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TARI 02/2020 - Atividade III - Pós-Modernismo, Feminismo e Queer

1. Pós-Modernismo

Assistir o filme “​Blade Runner​” (1982) de Ridley Scott:

Trecho da cena final entre Replicante Batty e Deckard:

Deckard olha para Batty.

Batty está parcialmente dobrado, congelado numa posição não natural, como se tivesse estado a contorcer-se
e tivesse parado a meio de uma contorção. Devolve a Deckard um olhar cheio de vida e intensidade.

Ficam assim a olhar um para o outro em silêncio por um longo tempo, comunicando apenas com os olhos...
sem expressão. Finalmente Batty quebra o silêncio.

Batty:

Eu vi coisas...
(pausa longa)
vi coisas que vocês não acreditariam...
Naves de combate em fogo ao largo de Orion brilhantes como magnésio...
Naveguei nos porões traseiros de um blinker e vi raios-c brilharem no escuro junto à Porta de Tanhauser.
(pausa)
todos esses momentos... serão perdidos.
Se perderão no tempo, como lágrimas na chuva.

A teoria pós-moderna questiona os discursos, identidade e significados fixos. Questiona a fé


iluminista moderna e uma visão otimista do futuro compartilhada por liberais, realistas e
marxistas. O futuro muitas vezes aparece para o público como um reino assustador, obscuro
e difícil de decifrar, exatamente como as cenas distópicas de ​Blade Runner.​ O
Pós-Modernismo promove uma quebra do regime de verdade das narrativas totalizantes
moderna. Dentro deste panorama, a vida social parece desestabilizada, sem propósito,
dominada por imagens de caos e, portanto, totalmente em desacordo com os requisitos do
discurso ideológico coerente das teorias explicativas (Realismo, Liberalismo, Marxismo).
Nesse sentido, o filme ​Blade Runner representa o espírito anti-política e a antítese das
narrativas totais que sempre acreditam no futuro promissor da humanidade.

Tendo como base a discussão sobre o Pós-Modernismo nas RI de R.B.J. Walker e o filme
Blade Runner​, responda a seguinte pergunta (valor 0,8):
a) Os replicantes querem sobreviver ao prazo curto de vida dado pelo seu criador.
Querem ser humanos e viver longamente. Mas na luta pela sobrevivência, acabam
desconstruindo o conceito aparentemente neutro de ‘ciência’, ao mostrar quão cruel
ela pode ser na medida que ela cria escravos (replicantes) para servir aos humanos.
Assim, como podemos entender a relação entre ciência e narrativa de poder tendo
como base ​Blade Runner​ e a crítica pós-moderna?

2 - O Feminismo em Relações Internacionais

A Mão Esquerda da Escuridão (1969) é uma das mais renomadas obras da escritora americana
Ursula K. Le Guin. Na obra, a autora conta a viagem de Genly Ai, um humano, emissário de
Terra ao planeta Gethen. Sua missão é convencer representantes do governo Getheniano a
integrar seu planeta à sociedade de Ekumen - uma união de 83 mundos organizados sob
algumas leis e normas comuns. Genly Ai descreve a civilização getheniana, única e peculiar, e
busca compreender as particularidades de sua organização social. Na base dessas
particularidades está a ausência de gênero de maneira quase permanente em seus habitantes.
Como diz o próprio emissário, a assexualidade é um aspecto absolutamente fundamental da
sociedade de Gethen: não há homens e mulheres. O único momento em que o gênero assume
algum papel é durante o ​kemmer. ​Neste período, que o ocorre uma vez ao mês, os
Gethenianos assumem um dos sexos para fins reprodutivos. Por poder assumir muitas
vezes os dois sexos ao longo da vida, o gênero se torna irrelevante para organização da
sociedade.
Leia alguns excertos abaixo sobre o livro, além de outras referências do Feminismo nas
Relações Internacionais, e responda às seguintes questões:

Cynthia Enloe, ​Bananas, Beaches and Bases,​ p. 36, 2014 (1991)


So they—and most of their critics as well—try to hide and deny their reliance on women as
feminized workers, as respectable and loyal wives, as “civilizing influences,” as sex objects, as
obedient daughters, as unpaid farmers, as coff ee-serving campaigners, and as spending
consumers and tourists. If we can expose their dependence on feminizing women, we can show
that this world is also dependent on artificial notions of masculinity. As a result, this seemingly
overwhelming world system may begin to look more fragile and open to radical change than we
have been led to imagine.

J. Ann Tickner, ​Gender in International Relations​, p. 9, 1992


Our Western understanding of gender is based on a set of culturally determined binary
distinctions, such as public versus private, objective versus subjective, self versus other,
reason versus emotion, autonomy versus relatedness, and culture versus nature; the first of
each pair of characteristics is typically associated with masculinity, the second with
femininity. Scott claims that the hierarchical construction of these distinctions can take on a
fixed and permanent quality that perpetuates women's oppression: therefore they must be
challenged. To do so we must analyze the way these binary oppositions operate in different
contexts and, rather than accepting them as fixed, seek to displace their hierarchical
construction. When many of these differences between women and men are no longer
assumed to be natural or fixed, we can examine how relations of gender inequality are
constructed and sustained in various arenas of public and private life. In committing itself to
gender as a category of analysis, contemporary feminism also commits itself to gender
equality as a social goal. Extending Scott's challenge to the field of international relations, we
can immediately detect a similar set of hierarchical binary oppositions. But in spite of the
seemingly obvious association of international politics with the masculine characteristics
described above, the field of international relations is one of the last of the social sciences to
be touched by gender analysis and feminist perspectives.

The reason for this, I believe, is not that the field is gender neutral, meaning that the
introduction of gender is irrelevant to its subject matter as many scholars believe, but that it
is so thoroughly masculinized that the workings of these hierarchical gender relations are
hidden. Framed in its own set of binary distinctions, the discipline of international relations
assumes similarly hierarchical relationships when it posits an anarchic world "outside" to be
defended against through the accumulation and rational use of power. In political discourse,
this becomes translated into stereotypical notions about those who inhabit the outside. Like
women, foreigners are frequently portrayed as "the other": nonwhites and tropical countries
are often depicted as irrational, emotional, and unstable, characteristics that are also
attributed to women. The construction of this discourse and the way in which we are taught
to think about international politics closely parallel the way in which we are socialized into
understanding gender differences. To ignore these hierarchical constructions and their
relevance to power is therefore to risk perpetuating these relationships of domination and
subordination.

A genuinely emancipatory feminist international relations will take gender difference as its
starting point but it will not take it as given. While attempting to explain how gender has been
constructed and maintained in international relations, we must also see how it can be
removed. A world that is more secure for us all cannot be achieved until the oppressive
gender hierarchies that operate to frame the way in which we think about and engage in
international politics are dismantled. In my final chapter I shall argue that the feminist
perspectives on international relations that I develop throughout the book are but an
intermediate step toward the eventual goal of a nongendered perspective. I shall also argue
that this nongendered perspective could truly offer us a more inclusively human way of
thinking about our collective future, a future in which women and men could share equally in
the construction of a safer and more just world.

A Mão Esquerda da Escuridão


https://olhares-femininos-uespi.webnode.com/_files/200000010-2696927950/A%20m%C3%A3o
%20esquerda%20da%20escurid%C3%A3o%20(1).pdf

“Incontestavelmente eu não estava duelando com Argaven, mas tentando me comunicar com
ele.
— Não fiz segredo disso, Excelência. O Conselho Ecumênico quer uma aliança com as nações
de Gethen.
— Para quê?!
— Benefícios materiais. Aumento de conhecimento. Aumento de penetração na complexa e
intensa vida inteligente. Enriquecimento da harmonia entre os povos e glória maior de Deus.
Curiosidade. Aventura. Prazer.
Eu não estava falando a mesma linguagem falada por aqueles que governam homens, reis,
conquistadores, ditadores, generais. Nesta língua, não havia resposta à sua pergunta. Taciturno
e oscilando nos pés alternadamente, Argaven fitava o fogo, desatento.
— Quão grande é este reino... fora, no espaço deste conselho?
— Há oitenta e três planetas habitáveis no campo de ação do Conselho Ecumênico e, neles,
cerca de três mil nações ou grupos antro típicos.
— Três mil? Entendo. Agora me diga: por que nós, um contra três mil, temos alguma coisa a ver
com todos esses monstros vivendo no espaço vazio?
Voltou-se para me olhar, pois ainda estava fazendo perguntas retóricas, quase como piada.
Entretanto essa atitude não era real. Ele — como Estraven me havia prevenido — estava
alarmado, sentindo-se inseguro.
— Três mil nações em oitenta e três mundos. Mas o que está mais próximo de Gethen está a
dezessete anos de viagem em naves que se movem quase à velocidade da luz. Se pensou que
Gethen poderia ser envolvido em pilhagens ou ser molestado por tais vizinhos, considere a
distância em que vivem. Invasões não valem o incômodo, através do espaço. Não falei de
guerra, por uma simples razão: não há tal palavra em Karhide.” (p.42)

“Mas no planeta Gethen nada leva à guerra. Disputas, assassinatos, vendetas, incursões de
pilhagem, rixas e torturas, ou outras perversidades, tudo isto fazia parte do repertório agressivo
humano, mas não sabiam fazer guerra. Faltava-lhes, creio, a capacidade de mobilização.
Comportavam-se como animais ou como mulheres, neste aspecto, e não como homens ou
formigas.” (p.57)

“Outra suposição quanto ao objetivo desse hipotético experimento: a eliminação da guerra. Os


antigos hainianos postulavam que a capacidade sexual contínua e a agressão social organizada
são atributos de apenas um mamífero, o homem. Serão causa e efeito? Ou, como Tumass Song
Angot, consideravam ser a guerra uma atividade puramente masculina, um estupro coletivo, e
assim, nesta experiência, eliminariam a masculinidade que violenta e a feminilidade que é
violentada? Só Deus sabe. A verdade é que os gethenianos, altamente competitivos (como
provam os canais existentes para a competição e o prestígio social, etc.), parecem não ser
muito agressivos; pelo menos, talvez aparentemente, nunca tiveram o que se chamaria guerra.”
(p.115)

“Na sua essência estão as forças da comunicação e da cooperação, e, sob outro ângulo, é uma
espécie de liga ou união de mundos, possuindo em certo grau uma organização convencional
centralizada. É este aspecto — o da liga — que eu agora estou representando. O Conselho
Ecumênico, como uma entidade política, funciona através de coordenação e não de regras. Não
impõe leis, as decisões são tomadas por consentimento de um conselho, não por ordens ou
consenso geral. Como uma entidade econômica, é imensamente ativa, procurando
comunicação interespacial e mantendo o equilíbrio comercial entre oitenta mundos, oitenta e
quatro mais precisamente, se Gethen entrar na sua esfera... — O que você quer dizer com "não
impõe suas leis"? — perguntou Slose. — Não tem nenhuma. Os Estados membros têm as suas
próprias leis; quando elas conflitam entre si, intervém como mediador, tenta fazer um
ajustamento legal ou ético, ou confronto, ou escolha, conforme for o caso. Mas se
eventualmente o conselho, como uma experiência de superorganização, falhar, terá que se
transformar numa força mantenedora da paz, manter uma polícia, etc. Até agora não foi
necessário. Todos os principais mundos estão se recuperando de uma era desastrosa, ocorrida
há um par de séculos; recuperando idéias e habilidades perdidas, aprendendo a falar
novamente... — Como eu poderia explicar a Idade da Agressão e seus efeitos posteriores para
um povo que ainda não tinha nem sequer a palavra "guerra"?! (p.164)

Nos trechos de “A Mão Esquerda da Escuridão”, Genly Ai reflete sobre poder, disputa e
guerra em Gethen. Apresentam-se também alguns diálogos que o emissário trava com
líderes do planeta a fim de convencê-los a integrar a organização interplanetária Ekumen.

Com base nesses excertos e no pensamento femista em Relações Internacionais, exemplificado


- mas não esgotado - nas citações de Enloe e Tickner, também apresentadas no anexo,
responda:

c) Como as Teorias Feministas de RI explicariam a ausência de guerra em Gethen? (valor 0,5)

d) A exclusão do gênero das relações de poder aparece na história que se narra em A Mão
Esquerda da Escuridão. De modo bastante distinto, essa mesma exclusão é denunciada pelas
teóricas feministas em sua análise das Relações Internacionais. Descreva e compare estes dois
modos de exclusão - o ficcional e o real -, refletindo sobre seus resultados. Quais as
consequências, no fantástico Gethen e no Sistema Internacional Contemporâneo - o real - da
exclusão de gênero sobre a emergência e solução de conflitos? Como se dá a disputa de poder,
nesses dois âmbitos, quando deslocada da questão de gênero? (valor 0,4)

3 - TEORIA QUEER

Assista o filme ‘Priscila, Rainha do Deserto’ (1994), dirigido por Stephen Ellitot.

O filme ‘Priscila, Rainha do Deserto' apresenta a vida de três ​drag queens cuja
apropriação da feminilidade é implementada por sujeitos transgêneros que marcam a
coexistência de traços de masculinidade e feminilidade em um mesmo corpo. A inversão das
normas convencionais da sexualidade cria paródias e métodos exagerados de ação que se
transformam em um paradigma subversivo. Além disso, as ​drag queens desnaturalizam a
perceção de feminilidade por performances de feminilidade hiperbolizada. Uma mulher
transexual – Bernadette - mantém a naturalização materializando as normas de feminilidade
(afeto, decência, serenidade, condescendência, atenção plena à beleza exterior e
representação feminina elegante) por meio de sua performance de gênero fora do palco. No
entanto, ao aplicar esses estereótipos a uma pessoa designada do sexo masculino ao nascer,
Bernadette destaca também a mutabilidade, a instabilidade e o construtivismo de gênero,
mostrando que a sexualidade é criada e implementada por meio da prática performativa,
independentemente da designação no nascimento ou da natureza anatômica.
a) Tendo como base a discussão que Judith Butler faz em ‘​Gender Trouble​’ sobre as
drag queens e construção das identidades, analise a cena do bar (diálogo entre
Bernadette e cliente do bar) (valor 0.8):

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