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DE INSTRUTOR DE YOGA
Londrina-PR
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Obra Prima
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Contato: anapaula.perez@hotmail.com
Nirvāṇa Ṣaṭkaṁ
Não sou mente nem razão; não sou ego nem memória;
Não sou audição, nem paladar, nem olfato nem visão.
Não sou espaço nem terra; não sou fogo nem ar.
Minha natureza é consciência e plenitude. Sou Ser, sou Ser. 1.
Não sou virtude nem ação errônea; nem alegria nem sofrimento;
nem mantras nem lugares sagrados; nem escrituras nem rituais;
não sou prazer nem o que produz prazer, nem o desfrutador.
Minha natureza é consciência e plenitude. Sou Ser, sou Ser. 4.
Gayatri Mantra
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.............................................................................................5
2. O QUE É YOGA............................................................................................7
3. ANGAS.......................................................................................................13
3.1 YAMAS.......................................................................................................15
3.2 NIYAMAS...................................................................................................17
3.3 ASANAS.....................................................................................................19
3.4 PRANAYAMA.............................................................................................21
3.5 PRATYAHARA, DHARANA, DHYANA, SAMADHI.....................................23
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................25
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................26
1. INTRODUÇÃO
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desse contexto que estamos vivendo, mas a minha realização foi que eu fiz as pazes
comigo mesma, e descobri através dessa obra-prima, que o caminho que trilhei até
não necessariamente tem que ser apagado, mas sim os sentimentos ruins sobre
essas experiências, foi como uma catarse dentro do meu novo caminho.
Também a feitura dessa obra-prima que auxiliou a juntar os conceitos e teorias
aprendidos ao longo do curso com a prática, e uma maior compreensão de como essa
ferramenta de autoconhecimento pode desempenhar um papel em minha jornada.
Prathamah patalah
A Existência é Una. Somente o Conhecimento (Jñana) é eterno. Ele não
tem início nem fim. Não existe nada fora ele. A aparente diversidade do
mundo é resultante da limitação dos sentidos. Quando esta limitação
desaparece, apenas o Conhecimento, e somente ele, resplandece. 1.
SHIVA SAMHITA – Primeiro verso – tradução Pedro Kupfer.
6
4. O QUE É YOGA?
Yoga, pode ser definido de modo arcaico, como uma prática de introspecção
disciplinada e de concentração meditativa associada a ritos de sacrifício. Segundo
Feuerstein (2006), os quatros primeiros vedas1, textos sagrados do hinduísmo podem
encontrar práticas de Yoga.
Essas quatros coletâneas de hinos contém o conhecimento revelado,
ou ‘sobre-humano’ da civilização arcaica da Índia, na qual se fala o
sânscrito. Essa civilização é chamada de civilização védica ou, em
tempos mais recentes, civilização do Indo e do Sarasvatî. Os ritos dos
sacerdotes védicos tinham de ser cumpridos com perfeita exatidão e
exigiam do sacrificante a máxima concentração; por isso, os
depositários do conhecimento tinham de submeter-se a uma disciplina
mental e rigorosa (FEUERSTEIN, p. 63, 2006).
Vemos que, esses quatros primeiros vedas, mais tarde – cerca de dois mil anos
depois, daria origem aos Upanishads2, como uma tecnologia da consciência, como
pontua Feuerstein (2006), sendo essas as raízes do Yoga. Essa prática denominada
Yoga nos Upanishads, percorreram o seu desenvolvimento junto a um conjunto
imenso de práticas ligadas a explicações acerca da transcendência da condição
humana. A forma de transmissão deste conhecimento era a transmissão oral, em
sânscrito 3– paramparâ.
Considerando o desenvolvimento do Yoga, surgem inúmeras escolas que
representam variadas tradições, com modificações e reformulações, o que nos leva a
dizer que o Yoga não é homogêneo. As práticas e doutrinas acabam por variar
considerando a escola, tradição ou mestre – guru (san).
Assim podemos observar que,
Quando falamos do Yoga, estamos falando de uma multiplicidade e
caminhos e tendências dotadas de estruturas teóricas e contratantes
e as vexes até metas divergentes embora todas sejam por meios de
libertação (FEUERSTEIN, p.64, 2006).
Na linha do hinduísmo seis grandes escolas ganharam destaque: Râja-Yoga,
Hatha-Yoga, Jnâna-Yoga, Bhakti-Yoga, Karma-Yoga e o Mantra-Yoga. Segundo
1 Os quatro vedas são: Ṛg Veda, Yajur Veda, Sama Veda e Atharva Veda. Eles são divididos em três
seções: Karma Kanda, Upasana Kanda e Jñana Kanda. A primeira fala sobre as ações, a segunda
sobre as meditações e a última sobre o Conhecimento.
2 A palavra Upanishad é o autoconhecimento de um determinado assunto, o autoconhecimento, assim
como as palavras física e biologia são nomes que denotam assuntos específicos.
3 O sânscrito ou língua sânscrita (transcrito saṃskṛtam em IAST) é uma língua ancestral da região do
Nepal e da Índia. Embora seja uma língua morta, o sânscrito faz parte do conjunto das 23 línguas
oficiais da Índia, porque tem importante uso litúrgico no hinduísmo, budismo e jainismo.
7
Feuerstein (2006), devemos acrecentrar o Laya-Yoga e/ou Kundalinî-Yoga, que estão
intimamente ligados ao Hatha-Yoga, mas são mencionadas como independentes.
Podemos comparar o Yoga a uma roda de muitos raios, sendo que estes raios
representam as diversas escolas do Yoga, o aro simboliza as exigências morais
comuns a todos os tipos, o cubo a experiência do êxtase, onde o praticante transcende
não só a sua própria consciência limitada como também a existência cósmica do um
todo.
6
Estudos arqueológicos apontam que há vestígios de Yoga com ilustrações de postura em uma
civilização antiga no vale do rio indo (hoje a região do Paquistão), datada de 6500 a.C, conhecida como
sociedade Harappeana ou Indus-Saraswati.
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assim, se denomina Yoga, porque instrui os caminhos pelo quais pode se unir o
espírito humano individual ao Espírito Universal Supremo, e assim assegurar a
libertação (moksha).
7 Bhagavad-Gita (Cântico do Senhor) é um diálogo entre Krishna – o Deus Vishnu encarnado, e seu
discípulo Arjuna – príncipe dos pândavas. Sendo um episódio do grande épico Mahâbhârata. No
ocidente se tornou muito popular, com a disseminação do seu texto por mestres yoguis, como
Paramahansa Yogananda, Swami Dayananda Saraswati, Mahatma Gandhi, entre outros, além de
figuras ocidentais famosas como: Hegel, Schopenhauer, Walt Whitman, Huxley, Rudolf Steiner e
Annine Besant. No Brasil, ficou popularmente conhecido pela canção ‘Gita’ composta por Raul Seixas
e Paulo Coelho.
10
e/ou um ensinamento, e a segunda como uma composição de crenças e costumes de
uma Era histórica de desenvolvimento intelectual do hinduísmo, cheia de simbolismos,
pois, como vemos,
Do ponto de vista histórico, o Bhagavad-Gita pode ser compreendido
como uma grande tentativa de integrar as diversas linhas de
pensamento espiritual que predominavam dentro do Hinduísmo na Era
Épica. Faz uma mediação entre o ritualismo sacrificial do sacerdócio
ortodoxo e os ensinamentos inovados que encontramos nas doutrinas
esotéricas dos primeiros Upanishds, e engloba também elementos das
tradições budista e jaina. (FEUERSTEIN, p. 243, 2006).
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Shiva é um dos principais deuses do hinduísmo, que juntamente com Brahma e Vishnu formam
trindade do hinduísmo. É chamado de "o Destruidor"' ou "o Transformador". Conhecido também como
o patrono do Yoga.
9 Parvati ou Mahadevi é a Deusa Mãe no Hinduísmo e, nominalmente, a segunda consorte de Shiva. É
a mãe de Ganesha e de Escanda. Ela é considerada como a Divina Shakti - a encarnação da energia
total do Universo.
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ānando brahmeti vyajānāt | ānandāddhyeva
khalvimāni bhūtāni
jāyante | ānandena jātāni
jīvanti | ānandaṁ prayantyabhisaṁviśantīti ||
Conheceu assim, o Ilimitado como Felicidade, pois da Felicidade
todos os seres vivos surgem. Tendo nascido da Felicidade, são por ela
sustentados,
movem-se [vivem] e absorvem-se na Felicidade.
Taittirīyopaniṣad, III:6.1
Visões do Yoga – Pedro Kupfer.
10 Sutra significa corda ou fio, deste modo, faz referência ao compilado de ensinamentos que alusiva
como um colar.
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posteriormente por estudiosos, de Yoga clássico a linhagem seguida pelos seguidores
de Patañjali. A grande maioria das linhagens de yoga praticadas hoje em dia, seguem
os ensinamentos do Yoga-Sutra de Patañjali, como por exemplo o Hatha-yoga.
Vemos na figura abaixo (figura 2) a representação mítica de Patañjali,
representado por ser metade homem metade serpente com quatro braços cujas mãos
seguram os atributos do Deus Vishnu11: a concha e o disco e fazem o gesto da
oferenda, añjali-mudrá, abençoando aqueles que se aproximam dele procurando a
verdade do Yoga. As cabeças de serpentes simbolizam a infinidade ou a onipresença
de Vishnu, sua figura é associada a sabedoria, e mantras, danças e cânticos são
oferecidos a sua figura antes de rituais, cerimonias, aulas, etc.
3.1 YAMAS
Como vimos anteriormente, em Yoga-Sutras, o sábio Patañjali sintetizou em
aforismos meios apropriados para alcançar a libertação “kaivalya-pada” como
colocado por ele na última parte. Sendo que, ele enumera os meios como oito
etapas/membros ou angas (sân) do yoga, sendo eles:
1.Yama (mandamentos morais universais);
2.Niyama (autopurificação por meio das disciplinas);
3. Ásana (posturas);
4. Pranayama (controle rítmico da respiração);
5. pratyahara (recolhimento dos sentidos);
6. dharana (concentração);
7. dhyana (meditação);
8. Samadhi (êxtase ou estado de supraconsciência gerado pela meditação profunda).
Os três primeiros membros constituem na busca exterior, como por exemplo,
Yama e Niyama controlam as emoções, a disciplina moral das nossas atitudes frente
as situações. Os ásanas conservam um corpo saudável, forte e harmonizado com a
natureza. Já pranayama e pratyahara servem como ensinamento para o controle da
respiração e controle a mente, e liberar os sentidos frente à mundo exterior, já que
ambos são considerados como a busca interior. Dharana, dhyana e samadhi são os
membros que irão conduzir às profundezas de nossa alma, ao encontro do divino, o
Antaratma.
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Os fundamentos do yoga se baseiam na ética universal, portanto, no Yoga-
Sutra o primeiro membro não se trata de posturas físicas nem de meditação e sim da
disciplina moral – Yama. Sendo composto por cinco comportamentos que devem ser
evitados, sendo:
1. Ahimsa: não-violência; não ferir, agredir ou matar qualquer ser;
2. Sathya: verdade/veracidade;
3. Asteya: não roubar;
4. Brahmacharya: controle sexual apropriado;
5.Aparigraha: não cobiçar, desapego.
Essas são diretrizes de comportamentos para as bases de várias religiões,
como as de origens judaico-cristã, mulçumanas, africanas, entre outras. Sua aplicação
à vida, devem ser colocadas em prática independente de lugar, tempo, circunstância
ou de posição social, pois considera-se que a integridade moral é um requisito
essencial para a prática do Yoga.
O princípio da não-violência – Ahimsa, tem como preceito a não praticar
violência em pensamentos e ações,
É mais do que um mandamento negativo para não matar, tem um
sentido positivo mais amplo, de amor. [...] a violência surge do temor,
da fraqueza, da ignorância ou da inquietação. Para deter a violência,
o mais importante é libertar-se do temor. A fim de se obter esta
liberdade, é preciso mudar o modo de ver a vida e reorientar a mente
(IYENGAR, p. 36, 2016).
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sentido temos o fundamento de não acumular bens e sim adorar ao criador, junto a
libertação dos desejos terrenos permite ao yogi o afastamento das tentações.
Brahmacharya significa uma vida dedica ao celibato ao estudo religioso, o que
poderia considerar como um Yama controverso em vários contextos, principalmente
no ocidente, pois, são poucos casos de indivíduos que abandonam sua vida, com
família e emprego para dedicar-se integralmente a qualquer linha religiosa – isso
sendo mais comum em contextos hindu e budista. Porém, deve se aplicar o
Brahmacharya a nossa realidade de praticante de yoga, “isso não significa que a
filosofia do yoga é destinada apenas aos celibatários [...] não é necessário
permanecer solteiro e sem-teto (IYENGAR, p.39. 2016) ”. Neste fundamento, Patañjali
da ênfase a continência do corpo, da fala e da mente, direcionando um
comportamento responsável com relação as atitudes e objetivo.
Aparigraha - não-cobiçar ou desapego, é o último Yama defino como o cultivo
a simplicidade voluntária, segundo Iyengar (2016) trata-se de uma outra face do
Asteya, “assim como não se deve adquirir coisas que não sejam realmente
indispensáveis, tampouco se deve acumular ou colecionar coisas que não sejam
imediatamente necessárias (IYENGAR, p. 40, 2016) ”.
Os Yamas como vimos são o caminho moral para que um yogi possa seguir
dentro da ética do Yoga, assim, quando mais se pratica cada Yama, mas fortalecido
no caminho do Yoga se torna. Podemos observar também em relação ao Yoga-Sutra
que os Yamas são direcionamento para modificar a consciência em relação ao que
degrada o indivíduo, como caos, violência, falsidade, roubo, desperdício e cobiça,
assim praticando os Yamas o yogi se afasta do que ele próprio poderia produzir e se
aproxima de um caminho de bem-aventurança.
3.2 NIYAMAS
Os Niyamas se referem as normas de condutas da disciplina individual, já que os
Yamas são normas universais. Os cincos Niyamas definido no Yoga-Sutra por
Patanjali são:
1. Saucha (pureza);
2. Samtosha (contentamento);
3. Tapas (austeridade);
4. Svadhyaya (estudo);
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5. Ishvara-pranidhana (devoção ao Senhor);
A pureza – Saucha o primeiro Niyama, é uma das principais metáforas da
espiritualidade Yogi, como afirma Feuerstein (2006), pois, podemos distinguir a
limpeza interna da externa, “ a primeira se realiza por meios como banhos e
alimentação adequada, e a segunda é fruto de instrumento de meditação e
concentração (p.308, 2006) ”. Podemos considerar que a limpeza do corpo e da
mente também acontece com a prática de Ásanas e de Pranayamas que também são
angas do Yoga-Sutra.
Samtosha é o contentamento, sendo a prática e a modéstia de estamos contentes
com o que temos, aceitar o que nos é dado e oferecido. Uma mente descontente não
persevera na concentração, pois contentamento e tranquilidade são estados mentais,
portanto, é uma virtude a ser cultivada pelo yogi.
Tapas é o Niyama relacionado a ascese, disciplina e austeridade, significa um
esforço sob todas as circunstancia para a consecução de um objetivo, sendo que o
objetivo de um yogi é a libertação, o estado de êxtase, terá uma prática voltada a
desenvolvimento do autoconhecimento com disciplina ao que coloca em seu corpo e
sua mente. De acordo com o Yoga-Sutra, o produto dessa disciplina é o
aperfeiçoamento corporal, da mente e do espírito.
O quarto Niyama é svadhyaya, que significa o auto estudo, estudar-se, e não
somente a compreensão intelectual e sim uma autoanálise de suas atitudes mentais
e físicas, com o auxílio dos textos sagrados, pois, “quando progredimos em nossa
autoanalise, gradualmente, encontramos um elo com as leis divinas e com os profetas
que as revelaram (DESIKACHAR, p. 163, 2018) ”.
O quinto e último Niyama é Ishvara-pranidhana que significa a dedicação de
nossos atos a vontade do Senhor. Nesse Niyama cabe considerar que alguns
praticantes de yoga ao se deparar com questões relacionadas a uma devoção a Deus,
podem se sentir acuados, pois, pensam que pode haver uma prática de Yoga que não
envolve religiosidade. Entretanto, cabe questionar o dualismo das religiões judaico-
cristã, assim, a devoção proposta desde o Yoga clássico é a devoção ao Ser
transcendente, que “para o indivíduo não iluminado, é uma realidade, e uma forca
objetiva, mas que no ato de iluminação, é percebido como idêntico ao Si Mesmo
transcendente do yogin (FEUERESTEIN, p. 310, 2006) ”.
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Assim, os Nyamas em suas cinco formas, estão ligados aos esforços pessoais do
Yogi atingir o seu objetivo final, a auto realização em uma prática com bases de
disciplinas, ética morais sobre o si mesmo. Pensando em termos filosóficos, são
controles de emoções que dominam a personalidade egóica com o controle de ações
e emoções.
3.3 ÁSANAS
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processo prosseguiu até os dias de hoje, o que permitiu chegar ao
grande número de técnicas codificadas (TACCOLINI, p. 10, 2004).
Há uma gama de tipos de ásanas com suas variações e adaptações, podendo ser
usadas levando em conta cada estrutura biológica e características especificas,
porém, o seu objetivo maior dentro dos angas do Yoga é treinar a disciplina da mente
junto ao corpo, pois este é um instrumento de realização.
A nomenclatura dos ásanas são significativos e evolutivos com o desenvolvimento
dos ásanas, como vemos na figura 3, elaborei um sequência de ásanas para ilustrar
os nomes: tadasana – postura da montanha; b) vrikshasana – postura da arvore; c)
virabhadrasana II– postura do herói/ guerreiro II; d) pashimottanasana- postura da
pinça; e) padmasana – postura da lótus; f) Adho Mukha shivanasana – cachorro de
cabeça para baixo; g)ardha Matsyendrasana –postura da torção do sábio matsyendra;
h) sarvangasana – postura da vela; i) shavasana – postura do cadáver.
Vemos que os nomes variam em nomes de animais, plantas, sábios importantes
para o yoga, seres míticos ligados ao panteão hindu, e algumas posturas, conforme a
evolução da prática ao longo do século, levam o nome da parte do corpo que está se
movendo os alcançando, como por exemplo Janushirshasana – postura da cabeça no
joelho.
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Ao praticar os ásanas o yogi reproduz a forma que se assemelha. Além dessa
questão ligada a natureza, há categorias dos ásanas como: posturas em pé,
estabilizações, abertura de quadril, torções, extensões flexão lateral, flexão para
frente, equilíbrios e invertidas, que servem para trabalhar uma série de sistemas
corporais físicos e também ligado ao corpo energético12.
3.4 PRANAYAMA
Prana palavra sânscrito significa 'força vital' ou 'energia vital', Ayama significa
‘extensão’ ou ‘expansão’, assim, Pranayama significa controle da respiração.
12 Os corpos sutis são locais onde moram, além do próprio corpo físico, a nossa mente, alma e
espírito, e podem ser trabalhados pela prática do Yoga. A menção às estruturas sutis do ser humano é
encontrada nos Tantras, filosofia que traz a descrição e a constituição dos cinco Koshas, e as outras
estruturas sutis, como o Prana, os Nadis e os Chakras.
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Portanto, é um método pelo qual o yogi procura influenciar a energia dentro do corpo
para o controle dos sentidos, e através desse controle da respiração associando a
concentração o yogi redireciona a força-vital,
Em geral é dirigida para a cabeça ou mais precisamente, para os
centros energéticos do cérebro [...] o prana é o veículo da ascensão
da atenção dentro do corpo, da concentra dessa atenção no eixo do
corpo até chegar ao cérebro (FEUERSTEIN, p. 331, 2006).
Desta maneira, afirma-se que nosso estado mental está ligado a qualidade do
prana que temos dentro de nós, a qualidade da respiração influência o estado mental,
conforme influenciamos pela respiração o fluxo de prana. O ritmo da respiração
fortalece o sistema respiratório, acalma o sistema nervoso e controla a ansiedade.
Algumas técnicas simples de Pranayamas:
Respiração completa: Sente em postura fácil e confortável com as pernas
cruzadas, mantenha a coluna e pescoço ereto. Exale todo o ar, usando o abdômen
para auxiliar. Inale profundamente, puxando o ar pela expansão do abdômen.
Mantenha inalando até preencher de ar a região superior do pulmão e a região da
garganta. Retenha por alguns segundos, e observe para manter o rosto relaxado.
Exale lentamente, primeiro o ar da parte inferior, depois superior dos pulmões e
finalmente o ar que estiver na região da garganta. Contraia o abdômen até forçar todo
o ar para fora. Observação: com o tempo de prática, vá aumentando gradualmente o
tempo de cada fase de inspiração - retenção - expiração, e mantenha o ciclo de
maneira natural.
Bhramari-Pranayama: Sente em postura fácil e confortável com as pernas
cruzadas, mantenha a coluna e pescoço ereto. Faça uma inspiração profunda, e exale
todo o ar dos pulmões, concentre em contrair os músculos abdominais para expulsar
todo ar. Inale pelo do nariz fazendo um som de zunido, como uma abelha. Faça uma
retenção de segundos pelo tempo que se sentir confortável, mantenha a concentração
da energia vital do ar no plexo solar - Chakra Manipura. Faça uma exalação pelo nariz,
fazendo um som de zumbido. Observações: com o tempo de prática, vá aumentando
gradualmente o tempo de cada fase de inspiração - retenção - expiração, e mantenha
o ciclo de maneira natural. E, o zumbido é o som produzido pelo ar passando entre as
cordas vocais.
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3.5 PRATYAHARA, DHARANA, DHYANA, SAMADHI
O próximo anga é Pratyahara, sendo o quinto membro do Yoga, segundo
Patañjali. A palavra ahara significa ‘nutrição’ assim, pratyahara é afastar-se daquilo
que nutre os sentidos. Essa etapa funciona como um elo entre os aspectos externos
do yoga (Yama, Niyama, ásana e pránáyáma) e o interno (dháraná, dhyána e
samádhi).
Nessa fase, os sentidos do yogi devem ser sessados pelos estímulos externos,
para começar a observação total da mente pelo ser, “em pratyahara, é como se as
coisas estivessem espalhadas com todos os seus atrativos diante dos nossos
sentidos, mas fossem ignoradas (DESIKACHAR, p.172, 2018).
Dharana, é o sexto anga do Yoga-Sutra, onde o corpo passou pelo processo
dos ásana, a mente refinada pelo pranayama, os sentidos domados pelo pratyahara,
chega a concentração em um único ponto, mantendo a atenção em uma direção, “pois
a mente é um instrumento que classifica, julga e coordena as impressões do mundo
exterior, assim como as que surgem dentro do indivíduo por isso é preciso pacificar a
mente para atingir esse estado de completa absorção (IYENGAR, p.52, 2016) ”.
Dhyana é o sétimo anga do Yoga-Sutra e se refere a meditação, nesta etapa
de rigoroso técnica de concentração que vai se refinando com o tempo e desligando
dos sentidos, das coisas exteriores. O objetivo é de esvaziar a mente sem perder o
estado de alerta, diferente de pegar no sono, que faz o indivíduo chegar a um estado
letárgico, a meditação faz com que o yogi permaneça em um estado de alerta, esse é
o paradoxo da meditação, permanecer alerta, mas desligados dos estímulos e
sentidos, mas com a mente concentrada.
Samadhi é o oitavo e último anga do Yoga-Sutra, no fim desse caminho, no
ápice da meditação ele encontra o estado de Samadhi onde o corpo e os sentidos
estão em repouso, mas a mente encontra seu objeto de meditação e se funde com
ele, “no momento em que o samadhi ocorre, nada mais existe, nada nos separa do
objeto da nossa escolha, pelo contrário, nos misturamos e nos tornamos uma unidade
(DESIKACHAR, p. 174, 2018) ”.
Vemos na figura 4, representando uma metáfora aos Angas do Yoga-sutra de
Patañjali, onde a raiz da árvore do yoga é composta pelo ‘Yama’ os fundamentos
éticos: Ahimsa, Satya, Asteya, Brahmacharya, Aparigraha. O tronco são os 5
Niyamas, que controlam os sentidos: Saucha, Samtosha, Tapas, Svadhyaya, Isvara-
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pranidhana. Os ramos são compostos pelo ásanas, as folhas são o Pranayama, o
caule é o Pratyahara, que deixar passar a seiva e leva ao Dharana, este permite o
germinar das flores que são Dhyana, esse caminho leva aos frutos que é o Samadhi.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nessa obra-prima trouxe reflexões acerca das bases filosóficas para uma
prática de Hatha-Yoga, com apoio de algumas leituras e autores que tive acesso.
Nesse processo de escrever, pude observar o quão inesgotável são essas bases. Por
isso essa parte chama considerações finais, e não uma conclusão, pois não tenho
nenhuma pretensão de concluir e sim de abrir um caminho de leituras e reflexões.
Ainda hoje, ouvi uma reflexão que disse que algumas pessoas acham que o Yoga é
um processo de alienação, mas ao contrário, o Yoga deve abrir o nosso olhar para
viver um mundo melhor, menos desigual. Eu me questiono diariamente, como ser uma
yogi, onde eu, enquanto mulher, estou margeada de questões desiguais (gênero,
raça, sexualidade, classes sociais). Enquanto uma praticante ocidental de Yoga,
professora de yoga e de Sociologia pretendo empenhar os meus esforços para que
esse se torne um instrumento acessível a um número de pessoas que eu consiga
levar, através das ferramentas que disponho.
Como vimos, o Yoga é uma ferramenta tecnologia de autoconhecimento
milenar, e através de tantos séculos sobrevive, sendo modificado, aprimorado de
acordo com os mestres do seu tempo. Porque não agora uma nova geração,
baseados em textos sagrados, possam utilizar essa ferramenta de autoconhecimento,
para modificar parte do status-quo? Faço um questionamento de como tornar
acessível o Yoga a todas/os? Nessa minha proposta é tornar mais acessível os textos
filosóficos junto ao entendimento do que é Yoga, e o que fundamenta a prática do
Hatha-yoga, embora esse trabalho seja somente, uma pequena pincelada, uma
pequena consideração em minha visão limitada dentro da amplitude do que é o Yoga
e suas bases.
Lokah Samastah Sukhino Bhavantu
Shanti Shanti Shanti
Hari OM
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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