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CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA

PORTARIA Nº 1.004 DO DIA 17/08/2017

MATERIAL DIDÁTICO

DIREITOS FUNDAMENTAIS DO SER


HUMANO

0800 283 8380


www.faculdadeunica.com.br
SUMÁRIO

UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO ..................................................................................... 3


UNIDADE 2 – TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS .......................... 6
UNIDADE 3 – EVOLUÇÃO DAS DECLARAÇÕES DE DIREITOS –
FUNDAMENTOS HISTÓRICO-FILOSÓFICOS ........................................................ 16
UNIDADE 4 – DIGNIDADE E TRABALHO NA FILOSOFIA DO DIREITO............... 19
UNIDADE 5 – INTRODUÇÃO AO DIREITO SOCIAL .............................................. 25
UNIDADE 6 – AS FUNÇÕES E AS DIMENSÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS37
UNIDADE 7 – TRATADOS DECORRENTES DA CF/88 .......................................... 46
UNIDADE 8 – NOÇÕES DE SOCIOLOGIA DO TRABALHO E OS VALORES
SOCIAIS.................................................................................................................... 50
UNIDADE 9 – FILOSOFIA E PENSAMENTO JURÍDICO NA ATUALIDADE .......... 54
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 57

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
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UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO

Ao lado do Direito Previdenciário ou Seguridade Social, o Direito do Trabalho


corresponde à dimensão social mais significativa dos Direitos Humanos. É por meio
desses ramos jurídicos que os Direitos Humanos ganham maior espaço de
evolução, ultrapassando as fronteiras originais, vinculadas basicamente à dimensão
da liberdade e intangibilidade física e psíquica da pessoa humana.
O universo social, econômico e cultural dos Direitos Humanos passa, de
modo lógico e necessário, pelo ramo jurídico trabalhista, à medida que este regula a
principal modalidade de inserção dos indivíduos no sistema socioeconômico
capitalista, cumprindo o papel de lhes assegurar um patamar civilizado de direitos e
garantias jurídicas, que, regra geral, por sua própria força e/ou habilidade isoladas,
não alcançariam. A conquista e afirmação da dignidade da pessoa humana não mais
podem se restringir à sua liberdade e intangibilidade física e psíquica, envolvendo,
naturalmente, também a conquista e afirmação de sua individualidade no meio
econômico e social, com repercussões positivas conexas no plano cultural, o que se
faz, de maneira geral, considerando o conjunto mais amplo e diversificado das
pessoas, mediante o trabalho e, particularmente, o emprego, normatizado pelo
Direito do Trabalho (DELGADO, 2017).
Com este pensamento que reflete as relações existentes e permanentes
entre o Direito do Trabalho e Direitos Humanos iniciamos as reflexões que
subsidiarão a apostila em tela.
Uma vez que os direitos fundamentais são criados em um contexto histórico,
quando colocados na Constituição se tornam direitos fundamentais. Eles não
prescrevem, são permanentes; não podem ser renunciados de maneira alguma; são
invioláveis, ou seja, se desrespeitados provocam responsabilização civil, penal ou
administrativa. A universalidade é outra característica: são dirigidos a todo ser
humano independente de sua raça, credo, nacionalidade ou convicção política. Para
sua efetividade, evidentemente que o poder público deve atuar em prol de sua
garantia, usando, se necessário, meios coercitivos.
A proposta nesta apostila passa por lançar subsídios que levem a estimular
as reflexões em torno dos direitos do ser humano para que viva em sua plenitude,

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satisfeito, realizado, para que consiga viver com dignidade, respeitando o próximo e
a si mesmo.
Desejamos boa leitura e bons estudos, mas antes algumas observações se
fazem necessárias:
1) Ao final do módulo, encontram-se muitas referências utilizadas
efetivamente e outras somente consultadas, principalmente artigos retirados da
World Wide Web (www), conhecida popularmente como Internet, que devido ao
acesso facilitado na atualidade e até mesmo democrático, ajudam sobremaneira
para enriquecimentos, para sanar questionamentos que por ventura surjam ao longo
da leitura e, mais, para manterem-se atualizados.
2) Deixamos bem claro que esta composição não se trata de um artigo
original1, pelo contrário, é uma compilação do pensamento de vários estudiosos que
têm muito a contribuir para a ampliação dos nossos conhecimentos. Também
reforçamos que existem autores considerados clássicos que não podem ser
deixados de lado, apesar de parecer (pela data da publicação) que seus escritos
estão ultrapassados, afinal de contas, uma obra clássica é aquela capaz de
comunicar-se com o presente, mesmo que seu passado datável esteja separado
pela cronologia que lhe é exterior por milênios de distância.
3) Por uma questão ética, a empresa/instituto não defende posições
ideológico-partidária, priorizando o estímulo ao conhecimento e ao pensamento
crítico.
4) Sabemos que a escrita acadêmica tem como premissa ser científica, ou
seja, baseada em normas e padrões da academia, portanto, pedimos licença para
fugir um pouco às regras com o objetivo de nos aproximarmos de vocês e para que
os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos
científicos.
Por fim:
5) Deixaremos em nota de rodapé, sempre que necessário, o link para
consulta de documentos e legislação pertinente ao assunto, visto que esta última
está em constante atualização. Caso esteja com material digital, basta dar um Ctrl +

1
Trabalho inédito de opinião ou pesquisa que nunca foi publicado em revista, anais de congresso ou
similares.
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clique que chegará ao documento original e ali encontrará possíveis leis


complementares e/ou outras informações atualizadas. Caso esteja com material
impresso e tendo acesso à Internet, basta digitar o link e chegará ao mesmo local.

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UNIDADE 2 – TEORIA GERAL DOS DIREITOS


FUNDAMENTAIS

O primeiro passo para estudarmos os Direitos Fundamentais incide


necessariamente na definição de seu conceito e esclarecimento de confusões que
se fazem entre direitos fundamentais e direitos humanos, uma vez que vários
autores fundem essa terminologia, sustentando a sua sinonímia.
Grosso modo, os direitos do homem são os direitos naturais, intrínsecos ao
homem e reconhecidos em documentos internacionais, já os direitos fundamentais
tem a marca da positivação, isto é, é um direito reconhecido pelo sistema.
UADI LAMÊGO BULOS (s.d. apud ABREU, 2010) afirma que os direitos
humanos além de fundamentais são inatos, absolutos, invioláveis, intransferíveis,
irrenunciáveis e imprescritíveis, porque participam de um contexto histórico,
perfeitamente delimitado. Não surgiram à margem da história, porém, em
decorrência dela, ou melhor, em decorrência dos reclamos da igualdade,
fraternidade e liberdade entre os homens. Homens não no sentido de sexo
masculino, mas no sentido de pessoas humanas. Os direitos fundamentais do
homem, nascem, morrem e extinguem-se. Não são obra da natureza, mas das
necessidades humanas, ampliando-se ou limitando-se a depender do influxo do fato
social cambiante.
A expressão “direitos fundamentais” é empregada principalmente pelos
autores alemães, na esteira da Constituição de Bonn, que dedicava o capítulo inicial
aos Grundrechte, ou seja, exatamente direitos fundamentais (TORRES, 2006).
Até a Emenda Constitucional n° 1/1969, o Brasil adotava a expressão
“direitos individuais”, conforme se infere do seu artigo 153 (Capítulo IV – Dos
Direitos e Garantias Individuais), como sinônimo da moderna denominação de
“direitos fundamentais”. Naquela época vingava a influência dos albores do
liberalismo, e a sua visão eminentemente individualista, que não distinguia as
liberdades coletivas e não conhecia a definição de pessoa.
RICARDO LUIS LORENZETTI (1998, p. 151) afirma que a expressão
“direitos fundamentais” é a mais apropriada porque não exclui outros sujeitos que
não sejam o homem e também porque se refere àqueles direitos que são fundantes
do ordenamento jurídico e evita uma generalização prejudicial.
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INGO WOLFGANG SARLET (2015a) apresenta um traço de distinção, ainda


que de cunho predominantemente didático, entre as expressões “direitos do
homem”, “direitos humanos” e “direitos fundamentais”, sendo a primeira de cunho
jusnaturalista, ainda não positivados; a segunda relacionado à positivação no direito
internacional; e, a terceira, como direitos reconhecidos ou outorgados e protegidos
pelo direito constitucional interno de cada Estado.
Segundo o doutrinador PÉREZ-LUÑO (1998 apud BELLINHO, 2010), os
direitos fundamentais e os direitos humanos não se diferem apenas pelas suas
abrangências geográficas, mas também pelo grau de concretização positiva que
possuem, ou seja, pelo grau de concretização normativa. Os direitos fundamentais
estão duplamente positivados, pois atuam no âmbito interno e no âmbito externo,
possuindo maior grau de concretização positiva, enquanto que os direitos humanos
estão positivados apenas no âmbito externo, caracterizando um menor grau de
concretização positiva.
FÁBIO FREITAS MINARDI (2008) afirma que o direito fundamental decorre
de um processo legislativo interno de um determinado país, que eleva à positivação,
sendo então um direito outorgado e/ou reconhecido. Já os direitos humanos
possuem caráter supralegal, desvinculados a qualquer legislação escrita ou tratado
internacional, pois preexiste a eles.
SIDNEY GUERRA (2007, p. 265) explica que a partir da Declaração dos
Direitos Humanos, adotada em 10 de dezembro de 1948, confirmou-se a ideia de
que os direitos humanos extrapolam o domínio reservado dos Estados, invalidando o
recurso abusivo ao conceito de soberania para encobrir violações, ou seja, os
direitos humanos não mais matéria exclusiva das jurisdições nacionais.
Assim sendo, a positivação dos direitos humanos, dando origem aos direitos
fundamentais, é a nítida amostra da consciência de um determinado povo de que
certos direitos do homem são de tal relevância que o seu desrespeito inviabilizaria a
sua própria existência do Estado. Aliás, ninguém mais nega, hoje, que a vigência de
direitos humanos independe do seu reconhecimento constitucional, ou seja, de sua
consagração no direito positivo estatal como direitos fundamentais (COMPARATO,
2015).

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No Brasil, os direitos fundamentais estão preconizados no Título II da


CRFB/88, sendo que o constituinte considerou ilegítima qualquer proposta tendente
a aboli-los, artigo 60, § 4º, IV da Constituição (as chamadas cláusulas pétreas)
(MINARDI, 2008).
Os direitos fundamentais se aplicam tanto às pessoas físicas quanto as
pessoas jurídicas. Na primeira situação são titulares: a) brasileiros natos; b)
brasileiros naturalizados; c) estrangeiros residentes no Brasil; d) estrangeiros em
trânsito pelo território nacional; e) qualquer pessoa que seja alcançada pela lei
brasileira (pelo ordenamento jurídico brasileiro).
É preciso, porém, fazer uma ressalva: existem determinados direitos
fundamentais cuja titularidade é restringida pelo próprio Poder Constituinte. Por
exemplo:
1º. existem direitos que se direcionam apenas a quem esteja pelo menos em
trânsito pelo território nacional (garantias contra a prisão arbitrária);
2º. outros direcionam-se apenas aos brasileiros, sejam natos ou naturalizados
(direito à nacionalidade, direitos políticos); e,
3º. outros são destinados apenas aos brasileiros natos (direito à não extradição,
direito de ocupar determinados cargos públicos).
Pode-se dizer que existe, então, uma verdadeira gradação na ordem
enumerada anteriormente: os brasileiros natos possuem mais direitos que os
brasileiros naturalizados que possuem mais direitos que os estrangeiros residentes,
etc. (CAVALCANTE FILHO, 2010).
Os direitos fundamentais também se aplicam às pessoas jurídicas (inclusive
as de Direito Público), desde que sejam compatíveis com a natureza delas2.
Assim, por exemplo, pessoas jurídicas têm direito ao devido processo legal,
mas não à liberdade de locomoção, ou à integridade física.

2 É a posição da doutrina e da jurisprudência majoritárias. Há, contudo, discordâncias. Dimoulis e


Martins consideram que as pessoas jurídicas só são titulares de direitos fundamentais nos casos
explicitados na Constituição (principalmente art. 5º, XVII a XXI). Cf. DIMOULIS, Dimitri; MARTINS,
Leonardo. Teoria Geral dos Direitos Fundamentais, p. 63. São Paulo: RT, 2007.
É também o que se vê no Direito Comparado. Por exemplo, o art. 19, 3, da GG (Lei Fundamental
Alemã), dispõe que “Os direitos fundamentais também se aplicam as pessoas coletivas nacionais
quando a sua natureza o permita”. Da mesma forma, o art. 12º, 2, da Constituição Portuguesa,
dispõe: “As pessoas coletivas gozam dos direitos e estão sujeitas aos deveres compatíveis com a sua
natureza”. (CAVALCANTE FILHO, 2010).
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A doutrina reluta em atribuir às pessoas jurídicas (empresas, associações,


etc.) direito à vida; com razão, prefere-se falar em “direito à existência”. Todavia, em
concursos públicos, o CESPE/UnB (ver STJ/Técnico Judiciário / Área
Administrativa/2004) já deu como correta questão que afirmava terem as pessoas
jurídicas direito à vida.
Por outro lado, é pacífico que pessoas jurídicas não possuem direito à
liberdade de locomoção. Justamente por isso é que em favor delas não se pode
impetrar habeas corpus (pois esse é um remédio constitucional que protege apenas
a liberdade de locomoção: art. 5º, LXVIII) (CAVALCANTE FILHO, 2010).
Nesse sentido, STF, HC 92.921/BA, 1ª Turma, Relator Ministro Ricardo
Lewandowski, DJe de 25.09.2008. A ementa do acórdão dá a entender que o HC
teria sido concedido, mas a leitura do inteiro teor revela:

A Turma, preliminarmente, por maioria de votos, deliberou quanto a


exclusão da pessoa jurídica do presente habeas corpus, quer considerada a
qualificação como impetrante, quer como paciente; vencido o Ministro
Ricardo Lewandowski, Relator.

A jurisprudência considera que as pessoas jurídicas (empresas,


associações, partidos políticos, etc.) podem pleitear indenização por danos morais:
“A pessoa jurídica pode sofrer dano moral” (STJ, Súmula nº 227)3.
Segundo entendemos, as pessoas jurídicas podem também ser vítimas de
crimes contra a honra, exceto injúria. Com efeito, calúnia e difamação atingem a
honra objetiva (como a pessoa é vista pelos outros), o que é compatível com a
situação das pessoas jurídicas. Apenas a injúria, que atinge a honra subjetiva (a
autoimagem da pessoa) é impossível de ser perpetrada contra pessoa de existência
meramente jurídica.
Todavia, essa não é a posição dos tribunais. O STJ considera que as
pessoas jurídicas não podem ser consideradas sujeito passivo de nenhum crime
contra a honra4.
Já no STF há um precedente segundo o qual a pessoa jurídica “pode ser
vítima de difamação, mas não de injúria e calúnia”5.

3 Questão de concurso: Cespe/TRE-MT/Técnico/2010: “O dano moral, que atinge a esfera íntima da


vítima, agredindo seus valores, humilhando e causando dor, não recai sobre pessoa jurídica”.
4
STJ, Quinta Turma, HC 42.781/SP, Relator Ministro Arnaldo Esteves Lima, DJ de 05.12.2005.
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É de se relevar, ainda, que mesmo as pessoas jurídicas de direito público


podem ser titulares de direitos fundamentais. Tal afirmação não deixa de ser
peculiar: se os direitos fundamentais surgiram para defender o cidadão contra o
Estado, como justificar que uma pessoa jurídica de direito público (isto é, integrante
do próprio Estado) possa ter direitos fundamentais?
JOÃO TRINDADE CAVALCANTE FILHO (2010) explica de maneira bem
simples: com o agigantamento da Administração Pública, os órgãos e entidades
passaram a atuar de forma autônoma uns dos outros, o que pode ensejar conflitos
de interesses, quando surge a necessidade de garantir direitos básicos. Vide o
exemplo de um órgão que impetre mandado de segurança em defesa das próprias
prerrogativas.
Em resumo, podemos dizer que as pessoas jurídicas (inclusive as de direito
público) são titulares dos direitos fundamentais compatíveis com a sua natureza.

As gerações dos direitos fundamentais


Os Direitos Fundamentais visam assegurar a todos uma existência digna,
livre e igual, criando condições à plena realização das potencialidades do ser
humano (BIANCO, 2006).
Se tomarmos emprestadas as palavras de Alexandre de Moraes (2013),
temos como definição que os Direitos Fundamentais são um conjunto
institucionalizado de direitos e garantias do ser humano que tem por finalidade
básica o respeito a sua dignidade, por meio de sua proteção contra o arbítrio do
poder estatal e o estabelecimento de condições mínimas de vida e desenvolvimento
da personalidade humana.
Por serem indispensáveis à existência das pessoas, possuem as seguintes
características, as quais já foram citadas na introdução: são intransferíveis e
inegociáveis, portanto inalienáveis; não deixam de ser exigíveis em razão do não
uso, portanto, são imprescritíveis; nenhum ser humano pode abrir mão da existência
desses direitos, ou seja, são irrenunciáveis; devem ser respeitados e reconhecidos
no mundo todo, o que representa a sua universalidade e, por fim, não são absolutos,

5
STF, Primeira Turma, RHC 83.091/DF, Relator Ministro Marco Aurélio, DJ de 26.09.2003.
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podem ser limitados sempre que houver uma hipótese de colisão de direitos
fundamentais que significa a sua limitabilidade.
É importante salientar que esses direitos são variáveis, modificando-se ao
longo da história de acordo com as necessidades e interesses do homem. Essa
transformação é explicada com base na teoria das gerações de direitos
fundamentais, criada a partir do lema revolucionário francês (liberdade, igualdade,
fraternidade) (BIANCO, 2006).
Segundo JOÃO TRINDADE CAVALCANTE FILHO (2010), trata-se de uma
classificação que leva em conta a cronologia em que os direitos foram
paulatinamente conquistados pela humanidade e a natureza de que se revestem.
Importante ressaltar que uma geração não substitui a outra, antes se acrescenta a
ela, por isso a doutrina prefere a denominação “dimensões”.
a) Os direitos da primeira geração ou primeira dimensão inspirados nas
doutrinas iluministas e jusnaturalistas dos séculos XVII e XVIII (individuais ou
negativos): seriam os Direitos da Liberdade, liberdades estas religiosas, políticas,
civis clássicas como o direito à vida, à segurança, à propriedade, à igualdade formal
(perante a lei), as liberdades de expressão coletiva, etc. São os primeiros direitos a
constarem do instrumento normativo constitucional, a saber, os direitos civis e
políticos. Os direitos de liberdade têm por titular o indivíduo, traduzem-se como
faculdades ou atributos da pessoa e ostentam uma subjetividade que é seu traço
mais característico, sendo, portanto, os direitos de resistência ou de oposição
perante o Estado, ou seja, limitam a ação do Estado.
Foram os primeiros a ser conquistados pela humanidade e se relacionam à
luta pela liberdade e segurança diante do Estado. Por isso, caracterizam-se por
conterem uma proibição ao Estado de abuso do poder: o Estado NÃO PODE
desrespeitar a liberdade de religião, nem a vida etc. Trata-se de impor ao Estado
obrigações de não fazer.
São direitos relacionados às pessoas, individualmente. Ex.: propriedade,
igualdade formal (perante a lei), liberdade de crença, de manifestação de
pensamento, direito à vida etc.
b) Segunda geração ou segunda dimensão (sociais, econômicos e culturais,
direitos positivos): seriam os Direitos da Igualdade, no qual estão à proteção do

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trabalho contra o desemprego, direito à educação contra o analfabetismo, direito à


saúde, cultura, etc. Essa geração dominou o século XX, são os direitos sociais,
culturais, econômicos e os direitos coletivos. São direitos objetivos, pois conduzem
os indivíduos sem condições de ascender aos conteúdos dos direitos através de
mecanismos e da intervenção do Estado. Pedem a igualdade material, através da
intervenção positiva do Estado, para sua concretização. Vinculam-se às chamadas
“liberdades positivas”, exigindo uma conduta positiva do Estado, pela busca do bem-
estar social (MORAES, 2013; BONAVIDES, 2016).
São direitos sociais os de segunda geração, assim entendidos os direitos de
grupos sociais menos favorecidos, e que impõem ao Estado uma obrigação de
fazer, de prestar (direitos positivos, como saúde, educação, moradia, segurança
pública e, agora, com a EC nº 64/10, também a alimentação).
Baseiam-se na noção de igualdade material (= redução de desigualdades),
no pressuposto de que não adianta possuir liberdade sem as condições mínimas
(educação, saúde) para exercê-la. Começaram a ser conquistados após a
Revolução Industrial, quando grupos de trabalhadores passaram a lutar pela
categoria.
c) Terceira geração ou terceira dimensão (difusos e coletivos) que foram
desenvolvidos no século XX: seriam os Direitos da Fraternidade, no qual está o
direito a um meio ambiente equilibrado, uma saudável qualidade de vida, progresso,
etc. Essa geração é dotada de um alto teor de humanismo e universalidade, pois
não se destinavam somente à proteção dos interesses dos indivíduos, de um grupo
ou de um momento. Refletiam sobre os temas referentes ao desenvolvimento, à paz,
ao meio ambiente, à comunicação e ao patrimônio comum da humanidade
(BONAVIDES, 2016).
São direitos transindividuais, isto é, direitos que são de várias pessoas, mas
não pertencem a ninguém isoladamente. Transcendem o indivíduo isoladamente
considerado. São também conhecidos como direitos metaindividuais (estão além do
indivíduo) ou supraindividuais (estão acima do indivíduo isoladamente considerado).
Os chamados direitos de terceira geração têm origem na revolução técnico-
científica (terceira revolução industrial), a revolução dos meios de comunicação e de
transportes, que tornaram a humanidade conectada em valores compartilhados. A

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humanidade passou a perceber que, na sociedade de massa, há determinados


direitos que pertencem a grupos de pessoas, grupos esses, às vezes,
absolutamente indeterminados.
Os direitos difusos são direitos de todos, mas que não pertencem a ninguém
isoladamente. São de grupos cuja titularidade é absolutamente indeterminada. Ex.:
direitos dos consumidores contra a propaganda abusiva (atinge a todos, mesmo que
não tenham uma ligação jurídica uns com os outros).
Já os direitos coletivos em sentido estrito são direitos de grupos
determinados, que não pertencem a nenhum membro isoladamente, mas ao grupo
como todo. Ex.: direito da classe dos advogados de participar dos tribunais por meio
do “quinto constitucional” (art. 94 da CF): trata-se de um direito de uma classe
determinada (advogados), que não pertence a nenhum advogado específico, mas ao
grupo (CAVALCANTE FILHO, 2010, p. 13).
d) Quarta geração ou quarta dimensão, que surgiu dentro da última década
por causa do avançado grau de desenvolvimento tecnológico: seriam os Direitos da
Responsabilidade, tais como a promoção e manutenção da paz, à democracia, à
informação, à autodeterminação dos povos, promoção da ética da vida defendida
pela bioética, direitos difusos, direito ao pluralismo, etc. A globalização política na
esfera da normatividade jurídica foi quem introduziu os direitos desta quarta
geração, que correspondem à derradeira fase de institucionalização do Estado
social. Está ligada a pesquisa genética, com a necessidade de impor um controle na
manipulação do genótipo dos seres, especialmente o homem.
JOÃO TRINDADE CAVALCANTE FILHO (2010) pondera que há autores
que se referem a essa categoria, mas ainda não há consenso na doutrina sobre qual
o conteúdo desse tipo de direitos. Há quem diga tratarem-se dos direitos de
engenharia genética (é a posição de Norberto Bobbio6), enquanto outros os referem
à luta pela participação democrática (corrente defendida por Paulo Bonavides).
Segundo FERNANDA SILVA BIANCO (2006), essa quarta geração de
direitos foi criada pelo professor Paulo Bonavides, para quem pode ser traduzida
como o resultado da globalização dos direitos fundamentais de forma a torná-los

6
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
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universais no campo institucional. Enquadram-se aqui o direito à informação, ao


pluralismo e à democracia direta.
As três gerações que exprimem os ideais de Liberdade (direitos individuais e
políticos), Igualdade (direitos sociais, econômicos e culturais) e Fraternidade (direitos
da solidariedade internacional), compõem atualmente os Direitos Fundamentais.
Na atualidade, os Direitos Fundamentais são reconhecidos mundialmente,
por meio de pactos, tratados, declarações e outros instrumentos de caráter
internacional. Esses Direitos fundamentais nascem com o indivíduo. E por essa
razão, a Declaração Universal dos Direitos do Homem (ONU, 1948), diz que os
direitos são proclamados, ou seja, eles preexistem a todas as instituições políticas e
sociais, não podendo ser retirados ou restringidos pelas instituições governamentais,
que por outro lado devem proteger tais direitos de qualquer ofensa (SILVA, 2006).

Fundamentos filosófico-jurídicos
É preciso estudar quais os fundamentos dos direitos fundamentais, ou seja,
quais os princípios jurídicos básicos que justificam logicamente a existência dos
direitos fundamentais.
Podemos apontar, basicamente, dois princípios que servem de esteio lógico
à Idea de direitos fundamentais: o Estado de Direito e a dignidade humana.
Quanto à dignidade humana, trata-se de um princípio aberto, ou seja, muito
resumidamente ele trata de reconhecer a todos os seres humanos, pelo simples fato
de serem humanos, alguns direitos básicos – justamente os direitos fundamentais.
Embora não se trate de unanimidade, a doutrina majoritária concorda que os
direitos fundamentais “nascem” da dignidade humana. Dessa forma, haveria um
tronco comum do qual derivam todos os direitos fundamentais.
Essa é a posição da maioria da doutrina brasileira (é o caso, por exemplo,
de Ingo Wolfgang Sarlet, Paulo Gustavo Gonet Branco, Paulo Bonavides e Dirley da
Cunha Jr.). Há que se registrar, porém, a crítica de José Joaquim Gomes Canotilho,
para quem reduzir o fundamento dos direitos fundamentais à dignidade humana é
restringir suas possibilidades de conteúdo (CAVALCANTE FILHO, 2010).

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É certo que o conceito de dignidade humana é aberto, isto é, não admite um


único conceito concreto e específico. Vários filósofos já tentaram defini-la, nem
sempre com sucesso.
O conceito de Estado de Direito (CF, art. 1º, caput) pode ser entendido, em
poucas palavras, como o Estado de poderes limitados, por oposição ao chamado
Estado Absoluto (em que o poder do soberano era ilimitado).
Direito abrange três características: a) submissão (dos governantes e dos
cidadãos) ao império da lei; b) separação de poderes; c) garantia dos direitos
fundamentais (SILVA, 2006, p. 113).
É certo que, hoje, fala-se mais em submissão à Constituição, antes mesmo
da submissão à lei, com o que ganha corpo o conceito de Estado Constitucional de
Direito. Mesmo assim, logo se vê que o conceito de Estado de Direito traz como
consequência lógica a existência (e garantia) dos direitos fundamentais.
É por isso mesmo que JOSÉ AFONSO DA SILVA (2016) assevera que a
concepção liberal do Estado de Direito servirá de apoio aos direitos do homem,
convertendo súditos em cidadãos livres.

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UNIDADE 3 – EVOLUÇÃO DAS DECLARAÇÕES DE


DIREITOS – FUNDAMENTOS HISTÓRICO-FILOSÓFICOS

Segundo INGRID ZANELLA ANDRADE CAMPOS (2008), os direitos


humanos nasceram da necessidade dos cidadãos em serem titulares de certos
direitos em relação a seu Estado soberano e, posteriormente, em relação à
sociedade internacional. Desenvolveram-se sempre com as necessidades impostas
pelos indivíduos em determinadas épocas com o intuito de resguardar a dignidade
humana, concebida como fundamento dos direitos humanos.
Existe uma gama de autores, como Fábio Konder Comparato, João Baptista
Herkenhoff, dentre outros defensores de que o fato de não existirem freios ao Poder,
não quer dizer que não existiram as ideias, que sustentam que os direitos
fundamentais perfazem um longo caminho histórico, tendo posições que acreditam
ser de meados de 2000 a.C., as primeiras manifestações, no direito da Babilônia,
outras posições os reconhecem na Grécia Antiga e na Roma Republicana. Estas
opiniões carecem de fundamentos históricos.
INGO WOLFGANG SARLET (2015a) entende como pacífico que os direitos
fundamentais não surgiram na antiguidade, porém é notória a influência do mundo
antigo nos direitos fundamentais por meio da religião e da filosofia, que colaboraram
na concepção jusnaturalista de que o ser humano, pelo simples fato de existir, já é
detentor de direitos fundamentais; esta fase costuma ser denominada pela doutrina
como “pré-história” dos direitos fundamentais.
O Código de Hamurabi, primeiro que se tem notícias, defendia a vida e o
direito de propriedade, e contemplava a honra, a dignidade, a família e a supremacia
das leis em relação aos governantes. Esse código contém dispositivos que
continuam aceitos até hoje, tais como a Teoria da Imprevisão, que fundava-se no
princípio de talião: olho por olho, dente por dente. Depois deste primeiro código,
instituições sociais (religião e a democracia) contribuíram para humanizar os
sistemas legais (SILVA, 2006).
Karl Loewenstein (s.d apud CAVALCANTE FILHO, 2010) considera que a
primeira Constituição teria surgido ainda na sociedade hebraica, com a instituição da
“Lei de Deus” (Torah). O autor alemão aponta que, já naquele Estado Teocrático, a

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“Lei de Deus” limitava o poder dos governantes (chamados, naquela época, de


“Juízes”).
Igual posição é entendida por ANDRÉ RAMOS TAVARES (2016) ao inferir
que

na antiguidade, os hebreus já possuíam um Estado teocrático limitado pela


Torah. Os Juízes (como eram chamados os governantes) tinham que seguir
as disposições da Torah (Lei de Deus). É nesse sentido que o autor alemão
vê, nesse caso, um prelúdio do Constitucionalismo.

Na Grécia, já se fazia a distinção entre as normas fundamentais da


sociedade (nomoi) e as meras regras (psefismata). Naquela civilização, a
modificação de psefismata poderia ser feita de forma mais simples do que a
alteração das normas fundamentais (nomos). Guardadas as devidas proporções,
seriam institutos parecidos com a lei ordinária e as emendas constitucionais,
atualmente. Também podemos citar, na Antiguidade, a Lei das XII Tábuas, aprovada
em Roma, assegurando direitos conquistados pelos plebeus, fixados em leis
escritas.
Pérez Luño (1995 apud SARLET, 2015a) chama de antecedentes dos
direitos fundamentais, os documentos que, de alguma forma, colaboraram para a
elaboração das primeiras ideias dos direitos humanos presentes nas declarações do
século XVIII, talvez o principal documento a ser referenciado seja a Magna Charta
Libertatum, assinada na Inglaterra, em 1215, pelo Rei João Sem-Terra. Cabe
ressaltar que esse pacto não passou de mero referencial para as futuras
elaborações dos direitos humanos, pois, neste pacto, apenas os nobres receberam
prerrogativas, deixando a população em segundo plano, ou seja, na verdade, foi um
documento imposto ao Rei pelos barões feudais ingleses.
Já Carl Schmitt (1928 apud CAVALCANTE FILHO, 2010) defende que a
Magna Charta não pode ser considerada a primeira Constituição, pois não era
direcionada para todos, mas apenas para a elite formada por barões feudais. Dessa
forma, a primeira Constituição propriamente dita seria o Bill of Rights (Inglaterra,
1688/1689), que previa direitos para todos os cidadãos, e não apenas uma classe
deles.

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Assim, em pleno século XVIII, que se pode encontrar a primeira aparição de


reais direitos fundamentais, apesar do dissídio levantado INGO WOLFGANG
SARLET (2015a) diante da “paternidade” dos direitos fundamentais, que seria
disputada entre a Declaração de Direitos do povo da Virgínea, de 1776, a
Constituição Americana de 1787 (primeira constituição escrita) e a Declaração
Francesa, de 1789, estas declarações seriam os primeiros documentos a
representar os direitos fundamentais.
Já para PAULO BONAVIDES (2016), é neste sentido que a Revolução
Francesa, fixando direitos civis e políticos para que gradativamente fossem
alcançados os princípios universais do lema “liberdade, igualdade e fraternidade”,
fora a grande precursora dos direitos fundamentais caracterizados através da
posição de resistência ou de oposição frente ao Estado.
Para HAMILTON PESSOTA NICOLAO (2010), não tem sustentação
defender a existência de direitos fundamentais antes mesmo da existência de um
estado social. Percebe-se que apenas com a promulgação das declarações, pode-
se identificar a presença do que seria o início dos direitos fundamentais.
JOÃO TRINDADE CAVALCANTE FILHO (2010) também entende que há
várias correntes que divergem, sobre quando teria se manifestado pela primeira vez
a limitação do poder do Estado por meio de uma Constituição ou de algo a ela
assemelhado.
Atualmente, o movimento constitucionalista passou a lutar por vários outros
objetivos (democracia efetiva, desenvolvimento econômico e ambiental, etc.). Mas,
mesmo assim, não perdeu de vista a defesa dos direitos fundamentais, que continua
sendo uma de suas matérias básicas.

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UNIDADE 4 – DIGNIDADE E TRABALHO NA FILOSOFIA DO


DIREITO

A dignidade do trabalho humano é um direito fundamental de segunda


dimensão, positivado na Constituição Federal de 1988, ou seja, elemento integrador
do projeto constitucional brasileiro como uma norma-princípio fundamentada pelo
valor dignidade humana, que representa uma conquista histórica da humanidade
(COLNAGO, 2007).
Nesse mister, a sua concretização é de fundamental importância para o
ordenamento jurídico pátrio, tendo em vista que a sua recusa constitui grave
violação ao projeto constitucional brasileiro. Portanto, a sua concretização deve ser
feita com absoluta prevalência sobre as demais normas que regulamentam a relação
jurídico-laboral, tendo em vista que o princípio da dignidade do trabalho humano é
fundamentado pelo valor: dignidade humana – tutela do respeito à integridade
humana nas suas mais diversas e complexas dimensões –, o que propiciará um
maior acesso à justiça, em seu sentido integral, ou seja, sinônimo de justiça social
(LEITE, 2016), o que demonstra um caráter mais consentâneo com os direitos
fundamentais e com o escopo jurídico, político e social do processo.
Optamos neste momento por deixar a filosofia nos envolver por completo
para que consigamos chegar ao cerne da questão da dignidade humana e suas
relações com o trabalho.
Se tomarmos emprestado de AURÉLIO BUARQUE DE HOLANDA
FERREIRA (2004) o significado lato para filosofia, veremos que é um estudo que se
caracteriza pela intenção de ampliar incessantemente a compreensão da realidade,
no sentido de apreendê-la na sua totalidade, quer pela busca da realidade capaz de
abranger todas as outras, o Ser (ora ‘realidade suprema’, ora ‘causa primeira’, ora
‘fim último’, ora ‘absoluto’, ‘espírito’, ‘matéria’, etc.), quer pela definição do
instrumento capaz de apreender a realidade, o pensamento (as respostas às
perguntas: que é a razão? o conhecimento? a consciência? a reflexão? que é
explicar? provar? que é uma causa? um fundamento? uma lei? um princípio? etc.),
tornando-se o homem tema inevitável de consideração.
No entendimento de ELISEU RAPHAEL VENTURI (2011), do qual trazemos
a quase totalidade de seu artigo intitulado “Dignidade da pessoa humana,
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antropologia filosófica e direito positivo”, o significado imediato do termo dignidade


(merecimento, valor, nobreza, respeito por si mesmo, amor próprio, decência)
aponta sentidos que a palavra dignidade comporta na linguagem comum, e ajuda a
se ter uma imagem muito desfocada dos objetos reais em relações humanas e
sociais a que se refere e qualifica.
A mais precisa definição da dignidade e sua contextualização nos campos
do saber é um árduo trabalho, e ética e direito, principalmente, são convocados para
esta missão de tornar palpável um conceito tão vibrante, rico e necessário.
Dignidade nesse campo é um conceito que envolve valor, apreço,
reconhecimento; que aparentemente implica juízo de merecimento a partir de uma
conjuntura de situações, e que termina em um reconhecimento universal; mas, mais
importante do que isso, um marco civilizatório, uma passagem e irreversível
assentamento de mentalidade (VENTURI, 2011).
Como estamos no campo do direito, este enquanto ciência e instituição tem
o poder de conferir as dimensões de identificação e tutela desta característica
humana, que mais do que um qualificativo, consolidou-se enquanto elemento ôntico
indeclinável. Tanto assim que, como magistralmente INGO WOLFGANG SARLET
(2015b) entende que “o objeto dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais
representa um casamento feliz – mas nem por isto imune a crises e tensões”.
Do estudo da argumentação empregada pelo autor avulta-se o objetivo
reflexivo-filosófico da perquirição do assunto e que culmina nos recortes do direito
positivo.
Da natureza do problema, pois, tem-se que a antropologia filosófica, tão bem
investigada por autores como Bernard Groethyusen (s.d apud PENNA, 2004) e
JULÍAN MARÍAS (1971; 1975), apresenta-se enquanto campo de pensamento
pertinente para se ver alguns caminhos e significados da experiência humana e,
então, formular pontos de contato com a teoria jurídica, donde se pode formular
visão de mundo que contribua para a consecução dos fins do ordenamento jurídico
enquanto instância protetiva.
A antropologia filosófica representa abordagem teórica em que o homem é
objeto de um estudo, mas não de um estudo etnográfico ou de uma sociedade

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especificamente considerada em seus fundamentos e relações, nem tampouco sob


o ponto de vista das ciências humanas ou sociais (VENTURI, 2011).
Trata-se de um corpo difuso de conhecimentos dispersos nas especulações
filosóficas e que, assim, coadunam explicações, inferências e possibilidades
cognitivas e interpretativas da vida e da existência humanas.
Pode-se afirmar que a antropologia filosófica fornece cenário, ambiente,
clima de pré-compreensão favorável ao complexo conceito jurídico do princípio da
dignidade da pessoa humana, e é tendo em vista esta utilidade teórica, da qual
podem advir facilidades compreensivas, que se firma a hipótese central da
pertinência à cognição jurídica das relações humanas. Progressivamente, portanto,
adentra-se aos meandros do direito positivo.
Na obra de INGO WOLFGANG SARLET “Dignidade da pessoa humana e
direitos fundamentais” (2015b), observamos esta pertinência temática e
metodológica quando ele demonstra larga discussão a partir do clássico filósofo
alemão Max Scheler, dentre outros.
Com forte premissa da antropologia filosófica, o jurista brasileiro estabiliza o
conteúdo e o significado da noção de dignidade da pessoa humana tanto no
desenrolar do pensamento ocidental quanto em seus delineamentos propriamente
jurídico-constitucionais, assim como verifica as características da dignidade da
pessoa humana enquanto norma (nas modalidades de princípio e de valor)
fundamental no ordenamento jurídico brasileiro. Por fim, traça pontos de contato dos
direitos fundamentais com a dignidade da pessoa humana.
Dessa leitura, pode-se estender a discussão para visualizar o quanto a
“dignidade da pessoa humana” tem sido conceito aplaudido e atacado; noção a que
se tem apegado desmedidamente ou cujo potencial se tem esvaído pela descrença
de uma fixação de seu conteúdo mais especializado; locução que se tem barateado
de boa ou de má-fé no cotidiano comunicativo (VENTURI, 2011).
O erro em se condenar aprioristicamente o princípio, e, ademais, o estado a
que anima, de espírito e de disposição para apreender e compreender o mundo e o
outro, é o de se prescindir de profunda conquista civilizacional que, se não teve, por
ora, o poder de tudo mudar e adequar aos seus mais nobres pressupostos, ao
menos (o que já parece suficiente para sua valoração positiva) apresenta imenso

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potencial para adequar condutas, procedimentos e trocas sociais em face de seu


complexo finalístico e protetivo (VENTURI, 2011).
O reconhecimento, a defesa e a séria adesão ao “princípio da dignidade da
pessoa humana” em muito têm a contribuir com o desenho da realidade por meio
dos eixos ínsitos ao parâmetro, eis que a locução comporta uma série de
significados coerentes entre si enquanto percepção de mundo: pressupostos
cognitivos e disposição de atitudes.
ELISEU RAPHAEL VENTURI (2011) analisa e reflete de maneira bem clara
e suave que cada pessoa que se desenvolve e, ao longo da existência própria
escreve sua vida, não começa com um destino predeterminado. Nenhum homem
nasce esmiuçado em manual e, por isso mesmo, é homem. As pessoas não têm um
conceito claro de si mesmas, não são um texto encerrado e definitivo e, nem por
isso, perdem a crença em suas vidas. E nem por isso os conteúdos de suas
definições são arbitrários ou inválidos por não apresentarem uma clareza
instantânea.
Os laços mais profundos de tradição social, de constituição da
personalidade, de domínio linguístico, permitem às pessoas a identificação de
indícios dos conteúdos que lhes são coerentes, acessíveis, realizáveis.
Além dessas diretrizes, o caminho se perfaz com surpresas, com acasos,
com entrechoques típicos dos sistemas complexos. Mesmo assim, as pessoas não
perdem a fé, a crença, e a disposição para suas vidas – na maior parte das vezes;
aliás, esse lapso de incerteza pode servir mesmo como motivação, como
expectativa, como sabor da vida.
O mesmo raciocínio vale para a dignidade da pessoa humana. Se o seu
conteúdo não é abarcável em um conceito reproduzível em duas ou três linhas, se o
seu uso semântico pode ser apontado como instável, se quiser discorrer sobre as
maravilhas e as atrocidades cometidas sob o seu pálio de forma linguística aberta;
fato é que – se as palavras podem assumir imensa polissemia, e as locuções ainda
mais, quando qualificadas – nem por isso se necessitará dispensar a forma, eis que
ela só tem sido um instrumento de muitos usos.
O trabalho de contemporaneizar essa grande forma da “dignidade da pessoa
humana”, apontando-a para as necessidades e demandas de hoje, os pleitos sociais

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e tudo aquilo que exige do direito um posicionamento e uma ação; tudo isso tem a
ganhar por meio do respeito pela expressão como guia e rumo de uma busca
incessante por quais os significados que se podem encaixar e entender de modo
relacional na expressão (donde o campo magnético da dignidade alinha as limalhas
dos instrumentos jurídicos de mais alto status ético) (VENTURI, 2011).
As conquistas e resultados do trabalho da historiografia, as experiências
sociais e pessoais, as obras de arte, os preceitos jurídicos, todo o trabalho
transdisciplinar voltado às manifestações multiculturais humanas podem apontar os
anseios e os sentidos das experiências humanas.
E se a via positiva acima proposta não for suficiente, o recurso à negativa
poderá ser fonte útil de questionamentos. Despir-se das máscaras sociais recebidas
e das conquistadas, livrar-se do verniz das relações sociais e das expectativas e
desejo de status e encarar-se enquanto ser humano “nu no mundo” podem ajudar a
vislumbrar o que poderia ser a “dignidade” justamente pelo seu mais imediato
contrário de “indignidade”, de falta, de ausência, de vácuo material. A despeito
dessa tentativa de imaginação de privações — a qual a imaginação é débil para
alcançar — ainda assim, nesse exercício, subsistirá, no fundo, a consciência de que
ao fim se “voltará para casa”; suspender esta consciência por um instante pode dar
a dimensão do drama (VENTURI, 2011).
Embora o questionamento que se queira desvendar seja como o direito
pode, deve e é capaz de solucionar a dor e sofrimento cotidianos e que passa pela
necessidade de superação do individualismo humano exacerbado não é fácil!
A miséria humana está à nossa frente, em qualquer esquina por onde
passamos, ela nos envergonha sim, mesmo que cada um só reflita sobre ela na sua
solidão, mas felizmente existe a esperança de que o Direito e seus operadores,
orientados pela Constituição, possam reduzir seus danos.
O apego social, da sociedade civil, acompanhado do apreço dos operadores
à axiologia constitucional e à internalização da ponderação dos bens constitucionais,
avolumados pelos preceitos da supraconstitucionalidade na proteção dos direitos
humanos, como meio de acesso ao problema do homem que redunda nas relações
jurídicas, são meios necessários para se contemporizar e contemporaneizar tantas

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situações de perplexidade, oriundas das violações dos mais basilares princípios e


direitos (MAZZUOLI; GOMES, 2010).
Como diz PETER HÄRBELE (2003), a proteção e respeitabilidade do
indivíduo, não fazem parte somente da tutela do ordenamento jurídico dos Estados
Nacionais, como também de uma tutela mais ampla, a cosmopolita, ou seja, de todo
ordenamento jurídico mundial, manifestado nas normas de direito internacional.

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UNIDADE 5 – INTRODUÇÃO AO DIREITO SOCIAL

É no contexto da Revolução Industrial que podemos dizer, nascem os


direitos sociais, uma vez que as transformações desse período, muito além de
trazerem benefícios econômicos, sacrificou os trabalhadores que já se encontravam
à margem da sociedade.
Eles precisavam ser positivados e como conta PAULO BONAVIDES (2016),
[....] eles passaram primeiro por um ciclo de baixa normatividade ou tiveram sua
eficácia duvidosa, em virtude de sua própria natureza de direitos que exigem do
Estado determinadas prestações materiais nem sempre resgatáveis por exiguidade,
carência ou limitação essencial de recursos.
Os direitos sociais foram descritos e positivados internacionalmente na
Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, corroborando com isso, para a
efetivação do Estado Democrático de Direito, onde o Estado não defende e nem
assegura apenas o direito de poucos. A sua representatividade se dá pela maioria, é
a vontade do povo que se faz soberana. Foi a partir da Declaração Universal dos
Direitos Humanos, que “o humanismo político da liberdade alcançou seu ponto mais
alto do século XX. Trata-se de um documento de convergência e ao mesmo passo
de uma síntese” (BONAVIDES, 2016).
O reconhecimento da fundamentalidade dos direitos sociais é de importância
essencial na sua consolidação, pois a aplicação das características peculiares aos
direitos fundamentais proporciona um aumento efetivo de seu grau de exigibilidade.
Deve-se deixar de lado, o posicionamento doutrinário que aplica a
nomenclatura “direitos sociais fundamentais”, ou seja, restando a fundamentalidade
a uma parte dos referidos direitos, pois, o correto é considerar a utilização da
seguinte nomenclatura: “direitos fundamentais sociais”, já que esses direitos são
reconhecidamente espécies de direitos fundamentais (MACEDO; SILVA, 2009).
Isto posto, como todo direito fundamental, os direitos sociais na sua
concretização devem ter como parâmetro os princípios da proporcionalidade e da
razoabilidade. Deve ser maximizado o mínimo existencial, como forma de garantir o
respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana, assegurando ao cidadão a
prestação essencial para a exaltação da justiça social, buscando diminuir a
desigualdade entre os indivíduos. E em relação à reserva do possível, não poderá o
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Estado sob a alegação de insuficiência de verba, se eximir sempre da realização das


suas atividades, em especial, da efetivação dos direitos sociais, inclusive, os de
natureza prestacional. Caberá ao Poder Público, provar que inexiste orçamento para
o cumprimento do seu dever (ARAÚJO, 2009).
Os direitos sociais, normas que buscam a afirmação da igualdade material,
representam uma garantia do equilíbrio social com o respeito à prestação de
condições materiais necessárias para o perfeito cumprimento e concretização da
dignidade da pessoa humana. Privar o cidadão de seus direitos fundamentais
sociais garantidos pela Constituição é retirar-lhes a dignidade, excluindo assim, por
conseguinte, sua condição de ser humano (MACEDO; SILVA, 2009).
Após essa fase inicial de reconhecimento desses direitos, que falamos na
introdução da unidade, se fez necessária a sua positivação, como forma de alcançar
força e possibilitar sua exigibilidade perante o ente estatal. E essa foi a tendência
durante o século XX.
As normas que definem os direitos sociais foram primeiramente previstas
nas Constituições Mexicana de 1917 e de Weimar, de 1919, que, por representarem
uma verdadeira revolução no campo dos direitos humanos, tornaram-se verdadeiros
marcos na positivação desses direitos (MEIRELES, 2008).
A Declaração Universal, já aprovada pelos franceses, ganha status
internacional, com sua aprovação pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em
1948, o que para NORBERTO BOBBIO (2004, p. 50) foi “a única prova através da
qual um sistema de valores pode ser considerado humanamente fundado e,
portanto, reconhecido: e essa prova é o consenso geral acerca de sua validade”.
Além disso, esses direitos foram disciplinados em uma norma específica: o
Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, documento
adotado pela XXI Sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas, em 19 de
dezembro de 1966. O Pacto apresenta um rol extenso de direitos, indo além da
Declaração Universal. O referido diploma internacional foi promulgado no Brasil pelo
Decreto nº 591, de 6 de julho de 1992.
Um ponto de bastante importância a ser destacado é a forma como foi criado
o referido Pacto Internacional. Conforme discorrido pela doutrina especializada, a
ideia original seria a criação de um único pacto internacional que tratasse tanto dos

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Direitos Civis e Políticos (direitos de primeira dimensão) como dos Direitos


Econômicos, Sociais e Culturais (direitos de segunda dimensão). Mas em relação a
essa ideia original houve grande divergência entre os países signatários.
De um lado, a União Soviética e os países a ela alinhados, defendiam a
criação de um único pacto, mas que contemplasse os direitos sociais e de outro, os
EUA e seus aliados, que defendiam a criação de dois pactos com o argumento de
que os direitos civis e políticos eram de aplicação imediata e os direitos econômicos,
sociais e culturais eram programáticos e se aplicariam progressivamente e, portanto,
os primeiros (direitos civis e políticos) podiam ser obrigatórios e se exigir dos países
e os segundos (direitos econômicos, sociais e culturais) não poderiam ter um
controle tão rígido. Inclusive, os EUA defendiam que, para os direitos civis e políticos
deveria ser criado logo um organismo de fiscalização, quanto aos direitos
econômicos, sociais e culturais, estes seriam realizados paulatinamente através de
cooperações internacionais (BARBOSA, 2003).
Por fim, a formulação original (um único pacto internacional) foi impedida,
criando-se assim dois diplomas distintos: o Pacto Internacional dos Direitos Civis e o
Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.
GEORGE MARMELSTEIN (2014) define o conteúdo dos direitos sociais
dizendo que estes

[...] impõem diretrizes, deveres e tarefas a serem realizadas pelo Estado, no


intuito de possibilitar aos seres humanos melhor qualidade de vida e um
nível razoável de dignidade como pressuposto do próprio exercício de
liberdade.

Em contraposição aos direitos de primeira dimensão que dependem, em


regra, do não agir estatal, o reconhecimento dos direitos de segunda dimensão –
especificamente os sociais – tem um grau de complexidade elevado quanto a sua
efetivação, pois, necessitam basicamente da atuação positiva do Poder Público. É
nesse sentido, que JOSÉ AFONSO DA SILVA (2016) aduz que:

[...] os direitos sociais, como dimensão dos direitos fundamentais do


homem, são prestações positivas proporcionadas pelo Estado direta ou
indiretamente, enunciadas em normas constitucionais, que possibilitam
melhores condições de vida aos mais fracos, direitos que tendem a realizar
a igualização de situações sociais desiguais.

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Pode-se perceber que o conteúdo das normas definidoras de direitos sociais


privilegia a igualdade material, ao considerá-la condição essencial para o exercício
pleno de outros direitos. PAULO BONAVIDES (2016) reforça essa ideia afirmando
que os direitos sociais “nasceram abraçados ao princípio da igualdade, do qual não
se podem separar, pois fazê-lo equivaleria a desmembrá-los da razão de ser que os
ampara e estimula”.
Analisando a dicotomia existente entre os direitos civis e políticos e os
direitos sociais, GILMAR FERREIRA MENDESe PAULO GUSTAVO GONET
GOMES (2016) enfatizam que:

[...] diversamente dos abstratos direitos de primeira geração, os direitos


ditos sociais são concebidos como instrumentos destinados à efetiva
redução e/ou supressão de desigualdades, segundo a regra de que se deve
tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida da sua
desigualdade.

Como todo direito fundamental, os direitos sociais possuem um conteúdo


essencial de direitos inerentes à dignidade da pessoa humana (fundamentalidade
material), tendo-a como núcleo básico. São indubitavelmente meios para a proteção
e a efetivação concreta do princípio da dignidade da pessoa humana.
Esses direitos possuem o objetivo de impor diretrizes, deveres e tarefas a
serem realizadas pelo Estado, no intuito de possibilitar aos seres humanos uma
melhor qualidade de vida e um nível razoável de dignidade como pressuposto do
próprio exercício da liberdade. Pode-se considerá-los como pressupostos dos
direitos fundamentais, pois eles andam estreitamente associados a um conjunto de
condições materiais necessárias para o perfeito exercício de outros direitos.
INGO WOLFGANG SARLET (2015a) salienta que a nota distintiva destes
direitos é a sua dimensão positiva, uma vez que se cuida não mais de evitar a
intervenção do Estado na esfera da liberdade individual, mas, sim, na lapidar
formulação de Celso Lafer, de propiciar um “direito de participar do bem-estar
social”. Não se cuida mais, portanto, de liberdade do e perante o Estado, e sim de
liberdade por intermédio do Estado.
Os direitos sociais constituem condições imprescindíveis para o efetivo
exercício de qualquer outro direito fundamental. Essas normas jurídicas estabelecem

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pressupostos necessários para a integralidade do exercício de outros direitos,


mostrando-se como normas basilares ao Estado Democrático de Direito.
Representam, pois, pressupostos para o exercício pleno dos direitos de
liberdade, tendo em vista que, possibilitam a criação de condições materiais para a
obtenção da igualdade real (material), proporcionando assim a concretização do
exercício efetivo da liberdade (SILVA, 2006).
A igualdade meramente formal, de caráter puramente negativo, tem o
condão de gerar diversos tipos de desigualdades, pois a mesma não sopesa nem
diferencia situações diferentes que precisam ser equilibradas, ou seja, não leva em
consideração as distinções existentes entre os seus destinatários. Igualdade
material deve ser compreendida como aquela que prioriza o tratamento equânime e
uniformizado de todos os seres humanos, e quando preciso, fundamentadamente,
realiza as diferenciações necessárias para contrabalancear situações
desequilibradas (MACEDO; SILVA, 2009).
O Brasil acompanhou a tendência mundial em relação ao prestígio
reservado aos direitos fundamentais após a Segunda Guerra. A Constituição Federal
de 1988 simboliza essa novidade, desde o seu preâmbulo o texto constitucional traz
que, a finalidade desta República é a instituição do Estado Democrático de Direito.
São elencados também, os princípios fundamentais da República Federativa
do Brasil (arts. 1º ao 4º) e os direitos e garantias fundamentais (arts. 5º ao 17).
Deve-se ressaltar que grande parte dos direitos sociais positivados em nossa
Constituição está previsto no art. 6º:
São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a
moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição7.
No texto constitucional brasileiro, ainda é previsto um título específico que
trata da Ordem Social (Título VIII), onde estão elencados, por exemplo, os direitos
sociais relativos à saúde, previdência social, assistência social, educação entre
outros.

7
Redação dada pela Emenda Constitucional nº 90, de 2015
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc90.htm).
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30

Características dos Direitos Fundamentais Sociais


Macedo e Silva (2009) bem nos lembram que os direitos fundamentais
padecem de características específicas, peculiaridades de tais direitos que lhe são
associadas com mais frequência, como forma de demonstrar que as mesmas
agregadas aos direitos sociais representariam um aumento superlativo da sua
proteção e eficácia.
Como exemplos de características típicas dos direitos fundamentais,
podemos citar: historicidade, normatividade potencializada; irrevogabilidade
(cláusula pétrea); aplicação direta e imediata; vinculação dos poderes públicos e
exigibilidade/dimensão subjetiva e objetiva.

a) Historicidade
Inicialmente vê-se que os direitos fundamentais não têm seu conteúdo
predeterminado a todo tempo e em todo lugar, visto que, a sua definição será
determinada de acordo com o momento pelo qual a sociedade destinatária encontra-
se.
Dessa forma, podemos afirmar que o conteúdo dos direitos fundamentais
somente faz sentido num determinado contexto histórico, que o definirá (MACEDO;
SILVA, 2009).
O caráter da historicidade, ainda, explica que os direitos possam ser
proclamados em certa época, desaparecendo em outras, ou que se modifiquem no
tempo. Revela-se, desse modo, a índole evolutiva dos direitos fundamentais. Essa
evolução é impulsionada pelas lutas em defesa de novas liberdades em face de
poderes antigos – já que os direitos fundamentais costumam ir-se afirmando
gradualmente – em face das novas feições assumidas pelo poder (MENDES;
BRANCO, 2016).
Ainda sobre essa característica, JOSE AFONSO DA SILVA (2016) ressalta
que, “nascem, modificam-se e desaparecem. Eles aparecem com a revolução
burguesa e evoluem, ampliam-se, com o decorrer dos tempos”.
Em relação à dimensão prática da historicidade temos uma ilustração de
interesse prático do aspecto da historicidade dos direitos fundamentais, dada pela
evolução que se observa no direito a não receber pena de caráter perpétuo. [...]

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31

Esse direito, que antes de 1998 se circunscrevia à esfera das reprimendas penais,
passou a ser também a ser aplicável a outras espécies de sanções. Em fins de
1998, o STF, confirmando o acórdão do STJ, estendeu a garantia ao âmbito das
sanções administrativas (MENDES; BRANCO, 2016).

b) Normatividade potencializada
Os direitos fundamentais possuem uma efetiva força jurídica e não apenas
moral, simbólica ou política. São normas jurídicas diferenciadas, visto que
apresentam um poder normativo potencializado. E a força jurídica é tida como
potencializada por se tratar de norma de hierarquia superior, tanto por ter status de
norma constitucional quanto pela sua importância axiológica (conteúdo material do
direito).
Para GEORGE MARMELSTEIN (2014), o reconhecimento da força
normativa potencializada dos direitos fundamentais ocasiona algumas mudanças de
paradigma na aplicação do direito, por exemplo:
i) aceitação da possibilidade de concretização judicial de direitos
fundamentais, independentemente de integração normativa formal por parte do
Poder Legislativo, como consequência do aumento da força normativa da
Constituição, da aplicação direta e imediata dos direitos fundamentais e do
reconhecimento da importância do Judiciário na função de guardião dos valores
constitucionais;
ii) redimensionamento da fonte de direitos subjetivos das leis para os direitos
fundamentais (“não são os direitos fundamentais que devem girar em torno das leis,
mas as leis que devem girar em torno dos direitos fundamentais”), já que o conteúdo
das normas constitucionais não pode ficar restrito à vontade parlamentar, e toda a
interpretação legal deverá se guiar pelos mandamentos traçados na Constituição;
iii) reformulação da doutrina da separação entre os poderes, em face da
“solução de compromisso” que todos agentes devem assumir na concretização dos
direitos fundamentais, reconhecendo-se um papel mais atuante do Judiciário na
efetivação das normas constitucionais, através da jurisdição constitucional.

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Percebe-se então que, a normatização potencializada aplicada aos direitos


fundamentais sociais, representa um importante instrumento de exaltação e
concretização dos mesmos.

c) Irrevogabilidade
A característica da irrevogabilidade está diretamente ligada à ideia de se
considerar os direitos fundamentais como cláusulas pétreas, ou seja, normas
jurídicas que não podem ser objeto de alterações tendentes a serem eliminadas.
A Constituição Federal de 1988 estabelece, em seu artigo 60, § 4º, inc. IV,
que não podem ser objeto de deliberação as propostas de emenda constitucional
tendente a abolir “os direitos e garantias individuais”. Desse modo, o constituinte
originário ao estabelecer os direitos fundamentais como cláusula pétrea (visto que,
os mesmos encontram-se no título reservado aos direitos e garantias individuais)
pretendeu criar uma barreira de proteção, de tal forma que nem mesmo por emenda
à Constituição poderia revogar um determinado direito fundamental (MACEDO;
SILVA, 2009).
As cláusulas pétreas, portanto, além de assegurarem a imutabilidade de
certos valores, além de preservarem a identidade do projeto do constituinte
originário, participam, elas próprias, como tais, também da essência inalterável
desse projeto. Eliminar a cláusula pétrea já é enfraquecer os princípios básicos do
projeto do constituinte originário garantidos por ela (MENDES; BRANCO, 2016).
O significado último das cláusulas de imutabilidade está em prevenir um
processo de erosão da Constituição. A cláusula pétrea não existe somente para
remediar situação de destruição da Carta, mas tem a missão de inibir a mera
tentativa de abolir o seu projeto básico. Pretende-se evitar que a sedução de apelos
próprios de certo momento político destrua um projeto duradouro.
A característica da imutabilidade dos direitos fundamentais sociais
representa uma maior segurança para a efetividade e integralidade dos mesmos,
pois o seu caráter de ser inalterável possibilidade uma liberdade para praticá-lo sem
receio de ter o seu exercício comprometido (MACEDO; SILVA, 2009).

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d) Aplicação direta e imediata


O art. 5º, § 1º, da Constituição Federal de 1988, determina que: “as normas
definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata”.
A cláusula da aplicação imediata é a consagração expressa do princípio da
máxima efetividade, que é inerente a todas as normas constitucionais,
especialmente as definidoras de direitos fundamentais. Ela é o reconhecimento
formal por parte do constituinte de que os direitos fundamentais têm uma força
jurídica especial e potencializada (MACEDO; SILVA, 2009).
Apesar de o dispositivo ter caráter principiológico, tal norma deverá ser
interpretada de acordo com a necessidade do caso concreto, lembrando que, deve
ser respeitado em primazia os interesses do cidadão, dessa forma, o agente ou o
legislador deverá atuar de maneira tal que assegure a força normativa do dispositivo
constitucional, sendo guiado pelos princípios norteadores do texto da Constituição.
Com isso, não deve ser afastada a eficácia do disposto no artigo, posto que, é
essencial para a concretização dos direitos fundamentais a plena aplicabilidade do
que dispõe a redação do § 1º do art. 5º.
Como determina INGO WOLFGANG SARLET (2015a), as normas tidas
como programáticas, são “uma espécie de mandado de otimização (ou
maximização), isto é, estabelecendo aos órgãos estatais a tarefa de reconhecerem a
maior eficácia possível aos direitos fundamentais”. Prosseguindo no seu raciocínio:

Percebe-se, desde logo, que o postulado da aplicabilidade imediata não


poderá resolver-se, a exemplo do que ocorre com as regras jurídicas (e
nisto reside uma de suas diferenças essenciais relativamente às normas-
princípio), de acordo com a lógica do tudo ou nada, razão pela qual o seu
alcance (isto é, o quantum em aplicabilidade e eficácia) dependerá do
exame da hipótese em concreto, isto é, da norma de direito fundamental em
pauta (SARLET, 2015a).

Pode-se entender que os juízes podem e devem aplicar diretamente as


normas constitucionais para resolver os casos sob a sua apreciação. Não sendo
necessário que o legislador discipline um direito já estabelecido constitucionalmente
para só assim, ele ser aplicável. Atribuir aplicação direta e imediata aos direitos
fundamentais sociais representa um grande passo para a concretização dos
mesmos. Mas persiste o entendimento que essa característica não pode ser
aplicada sempre a todo direito fundamental.
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Há normas constitucionais, relativas a direitos fundamentais, que,


evidentemente, não são autoaplicáveis. Carecem da interposição do legislador para
que produzam todos os seus efeitos. As normas que dispõem sobre direitos
fundamentais de índole social, usualmente, têm a sua plena eficácia condicionada a
uma complementação pelo legislador (MENDES; BRANCO, 2016).
Para ANA CRISTINA COSTA MEIRELES (2008, p. 236), [...] as normas de
direitos sociais fundamentais – programáticas ou não – têm, sim, aplicação direta e
imediata na forma preconizada pelo § 1º do art. 5º da Constituição Federal, gerando
diversas posições jurídicas para os administrados.
Conforme assevera o artigo transcrito anteriormente, tal obrigação
independerá de normas posteriores de regulamentação. Se o direito somente
pudesse ser efetivado quando o legislador regulamentasse o seu exercício, ocorreria
uma verdadeira inversão de autoridade, na qual o poder constituído teria mais
poderes do que o próprio poder constituinte (MARMELSTEIN, 2014).

e) Vinculação dos poderes públicos


O fato de os direitos fundamentais estarem previstos na Constituição tem
como consequência torná-los parâmetros de organização e de limitação dos poderes
constituídos. As normas constitucionais consagradoras dos direitos fundamentais
sociais implicam em uma verdadeira imposição constitucional, legitimando-se as
transformações sociais e econômicas com finalidade de efetivação desses direitos.
A vinculação dos poderes públicos aos direitos fundamentais significa mais
do que uma mera característica programática e dispensável, pois sua finalidade está
em justamente limitar e ordenar a atuação dos poderes públicos para que tenha
como objetivo o respeito e a concretização dos direitos fundamentais (MACEDO;
SILVA, 2009).
Sobre a vinculação dos poderes públicos aos direitos fundamentais:
A constitucionalização dos direitos fundamentais impede que sejam
considerados meras autolimitações dos poderes constituídos – dos Poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário –, passíveis de serem alteradas ou suprimidas ao
talante destes. Nenhum desses poderes se confunde com o poder que consagra o
direito fundamental, que lhes é superior. Os atos dos poderes constituídos devem

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conformidade aos direitos fundamentais e se expõem à invalidade se os


desprezarem (MENDES; BRANCO, 2016).

f) Exigibilidade/dimensão subjetiva e objetiva


Os direitos fundamentais, por serem normas jurídicas dotadas de
normatividade potencializada e com um alto teor de juridicidade, já que possuem
status constitucional, são direitos exigíveis, ou seja, podem ter sua aplicação
forçada, através do Poder Judiciário, mesmo na ausência de regulamentação por
parte do Poder Legislativo.
A exigibilidade de um direito fundamental é decorrente da sua força
normativa potencializada e de sua aplicação direta e imediata. A exigibilidade de um
direito fundamental está ligada à ideia da existência de uma dimensão subjetiva
desse direito, ou seja, a possibilidade de emanação de direitos subjetivos exigíveis e
justiciáveis.
Sobre a característica da exigibilidade dos direitos fundamentais, GEORGE
MARMELSTEIN (2014) diz que:

Os direitos fundamentais, por serem normas jurídicas, são direitos exigíveis


e justiciáveis, ou seja, podem ter sua aplicação forçada através do Poder
Judiciário. É o que os constitucionalistas chamam de “dimensão subjetiva”,
expressão que simboliza a possibilidade de os direitos fundamentais
gerarem pretensões subjetivas para os seus titulares, reivindicáveis na via
judicial. Assim, caso o Poder Público deixe de cumprir com os deveres de
respeito, proteção e promoção a que está obrigado, poderá ser compelido a
fazê-lo forçadamente por força de um processo judicial.

Como decorrência da justiciabilidade dos direitos fundamentais sociais,


surge o chamado princípio da inafastabilidade da tutela judicial. De fato, sem Poder
Judiciário não há direitos fundamentais.
Sobre a dimensão subjetiva dos direitos fundamentais sociais, JOSÉ
JOAQUIM GOMES CANOTILHO (2001) assevera que resulta da consagração
constitucional desses direitos como direitos fundamentais dos cidadãos e não
apenas como direito objetivo expressos através de normas programáticas ou
imposições constitucionais (direitos originários de prestações); da radiação subjetiva
de direitos através da criação por lei de prestações, instituições e garantias
necessárias à concretização dos direitos constitucionalmente reconhecidos [...] que
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justificam o direito de judicialmente ser reclamada a manutenção do nível de


realização e de se proibir qualquer tentativa de retrocesso social.
Conforme posicionamento doutrinário, a exigibilidade judicial dos direitos
econômicos sociais, como decorrência da sua dimensão subjetiva, estaria restrita
pela questão do mínimo existencial e à reserva do possível.
Em relação às dimensões dos direitos fundamentais, GEORGE
MARMELSTEIN (2014) ressalta que:

A doutrina constitucional tem reconhecido que os direitos fundamentais


possuem dupla dimensão: a subjetiva e a objetiva. De um lado, os direitos
fundamentais, na sua dimensão subjetiva, funcionariam como fonte de
direitos subjetivos, gerando para os seus titulares uma pretensão individual
de buscar a sua realização através do Poder Judiciário. De outro lado, na
sua dimensão objetiva, esses direitos funcionariam como um “sistema de
valores” capaz de legitimar todo o ordenamento, exigindo que toda a
interpretação jurídica leve em consideração a força axiológica que deles
decorre. Mais adiante veremos essas dimensões em detalhes.

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UNIDADE 6 – AS FUNÇÕES E AS DIMENSÕES DOS


DIREITOS FUNDAMENTAIS

A multiplicidade de funções dos Direitos Fundamentais leva a que a sua


própria estrutura não seja unívoca e propicie algumas classificações úteis para a
compreensão do conteúdo e da eficácia de cada um deles.
Uma sistematização clássica é a dos quatro status8 (Jellinek), bem como a
que classifica os Direitos Fundamentais em direitos de defesa e direitos à prestação.
Sob outro ângulo, no estudo das funções dos Direitos Fundamentais devem ser
analisadas suas dimensões subjetiva e objetiva.
A teoria dos quatro status proposta por Jellinek é trabalhada por alguns
estudiosos como LUIZ ANTONIO ARAÚJO DE SOUZA (2006) e EUGÊNIO ROSA
DE ARAÚJO (2009)
Na teoria dos quatro status, há uma pressuposição de que o indivíduo pode
encontrar-se de quatro modos, diante do Estado, disso derivando direitos e deveres
diferenciados.
O status subjectionis ou status passivo, revela a posição de subordinação,
onde o indivíduo se obriga em face do Estado, tendo este competência para vincular
comportamentos por meio de mandamentos e proibições (ARAÚJO, 2009).
O status passivo é a posição de subordinação aos poderes públicos,
caracterizando-se como detentor de deveres para com o Estado, tendo competência
para vincular o indivíduo, através de mandamentos e proibições (SOUZA, 2006).
Ocorre o status negativo quando o ter personalidade exige o desfrute de um
espaço de liberdade com relação às ingerências do Poder Público. O homem deve
gozar de algum âmbito de ação desvencilhado do império do Estado, posto que a
autoridade é exercida sobre homens livres (ARAÚJO, 2009). [...] faz-se necessário
que o Estado não se intrometa na autodeterminação do indivíduo (SOUZA, 2006).
Verifica-se o status civitatis no direito de exigir do Estado uma atuação
positiva, preordenada à realização de uma prestação. Aqui, o indivíduo se vê com a
capacidade de pretender que o Estado atue em seu favor (ARAÚJO, 2009; SOUZA,

8 O conhecimento dessa teoria foi cobrado na 2ª fase do concurso de Juiz Substituto do TJDFT em
2007. Sugere-se a leitura da obra Curso de Direito Constitucional (MENDES, G.F.; BRANCO, P. G.
G., 2016)

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2006). Por fim, no status ativo, o indivíduo desfruta de competência para influir sobre
a formação da vontade do Estado (ex.: voto), como nos direitos políticos.
Tomando como base a teoria dos quatro status, depuram-se os três grupos
de Direitos Fundamentais mais destacados, quais sejam, os direitos de defesa
(direitos de liberdade), os direitos a prestações (direitos cívicos) e os direitos de
participação (observe que o status subjectionis identifica deveres do indivíduo).
Segundo EUGÊNIO ROSA DE ARAÚJO (2009), os direitos de defesa
caracterizam-se por impor ao Estado um dever de abstenção, de não interferência,
de não intromissão no espaço de autodeterminação do indivíduo. Tais direitos
objetivam a limitação da ação do Estado, evitam sua ingerência sobre os bens
protegidos (ex.: liberdade, propriedade, etc.) e fundamentam eventual pretensão de
reparo pelas agressões consumadas.
Em nosso ordenamento constitucional os direitos de defesa estão em grande
parte contidos no art. 5º da Constituição, a saber: inciso II (legalidade), inciso III
(proibição de tortura), inciso IV (liberdade de manifestação do pensamento), inciso
VI (liberdade de culto), inciso IX (liberdade de expressão artística), inciso X
(proteção da intimidade), inciso XII (proteção ao sigilo das comunicações), inciso XIII
(liberdade de profissão), inciso XV (liberdade de locomoção), inciso XVII (liberdade
de associação) e inciso XLVII, b (proibição de penas de caráter perpétuo). Ressalte-
se que há quem entenda que o direito à igualdade – vedação de discriminações
impróprias – coloca-se entre os direitos de defesa.
Dentre os desdobramentos da função de defesa dos direitos fundamentais,
podemos citar:
• a vedação de interferência do Estado no âmbito de liberdades dos indivíduos
– normas de competência negativa para o Estado;
• o Estado não pode embaraçar o exercício de liberdade do indivíduo, material
ou juridicamente;
• é vedada ao Estado a criação de censura prévia para manifestações
artísticas;
• de igual forma, o impedimento à formação de religiões;
• há proibição da instituição de requisitos exagerados para o exercício de uma
profissão.

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39

Os direitos de defesa também protegem os bens jurídicos contra ações do


Estado. Em vista do direito à vida, o Estado não pode assumir comportamentos que
afetem a existência do ser humano.
Em face do direito de privacidade, o Estado não pode divulgar certos dados
pessoais dos seus cidadãos. O direito de defesa, nesse passo, ganha forma de
direito à não afetação dos bens protegidos.
O aspecto de defesa dos direitos fundamentais pode ainda se expressar
pela pretensão de que não sejam suprimidas certas posições jurídicas. Aqui o direito
fundamental assume conteúdo preordenado a que o Estado não derrogue
determinados preceitos. O Direito Fundamental produz um efeito inibidor a que o
Estado elimine posições jurídicas concretas, como, por exemplo, no caso em que se
extinga o direito de propriedade de quem adquiriu certo bem segundo o
ordenamento em vigor.
O direito de defesa também poderá atuar como proibição a que o Estado
suprima posições jurídicas em abstrato, como a possibilidade de transmitir a
propriedade de determinados bens.
O direito de reunião, por exemplo, implica no direito de não se reunir – veja-
se que o art. 5º, XX, deixa expresso que ninguém é obrigado a se associar ou
manter-se associado.
No contexto dos direitos de defesa, a liberdade contém uma nota específica:
o traço típico da liberdade é a disponibilidade de alternativa de comportamento, a
possibilidade de escolher uma conduta. O direito à vida não é uma liberdade, posto
que seu titular não tem o direito de viver ou morrer. Ele tem natureza defensiva
contra o Estado. No caso da liberdade de profissão a própria escolha da carreira ou
ofício fica assegurada (ARAÚJO, 2009).
Enquanto os direitos de abstenção visam assegurar o status quo do
indivíduo, os direitos à prestação exigem que o Estado atue para corrigir
desigualdades, moldando o futuro da sociedade.
Tais direitos à prestação partem da premissa de que o Estado deve agir para
libertar os indivíduos das necessidades básicas e figuram entre os direitos de
promoção. São direitos que se realizam por intermédio do Estado e surgem da

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necessidade de se estabelecer uma igualdade efetiva, solidária e fraterna entre


todos os membros da comunidade.
Se os direitos de defesa asseguram liberdades, os direitos à prestação
asseguram o desfrute das condições materiais para o exercício dessas liberdades
(obrigações de fazer ou de dar).
Neste caso, a ação do Estado imposta pelo direito à prestação, pode referir-
se tanto a uma prestação material, quanto a uma prestação jurídica.

Direitos à prestação jurídica


Existem direitos fundamentais cujo objeto se esgota na satisfação, pelo
Estado, de uma prestação de natureza jurídica. O objeto do direito será a normação
(regulamentação) pelo Estado do bem jurídico protegido como direito fundamental.
Essa prestação jurídica pode consistir na emissão de normas jurídicas penais ou de
normas de organização e de procedimento.
A Constituição, por vezes, estabelece diretamente ao Estado a obrigação de
legislar para coibir práticas atentatórias aos direitos e liberdades fundamentais (art.
5º, XLI), o racismo (art. 52, XLII) ou a tortura e o terrorismo9 (art. 5º, XLIII).
Para além disso, há Direitos Fundamentais que dependem, essencialmente,
de normas infraconstitucionais para ganhar pleno sentido. Há direitos que se
condicionam a outras normas que definirão o modo do seu exercício e até mesmo o
alcance do seu significado.
Existem, portanto, direitos fundamentais que necessitam de criação por via
de lei de estruturas organizacionais (ex.: Defensoria Pública), para que se tornem
efetivos. Tais direitos podem reivindicar a adoção de medidas normativas que
permitam aos indivíduos o desfrute efetivo da organização e a participação nos
procedimentos estabelecidos (ARAÚJO, 2009).

9
Ver Lei nº 13.260, de 16 de março de 2016, que regulamenta o disposto no inciso XLIII do art. 5º da
Constituição Federal, disciplinando o terrorismo, tratando de disposições investigatórias e
processuais e reformulando o conceito de organização terrorista
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13260.htm).
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41

Direitos a prestações materiais


Os direitos à prestação material são tidos como os direitos sociais por
excelência – concebidos para atenuar desigualdades de fato na sociedade e para
ensejar que a libertação das necessidades aproveite ao gozo da liberdade efetiva
por um maior número de indivíduos. O seu objeto consiste numa utilidade concreta
(bem ou serviço) (SOUZA, 2006).
São exemplos de tais direitos à prestação material aqueles enumerados no
10
art. 6º da Constituição Federal (direitos sociais) e que são devidos pelo Estado,
embora, nesse caso, os particulares também estejam vinculados, como ocorre com
os descritos no art. 7º da Carta Magna (direitos do trabalhador).
No que pertine à estrutura dos preceitos que veiculam normas que
consagram os direitos à prestação, podemos destacar algumas peculiaridades:
• possuem alta densidade normativa;
• não carecem de interposição do legislador para a aplicação sobre as relações
jurídicas (direitos originais à prestação);
• exigem, no entanto, legislação para a produção de efeitos plenos, em sua
maior parte.
Como já ressaltado, os direitos à prestação material visam atenuar
desigualdades fáticas de oportunidades, distribuindo riqueza no âmbito da
sociedade. Não é menos certo, porém, que tais direitos têm sua efetivação sujeita às
condições em cada momento da riqueza nacional, sendo satisfeitos segundo as
conjunturas econômicas e orçamentárias. Diz-se que estão submetidos à reserva do
possível (ARAÚJO, 2009).
Nosso texto constitucional não oferece comando indeclinável para as opções
de alocação de recursos, salvo em casos excepcionais (ex.: arts. 198 e 212 da
CF/88); tais decisões devem ficar a cargo de decisão política, com a legitimação da
representação popular competente para delinear as balizas da política financeira,
social e monetária.
Essa legitimação popular é importante porque a realização de direitos
sociais importa em privilegiar um bem jurídico em prejuízo de outro. A efetivação de

10
Alterado pela Emenda Constitucional nº 90, de 2015
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc90.htm).
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tais direitos implica em favorecer determinados segmentos da população e


necessitam da legitimação democrática do Parlamento, como sede natural dessas
deliberações e, em segundo lugar, do Poder Executivo.
Não cabe, assim, ao Judiciário, salvo em casos excepcionalíssimos, extrair
direitos subjetivos das normas constitucionais que tratam de direitos não originários
a prestação. O direito subjetivo pressupõe que as prestações materiais já tenham
sido suficientemente delineadas (ARAÚJO, 2009).
É tarefa do órgão legislativo e não do Poder judiciário. Exemplo bastante
esclarecedor é o direito ao trabalho (arts. 6º e 170, VIII, da Constituição Federal),
onde o desempregado não tem direito subjetivo a que o Estado lhe proporcione um
posto de trabalho.
Assim, os direitos sociais fundamentais (identificados com os de prestação
material) não justificam pretensões invocáveis de forma direta. Em princípio não
podem ensejar direitos subjetivos individuais, já que se denominam direitos na
medida da Lei. Esses direitos, como se vê, não podem ser determinados pelos
juízes quanto aos seus pressupostos, bem como à extensão do seu conteúdo. Para
que se determine seu conteúdo é necessária a atuação legislativa que o defina
concretamente, fazendo uma opção dentro de um quadro de possibilidades e
prioridades a que obrigam a escassez de recursos, o caráter limitado da intervenção
do Estado na vida em sociedade e, em geral, o próprio princípio democrático.
Com isso, os direitos à prestação material se aproximam dos direitos à
prestação normativa. Em se tratando de direito à prestação, o dever imediato que
toca o Estado é, em primeiro lugar, o de legislar, já que a elaboração das leis é
tarefa devida (no caso dos direitos a prestações jurídicas) como condição
organizativa necessária (no caso dos direitos a prestações materiais) – caso
exemplar do art. 21511 da Constituição Federal (cultura).
Nesse diapasão, os direitos à prestação material e à prestação jurídica
recaem na esfera de liberdade de conformação do legislador, tanto a soluções
normativas, quanto ao modelo de organização e ritmo de concretização.

11
Alterado pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc48.htm#art1).
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
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eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
43

A eficácia constitucional dessas normas é a de servir de parâmetro de


controle de constitucionalidade de medidas restritivas desses direitos e revogam
normas anteriores incompatíveis com os programas de ação que entronizam.
Servirão, ainda, como modelo interpretativo das demais normas do ordenamento
jurídico, sob pena de quebra da harmonia do sistema e de invalidade da norma
(ARAÚJO, 2009).
É preciso advertir para o perigo que corre a força normativa da Constituição
quando é tencionada com promessas demagógicas e excessivas que redundam em
frustração de justas expectativas. A teoria do grau mínimo de efetividade dos direitos
à prestação material, procura uma garantia, um mínimo social dos direitos à
prestação, sem o que fica configurada indesejável omissão legislativa.
Em mais de uma oportunidade o Supremo Tribunal Federal adotou a referida
teoria, ao garantir um grau mínimo social do direito à saúde (art. 201, § 5º, da
CF/88), no caso de fornecimento de medicamentos para portadores de AlDS, e o
acesso à pré-escola (art, 208, IV12 da CF/88).

Direitos fundamentais de participação


Os direitos de participação constituiriam uma categoria mista, reunindo
elementos dos direitos de defesa e dos direitos a prestações; garantiriam a
participação dos cidadãos na formação da vontade do país, por via dos direitos
políticos.

Dimensões dos Direitos Fundamentais


A dimensão subjetiva dos Direitos Fundamentais está mais ligada a suas
origens históricas e às suas finalidades mais elementares e corresponde a uma
pretensão a que se adote um dado comportamento ou no poder de produzir efeitos
sobre certas relações jurídicas.
Nessa perspectiva, os Direitos Fundamentais correspondem à exigência de
uma ação negativa (ex.: liberdade do indivíduo) ou positiva de outrem. Do mesmo

12
Alterado pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc53.htm#art1).
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44

modo, correspondem à competência, isto é, ao poder de modificar determinadas


posições jurídicas.
A dimensão objetiva resulta do significado dos Direitos Fundamentais como
princípios básicos da ordem constitucional. Os Direitos Fundamentais participam da
essência do Estado democrático de direito, operando como limite do poder, bem
como diretriz para sua ação. As Constituições de feição democrática assumem um
sistema de valores que os Direitos Fundamentais revelam e positivam. Tal fenômeno
faz com que eles influam sobre todo ordenamento jurídico (ARAÚJO, 2009).
Tal dimensão faz com que os direitos fundamentais transcendam à
perspectiva da garantia de posições individuais para atingir a estatura de normas
que traduzem os valores básicos da sociedade política, fazendo sua expansão para
todo o direito positivo.
Constituindo, dessa forma, a base do ordenamento jurídico do Estado
democrático, é possível afirmar que a dimensão objetiva dos Direitos Fundamentais
transporta-os para além da perspectiva individualista, como um valor em si, a ser
preservado e fomentado.
A perspectiva objetiva legitima inclusive restrições aos Direitos Subjetivos
individuais, limitando o conteúdo e o alcance dos Direitos Fundamentais em
benefício de seus próprios titulares ou de outros bens constitucionalmente valiosos.
Mais uma consequência da dimensão objetiva dos direitos fundamentais
está em atrair um dever de proteção pelo Estado contra agressões dos próprios
poderes públicos, de particulares ou de outros Estados (dever de proteção),
cobrando adoção de providências materiais ou jurídicas, de resguardo dos bens
protegidos, corroborando a assertiva segundo a qual a dimensão objetiva interfere
na dimensão subjetiva, atribuindo-lhe reforço de efetividade.
O propósito de reforço de posições jurídicas fundamentais pode exigir a
elaboração de regulamentações restritivas de liberdades. Respeita-se a liberdade de
conformação do legislador, a quem se reconhece certo grau de discricionariedade
na opção normativa tida como mais oportuna para a proteção dos direitos
fundamentais.

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45

Caberá, então, aos órgãos políticos, indicar qual a medida a ser adotada
para proteger os bens jurídicos abrigados pelas normas definidoras dos direitos
fundamentais.
A dimensão objetiva cria um direito à prestação associado ao direito de
defesa e esse direito à prestação há de se sujeitar à liberdade de conformação dos
órgãos políticos e aos limites da reserva do possível (ARAÚJO, 2009).
Parte da doutrina alude à necessidade de o Estado agir em defesa dos
Direitos Fundamentais com um mínimo de eficácia, não se podendo exigir
afastamento absoluto da ameaça que se procura prevenir.
Se é possível visualizar um dever de agir do Estado, não é razoável impor-
lhe o como agir. Uma pretensão individual somente poderá ser acolhida nos casos
em que o espaço de discricionariedade estiver reduzido a zero.
Assim, o aspecto objetivo dos Direitos Fundamentais comunica-lhes uma
eficácia irradiante, o que os converte em uma diretriz para a interpretação e
aplicação das normas dos diversos ramos do Direito. A dimensão objetiva enseja,
ainda, a discussão sobre a eficácia horizontal dos Direitos Fundamentais, eficácia
destes direitos na esfera privada, no âmbito das relações entre particulares
(ARAÚJO, 2009).

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UNIDADE 7 – TRATADOS DECORRENTES DA CF/88

Para refletirmos a respeito da incorporação dos tratados internacionais de


proteção dos direitos humanos no ordenamento brasileiro, à luz da Constituição
Federal de 1988 e após a Emenda Constitucional nº 45/0413, vamos entender o
significado de um tratado.
JOSÉ FRANCISCO REZEK (2014) define tratado como “[...] todo acordo
formal concluído entre sujeitos de direito internacional público, e destinado a
produzir efeitos jurídicos”.
PAULO HAMILTON SIQUEIRA JÚNIOR (2003, p. 9) diz que há uma
variedade de denominações para os tratados: convenção, ato, protocolo, convênio,
ajuste e acordo. Tratados e Convenções são expressões sinônimas. Acordo,
convênio, ajuste, arranjo são atos internacionais de maior ou menor alcance, tanto
de caráter bilateral, como de caráter multilateral.
Os tratados internacionais, na definição de CELSO RIBEIRO BASTOS
(1994, p. 216) “[...] são acordos formais, eis que, à moda do que acontece com os
contratos no direito interno, demandam eles uma concordância de vontades, o que
os distingue do ato jurídico unilateral”.
O tratado internacional é um instrumento formal, não é admitida a oralidade,
assim consta da Convenção de Havana sobre Tratados, de 1928, em seu artigo 2º,
que “É condição essencial nos tratados a forma escrita”.
A Convenção de Viena sobre Direitos dos Tratados, concluída em maio de
1969, considerada a “Lei dos Tratados”, pois se constitui em importante instrumento
no caminho da codificação do direito internacional público, mas que só entrou em
vigor em 27 de janeiro de 1980, também mantêm a exigência da forma escrita para
os tratados – ao dizer em seu artigo 2º, 1, a) que:

[...] Tratado designa um acordo internacional concluído por escrito entre


Estados e regido pelo direito internacional, quer esteja consignado num
instrumento único, quer em dois ou mais instrumentos conexos, e qualquer
que seja a sua denominação particular (PEREIRA, 2005).

13
Altera dispositivos dos arts. 5º, 36, 52, 92, 93, 95, 98, 99, 102, 103, 104, 105, 107, 109, 111, 112,
114, 115, 125, 126, 127, 128, 129, 134 e 168 da Constituição Federal, acrescenta os arts. 103-A,
103B, 111-A e 130-A, e dá outras providências.
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47

A partir disso, vamos então ao alcance do § 2º do art. 5º da nossa


Constituição Federal de 1988, ou seja, vamos discorrer sobre as várias
classificações dos direitos fundamentais inseridos neste artigo.
PAULO HAMILTON SIQUEIRA JÚNIOR (2003) classifica os direitos
fundamentais em dois grupos distintos:
a) direitos imediatos – são os direitos e garantias expressos de forma direta
na Constituição (art. 5º, I a LXXVIII); são explícitos na medida em que estão
claramente enumerados no texto constitucional.
b) direitos mediatos – são os direitos e garantias decorrentes do regime e
dos princípios constitucionais, direitos implícitos, e os expressos em tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. Isto é, são
implícitos na medida em que não estão enumerados no texto constitucional; como o
próprio nome designa surgem de forma mediata, pois decorrem do regime e dos
princípios da República Federativa do Brasil, bem como dos direitos expressos nos
tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.
Nesse sentido, concorda EUGÊNIO ROSA DE ARAÚJO (2009) ao dizer que
existem Direitos Fundamentais previstos na Constituição Federal, direitos
materialmente fundamentais que estão fora daquele elenco. A fundamentalidade
decorre da sua referência a posições jurídicas ligadas ao valor da dignidade humana
e, em vista da sua importância, não podem ser deixadas à disposição discricionária
do legislador ordinário.
É possível, a partir do próprio catálogo dos direitos fundamentais e de seus
princípios elementares constantes do texto constitucional, deduzir a existência de
outros, a exemplo do que ocorreu com a redação do § 36 do art. 153 da Carta de
1969.
Todavia, para CELSO DE ALBUQUERQUE MELLO (1999), o § 2º do art. 5º
da Constituição Federal não apenas empresta hierarquia constitucional aos tratados
de proteção dos direitos humanos, mas, além disso, faz com que a norma
internacional prevaleça sobre a norma constitucional, mesmo naquele caso em que
uma Constituição posterior tente revogar uma norma internacional
constitucionalizada, cuja grande vantagem é a de evitar que o Supremo Tribunal
Federal venha a julgar a constitucionalidade dos tratados internacionais. Essa é,

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48

segundo SIMÍRAME PEREIRA LEITE (2005) uma visão extremamente radical. Os


partidários dessa teoria defendem a supremacia do tratado internacional frente à
Constituição, é a teoria da internacionalização do direito constitucional. Essa não é a
corrente majoritária.
MANOEL GONÇALVES FERREIRA FILHO (2000) se referindo ao § 2º, do
artigo 5º, da Constituição, afirma que o dispositivo em exame significa simplesmente
que a Constituição brasileira ao enumerar os direitos fundamentais não pretende ser
exaustiva. Por isso, além desses direitos explicitamente reconhecidos, admite
existirem outros, decorrentes dos regimes e dos princípios que ela adota, os quais
implicitamente reconhece.
A técnica da cláusula aberta em relação aos Direitos Fundamentais deriva
da IX Emenda da Carta Norte-americana, que diz que a enumeração de alguns
direitos na Constituição Federal não pode ser interpretada no sentido de excluir ou
enfraquecer outros direitos que o povo tenha. Parte da doutrina inclusive argumenta
que o § 2º do art. 5º da Carta de 1988 confere status constitucional aos tratados
sobre direitos humanos.
Em relação ao § 1º do art. 5º, que estabelece que as normas definidoras dos
direitos e garantias fundamentais são autoaplicáveis, diz-se, obviamente, que elas
são aplicáveis até onde possam, até o limite em que as instituições e os institutos
propiciem condições para o seu atendimento. O judiciário, sendo chamado para
resolver pretensão concreta nelas garantida, não pode deixar simplesmente de
aplicá-las ou de levá-las em linha de consideração em sua fundamentação e
argumentação, mas segundo o direito posto existente (ARAÚJO, 2009).
Veja-se, por exemplo, a garantia do mandado de injunção que, por ter sido
considerado como instituto processual de aplicação imediata, independente de
interposição legislativa, acabou por se tornar um instituto de mera retórica no
controle jurisdicional da omissão legislativa.
Recentemente, consciente da falta de eficácia do instituto, o Supremo
Tribunal Federal passou a adotar o entendimento de propiciar ao demandante
buscar seu direito subjetivo a partir da legislação ordinária já existente (ex.: MI 721,
Min. Marco Aurélio).

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Ainda com respeito ao preceito em epígrafe, vale a consulta ao recente


julgado do Supremo Tribunal Federal na Extradição 986, Min. Eros Grau, em que
nossa Corte reafirmou a eficácia imediata dos Direitos Fundamentais com a
vinculação direta dos órgãos estatais a esses direitos, devendo o Estado guardar-
Ihes estrita observância.
Outra cláusula de suma importância no art. 5º da Constituição Federal é
aquela visível no preceito do § 2º, segundo a qual os direitos e garantias expressos
na Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela
adorados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil
seja parte.
Tal preceito revela a conhecida “norma de encerramento”, que institui as
liberdades residuais, inominadas, implícitas ou decorrentes, as quais, a despeito de
não enunciadas ou específicas na Carta, resultam do regime e dos princípios que
ela adota. O rol é apenas exemplificativo, não se admitindo no plano dos direitos
fundamentais qualquer exegese que suprima, restrinja ou neutralize outros direitos e
garantias que, embora não especificados, são titularizados pelo ser humano. O
objetivo da cláusula constitucional é inibir ações, atentados ou abusos do Estado
contra as liberdades públicas (ARAÚJO, 2009).
Por fim, a emenda constitucional nº 45, acrescentou o § 3º ao art. 5º, da
Constituição Federal de 1988. Esse dispositivo estabelece a possibilidade de os
tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos terem status de
emenda constitucional, desde que obedecidos dois requisitos: o conteúdo do tratado
ou convenção ser sobre direitos humanos e a sua deliberação parlamentar obedeça
aos limites formais estabelecidos para a edição das emendas constitucionais, quais
sejam, deliberação em cada casa do Congresso Nacional, em dois turnos de
votação, só sendo aprovado se obtiver três quintos dos votos dos respectivos
membros parlamentares.
Essa Emenda veio por fim à discussão doutrinária interminável sobre a
hierarquia dos tratados de direitos humanos no ordenamento pátrio, pois agora,
efetivamente, poderá os tratados sobre direitos humanos virem a ter status
constitucional, mas somente se preenchidos os requisitos do § 3º, do art. 5º (LEITE,
2005).

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UNIDADE 8 – NOÇÕES DE SOCIOLOGIA DO TRABALHO E


OS VALORES SOCIAIS

Segundo WALMIR BARBOSA (2003), as ciências sociais possuem como


objeto de investigação e estudo o comportamento social humano. Comportamento
este que pode assumir diversas expressões e formas sociais.
À medida que o conhecimento acerca do comportamento humano foi sendo
ampliado, as ciências sociais foram se dividindo em diversas ciências particulares.
Dessa forma se consolidaram na:
a) sociologia, que se ocupa do estudo das relações sociais e das formas de
associação dos diversos grupos sociais. São temas de investigação da sociologia a
divisão social da sociedade, os conflitos sociopolíticos, os processos de mudança
social, etc.;
b) economia, que se ocupa do estudo do processo de produção, circulação,
distribuição e consumo de bens e serviços. São temas da investigação da economia
o padrão de acumulação capitalista vigente, as políticas públicas sobre a esfera do
mercado, etc.;
c) antropologia, que se ocupa do estudo das origens e desenvolvimento da
cultura dos diversos grupos humanos (étnico, nação, etc.), bem como suas
identidades culturais. São temas de investigação da antropologia a indústria cultural,
mitos e ritos antigos reminiscentes na nossa contemporaneidade, etc.;
d) ciência política, que se ocupa do estudo das relações de poder no âmbito
das macro e micro estruturas sociais. São temas de investigação da Ciência Política
o caráter e o papel do Estado, as lutas e conflitos políticos, entre outros.
A sociologia, entendida como uma das manifestações do pensamento
moderno, surge como o resultado de condições e circunstâncias historicamente
determinadas. A acumulação primitiva do capital, que transforma o trabalho em
mercadoria e revoluciona a produção e a circulação das mercadorias, e a
emergência do urbanismo, antropocentrismo e do espírito crítico-investigativo, que
dessacraliza a política e o Estado e coloca o pensamento liberal e contratual no
centro das relações sociais, desagrega progressivamente o chamado Antigo
Regime, isto é, a sociedade de ordens, o absolutismo e o mercantilismo.

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Entre os séculos XV e XVIII transformações progressivas nas esferas sociais


econômicas, políticas e culturais estão, portanto, em curso. Como consequência,
ocorrem as revoluções industrial e burguesa, de forma a consolidar definitivamente a
sociedade moderna e o projeto social burguês.
A afirmação da nova sociedade intensifica as contradições e os conflitos
sociais. Os conflitos de classes envolvendo as classes sociais tradicionais
(aristocracia, artesãos e camponeses) e as classes sociais emergentes (burguesia,
camadas médias e proletários) e, principalmente, as novas classes sociais
fundamentais, isto é, a burguesia e o proletariado. A sociologia surge, portanto, para
refletir sobre as transformações, crises e antagonismos de classes que
acompanham a afirmação da sociedade industrial e burguesa.
A sociologia não surge para contestar e/ou criticar a nova sociedade em
consolidação. A preocupação fundamental dos primeiros “sociólogos” consiste na
reorganização e reestruturação da sociedade capitalista e burguesa, de forma a
encontrar um “padrão social saudável”. O compromisso para com a preservação e
manutenção da chamada nova ordem capitalista encontra-se explícita no
pensamento dos primeiros sociólogos (BARBOSA, 2003).
Quanto à Sociologia do Trabalho, inicialmente surgiu para estudar as
relações sociais no mundo do trabalho, os sujeitos ocultos desse ambiente,
principalmente empresas, fábricas, sindicatos e as implicações das relações que ai
aconteciam.
Chegando ao final do século XX, novos temas foram surgindo para
investigação sociológica decorrentes das novas tecnologias, das novas formas de
organização da produção, da flexibilização das relações de trabalho, do acirramento
dos mecanismos de exclusão, dentre outros.
Durante a maior parte da História da Civilização, o trabalho foi considerado
como uma atividade depreciável. A palavra trabalho, como visto noutro momento do
curso, evoluiu da palavra “Tripalium”, castigo que se dava aos escravos preguiçosos.
Para o mundo protestante europeu não latino, o trabalho não é um castigo, e
sim uma oferenda a Deus. Os gregos da Idade de Ouro pensavam que só o ócio
criativo era digno do homem livre. A escravidão foi considerada pelas mais diversas
civilizações como a forma natural e mais adequada de relação laboral. Desde os

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meados do século XIX, vinculado ao desenvolvimento da democracia e ao


sindicalismo, a escravidão deixa de ser a forma predominante de trabalho, para ser
substituída pelo trabalho assalariado. Com o surgimento de uma valorização social
positiva do trabalho, pela primeira vez na história da civilização (FAUSTINO, 2011).
A partir da segunda guerra surgem conceitos da sociologia do trabalho:
“divisão de trabalho”, “classe social”, “estratificação social”, “conflito”, “poder”.
A Sociologia presta atenção e estuda as implicâncias sociais da relação de
trabalho com a ferramenta (técnica e tecnologia). As profundas transformações que
derivam do passo do trabalho com simples ferramentas individuais (artesanato), ao
trabalho industrial com grandes máquinas (maquinismo). Ao trabalho com
computadores (sociedade de informação), constituem um permanente tema de
estudo sociológico (FAUSTINO, 2011).
Quanto aos valores sociais sobre o trabalho na sociedade industrial estes
estão, portanto, ligados aos aspectos da ocupação e não ao trabalho, em si mesmo:
qualificação, poder, renda e status. Obter prestígio ou status social, salários
elevados possibilitando o lazer, a moradia, a saúde, a educação, o poder de
consumo são importantes para definir o valor do trabalho e seu significado,
atualmente.
Para a maioria, o trabalho é um mal necessário, sendo assim, pelo menos
que ele ofereça algumas vantagens materiais. As consequências dos valores e
atitudes sociais nem sempre são positivas. A principal é o preconceito. O
preconceito é um julgamento de valor, prematuro, feito sem cuidado. Ele produz e
reproduz o baixo valor conferido a diferentes tipos de trabalho, pessoas e atributos
pessoais. Leva ao menosprezo, ao autoritarismo e à exclusão. Um exemplo é o
preconceito racial, que, no Brasil, é sutil e disfarçado, mas que mesmo assim
subordina a outra pessoa.
As discriminações de quaisquer formas (cor, raça, religião, aparência,
deficiência física ou mental, sexo, idade) são atos criminosos no Brasil, mas ainda
acontecem. A discriminação é baseada no preconceito. O mal-estar no trabalho ou
assédio moral é também baseado no preconceito (ou crueldade) e acontece quando
uma pessoa é perseguida, tratada injustamente no trabalho ou submetida ao ridículo
e ao constrangimento social. Por exemplo, o trabalhador recebe os piores trabalhos

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ou é deixado sem atividades e “encostado”, ou seu corpo ou roupas são revistados.


Tanto o assédio moral ou sexual são crimes. Neste último, o superior submete outra
pessoa a obedecer-lhe, sob a ameaça de perda do emprego ou rebaixamento, para
obter favores sexuais. Além de manter as situações de desigualdades, os
preconceitos podem impedir o conhecimento da realidade (FAUSTINO, 2011).
Enfim, a divisão social do trabalho é o modo como se distribui o trabalho nas
diferentes sociedades ou estruturas socioeconômicas e que surge quando grupos de
produtores realizam atividade específicas em consequência do avanço dum certo
grau de desenvolvimento das forças produtivas e de organização interna das
comunidades. Com a determinação de funções para as formas variadas e múltiplas
do trabalho constituem-se grupos sociais que se diferenciam de acordo com a sua
implantação no processo de produção. Tais grupos correspondem ao estatuto que
adquirem dentro da sociedade e ao trabalho que executam (GOMES, 2008).
A divisão social do trabalho manifesta-se também entre trabalho mental e
material. O processo geral alcançado a nível bastante elevado de separação entre o
trabalho intelectual e o trabalho físico, levou ao surgimento duma elite que escapava
ao quadro dos interesses dos diferentes estados.
As distintas fases de desenvolvimento da divisão social do trabalho
contribuíram para elevar sensivelmente a produtividade do trabalho e criar as
premissas materiais para o aparecimento da propriedade do solo, da apropriação
dos meios e dos produtos do trabalho. Contribuíram igualmente para tornar mais
consistente a existência de sociedades baseadas na divisão entre classes
dominantes e classes subordinadas.
Sob o capitalismo, a produção especializa-se e tem como objetivo exclusivo
a obtenção de lucro. A divisão social do trabalho desenvolve-se espontaneamente,
com o avanço desigual dos diferentes ramos de produção, acompanhado de uma
luta constante competitiva e de uma desordem e dissipação do trabalho social. Os
limites das economias nacionais são ultrapassados pelo desenvolvimento do
comércio internacional, circunstância que dá lugar a uma divisão internacional de
trabalho.

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UNIDADE 9 – FILOSOFIA E PENSAMENTO JURÍDICO NA


ATUALIDADE

Construir a modernidade com as regras conservadoras do passado é negar ao


homem o reconhecimento da sua ascensão ao estágio presente. Do passado
aprendemos com os erros os óbices ao bis in idem, mas o mundo presente nada
tem a ver com o discurso e os métodos dos tempos idos.
(BORDONI et al, 2008).

Na atualidade, como consequência do desenvolvimento da humanidade, a


sociedade contemporânea, principalmente a partir da segunda metade do século
XX, tem-se caracterizado pela crescente complexidade das relações humanas.
Ademais, uma crise se abate por sobre o Estado Nacional e alcança, em especial, a
soberania – esta tomada como o poder de criar e aplicar normas internas e defender
sua autonomia no cenário internacional. Tais fatores fazem com que se torne
inadiável uma (re)estruturação do Direito, mormente no seu âmbito aplicativo,
fundamentada em alguns referenciais a partir dos quais possamos pensá-lo com
objetividade (AQUINO, 2008).
LEONEL SEVERO ROCHA (1998, p. 33) nos lembra que historicamente, o
direito tem sido objeto de estudos de uma série de “escolas de pensamento” que o
definem e o desenvolvem, a partir de determinado mirante epistemológico. De um
modo geral, o direito formal burguês e o direito materializado do Estado social
constituem os dois paradigmas jurídicos mais bem-sucedidos na moderna história do
direito. De uma maneira sintética, pode-se dizer que a análise do direito sob as
lentes da ciência divide-se em interna, que examina o fenômeno do direito a partir de
suas normas jurídicas, e externa, que se ocupa em explicar o direito a partir da
sociedade ou do social.
Corrobora, nesse sentido, NEWTON DE OLIVEIRA LIMA (2010) quando diz
que as correntes jusfilosóficas inserem-se em grandes sistemas de pensamento
(empírico-materialista, idealístico-racionalista e crítico-intuitivo), e da própria
derivação daquelas. Destes últimos surge uma complexificada gama de relações
que não podem ser explicitadas com coerência meridiana (ou cartesiana, se se
preferir); os conceitos, pressupostos e norteamentos jusfilosóficos que cada vertente
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filosófica carrega nem sempre são expressos coerente e lucidamente pelos sistemas
de Filosofia Jurídica a que dão origem.
No ocidente, a visualização do direito como ciência, iniciou-se no século XX,
tendo como referência o pensamento do Hans Kelsen – em especial a partir de
1934, com a publicação de sua Teoria Pura do Direito, que representa um divisor de
águas no pensamento jurídico e influenciou a maior parte dos sistemas jurídicos
ocidentais (AQUINO, 2008).
O pensamento de Kelsen, influenciado pelos estudos do Círculo de Viena –
grupo de filósofos fundador do positivismo lógico, neopositivismo ou da chamada
filosofia analítica –, desenvolveu-se no objetivo de conferir à ciência jurídica objeto e
métodos próprios, permitindo ao jurista autonomia científica (ROCHA, 1998;
BERNARDES, 2003) e culminou na elaboração de um sentido normativo próprio das
proposições jurídicas e na construção sistemática de um sistema de regras
destinado a garantir a consistência de decisões ligadas a regras, independentizando
o direito da política.
Buscava-se, assim, uma pureza no estudo do direito, partindo-se de uma
visão interna que reduzisse o objeto de estudo do cientista jurídico à norma tomada
como a expressão jurídico-legal de um acontecimento externo que, por sua
significação objetiva, constitui um ato conforme ou contrário a direito. Visava-se uma
pureza axiológica, tendo o direito como um sistema social padrão para a conduta
humana distinto da moral, por estatuir sanções coativas.
Ao lado dessa teoria, e muitas vezes aspirando a combatê-la, surgiram
outras que, a partir de outros mirantes epistemológicos, procuraram explicar o
fenômeno jurídico de maneira distinta da proposta por Kelsen, que via somente na
norma o objeto de estudo do jurista, excluindo toda e qualquer intervenção de
valores de sua análise, sejam estes históricos, sociais ou individuais.
Dentre essas outras teorias, e ao que parece em caminhos diametralmente
opostos, mas com o mesmo esforço de conferir cientificidade ao direito, têm-se a
teoria sistêmica, apoiada no pensamento do Niklas Luhmann, e a teoria discursiva,
de Jürgen Habermas, que, ao contrário de exclusão de interferências de valores
sociais, toma o direito a partir do social, em uma perspectiva interdisciplinar, onde se

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colocam conceitos estranhos à teoria jurídica diferentemente, portanto, da


perspectiva em que se baseia o neopositivismo kelseniano (AQUINO, 2008).
Segundo ANDRE TRINDADE (2008), ao aplicar o conceito dos sistemas
autopoiéticos ao direito, Luhmann consegue reduzir a complexidade social. De tal
modo, os estudos de Luhmann apregoam que o direito, em seu viés autopoiético, se
(re)cria com base nos seus próprios elementos. Sua autorreferência permite que o
direito mude a sociedade e se altere ao mesmo tempo movendo-se com base em
seu código binário (direito/não-direito). Tal característica permite a construção de um
sistema jurídico dinâmico mais adequado à hipercomplexidade da sociedade atual.
O pensamento jurídico de Habermas pode ser enquadrado como uma
concepção crítico-dialética que leva ao fundamento da juridicidade enquanto
discursividade ética de sujeitos humanos livres e autodeterminantes pretendendo
formar uma base de fundamentação normativa coerente consigo mesma, ainda que
de caráter provisório, mas sempre pragmática.
Enfim, o modelo jurídico vigente não atende às necessidades da
modernidade que veio a passos largos fazendo com o futuro se torne presente muito
rapidamente, sem chances de amadurecimento. É para superarmos os modelos
legalistas, estagnados e que visam a mudanças sociais e jurídicas que surgem
tendências críticas nas várias ciências, especialmente na sociologia e no direito.
Tanto por isso, o pensamento crítico busca um Direito que sempre se
repensa e se renova, um Direito efetivamente realista e adequado às necessidades
sociais. Portanto, é fundamental o estabelecimento de um novo paradigma para o
Direito, um paradigma crítico, que vise à emancipação do homem e à efetivação da
democracia (ALMEIDA, 2009).

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