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RESUMO:
O presente artigo objetivou analisar a imprescindibilidade do trabalho prisional,
como garantia de efetivar os direitos humanos, possibilitar a profissionalização
do preso e reduzir os efeitos deletérios da ociosidade nas prisões, já que o
trabalho é um direito e dever do preso. Após discorrer sobre o sistema
carcerário brasileiro, à luz da Lei de Execução Penal, constatou-se à ineficácia
da pena privativa de liberdade para alcançar os fins a que se destina. Ao revés,
as prisões se tornaram um meio de estigmatizar os indivíduos infratores,
depositando-os em um ambiente hostil, promíscuo e alvitante à dignidade da
pessoa humana. Resta inconteste a necessidade de mudança. Por isso,
ressalta a importância de haver o tratamento penal, por meio do trabalho, no
decorrer da aplicação da pena, com o fito de reduzir os índices de reincidência
e oferecer esperança de vida digna, ao ser restabelecida a liberdade.
PALAVRAS-CHAVE: Direitos Humanos. Sistema carcerário. Trabalho. Preso.
Ressocialização.
ABSTRACT:
The study deals with the the indispensability of prison labor as a guarantee to
enforce human rights facilitate the professionalization of the prisoner and to
reduce the deleterious effects of idleness in prisons, since the work is a right
and duty of the prisoner. After a discussion of the Brazilian prison system, in
light of Penal Execution Law, it was noted the ineffectiveness of custodial
sentence for the purposes for which they are intended. The prisons have
become a way of stigmatizing individuals offenders, putting them in a hostile
environment, promiscuous, and against to human dignity. It remains the
undisputed need for change. Therefore, it emphasizes the importance of having
the criminal treatment, through work, during the application of the penalty with
the aim of reducing recidivism rates and offer hope for a dignified, to be
restored to liberty.
KEY WORDS: Human Rights. Prison system. Work. Arrested. Resocialization.
Mestranda em Direito Processual Civil pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
Especialista em direito e processo do Trabalho. Membro do Grupo de Estudo em Direito
Probatório do Programa de Mestrado em Direito Processual Civil da Universidade Federal do
Espírito Santo (UFES). Advogada. Bolsista da CAPES. Email: crisdaleprane@globo.com
** Mestranda em Direito Processual Civil pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
Especialista em direito público. Membro do Grupo de Estudo em Direito Probatório do
Programa de Mestrado em Direito Processual Civil da Universidade Federal do Espírito Santo
(UFES). Advogada. Bolsista da CAPES.
129
SUMÁRIO
1. Considerações Iniciais
2. A finalidade da pena de prisão
2.1. O direito penal sob o enfoque garantista
3. O sistema prisional brasileiro de acordo com a lei de execução penal
(lei 7210/84) e os direitos do condenado
3.1. A realidade do sistema prisional
4. O trabalho do detento e a efetivação dos direitos humanos
5. O trabalho do preso na lei de execução penal
5.1. A remuneração e destinação do salário
5.2. A profissionalização
6. Entraves à implementação do trabalho nas prisões
7. Considerações finais
8. Referências
1. Considerações Iniciais
O presente estudo objetiva analisar a relevância do trabalho do preso
função punitiva da pena e assim, busca-se tão somente punir o mal causado à
reabilitador.
cumprimento da pena deve-se construir meios para que volte com perspectiva
e esperança.
tão somente ao redor do castigo por infringir as leis estatais, mas também,
condenado, mas não é uma obrigação. Logo, deve haver sua adesão voluntária
1
BITENCOURT, César Roberto. Tratado de Direito penal. 8. ed. São Paulo:
Saraiva, 2003, p. 07.
juiz coloca-se entre as partes como figura imparcial. Nesse sentido, ao ocorrer
extremo.”4
2
RIBEIRO, Bruno de Morais. A função de reintegração social da pena privativa de
liberdade. Porto Alegre: Sergio Antônio Fabris Editor, 2008, p. 93.
3
FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. São Paulo:
Editora revista dos Tribunais, 2002, p. 269.
4
FERRAJOLI, L. Op. cit., p. 372.
respeito às leis, pela aplicação da pena compatível com o delito, desde que
5
BRASIL. Lei 7210 de julho de 1984. In: Vademecum universitário de Direito
2008. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
condenados.
direitos não atingidos pela sentença penal condenatória. A propósito, tendo por
dentre outros. No entanto, não poderá votar, tampouco ser votado, afinal,
políticos.
6
MIRABETE, J.F. Execução Penal: comentários à Lei de nº 7210 de 11-7-1984. 11
ed. São Paulo: Atlas, 2004. p. 41.
dias determinados; direito a ter contato com o mundo exterior por meio de
correspondência escrita.
dentre outros.
privativa de liberdade.
garantir o cumprimento da lei, que prevê uma série de direitos compatíveis com
César Barros Leal7 descreve o cenário das prisões como o local onde
indisciplina.
7
LEAL, C.B. LEAL, César Barros. Prisão: Crepúsculo de uma era. 2 ed. Rev. e
atual. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p.58.
Human Rights Watch8 lista como algumas das causas para o seu
Insta frisar ainda que, no dizer de Nucci9: “por falta de vagas, há muitos
8
O Brasil atrás das grades. Uma análise do sistema penitenciário. Human Rights
Watch. Disponível em: <http://www.hrw.org/portuguese/reports/presos/sistema.htm> Acesso
em 05 jul 2010.
9
NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 2.
ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p.285.
10
MIRABETE, J. F. Op. cit., p.29.
reintegração social.
fracasso da pena privativa de liberdade, por não fornecer meios para o egresso
evitar fugas.
mínimas.12
isso, o trabalho nas prisões se apresenta com uma alternativa para retirar o
11
D’URSO, Flavia. Princípio constitucional da proporcionalidade no processo
penal. São Paulo: Atlas, 2007, p.78.
12
CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 7. ed.
Coimbra: Almedina, 2003, p. 363.
13
SARLET, I.H. Op. cit., p. 44-46.
14
GARCIA-PABLOS DE MOLINA, Antônio; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia:
introdução a seus fundamentos teóricos. 2. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos
tribunais, 1997, p. 480.
15
RIBEIRO, B. de M., Op. cit., p. 106.
apenado.16
o mal da ociosidade.
direito do preso. (artigos 28, caput, c/c art. 31 da Lei de execução Penal).
16
JUNQUEIRA, A.; FULLER, P. H. Op. cit., p. 35.
prisional brasileiro, constata-se não haver trabalho para todos. Além disso,
profissionalização.
condicional.
um suplício. A prisão não pode ser utilizada somente como um meio para
afastar aquele que infringiu as leis penais do convívio social. Ela deve oferecer
ressocialização penal.
17
FALCONE, Romeu. Sistema Presidial: Reinserção social? São Paulo: Ícone,
1998, p.71.
reincidência, uma vez que a falta de habilitação para o trabalho é, sem dúvida,
uma das suas causas e econômico: percebendo um salário, por menor que
colaboração familiar.
sempre remunerado”.
18
MUAKAD, Irene Batista. Prisão Albergue. Reintegração social, substitutivos
penais, progressividade do regime e penas alternativas. São Paulo: Atlas, 1998, p. 37.
19
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal. Parte Geral. Rio de
Janeiro: Forense, 2003, p. 297.
20
BITENCOURT, C. R. Tratado de direito penal, p. 441.
pecuniário para o detento e sua família, sendo que nenhum preso poderá ser
acentua que serve para aprimorar habilidades e evitar o ócio, devendo ser
Quadra salientar que o trabalho não deve ser aflitivo, mas sim, ter
àqueles que trabalhavam sua continuidade. Enfim, deve ser considerado fator
21
FOCAULT, Michael. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes,
2006, p. 224.
22
MIOTTO, Armida Bergamini. Curso de direito penitenciário. v. 2. São Paulo:
Saraiva, 1975, p. 493 e 496.
23
RIBEIRO, B.de M. Op. cit., p. 108.
trabalho.
devem cumprir sua função reabilitadora e operar uma transição positiva entre o
O trabalho pode ser definido como essência humana, tem caráter ético,
Direito.
educativa e produtiva.
24
ROXIN, Claus. Problemas Fundamentais de Direito Penal. 3. ed. Lisboa: Veja,
1998, p. 44.
indissociável.25
previstos na legislação penal.27 Por outro lado, não poderá o Estado utilizar
República Federativa do Brasil é o valor social do trabalho (art. 1º, inciso IV, da
econômica (art. 170 da CF), enquanto a ordem social tem como base o
25
LEAL, João José. O princípio constitucional do valor social do trabalho e a
obrigatoriedade do trabalho prisional. In: Revista Jurídica do Ministério Público
Catarinense, Florianópolis, v. 3, n. 5, p. 29-46, 2005.
26
MIRABETE, J. F., op. cit., p.90.
27
Ibidem.
contemporâneas, além de estar prevista como uma das Regras mínimas para o
oferecidas pelo mercado (art. 32, caput, LEP); deve ser remunerado (art. 29 da
LEP); a jornada não poderá ser inferior a seis, nem superior a oito horas, com
descanso aos domingos e feriados (art. 33, caput, LEP); poderá ser, interno ou
externo.
28
LEAL, J.J. Op. cit., p. 32.
seja capaz arcar com o seu sustento. Por isso, importante seria instituir nas
aprimoramento profissional.
Por ser o trabalho carcerário um dever que decorre da pena, não está
contrato de trabalho.
previdência social.29 Tal aspecto merece ser criticado, pois deveria se conceder
(art. 29, caput, LEP). Assim, visa-se a impedir o trabalho gratuito dos presos e
29
SILVA, Haroldo Caetano da. Manual de execução Penal. 1 ed. São Paulo: Book
Seller, 2001, p. 53.
deverá dispor de um tempo, a ser fixado pelo juiz, a fim de cumprir a pena.
primeira porque pode oferecer àquele que não teve acesso à educação, a
fosse bem estruturado de modo a gerar lucros, estes poderiam ser revertidos
para gerir a própria unidade prisional, e até mesmo, criar novos postos de
sistema.
30
ZAFFARONE, Eugênio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito
Penal Brasileiro: Parte Geral. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002, p. 757.
5.2. A profissionalização
A população prisional é formada, em grande parte, por pessoas jovens
liberdade.
O trabalho deve atender aos fins colimados pela LEP: função educativa
31
Disponível em:
<http://www.depen.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=6>. Acesso em 01 set.
2010.
qualificação.
crimes.
tratamento.
32
MIRABETE, J. F. Op. cit., p. 91.
33
Pastore, J. Os limites do trabalho prisional. Disponível em:
<www.josepastore.com.br/artigos/relacoestrabalhistas/140.htm>. Acesso em: 03 mar 2010.
vida do preso ao alcançar a liberdade, atendendo aos fins colimados pela LEP,
Ao revés, tem sido feita, nos estados do Paraná, São Paulo, Espírito
santo, Mato Grosso, Ceará, dentre outros, parcerias com empresas privadas,
34
Disponível em: < http://www.funap.sp.gov.br/news_91.html>. Acesso em: 01 jul
2010.
construção civil.
35
Governo apresenta Fundação Nova Chance. Cuiabá, 2008. Disponível em:
<http://www.odocumento.com.br/noticia.php?id=254057> .Acesso em: 15 jul 2010.
36
Disponível em: < http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=308750>,
Acesso em: 02 out 2009.
do trabalho. Todavia, tal fato poderá ser minorado por meio das parcerias
que proporciona.
fomentar sua efetivação, já que a parcela que trabalha ainda representa uma
37
Doutora pela Universidade Federal de Minas Gerais, professora titular da Cadeira de
Direito Penal e do curso de Mestrado em Direito na Universidade Federal do Espírito Santo.
e não tem direito a verbas como décimo terceiro salário, Fundo de Garantia por
trabalho. Por isso, cabe à sociedade apoiar políticas que primam pela melhoria
prisões, a ministra Ellen Gracie, assinou dois acordos com a Federação das
de cada detento.39
social aos presos por meio do trabalho: trata-se de incluir cláusula obrigatória
38
PONTIERE, ALEXANDRE. Trabalho do preso. Revista do Tribunal Regional
Federal da Primeira Região. Brasília, n. 2, 2008, p. 69.
39
Ibidem.
40
FREITAS, Maria Cavalcante Tannus. A reintegração do preso na sociedade por
meio de Obras Públicas: o papel do Estado na promoção do direito social ao Trabalho.
Revista Zênite de licitações e Contratos. Curitiba, 2008, p. 381.
reintegração na comunidade.
7. Considerações finais
humana. Porém, ela não é aplicada em sua literalidade. Para isso, importante
tempo, possam ter expectativa de vida melhor fora das prisões, como um
8. Referências
BONAVIDES, Paulo. Ciência política. 11. ed. - São Paulo: Malheiros, 2005.
LEAL, César Barros. Prisão: Crepúsculo de uma era. 2. ed. Rev. e atual. Belo
Horizonte: Del Rey, 2001.
SILVA, Haroldo Caetano da. Manual de execução Penal. 1 ed. São Paulo:
Book Seller, 2001.