo de cinco dias. Havendo
justificativa, o prazo pode ser aumentado por mais dez dias (dobro de cinco).
164
10.2 - PRECLUSÃO
Preclusão é a extinção da faculdade de se manifestar no processo, ou seja, de
praticar determinado ato processual. Este instituto de natureza processual é
classificado pelos processualistas em três espécies: temporal, lógica e consumativa.
Preclusão temporal: é a perda da possibilidade de se manifestar no processo
em razão da inércia da parte, que deixa de se manifestar no prazo estabelecido na lei.
Preclusão lógica: é a perda da possibilidade de se manifestar nos autos em
razão da prática de um ato incompatível com o que pretendia praticar.
Preclusão consumativa: decorre da prática do ato, o que resulta na
impossibilidade de praticá-lo novamente.
Tendo em vista que o processo administrativo disciplinar é pautado pelo
princípio da verdade material, via de regra os prazos não se submetem à preclusão
temporal, não acarretando nenhum prejuízo à parte que o praticar fora do prazo
estabelecido pela lei. Por exemplo: não acarreta nulidade a juntada de provas fora do
prazo estabelecido pela comissão. O mesmo ocorre no caso de descumprimento do
prazo de dez dias para apresentação da defesa escrita e do prazo para julgamento pela
autoridade competente. Por outro lado, é preclusivo o prazo para a interposição de
recurso hierárquico, cujo descumprimento acarreta o seu não conhecimento (Art. 63,
I, da Lei nº 9.784/99).
O mesmo não se pode afirmar em relação à preclusão lógica e consumativa.
Não pode, por exemplo, o investigado indicar o rol das testemunhas a serem ouvidas
e depois requerer novo prazo para arrolar as mesmas testemunhas (preclusão
consumativa). Não é possível, também, suscitar impedimento ou suspeição de
determinada testemunha e, em momento posterior, requerer que a mesma seja ouvida
(preclusão lógica).
10.3 – NULIDADES
Nulidade é a consequência lógica advinda da prática de determinado ato
processual em desconformidade com as regras estabelecidas em lei. A depender do
interesse jurídico afetado pela infringência da lei processual, a nulidade pode ser
classificada em absoluta e relativa. A depender do grau de nulidade o ato pode ser
considerado nulo, meramente irregular ou anulável.
Nulidade absoluta – por serem resultantes do desrespeito de normas que
tutelam interesse público, deve ser declarada de ofício ou a requerimento de qualquer
uma das partes. É o que ocorre, por exemplo, com os atos praticados no processo
administrativo disciplinar de cuja comissão participa servidor que ainda não adquiriu
a estabilidade, contrariando o disposto pelo art. 149 da Lei nº 8.112/90. Nessa situação
hipotética, todos os atos do processo deverão ser considerados nulos, insuscetível de
produzir os efeitos jurídicos esperados.
Nulidade relativa – também resulta da prática de ato processual em
165
CAPÍTULO 11
PROVAS
11.1 - INTRODUÇÃO
O termo “prova” vem do latim “probatio”, que significa demonstrar ou
confirmar. No direito processual o termo prova pode ser utilizado em duas acepções
distintas: no sentido objetivo e no sentido subjetivo. No sentido objetivo prova é o
instrumento ou meio utilizado pela parte interessada para demonstrar a existência de
um fato, tais como documentos, testemunhas, perícia etc. Já no sentido subjetivo
prova é a certeza ou convicção acerca de um fato, gerada na mente do julgador a partir
da prova no sentido objetivo. Nesse tópico o que nos interessa é a prova no sentido
objetivo.
A legislação processual brasileira não traz o conceito de prova, nem tampouco
estabelece um rol taxativo dos meios que poderão ser utilizados pelas partes para
167
os fatos. Essa liberdade na produção de provas pode ser extraída da leitura conjugada
dos artigos 150 e 155 Lei nº 8.112/90. O primeiro diz que a comissão exercerá suas
atividades com independência e imparcialidade, assegurado o sigilo necessário à
elucidação do fato ou exigido pelo interesse da administração. O segundo, por sua
vez, preceitua que na fase do inquérito, a comissão promoverá a tomada de
depoimentos, acareações, investigações e diligências cabíveis, objetivando a coleta de
prova, recorrendo, quando necessário, a técnicos e peritos, de modo a permitir a
completa elucidação dos fatos.
Infere-se do texto legal acima reproduzido que a comissão é livre na escolha
dos meios que serão utilizados para chegar à verdade dos fatos, denegando qualquer
pedido considerado impertinente (que não tenha nenhuma relação com os fatos),
protelatórios ou de nenhum interesse para o esclarecimento dos fatos.
julgador valora a prova de acordo com a sua convicção pessoal, não havendo
necessidade de motivação da sua decisão. Este sistema foi adotado pelo nosso Código
de Processo Penal apenas nos casos submetidos ao tribunal do júri, onde o cordo de
jurados não necessita motivar seu voto.
Prova legal ou prova tarifada: nesse sistema o julgador se vincula aos valores
preestabelecidos para cada prova produzida no processo, fazendo com que o mesmo
fique adstrito ao critério fixado pelo legislador. Nesse sistema inexiste margem de
liberdade do julgador para a apreciação de cada prova produzida.
Persuasão racional: também denominado de método misto ou do livre
convencimento motivado, é o sistema adotado com predominância no sistema
processual brasileiro. Por este método o julgador dispõe de toda liberdade para decidir
a causa de acordo com seu livre convencimento. Essa liberdade de convicção, no
entanto, há de ser exercida de forma motivada (princípio da motivação ou da
fundamentação), de sorte que quem julga fica vinculado às provas e aos demais
elementos existentes nos autos.
Pelo que se infere da leitura do art. 165 da Lei nº 8.112/90, no processo
administrativo disciplinar o sistema de valoração da prova adotado é o da persuasão
racional, devendo a comissão formar sua convicção a partir da livre avaliação dos
elementos probatórios carreados aos autos. A exigência de motivação também vale
para a autoridade julgadora quanto à possibilidade de agravar a penalidade proposta,
abrandá-la ou isentar o servidor de responsabilidade.
Lei nº 8.112/90
Art. 165. Apreciada a defesa, a comissão elaborará relatório minucioso, onde
resumirá as peças principais dos autos e mencionará as provas em que se baseou
para formar a sua convicção.
Parágrafo único. Quando o relatório da comissão contrariar as provas dos autos, a
autoridade julgadora poderá, motivadamente, agravar a penalidade proposta,
abrandá-la ou isentar o servidor de responsabilidade.
juntada.
A doutrina costuma apontar um rol de requisitos para a admissão da prova
emprestada. Entre os mais citados se destacam os seguintes: a) que a prova tenha sido
produzida com observância do contraditório, ampla defesa e devido processo legal; b)
que a parte contra quem a prova for utilizada tenha participado da sua produção no
processo originário; e c) que em ambos os processos figurem as mesmas partes.
Não nos filiamos à corrente doutrinária que defende a exigibilidade do
cumprimento de tais requisitos. Ora, a “prova” denominada emprestada é juntada ao
novo processo como mero documento, exigindo-se a sua submissão ao contraditório
para ser considerada verdadeiramente uma prova. É o que ocorre, por exemplo, no
caso de compartilhamento de dados de inquérito policial. Como se sabe, nesse tipo de
procedimento, via de regra, as investigações não se submetem ao contraditório. A
validade da prova produzida nos autos de origem (inquérito policial) fica
condicionada à submissão da mesma ao contraditório no processo de destino.
Esse mesmo exemplo hipotético serve para refutar a exigibilidade de que as
partes também devem ser as mesmas. Como sabemos, no inquérito policial inexiste a
figura da parte, até mesmo porque ali se investiga fatos, e não pessoas. Sendo assim,
em que pese isso possa acontecer, a identidade de partes não constitui requisito de
validade da prova emprestada.
Excepcionalmente, quando a prova emprestada envolver dados protegidos por
sigilo, tais como interceptação telefônica e dados bancários, o compartilhamento deve
ser precedido de autorização judicial.
prova ilícita. A inadmissibilidade desse tipo de prova tem respaldo jurídico no Código
de Processo Penal, cuja redação do art. 157 e seus parágrafos diz o seguinte:
Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as
provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas
constitucionais ou legais.
§ 1º São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo
quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou
quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das
primeiras.
§ 2º Considera -se fonte independente aquela que por si só, seguindo os
trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução
criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova.
§ 3º Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada
inadmissível, esta será inutilizada por decisão judicial, facultado às partes
acompanhar o incidente.
Prova ilícita é a denominação empregada pela doutrina para designar a prova
obtida por meio de violação de norma (legal ou constitucional) de direito material.
Conclui-se, portanto, que essa denominação é utilizada para identificar toda prova
obtida com a violação de direito que independe da existência do processo. Menciona-
se, a título de exemplo, a prova obtida a partir de extrato de conta bancária obtido
mediante a violação do sigilo bancário.
Prova ilegítima é a denominação atribuída à prova obtida ou carreada aos
autos com violação de norma de natureza processual. Este tipo de prova pode até ser
lícita por ter sido obtida em conformidade com as regras de natureza material; mas é
ilegítima por violar preceito de natureza processual. É o que ocorre, por exemplo, com
a prova relativa ao fato de que a parte contrária não tenha sido cientificada com a
antecedência necessária; ou sobre a qual a parte interessada não teve a oportunidade
de se manifestar.
§ 1o São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não
evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas
puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras.
§ 2o Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites
típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de
conduzir ao fato objeto da prova.
§ 3o Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inadmissível, esta
será inutilizada por decisão judicial, facultado às partes acompanhar o incidente.
§ 4o (VETADO)
§ 5º O juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada inadmissível não poderá
proferir a sentença ou acórdão.
processo. Essa vedação se deve ao fato de que pessoas nessas situações não se
encontram totalmente livres para narrar os fatos dos quais tenham tomado
conhecimento. É inerente à condição humana o receio de desagradar as pessoas com
as quais convivemos. Não podemos perder de vista que fazer afirmação falsa, negar
ou calar a verdade na condição de testemunha em processo judicial ou administrativo
configura o crime de falso testemunho ou falsa perícia (art. 342 CP), cuja pena é de
reclusão de um a três anos, sem prejuízo de multa.
Sob o mesmo fundamento, a parte acusada também poderá impugnar a
testemunha arrolada pela Administração, desde que apresente justificativa aceitável,
como são exemplos a prévia emissão de valor sobre o fato objeto da apuração e a
presença de interesses conflitantes.
A legislação que regula o processo administrativo no âmbito da União (Lei nº
8.112/90 e Lei nº 9.784/99) não indica o limite máximo de testemunhas que podem
ser admitidas no processo investigativo de natureza disciplinar. A lacuna é suprida
pelo Código de Processo Civil, em cujo art. 357, § 6º, deixou expresso que “o número
de testemunhas arroladas não pode ser superior a 10 (dez), sendo 3 (três), no máximo,
para a prova de cada fato”. Como no processo administrativo não existe a figura da
parte, como ocorre na esfera cível, entende-se que poderão ser admitidas no máximo
três testemunhas para cada fato, pouco importando se arrolada pela Administração ou
pela defesa do investigado. Aliás, no processo administrativo disciplinar não existe a
figura da testemunha de defesa e de acusação como ocorre no processo penal. Todas
as testemunhas pertencem ao do processo, pouco importando quem tenha requerido o
seu depoimento.
11.7.2 - ACAREAÇÃO
É o ato processual que consiste em confrontar dois depoentes que prestaram
informações divergentes e consideradas relevantes para se chegar à verdade dos fatos.
175
Nesse ato as duas pessoas devem ser colocadas frente a frente e inquiridas sobre as
divergências verificadas entre os dois depoimentos a respeito dos fatos.
Diferentemente do que ocorre no processo penal, onde a acareação é admitida
entre acusados, entre acusado e testemunha, entre testemunhas, entre acusado ou
testemunha e a pessoa ofendida, e entre as pessoas ofendidas (art. 229 CPP), a Lei nº
8.112/90 previu apenas a acareação entre testemunhas. Em nossa visão, a decisão do
legislador foi salutar, pois inexiste nos procedimentos disciplinares as figuras da
acusação e ofendido, e sim mera suspeita da ocorrência de infração funcional a ser
apurada.
Também nos parece desarrazoado admitir a acareação entre investigados,
tendo em vista a garantia constitucional contra a autoincriminação, tornando o
resultado do procedimento de pouca ou nenhuma utilidade prática. Se ambos estão
acobertados pelo privilégio contra a autoincriminação, sendo lhes facultar permanecer
em silêncio diante de uma pergunta que possa comprometer a sua tese de defesa, não
vislumbramos nenhuma possibilidade de a acareação entre investigados produzir
efeito prático.
A acareação funciona como meio de prova e, nessa qualidade, pode ser
requerida pelo investigado ou realizada de ofício pela Administração, sempre que se
deparar diante de contradições entre os depoimentos de duas ou mais testemunhas.
Nesse procedimento deve a comissão explorar ponto a ponto as contradições
existentes.
Código Penal
Art. 342. - Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha,
perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo,
inquérito policial, ou em juízo arbitral:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
11.8 – CONFISSÃO
É a admissão por parte do investigado da veracidade da imputação que lhe foi
feita. No processo administrativo disciplinar é o reconhecimento da responsabilidade
por parte do servidor sobre o qual recai a suspeita da prática de ato infracional. Por se
tratar de ato personalíssimo, não se admite a confissão feita por procurador ou
representante legal. Para ser válida deve ser feita pelo próprio servidor investigado,
sem nenhuma interferência de terceiro.
Assim como qualquer outra prova admitida no processo administrativo
disciplinar, a confissão tem valor relativo. Diante da lacuna deixada pelos normativos
que tratam do assunto, aplica-se o disposto pelo art. 197 do Código de Processo Penal,
segundo o qual o valor da confissão se aferirá pelos critérios adotados para os outros
elementos de provas. Nessa linha de raciocínio, é a partir do exame das circunstâncias
em que a confissão ocorreu, em conjunto com os demais elementos de provas, que a
Administração concluirá sobre a veracidade da confissão feita pelo servidor
investigado.
É oportuno acrescentar ainda que a confissão é divisível e retratável, segundo
estabelece o art. 200 do Código de Processo Penal. A possibilidade de divisão decorre
da possibilidade de a Administração reputar verdadeira apenas parte do que foi
confessado. Por exemplo, pode o investigado admitir a prática da foto ilícito, mas
alega em sua defesa o desconhecimento da ilicitude do ato. Por seu turno, a
retratabilidade consiste na possibilidade de o confitente apresentar nova versão
negando aquilo que inicialmente tinha admitido.
177
11.11 - DENÚNCIA
É o ato pelo qual uma pessoa leva ao conhecimento da autoridade competente
notícia de irregularidade ocorrida no âmbito da Administração Pública, praticada por
agente público. Assim como na representação, exige-se que a denúncia preencha
certos requisitos para ser admitida como instrumento apto a dar início a processo
investigativo de natureza disciplinar. Nada obstante a redação do art. 144 da Lei nº
8.112/90 exigir como requisito de admissibilidade da denúncia apenas a identificação
e o endereço do denunciante e que a mesma seja formulada por escrito, confirmada a
autenticidade, é incontroverso que a mesma deva trazer os elementos mínimos que
possibilitem a identificação da autoria e materialidade. Não nos parece razoável a
Administração determinar a instauração de processo disciplinar com base
exclusivamente em opiniões midiáticas.
178
Lei nº 8.112/90
Art. 144. - As denúncias sobre irregularidades serão objeto de apuração, desde que
contenham a identificação e o endereço do denunciante e sejam formuladas por
escrito, confirmada a autenticidade (Art. 144 da Lei nº 8.112/90).
Código Penal
Art. 339 - Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial,
instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade
administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.
11.12 – REPRESENTAÇÃO
Representação é o instrumento utilizado para levar ao conhecimento da
autoridade administrativa competente irregularidade praticada por qualquer agente
180
público. Para o servidor público constitui um dever, conforme previsto pelos incisos
VI e XII do art. 116 da Lei nº 8.112/90, cujo descumprimento enseja a imposição de
penalidade disciplinar. Já para o particular é uma prerrogativa e não um dever,
conforme se extrai do art. 14 da Lei nº 8.429/92 (Lei de improbidade administrativa).
O texto do artigo lei diz que qualquer pessoa poderá representar à autoridade
administrativa, indicando não se tratar de uma obrigação, e sim de uma faculdade.
Uma vez recebida a representação, a mesma deve ser submetida a um prévio
juízo de admissibilidade, que é o exame por meio do qual a autoridade competente
decide, de forma fundamentada, pelo arquivamento ou instauração de procedimento
disciplinar. Para ser válida a representação deverá ser elaborada na forma escrita e
conter os elementos mínimos que indiquem a materialidade e autoria do fato ilícito.
Em hipótese alguma pode ser admitida representação na forma verbal.
É pertinente alertar que a representação desprovida de elementos mínimos de
prova poderá repercutir na esfera criminal, caso seja comprovada má-fé do
representante. Nesse caso, o agente denunciante poderá responder pelo crime de
denunciação caluniosa (Art. 339 do CP) ou por um dos crimes contra a honra (Artigos
138 a 140 do Código Penal) - calúnia, difamação ou injúria, sem prejuízo da obrigação
de indenizar o denunciado pelos danos materiais, morais ou à imagem que houver
provocado.
Lei nº 8.112/90
Art. 116. São deveres do servidor:
[...]
XII - representar contra ilegalidade, omissão ou abuso de poder.
Parágrafo único. A representação de que trata o inciso XII será encaminhada pela
via hierárquica e apreciada pela autoridade superior àquela contra a qual é
formulada, assegurando-se ao representando ampla defesa.
Lei nº 8.429/92
Art. 14 - Qualquer pessoa poderá representar à autoridade administrativa
competente para que seja instaurada investigação destinada a apurar a prática de
ato de improbidade.
Art. 19 - Art. 19. Constitui crime a representação por ato de improbidade contra
agente público ou terceiro beneficiário, quando o autor da denúncia o sabe inocente.
Pena: detenção de seis a dez meses e multa.
CAPÍTULO 12
IMPEDIMENTO E SUSPEIÇÃO
12.1 – INTRODUÇÃO
Impedimento e suspeição são situações jurídicas (de natureza objetiva e
subjetiva respectivamente) que impedem certas pessoas de atuarem no processo. No
impedimento há presunção absoluta (juris et de jure) de parcialidade do agente,
enquanto na suspeição há apenas presunção relativa (juris tantum).
184
12.2 - IMPEDIMENTO
Como dito antes, trata-se de elemento de natureza objetiva, ou seja, que se
relaciona à condição especial da pessoa, gerando uma presunção absoluta de
parcialidade. No processo administrativo federal, a Lei nº 9.784/99 estabelece no art.
18 que “é impedido de atuar em processo administrativo o servidor ou autoridade
que: I – tenha interesse direto ou indireto na matéria; II – tenha participado ou venha
a participar como perito, testemunha ou representante, ou se tais situações ocorrem
quanto ao cônjuge, companheiro ou parente e afins até o terceiro grau; e III – esteja
litigando judicial ou administrativamente com o interessado ou respectivo cônjuge ou
companheiro”.
Como se percebe, trata-se de situações em que a lei cria uma presunção
absoluta de parcialidade do agente público, impossibilitando-o de participar do
processo investigativo, sob pena de nulidade. Em nosso modo de pensar, o rol
enumerado pelo artigo 18 da Lei 9.784/99 não é taxativo. Outras situações verificadas
no dia a dia impedem a participação do agente no processo administrativo
investigativo punitivo. A título meramente exemplificativo, cita-se a situação em que
o agente já tenha emitido juízo de valor sobre a ilicitude da conduta que motivou a
instauração do processo administrativo disciplinar. Nessa linha de raciocínio, é
impedido de participar do processo disciplinar punitivo o auditor que elabora o
relatório de auditoria que recomenda a instauração da apuração, bem como o agente
que emitiu o parecer de admissibilidade da apuração.
Por imperativo legal, o agente público que incorrer em impedimento tem o
dever de comunicar o fato à autoridade competente, abstendo-se de atuar no processo.
A omissão constitui falta grave, passível de punição disciplinar.
Lei nº 9.784/99
185
12.3 – SUSPEIÇÃO
Trata-se de elemento de natureza subjetiva e se relaciona à própria pessoa do
agente, gerando uma presunção relativa de incompatibilidade para participar de atos
inerentes à apuração. Ao contrário do que ocorre nos casos de impedimento, o agente
público suspeito não tem obrigação legal de comunicar essa condição à autoridade
competente. Cabe à parte interessada suscitá-la na primeira oportunidade que tiver de
se manifestar nos autos, sob pena de preclusão. Como forma de obediência ao
princípio da lealdade processual, não pode o investigado tomar conhecimento da
circunstância que faz presumir a suspeição do agente e deixar para alegar o vício
apenas na fase de defesa.
A Lei nº 8.112/90 não dispensou o devido tratamento ao instituto da suspeição,
sendo tal falha suprida pela Lei nº 9.784/99, em cujo artigo 20 ficou expresso: “Pode
ser arguida a suspeição de autoridade ou servidor que tenha amizade íntima ou
inimizade notória com algum dos interessados ou com os respectivos cônjuges,
companheiros, parentes e afins até o terceiro grau”. Por expressa previsão legal, o
186
CAPÍTULO 13
INCIDENTES PROCESSUAIS
acessória e controvertida que surge no curso da demanda principal e que deve ser
julgada antes da decisão do mérito da causa principal. O Novo Código de Processo
Civil autoriza a utilização de diversos incidentes processuais, como são exemplos a
impugnação ao valor da causa, a arguição de incompetência, e arguição de suspeição
do magistrado, entre outras.
Na esfera criminal os incidentes processuais foram classificados em duas
categorias: questões prejudiciais e processos incidentes. Questão prejudicial
representa uma controvérsia autônoma em relação à lide, surgida no curso do processo
de cuja solução o processo principal é dependente. Exemplo: confirmação da
existência de matrimônio anterior no crime de bigamia, por constituir (o casamento
anterior) elemento essencial para a configuração do delito.
Por sua vez, os processos incidentes são questões controvertidas relacionadas
à lide principal, que surgem no curso do processo e que devem ser solucionadas pelo
juiz antes da decisão da causa principal. São exemplos de processo incidentes: conflito
de jurisdição, restituição de coisa apreendida, medidas assecuratórias, exceção de
impedimento, exceção de suspeição, exceção de litispendência, exceção de coisa
julgada, incidente de falsidade, incidente de sanidade mental, entre outras.
De imediato podemos constatar que alguns dos incidentes processuais
utilizados nesses dois ramos do direito (civil e penal) foram previstos de forma
expressa na legislação que trata de processo administrativo disciplinar, como é o caso
do incidente de insanidade mental previsto pelo art. 160 da Lei nº 8.112/90 e as
exceções de impedimentos e suspeição de que trata os artigos 18 e 20 da Lei nº
9.784/99, respectivamente. Outros, nada obstante a falta de previsão legal, são
compatíveis com os procedimentos disciplinares.
Nos tópicos seguintes abordaremos os principais incidentes aplicáveis ao
processo administrativo disciplinar.
CAPÍTULO 14
PROCEDIMENTOS INVESTIGATIVOS NÃO
PUNITIVOS
CAPÍTULO 15
PROCEDIMENTOS PUNITIVOS
15.2.1 – INSTAURAÇÃO
É o ato pelo qual a autoridade competente deflagra o procedimento disciplinar,
mediante a publicação da portaria de designação da comissão processante e indicação
do escopo da apuração. Trata-se de ato vinculado, não dispondo a autoridade
administrativa de margem de discricionariedade sobre a decisão de instaurar ou não o
procedimento. É o que se infere da redação do art. 143 da Lei nº 8.112/90, segundo o
qual a autoridade que tiver ciência de irregularidade no serviço público é obrigada a
promover a sua apuração imediata, mediante sindicância ou processo administrativo
disciplinar, assegurada ao acusado ampla defesa. A propósito, a autoridade que tiver
ciência de irregularidade no serviço público e não promover a imediata instauração de
procedimento disciplinar poderá ser processada criminalmente pela prática do crime
previsto pelo art. 320 do Código Penal (Condescendência criminosa), cuja ação
nuclear é deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que
cometeu infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o
fato ao conhecimento da autoridade competente.
Como dito antes, o ato de instauração é deflagrado com a publicação da
portaria de nomeação da comissão processante. No tocante ao teor desse documento,
a renomada administrativista Maria Sylvia Zanella di Prietro tece as seguintes
considerações: (Direito Administrativo, 32ª Edição, pg. 814)
“A portaria bem elaborada é essencial à legalidade do processo, pois
equivale à denúncia do processo penal e, se não contiver dados suficientes,
poderá prejudicar a defesa; é indispensável que ela contenha todos os
elementos que permitam aos servidores conhecer os ilícitos de que são
acusados.”
Concordamos que a portaria bem elaborada é essencial à legalidade do
processo, todavia discordamos do posicionamento da autora no que diz respeito ao
seu conteúdo e finalidade. A portaria instauradora constitui o instrumento de que
dispõe a autoridade competente para delegar poderes para a comissão praticar os atos
processuais relacionados às investigações. Por intermédio da portaria a autoridade
competente não aponta culpado nem tampouco formula acusação como sugere a
autora. A mesma (portaria) deverá conter tão somente a identificação do trio
processante, o objeto a ser apurado e o prazo para conclusão dos trabalhos. Com a
devida vênia, ao contrário do que sugere a autora, recomenda-se que deve ser evitada
a inclusão de qualquer informação que possa levar à identificação do investigado, bem
como de qualquer elemento que possa ser interpretado como julgamento antecipado
ou que ponha em dúvida a imparcialidade da autoridade instauradora.
202
não no serviço público); e c) o presidente deverá ser ocupante de cargo mais elevado
do que o ocupado pelo investigado; ou ter escolaridade igual ou superior ao do mesmo.
A inobservância de qualquer desses requisitos é causa de nulidade insusceptível de
convalidação.
Como se percebe, a exigência relacionada ao nível do cargo e ao grau de
escolaridade é alternativa e direcionada apenas ao presidente da comissão. Assim,
nada impede que um servidor ocupante de cargo de nível médio possa presidir
processo administrativo disciplinar no qual figura como investigado um ocupante de
nível superior, bastando que tenha escolaridade igual ou superior ao do investigado.
A propósito, o grau de escolaridade é o requisito que mais suscita discussão
entre aqueles que militam na seara do direito administrativo disciplinar, tendo em vista
que a lei não define o que vem a ser nível de escolaridade. Diante da omissão legal,
convencionou-se utilizar a subdivisão trazida pelo art. 21 da Lei nº 9.394/96 (Lei que
estabelece as diretrizes e bases da educação nacional), segundo o qual são apenas dois
os níveis (graus) de escolaridade: 1) educação básica, formada pela educação infantil,
ensino fundamental e ensino médio; e 2) educação superior. Com base nesse critério,
possuem o mesmo grau superior tanto o bacharel em direito como aquele que, além
da graduação, possui título acadêmico de mestrado ou doutorado.
A exigência do requisito “estabilidade” tem como objetivo evitar a indicação
de servidor que ainda se encontra no cumprimento do estágio probatório e que, pelo
menos em tese, se encontra em situação de vulnerabilidade quanto a possíveis
pressões de superiores, comprometendo dessa forma a sua imparcialidade. Dito em
outras palavras, o servidor que ainda não adquiriu a estabilidade poderá ser mais
facilmente influenciável do que aquele que não depende mais de avaliações subjetivas
da chefia para continuar no cargo.
A intenção do legislador ao exigir a estabilidade do membro da comissão foi
prevenir contra eventuais interferências de superiores sobre o servidor,
comprometendo a sua imparcialidade. Partindo-se dessa premissa, entendemos que a
estabilidade exigida pela lei deve ser no cargo, e não no serviço público. Vamos
utilizar um exemplo para facilitar a compreensão: o servidor “A”, após adquirir a
estabilidade no cargo de agente administrativo em determinado ministério é aprovado
e nomeado para o cargo de Auditor Fiscal da Receita Federal do Brasil. Em que pese
este servidor já tenha adquirido a estabilidade no serviço público, terá que cumprir
novo prazo de estágio probatório para adquirir a estabilidade no novo cargo. Dito em
outras palavras, o servidor é estável no serviço público, mas ainda terá que cumprir o
estágio probatório para adquirir a estabilidade no cargo recém-empossado. Nessa
situação hipotética, a estabilidade para fins de composição de comissão de processo
administrativo disciplinar somente será adquirida quando este servidor cumprir os três
anos de estágio probatório no cargo de Auditor.
Esse raciocínio nos parece lógico, pois a intenção do legislador foi prevenir
205
a verdade real, com prazo excessivamente exíguo para conclusão. Ademais disso, não
haveria sentido estabelecer um prazo prescricional de cinco anos (após a interrupção
prescricional pela instauração do procedimento) e, concomitantemente, fixar o prazo
máximo de 120 dias (prazo inicial mais uma prorrogação) para a conclusão das
investigações.
Lei nº 8.112/90
Art. 172. O servidor que responder a processo disciplinar só poderá ser exonerado
a pedido, ou aposentado voluntariamente, após a conclusão do processo e o
cumprimento da penalidade, acaso aplicada.
minuciosa descrição dos fatos imputados, sendo certo que, tão somente, na fase
seguinte o termo de indiciamento que se faz necessário especificar detalhadamente
a descrição e a apuração dos fatos. Com maior razão, portanto, não implica em
nulidade a ausência de descrição dos elementos relativos à culpa ou ao dolo quando
da prática da conduta infracional.
pelo investigado, é razoável admitir que o mesmo possa, de alguma forma, se valer
das prerrogativas inerentes ao cargo para interferir na apuração.
Competência para decretar o afastamento: nada obstante a competência
para determinar o afastamento preventivo seja da autoridade instauradora, o juízo de
admissibilidade da medida deverá ser feito em comum acordo com os membros da
comissão, até mesmo porque são estes os primeiros a perceber a prática de eventual
conduta, por parte do investigado, passível de interferir na condução da apuração. Ao
nosso modo de pensar, uma medida dessa natureza, se adotada unilateralmente pela
autoridade instauradora, inevitavelmente repercutirá de forma negativa, revelando de
certa forma desprestígio do colegiado.
A lei não faz nenhuma restrição quanto ao momento do afastamento, o que nos
leva a concluir que a medida pode ser adotada em qualquer fase do processo, ou até
antes da sua instauração. Por razões que nos parecem óbvias, não há razoabilidade em
determinar o afastamento após a elaboração do relatório final, ainda que ocorra antes
do julgamento.
Duração do afastamento: como dito antes, a lei autoriza o afastamento por
sessenta dias, admitindo-se uma única prorrogação por igual período. Como o objetivo
do afastamento é evitar que o servidor investigado interfira na apuração, não vejo
razões plausíveis para a lei impedir a prorrogação do afastamento por quantas vezes
forem necessárias à conclusão das investigações, principalmente quando se constata
que um processo administrativo disciplinar pode se arrastar por vários anos. Na esfera
judicial é comum o magistrado determinar o afastamento do servidor até a conclusão
das investigações, o que nos parece mais coerente com a finalidade do ato.
15.2.12 - INTIMAÇÃO
Intimação é o ato pelo qual a comissão comunica ao investigado (ou ao seu
representante legal) a prática dos atos processuais. Constitui direito subjetivo do
investigado ser intimado de todos os atos que possam, ainda que indiretamente,
contribuir para a formação da convicção do colegiado, tais como oitiva de testemunha,
realização de perícia, juntada de documentos nos autos, e assim sucessivamente.
É pertinente deixar claro que não há necessidade de intimação na situação em
que o ato for desprovido de conteúdo decisório apto a causar prejuízo ao investigado,
como é o caso do pedido de prorrogação de prazo para a conclusão do processo e da
substituição de um dos membros do colegiado. Como o objetivo da intimação é
facultar ao investigado acompanhar ou se manifestar sobre o ato a ser praticado, a
mesma é dispensada no caso de ato que desprovido de potencial capacidade de
interferir no resultado das investigações.
Por imposição legal, as intimações deverão ser feitas com no mínimo três dias
de antecedência da realização do ato. A exigência nos parece salutar, pois assim sendo
o investigado disporá de tempo suficiente para se preparar, elaborar eventuais
214
15.2.14.1 – SUBSTABELECIMENTO
É o ato pelo qual o mandatário transfere a terceiro os poderes que lhes foram
conferidos pelo mandante. O substabelecimento pode ser feito por instrumento
particular, ainda que o mandato tenha sido feito por instrumento público. Pode ser sem
ou com reserva de poderes. No primeiro caso (sem reserva de poderes) o
substabelecente transfere todos os poderes ao substabelecido de forma definitiva,
renunciando ao mandato que lhe foi outorgado. No segundo caso (com reserva de
poderes) o substabelecente permanece com plenos poderes, de sorte que ambos podem
praticar os atos definidos no instrumento de mandato.
aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a causa ou
importarem na repetição de outa já respondida”. Esse mesmo procedimento é adotado
pelo Novo Código de Processo Civil, cuja redação do seu art. 459 reproduz quase
literalmente a redação do art. 212 do Código de Processo Penal.
15.2.16 - CONTRADITA
A expressão “contradita” é utilizada na seara do direito processual como
sinônimo de contestação, impugnação ou contradição. Trata-se da faculdade
legalmente conferida às partes de impugnar a oitiva de determinadas testemunhas
diante de circunstâncias ou situações que as tornem suspeitas, imparciais ou indignas
de fé. A contradita pode ser utilizada ainda como incidente processual mediante a
interposição do recurso cabível, ou seja, antes da data da audiência, assim que a parte
tomar ciência da qualificação da pessoa que vai depor. Na prática é mais comum a
arguição de ilegitimidade da testemunha ser feita na própria audiência, no decorrer da
fase de qualificação.
O ônus de provar a presença das circunstâncias que ensejam o impedimento ou
suspeição da testemunha é da parte que alega, de sorte que a comissão processante
deve, mediante decisão devidamente fundamentada, seguir com a tomada de
depoimento sempre que julgar improcedentes as justificativas apresentadas para
demonstrar o impedimento ou suspeição da testemunha.
suspeição.
Corrobora a tese de legalidade do uso da carta precatória o fato de a própria
Lei nº 8.112/90, diante de certas circunstâncias, autorizar a prática de atos no processo
disciplinar por pessoa estranha à comissão. Menciona-se, a título de exemplo, a
participação de assistente técnico e perito (art. 155) e o exame de sanidade mental
realizado por médicos (art. 160).
Lei nº 8.112/90
Art. 155. Na fase do inquérito, a comissão promoverá a tomada de depoimentos,
acareações, investigações e diligências cabíveis, objetivando a coleta de prova,
recorrendo, quando necessário, a técnicos e peritos, de modo a permitir a completa
elucidação dos fatos.
Art. 160. Quando houver dúvida sobre a sanidade mental do acusado, a comissão
proporá à autoridade competente que ele seja submetido a exame por junta médica
oficial, da qual participe pelo menos um médico psiquiatra.
15.2.18 – INTERROGATÓRIO
É o ato processual mediante o qual a comissão concede ao investigado a
oportunidade de apresentar sua versão sobre os fatos objeto da investigação. Não há
unanimidade entre os operadores do direito quanto à natureza jurídica do
interrogatório, uns o consideram como meio de defesa, outros como meio de prova e
finalmente aqueles que defendem a tese de que o instituto desempenha as duas funções
– meio de defesa e de prova.
A Lei nº 8.112/90 estabelece no art. 159 que “concluída a inquirição das
testemunhas, a comissão promoverá o interrogatório do acusado [...]”. A
interpretação literal do dispositivo legal pode levar o leitor menos atento ao
entendimento equivocado de que o interrogatório deverá ocorrer necessariamente logo
após a oitiva das testemunhas. Na medida do possível, deve ser o último ato a ser
praticado antes do indiciamento, possibilitando assim que o investigado tenha a
oportunidade de se manifestar sobre todas as provas até então produzidas, mas não
terá que ser realizado necessariamente logo após a oitiva das testemunhas, como
sugere o texto da lei.
Acrescente-se, ainda, que por se tratar de ato personalíssimo, a participação do
investigado é imprescindível, de sorte que nem a presença de defensor legalmente
constituído supre a sua ausência.
O interrogatório é dividido em duas fases: interrogatório de qualificação e
interrogatório de mérito. Na primeira o interrogado fornece à comissão seus dados
identificadores, tais como nome completo, naturalidade, estado civil, endereço,
documento de identificação, etc. Nessa fase o interrogado não se encontra acobertado
pelo privilégio contra a autoincriminação. Pelo contrário, o fornecimento de dados
220
É pertinente deixar claro que o direito contra a autoincriminação não pode ser
interpretado como direito de faltar com a verdade (mentir), de trazer aos autos todo
tipo de afirmações falsas na tentativa de se desvencilhar da acusação que pesa contra
sua pessoa. Em que pese as opiniões em sentido contrário, entendemos que a
Administração Pública que se diz pautada pela ética e honestidade de seus agentes
não pode ser complacente com comportamentos imorais e antiéticos, a ponto de
admitir a mentira como direito subjetivo do acusado, seja em processo criminal ou
administrativo. Não concordamos com aqueles que advogam a tese de que o privilégio
contra a autoincriminação inclui o direito de mentir pelo simples fato de não existir
mais no ordenamento jurídico brasileiro o crime de perjúrio. Apenas a título de
informação, o crime de perjúrio era previsto no antigo Código Criminal do Império
aprovado em 16 de dezembro de 1830 e ficava configurado quando a pessoa fazia
juramento falso em juízo.
Lei nº 9.784/99
Art. 2º […]
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os
critérios de:
[…]
X - garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de alegações finais, à
produção de provas e à interposição de recursos, nos processos de que possam
223
A causa de aumento de pena não pode ser presumida pelo julgador, devendo o fato
que a configurar estar descrito pormenorizadamente na denúncia ou queixa. O
princípio da correlação entre acusação e sentença, também chamado de princípio
da congruência, representa uma das mais relevantes garantias do direito de defesa,
visto que assegura a não condenação do acusado por fatos não descritos na peça
acusatória. É dizer, o réu sempre terá a oportunidade de refutar a acusação,
exercendo plenamente o contraditório e a ampla defesa. É certo que, a teor do
disposto no art. 383 do CPP, o acusado se defende dos fatos que lhe são atribuídos
na denúncia ou queixa, e não da capitulação legal, razão pela qual o juiz poderá,
sem modificar a descrição fática, atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que
tenha de aplicar pena mais grave. Contudo, o fato que determina a incidência do
preceito secundário da norma penal deverá estar descrito na peça acusatória, com
o objetivo de viabilizar o contraditório e a ampla defesa. Autorizar a presunção de
causa de aumento de pena, sem qualquer menção na exordial, configura inversão do
sistema de ônus da prova vigente no ordenamento processual, visto que seria imposto
à defesa o dever de provar a inexistência dessa circunstância, e não à acusação o
ônus de demonstrá-la. Precedentes citados: HC 149.139-DF, DJe 2/8/2010; HC
139.759-SP, DJe 1º/9/2011. REsp 1.193.929-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 27/11/2012.
ser feita pelo próprio servidor ou por representante legal, com ou sem formação
jurídica. Essa tese é reforçada pela constatação de que, ao tratar da indicação de
defensor dativo ao servidor revel, a única exigência contida no art. 164,§ 2º, da Lei nº
8.112/90 é que este (o dativo) seja ocupante de cargo efetivo superior ou de mesmo
nível, ou ter nível de escolaridade igual ou superior ao do indiciado, nada dispondo
sobre a formação acadêmica.
No âmbito dos tribunais superiores o entendimento predominante era no
sentido da obrigatoriedade da atuação do advogado, sob pena de nulidade do processo.
Como forma de conferir efetividade a esse entendimento o Superior Tribunal de
Justiça – STJ editou a Súmula 343, com o seguinte teor: É obrigatória a presença de
advogado em todas as fases do processo administrativo disciplinar. Nada obstante
não ser de obediência obrigatória, era o comando da súmula em questão que orientava
a atuação daqueles que defendiam a obrigatoriedade da presença do advogado no
processo administrativo disciplinar.
A polêmica foi finalmente superada com a publicação da Súmula Vinculante
nº 5 do Supremo Tribunal Federal, que apresenta a seguinte redação: “A falta de defesa
técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a
Constituição”. A partir de então pacificou-se o entendimento nos tribunais de que a
elaboração da defesa em processo administrativo disciplinar não é prerrogativa
exclusiva de advogado.
do investigado para se defender em nada alterará o grau de certeza quanto aos fatos
imputados ao mesmo. Assim como ocorre no processo criminal, as investigações
administrativas são pautadas pelo princípio da verdade real, não devendo a comissão
considerar como verdadeiros fatos pela simples circunstância de o acusado não
apresentar contestação. Em síntese, a revelia em nada contribuirá para a formação da
convicção do trio processante.
sentença que a tipificação não corresponde aos fatos narrados na petição inicial,
poderá de ofício apontar sua correta definição jurídica.
Em nosso modo de pensar, a redação da lei disse menos do que deveria, pois a
autoridade julgadora poderá não acatar o relatório da comissão ainda que a conclusão
não seja contrária às provas dos autos. Imagine a situação na qual o colegiado sugere
a pena de suspensão por noventa dias e a autoridade decide pelo afastamento por
apenas trinta dias. Nessa situação hipotética, a divergência entre os membros da
comissão e a autoridade julgadora reside exclusivamente na dosimetria da pena, em
nada tendo a ver com as provas contidas nos autos.
15.2.25 - JULGAMENTO
É o ato administrativo por intermédio do qual a autoridade julgadora emite sua
decisão no procedimento administrativo disciplinar. Como visto antes, essa decisão
não se encontra vinculada à conclusão da comissão processante, dispondo a
autoridade de autonomia para acatar ou não o relatório final, podendo inclusive
agravar a penalidade proposta, abrandá-la ou isentar o servidor de responsabilidade,
mediante decisão fundamentada.
A autoridade julgadora terá o prazo de vinte dias (cinco dias, no caso de
processo conduzido pelo rito sumário), contados a partir do recebimento dos autos,
para emitir o seu julgamento. Esse prazo não é preclusivo, significando que o seu
descumprimento não causa nulidade. Na prática administrativa esse prazo nunca é
respeitado. Via de regra após a elaboração do relatório final e antes da remessa à
autoridade julgadora a comissão encaminha os autos para o departamento jurídico do
órgão para emissão de parecer. Nesse parecer a assessoria jurídica se manifesta tanto
sobre os aspectos formais (vícios processuais) quanto sobre o mérito da conclusão da
comissão. É embasado na manifestação jurídica que a autoridade julgadora profere
sua decisão, acatando ou não a proposta do colegiado.
Uma vez comprovada a autoria da infração disciplinar, não cabe à autoridade
julgadora decidir se aplica ou não a pena correspondente. Dito em outras palavras,
trata-se de um ato vinculado, não dispondo a autoridade julgadora de margem de
discricionariedade quanto à escolha entre aplicar ou não a penalidade. Além disso,
quando a infração estiver capitulada como crime, faz-se necessária a remessa dos
autos ao Ministério Público para a instauração da ação penal correspondente. Nada
obstante a lei seja omissa, o mesmo procedimento deverá ser adotado na hipótese de
restar comprovada a prática de ato de improbidade administrativa, tendo em vista a
competência do Ministério Público para o ajuizamento de ação cível dessa natureza.
Verificada a ocorrência de vício insanável na condução das investigações a
autoridade julgadora (ou outra que detenha competência para tal) declarará a sua
nulidade, total ou parcial, e ordenará, no mesmo ato, a constituição de outra comissão
para instauração de novo processo. Via de regra os vícios que causam a nulidade do
233
processo se relacionam aos aspectos formais, tais como cerceamento de defesa, ato
processual praticado em desconformidade com a lei, entre outros. Na hipótese de
nulidade parcial, o procedimento mais adequado é a nomeação de nova comissão para
refazer os atos praticados a partir do ato declarado nulo.
A Lei nº 8.112/90 determina no art. 128 que “na aplicação das penalidades
serão consideradas a natureza e a gravidade da infração cometida, os danos que dela
provierem para o serviço público, as circunstâncias agravantes ou atenuantes e os
antecedentes funcionais”. Já nos artigos 129, 130 e 132 a mesma lei define, de forma
peremptória, a penalidade correspondente a cada infração funcional cometida. A
leitura desatenta desses dispositivos revela uma aparente contradição na lei, pois ao
mesmo tempo em que define a penalidade cabível para cada conduta, confere à
administração uma certa margem de liberdade na escolha da pena, segundo a natureza
e a gravidade da infração.
Como dito acima, a contradição é apenas aparente. Ao que tudo indica, a
intenção do legislador foi conferir à administração relativa margem de
discricionariedade na situação em que há dúvida sobre o correto enquadramento legal
da infração funcional para fins de definição da pena cabível. Um exemplo: o art. 116
da Lei nº 8.112/90 definiu como dever do servidor, entre outros, guardar sigilo sobre
assuntos da repartição (inciso VIII), cujo descumprimento é punido com a pena de
advertência. Já o art. 132 elencou entre as faltas punidas com a demissão a revelação
de segredo do qual se apropriou em razão do cargo. Nos parece óbvio que o agente
que revela segredo do qual se apropriou em razão do cargo concomitantemente não
guarda segredo sobre assuntos da repartição. Pois bem. Foi pensando nessa situação
que a lei estabeleceu que a administração (representada pela comissão processante)
deverá avaliar as circunstâncias agravantes e atenuantes antes de decidir pelo
enquadramento da infração funcional.
Uma vez feito o enquadramento da transgressão não resta margem de
discricionariedade na escolha da pena, ficando a decisão da autoridade julgadora
vinculada aos comandos dos artigos 129, 130 e 132 do Estatuto Funcional.
Federal de 1988, onde ficou assegurado que a lei não prejudicará o direito adquirido,
o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
No Direito Administrativo a doutrina utiliza a nomenclatura coisa julgada
administrativa para indicar a condição de determinada situação jurídica decidida na
esfera administrativa insusceptível de revisão nessa mesma esfera do direito. Ou seja,
é a condição da decisão da qual não cabe mais recurso administrativo, nada obstante
possa ser reformada pelo Poder Judiciário. Imagine a seguinte situação hipotética: o
servidor, irresignado com a decisão proferida pela Administração em relação a
determinado ato administrativo, interpõe recurso de reconsideração e a autoridade
recorrida confirma o ato. Caso o inconformismo persista e o agente utilize o recurso
hierárquico próprio (agora dirigido à autoridade que se encontra em situação
hierarquicamente mais elevada) e este tem seu provimento negado. Nessa situação
hipotética apresentada, configura-se a coisa julgada administrativa, dada a
inexistência de recurso a ser manejado pelo servidor inconformado com a decisão,
restando tão somente a opção de recorrer ao Poder Judiciário.
Nesse tipo de decisão a atuação do Poder Judiciário fica restrita ao
patrulhamento das fronteiras da legalidade, sendo vedado o exame quanto à justiça da
decisão. É com fundamento na coisa julgada administrativa que o Poder Judiciário se
encontra impossibilitado de adentrar no mérito das decisões proferidas nos autos de
processo administrativo disciplinar, se limitando a apreciar os aspectos da legalidade.
Não pode, por exemplo, o magistrado determinar o retorno do servidor ao cargo do
qual foi demitido em processo administrativo disciplinar sob o fundamento de que a
pena não foi justa ou por considerar as provas insuficientes (exame do mérito). Por
outro lado, nada impede que o Poder Judiciário invalide o decreto punitivo por
violação do direito ao contraditório e ampla defesa, ou seja, por inobservância de
regras legais de natureza processual.
Judiciário tem legitimidade para decidir controvérsias, com força de coisa julgada
material.
Com respaldo na inafastabilidade da jurisdição pode o Judiciário, por exemplo,
anular a pena de demissão imposta ao servidor quando restar comprovado que o
procedimento investigativo padece de vício de ilegalidade (ausência do contraditório,
por exemplo). Nesse caso, a reintegração será automática, fazendo jus o servidor ao
recebimento de todas as vantagens que teria direito caso não tivesse sido afastado do
cargo pela demissão (art. 28 da Lei nº 8.112/90).
No caso em que o agente se sentir lesado, ou na iminência de ter direito seu
violado pela Administração, pode o mesmo se valer do mandado de segurança. Aliás,
o manejo desse instrumento perante o Judiciário tem cabimento até mesmo antes da
instauração do procedimento investigativo (na fase de análise do juízo de
admissibilidade). É o que ocorre, por exemplo, no caso de instauração de
procedimento disciplinar desprovido dos requisitos mínimos de admissibilidade,
circunstância esta que configura constrangimento ilegal. A lógica jurídica é a mesma
adotada no Processo Penal, onde se admite a impetração do habeas corpus como
forma de evitar o constrangimento ilegal provocado pela instauração do inquérito
policial sem os mínimos elementos que o autorizem ou o indiciamento ilegítimo do
investigado.
ao exaurimento dos recursos na via administrativa. Uma vez constatado que o ato
disciplinar se encontra contaminado por vício de ilegalidade, pode o agente que se
sentir prejudicado optar por uma das vias, administrativa ou judicial. A exceção fica
por conta do mandado de segurança, cuja lei que o regulamenta (Lei nº 12.016/2009)
veda a concessão da segurança quando se tratar de ato do qual caiba recurso
administrativo com efeito suspensivo, independentemente de caução.
Por outro lado, é importante deixar claro que a interposição de recurso perante
o Poder Judiciário não pode ser utilizada deliberadamente como forma de impor
obstáculo ao regular andamento do processo, visando obter qualquer tipo de
vantagem. Na prática, essa estratégia é frequentemente utilizada por parte da defesa
quando vislumbra a possibilidade de a pretensão punitiva da Administração ser
atingida pela prescrição. Não podemos nos esquecer que o processo, seja ele
administrativo ou judicial, deve ser pautado pela lealdade, cooperação, urbanidade e
boa-fé. O Poder Judiciário não constitui instrumento posto à disposição de quem quer
que seja para a prática de condutas desonestas.
contraditório.
Assim como ocorre no processo administrativo disciplinar conduzido pelo rito
ordinário, ao final dos trabalhos o colegiado elaborará relatório final, o qual deverá
ser conclusivo quando à inocência e à culpabilidade do investigado. Tendo em vista o
seu alcance mais limitado (se comparada com o PAD), na hipótese de se chegar à
conclusão de que o ilícito praticado pelo servidor enseja a imposição de penalidade
de suspensão por mais de trinta dias, de demissão, cassação de aposentadoria ou
disponibilidade, ou destituição de cargo em comissão, deve ser recomendada a
instauração de processo administrativo disciplinar, como forma de viabilizar a
imposição da pena correspondente.
III - Agente público, por conduta livre e consciente, ocupava dois cargos ou funções
públicas, quais sejam cargo público de Engenheiro Gestor em regime de dedicação
exclusiva e Perito da Receita Federal.
Dolo genérico demonstrado e dano in re ipsa ao erário.
V - Indevida improcedência dos pedidos contidos na ação civil pública por
improbidade administrativa no acórdão recorrido, por violação ao art. 9º, XI, e art.
11 da Lei 8.429/92.
VI - Agravo interno provido.
II - para outros serviços e compras de valor até 10% (dez por cento) do
limite previsto na alínea "a", do inciso II do artigo anterior e para
alienações, nos casos previstos nesta Lei, desde que não se refiram a
parcelas de um mesmo serviço, compra ou alienação de maior vulto que
possa ser realizada de uma só vez.
A avaliação a ser feita sobre a conduta objeto da apuração proibida para fins
de utilização do Termo Circunstanciado Administrativo fica restrita ao elemento
subjetivo da conduta (dolo ou culpa) e ao valor econômico do prejuízo. Nessa ordem
de ideia, se a conduta ilícita for praticada a título de dolo ou não for passível de
mensuração econômica (como é o caso da maioria dos deveres e proibições elencados
pelos artigos 116 e 117 da Lei nº 8.112/90) não cabe a adoção dessa modalidade de
apuração.
1% a 2,5% No caso de tolerância ou ciência da infração por parte de pessoas do corpo diretivo ou
gerencial da pessoa jurídica.
Para a situação econômica do infrator com base na apresentação de índice de Solvência Geral
- SG e de Liquidez Geral - LG superiores a um e de lucro líquido no último exercício anterior
ao da ocorrência do ato lesivo.
Solvência Geral - SG: é o índice que mede a capacidade que a empresa possui de pagar as
1% suas dívidas para com terceiros. O índice é obtido pela divisão do ativo total pelo passivo
circulante mais passivo não circulante.
Liquidez Geral - LG: indica o valor dos bens e direitos realizáveis que a empresa possui
para pagar suas dívidas perante terceiros. O índice corresponde ao resultado da operação
ativo circulante mais ativo realizável a longo prazo, dividido pelo passivo circulante mais
passivo exigível a longo prazo.
No caso em que a pena base tiver como parâmetro o valor dos contratos
mantidos ou pretendidos com o órgão ou entidade lesado, serão considerados, na data
da prática do ato lesivo, os seguintes percentuais:
Segunda fase
Uma vez conhecido a valor da multa base, desse valor serão subtraídos os
valores correspondentes aos seguintes percentuais do faturamento bruto da pessoa
jurídica do último exercício anterior ao da instauração do PAR, excluídos os tributos:
1,5% No caso de comprovação de ressarcimento pela pessoa jurídica dos danos a que tenha dado
causa.
1% a 1,5% Para o grau de colaboração da pessoa jurídica com a investigação ou a apuração do ato
lesivo, independentemente do acordo de leniência.
de direito.
maior alcance ao dispositivo legal, abarcando outras condutas ilícitas e não tão
somente o desvio de finalidade e a confusão patrimonial.
A desconsideração da personalidade jurídica se torna desnecessário na hipótese
de coautoria, ou seja, quando o ilícito for praticado pela pessoa jurídica e pelos sócios.
Nesse caso, ambos responderão com seus patrimônios pessoais pela reparação do
dano causado à administração pública, não havendo razão para o manejo do incidente
processual em questão.
artifício para obter informações que não teria sem a colaboração da entidade
colaboradora.
SÚMULA 366 - Não é nula a citação por edital que indica o dispositivo da lei penal,
embora não transcreva a denúncia ou queixa, ou não resuma os fatos em que se baseia.
SÚMULA 473 - A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de
vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por
motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e
ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
SÚMULA 523 - No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas
a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.
Súmula 378 - Reconhecido o desvio de função, o servidor faz jus às diferenças sala-
riais decorrentes.
Súmula 633 - A Lei n. 9.784/1999, especialmente no que diz respeito ao prazo deca-
dencial para a revisão de atos administrativos no âmbito da Administração Pública
federal, pode ser aplicada, de forma subsidiária, aos estados e municípios, se inexis-
tente norma local e específica que regule a matéria.
Bibliografia
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266
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de Janeiro. Editora Lumen Juris 2011.
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PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. Direito Administrativo. 32ª Edição, Rio de Janeiro.
Editora Forense 2018.