Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
e. Cognição
Expondo a variabilidade
Organizado por Hélio José Guilhardi
Noreen Campbell de Aguirre
ESETec
Editores Associados
Sobre
Comportamento e
Cognição
Associação Brasileira de Psicoterapia e
Medicina Comportamental
Volume 15
Hélio J. Guilhardi • Adólia Maria Santos Teixeira • Áderson Luiz Costa Júnior • Alessandra Antônio
Villas Bôas» Alessandra Brunoro Motta • Alexandre Dittrich • Aline Beckmann Menezes • Arriauri
Gouveia Jr • Ana Carolina Aquino de Souza • Ana Rita Coutinho Xavier Naves • Andressa Marianne
Salles • Angélica Capelari • Antônio Bento Alves de Moraes • Armando R. das Neves Neto • Augusto
Amato Neto • Bernard Rangó • Carlos Eduardo Lopes • Carolina Duarte dos Santos • Carolina
Lauronti • Caroline Cunha da Silva • Claudia Barbosa • Claudia Lúcia Menegatti • Cloves Amorim •
Cristina Moreira Fonseca • Daieme Marcela Rigotto • Danielle Marques dos Ramos • Edvaldo
Soares • Edwigos Forreira de Mattos Silvares • Eliana Isabel do Moraes Hamasaki • Eliano Mary de
Oliveira Falcone • Elizeu Batista Borloti • Eustáquio José de Souza Júnior • Gerson Yukio Tomanari
• Gina Nolôto Bueno • Giovana Delvan Stuhler Avi • Gislaine Cristhiane Bern de Sousa • Gracy Kelly
da Silva Tobias • Gustavo Sattolo Rolim • João Carlos Muniz Martinelli • João dos Santos Carmo •
João Vicente de Souza Marçal • José Antônio Damãsio Abib • José Gualborto Tuga Angerami • José
Lino Oliveira Bueno • Josy de Souza Moriyama • Ketney Bonfogo Bocchi • Laórcia Abreu Vasconcelos
• Lidia Natalia Dobrianskyj Wober • Lincon da Silva Girnenez • Luc Vandenberghe • Lúcia Cavalcante
do Albuquorquo Williams • Luciana Machado Barreiros • Luciano de Sousa Cunha • Makilirn Nunes
Baptista • Maly Delitti • Manuela Gomes Lopes • Márcia da Rocha Pitta Ferraz • Márcia Helena da
Silva Melo • Marco Antônio Amaral Chequer • Marcus Bontos de Carvalho Noto • Maria Cristina
Triguero Teixeira • Maria da Graça Saldanha Padilha • Maria Estor Rodrigues • Marília da Costa
Arruda • Mayra Holona Bonifácia Gaiato Meneghelo • Mônica Bessa-Oliveira • Paul Thomas Andronis
• Paula Inez Cunha Gomido • Renata Guirnaraes Horta • Rosana do Fátima Possobon • Sandra
Leal Calais • Sérgio Dias Cirino • Sônia Regina Fbrim Enumo • Suzane Schmidlin Lõhr • T. V. Joe
Layng • Vanessa Kazue Murayarna • Vera Lúcia Adami Raposo do Amaral • Viviane Vordú Rico
ESETec
Editores Associados
2005
Copyright O desta edição:
ESETec Editores Associados, Santo André, 2005.
Todos os direitos reservados
456 p 17 x 24 cm
CDD 155.2
CDU 159 9 019 4
ISBN-85-88303-62-0
Apresentação................................................................................................................5
Perspectiva Analitico-Funcional............................................................................... 54
Ana Carolina Aquino de Sousa, Luc Vandenberghe
' SKINNER, B.F. (1978) Reflections on Behaviorism and Society .Englewood Cliffs: Prentice-Hall, p.5
Análise de Contingências em
Programação de Ensino*: Legado de
Carolina Martuscelli Bori**
AdéliiiMariaSm/os Teixeira”
Programar o ensino não constitui tarefa fácil nem simples. Com este trabalho,
pretendo apontar a necessidade da inserção dos analistas do comportamento no campo
da educação, destacando as possibilidades promissoras contidas na proposição de
programação de ensino de Bori (1974).
Para tanto, retomarei as origens, concepções e condicionantes do ensino
programado, tendo em vista o longo tempo decorrido desde as suas proposições originais.
Quatro nomes estão indiscutivelmente associados ao desenvolvimento desse modelo de
ensino: Sidney L. Pressey (1926,1927), B.F. Skinner (1954,1958), Fred S. Keller (1968)
e Carolina Martuscelli Bori (1974).
Trinta anos depois, Skinner (1954, 1958), em dois brilhantes artigos, fez sua
incursão no campo da educação. De 1929 a 1953, havia feito grande parte de suas
descobertas sobre as relações estabelecidas entre o organismo e o ambiente, que se
tornaram conhecidas como Análise Experimental do Comportamento. Surgiu uma nova
concepção de homem que apontou para a determinação externa (ambiental) do seu
comportamento. Suas descobertas estavam baseadas na pesquisa animal (ratos e pombos)
na qual pôde constatar a plasticidade do comportamento em relação a variações das
condições ambientais. Era natural que, a partir desses conhecimentos, vislumbrasse a
possibilidade do estabelecimento de novas relações entre a educação e a ciência, através
dos princípios da Análise Experimental do Comportamento. Do mesmo modo, era natural
que antecipasse a possibilidade de uma análise científica dos procedimentos de ensino e
de uma nova concepção de educação, fundada na Análise Experimental do Comportamento.
Dentro desse contexto, na década de 50, inseriu-se, de uma maneira definitiva, no
campo da educação humana, passando a discuti-la, com base em seus estudos sobre
aprendizagem animal. De fato, seu trabalho de laboratório guardava correspondência com
ensino e educação de animais.
O problema que norteou sua discussão foi a própria situação de ensino nos Estados
Unidos. Considerava-a inadequada, insuficiente, aversiva, medíocre. Tendo em vista os
grandes investimentos destinados á educação, naquele país, podia-se, mesmo, considerar
seus resultados muito ruins (Skinner, 1958).
No lugar de propor o que tradicionalmente se propõe - construção de prédios,
treinamento de professores, uso de material áudio-visual, aumento de salário dos docentes,
agrupamento homogêneo de alunos, criação de classes especiais, disciplina, sugeriu que
a solução do problema era tornar a educação mais efetiva. Isso era possível passando-se
a analisar as relações da situação ensino/aprendizagem e atacando e abordando o método
de ensino. Com isso, propôs que se passasse a programar o próprio ensino, conforme os
princípios da Análise Experimental do Comportamento.
Surgiu, então, sua proposta de ensino programado, enfatizando a programação
do ensino e vislumbrando a possibilidade do desenvolvimento de uma tecnologia de ensino
(Skinner, 1958,1961).
Dois produtos derivados dessa proposta ficaram muito conhecidos do público: a
Instrução Programada (IP) e as Máquinas de Ensinar.
O ensino era concebido como um arranjo de contingências, sob as quais o aluno
aprende (Skinner, 1972). O princípio-chave dessa concepção era o de contingência de
reforçamento ou de contingência tríplice através da qual relações são estabelecidas entre
condições antecedentes, comportamentos e condições conseqüentes. Esses três termos
são inseparáveis e constituem a unidade mínima de análise na Análise do Comportamento.
Um programa de ensino correspondia a um arranjo de inúmeras contingências
tríplices dirigidas ao objetivo do ensino.
Skinner (1972, caps. 2, 3 e 4) descreveu alguns condicionantes do ensino
programado.
R eferôncias
Bori, C.M. (1974) Developments in Brazil. Em: F.S. Keller & J.G. Sheman. PS/ - The Keller plan
handbook. Menlo Park, California: W.A. Benjamin, 65-72.
Freitas, L.C. (1987) Análise Experimental do Comportamento aplicada à educação: um estudo
de caso brasileiro. Tese de Doutorado. São Paulo: Universidade de Sâo Paulo.
Holland, J.G. (1960) Teaching machines: an application of principles from the laboratory. Em:
A.A. Lumsdaine & R. Glaser (Orgs.) Teaching machines and programmed learning - a
source book. Washington: National Education Association, 215-228.
Keller, F.S. (1968) "Good-bye, Teacher..." Journal of Applied Behavior Analysis, 1, 79-89.
Kellor, F.S. e Sherman, J.G. (1974) P S I-th e Keller plan handbook. Menlo Park, California: W.A.
Benjamin.
Keller, F.S. (2001) O que aconteceu ao piano de Brasilia nos Estados Unidos? Em: Guilhardi,
H.J. et al. (Orgs.) Sobre comportamento e cognição - expondo a variabilidade, Vol. 8
(Trad. Noreen Campbell Aguirre). Santo André (SP): ESETec, 462-469. [Palestra
apresentada no III Encontro da Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina
Comportamental/ABPMC; setembro/1994; Campinas/SP].
Matos, M.A. (1992) Análise de contingências no aprender e no ensinar. Em: Alencar, E.S. (Org.)
Novas contribuições da Psicologia aos processos de ensino e aprendizagem. São Paulo:
Cortez Editora, 141-165.
Matos, M.A. (1996) Contingências para a Analiso Comportamental no Brasil: Fred S. Keller.
Psicologia: Teoria e Pesquisa, 12, n° 2, 107-111.
Matos, M.A. (1998) Contingências para a Análise Comportamental no Brasil. Psicologia - USP,
Vol. 9, N° 1,89-100.'
Nale, N. (1998) Programação de ensino no Brasil: o papel de Carolina Bori. Psicologia - USP,
Vol. 9. N° 1, 1998, 275-301.
Pressey, S.L. (1926) A simple apparatus which gives test and scores and teaches. Em: A.A.
Lumsdaine & R. Glaser (1960) (Orgs.) Teaching machines and programmed learning -
a source book. Washington: National Education Association, 35-41.
Pressey, S.L. (1927) A machine for automatic teaching of drill material. Em: A. A. Lumsdaine & R.
Glaser (1960) (Orgs.) Teaching machines ans programmed learning - a source book.
Washington: National Education Association, 42-46.
Sherman, J.G. (1974a) PSI today. Em: F.S. KellerA J.G. Sherman. P S I-T he Keller plan handbook.
Menlo Park, California: W.A. Benjamin. 59-64.
Sherman, J.G. (1974b) Logistics. Em: F.S. Koller& J.G. Sherman. PSI - The Keller plan handbook.
Menlo Park, California: W.A. Benjamin. 24-49.
Ressurgéncia
Após alguns anos desde os estudos iniciais sobre regressão, Epstein (1983), já
na década de 1980, retomou o tema, porém inaugurando novos enfoques conceituais e
metodológicos. Em vez de estudar o reaparecimento de antigos comportamentos mediante
1 Segundo u psicanálise, tais comporíammloa seriam pontos de fixação selecionados na infância que não
tiveram um "bom desenvolvimento" e, por Isso, haveria posteriormente retornos a eles diante de situações
desagradáveis
3 Ao longo deste capitulo, MR1” será empregado para designar o reforçamento de um comportamento que,
posteriormente, será avaliado em sua possibilidade de reaparecer. Por sua vez, “ R2" designará um
comportamento que será reforçado após "R I" té-lo sido
4 O lerrno ressurgéncia foi preferido ao termo ressurgimento como tradução de resurgence, pois o primeiro
não apresenta significado na língua portuguesa, ao contrário do segundo. Desse modo, pode preservar um
significado técnico do termo que é introduzido na língua portuguesa pelo fenômeno que será aqui descrito
5 "When, in a given situation, recently reinforced behavior is no longer reinforced, behaviors that were
previously reinforced under similar circumstances tend to recur " (Epstein, 1983, p. 391)
20 A le**dm lrii A . V illus Bd»is, Vuncisti K>i/uc M u r.iyd im i, Qcrson Y ukio lomanari
a ocorrer no disco da direita (R1) - o disco no qual houve história de reforçamento na
primeira condição experimental.
A partir dos resultados dos dois experimentos descritos acima, Epstein (1983,
1985) atribuiu o reaparecimento da primeira resposta treinada (R1) á situação imposta
pela extinção de R2 e introduziu, na literatura, o termo "ressurgência induzida por extinção"
{extinction-inducedresurgence, Epstein, 1983, p. 391; 1985, p. 144).
R eferên cias
Cloland, B. S. & Temple, F. W. (2000). Resurgence: the rolo of oxtinction. Behavioural Processos,
52, 117-129.
Cloland, B. S., Guerin. B., Foster, T. M. & Temple, W. (2001) Ressurgence. The Behavior Analyst,
24, 255-260.
Dixon, M. R. & Hayes, L. J. (1998). Effects of dofforing instructional histories on the resurgonco
os rule-following. The Psychological Record, 48, 275-292.
Epstein, R. (1983). Resurgence of of previously roinforced behavior during extinction. Behaviour
Analysis Letters, 3, 391-397.
Análise de estratégias de
enfrentamento não-facilitadoras da
hospitalização em crianças com
câncer*
A/cs&imlni fírunoro M o tU *
Participantes
Participaram desta pesquisa 28 crianças (9 meninas e 19 moninos), com idade
entre 6 e 12 anos (média de 9 anos), em tratamento no Serviço de Onco-Hematologia de um
hospital infantil público, em Vitória, ES. A maioria estava sendo atendida no ambulatório
(89,3%), ficando as demais na Enfermaria (10,7%). Em termos clínicos, 71,4% das crianças
eram portadoras de leucemia, estando em fase de manutenção (64,3%), sem recidiva (85,7%).
A escolaridade das crianças variou da pré-escola até a 6* série do Ensino
Fundamental, com uma concentração maior na 2" série (32,1%). Todos os responsáveis
assinaram termo de consentimento para participação na pesquisa, que foi autorizada pelo
Comitê de Ética do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFES.
Material
Para a coleta de dados, foram utilizados como instrumentos: a) um roteiro para
registro de dados obtidos em prontuários médicos e fichas de dados sociais; b) um roteiro
de entrevista sobre o Serviço de Oncologia e c) um instrumento especialmente elaborado
para a avaliação das estratégias de enfrentamento da hospitalização, com ênfase na análise
do brincar no hospital - AEH - especialmente elaborado para a pesquisa (Motta & Enumo,
2002,2004a, 2004b).
Procedimento
A pesquisa foi executada em quatro etapas:
Resultados
Os dados relativos às respostas das crianças nas pranchas do Conjunto A -
Enfrentamento da Hospitalização - relacionadas a respostas de enfrentamento não-
facilitadoras da hospitalização, indicam que 6 das 11 pranchas apresentaram um percentual
C onsiderações Finais
A partir da análise apresentada, verifica-se que, entre os estressores típicos da
hospitalização e os específicos do tratamento de câncer e que são associados ao hospital,
os procedimentos médicos invasivos são os que desencadeiam, para a maioria das crianças,
respostas indicativas de estratégias de enfrentamento não-facilitadoras. Estas, por sua
vez, podem prejudicar a adaptação global da criança ao contexto hospitalar. Diante disso,
discute-se a importância do investimento em técnicas que visem a alterar tais estratégias
ou então a associá-las a outras mais positivas, como, por exemplo, o uso do brincar para
o enfrentamento do "stress" frente aos procedimentos invasivos.
Analisando as condições que mais favorecem as respostas não-facilitadoras e os
fatores que as desfavorecem, observa-se que as condições relacionadas ao hospital, como
sua rotina e procedimentos invasivos, predominam em relação aos fatores relacionados à
própria criança e ao contexto familiar. De certa maneira, os resultados apontam para a
necessidade de se alterar a prática hospitalar, condição esta nem sempre possível. Deduz-
se daí a importância de pesquisas que auxiliem no enfrentamento desses procedimentos
módicos dolorosos.
Destacam-se os esforços das crianças para enfrentar a hospitalização e compreende-
se que, em alguns casos, fica difícil encontrar estratégias para superar adequada ou
positivamente os excessos aversivos a que são freqüentemente expostas. Ao se permitir que
falem de sua condição, aumentam-se suas possibilidades de vivenciar uma maior autonomia
sobre suas próprias vidas, na medida em que seus relatos podem direcionar mais adequadamente
a intervenção. Assim, embora tenham sido encontradas semelhanças nas respostas das
crianças, como a influência dos procedimentos invasivos na ocorrência de respostas não-
facilitadoras da hospitalização, o AEH possibilitou identificar particularidades do repertório
comportamental de cada criança - recursos e dificuldades - destacando-se, assim, a função
prescritiva do instrumento. Função esta que está sendo avaliada em pesquisa que inclui o
processo de intervenção após a aplicação do instrumento (Motta, 2003) em versão
computadorizada (Leal, 2004; Soprani, 2004; Soprani, Leal, Enumo & Menezes, no prelo).
R eferên cias
Brown, M.F., Duckott, J.W., Hollowell, J.G., Robertson, W W., Ross, A.J., Synder, H.M., & Sutton
L.N. (1995). Conceitos básicos em cirurgia. In G.J. D'Angio, D. Sinniah, A.E. Evans & J.
Pritchard (ORgs.), Pediatria Oncológica Prática (A. C. Camargo, Trad., pp. 202-222).. Rio
de Janeiro: Revinter.
Costa Jr., Á.L. (1999). Psico-Oncologia e manejo de procedimentos invasivos em Oncologia
Pediátrica: Uma revisão do literatura. Psicologia: Reflexão e Critica, 12 { 1), 107-118.
Leal, R,N, (2004). Am biente com putacional de apoio a avaliações psicológicas e
psicopedagógicas - ACAAPSI - Módulo avaliador (Projoto de Dissertação de Mostrado
aprovado em Exame do Qualificação). Programa de Mestrado em Informática,
Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES.
Lipp, M.E.N. (1991). Como enfrentar o stress infantil. Sào Paulo: Icone.
Subjetividade e Cultura no
Behaviorismo Radical
Alexandre Pittrid)
Sobre Comfwrtíimcnto v C o ^ n t^ o 39
Sob esse aspecto, sabemos que o behaviorismo radical de B.F. Skinner (1945/1972;
1990) apresenta uma postura marcadamente diversa daquela de Watson. Eventos privados
não apenas interessam ao behaviorismo radical, como podem ser estudados de forma produtiva
a partir dos métodos propostos por essa filosofia. Nega-se, contudo, status causal aos eventos
privados. Pensar, sentir ou imaginar são coisas que um ser humano faz - isto ó, são
comportamentos, e merecem explicação a partir de sua interação com variáveis seletivas
ambientais, assim como o comportamento público. Nega-se, além disso, qualquer diferença
de natureza (diferenças ontológicas, diriam os filósofos) entre eventos públicos e privados.
Devemos notar, contudo, um segundo sentido possível da oposição "objetividade-
subjetividade". Afirmar que um comportamento é objetivo publicamente observável - não
significa, necessariamente, afirmar que o conhecimento produzido sobre ele ó objetivo -
isto é, que tal conhecimento ó “verdadeiro", no sentido de ser um reflexo fiel da realidade.1
Denominamos "realismo” uma antiga (e ainda vigente) doutrina filosófica que define “verdade"
como a adequação entre a mente (ou o discurso) e a realidade: o conhecimento verdadeiro,
ou objetivo, ó aquele que reflete o mundo como ele realmente ó. Assim, em princípio, não
haveria contradição em tentar produzir conhecimento objetivo (no segundo sentido) sobre
eventos subjetivos (no primeiro sentido). Já sabemos que, no primeiro sentido, Skinner
não rejeita a subjetividade: eventos privados são objetos de estudo legítimos para o analista
do comportamento. Note-se, porém, que Skinner substitui a distinção objetivo-subjetivo
pela distinção público-privado. Contudo, como se posiciona Skinner diante do segundo
sentido possível da relação objetividade-subjetividade? De acordo com a classificação
tradicional da filosofia, poderiamos perguntar: Skinner é um realista ou um idealista?
Conforme aponta Zuriff (1980, pp. 343-344), Skinner não rejeita explicitamente o
realismo. De fato, o autor até mesmo aponta passagens nas quais Skinner (1957, p. 147;
pp. 426-428; 1974, pp. 144-145; p. 235; 1966/1969, p. 160) parece adotar uma versão
behaviorista radical desta doutrina. Porém, o próprio Zuriff afirma que essa"(...) não ó a
teoria dominante e não ó consistente com os princípios básicos de seu behaviorismo
radical" (1980, p. 344). Atualmente, é freqüente classificar-se o behaviorismo radical como
uma filosofia pragmatista ou contextualista (Morris, 1988; Abib, 2001; Carrara, 2001; Tourinho,
2003). Realismo e contextualismo são filosofias antitéticas: as posições realistas
contradizem as posições contextualistas, e vice-versa. Até que ponto devemos associar
"ismos" ao behaviorismo radical - ou até que ponto devemos adequar o behaviorismo
radical aos diferentes "ismos" - ó assunto discutível. O behaviorismo radical ó uma filosofia
sui generis, e suas características peculiares não devem ser sacrificadas em nome de
classificações filosóficas.2 A coerência interna de um sistema teórico, contudo, ó uma
7 O próprio Skinner tornou explicitas suas reservas em relação á necessidade ou importância das
classificações filosóficas Ao comentar sobre “( ) os perigos inerentes em qualquer sistema de tipologia",
Skinner afirma* “Há sempre uma tendência a argumentar que, porque indivíduos sáo similares em um
aspecto, eles também são similares em outros" (1953/1965, p 424). Em sua autobiografia, Skinner relata um
encontro com Henry Kissinger, no qual este teria atribuído as dificuldades de relacionamento entre americanos
e russos ao fato de seus governos serem, respectivamente, democrático e revolucionário Diante disso,
Skinner relata "Eu disse que achava as tipologias perigosas; na psicologia, elas foram devastadoras”
(1983/1984, p 151) Contudo, mesmo que concordemos com as considerações de Skinner sobre o assunto,
pode-se afirmar que as tipologias ou classificações - os "ismos” - sâo, no mínimo, um mal necessário. É
possível, contudo, apontar nelas algumas características úteis. Como aponta Abib (1985, p 203), as
classificações filosóficas sâo importantes "(...) porque chamam nossa atenção para alguns aspectos que
ás vezes passam despercebidos (...)", ressaltando-se, porém, que “(...) o ponto importante é que nâo
devemos nunca perder de vista a totalidade da obra do autor".
40 Alexandre Pltlrlch
característica desejável em contextos filosóficos e científicos, e todo esforço que vise
aprimorar essa coerência no behaviorismo radical é bem-vindo.3
Retornemos ao problema: como um behaviorista radical, enquanto pragmatista ou
contextualista, deve posicionar-se em relação à controvérsia realismo-idealismo? Primeiramente,
é preciso afirmar que não interessa ao behaviorismo radical adotar os jogos de linguagem
típicos desta oposição. O behaviorista radical não vê interesse em discutir qual dentre as
possíveis descrições do mundo - mesmo as científicas - é mais ou menos ‘‘verdadeira", no
sentido realista da palavra: qual delas, se alguma, ‘‘reflete” o mundo de forma mais acurada.
Suponhamos que duas pessoas queiram, de acordo com essa definição, decidir qual dentre
duas afirmações sobre o mundo (quaisquer que sejam) é a mais verdadeira - qual descreve a
realidade de forma mais verossímil. Seria possível a algum dos contendores exceder sua
própria subjetividade e lançar um rápido olhar sobre o mundo “como ele realmente é", retomando
em seguida para contar as novas? Para o behaviorista radical, visões de mundo - científicas
ou não - são necessariamente subjetivas: subjetividade é comportamento de um sujeito-em-
contexto, e é interagindo com o mundo de formas particulares que um sujeito o conhece.
Diferentes formas de oonheámento serão produzidas em diferentes contextos, visando diferentes
objetivos4(Skinner, 1957, p. 429).
Poder-se-ia denominar tal postura como “idealista" - mas, lembremo-nos, a discussão
realismo-idealismo é estranha ao behaviorismo radical. Um idealista (ao menos em sua versão
“pura" ou “radical") assume que o mundo com o qual temos contato é uma criação subjetiva -
no sentido de que um sujeito só teria contato com o que lhe informam seus sentidos ou seu
intelecto, e isso impediria qualquer afirmação sobre a existência de um mundo externo ao
sujeito. Nenhuma dessas posturas coaduna-se com o behaviorismo radical. A definição de
subjetividade como comportamento de um sujeito-em-contexto vai além de considerações
sobre o "mundo interno" deste sujeito. Subjetividade implica interação com o ambiente. Mas e
este ambiente, é "real" ou não? Está correto o idealista, quando afirma ser o mundo apenas
um "mundo interno", ou o realista, quando afirma a existência de um mundo externo independente
do sujeito que o conhece? Esta ó, para os objetivos do analista do comportamento, uma
discussão pouco interessante (embora possa ser intelectualmente estimulante). Seja o mundo
uma criação subjetiva ou uma realidade independente do sujeito, o fato é que precisamos lidar
com ele - precisamos manipulá-lo, visando certos objetivos. Este fato não se modificará, seja
qual for a possível solução do problema filosófico em pauta. Questões ontológicas, via de
regra, transformam-se, para o behaviorista radical, em questões epistemológicas, e são julgadas
de acordo com sua possível contribuição para a epistemologia behaviorista radical.
Temos, portanto, uma posição behaviorista radical sobre a oposição subjetividade-
objetividade, no segundo dos dois sentidos possíveis aqui analisados: esta oposição não
constitui um problema filosófico interessante para esta filosofia. Uma filosofia pragmatista/
J Quando Zuriff afirma que o realismo "(...) nâo é a teoria dominante e nâo é consistente com os princípios
básicos de seu behaviorismo radical" (1980, p 344), está realizando uma interpretação do texto skinnerlano
baseada, ao menos parcialmente, no critério de coerência. De acordo com o autor, em seu conjunto a
filosofia behaviorista radical tende a apresentar características pragmatistas/contextuallstas, e nâo realistas
Outro autor poderia destacar as passagens em que Skinner aproxima-se do realismo e sugerir que o
behaviorismo radical deveria aprofundar esta aproximação. Nessa questão, como em multas outras de
ordem filosófica, trata-se menos de discutir sobre "o que Skinner realmente disse" do que de discutir sobre
quais caminhos consideramos potencialmente mais produtivos para o futuro do behaviorismo radical
4 Note-se que já adiantamos, neste parágrafo, uma proposta de definição de subjetividade no behaviorismo
radical. Adiemos momentaneamente sua discussão, a fim de prosseguir a análise da controvérsia realismo-
idealismo
42 Alcxiindrf Pltfrkh
característico de uma pessoa particular com uma história particular" (1966/1969, p. 160);
“O conhecimento é subjetivo no sentido trivial de ser o comportamento de um sujeito, mas
o ambiente, passado ou presente, que determina o comportamento está fora da pessoa
que se comporta" (Skinner, 1974, p. 144).
Pode-se, contudo, questionar a própria utilidade das tentativas de oferecer
interpretações behavioristas radicais para termos incomuns a esta filosofia. Especialmente
no caso de termos caros às tradições mentalistas, não estaria o behaviorista radical
desperdiçando seu tempo na empreitada - ou, ainda pior, aproximando o behaviorismo
radical das próprias tradições que critica? Algumas objeções a esta posição podem ser
levantadas. O behaviorista radical não abandona sua especificidade epistemológica ao
analisar conceitos estranhos à sua filosofia - pelo contrário, ao demonstrar o poder
interpretativo do behaviorismo radical, ele o fortalece, dando prova da fertilidade desta
posição filosófica. Suponhamos, por exempfo, que um estudante de psicologia pergunte
ao behaviorista radical o que ele tem a dizer sobre o tema subjetividade. Qual resposta
seria mais interessante: rechaçar o aluno, afirmando que o behaviorismo radical "não
trabalha com a subjetividade", ou explicar-lhe que o behaviorismo radical apresenta uma
interpretação alternativa - e potencialmente mais produtiva - em relação a este conceito?
O mesmo vale para as relações do behaviorista radical com os filósofos e psicólogos de
outras extrações teóricas. Por definição, a ampliação do vocabulário do behaviorismo
radical amplia também suas possibilidades de diálogo - e o debate com representantes
de outras teorias pode ser um exercício saudável e produtivo, desde que a coerência
epistemológica seja sempre observada.
Subjetividade e cultura
O modelo de seleção por conseqüências, enquanto recurso explicativo, aponta
para o caráter necessariamente histórico da subjetividade: um repertório único e particular
é construído por uma história de submissão a contingências seletivas igualmente única e
particular. O conceito de cultura, por sua vez, também deve ser compreendido a partir
dessa perspectiva selecionista: a cultura que constrói a subjetividade de seus membros o
faz através de contingências de reforço. Tais contingências constituem as práticas culturais
dos diferentes grupos sociais. A diversidade de tais práticas entre as diferentes culturas ó
explicada, mais uma vez, pelo modelo de seleção por conseqüências: se certas práticas
culturais são benéficas para uma cultura sujeita a um conjunto particular de circunstâncias,
tais práticas tendem a sobreviver no interior da cultura que integram. Assim, a configuração
total das práticas que caracterizam certa cultura deve-se à trajetória evolutiva particular à
qual esta foi submetida durante sua história. A diversidade cultural é um elemento
indispensável para uma explicação behaviorista radical da diversidade de subjetividades.
Quando Skinner afirma que "O comportamento é (...) subjetivo no sentido de que
é característico de uma pessoa particular com uma história particular" (1966/1969, p.
160), refere-se, na verdade, à interação entre três histórias: filogenética, ontogenética e
cultural. Cada uma delas é única, e elas produzem, em conjunto, sujeitos únicos, ou
subjetividades. O aspecto cultural, contudo, ocupa lugar especial na construção da
subjetividade humana. Um brasileiro tem uma "subjetividade brasileira" - um repertório
comportamental sujeito às práticas características da cultura brasileira. A cultura brasileira
é a forma particular pela qual os brasileiros controlam o comportamento dos brasileiros -
ou, dito de outra forma, é o conjunto das contingências de reforço mantidas pelos brasileiros.
Conclusão
Pelo menos dois sentidos da relação objetividade-subjetividade podem ser
identificados. Em relação ao primeiro deles, o behaviorismo radical substitui as designações
objetivo e subjetivo pelas designações público e privado. Na medida em que puderem ser
tomadas como sinônimos - e apenas nesta medida - pode-se afirmar, em relação ao
primeiro aspecto, que tanto o comportamento objetivo quanto o subjetivo interessam ao
behaviorismo radical, mas que qualquer contraposição ou divisão estrita entre eles é
estranha a esta filosofia. Em relação ao segundo sentido, ligado à controvérsia realismo-
idealismo, o behaviorismo radical considera a discussão pouco produtiva, e não subscreve
nenhuma das duas opções. Enquanto filosofia pragmatista/contextualista, o behaviorismo
radical questiona a própria validade da discussão do problema em sua exposição tradicional.
O behaviorismo radical tende a transformar questões ontológicas (como aquelas
apresentadas pela oposição realismo-idealismo) em questões epistemológicas: interessa-
nos perguntar não “o que conhecemos", mas “o que é conhecer" (Skinner, 1974, p. 144).
Conhecimento é comportamento - e, portanto, a diversidade do conhecimento explica-se
através das mesmas variáveis que utilizadas para explicar a diversidade do comportamento.
A investigação dos eventos privados é indispensável para uma explicação
behaviorista radical da subjetividade. Contudo, uma definição de subjetividade que vá além
da questão dos eventos privados, fazendo referência ao comportamento de um sujeito-em-
contexto, tanto público quanto privado, coaduna-se mais harmoniosamente com o conjunto
da filosofia behaviorista radical. Qualquer que seja, porém, o conceito de subjetividade
adotado pelos behavioristas radicais, a análise de variáveis de ordem cultural mostra-se
fundamental para sua compreensão. As características singulares das subjetividades estão
estritamente relacionadas aos contextos culturais dos quais derivam sua gênese e função.
Referências
44 A lexandre Dittrích
Abib, J.A.D. (2001). Behaviorismo Radical como pragmatismo na epistemologia. In H.J. Guilhardi,
M.B.8.P. Madi, P.P. Queiroz & M.C. Scoz (Orgs.), Sobre comportamento e cognição - vol.
8: Expondo a variabilidade (pp. 158-161). Santo Andró, SP: ESEToc.
Andory, M.A.P.A (1999). O modelo do seleção por conseqüências o a subjetividade. In R.A.
Banaco (Org.), Sobre com portam ento e cognição - vol. 1: Aspectos teóricos,
metodológicos e de formação em análise do comportamento e terapia cognitivista (pp.
199-208). Santo Andró. SP: ESETec.
Carrara, K. (2001). Implicações do contextualismo popperiano no bohaviorismo radical: Alcance
o limitações. In H.J. Guilhardi, M.B.B.P. Madi, P.P. Quoiroz & M C. Scoz (Orgs.), Sobre
comportamento e cognição - vol. 8: Expondo a variabilidade (pp. 234-242). Santo Andró,
SP: ESETec.
Cupani, A. (1990). Positivismo, "positivismo" e objetividade científica. Reflexão, n. 46, 103-107.
Morris, E.K. (1988). Contextualism: The world view of behavior analysis. Journal of Experimental
Child Psychology, 46, 298-323.
Prado, L. (1987). Objetividade e teoria. In Anais da 17aReunião Anual de Psicologia da Sociedade
de Psicologia de Ribeirão Preto (pp. 141-145). Ribeirão Preto: Sociedade do Psicologia
de Ribeirão Preto.
Sant'Anna, H.H.N. (2003). Os estados subjetivos no behaviorismo radical. In C.E. Costa, J.C.
Luzia & H.H.N. Sant'Anna (Orgs.), Primeiros passos em análise do comportamento e
cognição (pp. 65-74). Santo Andró, SP: ESEToc.
Skinner, B.F. (1957). Verbal behavior. New York: Appleton-Century-Crofts.
Skinner, B.F. (1965). Science and human behavior. New York: Macmillan. (Trabalho original
publicado em 1953).
Skinner, B F. (1969), An operant analysis of problem solving. In B.F. Skinner, Contingencies of
reinforcement: A theoretical analysis (pp. 133-171). New York: Appleton-Century-Crofts.
(Trabalho original publicado em 1966).
Skinner, B.F. (1972). The operational analysis of psychological terms. In B.F. Skinner, Cumulative
record: A selection o f papers (pp. 370-384). New York: Appleton-Century-Crofts. (Trabalho
original publicado em 1945).
Skinner, B.F. (1974). About behaviorism. New York: Alfred A. Knopf.
Skinner, B.F. (1984). A matter of consequences: Part three of an autobiography. New York University
Press. (Trabalho original publicado em 1983).
Skinner, B.F. (1990). Can psychology be a science of mind? American Psychologist, 45, 1206-
1210 .
Tourinho, E.Z. (2003). Effectiveness as truth criterion in behavior analysis. Behavior and
Philosophy, 31, 63-81.
Watson, J.B. (1957). Behaviorism. University of Chicago Press. (Trabalho original publicado em
1924).
Watson, J.B. (1995). Psychology as the behaviorist views it. In W. Lyons (Org.), Modern philosophy
of mind (pp. 24-42). London/Vermont: Everyman Library. (Trabalho original publicado om
1913).
Weber, L.N.D. (1988). Subjetividade: Ser e não ser. Psicologia Argumento, 8, 37-44.
■* Um exemplo clássico è a criança que só receba atenção dos pais quando se comporta inadequadamente,
de modo que elementos que compõem esta "atenção" (como gritos e castigos) podem adquirir função
reforçadora, mesmo que continuem provocando dor Do mesmo modo. se o uso de uma substância provocar
uma sensação de pra/er e uma de mal estar, tal comportamento pode se manter no repertório sob conlrolu
das conseqüências reforçadoras (aqui simplificadamente chamadas de “sensação de prazer") apesar de
continuar sendo consequenciado averslvamente (isto é, com estímulos que funcionam como punitivos e/ou
reforçadores negativos quando apresentados sozinhos).
50 A lin e Heckimmn M e n c /e s
reforços pessoais. Aí então podem ser desafiadas" (Skínner, 1983 p.90) e esse desafio dá-
se através do contra-controle, através da criação de um sistema de competição, onde reforços
da experiência pessoal podem passar a ter maior função controladora. Skinner (1983) continua
descrevendo este processo da seguinte forma: “quando, pois, o controle exercido por outros
é eludido ou destruído, só se deixam os reforçadores pessoais. O indivíduo volta-se para a
gratificação imediata, possivelmente através do sexo ou das drogas" (p.90).
Desse modo, observa-se uma sociedade na qual os indivíduos comportam-se sob
controle de conseqüências unicamente individuais (sem benefícios comuns ao grupo), em
geral associadas a sentimentos e à noção de um "eu interno", e sem ter contato com
reforçadores diretos/naturais. As conseqüências disso são as propaladas sensações de
vazio e frustração, a dificuldade em modificar tais padrões comportamentais e a ênfase na
gratificação imediata. Este contexto geral vai influenciar o modo de se comportar dos
indivíduos como um todo, inclusive no seu comportamento sexual.
Pode-se perceber com isso que as relações sexuais tornam-se cada vez mais
desvinculadas de relações afetivas e/ou pessoais prolongadas, já que estas envolveriam
uma maior revelação deste “eu" e menor possibilidade de encontrar-se e autoconhecer-se
(o que se daria através de múltiplos relacionamentos). Considerando que uma das
características de relações com componentes parafílicos é a impessoalidade (ver Leite,
1996 e Kaplan, sadock & Grebb, 1997), pode-se observar que são padrões comportamentais
que se encaixam nesta ênfase na proteção da individualidade e busca de autoconhecimento.
Por impessoais entende-se, aqui, que se caracterizam como relações em que o indivíduo
se comporta enfatizando exclusivamente a estereotipia topográfica comportamental e não
o parceiro em questão. Por exemplo, indivíduos que só conseguem obter ereção a partir
da agressão física têm seu comportamento sexual controlado pela presença/ausência
desta agressão, independentemente de quem seria a outra pessoa envolvida na relação.
Desta forma, a ênfase recai sobre o cenário, o ambiente construído, e sobre a própria
obtenção de prazer - desvinculada de efeitos sobre a relação ou a obtenção de prazer pelo
parceiro (que estariam associados a outros reforçadores, de caráter relacional)4.
Além disso, o comportamento sexual passa a ser controlado por uma série de
regras sociais que determinam como adequado (isto é, passível de reforçamento), aquele
comportamento que é mais heterodoxo, destacado e auto-revelador. Contraditoriamente,
perpetuam regras sociais de fidelidade e contenções do comportamento sexual em público.
O choque entre tais contingências sociais acaba por aumentar a probabilidade de
comportamentos conciliatórios - que produzam esquiva da sanção social, mas
reforçadores tanto físicos quanto sociais. Isto é, a utilização de filmes, revistas, músicas
e outros recursos de expressão não-física da sexualidade como veículos de divulgação e
manifestação das práticas valorizadas socialmente, sem o risco de sanções sociais -
incluindo a exposição do corpo (tanto feminino quanto masculino) como forma de obtenção
de reforçadores primários e condicionados (sexo e suas variações e complementos),
desvinculada de qualquer conotação relacional.
A forma de organização da cultura, como foi discutida até o momento, estabelece
uma série de contingências que propiciam a instalação e manutenção de padrões parafílicos.
4 Morris (1968) e Fischer (1995) identificam que a evolução selecionou Indivíduos que estabeleciam vínculos
com seus parceiros sexuais, facilitando o cuidado da prole Tais vínculos s&o compreendidos a partir de uma
série de respostas fisiológicas na presença do parceiro e na suscetlbflidade ao efeito reforçador do mesmo
em outros contextos A perda do caráter relacional do ato sexual representa, assim, uma insensibilidade a
tais efeitos do sexo sobre o indivíduo.
Sobre (.'cmifKrrt.mienf« e 51
Contudo, não é, em si, determinante. O desenvolvimento de um padrão comportamental
específico vai depender ainda das experiências individuais, inclusive da história de
seguimento de regras. Deste modo, pode-se hipotetizar alguns fatores ontogenéticos (além
do reforçamento positivo direto) que podem contribuir com a instalação e/ou manutenção
da conduta parafílica:
1. Ausência de reforçadores -> a privação de outros reforçadores pode funcionar como
uma operação estabelecedora que aumenta o valor reforçador da relação sexual em si.
Assim, contatos sexuais não-genitais ou mesmo indiretos (como a observação) podem
adquirir função reforçadora elevada, sendo suficientes para que o indivíduo chegue ao
orgasmo e assim aumente a probabilidade de emissão daquela resposta no futuro.
2. Déficit de habilidades sociais -> dificuldades em se aproximar e estabelecer contatos
sociais podem gerar padrões passivos ou agressivos de conduta sexual, resultando
em práticas parafílicas como o uso da força para a obtenção de prazer sexual.
3. História de punições -> a punição de determinadas respostas relativas à conduta sexual
pode gerar a esquiva das mesmas, propiciando a emissão de práticas sexuais alternativas.
4. Estabelecimento de regras -> a formulação de auto-regras relativas à obtenção de
prazer e/ou esquiva de determinados aversivos pode ser responsável pelo caráter
estereotipado e repetitivo de práticas parafílicas, sendo mantidas pelo esquema de
reforçamento em que a resposta é inserida.
5. Imitação/modelação -> reprodução no contexto sexual de respostas similares àquelas
emitidas por indivíduos significativos (como pais e professores), mesmo que não
relacionadas com a conduta sexual.
6. Poder -> reforçador condicionado resultante do reforçamento contínuo de respostas
de opressão ou de condutas estereotipadas. Isto se refere à “sensação de poder” ser
um reforçador condicionado na sociedade atual onde, a partir com o pareamento
com uma série de outros reforçadores, o ato de subjugar e dominar outros indivíduos,
assumindo uma condição de poder pode tornar-se um reforçador condicionado.
A partir da perspectiva de que cada indivíduo desenvolve um dado padrão
comportamental como resultado de sua história particular, a proposta analítico-
comportamental de compreensão do padrão e de intervenção terapêutica deve contestar o
modelo de classificação diagnóstica topológica e o substituir pela análise funcional de
cada caso em questão. Assim, a análise de determinantes culturais e ontogenéticos
possibilitaria o questionamento de se o comportamento parafílico seria em si uma queixa
e tornaria indispensável uma avaliação do repertório total do indivíduo e do contexto social
em que este está inserido, não mais focalizando a intervenção apenas na sexualidade -
como tem sido tradicionalmente a conduta clínica nestes casos (Leite, 1996).
Conclusão
Considerando o que foi apresentado até o momento pode-se fazer três observações:
0 A supervalorização do "eu" como uma entidade à parte acaba por ser uma busca vã,
pois ignora o caráter relacional da formação de cada indivíduo e fornece um contexto
de desafio e necessidade de se prevalecer sobre os demais que favorece o
desenvolvimento de condutas parafílicas.
0 A ênfase em características internalistas tem direcionado a discussão da sexualidade
para aspectos inexistentes, gerando frustração. Uma perspectiva externalista pode
Referências
Áries, P. (1991) História social da família e da criança. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.
Áries, P. (1991b) Por uma história da vida privada. In: P, Aries & R. Chartior, História da vida
privada - Volume 3. (pp. 7-19) São Paulo: Companhia das Letras.
Birman, J. (1999) A psicopatologia na pós-modernidade - As alquimias no mal-estar da
atualidade. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 2 (1 ) 35-49.
Bremmer, J. (1995). De Safo a Sade: Momentos da história da sexualidade. São Paulo: Papirus,
Elias, N. (1994) A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Jorgo Zahar Editor.
Fisher, H. (1995). A anatomia do amor - A história natural da monogamia, do adultério o do
divórcio. São Paulo: Editora Eureka.
Freud, S. (1972). Três ensaios sobre a sexualidade. Em: S. Freud Edição Standart Brasileira
(ESB) das obras psicológicas completas de Sigmund Freud - Volume VII. (p. 135-175)
Rio de Janeiro: Imago. Publicado originalmente em 1905.
Kaplan, H. L. Sadock, B. J & Grebb, J. A. (1997) Compêndio de psiquiatria - ciências do
comportamento e psiquiatria clinica. Porto Alegre: Artes Módicas.
Leite, J.E. (1996) Perversões da perversão [Palestra ministrada no Congresso Brasileiro de
Psicopatologia Fundamental om Barão Geraldo). Rio de Janeiro.
Mead, M. (1988) Sexo e temperamento. São Paulo: Perspectiva.
Mead, M, (1988). Sexo e temperamento. São Paulo: Porspectiva.
Morris, D, (1968). O macaco nu - um estudo do animal humano. Rio de Janeiro: Rocord.
Sennet, R. (1988) O declínio do homem público. São Paulo: Companhia das Letras.
Skinner, B. F. (1983) O mito da liberdade. São Paulo: Surnmus.
Skinner, B. F. (1998) Ciência e comportamento humano. São Paulo: Martins Fontes.
Skinner, B.F. (1987) What is wrong with daily life in the western world? In: B.F. Skinner. Upon
further reflection. (pp. 15-31) Now Jersey: Prentico-Hall.
Trevisan, J. S. (2002). Devassos no paraíso. Rio de Janeiro/ São Paulo: Editora Record.
Perspectiva Analítico-Funcional
And C'diolind Aquino i/c Sousd'
l uc Vdndcnbcttfhc*
1 Endereço: Rua P 11, no 105, Setor dos Funcionários, CEP 74543-240, Goiânia (GO), e-rnall:
carollnapsy@hotmail.com
* Universidade Católica de Goiás
1. Critérios Diagnósticos
De acordo com o DSM IV (APA, 1995), no Transtorno de Personalidade Borderline
(TPB), o indivíduo apresenta um padrão instável no que se refere a relacionamentos
interpessoais, auto-imagem e afetos, padrões constantes de impulsividade, que estão
presentes em uma variedade de contextos, tendo início na idade adulta, preenchendo
cinco ou mais dos critérios citados abaixo (tabela 1).
2.3.3.Fatores Genéticos
Um ou ambos os pais de borderlines também apresentam estas características.
Parece sensato admitir que pelo menos uma vulnerabilidade a frustrações, traumas e
eventos estressores é herdada, que interage com fatores no ambiente no qual o indivíduo
está inserido. Todavia, a inferência tem sido a de que os padrões borderlines sejam
ensinados de pais para filhos, ao invés de transmitidos geneticamente. São necessários
mais estudos que envolvam uma grande amostra de gêmeos idênticos. Além disso,
avaliações sistemáticas dos pais ao longo da infância deveriam ser feitas.
3. Estratégias de Mudança
Para promover o controle privado, Kohlenberg e Tsai (2001), sugerem a utilização
de algumas ferramentas, conforme descritas abaixo, nos três parágrafos que se seguem.
O primeiro ponto importante é que a terapia seja altamente estruturada no início,
para que não evoque CCR1 de esquiva, que poderia levar o cliente a parar o tratamento
devido ao alto grau de aversividade. Por outro lado, um alto grau de atividade e diretividade,
pode impedir a ocorrência de CCR2. É importante, portanto, que a terapia caminhe
gradualmente para a desestruturação.
É importante também ter a cautela de passar tarefas que exijam o mínimo de
controle externo, sem estimulação pública. Pode-se, por exemplo, pedir para que o cliente
feche os olhos e relate tudo que pensar e imaginar naquele momento. Esse tipo de tarefa
tende a evocar no cliente a sensação de "perda do self, já que não estão presentes dicas do
terapeuta. Dependendo do grau de controle privado exibido por cada cliente em particular,
pode-se criar tarefas que aumentem gradativamente a auto-observaçào de respostas privadas.
Finalmente, o terapeuta deve estar atento às verbalizações do tipo eu, especialmente
quando estas são diferentes das do terapeuta sobre o cliente, pois indicam que são
comportamentos que estão sob controle de eventos privados. Para minimizar a dúvida do
terapeuta se sua verbalização está sob controle de eventos públicos ou privados, é importante
observar o impacto da resposta do cliente sobre si. Se por exemplo, o terapeuta sente-se
Estudo de Caso
A cliente tem 34 anos, formação superior (embora não exerça sua profissão) e
tem duas filhas. Foi atendida pela primeira autora. Quando veio à terapia, há quase 2
anos, estava casada. Sua queixa inicial era agorafobia. A cliente já não saía mais de casa
sozinha. Na primeira sessão veio acompanhada pelo marido. A cliente relata que passou
por várias crises de “depressão profunda", tendo tentado suicídio três vezes. Seu padrão
S o lw Comportamento c Cognição 63
por esses motivos que ficaria muito feliz em receber sua ligação, pois seria uma grande
conquista. Então, foi colocado que aquela situação era de impasse, pois ao mesmo tempo
que a terapeuta sabia como era difícil para ela ligar, reconhecia também, a necessidade
disso para o seu crescimento. Ela sugeriu que iria tentar novamente, mas agora lembrando-
se de todas palavras e ações da terapeuta que a fizeram sentir-se importante.
No intervalo até a próxima sessão, para demonstrar para a cliente que no decorrer
da semana havia a preocupação com ela e o desejo de que ligasse, a terapeuta telefonou
para lembrar que estava esperando o seu telefonema antes da próxima sessão. Esperava
que isto fosse facilitar a emissão deste CCR2. Após dois dias a cliente ligou para a clínica,
para a casa da terapeuta, mas como esta nào estava, iigou para o seu celular, entretanto,
tinha anotado o número errado (a secretária havia trocado um dos números). Infelizmente,
nào foi possível reforçar imediatamente a ocorrência deste CCR2.
Na sessão seguinte, a cliente chegou contando que tinha ligado, e como realmente
a terapeuta ficou multo feliz com a sua iniciativa, demonstrou os seus sentimentos em
relação ao seu progresso. A cliente disse que o fato de ter ligado para lhe lembrar do
compromisso foi "como se tivesse quebrado o gelo", e que agora sentia-se muito mais
tranqüila para ligar. Entretanto, manifestou o medo de ligar para falar de problemas e ser
vista como uma pessoa chata, pois segundo ela as pessoas sempre lhe procuram para
contar problemas e considera isso muito chato. Primeiramente sua fala foi validada. Na
mesma sessão, a cliente tinha relatado que tinha conseguido ir à uma festa sozinha
(nunca fazia isso) no final de semana, e que chegando lá, sentou-se à mesa sozinha, e ao
observar as pessoas ao seu redor (o que também evitava), viu uma pessoa conhecida ao
lado, que também estava sozinha, e a convidou para sentar-se com ela. As duas
conversaram sobre diversos assuntos, incluindo "problemas pessoais, coisas boas,
superficiais, fatos recentes etc.", “conversamos sobre tudo", disse a cliente. Então, essa
situação foi trazida após sua fala ter sido validada, para lembrar-lhe que quando se expõe
à situação ela consegue conversar sobre tudo, e que a sensação de que não vai conseguir
isso poderia ser questionada, já que, na maioria das vezes, evitava situações de interações
sociais. A cliente concordou e trouxe outras situações em que ao se expor, foi bem sucedida
(o que também era um CCR2, pois uma dificuldade que apresentava era sempre desvalorizar
os progressos obtidos, dizendo "só consegui nesta situação"). Assim, visto que para a
cliente era menos difícil ligar para contar algo positivo e já que, segundo ela, "muitas
coisas boas acontecem durante a semana", ficou combinado que nas tarefas iniciais,
ligaria durante a semana para contar uma dessas coisas. Pela primeira vez, a cliente não
demonstrou medo da tarefa proposta, concordando sem se opor à mesma, dizendo que
"agora está um pouco mais fácil". Conseguiu realizar a tarefa com tranqüilidade, e a terapeuta
demonstrou como se sentiu feliz por seu progresso. As primeiras vezes, ligou para contar
uma boa novidade, e depois, ligou espontaneamente para falar de um problema, e foi
possível reforçá-la, ajudando-a a encontrar uma alternativa que fosse mais adequada. Hoje
a cliente sente-se "à vontade" para ligar.
Ocorreu um fato que foi interessante para o processo da cliente. A terapeuta teve
oportunidade de morar algum tempo em outro país, e por isso, não poderia mais atender a
cliente. Então, foi dada a notícia já esperando que vários CCRs apareceriam. Ao lhe explicar,
com certa dificuldade, que teria que deixá*la, começou a chorar, disse que estava perdida
e que voltaria a ter os mesmos problemas de antes. A primeira atitude da terapeuta foi
validar seus sentimentos. Pela primeira vez, a cliente emitiu o CCR2 que chamou de
“egoísmo": "Sei que vai ser ótimo para você, mas você não tinha o direito de me abandonar".
Conclusão
A visão apresentada pelo behaviorismo radical sobre a formação do 'eu', aponta para
a identificação das relações funcionais envolvidas. Foi evidenciado que a história de invalidação
de sentimentos e opiniões experimentada pela cliente, levou a uma falta de senso de 'eu',
deixando-a sob controle apenas de eventos públicos. O processo terapêutico buscou
gradativamente desenvolver repertórios sob controle de estimulação privada, o que levou a
resultados satisfatórios. Ficou evidente que a bulimia era uma “válvula de escape" (palavras da
cliente), e que portanto, para tratá-la era necessário mudar seu padrão comportamental diante
das situações, incluindo sua assertividade, capacidade de resolução de problemas e
desenvolvimento de relações íntimas, sendo que as duas últimas vêm sendo trabalhadas
atualmente e que, como notado pela descrição acima, progressos já foram obtidos.
Em relação à assertividade, pode-se dizer que hoje a cliente já consegue expressar
o que quer de forma clara “sem aceitar tudo ou explodir", com as pessoas de uma forma
geral e com alguns de seus familiares, como seu pai e sua irmã. Os episódios bulímicos
diminuíram bastante, sendo que hoje já é “capaz de ficar pelo menos 24 horas sem vomitar".
As estratégias de mudança apontadas por Kohlenberg e Tsai (2001), foram
utilizadas com a cliente. Uma vez que, no início da terapia não sabia tatear seus eventos
privados, houve a preocupação de estruturar as sessões, sugerindo á ela um sentimento
específico, e á medida que a terapia progredia, essa especificidade foi sendo reduzida, e
gradualmente, pude observar o "eu" da cliente sob controle de estímulos privados. No
início, portanto, minhas dicas foram essenciais, tornando-se indispensáveis no decorrer
do processo.
Nem sempre era fácil reforçar suas verbalizações. Muitas vezes, o que dizia parecia
inexato, isto é, não correspondia ao que terapeuta pensava. Deste modo, gradativamente,
pôde treinar seu próprio repertório de atentar-se á tais situações, pois como sugerem
Referências
APA (1995). DSM IV - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Montais. Trad. Dayso
Batista. Quarta Edição. Porto Alegre: Artes Módicas.
Armony, N. (1998). Borderfine: Uma Outra Normatidado. Rio de Janeiro: Ed. Revinter.
Cavalcante, S.N., & Tourinho, E.Z. (1998). Classificação e Diagnóstico na Clinica: Possibilidades
de um modelo Analltico-Comportamental. Psicologia: Teoria e Pesquisa, vol. 14, n° 2, pp.
139-147.
Referências
Andrado, L.H.S.G.; Gorenstoin, C.(1998). Aspectos gorais das escalas do avaliação do
ansiedade. Revista de Psiquiatria clinica, 25, 285-290.
Baurimd, D. (1966) Effects of authoritative parental control on child bohavior. Child Development,
37, 887-907.
Brenner, V., Fox, R. A. (1999) An Empirically derived Classification of Paronting Praticos, Journal
of Genetic Psychology, v. 160.
Conte, F. C., S. (1997). Promovendo a relação ontre pais e filhos. Em: Dolitti, M Sobre
Comportamento e Cognição, 2, 161-168 São Paulo: ESETec Editoros Associados.
Hudson, J.L., Rapeo, R.M (2001) Paront-child interactions and anxiety disordors: an observational
study. Behaviour Research and Therapy, 39, 1411-1427.
Maccoby, E., & Martin, J. (1983) Socialization in tho context of the family:Parent-child interaction.
In E M. Hetherington (Org.), P.H.Mussen (org.Série), Handbookof child psychology: Vol.4.
Socialization, personality, and social development. 1-101. Now York: Wiloy.
Maccobby, E. E. (1994) The role of parents in the socialization of children: an historical overview.
Em Parke, Ross D., Ornstein, Peter A, Rioser, John J., Zahn-Wayler, Carolyn (Org.) A
Century of Developmental Psychology, Washington: APA.
Newcombe, N (1999) Desenvolvimento Infantil - abordagem de Mussen. Porto Alegre: Artes
Médicas.
Novak, G. (1996) Developmental Psychology: Dynamical System and Behavior Analysis. Context
Press: Reno.
Pessotti, I. (1978) Ansiedade. São Paulo: E.P.U.
Rubin, K.H., Cheah, C.S L. & Fox, N. (2001). Emotional regulation, paronting and display of
social roticonce in preschoolers. Early Education and Development, 12, 97-115.
Sanders, M.R. (1996). Now Directions in Behavioral Family Intervention with Children. Em T.
Ollendick o R.J Pring, Advances in Clinical Child Psychology, v. 18, p. 283-321. New
York: Plenum Press.
Siquoland, L., Kendall, P.C. e Steinborg, L. (1996) Anxiety in children: Percoived family environments
and observed family interactions. Journal of Clinical Child Psychology, 25, 225-237.
Skinner, B.F. (1953/1994). Ciência e Comportamento Humano. São Paulo: Martins Fontes.
Turner, S.M., Beidol, D.C., Roberson-Nay, R.., Tervo, K. (2002) Paronting behaviors in parents
with anxiety disordors. Behaviour Research and Therapy. Artigo retirado da internet,
aguardando aprovação final para publicação.
Whaley, S. E., Pin to, A. e Sigrnan, M. (1999). Characterizing interactions between anxious mothers
and their children. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 67,826-836.
' Doutoranda em Psicologia Experimental do IPUSP e docente na Universidade Metodista de Sâo Paulo
(UMESP)
* Doutoranda em Psicologia Experimental do IPUSP e docente na Universidade Ibirapuera (Unib).
3 Doutoranda em Psicologia Experimental do IPUSP e docente no Centro Universitário de Santo André (UnIA)
4 É uma área da Psicologia que privilegia o estudo daquilo que se chama aprendizagem e o processo pelos
quais o comportamento pode ser modificado (Matos & Tomanari, 2002; Neto, 2002). Convencionalmente,
emprega-se as designações 1) Análise Experimental do Comportamento e 2) Análise Aplicada do
Comportamento para distinguir o conjunto de pesquisas básicas (designação 1) do conjunto de pesquisas
aplicadas em Análise do Comportamento (designação 2). Tal distinção é considerada Irrelevante no presente
texto, uma vez que o mesmo trata da formação do aluno de Psicologia. Neste sentido, as questões conceituais
envolvidas nesta formação são consideradas o foco principal.
Além dos dados descritos acima, outros dados indicaram diferenças entre as
instituições da Grande Sào Paulo quanto ao momento de ministrar a disciplina. A Tabela 1
apresenta esses dados.
Instituição
A instituição na qual o docente atua determina, em parte, a maneira como se
ensina Análise do Comportamento. A depender das características das instituições:
• Tem-se maior ou menor autonomia para formular e reformular o programa da disciplina;
• Tem-se maior ou menor autonomia para usar estratégias de ensino que parecem
mais compatíveis com a disciplina;
• Dispõe-se de laboratório didático para replicar experimentos com animais infra-
humanos ou dispõe-se de um programa de computador com um rato virtual chamado
" S n iffy ' (para maiores detalhes, ver Tomanari & Eckerman, 2003);
• Ensina-se a disciplina em apenas um semestre e limita-se a falar apenas de
comportamentos simples ou ministra-se a disciplina em mais semestres e, com
isso, avança-se para a discussão de comportamentos mais complexos (como
comportamento verbal, privacidade, consciência, etc...);
• Há maior ou menor incentivo ao aluno para desenvolver e apresentar trabalhos
desenvolvidos na e para a disciplina.
Formação na Pós-Graduação
A formação na Pós-Graduação, também, determina a maneira como se ministra
Análise do Comportamento. Na Pós-Graduação, além de aprender a ser pesquisador,
aprendem-se comportamentos que qualificam o docente a atuar no ensino superior. A
participação em disciplinas e, em especial, em estágios e monitorias qualifica o docente a:
• Selecionar e organizar referências bibliográficas a serem adotadas na disciplina;
• Preparar e ministrar aulas;
• Elaborar questões para estudo e discussão;
• Elaborar e corrigir provas e trabalhos;
• Estabelecer critérios de avaliação.
Formação na Graduação
A formação na Graduação, também, tem sua parcela de contribuição na maneira
como se ministra Análise do Comportamento. A depender das características das
instituições de ensino superior, elas favorecem:
História de vida
Por último, acredita-se que o comportamento de planejar e ministrar Análise do
Comportamento é resultado da soma das seguintes variáveis:
• Formação obtida tanto na Graduação quanto na Pós-Graduação;
• Participação em Congressos;
• Apresentação de trabalhos em Congressos;
• Discussões formais e informais a respeito do Behaviorismo Radical e da Análise do
Comportamento com membros da comunidade científica.
Tabela 2. Indicação dos semestres nos quais disciplinas que ministram tomas estritos de
Análise do Comportamento são oferecidas na UMESP o no UniA, juntamente com
supervisão clinica e Trabalho de Conclusão de Curso * TCC.
Somestres Supervisão
Instituição 1° 2 ° 3o 4o 5o 6o 1ò õfl
UMESP X X X X X
UniA X X X X X
Como pode ser verificado na Tabela 2, na UMESP as disciplinas que ministram temas
de Análise do Comportamento são oferecidas nos 3o, 4o, 5oe 6osemestres. Os alunos também
podem fazer supervisão clínica em terapia comportamental, porém, eles não optam pela
abordagem na qual farão supervisão. Assim, nos grupos de supervisão alguns alunos dizem
8 Notas obtidas nas disciplinas que compõem o ano anterior (mais especificamente, 7° e 8° semestres).
* Nesla instituição, o estégio é oferecido com o nome de Terapia Cognltivo-Comportamental
Para que esses temas possam ser ensinados, são realizadas (nas duas instituições)
atividades de laboratório com animais, por meio das quais os métodos de investigação do
comportamento são explicitados e possíveis medidas de comportamento são estabelecidas
através de práticas relacionadas ao comportamento operante (modelagem, esquemas de
reforçamento - contínuo e intermitente -, discriminação - simples e condicional - e esquemas
múltiplos). Também são realizados experimentos com seres humanos, nas quais são
enfatizados e investigados os mesmos processos de aprendizagem, acrescidos do
comportamento verbal e da equivalência de estímulos e suas contribuições. Para todas as
atividades práticas, de laboratório, são elaborados relatórios das atividades realizadas e os
alunos recebem orientações dos professores.
Referências
Matos, M.A. & Tomanari, G.Y.(2002). A análise do comportamento no laboratório didático. São
Paulo: Manole.
Neto, M.B.C.(2002). Análise do comportamento: behaviorismo radical, análise experimental do
comportarnonto e análise aplicada do comportamonto. Interação em Psicologia, 6 (1),
13-18.
Tomanari, G.Y. & Eckerman, D.A.(2003). O rato Sniffy vai à escola. Psicologia: Teoria e Pesquisa,
19(2), 159-164.
84 A n to n lo Bento A . do M or.ie», Ko*<m<i de f 1’ossobon, Ádctson l.„ Cosia lúníor, C/uslavo S, Roliin
No que diz respeito a eventuais riscos, alguns críticos objetam que já existem
procedimentos alternativos e consolidados, baseados em reforçamento positivo, que
poderiam evitar a exposição da criança a contingências aversivas planejadas (Milgrom,
Weinstein, P., Kleinknecht, & Getz, 1985). A exposição repetitiva a condições aversivas
poderia, também, aumentar a probabilidade de danos ao processo de desenvolvimento
psicológico da criança, generalizando seus efeitos para situações muito além do
atendimento odontológico em consultório (Klatchoian, 2002). Em uma linguagem de senso
comum, estaríamos "traumatizando" a criança quando eia é forçosamente submetida ao
tratamento odontológico sob contenção física.
No entanto, dados experimentais têm mostrado que tanto a punição como o
reforçamento positivo tem efeitos temporários e que o comportamento não-colaborativo se
restabelece uma vez interrompida a punição ou o reforçamento (Hineline, 1984).
A utilização de reforçamento positivo é, certamente, a estratégia mais adequada
socialmente para a evocação de respostas colaboradoras, mas, utilizá-la com crianças
temerosas exigiria um tempo adicional, ou um maior número de sessões de atendimento,
que o processo dinâmico da doença bucal nem sempre poderia esperar. Além disso,
serviços públicos de atendimento em saúde bucal raramente dispõem de infra-estrutura
física e de pessoal treinado para exercer a prevenção e auxiliar na reabilitação bucal sem
utilização de contenção física. Pragmaticamente, a questão é de custo-beneficio e é esta
a situação que se apresenta para estudar controle aversivo em um serviço de saúde. A
contenção física constitui um tipo de controle aversivo quando observamos que ela
enfraquece comportamentos considerados “inadequados” à situação odontológica.
Embora a literatura reconheça que experiências de coerção e de violência física
são eventos da vida que podem evocar repercussões psicológicas reincidentes e que
definem, por vezes, padrões psicopatológicos de longa duração, reconhecemos que esta
não constitui uma situação comum em odontologia. Além do avanço tecnológico observado
em diversos procedimentos de rotina odontológica, cada vez menos ínvasívos, alguns
pesquisadores em Análise do Comportamento, por exemplo, tem buscado, no contexto
odontológico, acompanhar a execução de tratamento odontológico com a utilização de
recursos da análise funcional do comportamento, estudando, em seres humanos, um
processo comportamental denominado de controle aversivo (Rolim, 2005). Observamos,
no entanto, que muitas áreas aplicadas não têm dado atenção experimental suficiente a
esse tipo de processo que, freqüentemente, é utilizado em instituições de saúde, de
ensino e nas relações sociais cotidianas (Todorov, 2001).
As reações das pessoas frente ao uso do controle aversivo têm sido muito diversas,
desde uma recusa explicita ao considerá-lo a priori como maléfico, até a preocupação
com os aspectos ético-legais que envolvem a segurança dos sujeitos e o potencial que
existe para possíveis abusos neste campo (Carrasco, 1999).
A propósito, Perone (2003) afirma que a aversividade é uma questão do função e
não de estrutura e, que, é freqüentemente, compreendida de forma superficial. Este autor
afirma que em ambientes escolares, por exemplo, é comum ouvir professores dizendo
"nós não usamos punição, usamos time-ouf'. O uso de time out seria retirar a criança de
uma situação por ela ter apresentado comportamentos que impediam a continuação de
uma atividade previamente planejada. Depois de um tempo, a criança voltaria à situação e
seria explicado para ela que deveria comportar-se de modo participativo na tarefa; espera-
se com este procedimento, uma redução da freqüência de comportamentos incompatíveis
com a execução da atividade.
86 A n to n io Bento A . de M orac«, Rownu de I, Possobon, Aderson I.., C\wtd Júnior, l/ustdvo S. Rolim
das crianças serão objetivamente descritos. Considerou-se como estratégias relacionadas
às respostas dos dentistas as verbalizações (explicação, distração, persuasão e elogio) e
as atividades motoras (realização dos procedimentos cl/nicos). A técnica de manejo
comportamental relacionada à contenção física foi realizada pelo auxiliar e/ou pelos
cuidadores, a partir da solicitação e da orientação do profissional.
Os comportamentos das crianças também foram observados em relação a sua
topografia, freqüência e duração em cada rotina odontológica - Exame clínico, Anestesia
Tópica, Anestesia Infiltrativa, Isolamento Absoluto, Preparo Cavitário e Restauração - e
foram categorizados e analisados no contexto odontológico.
Estudo 01
Conforme o delineamento metodológico deste estudo (Rolim, 2005), a criança
G1, que recebeu o atendimento odontológico, poderia escolher, entre dois profissionais
(entre duas dentistas), com qual faria o tratamento. Foi estabelecido que uma dentista
deveria realizar atendimento apenas se a criança permitisse, ou seja, não poderia submeter
a criança ao tratamento odontológico utilizando-se de restrição física ou qualquer forma de
ameaça verbal. A outra dentista realizaria o atendimento utilizando qualquer estratégia
prevista e ensinada nos cursos de graduação de Odontologia (Guideline’s - American
Pediatric Dentistry, 2003). Assim, este profissional, poderia, se necessário, impedir os
comportamentos de esquiva e interromper os comportamentos de fuga quando a criança
não colaborasse suficientemente.
Os atendimentos de G1 foram realizados em cinco sessões de tratamento clínico
restaurativo. Este paciente odontopediátrico não tinha história prévia de atendimento
odontológico, seguia todas as solicitações e orientações da profissional e não apresentou
resistências ou recusas durante os procedimentos clínicos.
G1
HU
TO
n
Estudo 02
Em outro estudo (Possobon, 2000), procurou-se separar os possíveis efeitos do
uso de estratégias de manejo de comportamentos de crianças associadas, ou não, à
utilização prévia (aplicação oral) de um ansiolítico. O atendimento deveria ser realizado
em duas condições experimentais. Na primeira condição, o profissional foi previamente
informado que não poderia conter fisicamente o paciente nas quatro primeiras sessões de
atendimento e que deveria utilizar estratégias não aversivas de controle do comportamento.
A partir da quinta sessão, a contenção física era permitida.
As crianças recebiam o ansiolítico Diazepam (0,3mg por Kg de peso), ou placebo,
em sessões alternadas, ou seja, nas duas últimas sessões das condições experimentais.
O tratamento odontológico de três crianças que já tinham passado por experiência prévia
de não-colaboração em outros contextos serão apresentados a seguir.
O paciente (PI) foi encaminhado, por um dentista de posto de saúde, devido ao
grande número de cáries e pelo comportamento, predominantemente, não-colaborador da
criança. Na figura 2, pode-se observar as freqüências acumuladas dos comportamentos
de P1 e do profissional nas oito sessões de atendimento. As freqüências acumuladas das
respostas do dentista evidenciam aceleração positiva nas curvas de Explicação e Distração.
As demais curvas (choro, movimento,contenção e elogio) mantêm tendências lineares e
88 A n to n lo Bento A . de M or.ies, Ros.m.i de I Possobon, Aderson I ., C'osl.i I uni or, Ouslavo S. Rollm
de baixa ocorrência na rotina de Preparo Cavitário. Em todas as sessões foram realizados
todos os procedimentos clínicos odontológicos.
PV
92 A n to n ia Hcnta A . de Monies, Rosana de I. Possobon. Adcrson f ., C'oftta lúniar, C/ustava S. Ilo llm
durante a 5a. 6ae 7asessões (segunda condição experimental). A criança foi forçosamente
submetida à realização do atendimento odontológico e nenhuma estratégia produziu a
modificação na freqüência das respostas de fuga e esquiva. A estratégia de manejo
relacionada à contenção física apenas permitiu a intervenção clínica odontológica.
Com relação à utilização do ansiolltico, para os sujeitos PI, PIV e PV, a análise
estatística não mostrou diferença significativa entre as sessões Diazepam ou Placebo
(Teste Wilcoxon).
Frente às situações experimentais apresentadas que ilustram possibilidades de
estudo do comportamento humano na situação de saúde, em especial nos tratamentos
odontológicos, pode-se perceber que as respostas não foram iguais em todos os indivíduos,
tampouco os possíveis efeitos de estratégias comportamentais utilizadas em cada rotina.
Esta diversidade nos remete a algumas perguntas:
1. Os instrumentos odontológicos são inerentemente aversivos? Não. Uma tesoura
ou uma seringa pode adquirir propriedades aversivas na situação. A seringa pode estar
relacionada, desde experiências lúdicas (prazeirozas à criança) até comportamentos de
fuga e esquiva. Histórias bem sucedidas em atendimentos odontológicos, ou seja,
experiências odontológicas sem a exposição à dor ou desconforto e a realização rápida
das rotinas podem prevenir que as variáveis inerentes ao atendimento odontológico
estabeleçam um controle aversivo.
2. A Contenção física foi aversiva no atendimento odontológico? Para o atendimento
do paciente V pode-se considerar que sim, isto é, ocorreu uma diminuição na ocorrência
das respostas de Esquiva, ou melhor, houve uma supressão dessas respostas. Assim,
pode-se inferir que o processo comportamental envolvido seria relacionado à punição.
Com relação ao atendimento do paciente IV do Estudo 2, é possível inferir que a
contenção física adquiriu propriedades aversivas, mas não que o processo estabelecido
foi, também, punição. As respostas de Esquiva dímínuíram de ocorrência conforme a
contenção física era utilizada, o que significa que tais respostas foram enfraquecidas com
o uso da estratégia de manejo restritiva. No entanto, o uso contínuo da estratégia contenção
sugere que as respostas não tinham sido suprimidas, mas estavam sendo impedidas de
serem emitidas. A criança permaneceu protestando e não colaborando e estas respostas
não impediram a realização do tratamento.
Os resultados mostraram que o tratamento odontológico envolve um controle
bidirecional em relação a seus participantes. Parece que o cirurgião-dentista utiliza
estratégias de direção e distração para manejar comportamentos colaboradores, no entanto,
estas se mostraram ineficazes para a modificação dos comportamentos de fuga e
esquiva.Vale lembrar que o paciente G1 foi sempre colaborador, o que sugere uma interação
positiva entre a ausência de historia previa de não-colaboração e um manejo adequado do
comportamento.
Possivelmente, os procedimentos invasivos, inerentes ao tratamento odontológico,
reforçaram o padrão comportamental de evitação nas crianças PI, PIV e PV (movimentar-
se, tapar a boca, chorar, gritar).
Observou-se que os comportamentos não-colaboradores foram modificados com
o uso de uma estratégia considerada aversiva (contenção física), realizada pela mãe e/ou
pelo auxiliar odontológico. Os resultados permitem inferir que o controle aversivo pode ter
atuado como uma situação estabelecedora para a modificação de comportamentos
Referências
American Academy of Pediatric Dentistry (2003). Pediatric Dentistry. (Special Issue, Roferonco
Manual). 25:68-73.
Abrahamsson, K., Berggren, U., Hallborg, L, & Carlsson, S. (2002). Dental phobic patients' view
of dental anxiety and experiences in dental care: A qualitative study. Scandinavian Journal
of Oral Sciences, 16, 188-196.
Cadernos de Ética em Pesquisa. (2000). A bioética e o direito da criança. 3(5). Conselho Nacional
de Pesquisa, p. 09
Carrasco, J.C. (1999). Procedimentos aversivos. Em CABALLO, (1999). Manual de técnicas de
terapia e modificação do comportamento. ED Santos. 2ed.
Conselho Nacional da Saúdo. Resolução No. 196/1996. Ética em Pesquisa com sores humanos.
Locker, D & Liddell, A. (2000). Changes in levels of dental anxiety as a function of dental experience.
Behavior Modification, 24, 57-68.
Hineline, P. N (1984). Aversivo control: a separate domain?. Journal of Experimental analysis of
behavior. 42(3):495-509.
Klatchoian, D.A. (2002). Psicologia Odontopediátrica. Sâo Paulo: Livraria Santos Editora.
Milgrom, P., Weinstein, P., Kleinknecht, R., & Getz, T. (1985). Treating Fearful Dental Patients. A
Patient management handbook. Reston. Virginia: Reston Publishing Company
Moraes, A.B.A., & Pessotti, I. (1985). Psicologia Aplicada à Odontologia. São Paulo: Sarvier.
Porone, M. (2003). Nogativo effects of Positive Reinforcement. The Behavior Analyst. 26(1): 1-14.
Pinkham.J.R.(1993).The roles of requests and promises in child patient management. Journal
of Dentistry for Children. 60:169-174.
Possobon, R. F. (2000). Uso combinado de estratégias comportamentais e farmacológicas no
manejo da criança não colaboradora durante o atendimento odontológico. Dissertação
de Mestrado. Ároa de Farmacologia. Universidade Estadual de Campinas.
Rolim, G, S. (2005). Uma avaliação da ocorrência do controle aversivo em procedimentos de
manejo do comportamento de pacientes especiais om atendimento odontológico. Exame
de qualificação realizado junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação Especial
da Universidade Federal de São Carlos.
Sidman, M. (1995). Coerção e suas implicações. Editorial Psy:Campinas/Sp,
Todorov, J.C. (2001). Quem tem medo do Punição?. Revista Brasileira do Torapia Comportamcntal
e Cognitiva. 3:37-40.
Acupuntura e o Tratamento da
Ansiedade: da Medicina Tradicional
Chinesa à Psicologia
Arnunub Ribeiro <//>* Neves Neto'
"Assim como qualquor ponto na suporficie de uma esfera pode ser visto como o
contro da superfície, todo órgão do corpo e todo ser do cosmos pode ser visto
como o sou centro e governante".
Alan Watts (1975)
M as, hoje em dia, a situação é diferente, as pessoas tanto são perturbadas pela
ansiedade interna do coração, como feridas pelas dificuldades externas do corpo,
juntam ente com o descuido do paciente, vio le n ta n d o as regras da seqüência do
clima das quatro estações, e a friagem e o calor da manhã e da noite Acerca
da Terapia de transform ai a M e n te e o hspírito - Yi !in$ H ün O i Lun, (W ang,
»004, p. yo).
'O terror excessivo e a ponderação, (a/cm com que o paciente gaste a energia
Y in e fique instável. O sofrim e nto excessivo les«i as vísceras infernas, fj/e n d o
com que as atividades funcionais da energia v ita l se tornem exaustas, gerando a
m orte do paciente. A alegria excessiva causa a dispersão da energia que não
pode m ais ser arm azenada. A m e la n co lia excessiva causa o im p e d im e n to e a
' Ir mi
BdVo/IUncrr.u (l’l)
Mnlll.H.lo
DecisAo, Meridiano
Fígado
Cognição, 1 Meridiano
Yi memória Reflexão <8 BP - E Terra
(Ponsnmonlo) declarativa
Ü
Vontade Meridiano
! (SHEN)
(Força de
Vontade)
.........
!
!
Quadro 3 - Manifes taçôes psíquica s e clinicas dos Zang, conforme o estado enorgético.
Zang Vazio de Plenitude de Vazio de Sintomalogia clínica
Yín Qi Yang QI Yang Qi
Alegria Ansiedade Choros Palpitação, insônia, confusão mental,
Coração
í
CO
■6
K 2,
I e pftnico decisão.
"f oi ii m edicina com as mJos que me colocou no cam inho . Sabendo quanto o
bloqu eio da qu in ta vértebra lo m bar é freqüente nas nevralgias ciáticas, tiv e a
idéia de que o ponto cauterizado agia sobre essa mesma vértebra. A antélicc me
apareceu, cnM o, como a im agem da coluna ve rte b ra l, cujas parles estariam
todas in ve rtid a s, as vértebras lom bares acima e as cervicais abaixo. A s s im , o
pavilhão, cm seu lodo, teria representado a imagem de um feto no útero." (p. 16).
I ifjurfl 3 • Avaliaç.lo da eslimulafiU) auricular (ponto dedo* do pf, segundo Paul Nogier)
através d.« Ressonância Magnética Funtlou.il - IM R I, foram observados alterações funcionais
na .Uca somestésica S I. fonte: A lim l el ai. (¥000).
A n s ie d a d e e P s ic o lo g ia
An si edade e Psiquiatria
Objetivos
Metodologia
R es u l t a do s
Quadro 7 - Descrição dos ostudos clínicos sobro o uso da Acupuntura Auricular no tratamento
da ansiodado o o nlvol de evidência pare análise critica do um ostudo clon11fico.
Autor Ano Nivel de Evidência
Kober et al | 2003 III
Berman ft I undberg [ 2002 III
Shu-Ming et al I 2001 n
Shu-Ming A Kain 1 2001 ii
Tabela 2 - Descrição das motodologiaa ompregndas nos estudos sobre Acupuntura Auricular
no tratamento da ansiedade
Estudo Desonho do Estudo Resultados
EC; GC; R, M
i Escala Traço-Estado de Ansiedade do Sptnlberg (p
f1 -0,014)
C) ponto Shcn-Mcn foi a base para 3 dos quatro esludos selecionados, reforçando
sua importância para a prática da Acupuntura Auricular. O ponto Shüm, foi utilizado em 1
estudos como recurso principal do grupo controle. Quanto ao número de sessões descreve-
se de I a H3 consultas (unidades psiquiátricas no presídio).
h>ram utilizados em 7b% dos estudos agulha filiforme de «iço inoxidável produzidas
pela indústria jdponesd S ciritf e peld ehinesd Su/hou\ o tamanho descrito eid dc 0,22 x
0,13 mm.
Discussão
O estudo dtingiu seu principdl objetivo que erd revisdr criticdmenle d literatura
cientificd sobre o trdldmento dd dnsieddde através da Acupuntura Auricular - Medicina
írddiciondl Chinesa.
Observa-se que a literatura é relativamente atual, o que retorça a concepção de
que neste momento sócio-histórico busca-se submeter â prática médica oriental milenar
dos métodos e procedimentos de avaliação da ciência moderna ocidental. Não que se
duvide de seu valor pragmático e efetivo, mas que a integração destas duas concepções
diferentes sobre o processo de adoecer trás a necessidade da liaduçâo e compreensão
dc parte de seus efeitos clínicos em termos da atual linguagem das ciências da saúde.
Observa-se que dos quatro estudos selecionados metade atendia a classilicação II e a
outra metade a III, o que reforça o empenho dos cientistas ocidentais cm buscarem níveis
dc evidência científica que apóiam a utilização da Acupuntura Auricular - M I C no ocidcnle.
A prática da Acupuntura Auricular para o tratamento da ansiedade, ainda é uma
noviddde em nosso meio científico e dssistencidl. A dnsieddde é um transtorno mental que
afeta uma grande parcela da população, e os meios de tratamento ainda não são totalmente
elicazes para muitas pessoas acometidas por esses sintomas e sinais. Isso torna a
Acupuntura -- M edicina Iradicional Chinesa uma opção interessante que poderá ser
incorporada â prática clínica e aos estudos científicos da área de saúde mental.
A nosso ver, a Acupuntura Auricular apresenta algumas vantagens em relação ás
práticas contemporâneas, sendo elas: visão holíslica do in divídu o (ex. modelo
biopsicossocial e espiritual e abordagem psicossomática), busca do reequilíbrio do indivíduo
(homeoslase), baixo custo financeiro, baixíssimos efeitos colaterais (ex. inflamação do
pavilhão auricular por falta de anli-sepsia adequada, pericondrite), diversidade de estimulações
(ex. agulhas filiformes, agulhas semi-permanentes, sementes, esferas, laser, moxabustâo
e etc.), praticidade da aplicação, resposta rápida do organismo com duração de dias a
semanas (ex. a partir dc 1 b a 20 minutos, podendo durar algumas semanas), possibilidade
de ser utilizada cm diversos settings terapêuticos (ex. consultórios, ambulatórios, hospital
Conclusão
Keferéncids
Marignan, M. (1997). /./ félélhcrmomc/ric Auriculaire Pynamtque. f rança. Disponível em: <http:/
/Isabelle.loras.frce.fr/clndex.html>. Acesso cm: 20/12/2004.
Morant, Cf.S. (IV90/I9b7). Acupuntura. Hucnos Aires: hfitorl.il Médica Panamcricana.
Nagakawa, I. 4 Ikcmi, V. (I9H2). A new model oí integrating occidental and oriental approaches.
lournal <>/ Psychosomatns Research. ÜH(1): b7-fi«, 19H2.
National Institute Of I lealth (N il I) (I99M). Acupuncture: N il I Consensus Conference. /AMA.
V fU )(1 7 k tblM-lb24.
Neves Neto, A.R. (200 b). Acupuntura e o Iratamento da Ansiedade: da Medicina Tradicional
Chinesa A Psicologia. Monografia. Instituto de Psicologia c Acupuntura - f spaço
Consciência. São Paulo.
Neves Neto, A.R. (2004). Medicina Comportamental e Acupuntura: Instrumentos de Psicologia.
X III Tncontro da Associação Hrasileira </<• Psico/era/na e Medicina Comportamental e II
Congresso Internacional da Association for Hehavior Analysis. Campinas.
Neves Neto, A.R. (2003). rsicoterap/a Cognitivo-Comportamental: Possibilidades em Clínica c
Saude. Santo André: hsetee Kditorcs.
Nogier, P.M.r. (I99M). Noções práticas de Auriculoterapia,. Sào Paulo, Andrei.
Nogier, R. & Houcinhas, ).C. (1997). Prática fácil de Auriculoterapia e Auriculomedicina^ Sào
Paulo, ícone.
Nogier, R. (2003). Auriculoterapia ou Acupuntura Auricular: 1" í/rau; Sào Paulo, Andrei.
Olcson, T. (I99H). Auriculotherapy Manual: Chinese and Western Systems of har Acupuncture.
2nd edition. USA: I Icalth Care Alternatives Inc.
Ross, I. (2003). Combinações dos pontos de acupuntura: a chave para o êxito clinico; Sào
Paulo, Roca.
Savoia, M.C/. (2000 ). Transtorno de pânico: desencadeantes psicossociais^ Santo André: hsetee.
Schnycr, R.N.; Allen, II.R, I litt, ‘vK./ M.inbcr, R.; Kaptcbuck, l.l. & Thasc, M .h (2001). Acupuncture
in the Treatment of Pepression• A Manual for Practice and Research. USA: Churchill
I ivingstonc.
fsé, L. ( 197H). lao-te King: O livro do sentido <• da vida. Tradução Richard Wilhelm. São Paulo:
Pensamento.
Schreiber-Servan, I). (2004). Curar: o stress, a ansiedade e a depressão sem medicamento
nem psicanálise. São Paulo: Sá.
M eu Tio da América1:
Inovação há 25 anos
Hcrthinl Riintfó1*
I. Nascimento
• JLG: nasce numa ilhota perto da casa dos pais e avós, por insistência do avó excêntrico;
• JG, método parto sem dor "soviético’’;
V. Problemas
LR ó “promovido" e fica com receio. Ao chegar em casa, as filhas estão fazendo uma grande
bagunça com TV e som ligados muito alto e ele grita “Que bordel é esse?", jogando cadernos
e livros da mesa para o chão. Comenta com a esposa (professora) ida para Cholet, sempre
preocupado. Ao partir, esposa diz a ele que está grávida.
JLG ó demitido sem aviso e, num almoço com JG e seu “amigo” começa a ter cólicas renais
e JG corre para ajudá-lo (com imagens de Jean Marais salvando pessoas); JLG continua
com crise renal em casa e pressiona JG que acaba chorando e sentindo-se impotente.
Arlette (ex-mulher de JLG) aparece no hall dps elevadores da saída do apartamento e inventa
uma mentira sobre uma doença fatal. JLG critica JG que o provoca para conseguir uma
separação (lembram-se? Jean Marais, militante comunista, atriz, sacrifício...)
HENRI LABORIT: “Já dissemos que não somos senão o que os outros nos fazem. Um
garoto selvagem abandonado não vai se tornar um homem, não saberá andar e falar e vai se
comportar como um pequeno animal. Graças è linguagem os homens puderam transmitir
VI. Dois anos depoisJLG vai para a ilha e encontra lá JG [JLG procura, rato na
caixa procura]
HENRI LABORIT: descreve funcionamento da caixa de Miller: choque á fuga = rato saudável
JLG vestido de rato sai de casa (fuga)
RR sai da casa dos pais com a noiva (fuga)
JG com medo da mãe e de não falar com JLG (fuga)
HL: "O que é fácil para um rato numa caixa ó difícil para um homem na sociedade ....
certas necessidades são criadas com início na infância (JG com medo da mãe durante
preparação de cenário da peça; Arlette não deixa JLG sair... donde luta). Quando dois
indivíduos têm projetos diferentes mas competem para atingí-los, haverá um ganhador e
um perdedor. O resultado é a DOMINÂNCIA.”
' Robert Plutchlk contruiu uma admirável teoria das emoções denominada de Teoria Psicoevolucionária das Emoções.
Esta teoriu concebe que existam quatro problemas básicos para a sobrevivência: (1) territuriedade, para resolver
o problema de espaço onde poderão ser encontrados os allment06, a água, o território para a procriação e a criação
da prole; (2) hierarquia, uma ve/ que toda sociedade se organiza em hierarquias em que os superiores dominam e
são responsáveis pelos que estão abeixo: (3) identidade, que diz respeito ao que é aceitável e e intolerável paru ser
incorporado; e (4) temporalidade, que se refere à questão da procriação, da herança genética, do legado da obra
de uma vida, das perdas que ocorrem com o passar do tempo e da reintegração social. Para cada um desses
problemas existem duas soluções alternativas: a terrltoriedade envolve respostas de exploração e orientação; a
hiwarquia, inclui respostas de ataque e proteção, a identidade se caracteriza por respostas de incorporação e
rejeição; e a temporalidade Inclui respostas de reprodução e reintegração. Cada uma dessas respostas vai se
manifestar referida a um tipo especifico de situação, com as correpondentes avaliações, suas experiências
subjetivas, seus comportamentos e respectivas funções que, ocorrendo de forma mais preponderante, váo
estabelecer sa características de personalidade de cada individuo bem como seus transtornos de personalidade,
se essas ações se mostrarem rlgldas e inflexíveis Ver tabela no apêndice 1
Berna rd Rango
TERRITORIEDADE é a base de todos os comportamentos, mesmo que não se tenha
consciência dos motivos. Não há um instinto de propriedade nem de dominância; há
apenas a aprendizagem que o sistema nervoso da pessoa fez para conseguir para si um
objeto ou aquilo que ó desejado e aprendeu que se quiser guardar esse objeto ou pessoa,
ele tem que dominar.
JLG pequeno com a mãe.
JG pequena com boneca.
LR com cachorrinho.
* A importância da obra de Albert Bandura ainda não pode ser adequadamente avaliada. Os seus estudos
sobre modelação estâ presentes neste íilme nas cenas em que cada personagem é modelado por um ator
importante do cinema francês Em cada cena, há sempre a oportunidade de aprendizagens pela observação
do comportamento dos outros Não só isso, mas a sua contibuição para a ciência da psicologia também foi
enriquecida pelo Importante conceito de auto-eficácia
Mais Informações poderão ser obtidas no site http://www lite fae unlcamp br/teoriasc/
6 Richard Dawkins ó um dos mais conhecidos pesquisadores da área conhecida como Psicologia Evolucionlsta.
Esta área é a expressão do conhecimento deduzido da teoria evolutiva de Darwin aplicada ao comportamento
das espécies, sobretudo da espécie humana Um de seus pontos de vista é que o que Importa não a
sobrevivência de cada indivíduo, mas o de cada gene Fablano dos Santos Castro (2005), um grande
Interessado no tema, diz que, 'para Dawkins, a "sobrevivência do mais apto" é na realidade um caso
especial de uma lei mais geral da “sobrevivência do estável" em um universo que, segundo ele, está
povoado por coisas estáveis. "Se um grupo de átomos, na presença de energia, se ordena em um padrão
estável, este grupo de átomos tenderá a permanecer desta maneira. A primeira forma de seleçio natural foi
simplesmente uma seleção de formas estáveis e umB rejeição daquelas instáveis Podemos resumir tudo
que a teoria da seleção natural diz da seguinte forma’ se em uma espécie há uma variação nas características
hereditárias dos indivíduos, e algumas são mais úteis à sobrevivência (seleção nutural) e á reprodução
(seleção sexual) do que outras, então tais características se disseminarão mais amplamente na população
(adaptação) (Wright, 1996) Pelas palavras de Darwin, a seleção natural se resume em fjjn palavras
apenas: "Multiplicar, variar, que o forte sobreviva, que o fraco morra" (Wright, 1996 pág 7) Para Dawkins
(1976), seriamos apenas fruto de nossos "genes egoístas", que nos criaram apenas como forma de
perpetuar sua existência no mundo '. Por analogia, para lidar com as questões de ordem cultural, Dawkins
cunhou a expressão "meme", que se refere a competições entre conceitos culturais como cristianismo,
islamismo, Flamengo, Coca-Cola e outros Outros autores importantes na área seriam Steven Plnker (2002),
Burnham e Phelan (2002) e Pease e Pease (2000) InformBçóes também podem ser encontradas na página
da internet http://humarvnature com/nibbs/
1. Territoriedade
• JLG pequeno com a mãe
• JG pequena com boneca
• RR com cachorrinho)
Todos nós aprendemos que, se quisermos guardar objetos ou pessoas, temos que
DOMINAR.
A linguagem só serve para esconder a dominância e para fazer um indivíduo acreditar que
trabalhando para o grupo ele realiza seu prazer (JG agradecendo os aplausos ao final da
peça), mas que na verdade tudo o que ele está fazendo é preservar as situações hierárquicas
que se escondem atrás dos hábitos linguísticos (RR com secretária conduzindo para reunião)
que servem como um alibi, uma desculpa (cena da Arlette contando a mentira para JG).
A mentira se esclarecendo: "Sou uma idiota” fJG vai salvar JLG] (Jean Marais)
HENRI LABORIT: inibição
Na segunda situação a porta está fechada e o rato leva choques inescapáveis e fica
doente (DESAMPARO APRENDIDO, Seligman, 1975)”. A inibição do comportamento leva
a angústia e daí surgem as perturbações biológicas de tal forma que, se um micróbio
estiver presente, ele vai adquirir uma infecção, talvez desenvolver uma célula cancerosa
que poderiam destruir o corpo (enquanto que ele poderia facilmente se livrar disso em
condições normais). Assim, são desenvolvidas as doenças psicossomáticas, as úlceras,
a hipertensão, a insônia, a fadiga.
Numa terceira situação há dois ratos numa mesma caixa e, ao levarem choques, um
ataca o outro; o dominante fica bem, mas o dominado fica mal. Mas no homem, as leis
sociais impedem essa violência defensiva. Assim, um trabalhador que está sob ataque
" Martin Seliman, um eminente pesquisador americano e ex-presidente da American Psycological Association,
desenvolveu estdos em 1979 que o conduziram a concluir que organismos submetidos h condições em que
uma resposta de fuga épossível comparados com aqueles que esta resposta não é possível, desenvolveriam
um estado que ele denominou de "desamparo aprendido“ Esta condição se mostrou ser totalmente comparável
ao quadro de depressão maior Posteriormente, fez revisões de sua concepção, dando-lha uma interpretação
mais cognitiva Mais recentemente, passou a estudar outro tema igualmente importante e abandonado pela
pesquisa cientifica' a psicologia positiva
(...)
JG sofre muito, se bate, se joga no chão (Jean Marais contra o vento), tenta escrever pra
JLG descrevendo o sofrimento dela (... quero morrer... você não vai me acreditar...)
(...)
"O inconsciente ó uma coisa admirável não só pelo que ó reprimido mas tambóm
por tudo que ó pormitido e reforçado pela sociedade. Nós não tomos consciôncia
da sua presonça e, no entanto, guia muitas de nossas ações. É esse ínconsciento
que náo è o freudiano mas que é mais do que esse e ó a chamada personalidade
de um indivíduo construída de um "brique-a-braque” do juízos, valores, preconceitos,
de lugares-comuns que, com o desenvolvimento vai se tornando cada vez rnais
rígida e, quanto uma pedra do edifício é retirada, ele desmorona, rosultando em
angústia. Essa angústia não pára com nada, nem com assassinatos, nem corri
genocídios, nem com a guerra. Começamos a compreender quais os mecanismos,
os por quês, o como, através da história e no presente se estabelecem as
hierarquias de dominância. Para ir à lua temos que sabor as leis da gravitação, no
entanto, conhocer as leis da gravidado não nos livra da gravidade, nós as usamos
para fazer outras coisas. Até nós termos o conhecimento sobre o funcionamento
do nosso cérebro e como o utilizamos. Até hoje foi para dominar os outros o se
continuar assim há pouca chance das coisas mudarem."
O filme mostra cenas de destruição da 2aGuerra e termina com uma árvore pintada
num edifício com tijolinhos e a câmera se aproximando cada vez mais até só aparecerem
uns poucos tijolos.
O filme começa a mostrar cenas de destruição da 2®Guerra, quarteirões arrasados,
pilhas de tijolos e termina com uma árvore pintada num edifício com tijolinhos e a câmera
se aproximando cada vez mais até só aparecerem uns poucos tijolos pintados.
Reflexões finais
A análise do comportamento teve contribuições importantissimas que têm que
ser reconhecidas. O próprio Skinner defendia que precisamos conhecer as contingências
filogenéticas que são descritas hoje pela psicologia evolucionista.
Precisamos reconhecer também a importância dos fatores de apêgo e os fatores
cognitivos na nossa constituição como indivíduos. Precisamos conhecer tambóm as
contribuições das neurociências. Cada vez mais os estudos sobre imagens da atividade
cerebral se multiplicam permitindo que novos conhecimentos sejam melhor estabelecidos
(Lent, 2004). Ignorá-los significaria um descaso com o progresso da ciência.
Manter-se apenas nos ensinamentos de Skinner é uma posição de cegueira. E o
pior: voluntária. Só com o conhecimento gerado e incorporado tambóm pelas áreas acima
mencionadas é que poderemos completar o conhecimento significativo sobre o homem.
FIM
'Trabalho financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Sào Paulo (FAPESP).
'Psicólogo e Bacharel em Psicologia, doutorando do Programa de Pós-graduaçâo em Filosofia do Departamento
de Filosofia e Metodologia das Clônclas da Universidade Federal de São Carlos.Endereço para
correspondência; Universidade Federal de São Carlos, Dopartamento Filosofia e Metodologia das Ciências,
Rodovia Washington Luis, Km 235 - CEP13565-905, SÔo Carlos SP.
Endereço eletrônico: caalouesffiterra.com.br
Metafísica relacionai
O projeto fundacional que adotaremos, aqui, para interpretar o behaviorismo radical
embasa-se em uma metaffsíca relacional (Lopes, 2002). Antes de analisar algumas
características dessa metafísica, devemos esclarecer o uso do termo metafísica, que,
muitas vezes, é considerado incongruente com o discurso científico.
Metafísica é empregada, aqui, como sinônimo de uma visão*de*mundo
compartilhada por um conjunto de pessoas pertencentes a uma mesma comunidade4.
Dessa forma, não é nem um pouco incoerente falar de uma metafísica na ciência do
comportamento, desde que isso seja entendido como um conjunto de pressupostos
compartilhados pelos behavioristas radicais. Além disso, a metafísica fundamenta regras,
instrumentos e valores empregados por uma comunidade científica5.
Considerando o nosso objetivo - esboçar o projeto fundacional que orienta nossa
:t Isso não se confunde com uma perspectiva relatlvlsta, O fato de admitirmos uma infinidade de Interpretações
possíveis, nâo quer dizer que qualquer interpretação é legitima. Segundo nossa proposta uma Interpretação
é legitimada por um projeto fundacional, que deve ser minimamente explicitado antes de se emproender a
Interpretaçflo propriamente dita. Além disso, é possível comparar diferentes projetos fundaclonals, embora
o critério para a escolha entre eles seja a efetividade em produzir novos textos, e não a verdade.
4 Uma definição de metafísica bem próxima a essa pode ser encontrada em Burtt (1932/1983).
5Parece ser razoável aproximar a metafísica, como visâo-de-mundo, somada ao método exigido por ela, do
conceito de paradigma de Kuhn (1962/2003).
* Julgamos mais adequado empregar o termo presentar ao invés de apresentar. Isso porque prosentar
remeter mais facilmente ao sentido de “estar presente’ , evitando, assim, uma interpretação du partícula aa
como Indico da indeterminação do sujeito.
O papel da cultura
Voltando ao positivismo lógico, como já mencionamos, o “critério de verdade por
consenso", que influenciou muito o behaviorismo metodológico, tem na sua raiz o
empirismo, garantindo a não-discrepância entre dois observadores diferentes - se eles
estão expostos à mesma estimulação, eles verão a mesma coisa.
Na metafísica relacional a exposição à mesma estimulação não é sequer possível,
pois se o estímulo se constitui na relação comportamental, e cada organismo participa de
sua relação, cada situação de estímulo é a princípio única. Por outro lado, assumindo
essa posição, parece que caímos em uma impossibilidade explicativa, pois se cada pessoa
vê de uma maneira, não é possível construir uma visão universal sobre o fenômeno
observado. É nesse ponto que entra a cultura.
Podemos definir cultura como um conjunto de comunidades verbais, que estão
em comunicação. A regulação das diferentes interpretações se dá no nível das comunidades
verbais, ou seja, cada comunidade verbal tenta manter uma coerência interna de
C onclusão
Seguindo nossa exposição, concluímos que Skinner (1945/1984,1974), ao tentar
responder a seus críticos, comprometeu-se com certas questões que não se colocam
para o behaviorismo radical. Isso quer dizer que a teoria de eventos privados - fundamentada
em uma privacidade composta por eventos inacessíveis - faz parte de uma discussão
alheia ao projeto fundacional do behaviorismo radical. Ou seja, o problema da acessibilidade
surge no bojo de tradições como o dualismo, materialismo, empirismo, positivismo lógico,
mas não se coloca desde o início em uma metafísica relacional. O behaviorismo radical
lida com diferenças entre os vários discursos na explicação do comportamento, e não
com eventos acessíveis ou inacessíveis, públicos ou privados.
Diante disso, duas são as possibilidades. Se mantivermos a vinculação entre
privacidade e subjetividade, o projeto fundacional do behaviorismo radical, não prevê um
estudo sobre a subjetividade (trata-se de um pseudoproblema). Por outro lado, se admitirmos
a existência de "coisas" que são próprias de uma relação organismo-ambiente especifica,
e considerarmos que essas “coisas” são por isso subjetivas, restituiremos a possibilidade
de um estudo da subjetividade no behaviorismo radical.
Dessa forma, privacidade, nos moldes da teoria de eventos privados, não se
confunde com subjetividade. Enquanto no primeiro caso há um comprometimento com a
problemática da acessibilidade - herança do dualismo e do positivismo lógico -, no
segundo, tratamos da relação entre eventos, estados e processos com um sujeito psicológico
(self). No entanto, a análise de como se dá essa articulação, já é assunto para um próximo
trabalho.
Referências
Andorson, C. M., Hawkins, R. P. & Scotti, J. R. (1997). Private events in behavior analysis:
Conceptual basis and clinical relevance. Behavior Therapy, 2fi, 157-179
Burtt, E. A. (1983). -As bases metafísicas da ciência moderna. (J. Viegas Filho & O. A. Henriques,
Trads.) Brasilia: Editora da Universidade de Brasilia. (Original publicado em 1932)
Creel, R. (1980), Radical epifenomenalism: B. F. Skinner’s account of private evonts. Behaviorism,
8, 31-53.
Revisão de Literatura
0 abandono de crianças foi permitido e tolerado desde tempos remotos. Abandonar
crianças é um fenômeno de todos os tempos. Variaram, apenas, as motivações, as
circunstâncias, as causas, as intensidades, as atitudes em face do fato amplamente
praticado e aceito.
Além de raros, os estudos existentes sobre a mãe que abandona, geralmente,
são estudos de casos. Os pesquisadores e os autores que têm se debruçado sobre o
vasto tema examinaram a vida e a experiência de filhos abandonados e pais que os criam,
pouco se conhece sobre os doadores, os quais constituem uma legião de desconhecidos
nesse cenário onde todos parecem compactuar com o silêncio.
Segundo Weber (2000), é no contexto de pobreza de parte do Brasil que se
encontra a maioria dos casos de abandono de crianças: o abandono tanto pela a negligência
quanto o abandono nas ruas, lixos e maternidades. No Brasil, o fenômeno está fortemente
associado à proibição legal do aborto, à miséria, à falta de esclarecimento à população, à
falta de amparo familiar... Uma pesquisa realizada por Weber (2004) revela que a maioria
dos abandonos se dá por mães jovens (entre 15 e 20 anos), solteiras, com dificuldades
financeiras, sem apoio do parceiro e da família. Para Becker (1994), Weber e Kossobudzki
O Abandono na História
Sabe-se da existência de casos de abandono de crianças em praticamente todas
as grandes civilizações da Antigüidade. Na tradição judaica, dois exemplos fortes e centrais
de abandono de bebês são de todos conhecidos e aparecem nas escrituras do Antigo
Testamento - Ismael e Moisés. Na Bíblia, bem como no Talmude, há numerosas alusões
ao abandono de bebês, o que mostra a freqüência do costume. Outrossim, a mitologia e
a filosofia fazem menção a inúmeros casos de abandono. É válido ressaltar o divulgado
abandono de Édipo, filho de Laio e Jocasta. Júpiter, deus da Luz, foi igualmente abandonado
por seus pais ao nascer, assim como Hércules e Esculápio (filho de Apoio). Com efeito, os
filósofos outorgaram com certa recorrência ao tema como Platão, em A República e
Aristóteles, na sua Política (Marcílio, 1998).
Informalmente, o abandono foi comum até o final da Idade Média - período em
que a criança era reconhecida como um grupo de segunda categoria - um ser imperfeito
que necessitava sair deste estado infantil para merecer algum respeito, tão desvalioso que
seu estudo se afigurava como desnecessário, frívolo e desprovido de cientificidade (Roig &
Ochotorena, 1993 e Trindade, 1999). Segundo Aries (1981), o sentimento de família era
desconhecido na Idade Média.
O processo de mudanças começou na Itália ao longo dos séculos XV e XVI.
Foram, então, criados pequenos hospitais para expostos. O nome Roda - dado á casa
dos expostos - provém do dispositivo de madeira onde se colocava o bebê. A origem
desses cilindros rotatórios vinha dos mosteiros e conventos medievais, usados para evitar
o contato dos religiosos com o mundo exterior (Marcílio, 1998). O ardor moralista via na
Roda uma forma de defesa dos bons costumes e da família. À vista disso, Gonçalves
(1987) mostrou que os asilos de "enjeitados" atingiam a condição de reguladores dos
possíveis "desvios" familiares. Lá reuniam-se os filhos de uniões ilegítimas, os que não
possuíam história, os sem família, que encontravam na Roda um lugar de socorro e acolhida.
Somente a partir do século XVII apercebeu-se maior aproximação da família e das crianças.
A mortalidade sempre fora elevada nessas instituições de abandonados. Segundo
Trindade (1999), 20% das crianças morriam ao chegar; 30% no final do primeiro ano de
vida e 32% sobreviviam até os cinco anos. Weber (2000) fez notar que o abandono através
das Rodas, indubitavelmente, era um infanticídio em longo prazo, pois a maioria não
sobrevivia. No final do século XIX, como relevou Marcílio (1998), as Rodas praticamente
desapareceram da Europa, enquanto no Brasil elas foram criadas a partir do século 18 e
durante um século e meio foram a única ação de proteção á criança abandonada. A Roda
dos Enjeitados no Brasil existiu até 1950, o último país do mundo a acabar com ela. O
As Causas do Abandono
A maioria das mães abandona seu filho já na maternidade e desaparece, comprovando,
segundo Weber (2000), ser esta a prática mais comum em casos de abandono. À ótica
social, as causas maternas sempre serão frívolas frente ao ato praticado. Roig e Ochotorena
(1993) fizeram menção a suposta presença de transtornos psiquiátricos na mãe que abandona
seu rebento. No entanto, os autores refutaram essa hipótese e assinalaram a existência de
inúmeros casos de abandono de filhos sem qualquer alteração psicopatológica materna.
As diversas causas do abandono, para Pouchard (1997), necessitam que a realidade
se imponha. A autora motiva o desamparo e a miséria, acreditando que, geralmente, trata-
se de situações dramáticas em que os pais biológicos não têm muitas oportunidades.
Weber (1999) tornou saliente, em face á realidade da mãe abandonante - a qual se insere,
muitas vezes, na parcela populacional submetida à exclusão, à miséria e à violência - que
esta genitora crê que o abandono é o melhor que ela pode estar fazendo por sua prole.
É importante propalar o revelado por Lipps (2002), Pouchard (1997) e Watanabe (2002)
que supõem às mães com histórias de abandono e negligência em suas vidas pregressas
constituintes do grupo que conduz tal característica às suas experiências maternantes. Trata-
se de um círculo vicioso, em que o drama do abandono se reproduz de geração em geração.
Como salientou Weber (1999): o abandonado abandona. Referindo-se a essa repetição da
história, Bowlby (1998) enfatiza que as perdas e as separações das mães vividas na infância
são fatores relevantes nos processos de abandono de seus filhos na vida adulta.
Com efeito, deve-se acrescentar o conceito de estilo parental, o qual encaixa-se a
esta causa de abandono materno. O estilo parental consiste no conjunto de manifestações
dos pais em direção a seus filhos, que caracteriza a natureza da interação entre esses
(Reppold, Pacheco, Bardagi & Hutz, 2002). O estilo é o contexto dentro do qual operam
esforços dos progenitores para socializar os seus filhos de acordo com as suas crenças
e valores (Oliveira, 2002). Ele pode ser entendido como o clima emocional que perpassa
as atitudes dos pais, cujo efeito é o de alterar a eficácia de exercícios disciplinares
específicos, além de influenciar a abertura ou predisposição da progénie para a socialização,
como mencionou Darling e Steinberg (1993).
As pesquisas em estilos parentais abordam o quanto os pais são exigentes e o
quanto eles são responsivos para com os seus filhos, deixando de considerar outros
Sobre C o m p o rtam en to e C o r » ív 3 o
aspectos importantes como o relacionamento afetivo, o clima conjugal e o sentimento dos
filhos. Diante disso, Weber, Brandenburg e Viezzer (2003a), com o intuito de ampliar o
estudo das relações entre pais e filhos, elaboraram dimensões sobre diversas práticas
parentais que permitem medir os comportamentos específicos dos pais, e, principalmente,
fornecer uma avaliação global da qualidade de interação familiar.
Weber e cols. (2003a) ressaltaram que a interação familiar tem especial importância
no processo de formação de qualquer indivíduo. Ora pois, acredita-se que a qualidade da
interação familiar a que as mães que abandonaram os seus filhos foram submetidas em
suas infâncias foi um dos principais determinantes para o abandono de suas crianças.
Todavia, indubitavelmente, investigar o real comportamento de pais é de difícil acesso.
É notável, em muitas pesquisas, que eles são, em suma, os seus próprios examinadores,
porém, deve-se considerar que assim, há maior risco de relatarem os seus comportamentos
conforme a conveniência social (Holden & Edwards, 1989). Por conseguinte, outra forma de
pesquisar as interações entre pais e filhos é através do relato dos filhos, a percepção que
eles têm dos estilos e da qualidade do envolvimento parental. Para esse estudo citam-se os
instrumentos: Childrens Reports of ParentalBehaviorInventory, de autoria de Schaefer (1965);
Escalas de Responsividade e Exigência, de autoria de Lambom e cols.. (1991) e traduzidas
e adaptadas para o português por Gomes, Costa e Teixeira (2000) e as Escalas de Qualidade
de Interação Familiar, de Weber e cols.. (2003b).
Fonseca (1995) ainda observou certas regularidades no comportamento familiar
de mães que abandonaram os seus filhos. Percebeu uma raridade de casamentos legais;
uma relativa instabilidade conjugal e uma proporção alta de mulheres-chefes-de-família.
Stevens, Nelligan e Kelly (2001) atentaram à imaturidade materna como determinante ao
abandono, uma vez que, em sua pesquisa, a maioria das mães abandonantes era
adolescente. Já Jones (1993), concluiu a partir de seu estudo, que além da pouca idade,
da falta de condições econômicas e/ou sociais, um dos fatores que mais influenciaram as
mães a abandonar os seus filhos foi o julgamento alheio.
Segundo Freston e Freston (1994), o perfil predominante da mãe que abandona é
de uma mulher solteira, de mais de 20 anos, migrante de outro estado, de educação
primária incompleta, com trabalho incerto, sem fontes maiores de sustento familiar e que
engravida de uma relação eventual sem compromisso estável. A maioria dos casos de
abandono, de acordo com as pesquisas dos autores acima referenciados, é determinada
pela a conjugação do fator econômico (pouca educação formal; salário inconstante) com
o fator familiar (enfraquecimento da família extensa pela migração; ausência do
companheiro). Quando existe apenas um desses fatores, a incidência de abandono é
significativamente menor.
Compreende-se então, que o abandono é um fato social total que só se desvela
se compreendido historicamente nas suas vertentes biológicas e psicológicas, culturais e
socioeconômicas e não de um modo essencialista, seja qual for a "essência" eleita ou a
sua justificação.
Objetivos
Esta pesquisa teve como objetivo geral conhecer e identificar alguns dos fatores
presentes, sejam pessoais, familiares e/ou sociais, que influenciaram as mães a abandonar
seu(s) filho(s).
Além disso, buscaram-se os seguintes objetivos específicos:
Método
Participantes: Foram participantes dessa pesquisa 21 mães que abandonaram um ou
mais filhos, as quais constituíram o Grupo 1 (G1), assim como 21 mães que não abandonaram
seu(s) filho(s), componentes do Grupo 2 (G2). O G2 foi disposto a partir da indicação dessas
mães pela as entrevistadas do G1. Utilizou-se o critério de indicação das mães do G2,
visando à proximidade e certa vinculação com as mães que abandonaram (G1), tentando
manter, desta forma, semelhanças entre elas, sejam referentes à situação social, econômica
e/ou familiar. A cada mãe abandonante entrevistada foi solicitado que a mesma apontasse
uma mãe, próxima a ela, objetivando a manutenção da pesquisa. Ambos os grupos
compuseram uma amostragem de conveniência e não uma amostra estratificada ou
sistemática, frente à impossibilidade de obtê-la, em detrimento a peculiar característica da
pesquisa e seus sujeitos. O número de mães não foi delimitado, buscou-se o maior possível.
Local: A pesquisa realizou-se em Curitiba (PR) e em uma cidade do interior do Rio Grande
do Sul - Rio Grande. Os municípios foram definidos pela a facilitação ao encontro das
participantes. As entrevistas aconteceram em locais escolhidos pela as mães. Em suma,
realizaram-se nas residências das participantes ou em seus locais de trabalho.
Instrumentos: Utilizou-se um roteiro de entrevista semi-estruturada, o qual encontra-se
no Anexo A. Esta continha 21 perguntas; as 11 primeiras foram de rápida resposta e as
seis iniciais visavam a uma identificação da participante, assim como a familiarização
desta com o instrumento. As mães que abandonaram seu(s) filho(s) (G1) responderam,
integralmente, à entrevista. Já as indicadas por essas e que, conseqüentemente, não
abandonaram (G2), responderam somente até a questão 12, incluindo a última pergunta
(21), que não se referia, necessariamente, ao abandono.
Ainda fez-se uso das Escalas de Qualidade de Interação Familiar (EQIF) que analisam
e avaliam interações familiares e práticas parentais, de autoria de Weber e cols. (2003a),
como se pode observar no Anexo B. Em vista disso, as escalas foram aplicadas a ambos os
grupos de participantes. As autoras definem a qualidade da interação familiar a partir do
exposto pelo os filhos em resposta às 72 questões da EQIF. Cada pergunta solicita duas
respostas ao entrevistado, uma vez que é direcionada, separadamente, para pai e mãe.
Essas compõem 12 dimensões - nove positivas e três negativas. As 12 dimensões são:
1. Relacionamento Afetivo: analisa o recebimento de afeto da criança por seus pais;
2. Envolvimento: preconiza a participação dos pais na infância dos filhos;
1
Sobre C o m p o rtam en to e Coflnlç< o
3. Regras: envolve a apresentação de limites pelo os genitores aos filhos. Elas regulam,
dirigem e/ou regem a interação da família;
4. Reforçamento: visa à manifestação de conseqüências positivas à prole, após a emissão
de comportamentos que os pais consideram adequados;
5. Punições Inadequadas: açambarcam as brigas sem importância, as agressões físicas
como meio de correção ou mesmo as sem motivo aparente, que os progenitores
cometem aos filhos; igualmente, compreende a conduta dos pais em descarregar na
progénie seus problemas e de puni-la, de diferentes maneiras, frente aos mesmos
comportamentos;
6. Comunicação Positiva por Iniciativa dos Pais: ressalta a expressão verbal e instrucional
dada pelo os pais de forma específica e empática;
7. Comunicação Positiva por Iniciativa dos Filhos: examina se a criança conta o que
lhe acontece, se expõe aos pais suas opiniões, preferências e problemas;
8. Comunicação Negativa: atenta o falar alto ou gritar, o xingar e fazer uso de palavrões,
as ameaças que não são cumpridas e as críticas desnecessárias dos progenitores
aos filhos;
9. Clima Conjugal Positivo: investiga a demonstração de satisfação e a exibição de
afeto entre os cônjuges;
10. Clima Conjugal Negativo: refere-se às brigas do casal e o posterior consenso, em
ocorrência e intensidade;
11. Modelo Parental: enfatiza a apresentação de valores e os exemplos perpassados
aos filhos pelo os genitores;
12. Sentimentos dos Filhos: denota os pensamentos e sentimentos dos filhos em relação
aos pais.
Resultados
Os dados dessa pesquisa esclareceram alguns mitos e ressaltaram algumas
verdades. As comparações entre os grupos permitiram traçar lídimos perfis entre as mães
que abandonaram seu(s) filho(s) e àquelas que não abandonaram sua progénie.
O instrumento EQIF - Escalas de Qualidade de Interação Familiar - permitiu
alcançar o objetivo geral, o qual previa identificar e diferenciar, além de fatores pessoais e
sociais, também os familiares, envolvidos na decisão de abandonar ou não um filho pela a
mãe. É digno de nota o adendo que concerne à relação da mãe com os seus genitores,
em outrora, considerando-a capaz de influenciar a decisão do abandono. A entrevista,
primeiro instrumento utilizado na coleta de dados, detectou os aspectos sociais e pessoais
das mães frente ao ato de abdicar do filho. Assim, foi possível assentar as diferenças
percebidas entre as mães que abandonaram seu(s) filho(s) e aquelas que não abandonaram,
caracterizando, indubitavelmente, o perfil de ambos os grupos.
Os grupos mostraram-se totalmente distintos entre si e o teste de Mann-Whitney
demonstrou as significativas diferenças entre eles através das Escalas de Qualidade de
Interação Familiar. Os escores encontrados em cada dimensão, para cada grupo de mães,
foram completamente dessemelhantes. As dimensões Relacionamento Afetivo, Reforçamento
e Envolvimento foram as mais divergentes entre G1 e G2 para ambos os progenitores. Ora,
ao comparar os escores totais de cada dimensão a maior diferença entre os grupos foi de
413 na dimensão Relacionamento Afetivo entre os pais e de 413 entre as mães; 410 na
dimensão Reforçamento entre os pais e de 419 entre as mães e 390 na dimensão Envolvimento
entre os pais e 418 entre as mães. Logo, firmou-se: as mães abandonantes não experenciaram
relações afetivas, envolvimento parental e não receberam reforços positivos, influenciando
diretamente em sua auto-estima e afeto. Segundo Grusec e Lytton (1988), a extrema falta
de afeto e/ou rejeição parental associada à punição recebida dos pais contribui para o
desenvolvimento de comportamentos agressivos e delinqüentes no filho.
À vista da retórica impingida através das entrevistas e do avocado em resposta a
EQIF, tornou-se evidente que as mães abandonantes da pesquisa tinham entre 26 e 30 anos
de idade; possuíam um companheiro, mas não estavam casadas legalmente; tiveram, em
média, quatro filhos e abandonaram dois; residiam com o companheiro e filhos; nunca
abortaram; não concluíram o ensino fundamental; trabalhavam como donas de casa e sua
família sustentava-se com uma renda mensal de um salário mínimo. Essas mães tinham
menos de 20 anos quando abandonaram o primeiro filho; viviam com um companheiro no
momento do abandono; a criança tinha menos de um mês de vida e foi abandonada no
próprio hospital em que nasceu. O pai da criança soube da possibilidade do abandono e
incentivou a mãe a cometê-lo, permitindo a ressalva de que os pais, semelhantemente,
foram pais abandonantes. As mães abandonaram alegando a falta de dinheiro e/ou emprego;
propagaram que assim faziam o melhor pela a criança e permaneceram salientando isso, ou
seja - que fizeram o melhor pelo o filho e que ele estava bem - no momento da entrevista. Se
pudessem mudar algo em suas vidas, essas mães aprestaram que trariam o filho de volta.
No que tange à infância com a família de origem, apercebeu-se que as entrevistadas
que abandonaram seu(s) filho(s) não apresentaram um bom relacionamento afetivo e
envolvimento com seus progenitores; afirmaram certa exposição de limites e regras pela
as mães, em detrimento aos pais, porém total ausência de reforçamento por ambos, bem
Referências
Ariòs, P. (1981). História social da criança e da família. Rio do Janeiro: Guanabara.
Badinter, E. (1985). Um amor conquistado: O mito do amor materno. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira.
Bardin, L. (1977). Análise de Conteúdo. Paris: Edições 70.
Beckor, M, J. (1994). A ruptura dos vínculos: quando a tragédia acontece. Em S. Kaloustian
(Org.), Família Brasileira: a Base de Tudo (pp. 60-76). Sâo Paulo: Cortez.
Bonomi, C. (2002). Identification with tho aggressor. Psychoanalytic Dialogues, 12( 1), 153-158.
Bowlby, J. (1998). Perda, Tristeza e Depressão. Sào Paulo: Martins Fontes.
Chodorow, N. (1990). Psicanálise da maternidade: Uma critica a Freud a partir da mulher. Rio
de Janeiro: Rosa dos Tempos.
Darling, N. & Steinborg, L. (1993). Parenting style as context: An integrative Model. Psychological
Bulletin, 113, 487-496.
Fonseca, C. (1995). Caminhos da adoçãoSão Paulo: Cortez.
Instrumentalismo científico e o
modelo de seleção por conseqüências
C,i/ohn,i / , u/renti1
"usar concoitos não faria a ciência física vor em suas moléculas o átomos -
ferramentas econômicas, autocriadas, mutáveis - realidades atrás do fenômeno
(...). O átomo deve permanecer uma ferramenta para roprosentar o fenômeno,
como as funções da matemática” (pp. 206-207, grifos meus).
O que Mach (1905/1976) censura, portanto, ó a passagem ilegítima, da teoria
como ferramenta conceituai à teoria como uma realidade por detrás do fenômeno. Isso
apresenta ainda outro agravante: de ferramentas que auxiliam na interpretação dos
fenômenos, os conceitos e hipóteses passam a ser o objeto principal da pesquisa,
relegando, assim, a segundo plano, o próprio fenômeno a se investigar. Em vista disso, a
relevância científica de uma teoria não se mede pela máxima newtoniana “não faço
hipóteses". Ao contrário, as hipóteses, ainda que não tenham uma função probatória são
heuristicamente úteis. E ó justamente por isso que são acolhidas no processo de produção
do conhecimento científico. O problema não é fazer hipóteses, mas atribuir a elas o status
de realidade ontológica. Mach (1893/1960) arremata:
* Outro texto Hm que é notória a função Instrumental da teoria é o artigo The evolution of behavior (1984b).
Nele, Skinner interpreta a evolução do comportamento, começando com um comportamento primitivo de uma
ameba, estendendo sua interpretação até o comportamento humano complexo, tal como encontramos hoje
* Para ser mais preciso, não ó a relação funcional que é observada, mas sim os eventos que participam
dessa relHção
C onclusão
Através de suas relações com Mach, Skinner (1931/1961a, 1953) se compromete
tanto com o descritivismo, quanto com o instrumentalismo. Enquanto descritivista, a ciência
do comportamento está preocupada com o estabelecimento de relações funcionais entre
eventos observáveis. Já a influência instrumentalista abre a possibilidade para que a ciência
do comportamento interprete comportamentos complexos, que não podem ser explicados
exclusivamente com base em variáveis passíveis de manipulação e controle. Dessa forma,
temos, com o instrumentalismo, uma ampliação do potencial explicativo da teoria
skinneriana, que passa a envolver comportamentos filogenéticos e práticas culturais.
Além disso, através da influência instrumentalista, a teoria comportamental de
Skinner ( 1971,1974/1976) assume relações com o pragmatismo filosófico, substituindo o
critério de verdade pelo de efetividade e incluindo uma reflexão ética da prática científica.
Ao anunciar a teoria do comportamento como descrição e instrumento conceituai,
o behaviorismo radical afasta-se do realismo científico, e, por conseguinte, do debate
verdade-falsidade das declarações teóricas; sem com isso compactuar com o relativismo.
Referências
Abib, J.A.D. (2003). Behaviorismo Radical e Interpretação. Em M.Z.S. Brandão, F.C. Conte, F.S.
Brandão, Y.H. Ingberman, C.B. Moura. V.M. Silva & S.M. Oliane (Orgs.), Sobro
comportamento o cognição: a história e os avanços, a soieçáo por conseqüências em
ação (Vol 11, pp. 57-65). Santo André: ESETec.
Baum, M.L.D, (1999). Compreondor o bohaviohsmo: ciência, comportamento o cultura. (M.T.
Araújo, M.A. Matos, G.Y. Tomanari & E.Z. Tourinho, Trads) Porto Alegre: Artmed. (Trabalho
original publicado em 1994)
Chiesa, M. (1994). Radical behaviorism: the philosophy and the science. Boston: Authors
Cooperative.
Mach, E. (1960). The science of mechanics: a critical and historical account of its development.
(T.J. McCormack, Trad.) Illinois: Open Court. (Trabalho original publicado orn 1893)
Mach, E. (1943). The economical nature of physical inquiry. (T.J. McCormack, Trad ). Em E. Mach
(Org.), Popular Scientific Lectures (pp. 186-213) Illinois: Opon Court. (Trabalho original
publicado em 1894)
Mach, E. (1976). Knowledge and error: sketches on the psychology o f enquiry. (T.J. MacCormack
& P. Foulkes, Trads.) Boston: Reidel. (Trabalho original publicado em 1905)
Micheletto, N. (1997). Bases filosóficas do behaviorismo radical. Em R.A. Banaco (Org.), Sobre
comportamento e cognição: aspoctos teóricos, metodológicos e de formação em análise
do comportamento e terapia cognitivista (Vol 1, pp 29-44). São Paulo: ESETec.
CítiudM H.irbosd
não podem ser mudadas e que é o comportamento presente que deve ser mudado. Os
modificadores de comportamentos argumentam que ó o contexto atual que torna a pessoa
infeliz e que é o mesmo que deve ser modificado.
Quando o terapeuta admite que junto com o comportamento que considera negativo,
existem também comportamentos que são apropriados para aquele contexto, tem
condições de vê-lo como ser completo, que, portanto não vem cindido em partes.
Os adjetivos normal ou anormal podem ser utilizados para o comportamento que
a pessoa mantém e não para ela como um todo. Sant'Anna e Gongora (1987) consideram
que não se pode afirmar que uma pessoa seja globalmente ajustada ou desajustada, em
termos psicológicos. Concluem, ainda, que esses adjetivos sejam pertinentes apenas ao
analisar-se comportamentos específicos sob o controle de contingências. Por isso, o
terapeuta sempre interage com seus clientes como pessoas normais.
A principal discussão levantada por Ullmann e Krasner (1969) ó que os
comportamentos tradicionalmente denominados anormais não são diferentes, tanto
qualitativa como quantitativamente, em seu desenvolvimento e manutenção de outros
comportamentos. Para Mikulas (1977) o comportamento também poderá ser avaliado como
anormal quando burlar as leis e as regras propostas pelo contexto em que o indivíduo está
inserido, quando não for comum para o meio ou ainda se não for proveitoso para ambos.
Alguns comportamentos que são inadequados para uma cultura podem não ser para outra
e muitos que já foram considerados anormais, não mais o são, o contrário também pode
ocorrer. Por exemplo, o homossexualismo que nos dias atuais é considerado um tabu, era
mais relevante que a heterossexualidade na Grécia antiga.
Essa idéia central decorre do behaviorismo proposto por Skinner (1938, 1948,
1953, 1959, 1974) como uma filosofia orientadora de uma ciência do comportamento,
segundo a qual é o comportamento em si que deve ser analisado, como objeto de estudo
dessa abordagem psicológica e não um hipotético aparelho psíquico, do qual o
comportamento é apenas uma manifestação ou sintoma. Trata-se, pois, de uma postura
(approach) frente ao comportamento.
Buck (1990) declara que idealmente, todo participante em psicoterapia deve ser
aceito como um indivíduo único sem referência a diagnóstico. A maior parte dos tipos de
psicoterapia é limitada por presunções sobre a anormalidade que focalizam a patologia
ignorando o potencial para o desenvolvimento que existe em todos. Uma psicoterapia para
ser efetiva necessita respeitar a complexidade humana. Cada pessoa deve ser percebida
como incorporando em uma única balança suas fraquezas e suas virtudes.
Sant’Anna (1995) sugere que o processo de psicoterapia implica na entrada de um
psicoterapeuta no contexto atual do cliente. As funções do psicoterapeuta nesse contexto
são, para o Behaviorismo Radical, funções discriminativas, eliciadoras e reforçadoras. Essas
funções são direcionadas à modificação do repertório comportamental do cliente, a partir de
seu repertório atual. Trata-se, pois de uma construção e não de uma destruição de algo. E
se essa construção se opera no repertório atual, sua base só pode ser, por assim dizer, a
parte boa deste repertório, a parte considerada normal. Isto é, as funções discriminativas,
eliciadoras e reforçadoras do psicoterapeuta, são direcionadas à normalidade.’"’.
Para complementar as discussões levantadas serão apresentados a seguir dois
casos clínicos, onde os procedimentos psicoterapêuticos foram fundamentados no modelo
de Sant'Anna (1994a, 1994b, 1995). A proposta do autor consiste em que o psicoterapeuta
em sua prática clínica funcione como um estímulo discriminativo para a normalidade do
S o b re C o m p o r liim c n lo e C ofliilçilo
cliente, ou seja, seu enfoque será dirigido prioritariamente em relação aos conteúdos
positivos, desejáveis ou socialmente relevantes e que representem sua adequação social.
Assim, os comportamentos inadequados ficam em segundo plano, enquanto o
terapeuta procura encontrar no repertório atual do indivíduo algo que lhe seja realmente
positivo, por isso, é muito importante a primeira parte desse processo, quando o terapeuta
busca conhecer com detalhes a história de vida do cliente, podendo assim saber o que lhe
ó estimulante. Pode ocorrer, nessa fase, que o cliente fixe uma atenção extrema em
relação à queixa, dificultando para o terapeuta visualizar sua normalidade.
Relato de caso 01
Caracterização do cliente: Márcia, doze anos, estudante de sexta série, mora com os pais.
Motivo da Consulta: O pai da menor manteve contato telefônico com a terapeuta,
dizendo, sem entrarem detalhes, ser necessário marcar uma consulta com urgência, pois
o estado da mesma o estava preocupando. Ela chegou ao consultório acompanhada de sua
mãe, para submeter-se à psicoterapia. A terapeuta questionou-as como seria aquela primeira
sessão, se ambas entrariam ou se prefeririam ter uma conversa individualmente. A mãe com
o consentimento da filha pediu para conversar sozinha com a terapeuta, o que foi acatado.
Nesse primeiro diálogo, a mãe falou de sua preocupação em relação à filha, já que
a mesma não ficava mais sozinha e ligava constantemente para seu trabalho, pedindo para
que voltasse para casa e lhe fizesse companhia, chorava muito e queixava-se de dores em
todo o corpo, principalmente no peito. Passou a não sair de casa sem seu remédio para
bronquite (aerossol de efeito imediato, muito usado por pessoas que têm crises de bronquite)
e também não dormia sem que esse remédio e mais outros três (um para rinite alérgica,
outro para descongestionar o nariz e ainda um calmante natural, recomendado pelo médico)
estivessem embaixo de seu travesseiro. Desenvolveu o hábito de dormir sentada, recostada
em uma almofada que de forma alguma poderia ser retirada de seu quarto.
Durante a noite, era comum acordar apavorada, chorando e ir para o quarto da
mãe, onde se acalmava. Dizia ter pesadelos. A menor divide o quarto com sua prima que
mora na mesma casa, porém diz não se sentir segura na presença da mesma, diferente
da outra prima que a visita regularmente e a faz sentir-se bem.
Após a entrevista com a mãe, a terapeuta conversou com a menor, que confirmou
os dados passados pela mãe e ainda acrescentou que desenvolveu hábitos, como o de
bater a mão em uma parede específica da casa quando saia, encher a boca de água e
cuspir antes de terminar o banho, acreditava que o esquecimento de qualquer um desses
hábitos poderiam lhe trazer "azar" e seu dia não seria bom.
Claudia Harbosa
alguém da sua casa queixava-se de dor, ficava mais tempo em outras casa (amigas, vizinhos
etc.) do que na sua, evitava ficar perto do pai, pois tinha medo que ele passasse mal novamente.
Objetivos Prioritários para Márcia: "Quero sair deste problema", "Não quero mais pensar
em morte". Durante a primeira sessão, Márcia mostrou-se muito falante e desinibida,
parecia sentir-se bem enquanto, partilhava, com detalhes, seu problema com a terapeuta,
porém, mostrava-se ansiosa em resolvé-lo, era como se ali estivessem todas as suas
esperanças em melhorar.
História Anterior ao Problema: Mantinha um ótimo relacionamento com seu avô que ó
vivo e com a avó que faleceu, freqüentava sua casa assiduamente, gostava da comida que
sua avó fazia e da companhia de ambos, costumava dormir em sua casa no final de
semana. Quando tinha algum problema em sua casa, com relação aos pais ou aos irmãos
(os dois mais velhos), corria para a casa da avó.
Em relação ao seu pai, era muito afetuosa, estava sempre em seu colo quando
ele estava em casa, dizia sentir-se protegida quando o pai estava em casa, apesar do
mesmo ser bastante rígido na educação dos filhos.
O pai foi, por duas vezes, prefeito da cidade onde moram. Nessa época, pouco
ficava em casa, raramente fazia as refeições com a família e quando chegava em casa
normalmente os filhos já estavam dormindo. Tinham um bom padrão de vida, que não se
manteve quando ele saiu da vida política e mudou de profissão e muitos gastos foram
cortados, como por exemplo: a menor fazia aulas de piano, computação e dança, mas
teve que optar por somente uma delas, com os irmãos aconteceu a mesma coisa.
Outros Dados Coletados: Tem um problema nos joelhos desde que nasceu, não é
perceptível, mas a impede de praticar danças que é a sua preferência. É importante ressaltar
que para a cliente o problema nos joelhos é considerado “defeito".
O avô materno após a morte de sua esposa passou a beber muito, tem problema
de fígado (cirrose) e corre risco de vida o que preocupa demasiadamente a cliente. O
relacionamento com o irmão mais velho é bom, porém, briga muito com o mais novo.
Nos estudos não passou por nenhuma reprovação, o quadro apresentado por ela
não interferiu em sua vida escolar, é muito elogiada pelos professores, pois é caprichosa,
interessada e participativa, costuma preparar peças teatrais para dias comemorativos,
cartazes, ensaiar danças, etc (dados fornecidos pela mãe). Em relação aos colegas também
não apresenta problemas, relaciona-se bem e tem muitas amigas que inclusive freqüentam
a sua casa e vice-versa.
Interesses e Motivações: Gosta muito de dançar e ler. Diverte-se muito quando está com
as amigas e brincam de desfile de modas ou de dançar.
Imagem de Si Mesma: Afirma: “Sou o problema. A doente lá de casa sou eu".
Procedimentos Terapêuticos: O processo terapêutico iniciou-se com a atenção do
terapeuta voltada para as queixas da cliente e de sua mãe. Ela queixava-se de dores no
corpo principalmente no peito, porém, exames realizados anteriormente descartavam a
possibilidade de qualquer problema.
Durante as cinco primeiras sessões, a terapeuta tinha a atenção voltada para os
elementos da queixa trazida pela cliente, com o objetivo de corresponder às suas
expectativas e também para mostrar que conhecia seus problemas com detalhes. Foi
solicitado à mãe da cliente que a levasse até o módico que atendeu seu pai para que o
mesmo lhe desse explicações sobre a crise de pâncreas sofrida por ele, com o objetivo de
Cliente
Na primeira fase do processo terapêutico, a menor ficou à vontade para falar tudo
o que lhe estivesse incomodando. A terapeuta fez com ela um acordo de sigilo, em que
tudo o que ali era comentado ficaria somente entre as duas, mas que futuramente a
profissional precisaria conversar com seus pais no sentido de orientá-los e tranqüilizá-los.
A cliente, desde a primeira sessão, demonstrou estar muito preocupada com sua
situação, apesar da idade, apresentava-se muito envolvida com seu problema, deixando
de realizar muitas coisas que fazia anteriormente. Sua expressão verbal era muito clara,
porém era toda voltada para o que estava sentindo, seu tom de voz era choroso, mantinha-
se cabisbaixa, falava muito, parecia tensa e preocupada.
Como já havia passado por avaliações médicas e nada fora detectado, a cliente
colocou todas as suas expectativas na psicoterapia, apesar de no início ter questionado:
“Como você vai me ajudar sem me dar um remédio?". Repetia fatos ocorridos que considerava
mais relevantes como "causa" de seu problema, com o objetivo de despertar a atenção do
terapeuta para eles.
Terapeuta
A terapeuta sentíu-se, em muitos momentos, pressionada pela cliente, no sentido
de ter que ajudá-la na solução de seu problema. Todavia, manteve-se atenta à fala da
cliente, procurando junto com ela fazer um levantamento de toda a sua história de vida,
dando-lhe a segurança de conhecer seu passado.
Cliente
Nas primeiras sessões da segunda fase, travou-se uma verdadeira batalha com o
objetivo de desviar a atenção da cliente do problema trazido por ela para a sessão. Ela
relutava em falar de passagens tranqüilas, era como se isso não pudesse ajudá*la. Após
várias sessões isso passou a acontecer. Porém, em algumas vezes, quando a terapeuta
sinalizava o final da sessão, a cliente começava a falar sobre seu problema, já que não
tinha entrado nele durante a terapia.
Nas sessões em que foram enfocados seus aspectos positivos, a cliente sorria,
contava situações engraçadas, sua postura era ereta, olhava para os olhos da terapeuta.
Passou a confidenciar seu interesse por meninos do colégio e sua curiosidade em relação
ao namoro, enfim, a atenção sob o problema foi diminuída.
É importante salientar que a cliente recebeu orientações (Tabela 01), durante o
processo terapêutico, não para "melhorar seu problema", mas para divertir-se mais.
Terapeuta
A terapeuta precisou deixar de lado todo o seu repertório em relação à busca do
problema, no início precisou policiar-se para não enfatizar a queixa do cliente. Essa forma
de atuação, apesar da pressão da cliente, permitiu que a terapeuta ficasse mais à vontade
na sessão e também que fosse mais humana, envolvendo-se na história com o intuito
único de ajudar a pessoa que estava à sua frente perceber seus pontos positivos.
Relato de caso 02
Caracterização do cliente: Débora, 41 anos, casada, do lar.
Cliente
Nas primeiras sessões, a cliente era quieta e chegava a ficar ruborizada quando
lhe faltava assunto. Nessa situação solicitava que a terapeuta lhe perguntasse o que
gostaria de saber sobre sua vida.
Parecia escolher as palavras para melhor explicar seu caso. Dizia ser algo da sua
mente, falava que não tinha lógica acreditar que as pessoas comentavam sobre sua vida
ou a observavam, mas não conseguia deixar de pensar nisso.
No início da terapia, a cliente não acreditava na sua recuperação, baseava-se no
fato de procurar tratamentos há dezoito anos e nesse tempo não ter encontrado soíução
para seu problema, porém dizia estar disposta a tentar. Nessa primeira etapa seu assunto
principal era seu relacionamento com o sogro.
Terapeuta
A terapeuta novamente usou de seu repertório para a análise de problemas e levantou
todos os dados sobre o quadro que a cliente estava apresentando. A profissional sentiu-se
pressionada a realizar seu trabalho devido ao descrédito da cliente em relação à psicoterapia.
Procurou o módico que atendia a cliente com o intuito de entender melhor o que ela
apresentava e durante a conversa, o mesmo deixou claro que não acreditava em sua melhora,
Cliente
Nesse período a cliente já havia ido ao culto algumas vezes e estava entusiasmada
com sua façanha, porém continuava trazendo reclamações sobre seu sogro. Era comum
voltar-se para a queixa quando percebia o distanciamento do assunto.
A partir da décima segunda sessão, a cliente estava envolvida no processo de
reaproximação com as pessoas e cada conquista era comemorada na sessão (Tabela
02). Passou a mostrar-se mais sociável no consultório psicológico conversando com a
secretária e abraçando e beijando a terapeuta, parecia estar mais tranqüila.
Da vigésima sessão em diante, esporadicamente, a cliente fazia alguma
comparação entre passado e presente, porém ela mesma dizia: "Temos coisas mais
importantes para conversar" e relatava a semana e seus bons acontecimentos.
Terapeuta
Através do bom relacionamento que a terapeuta desenvolveu com a cliente, foi
possível deixar para traz o rótulo que lhe haviam colocado. A partir daí, a terapeuta percebendo
a reação e entusiasmo da cliente passou a modelar seu comportamento, enfatizando a
cada sessão o potencial que ela demonstrava.
A empolgação excessiva da cliente em relação á sua melhora, que surgiu na
segunda fase do processo, levando-a a querer fazer tudo o que havia deixado de fazer, foi
contornada com uma focalização maior de aspectos positivos de sua rotina diária.
Referências Bibliográficas
Baum, Willian M., (1999). Compreender o Behaviorismo: Ciência, comportamento e cultura.
Porto Alegre: Ed. Artes Médicas Sul Ltda.
Buck, Lucien A., (1990). Abnomiality Normality and Health - vol.27 p. 187*194, The British Library
Documont Supply Centre, Boston SPA, West Yorkchire, United Kingdom, LS23 7BQ.
Claudia Harbosa
Capítulo 16
Abordagem comportamental à
queixa de dor
C'/tiui/u l úa.i Mcncijütti ’
Clows Amorim*
1Unlcenp Correspondência para Cláudia L Menegattl, R Miguel Tschannerl, 222, Curitiba (PR), 80820-330. E-
mall: cmenegattl@unlcenp.br
aPUC-PR
3Unlvall
Urna das coisas ás quais os soros humanos prostam atonção sáo as emoções.
Sondo a dor uma emoção complexa (...) uma abordagem psicológica ao estudo
da dor devo consistir em grande parte da obsorvação dos meios pelos quais as
possoas prestam atonção ou se tornam alertas à dor, om divorsas situações (...)
(então) relacionar a expressão da dor do sujeito a uma disfunção do seu corpo
(...) tal osforço deve ser abandonado, ou pelo menos suspenso, se quisermos
ponetrar mais profundamente no significado social das sensações dolorosas e
das manifestações do dor. (Szasz, 1976, p. 13).
Do ponto de vista comportamental, em que se compreende o homem como um
organismo que se comporta, a dor, como qualquer outra resposta, só pode ser compreendida
em relação ás contingências passadas e atuais em que essa pessoa especificamente está
inserida, nas dimensões física, emocional, social e cultural. Uma abordagem atual ao problema
da dor prevê essa concepção, embora, em termos práticos, a visão do paciente como
organismo total raramente esteja aplicada nas formas assistenciais convencionais de saúde.
Entre todos os tipos de sensações, a dor ó a única que envolve nâo só uma
capacidado de identificação do inicio, duração, localização, intensidade,
características físicas do estimulo inicial, como também inclui funções
motivacionais, afetivas, cognitivas dirigidas a um comportamento pessoal de
desprazer e de aversão, dando, ao mesmo tempo, uma interpretação do estimulo
em tormos do exporiôncias prosentes e passadas. (Knoplich, 1986, p. 112).
Assim, o conceito de dor ó individual e construído desde a mais tenra infância por
um caminho próprio de cada pessoa, do meio sócio-cultural a que pertence e das situações
que precisou enfrentar em sua vida (Feldman, 2004). Portanto, a percepção da dor no
adulto é essencialmente função das experiências que teve durante o seu desenvolvimento,
lembrando que a dor, desde a infância, também ó uma forma de obter atenção e amor.
As experiências de dor podem ser classificadas quanto à intensidade e duração
do episódio doloroso. As dores agudas são aquelas de curta duração (minutos, horas,
Referências
Eslor, J.L., Barlow, D., Woolard, R.H., Nicholson, R.A., Nash, J.M., & Erogul, M H. (2003) A brief
cognitive-behavioral intervention for patients with noncardiac chest pain. Behavior Therapy
34. 129-148.
Feldman, J.B. (2004) The neurobiology of pain, affoct and hypnosis. American Journal of Clinical
Hypnosis 46(3). 187-200.
Forlonza, O. V. (1994) Aspoctos psiquiátricos da dor. Jomai Brasileiro de Psiquiatria 43(3}. 141-
148.
Fortes, S. (2002) O paciente com dor. In Botega, N.J.(org.) Prática psiquiátrica no hospital geral:
interconsulta e emergência (pp.339-351). Porto Alegre: ArtMod.
Guggenhoim, F. & Smith, G.R. (1999) Transtornos Somatoformes. In Kaplan, H I. & Sadock, B.J.
Tratado de Psiquiatria v.2 (pp. 1361-1381). Porto Alogro: ArtMed.
Guimarães, S. S. (1999) Psicologia da Saúde e doenças crônicas. In Kerbauy, R.R. (org.)
Comportamento e saúde: explorando alternativas (pp. 22-45). Santo André, SP: ARBytos.
Johnson, D. (1988) Corpo. Rio de Janeiro : Nova Fronteira.
Knoplich, J. (1986) Enfermidades da coiuna vertebral. São Paulo : Panamed.
Krueger, R.F., Tackott, J.L. & Markon, K.E. (2004) Structural models of comorbidity among common
montal disorders: connections to chronic pain. Advanced Psychosomatic Medicine 25.
63-77.
Lacknor, J.M., Quigley, B.M. & Blanchard, E.B. (2004) depression and abdominal pain in IBS
patients:the mediating role of catastrophizing. Psychosomatic Medicine 66. 435-441.
Lobato, O. (1992) O problema da dor. In Mello Filho, J. Psicossomática hoje. Porto Alogre: Artos
Médicas.
Romano, J.M., Jenson, M.P, Turner, J.A., Good, A.B. & Hops.H. (2000) Chronic pain patiente-
partnor interactions: further support for a behavioral model of chronic pain. Behavior
Therapy 31. 415-440.
Szasz, T. S. (1976) Dor e prazer: urn estudo das sonsações corpó-reas. Rio do Janeiro: Zahar.
Vallejo M.A., Larroy, C. (1991) La intervención comportamontal em las cefaloas. In Buceta,
J.M Psicologia Clinica y Salud(pp. 183-208). Madrid : Universidad Nacional de Educación
a Distancia.
Vandonberghe, I. M. A., Cruz, A. C. F., Forro, C. L. B. (2003) Terapia do grupo para pacientes com dor
crônica orofacial. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva 5(11 31 - 40.
A Critica de Merleau-Ponty à
hipótese localizacionista de funções
mentais face ao desenvolvimento das
Neurociências
hlviih h Soares1
Introdução
No contexto cientificista do início do século XX buscava-se, mediante estudos do
sistema nervoso, a relação entre Fisiologia e comportamento. A partir desta busca ainda
dava-se ênfase á posição defendida, segundo Finger (1994), desde Joseph Gall (1757-
1828) e Joham Kaspar Spurzheim (1776-1832), segundo a qual as funções cerebrais estão
localizadas em determinadas regiões ou pontos específicos do encéfalo e que, portanto,
as reações aos estímulos seguiam vias preestabelecidas no organismo. Dessa maneira,
afirmava-se que o comportamento é determinado por regras estabelecidas de antemão.
Assim, segundo esta concepção, para entender o comportamento, bastava descobrir os
sítios de cada função e as vias pelas quais os estímulos e as respostas trafegariam.
Neste contexto, em 1938, Maurice Merleau-Ponty publicou uma obra de título
sugestivo: A Estrutura do Comportamento. Já no início da obra o autor esclarece que a
Estrutura do Comportamento se propõe a discutir a questão da relação entre consciência
e natureza, esta última entendida como uma multiplicidade de acontecimentos exteriores
uns aos outros e ligados por relações de causalidade.
A princípio, poderia se pensar em mais uma obra que procurava explicar o
comportamento, segundo os pressupostos da Psicofisiologia clássica ou, ao contrário,
uma obra de resgate do introspeccionismo, característico da chamada Psicologia Filosófica.
Nem uma coisa e nem outra. Merleau-Ponty, como um adversário do mecanicismo e do
dualismo e, defendendo a tese de que Filosofia e Psicologia não são necessariamente
1Departamento de Psicologia da Educação, FFC - UNESP- Marllia SP
2José Lino Oliveira Bueno, Departamento de Psicologia e Educação, FFCL - USP - Ribeirão Preto SP
2. Crítica ao localizacionismo
Considerando que a natureza do excitante e o lugar da excitação nâo determinam
por si só a reação, Merleau-Ponty (1938/1990) questiona se existe um trajeto
anatomicamente definido a ser percorrido entre a excitação e a reação? De acordo com
Merleau-Ponty, para que a resposta a essa questão seja positiva, temos que considerar
que as respostas são sempre desencadeadas a partir de estímulos externos e que, um
mesmo estímulo provoca sempre uma mesma resposta. Ora, isso não corresponde à
realidade, pois, segundo ele, não há jamais reflexo extereoceptivo puro, isto ó, que tenha
necessidade, para existir, apenas da intervenção de estímulos externos. Além disto, ó
sabido que um mesmo estímulo pode provocar diferentes respostas em um mesmo
organismo, como também pode não provocar resposta alguma.
Disso infere o autor que a resposta reflexa depende tanto de condições externas
(extereoceptivas) como de condições internas (introceptivas), reforçando a tese de que
existem condições antecedentes ao estímulo, as quais são determinadas pelo estado do
organismo como um todo. Portanto, não se pode falar em trajeto definido, pelo menos de
antemão, considerando que o aparelho reflexo não ó, nem anatomicamente e nem
funcionalmente isolado, fato este que leva a acreditar que a permanência das condições
interiores não pode ser tida como dada por uma estrutura preestabelecida.
Mas, considerando que não existem circuitos preestabelecidos, como podemos
conceber as funções cerebrais? De acordo com Merleau-Ponty (1938/1990), o cérebro
teria a função de 'reorganizar' o comportamento, elevá-lo a um nível superior do adaptação
e de vida, ao contrário da teoria clássica que considerava que o cérebro teria uma função,
3. As neurociências
Em relação ao desenvolvimento das neurociências, ocorreram importantes avanços,
entre os quais destacamos aquelas relacionadas ao estudo da plasticidade e memória.
Por exemplo, estudos como os de Hebb (1949), Held (1970) e Rosenzweig (1996) em
relação à plasticidade apontam para a concepção de que não se pode analisar o
desenvolvimento do organismo e seu comportamento independente de sua relação com o
ambiente e da estrutura do próprio organismo. Estudos sobre relação entre memória e
hipocampo, dos quais destacamos os de Milner (1959; 1985; 1996); Milner, Corkin e Teuber
(1968) e Scoville e Milner (1957) sugerem que os diferentes tipos de memória não são
localizados ou armazenados em um determinado local específico, mas dependem de
diversas estruturas quanto ao processamento e à consolidação. Também a concepção de
centros defendida por autores, como por exemplo, Testut (1900), Testut e Jacob (1905),
Pizon (1925), Hedón (1935) tem sido criticada do ponto de vista das neurociências, por
autores como Bindra (1976).
Interessante que ainda hoje encontramos posições localizacionistas estritas que
se aproximam do modelo frenológico, como por exemplo as de Mazoyer, B.; Tzourio-
Mazoyer, N.; Houde (2002). Mas, contra a concepção estrita de localizacionismo, autores,
como Bindra (1976), Fodor (1983), Xavier (1993) e Campos, Santos e Xavier (1997), defendem
que o sistema nervoso funciona de forma modular. Também Damásio (1996; 2000) critica
a concepção localizacionista estrita ao conceber que a consciência é uma função biológica
que emerge da integração da atividade neural entre diferentes regiões do cérebro, reforçando
a idéia, já apontada por Merleau-Ponty, de que a função não é independente do substrato.
Ainda em relação à teoria modular, Ramachandran (2002) concebe que o modularismo o e
holismo não são mutuamente excludentes, pois o cérebro é uma estrutura dinâmica que
emprega ambos os modos numa influência recíproca e complexa. Aliados ao estudo de
fenômenos como o do ponto cego e ao estudo de casos patológicos, como por exemplo o
fenômeno do membro fantasma e da visão cega, diversos autores, como por exemplo
Conclusões
Consideramos que, se por um lado as críticas de Merleau-Ponty se mostram
coerentes em relação ao contexto de sua época, por outro elas parecem nâo influenciar
diretamente, enquanto crítica filosófica, o desenvolvimento posterior das neurociências,
as quais tiveram seu desenvolvimento próprio. Se sua proposta de uma analítica
transcendental esbarra em conceitos não muito claros; sua crítica contra as concepções
objetivantes era pertinente e sua proposta de uma análise que fosse além da análise real
era coerente com o contexto da época, o que não justifica a retomada de uma analítica
transcendental (Soares, 2003; Soares, Bueno, 2004). Apesar disso, será ainda atual a
crítica de Merleau-Ponty? Será sua obra ainda objeto de interesse por parte de Filósofos,
Psicólogos, Cientistas Cognitivos e Neurocientistas em geral? A nossa resposta é sim.
Acreditamos ser a obra Estrutura do Comportamento ainda atual. Atual não no sentido de
aplicar todas as criticas elaboradas por Merleau-Ponty, de forma indiscriminada, ao
desenvolvimento atual da Psicofisiologia ou das Neurociências em geral, às quais,
acreditamos terem superado grande parte das limitações apontadas por Merleau-Ponty;
ou atual no sentido de adotar como solução uma ‘analítica transcendental’, a qual
acreditamos também, como já salientamos, apresentar suas dificuldades. Mas atual no
sentido de proporcionar uma reflexão filosófica-epistemológica rigorosa, unindo o
conhecimento científico e à reflexão filosófica e demonstrando que não se faz Epistemologia,
que não se faz Filosofia das Ciências sem um conhecimento profundo da mesma, assim
como não se faz ciência rigorosa sem uma análise crítica dos seus fundamentos
epistemológicos e metodológicos; sem uma crítica radical às suas teorias e modelos.
Referências
Bernard, C. (1865/1984).Jntroduction a 1'étude de la médicine experimentale. Paris: Flammarion.
Bindra, D. (1976). A thoory of inteligent bohavior. New York: Wiley and Sons, 1976.
Bueno, J. L.O. (1997a) Corpo, Consciôncia e Psicologia. Psicologia: Reflexão e Crítica (pp.147-
154), v.10, n.1.
Muitas pesquisas tôm sido realizadas na busca de uma melhor compreensão dos
fatores que auxiliam na construção de um relacionamento amoroso saudável e feliz. Isto
se deve, em grande parte, a uma robusta variedade de publicações apontando a considerável
quantidade de divórcios e suas conseqüências para a saúde. Pergunta-se quais os
determinantes da satisfação conjugal, quais seus favorecedores e seus opositores. Talvez
esse questionamento seja derivado da necessidade do ser humano de compreender o
mundo ao seu redor. Contudo, o que se torna inegável é a influência da satisfação conjugal
na qualidade de vida e na saúde das pessoas.
Especialmente na relação de casamento, essa influência mostra-se em evidência.
Maldonado (1986) menciona que o matrimônio afeta características da personalidade do
indivíduo, sua identidade e suas crenças sobre o mundo e que, por isso, o processo de
separação conjugal mostra-se tão doloroso uma vez que o indivíduo que se separa deve
aprender a lidar com novos papéis, novas situações diferentes das quais estava acostumado
a enfrentar ao lado de seu cônjuge.
Muitos estudos revelam que uma relação conjugal problemática age de forma
prejudicial na saúde psíquica e física do indivíduo. Doenças psicossomáticas, abuso de
substâncias psicoativas, depressão, ansiedade, pânico e, em última instância, suicídio e
homicídio são algumas das conseqüências de um casamento insatisfatório (Epstein &
Schlesinger, 2004; Granvold, 2004; Hamberger & Holtzworth-Munroe, 2004). Por outro
lado, Gottman e Silver (2000) citam estudos sugerindo que um casamento satisfeito fortalece
* Instituto de Psicologla-UERJ
1. Satisfação conjugal
Os determinantes causais da satisfação conjugal permanecem obscuros pela própria
natureza correlacionai dos estudos sobre o tema. Na literatura, parece haver uma predileção
pelas pesquisas que visem às causas da satisfação conjugal em detrimento da compreensão
de seu processo de desenvolvimento (Karney & Bradbury, 1995; Parker, 2002). Além disso,
a própria definição do termo “satisfação conjugal" tem aparecido na literatura de forma confusa,
dificultando comparações entre os estudos. Dela Coleta (1989) descreve este conceito
como a satisfação do indivíduo com o relacionamento no geral e em suas partes específicas.
Estudos mais recentes sobre a satisfação conjugal entendem-na como uma característica
a ser considerada longitudinalmente e não apenas de forma pontual no relacionamento
amoroso, além da compreensão de que um casamento satisfeito não significa somente a
ausência de insatisfação (Bradbury, Fincham & Beach, 2000). Do fato, na conceitualização
de Dela Coleta verifica-se a apreciação de ambas as distinções, na medida em que a autora
entende a satisfação como algo que é percebido pelo cônjuge de forma ampla, apesar dos
conflitos. Além disso, tal amplitude contém em si a temporalidade, uma vez que uma relação
só se constrói através dos dias na vida do indivíduo.
Parker (2002) pesquisou as características que estavam presentes com maior
freqüência nos casamentos satisfeitos de longa data. O autor encontrou pontos como: (1)
considerar o cônjuge o melhor amigo; (2) gostar do cônjuge como pessoa; (3) considerar
o casamento como um comprometimento de longa data; (4) entender o casamento como
uma instituição sagrada; (5) concordar nas aspirações e objetivos; (6) achar o cônjuge
alguém interessante; (7) querer que o relacionamento seja bem sucedido; (8) desenvolver
capacidade de conter conflitos; (9) consultar o outro na tomada de decisões; (10) ter uma
boa comunicação; (11) cultivar valores como confiança, respeito, compreensão e equidade;
(12) desenvolver a intimidade sexual e psicológica.
Muitos dos pontos acima citados exigem do indivíduo capacidades na interação
conjugal que necessitam ser aprendidas e mantidas. Essas capacidades correspondem a
habilidades sociais que o indivíduo manifesta em prol da manutenção do relacionamento.
Na relação amorosa, as habilidades de resolução de conflitos e de comunicação são as
mais apontadas dentro da literatura (Dattilio & Rangó, 1995). A comunicação assume um
papel tão relevante no relacionamento amoroso que uma má comunicação antes do
casamento ó preditora de divórcio (Sanders, Halford & Behrens, 1999). Leichty, Willihnganz
e Hart (2002) encontraram que indivíduos com níveis elevados de habilidades sociais
comunicavam-se mais adequadamente e relatavam maiores taxas de satisfação conjugal.
Beck (1995) e Dattilio e Padesky (1995) são autores que destacam o desenvolvimento de
habilidades sociais como parte da terapia de casais.
2. Habilidades sociais
Del Prette e Del Prette (2001) definem habilidades sociais como “a existência de
diferentes classes de comportamentos sociais no repertório do indivíduo para lidar de
maneira adequada com as demandas das situações interpessoais" (p. 31). Para Carmona
e Melo (2000), as habilidades sociais compreendem elementos cognitivos e são definidas
5. Conclusões
Esse capítulo pretendeu, a partir de uma revisão da literatura, apontar a relação
existente entre habilidades sociais e atribuição como fatores de influência na satisfação
conjugal. A identificação dessa relação pode ser útil para o tratamento de casais em crise
e para pesquisas sobre o tema. Estudos controlados são necessários para testar se
indivíduos socialmente habilidosos fazem atribuições mais adaptativas na relação conjugal
e se estes são mais satisfeitos no casamento.
Referências
Barret-Lennard, G.T. (1993). The phases and focus of empathy. The British Psychological
Society, 3-13.
Baucom, D. H., Epstein, N. (1989) The role of cognitions in marital relationships: definitional,
methodological, and conceptual issues. Journal of Consulting and Clinical Psychology,
57, 1, 31-38.
Baucom, D H., Epstein, N., Daiuto, A. D, Carels, R. A., Ranking, L. A., Brunott, C. K. (1996).
Cognitions in marriage: the relationship between standards and attributions. Journal of
Family Psychology, 10, 2, 209-222.
Beck, A. T. (1995). Para além do amor. Rio de Janeiro: Record: Rosa dos Tempos.
Bedell, J.R., & Lonox, S.S. (1997). Handbook for communication and problem-solving skills
training: a cognitive-behavioral approach. New York: Willoy.
Bradbury, T. N, & Fincham, F. D. (1990). Attribution in marriage: rewiew and critique. Psychological
Bulletin, 107, 1, 3-33.
Bradbury, T. N., & Fincham, F. D. (1992a). Assessing attributions in marriage; the relationship
attribution measure. Journal of Personality and Social Psychology, 62, 3, 457-468.
Bradbury, T. N., & Fincham, F. D.. (1992b). Attributions and behavior in marital interaction. Journal
o f Personality and Social Psychology, 63, 4, 613-628.
Bradbury,T. N., Fincham, F. D., & Beach, S. R. H. (2000). Research on nature and determinants of
marital satisfaction: a decade in reviow. Journal of Marriage and the Family, 62, 964 980.
Burleson, B.R. (1985). The production of comforting messages: social cognitive foundations.
Journal of Language and Social Psychology, 4,253-273.
Caballo, V.E. (1991). El entrenamiento en habilidades sociales, In V.E. Caballo (Ed.). Manual de
técnicas de terapia y modificación de conducta. (pp. 403-443). Madrid: Siglo Veintiuno.
QcrsonVukio Tonumari
própria dos humanos de mostrar um “responder relacional". Ou seja, equivalência seria
meramente uma dentre o conjunto das possíveis relações lógicas entre estímulos (relational
frames). Segundo as proposições de Hayes, em consonância com as de Sidman, a equivalência
não envolve processos comportamentais novos. Entretanto, Hayes sustenta que ela surge
como produto da experiência social das pessoas, especialmente aquelas relacionadas à
linguagem. Em decorrência disso, enquanto Sidman sugere que classes equivalentes
possibilitam o desenvolvimento da linguagem, Hayes propõe que o desenvolvimento da linguagem
possibilita o surgimento de classes equivalentes (Mcllvane, 1992).
Entre as tentativas correntes de se tentar compreender as origens da equivalência
de estímulos, existe a perspectiva de se procurar explicações baseadas em comportamentos
encobertos que fariam, na equivalência, a mediação entre os estímulos componentes de
uma classe (Dugdale e Lowe, 1990; Horne e Lowe, 1996). O conjunto de comportamentos
que serve a essa função denomina-se nomeação. Segundo Home e Lowe (1996), a mediação
por nomeação caracteríza-se, fundamentalmente, por ser uma relação verbal, e esta seria
responsável pela origem do repertório comportamental complexo a partir do qual se infere a
equivalência.
Segundo Home e Lowe (1996), para que ocorra a formação de classes de estímulos
equivalentes é tanto necessário quanto suficiente que haja a mediação verbal implícita ou
explicita entre os estímulos; esta mediação é proporcionada peia relação de nomeação dos
estímulos. Segundo os autores, portanto, mesmo em situações em que não se exija que o
sujeito ouça ou diga uma palavra abertamente, as relações de nomeação, encobertas,
promovem a emergência de relações condicionais que não tenham sido diretamente treinadas.
Opositores à concepção mediacionista proposta por Lowe e equipe sustentam que
a nomeação pode, sim, ser suficiente para a formação de classes de estímulos equivalentes;
entretanto, a nomeação não se faz necessária (Hayes, 1991; Hayes e Hayes, 1992; Mackay,
1991; Sidman, 1990,1994). A mediação verbal poderia facilitar a aquisição de relações de
equivalência, mas nào seria uma exigência.
Dados empíricos contribuem para a compreensão das divergências que envolvem
a nomeação de estímulos na formação de equivalência. Nesse sentido, pesquisadores
têm empregado a estratégia experimental de submeter participantes humanos verbais
versus não verbais (em geral, crianças autistas ou portadores de deficiências mentais ou
auditivas), assim como sujeitos infra-humanos, a procedimentos que envolvam a formação
de classes de estímulos.
Devany, Hayes e Nelson (1986), com crianças com desenvolvimento típico e portadoras
de deficiência mental, e Eikeseth e Smith (1992), com crianças com desenvolvimento
típico e com autismo, realizaram estudos que são freqüentemente usados como evidências
de que a linguagem ó um requisito para a equivalência. Nesses estudos, cuja comparação
dos dados ó facilitada pela semelhança do procedimento empregado, os resultados em
geral mostram a formação de equivalência em sujeitos verbais, mas não em sujeitos não
verbais. Baseados nestes dados, alguns pesquisadores concluem que a nomeação,
possível apenas em sujeitos verbais, seria de fato necessária para a equivalência.
Stromer e Mackay (1996), por meio de uma análise das contingências envolvidas
nos estudos de Devany e col. (1986) e Eikeseth e Smith (1992), enumeram uma série de
fatores que podem ter sido responsáveis pela ausência de demonstração de equivalência de
estímulos com os sujeitos deficientes mentais e autistas naqueles estudos: (a) as instruções
verbais usadas; (b) o uso de um procedimento de teste que não empregou tentativas críticas
Referências
Constantine, B. & Sidman, M. (1975) Role of naming in delayed matching-to-sample. Amorican
Journal o f Montal Deficienty, 79, 680-689.
Dovany, J. M., Hayes, S. C, & Nelson, R. O. (1986). Equivalence class formation in languago-able
and languago-disablod children. Journal o f the Experimental Analysis of Bahavior, 46,
243-257.
Dube, W. V., Mcllvane, W. J., Callahan, T. D., & Stoddard, L. T. (1993). I he search for stimulus
equivalence in nonverbal organisms. The Psychological Record, 423, 761-778.
Dugdale, N. & Lowe, C. F. (1990). Naming and stimulus equivalence, In D. E. Blackman & H.
Lejeune (Eds.), Behavior analysis in theory and practice: Contributions and controversies
(pp. 115-138). Hove, UK: Erlbaum.
Eikeseth, S. e Smith, T, (1992). The development of functional and equivalence classes in high-
functioning autistic childron: The role of naming. Journal of the Experimental Analysis of
' “Every one who performs this experiment (I.e., serves as subject) for the first time is struck by the little
control he has of his movements when the task is to execute them as quickly as possible .. While one is
awaiting the stimulus with tense attention one feels an indescribable something going on In his sensorlum
(brain), which prepares for the quickest possible reaction... If the sensorium Is In this state, the reaction is
involuntary, i.e., no new will impulse Is needed after the entrance of the stimulus in order that the reaction
shall follow" (Exner, 1873, 1874, apud Woodworth, 1938).
A Complexidade do Comportamento
Humano: Relato de uma experiência
"Tenho muiío medo de que você me peça para suspender a medicação. Só estou
aqui, graças a ela. Não posso parar, por favor, não!". Este foi o primeiro relato verbal de
Hellen, 30 anos, ao chegar para tratamento. Posterior a esta verbalização fez um ataque
de pânico, com duração inferior a 6 minutos.
Skinner (1957/1978) descreve o comportamento verbal como sendo o comportamento
operante, por agir sobre o meio ambiente e, posteriormente, por sofrer as conseqüências
das alterações por ele provocadas.
Permiti que o comportamento verbal de Hellen agisse sobre ela própria, para que
me fosse possibilitada a observação direta de uma das categorias de comportamentos-
problema, que me foram antecipadas, antes de sua chegada ao tratamento: transtorno de
pânico. Alóm da depressão e do hipotireoidismo. Pois na concepção skinneriana, torna-se
impossível a negação do controle do comportamento verbal sobre o comportamento não
verbal. Isto enseja que, uma mudança no comportamento verbal do indivíduo poderá facilitar
a muôança do comportamento não verbal correspondente (Catania, 1998/1999).
Para Skinner (1974/1982),
S-----------►R-----------►S-----------►R
Transtorno de Pânico
Segundo Craske e Barlow (1999), de uma perspectiva biopsicossocial, o ataque de
pânico caracteriza-se por uma falha do sistema do medo em relação a eventos vitais
estressantes, em indivíduos fisiológica e psicologicamente vulneráveis. Já a Associação
Americana de Psiquiatria, através do DSM-IV-TR (APA, 2003) salienta que o transtorno de
pânico tem como característica essencial à presença de ataques de pânico recorrentes e
inesperados, com pelo menos um mês de preocupação persistente sobre um novo ataque de
pânico. Desta forma, uma das comorbidades esperadas no transtorno de pânico ó a depressão.
Transtorno Depressivo
Para o Behaviorismo Psicológico, de Arthur Staats (1996), a depressão consiste num
círculo vicioso, cujo estado emocional negativo ó um continuum. E "O estado emocional negativo
induzirá outros comportamentos negativistas, seja do tipo lingüístico-cognitivo, isto ó do falar,
do pensar, como também a nível sensório-motor, ou seja, do sentir e do agir" (...)
“Conseqüentemente, no estado emocional negativo, o indivíduo manifesta sofrimento sensório
motor, como por exemplo, a dor, o abatimento físico ou moral" (Britto, 2003, pp.63-64).
Hipotireoidismo
O hipotireoidismo é uma síndrome clínica que resulta de uma deficiência dos
hormônios tireoidianos T3 e T4. Afeta 1% da população, especialmente mulheres de meia-
idade ou idosas. Apresenta-se via encolhimento da glândula da tireóide, na medida em
que as células são destruídas por um defeito sutil no sistema imune da pessoa. Alguns
dos sintomas são: cansaço, irritabilidade, problemas de pele e cabelo, prejuízo da memória,
ganho de peso etc. (Smith, 1984). Mas, atualmente, vemos 0 diagnóstico desta patologia
em pessoas muito jovens, 0 que nos leva â construção da hipótese de que 0 modelo de
vida moderno, emoldurado pelo estresse, tensão e "obrigatoriedade" de se alcançar 0
sucesso, parece estar favorecendo o desenvolvimento de defeitos no sistema imune da
pessoa. Estudos, neste sentido, precisam ser realizados.
O tratamento do hipotireoidismo, à base de tiroxina, e que pode durar por toda a vida
da pessoa, tem por objetivo devolver aos níveis aceitáveis, ou seja, normais, os hormônios
T4 e TSH na corrente sanguínea. A dosagem da medicação é definida tendo por referência
os resultados apresentados pelos exames de sangue, que devem ser feitos rotineiramente.
Também parecem favorecer a eficácia e eficiência do tratamento comportamentos voltados
à saúde da pessoa, como controle do estresse, da alimentação, além da prática continuada
do lazer, bem como 0 autocontrole dos estados emocionais (Smith, 1984).
Estudo de Caso
História Clínica - Hellen, 30 anos é nascida em classe média baixa, no interior do
Brasil. Aos 2 anos de idade, seu pai abandonou sua mãe, com 9 filhos. Aos 13 anos sai de
casa, fugida, em busca de melhor qualidade de vida, numa capital brasileira. Aos 15 anos
tornou-se modelo fotográfico contratada por grande agência. Aos 18 anos, trabalhando e
estudando no Rio de Janeiro, foi seqüestrada e estuprada por um foragido do Centro Penitenciário
daquele Estado, gerando-lhe como conseqüências Depressão e Pânico. Aos 23 anos, numa
temporada de trabalho na Itália, conheceu seu futuro esposo, que estava se divorciando de seu
primeiro casamento. Ele, 8 anos mais velho, "Tomou-se solícito, amigo, companheiro, presente,
grande admirador de meu trabalho. E, como eu, amante da vida" (Hellen, 2004). Casam-se e
Intervenção Realizada
Alterando os padrões da terapia comportamental, a fase de educação focal foi iniciada,
antes mesmo de pesquisa mais ampla sobre as queixas que levaram Hellen ao consultório.
Com a observação direta, e a devida descrição, do Ataque de Pânico, no setting
terapêutico, levantei a hipótese de que se trabalhasse informações primordiais sobre a Terapia
Comportamental e o próprio Transtorno de Pânico, então, muito provavelmente, poderia
contribuir para a adesão da cliente à intervenção psicológica, assim como dar início ao
processo de autoconhecimento, com posterior autocontrole das respostas ansiogônicas
antecipatórias, disparadoras do Ataque de Pânico, segundo literatura apropriada.
O processo de intervenção foi desenvolvido com a seguinte hierarquização: (1o)
informações sobre o tratamento psicológico e sobre o tratamento farmacoterápico: a
psicologia não medicaliza, tampouco suspende medicação. A primeira trabalha com
técnicas, com foco nos eventos externos e internos. Ambas são independentes, podendo
ser complementares; (2o) descrição do Sistema Nervoso Autônomo, Simpático e
Parassimpático; (3o) reeducação para o autocontrole das respostas ansiogônicas e
negativistas, através da utilização de técnicas como: (a) controle respiratório; (b) relaxamento
autógeno; (c) acalme-se; (d) treino assertivo de monitoria dos estados emocionais, visando
a interrupção dos estados negativistas; (e) autodiscriminação, pela cliente, da melhoria de
seu estado panicogênico; (f) treinamento em habilidades sociais; (g) diários de registro;
(h) questionamento socrático e (i) análise das funções comportamentais dos eventos
vivenciados pela cliente.
1 I i
Sonhou com o retorno do pal Realizou os sonhos da família, 1 - Casa-ue ,2 - Inatividade
para c m e ««tildou multo para que seu pai nAo renll/ara: profissional; 3 - Dificuldade com
agradá-lo, c«*o volta«*«. «través de seu sucesso a Cultura; A - Isolamento social;
profissional 5 • Impadimento du ser mAe, 6 -
Crlsfc de pAnico, doprwssflo «
hipotlrfloidlbmo
1
Ação Positiva ■ Ação Positiva Inaçfto ■
Estado Emocional + Estado Emocional
Positivo Enfrtntamento ■ Negativo
Estado Emocional
Positivo
S3
S2
(a) Em casa Pânico o
sozinha; (b) ter Doprossào
que banhar-se
RBC— EE— ♦ R ♦ C
(HlnlórlH (Estado
Emocional) (Comportamento) (Conseqüência)
di» Vkla)
Tenho pouco Ajo segundo as Reali/o 92% das
tempo,
portanto, tenho estfattglnv nxMtvadn aUvidadn», o
que ser ágil. a cumprir todas as tempo foi
Sentimento de
alegria atividade», inclusive, o insuficiente. Faço
insuficiente
banho o tempo correto
83
(«0 Sozinha um casa
Pânico o
(com atividades
DepressAo com
estabelecidas) e (b)
ter que se banhar autocontrole
(com tempo definido)
(I) ter uma pessoa; (2) ter minha casa; (3) ter minha família; (4) ter um endereço
fixo; (5) ter uma vida normal; (6) livrar-me do assédio do mundo de modelos; (7)
deixar o meu país; (8) deixar minha cultura, (9) morar longe de minha família; (10)
residir em um país em que não me adaptei: sem lazer, sol, vida, calor humano:
( II) não haver nem outras pessoas para eu me desentendor; (12) não ter meus
filhos, até hoje, e não ter esperanças de tê-los com meu marido (Hellen, 2004).
Após a realização desta tarefa, desenvolvi com Hellen o questionamento socrático,
levando-a á seguinte conclusão:
Puxa, esta tarefa me fez perceber que só meu marido tem direitos em nosso
casamento. Todas as vezes que me hospitalizei, ou fui sozinha para o hospital ou
chamei a assistência social. Nunca pude incomodá-lo em seu trabalho. Mas ele
me convenceu a deixar o meu para viver exclusivamente para ele. Por que não
percebi isto antes? É, agora, não tem mais jeito; teremos que enfrentar nossas
verdades o encontrar o nosso equilíbrio (Hellen, 2004).
D iscussão
Após 26 sessões, de 50 minutos cada, sendo duas por semana, Hellen retornou à
Suíça assim: (a) hipotireoidismo sob controle; (b) sem o registro de ataques de pânico, a
não ser aquele de sua chegada ao tratamento, que durou menos de 6 minutos; (c) 10 quilos
a menos em seu peso; (d) aprendeu e passou a desenvolver uma nova atividade: confecção
de acessórios femininos; (e) a elaboração de agendas diárias assertivas, e o seu cumprimento,
passou a ser-lhe uma meta a ser alcançada a cada dia; (0 atenta à capacidade dos estímulos
ambientais, internos e externos, gerarem estados emocionais negativos; (g) busca continuada
do controle de seus estados ansiogênicos, com as técnicas aprendidas; (h) retirada da
maior parte de sua medicação, por seu médico, no Brasil, motivada pela funcionalização
alcançada com a intervenção psicológica. A retirada da farrnacoterapia foi gradativa ficando
apenas, no momento em que retornava à Suíça, com dose mínima de fluoxetina e o hormônio
para o controle do hipotireoidismo.
Os repertórios comportamentais de Hellen, quando de sua chegada ao Brasil e seu
retorno à Suíça demonstram a complexidade do comportamento humano. E, tais
comportamentos são adquiridos através de contingências complexas de reforço. Por isso,
S o b re C o m p o r ta m e n to c C o g w v d o
I
Skinner (1974/1982, p. 145) pontua que “(...) diferentes contingências criam diferentes pessoas
dentro da mesma pele", ou seja, uma "nova" Hellen retornava à sua casa: sem depressão,
sem ataques de pânico, com um novo repertório profissional e comportamental.
O “adoecer" desta cliente intensificou-se após seu casamento, quando contingências
aversivas avolumaram-se em seu dia-a-dia, sem que ela apresentasse comportamentos de
enfrentamento assertivo. Através da intervenção proposta, Hellen precisou aprender um novo
repertório hábil social necessário para que lhe fossem restabelecidas as contingências
reforçadoras perdidas, o que parece ter-lhe proporcionado a funcionalização de seu quadro
clinico múltiplo, uma vez que "(...) doenças que são conseqüência da hostilidade ou do
medo podem ser controladas através da eliminação de conseqüências aversivas,
especialmente as que estáo em mãos de outras pessoas" (Skinner, 1989/1991, p. 113).
O estudo das autolinguagens na história de vida dessa cliente, parece ter
possibilitado-lhe a auto-observação e autodescrição das contingências complexas nas quais
estava envolvida. Assim como o uso de sistemas gráficos na estruturação de suas tarefas
de casa e das próprias análises das funções de seus comportamentos-problema (Staats,
1996). Mas neste estudo de caso, mostrou-se muito importante, também, a realização da
análise das funções dos novos comportamentos assertivos, isto porque a visualização gráfica
dos mesmos tornou-se reforçadora à Hellen: "Tenho pouco tempo e muita atividade. Tenho
que ser rápida, mas estou muito alegre!".
Compreender a composição do comportamento verbal e não verbal tornou-se bastante
relevante para a conquista da eficácia e da eficiência da conduta da cliente. Ter a clareza de
que ela pode ser ouvinte dela mesma e que as palavras geram emoção, sendo esta diretiva,
parece ter contribuído para que Hellen observasse em seu próprio organismo o controle do
comportamento verbal sobre o comportamento não verbal. Desta forma, a adesão à intervenção
proposta parece ter favorecido a construção de um novo repertório comportamental, que teve
correspondência direta em seu comportamento não verbal (Catania, 1998/1999).
As diversas exposições gráficas parecem ter contribuído para uma observação mais
clara pela cliente, assim como uma análise mais clara sobre sua interação com o meio
ambiento e as conseqüências desta em sou próprio corpo. Soja via respostas do Sistoma
Nervoso Autônomo Simpático, seja do comportamento depressivo ou da alteração da Tireóide,
uma vez que "(...) qualquer estímulo que produza uma resposta emocional pode, desse
modo, ter efeito nas respostas motoras" (Staats, 1996, apud Britto, 2003, pp. 62-63).
Cabe, portanto, ao terapeuta a criação de recursos suficientemente fortes que
favoreçam a funcionalização dos comportamentos problema da pessoa, sejam eles de quais
ordens forem. E, não há outro caminho, cientificamente correto, até o momento, senão o de
proporcionar ao cliente o seu autoconhecimento, uma vez que "Diferentes comunidades
geram tipos e quantidades diferentes de autoconhecimento e diferentes maneiras de urna
pessoa explicar a si mesma e aos outros" (Skinner, 1974/1982, p. 146).
R eferências
Abreu-Rodrigues, J., & Sanabio-Heck, E. T. (2004). Instruções e Auto-instruções: Contribuições
da Pesquisa Básica Em C. N. de Abreu & H. J. Guilhardi (Orgs.), Terapia Comportamental
e Cognitivo-comportamental Práticas Clínicas, (pp. 152 - 168). São Paulo: Roca.
Associação Americana de Psiquiatria (2003). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais - DSM - IV - TR. Porto Alegro: ArTmod
1Esto trabalho é parte da Dissertação de Mestrado de Gislaine Cristhiane Berri de Sousa, defendida junto ao
programa de Psicologia da Infância e Adolescência da UFPR
* Departamento de Teoria e Fundamentos da Educação, Universidade Federal do Paraná
** Faculdade Evangélica do Paraná
(...) mosmo se ele não quiser falar comigo, eu quero falar com ele. Ele escuta, elo vai
ter que escutar. Se ele tiver no quarto dele e ele sair, e for pra cozinha, (...) eu vou atrás
dele („.) o meu já chegou a lapá os ouvido muitas vezos pra não escutar o quo eu falava
sabe (...) (M1) (...) começa a cantar e assobiar e deixa eu falando sozinha (...) (M4)
discurso-síntese “ supervisão estressante”
A exagerada cobrança e fiscalização dos comportamentos dos filhos caracterizam
a supervisão estressante. Essa prática desencadeia um relacionamento extremamente
aversivo e hostil entre pais e filhos, o que agrava ainda mais os problemas apresentados.
A relação torna-se cada vez mais desgastante e a ineficácia da prática torna pais e filhos
ainda mais frustrados. A decorrência deste tipo de intervenção dos pais leva o filho a fugir
de casa e a mentir para escapar das cobranças feitas (Gomide, 2002).
Também foram identificados os três tipos de abuso que estão correlacionados na
literatura com o aparecimento de comportamento infrator: abuso físico, abuso psicológico e
abuso sexual. O abuso físico foi praticamente objeto de discussão em todas as sessões do
programa, sendo que urna delas focou-se na sensibilização das mães para que evitem o uso
dessa prática devido às conseqüências negativas da mesma. Muitas vezes percebeu-se
que mais de uma prática negativa ocorriam juntas. Por exemplo, após discussões fervorosas
que são características do contexto de fiscalização e cobrança mantido na supervisão
estressante, respostas de raiva podem levar ao comportamento agressivo das mães.
(...) usava droga, eu descia o pau (...)0 drogado ó na vara (...) esses dias nó, ou
dei uma rasteira nele, mas dei- lhe que ficou com os couro cheio de sangue (...)
(M3) (...) dal ele começô já a me respondê, ou já peguei uma manguerinha do
chuvero (...) dei umas manguerada nele (M4)
discurso-síntese “ abuso fisico"
A punição física caracteriza-se pelo uso cia prática de agressões corporais (como
surras e pancadas) como meio de disciplinar os filhos (Gomide, 2003). A longo prazo
crianças espancadas apresentam maior probabilidade de desenvolverem comportamentos
anti-sociais (Kazdin & Buela-Casal, 1997; Straus, Sugarman & Giles- Sims, 1997).
As mães discutiram durante o programa a "eficácia" do bater. Uma delas disse que
"todo mundo diz que bater não é certo”. Gomide (2004) ê incisiva em afirmar que jamais se
deve bater num filho com raiva e muito menos lhes dizer palavras humilhantes. M3 argumentou
exaustivamente a favor da prática do bater. Como essa prática foi também relatada
freqüentemente, as conseqüências do abuso fisico bem como o resgate da vivência das
mães que foram abusadas pelos seus próprios pais foram aspectos discutidos na 3" e 7a
sessão, e retomados na 8* sessão. Na 2a sessão, ocasião em que surgiram os primeiros
"(...) mas imagine, drogado e eu vou apanhá? Não (,..)Agora se num batô na
minha cara, a( eu não bato(...)M.
T1 demonstrou acolhimento e aceitação das expressões de M3 declarando que a
compreendia, mas continuando a enfatizar as conseqüências negativas. Buscando
aprofundar ainda mais essa questão, porém dando outro norte para a mesma, 71 indagou
a respeito de como e porque os caminhos da educação dos filhos chegaram a este ponto
onde mães e filhos agridem-se fisicamente. Procurou então resgatar as histórias de
agressão do contexto familiar. As drogas e a união com pares desviantes foram pontuadas
pelas mães como aspectos responsáveis pela violência do filho nos lares:
"(...) influência dos amigumhos deles (...) as amizades né, (...) (M3).
Enfim, a prática do abuso físico estava presente em todas as familias participantes
dessa pesquisa. Quando não eram as mães as agressoras, os pais eram, como ocorreu
no caso da família 5. Em geral, pelo menos um dos genitores abusa, ou abusou fisicamente
dos filhos.
A fim de promover a sensibilização das mães para evitarem o uso de punições
físicas, as terapeutas procuraram facilitar a discriminação do sentimento de raiva que
antecede o ato de bater, bem como confrontar a finalidade educativa do bater com a
descarga emocional da raiva.
As seguintes falas ilustram o procedimento de discriminação:
"(...) geralmente, é porque eu tô com raiva. Por isso quo hoje em dia minha tática
é outra. É nâo bater porque, eu nunca agredi eles pra ensinar, e sim por eu tar(...)
às vezes nervosa, com problemas e descontá neles (...) (M2 explicando em que
ocasiões batia em seu filho);
"(.,.) ele fica zombando comigo fica mandando eu calá a boca sem eu fazô nada,
'para de encher o saco, você não manda', daí vai dando raiva por dentro aí (...) eu
bato nele (...) se ou pegá ele na hora da raiva mesmo ou machuco bastante(...)
O entendimento das conseqüências da prática do abuso físico parece ter sido
alcançado:
“(...)Eu já vi que não adianta mesmo, batê não adianta. (...) é pior(...)" (M4); “(...)
ah, mas eles pensam que você tá fazendo porque odeia eles (...). as cabeça
deles são tão confusas (...) (M1 tentando fornecer argumentos a M3 de que bater
com raiva é prejudicial).
Parece que a leitura dos textos juntamente com a mãe propiciou que F5
reconhecesse qualidades de M5 no manejo com os filhos:
M(...) Dai ele dava risada (...) Batè com objeto no filho (...) ele falô que eu nunca fiz
isso com ele e eu falei que lógico que não (...) Quando fala que batia, aqui fala
muito de baterf...) ele batia assim nas minhas costa, batia no meu rosto, abraçava,
beijava (...) A senhora nunca fez isso comigo né mãe?" (...) Abraçô (...) mais de
quatro anos que ele nâo me abraçava (...)".
' Do Livro Pais Presentes Pais Ausentes, do Paula Gomide, Editora Vozes, ?004.
"(...) o pai usava droga, bebia, tudo, na mesma mesa que ele (...) o pai incentivava
ele (...) vamo fazer uma presença ai de um baseado, e outras coisas(...)’’
Como se pode perceber, o ambiente da família 5 era propício ao desenvolvimento
do comportamento anti-social: o pai era alcoólatra, usuário de drogas, abusador sexual e
ainda espancava e humilhava a mãe, com o agravante de fornecer modelo para o uso de
droga no ambiente familiar. Percebe-se então que o pai era uma figura extremamente
negativa nesse contexto. Esse dado nos remete a pesquisa de Nurco e Lerner (1996) que
apontam que o forte apego ao pai e a atmosfera positiva no lar, aliada a forte aceitação de
crenças tradicionais sobre bons comportamentos para filhos e forte desaprovação paterna
de comportamentos inadequados estão correlacionados a uma menor vulnerabilidade ao
uso de drogas. Cabe salientar que o caso 5 revela uma família que possuía entre os seus
membros mais de um filho envolvido seriamente com drogas e conflitos com a lei.
Cabe ressaltar que a prática do abuso físico está intimamente ligada com outra, a
punição inconsistente, em que a punição ocorre em função do humor do agente punidor.
Como vimos, algumas das mães discriminaram que batiam / batem quando estão nervosas
ou com raiva. A influência do humor das mães na adoção de estratégias educativas foi um
aspecto discutido nas sessões do programa de intervenção. O programa tinha com um de
seus objetivos propiciar que as mães discriminassem a influência de sentimentos e estados
de humor no manejo dos filhos. O discurso síntese abaixo ilustra a ocorrência dessa prática.
(...) o dia que ole tá agressivo, nós dois fica agressivo (...) ele me xinga, me responde,
ou pergunto onde ó que vai, “ah, não te interessa"(...) sai, o aquilo me dá um
negócio ruim por dentro assim (...) que eu me controlo pra não baté nele(...) (M4)
discurso- síntese “ciclo agressivo e humor instável"
Outra prática educativa negativa encontrada no discurso das mães foi a disciplina
relaxada:
“(...) eu brigo com um, o outro “ah, porque a mâe gosta mais de fulano porque que não
briga, não xinga o outro, só xinga ete", entende? (...)0 F2 ele é o mais volho mas ó o
mais nonô (...) ou brigo cos outro pra não brigá com ele, pra ele não saí pra rua, então
eu faço enguli ele, nem que não queira, e as criança não se conformam (...)" (M2).
Nessa passagem percebe-se que F2 exerce controle coercitivo sobre a atuação
educativa da mãe. A mãe deixa de aplicar-lhe limites ou regras provavelmente devido á
"(. .) o meu filho o problema dele, é 100% é falta de carinho, de atenção (...)".
A negligência afetiva gera uma enorme carência emocional. As vitimas da
negligência sentem-se rejeitadas, e sua auto-estima sofre um rebaixamento incomparável
(Crittenden, 1985; Dodge, Pettit, G.S. & Battes, 1994). Segundo Gomide, o uso de drogas
ou álcool, o comportamento violento ou a prostituição são maneiras encontradas pelos
adolescentes negligenciados para reagirem ao sofrimento causado pela referida prática.
Durante o programa de intervenção, os relatos das mães evidenciaram
marcadamente duas conseqüências das práticas negativas: sentimento de desesperança
e de raiva. Com relação aos sentimentos desesperança e desamparo das mães, o discurso
síntese abaixo traz algumas das falas significativas e denuncia que as mães encontram-
se com o humor deprimido e inclusive fazem uso de medicações anti-deprossivas.
(...) agora é só preocupação mesmo (...) agora ó só mágoa (...) revolta (..) tudo
coisa que não é boa (M2) (...) eu fico vendo e fico quieta, eu sofro calada (M5) Tô
tomando remédio pra depressão (...) (M3)
"(...) não sei com quem ele anda, não sei o que ele come, não sei o que ele faz,
ele fica umas 4- 5 horas, parece que desaparece (...)".
Outro importante aspecto ressaltado refere-se ao esclarecimento a partir do relato
das mães sobre as diferenças entre monitoria positiva e monitoria negativa. M5 alegou que
procura demonstrar sua preocupação e amor pelo filho:
“(.. )de sábado pra domingo a noite, quando eu sei que ele bebe, daí ou bato
assim: "ô, tá tudo bem com vocô aí, tá respirando? (...) 6 piá, três hora já, não vai
levantar, não vai almoçar? (...) ai ele fala. já vou, já vou (...) mas que nada ,daf até
ele ir tomar o banho dele (...).
12 chamou atenção de M5 e das outras mães a partir desse exemplo sobre a
diferença entre a monitoria positiva e a monitoria negativa. Pediu para que elas se
colocassem no lugar dos filhos que foram para uma festa no sábado e voltaram de madmgada
pra casa e estão dormindo. Repetiu as falas que caracterizam vigilância e fiscalização e
depois emitiu falas de monitoria positiva: "oi, bom dia! Eu vim ver como você está
Indagou as mães se elas percebiam diferenças entre os dois tipos de abordagem, pontuando
que o primeiro soa como cobrança e torna a relação aversiva (gera raiva) e o outro soa
como demonstração de preocupação, carinho e afeto.
Outro aspecto relacionado à prática da monitoria positiva, o uso de reforçamento
positivo, também foi abordado pelo programa. Essa discussão foi iniciada a partir de um
relato de M2 que informou que seus filhos reclamam:
3. C onsiderações Finais
O objetivo principal desse trabalho foi desenvolver e avaliar a eficácia de um programa
de intervenção grupai em práticas educativas, de mães identificadas pelo IEP (Gomide,
2003) como pertencentes a grupo de risco.
A riqueza do trabalho desenvolvido, bem como a metodologia proposta possibilitou
a descrição qualitativa das práticas educativas utilizadas pelas mães. Conforme indica a
literatura da área (Gomide, 2001,2002,2003,2004; Marinho, 2002,2003; Patterson et al,
1992; Stanton et al, 2000; Straus et al, 1997; Xiaoming, Feigelman. & Stanton, 2000)
encontrou-se o uso de práticas educativas negativas na socialização dos adolescentes
em conflito com a lei. Essas práticas, muitas vezes eram defendidas como adequadas
pelas mães, como no caso do abuso físico. Nesse sentido, um importante exercício para
favorecer a discriminação da inadequação de tais práticas foi resgatar nas próprias histórias
de vida das mães as conseqüências que advém dessas práticas.
Por outro lado, percebeu-se que as práticas educativas positivas são pouco ou
restritamente utilizadas. Quando as mães relatam o que pensam ser práticas educativas
adequadas, na maioria das vezes estão exercendo a supervisão estrossante. Essa prática
negativa foi exaustivamente relatada. Da mesma forma, as conseqüências dela foram
evidenciadas através do clima aversivo e hostil entre as díades. Tal conseqüência negativa
é extremamente perigosa, pois torna a relação entre pais e filhos cada vez mais diticil.
Os procedimentos utilizados por esse programa buscaram promover relações
possivelmente reforçadoras. Dentre os procedimentos adotados, vale destacar que
procedimentos de intervenção conjunta, planejados para serem realizados pelas díades mãe-
filho parecem apontar um caminho viável para futuros programas. Percebeu-se isso quando
uma das mães participantes do programa relatou que o filho leu o texto que foi dado como
tarefa de casa para ela (o que não havia sido programado), tendo então refletido e reconhecido
a adequação da mãe, sendo que o filho expressou que sua mãe era uma boa mãe por não
bater nos filhos, agradecendo e demonstrado afeto para ela (beijando-a e abraçando-a). Propiciar
tarefas conjuntas, além de poder favorecer a aproximação afetiva entre as díades, fornece uma
excelente oportunidade para o início de procedimentos de modelagem de comportamento.
O processo terapêutico foi dificultado por uma série de razões: as mães faltavam às
sessões (mesmo com as estratégias de adesão e manutenção programadas); em geral não
cumpriam tarefas de casa (como leituras); as discussões tendiam a ser fatalistas e
desesperançosas; utilizavam grande parte das sessões para fazer queixas sobre o comportamento
dos filhos. Os dois últimos aspectos atados, em especial, exigem das terapeutas que trabalham
com essa população bom manejo de grupo, experiência clínica e/ ou supervisão.
Além disso, o problema da dependência química tornou, por si só, a relação entre pais
e filhos mais irritadiça. Apenas um dos filhos da amostra não tinha envolvimento com drogas, os
demais, segundo o relato das mães, apresentavam forte envolvimento com entorpecentes.
Diante das dificuldades encontradas e da limitação deste trabalho, parece que os
resultados mostraram-se positivos. Como mostra a literatura da área, o sucesso das
R eferências
Berri, G.C. (2003). Práticas educativas adotadas por mães sociais de casas- lares: um enfoque
na monitoria positiva. Monografia de conclusão de curso, Departamento de Psicologia,
Universidade Federal do Paraná.
Berri, G.C, (2004) Programa de intervenção em práticas parentais para mães de adolescentes
em conflito com a lei. Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em
Psicologia da Infância e Adolescência. Curitiba: UFPR.
Bussab, V.S.R. (2000). A família humana vista da perspectiva etológica: natureza ou cultura?
InterAçâo, v.4, pp.09-22.
Júnior é filho único, tem oito anos, é bom aluno da segunda série - provavelmente,
o melhor da classe adora esportes e é bom de bola no time da vizinhança. Relatou-me
vários episódios sobre sua relação com o pai. Passo a narrá-los na primeira pessoa, mas
alerto que não são frases literais de Júnior, pois se baseiam apenas em anotações tomadas
durante as sessões. Se soubesse a riqueza das informações que Júnior iria me fornecer,
teria gravado tudo. A rotina de consultas de um terapeuta impõe tal limitação, a ser
lamentada, pois se perde o registro preciso de fenômenos humanos riquíssimos, que só
podem sor recuperados em níveis mais molares. Acredito, no entanto, quo, mesmo assim,
há muito material com que se pode lidar e aprender.
Havia faltado à aula na terça-feira, por causa de uma febre. Meu pai, assim que
terminou de almoçar, sugeriu que fossemos até a casa de Flávia, minha colega de
classe quo mora a menos de um quarteirão de casa, para ver quo tarefas de casa
a professora havia passado para o dia seguinte, Para minha surpresa, ela já havia
foito as lições... “Que rápida!", pensei, pois normalmente levo quase a tarde inteira
para terminar minhas lições da escola. Aproveitei a situação e copiei tudo dela:
perguntas e respostas. Meu pai esperou em silêncio que eu terminasse tudo.
Quando chegamos em casa ele me disse: "-Vocé viu como a lição da Flávia está
feia e sem capricho? Vocô pode fazer melhor que aquilo". Enquanto falava comigo,
arrancou a folha do caderno em que eu havia copiado a liçáo e me pediu para fazer
tudo de novo, mas caprichando na letra, fazendo os parágrafos certos, não saindo
da margem e usando caneta vermelha para grifar os aspectos mais relevantes ...
“ - A professora vai notar que sua liçào é mais bem feita... A vida é dura e vencerão
os melhores. Vocô deve se esforçar para fazer o melhor possível.” Minha mãe
O episódio do jogo deixa ainda mais claro que Júnior abriu mão de produzir um
reforçador natural forte para ele - jogar futebol em favor da remoção de um reforçador
negativo arbitrário - a repreensão do pai. Trata-se de um exemplo de comportamento
governado por regras e não selecionado pelas conseqüências, aliás, padrão típico de
Júnior se comportar.
"Que menino triste e competente!”, pensei. “Se nada for feito por ele, que será de
seu futuro? Não me preocupo com a vida profissional que escolherá. Dará certo na profissão.
No entanto, viverá às custas de quantos e quais sofrimentos?".
"Por exemplo, se esquema de fuga for planejado para macacos, de tal maneira
que o choque é apresentado a intervalos de 10 min e é encerrado pela primeira
resposta do sujeito experimental, o macaco não espera até o choque ser
apresentado para responder. Ao invés disso, ele começa a responder mais cedo,
e a freqüência de respostas aumenta até que o choque soja apresentado e,
então, eliminado. O desempenho é muito parecido com aquele mantido por
esquema de intervalo fixo usando reforço positivo, mas é estabelecido com reforço
negativo. Um observador desinformado, que observa o macaco respondendo
mais e mais rapidamente até o aparecimento do choque, pode assumir,
erroneamente, que as respostas estão sendo mantidas pela apresentação e
não pela eliminação do choque."(p.265). [...] "O fato de que o responder é mantido,
mesmo quando o choque é produzido pelas respostas, ao invés de apresentado
independentemente das respostas, não significa que o choque deve ser
considerado um reforçador (positivo). Outros procedimentos demonstram que
os mesmos níveis do choque são eventos punitivos para macacos." (p. 266).
A partir das respostas de Eduardo, pode-se concluir que descreve o pai com amor
(mais que as palavras transcritas acima, o modo de falar sobre o pai deixou muito claro os
sentimentos carinhosos que tinha por ele). Eu, porém, estava interessado em conhecer
as contingências de reforçamento que prevaloceram na vida do cliente. Os comportamentos
e sentimentos são função das contingências de reforçamento em operação, quer se tenha
conhecimento (consciência) ou não delas, ou seja, quer se consiga descrevê-las ou não.
Os estudos experimentais, repito, vêm revelando que não é a presença de um choque
(evento usualmente tido como aversivo) ou de um elogio (evento usualmente tido como
reforçador positivo) o que importa, mas as relações de contingências entre os eventos
antecedentes, as ações do organismo e os eventos conseqüentes. Eu estava em busca
de tais relações. Assim, como exemplo, um comportamento de esquiva, bem sucedido,
evita o contato com o evento aversivo (é como se ele tivesse deixado de existir) e o
sentimento que acompanha o reforçamento negativo é de alívio, que pode ser confundido
- se as contingências que o produzem não forem diferenciadas - com prazer. Acrescente-
se que a contingência de fuga-esquiva pode estar associada com conseqüências com
características de reforço positivo social generalizado, temporalmente associadas com a
mesma resposta de fuga-esquiva. Considere a seguinte situação: tirar nota alta numa
prova evita a crítica (fuga-esquiva) e, ao mesmo tempo, produz elogio (que pode ter função
Como controle de estímulo adicional para evocar tactos verbais da infância, passei
a chamá-lo, nas ocasiões em que narrava os episódios passados, de Júnior, como era
chamado pelo pai. O início de meu relato no presente capítulo, de fato, começa neste
ponto do processo terapêutico. Voltamos ao final da década de 40. Todos os fatos narrados
nas primeiras páginas ocorreram entre 1948 e 1949... Estavam tão vivos na memória de
Júnior e foram narrados com tantos detalhes e emoção, que me envolveram inteiramente.
Parecia que eu estava assistindo a um filme. Os tactos verbais de Júnior eram perfeitos. E
lá estavam as respostas para as minhas questões. As funções que os eventos da vida de
Júnior adquiriram na infância estavam preservadas até hoje. O pai não existia mais
fisicamente, mas os eventos sociais tinham para Júnior, até hoje, as mesmas funções que
o pai lhes atribuiu. O pai não estava presente, mas as contingências às quais ele manejou,
sim. Júnior se encarregou de mantê-las atuando em si mesmo.
Uma frase de Skinner (1967) mostra-se oportuna neste ponto do artigo:
"Seria difícil provar que todas essas manifestações sejam devidas à história de
contingências punitivas (a que o cliente foi exposto durante seu desenvolvimento
comportamental)’ . Mas são conseqüências plausíveis, levando-se em conta os
controles aversivos descritos, e pode-se recorrer à história anterior, se não se
encontrar outra variável que explique o comportamento. (Se o comportamento
não tiver conexão com uma história como essa, ainda menos virá a ser explicado
em uma análise científica)." (p.214)
"O terapeuta, eventualmente, pode ‘ver o que está errado’ e ser capaz de sugerir
um curso de ação corretiva; essa é a solução do problema. Hoje, a experiência
terapêutica tem mostrado que, quando essa solução é proposta a um indivíduo,
pode não ser eficiente, mesmo que, até onde saibamos, seja correta. Mas, se o
paciente chega sozinho à solução, é muito mais provável que adoto um curso de
ação eficiente... ‘Achar uma solução' não é terapia, não importando quem faz a
descoberta, Contar ao paciente que ele está errado pode não trazer nenhuma
mudança substancial nas variáveis independentes relevantes e, por isso, pode
representar pouco progresso em direção à cura. Quando o próprio paciente vê que
está errado, não é o fato de que a solução partiu dele que é importante, mas o quo
importa é que, para descobrir sua própria solução, seu comportamento, com
relação ao problema, deve ser alterado enormemente... Uma solução que parte do
sujeito representa assim um considerável grau de progresso... A terapia consiste
não em levar o paciente a descobrir a solução para o seu problema, mas em
mudar o paciente, de tal modo que ele seja capaz de descobri-la."" (pp. 215-216).
Este procedimento se estendeu por inúmeros temas, nos quais a gênese das auto-
regras de Júnior foi sendo compreendida por ele. O procedimento foi conduzido de tal maneira
que Eduardo, o pai de Júnior - representado no papel de pai pelo próprio cliente durante as
sessões -, foi concordando com a introdução de alterações nas relações que teve com o filho.
Júnior e o pai, uma só pessoa, eram ouvintes do terapeuta e falantes para o terapeuta. O pai de
Júnior (ou o próprio Júnior) foi alterando as regras que enunciou no passado - apresentou novas
descrições de contingências, incorporando nelas as questões e sugestões do terapeuta -, as
quais podenam, a partir de então, ser transformadas por Júnior em novas auto-regras atuais. Tal
procedimento foi sendo, progressivamente, alterado: o terapeuta e Eduardo passaram a dialogar
diretamente sobre as regras que ele havia aprendido através da história de contingências a que
foi exposto, excluindo o pai como agente intermediário (fading ou tdo pai das sessões).
Do ponto de vista conceituai, os procedimentos descritos no item 6 envolveram
um procedimento de fading out do controle do pai sobre Júnior, na formulação de novas
regras, e fading indo controle do terapeuta sobre Júnior, na formulação de novas regras.
O procedimento envolveu, portanto, o rompimento do controle do pai sobre o comportamento
de Júnior (tal controle do pai permanecia presente ainda hoje, apesar de o pai ter morrido
há mais de 10 anos, na forma de auto-regras presentes que governavam o comportamento
de Júnior), sem romper a relação afetiva entre Eduardo Júnior e o pai.
R esultados
Eduardo ficou sob controle das descrições feitas pelo terapeuta e sobre as
contingências que prevaleceram durante sua infância, nas inter-relações que teve com o
Todos os domingos - com chuva ou sol - íamos à foira. Uma atividade obrigatória
era comer pastel. Meu pai me dizia: "Peça pastel de queijo. Não sabemos a
qualidade da carne que eles usam. O pastol de palmito tom uma massa de
farinha dentro, nom dá para saber onde está o palmito." Eu, a vida inteira, só comi
pastol de queijo. Elo nem precisava mais me dizer qual pastel pedir: Eu ia sozinho
e pedia de queijo. O pior é que eu achava tudo certo e achava que ou gostava de
pastel de queijo. Ele dizia: "Peça seu pastel." E ou, sem hesitar, pedia de queijo.
Eu me sentia escolhendo o que eu queria. Na verdade, sem perceber, era o que
ele queria. Não me sentia obrigado a pedir o que podia. Também não variava a
escolha. Eu acroditava tanto nele, que só comia pastel de queijo, sem que ele me
mandasse. Queria, às vezes, comer algodão doce, mas fazia "mal para os dentes";
pipoca, mas ele nunca me sugeriu pipoca, nem eu lhe pedi. Eu achava tudo
certo Não percebia que não tinha Iniciativa, que não o contrariava. Achava tudo
certo. Era para ser assim mesmo.
Vou dar um exemplo de como ele me ensinou a pensar primeiro nos outros, sem
poder usar meus critérios de certo-errado. Um domingo, eu entrei em casa atrás
dele e bati a porta da rua (para fechá-la). Ele me disse que eu havia sido sem
educação, porque bati a porta na cara do vizinho. O vizinho, quando entramos em
casa, vinha vindo pela calçada e deveria estar em frente de casa, quando bati a
porta. Meu pai me mandou ir até a casa dele e pedir desculpas pela minha falta
de educação. Achei aquilo exagerado, mas obedeci. Até o vizinho estranhou meu
pedido de desculpas...
Júnior ficou sob controle das funções de tais contingências, que aprendeu na
infância, para produzir as classes de comportamentos e sentimentos que o atormentavam
presentemente. Verbalizou: - Agora sei porque sou assim. É incrível como a compreensão
da origem dos meus problemas e do meu sofrimento me libertou. Hoje penso diferente
sobre minha relação com as pessoas. Sinto-me livre delas. Sinto-me livre dos meus
pensamentos. Esse problema está superado.
As queixas sobre os sintomas físicos não desapareceram e Eduardo continua perseguindo
médicos e exames clínicos e laboratoriais. O progresso, porém, pode ser observado a partir da
verbalização dele: - Às vezes, tenho certeza de que não tenho nada. Meus sintomas pioram
quando não estou bem ou estou preocupado (numa linguagem técnica, quando prevalecem
contingências coercitivas, ele fica mais sob controle de sinais orgânicos, eventualmente produzidos
por tais contingências). Se estou tranqüilo, eles desaparecem. Entendi que tenho que resolver
ou me desligar dos problemas, não dos sintomas. Isso nem sempre consigo na hora.
A fim de sistematizar melhor o que ocorreu com Júnior, pode-se dizer que regras
são descrições de contingências do tipo se... então, emitidas por uma agência controladora
(o pai, no caso de Júnior), e que têm para o ouvinte a função de estimulo discriminativo, ou
seja, segui-las produz conseqüências reforçadoras de duas fontes: da agência controladora
(por ter seguido a regra) e da própria situação, que fornece conseqüências reforçadoras,
desde que a regra seja uma descrição correta da contingência. Assim, por exemplo, quando
uma mãe diz ao filho "Vista o casaco", ela se refere à seguinte contingência: se você vestir
o casaco, então evitará passar frio (reforçamento negativo pela evitação da conseqüência
aversiva natural do frio). Ao mesmo tempo, seguir a regra (equivale a obedecer a mãe) - seja
ela adequada ou não (pode não estar frio) - evita uma punição da mãe pela desobediência
(reforçamento negativo pela evitação de uma conseqüência aversiva arbitrária). As regras
podem descrever contingências reais e, assim, podem ajudar a pessoa a lidar mais
eficientemente com seu ambiente: ela alcançará mais facilmente reforçadores positivos ou
evitará reforçadores negativos, sem ter que entrar em contato com eles. As regras podem
ser arbitrárias e não descrever contingências reais. Se forem seguidas, tornarão as pessoas
alienadas do seu contexto de vida, poderão desenvolver medos, fobias, inseguranças, rituais
etc. desnecessários ou, até mesmo, prejudiciais para o desenvolvimento da pessoa.
Em geral, as regras acabam se tornando auto-regras. Auto-regras são SDs verbais
que a pessoa emite para si mesma e que, como as regras, descrevem uma ou mais
R eferências
Azrin, N. H. (1959). Punishment and recovery during fixed-ratio performance. Journal of the
Experimental Analysis of Behavior, 2, 301-305.
Guilhardi, H. J. (2002). Auto-estima, autoconfiança o responsabilidade. In: M. Z. Brandão, F. C. S.
Conte e S. M. B. Mezzaroba (Orgs.). Comportamento Humano: Tudo (ou quase tudo) que
você gostaria de saber para viver melhor, Santo André: ESETec.
Guilhardi, H. J. (2004), Considerações sobre o papel do terapeuta ao lidar com sentimentos do
cliente. In: M. Z. S. Brandão, F. C. S. Conte, F. S. Brandão, Y. K. Ingberman, V. L. M. Silva e
S. M. Oliani (Orgs.). Sobre Comportamento e Cognição, v. 13. Santo André: ESETec.
Guilhardi, H. J. (2004). Terapia por contingências de reforçamento. In: C. N. de Abrou e H.J.
Guilhardi (Orgs.). Terapia comportamental e cognitivo-comporíamental: práticas clinicas.
São Paulo: Editora Roca.
Conservação de quantidades
discretas em crianças não
conservadoras: Efeitos do Treino
Explícito de conservação na aquisição
da habilidade de conservar1
/aio dos S,in/os C\irnnf
Método
Participantes: Participaram como sujeitos dez crianças, estudantes de pré-escola,
pertencentes à classe sócio-econõmica média e que não possuíam história prévia de
participação em experimentos. O critério de seleção para participação no estudo foi a
ausência da noção de conservação, verificada a partir das tarefas piagetianas de
conservação de quantidades discretas. O sexo e as idades dos sujeitos, à época do
experimento, eram: S1 (Uf, 4a)5; S2 (Cm, 4a:2m); S3 (Rf, 4a:3m); S4 (Jf, 4a:4m); S5
(Gf, 4a:4m); S6 (Ff, 4a:9m); S7 (Ym, 4a:10m); S8 (Rf, 4a:11m); S9 (Tf, 5a:3m); S10 (Lf,
5a: 11 m). A participação das crianças foi expressamente autorizada por seus pais.
Ambiente e Situação Experimental: Após prévio acordo com os pais dos sujeitos e de acordo
com a disponibilidade de tempo e de espaço físico, as sessões experimentais foram
realizadas em um dos seguintes ambientes: sala do serviço de psicologia, na escola
freqüentada pela criança; sala da residência de uma das crianças; sala da residência de
um dos experimentadores. Em todos os casos houve o cuidado na escolha de um
horário em que não houvesse possibilidades de interferência de qualquer natureza,
mantendo-se a sala isolada da presença de outras pessoas estranhas ao experimento.
Durante uma sessão típica, um experimentador e o sujeito sentavam lado a
lado, em uma mesa, ficando o experimentador sempre à direita do sujeito. Outro
experimentador filmava a sessão através de uma filmadora JVC de 12 mm.
Houve duas sessões para cada sujeito. A primeira era composta por pré-testes
de contagem e de conservação; treino das habilidades de conservação; pós-teste de
conservação semelhante ao pré-teste. Na segunda sessão, que ocorria cerca de um mês
4 UmH versôo reduzida do presente relato foi apresentada em Castro, Lima e Carmo (2000).
* Optou-se pela utilização do seguinte código para indicação do sexo e idade dos sujeitos: a primeira letra
refere-se ao prenome; a segunda letra refere-se ao sexo; em seguida temos a idade do sujeito em anos o
meses. Doravante, os sujeitos serâo chamados de S1, S2, S3 ...
(1) Filas com mesma dimensão (2) Espaçando uma das filas
O O O O O
w w w w w
oocoo oocoô
Sobre Comportamento c CoRniçílo 253
Treino de Conservação. Esta etapa consistiu em um ensino explícito das habilidades de
conservação de quantidades discretas. Três aspectos caracterizaram o treino: 1)
Uso de instruções explícitas acerca da tarefa a ser realizada: 2) Feedback verbal
imediato para erros e acertos; 3) Aumento progressivo da quantidade de itens em
cada fileira; 4) A passagem para outras etapas do treino só era possível depois de
vencida a etapa em andamento; 5) Uso de contagem ou de relação termo-a-termo,
dependendo do desempenho do sujeito no pré-teste de contagem: aos que haviam
apresentado contagem em seu repertório, ensinava-se a comparação entre conjuntos
através dessa habilidade; aos que não sabiam contar, ensinava-se a comparação
entre conjuntos através da relação um-para-um.
Os estímulos utilizados foram os mesmos dos pré-testes. A única mudança foi a
introdução de uma folha de papel madeira, medindo 70 x 58 cm, com dois círculos
desenhados sobre a superfície a fim de delimitar simbolicamente dois conjuntos
onde seriam inseridos os estímulos.
Inicialmente, o experimentador transmitia ao sujeito as seguintes instruções: "Agora
nós vamos colocar um outro papel por cima deste (a folha usada no pré-teste). Este
papel tem duas bolas desenhadas. Esta bola aqui é minha (apontando para o círculo
mais próximo de si), e essa aí é a sua bola (apontando para o círculo mais próximo
do sujeito). Agora nós vamos usar novamente as fichinhas". As fichas permaneciam
amontoadas próximas aos círculos. A seguir, o experimentador pedia que o sujeito
colocasse uma ficha em um dos círculos e perguntava: "em qual destas bolas tem
mais fichas?". Caso o sujeito acertasse, recebia um elogio verbal. O experimentador,
então, dizia: "você vai me dizer agora o que eu faço para que esta outra bola fique
com o mesmo número de fichinhas que a outra". Caso acertasse, elogio verbal era
liberado. Tanto na primeira quanto ria segunda solicitação, os erros eram
consequenciados negativamente através de feedback verbal e, em seguida,
apresentava-se novamente a questão. Estas tarefas eram repetidas até que houvesse
em cada círculo um total de cinco fichas. O critério de aumento de fichas era de dois
acertos consecutivos para a quantidade em vigor.
Um procedimento de ajuda era utilizado caso o sujeito demonstrasse incompreensão
da tarefa: contagem ou relação um-para-um. Na contagem, solicitava-se ao sujeito
que contasse as fichas de um dos círculos e, depois as fichas do outro círculo. A
seguir, perguntava-se: “quantas fichinhas têm aqui? (apontando para um dos círculos).
E aqui? (apontando para o outro círculo). Caso o sujeito verbalizasse a quantidade
incorreta, o experimentador dizia: "Não. Conte novamente, desta vez prestando mais
atenção". Assim que o sujeito verbalizasse corretamente as quantidades, era solicitado
para que dissesse se algum dos círculos possuía mais fichas ou se eram iguais em
quantidade. Na relação um-para-um, o experimentador apontava para uma ficha de
um dos círculos e, em seguida, arrastava-a lentamente para o espaço entre os círculos.
Depois fazia o mesmo procedimento com a ficha do outro círculo que se encontrava
na mesma direção da primeira, de tal forma que as fichas ficavam bastante próximas,
formando pares. Na medida em que arrastava as fichas, o experimentador dizia:
"esta (apontando para uma das fichas) casa com esta (apontando para a outra ficha)".
Tanto na contagem quanto na relação termo-a-termo, o experimentador, esvanecia
sua ajuda à medida que o sujeito demonstrasse contar ou relacionar os estímulos
sem precisar das instruções e demonstrações do experimentador.
Resultados e Discussão.
A Figura 1 apresenta um gráfico contendo os desempenhos das crianças em
cada uma das etapas de teste: pré-testes de conservação; pós-teste de conservação;
follow-up (seguimento).
Como pode ser visto,
nenhum dos sujeitos
apresentava a noção de
conservação no início do
• 1*1*-1 W lf
experimento. Eram, segundo a
■ l ’ i S a - l 'm c
linguagem piagetiana, sujeitos
□ l olim <(lp
não-conservadores e de acordo
com a faixa etária pertenciam
ao período ou estágio das
operações concretas. O gráfico
permite uma comparação em
F igura 1 Ruaultnrio comparativo Intra e Intorm ipltr» dorant« aa ntapaa
termos de sujeito como seu
(I prA-tenln, pôs toatci o loKow up
h próprio controle e, também,
uma comparação intersujeitos.
Note-se que S1, S4, S5 e S6
não conseguiram realizar adequadamente nenhuma das tarefas propostas no pré-teste,
ficando o desempenho dos demais participantes abaixo do esperado. Apenas S2, S4 e S7
apresentavam a contagem em seus repertórios no início do experimento (pré-teste de
contagem); entretanto tal habilidade não foi utilizada durante o pré-teste de conservação.
Durante o treino, o participante S9 apresentou dificuldades em seguir os comandos e
exemplos dados. Os demais sujeitos seguiram adequadamente os comandos e
repetiram os exemplos dados pelo experimentador. Dois participantes apresentaram
Referências
Cowan, R.; Foster, C. M.; Al-lubaidi, A. S. (1993). Encouraging children to count. British Journal of
Developmental Psychology. 1, 411-420.
Fuson, K. C. (1988). Children's counting and concept of number. New York: Springer Verlag.
Gelman, R.; Gallistel, C. R. (1978). The child's understanding of number. Massachussets: Harvard
Press.
Halford, G.; Boyle, F. M. (1985). Do young children understand conservation of number? Child
Development, 56, 165-176.
Nunes, T; Bryant, P. (1997). Crianças fazendo matemática. Porto Alegre: ArtMod.
Piaget, J; Szeminska, A. (1964). A gênese do número na criança. 3 ed. Rio de Janeiro: Zahar.
(Original francês de 1941).
Resnick, L. B. (1988). Developing mathematical knowledge. American Psychologist, 44, 162-169.
S o b re C o m p o r l.im c n lo c C o fliilç Jo
Capítulo 24
Variação e seleção
Comportamentos mais adaptativos são assim considerados em função das
conseqüências que produzem em determinadas situações. Uma ação pode ser adaptativa
1 Vandenberghe utiliza o termo Análise Clinica do Comportamento para o mesmo termo referido nesle texto:
Clinicai Behavlor Analysis.
Análise Histórica
Embora a análise das contingências atuais seja importante para compreender as
variáveis mantenedoras dos comportamentos, elas não explicam como estas contingências
passaram a exercer controle. Perkins, Hackbert e Dougher (2000) atentam para o fato de
que isto é sempre uma questão relevante para os clientes e a respostas podem ter benefícios
terapêuticos importantes. Por exemplo, ao analisar as condições de vida de um cliente
que fica calado em várias situações, pode-se identificar que essas atitudes são muito
funcionais no seu emprego e que também trazem benefícios na relação com a esposa e a
família, No entanto, a análise baseada apenas nas contingências atuais poderia ser
insuficiente para responder questionamentos do tipo: os comportamentos foram adquiridos
nestes ambientes ou já estão presentes há muito tempo em sua vida? Qual a probabilidade
de ocorrência destes em situações diferentes? Houve situações em que não ocorreram?
Quais contextos favoreceram a aquisição? Pessoas do seu trabalho que estiveram nas
mesmas condições ao longo dos anos desenvolveram estas características? Por que
alguns não passaram a apresentá-las? Qual a função histórica destes comportamentos?
Em alguns modelos comportamentais tradicionais, a ênfase das intervenções está na
análise das condições atuais em que o indivíduo se encontra, havendo pouca investigação nas
condições passadas, como no caso das terapias oognitivo-comportamentais (Hawton, Salkovskis,
Kirk e Clark, 1997) ou no uso de técnicas de autocontrole (Rimm & Masters, 1983, cap. 10).
Mas, se o objetivo é intervir nas contingências atuais, até que ponto o conhecimento
das variáveis históricas poderia favorecer uma proposta de mudança? O que fazer a partir do
autoconhecimento histórico? Para Skinner, (1953, 1993) saber de quais variáveis nossos
comportamentos são função, deixa-nos numa posição privilegiada. No entanto, isto não implicaria
necessariamente em se ter capacidade para mudar atitudes ou sentimentos próprios.
1Ambientes em que novas respostas tôm pouca probabilidade de reforçamento ou elevadas chances de punição.
4 Elevado custo de resposta para a mudança; baixo treino em auto controle; poucos reforçadores sinalizados;
enfim, operações estabelecedoras insuficientes.
R aciocínio c lín ic o
Um analista clínico do comportamento, ajuda o seu cliente a entender o por què
da sua maneira de ser. As interpretações devem se basear na história de reforçamento e
nas variáveis de controle atuais (Kohlenberg e Tsai, 1991). Alcançada esta etapa, o cliente
já está em um nivel de autoconhecimento diferenciado e muito menos alienado sobre os
determinantes dos seus comportamentos, além de raciocinar mais em termos
funcionalistas. Nesta etapa, é muito comum eíe apresentar as seguintes indagações:
"Faz muito sentido tudo isto ... como eu me comporto, a relação com minha história e a
vida que eu estou levando atualmente. ... mas, e agora? O que eu faço para mudar?".
Logicamente que esta é uma pergunta bem pertinente e deverá levar o terapeuta a
apresentar várias propostas, tal como apresentado no inicio deste texto.
O raciocínio aqui proposto será apresentado seguindo um exemplo clínico.
- Susi5é uma mulher que está tendo problemas de relacionamento no trabalho e
também em algumas relações mais próximas incluindo marido, filhos e amigos. Sente-se
esgotada emocionalmente e acha que isto não terá fim, pois não vê solução para seus
conflitos. Ao buscar ajuda módica foi diagnosticada como tendo o transtorno obsessivo-
compulsivo. O processo terapêutico iniciou-se com a identificação de várias características
comuns nessa pessoa:
Padrões comportamentais:
forte controle por regras do tipo "quando começo uma coisa tenho que ir até o final", ‘lenho
sempre que dar o melhor de mim", "as coisas têm sempre que ser muito bem feitas":
é inflexível em muitas situações da vida: pontos de vista, atitudes etc.
• é extremamente produtiva:
responsabiliza-se por tudo;
busca constantemente o autocontrole, incluindo pensamentos e sentimentos;
8Nome fictício.
Contingências atuais
Vida profissional com muitas exigências, favorecendo a dedicação constante. Esta
dedicação leva a bons resultados, que por sua vez contribuem para o surgimento de
novas exigências.
Em casa e no trabalho assume muitas coisas e as pessoas já estão acostumadas
com isso. "Ninguém sabe fazer melhor". Isto torna as pessoas destes ambientes
mais acomodadas ou passivas, o que aumenta a sua exigência de trabalho.
Os contextos em que vive são sinalizadores constantes de ameaças relacionadas
ao não ser eficiente, ser improdutiva, não ter sucesso, não dar conta do recado,
decepcionar a si e a todos. Este controle aversivo reforça constantemente repertórios
de fuga e esquiva, como atitudes obsessivas e extremas.
Seus comportamentos são reforçados positivamente com êxitos e admirações, e
negativamente ao evitar as ameaças.
263
Na concepção funcionalista, a utilidade de um comportamento varia de acordo
com o contexto. Uma ação pode produzir boas conseqüências numa situação e não em
outra; pode permitir acesso a certos reforçadores positivos e não a outros; pode envolver
reforçamento a curto prazo e punição a longo; pode produzir reforçamento e punição ao
mesmo tempo, dependendo da situação etc. A idéia de adequação vai depender de uma
ampla análise das conseqüências que o responder produz. No exemplo citado, os
comportamentos de Susi produzem simultaneamente reforçamento e punição. Os contatos
com as condições aversivas têm sido freqüentes e intensos (coluna mais à direita, sobre
não funcionalidade), o que leva a cliente a buscar ajuda e ter muita motivação para mudar.
Não ó por falta de vontade que Susi não muda'*.
As interpretações baseadas nas contingências, por si só, já produzem alivio,
favorecem a motivação para mudança e ajudariam Susi a raciocinar em termos de
contingências (Perkins, Hackbert e Dougher, 2000). No entanto, Susi tem fortes' hábitos,
que sempre foram funcionais para produzir reforçamento nos contextos em que viveu e vive.
É difícil abrir mão dos reforçadores que estas ações produzem e também muito aversivo
entrar em contato com situações incompletas, imperfeitas etc. Entender este processo não
implica, necessariamente, em mudanças nas contingências. Então, como mudar?
Se alguns ambientes vividos por Susi ao longo da sua vida, muitos das quais
ainda continuam presentes, foram os grandes responsáveis pelas contingências que
determinaram a forma como se comporta atualmente, faz-se necessário novos ambientes,
qualitativamente diferentes das que ela viveu. Algumas vivências (contingências) passadas,
podem ser esquematizadas da seguinte forma:
Conseqüências
Antecedentes Resposta Reforçamento Reforçamento
positivo negativo
Cobrança, pedido dos
Execução da tarefa Aceitação Náo era punida
_____ pais______
Notas altas, m elhor
Não frustrava
Exigências da escola: aluna, admiração,
Dedicação, disciplina expectativas dos
trabalhos, p ro v a s ,... controle sobre o
outros e de si
resultado
Expectativas dos pais, Forte dedicação e Adm iração o
Não frustrá-los
amigos, pa re n te s,... esforço reconhecimento
Responsabilidades Não era repreendida,
Exercer forte controle Êxito, valorização,
com Irmãos e tarefas não decepcionava os
sobre as coisas forte dom ínio
de casa pais ___
Verbal: "regras de boa
conduta Valorização, Não era punida,
Seguimento das regras
responsabilizando C bom desem penho criticada
pelas j» nseq üê ncia s"
Desafios constantes Ser detalhista, Cum pria a tarefa, não
Êxito, sucesso
persistente, obsessiva se punia
A história de vida de Susi fez com que ela desenvolvesse características que as
colocava em situações que, por sua vez, favoreciam a manutenção destas mesmas
características. Está formado um círculo vicioso, conforme o esquema a seguir:
* Explicação comum a partir de concepções internalistas que dizem que para mudar é preciso o cliente
querer.
1 Forte no sentido de elevada probabilidade de ocorrência destas respostas em determinadas situações.
Levam-na m reforçam
\7
Contextos com muitas exigências,
responsabilidades, poder e domínio
sobre os outros, competitividade etc.
S u perprote ção
Alguns pais ou responsáveis educam seus filhos com muito esmero e dedicação.
Isto pode trazer muitos benefícios relacionados á auto-estima e motivação para a vida.
Algumas vezes esta dedicação é excessiva: dentro daquela máxima popular de educação
"em que sempre se leva o peixe na boca" e não se ensina "a pescar", os filhos se acostumam
a receber muitas coisas sem o mínimo de esforço, tendo os pais constantemente resolvendo
os seus (dos filhos) problemas, decidindo por eles o que fazer e tomando a iniciativa em
seus lugares. Crescem acostumados a conseguir o que querem através de pedidos,
solicitações e reclamações. Vivenciar muito estes contextos tende a desenvolver
características como: comodismo; dependência; dificuldade em decidir e resolver problemas;
facilidade em desistir diante de empecilhos; tendência a culpar os outros quando algo está
errado; postura passiva diante da vida; dificuldade em assumir responsabilidades; esquiva-
se de problemas a partir de queixas de sofrimento, simulando ou acentuando doenças etc.
,u Este processo também pode ser entendido como contracondicionamento respondente (Baldwln & Baldwin,
1986).
" Saber declarativo ô o saber sobre, e o conhecimento operacional é o saber como. (Ryle, 1984; Baum,
1999).
Baixa auto-estim a
Imagine uma pessoa que tenha vivenciado muitas situações de rejeição e desprezo
desde a sua infância. Considere que isto aconteceu principalmente no seio familiar.
Provavelmente esta pessoa desenvolveu uma forte sensação de menos valia, a conhecida
baixa auto-estima. Em alguns casos o reforço social só ocorreu ao se comportar tal como
os outros gostariam ou por fazer coisas para agradá-los. Nisto resultou, entre outras
características, a prestatividade constante, a inassertividade em relações mais próximas
e a insegurança afetiva. O reforço social provavelmente será seu reforçador mais poderoso,
sendo preponderante em situações de conflito, como quando tem de escolher entre o que
agrada aos outros ou a si. O problema é que suas características, com uma longa história
de reforçamento, ocorrem automaticamente nas relações interpessoais. Muitas vezes
não consegue estar junto às pessoas sem estar sendo prestativa, acolhedora e dedicada.
Não se comportar assim é muito aversivo e leva-a a esquivar-se justamente da situação
que poderia mudar todo o quadro: vivenciar relações em que recebe afeto, atenção e
apreço, sem ter que fazer muito para obtê-los. Esta situação teria sido mais fácil de
ocorrer no contexto familiar original.
Em relações amorosas, sua dedicação excessiva muitas vezes produz desgastes
na relação e afeta a sensibilidade do(a) parceiro(a) que termina rejeitando-a e acabando
com a relação. Isto contribui ainda mais para a baixa auto-estima. Fazer constantemente
pelo outro, mesmo nas relações não amorosas, favorece o comodismo do(a) mesmo(a),
dificultando atitudes de dedicação, que por sua vez, manterá o quadro de baixa auto-
valorização. Por isso algumas pessoas passam a vida inteira nestas condições, mesmo
sendo valorizadas em alguns contextos pelo que fazem.
Inabilidades sociais
Muitas pessoas podem ter dificuldades nas relações sociais (Del Prette e Del Prette,
2002). Estas dificuldades impedem o acesso aos inúmeros reforçadores provenientes do contato
com outras pessoas e geram sofrimentos. Del Prette afirma que o processo de socialização
decorre de diferentes sistemas de interação: família, companheiros, escola, outros grupos. Os
comportamentos que possibilitam interações satisfatórias estão diretamente relacionados à
história de vida. Este é um dado importante, pessoas com dificuldades de expressão social
normalmente viveram em ambientes não estimulantes verbalmente, repressores. inadequados
como modelo ou com reforçamentos de comportamentos inadequados para outros ambientes
que não o familiar (e.g. conseguir as coisas gritando).
A identificação dessas deficiências ou excessos comportamentais não deve ocorrer
sem um acompanhamento histórico e contextuai em que os mesmos foram adquiridos. Da
mesma forma, questionam-se mudanças a partir de conselhos sobre o que fazer em
determinada situação ou por apresentações de modelos ao cliente, é necessária uma prática
adequada, com contingências favoráveis. O ensaio comportamental, uma técnica tradicional
na terapia comportamental (Rimm & Masters, 1983) produz bons resultados, mas corre o
risco de ser desenvolvido em um contexto muito diferente de onde há necessidade que
ocorra, além de poder incluir alguns reforçamentos arbitrários por parte do terapeuta,
dificultando o processo de generalização. A FAP (Kohlenberg e Tsai, 1991) apresenta um
12Embora produza ótimos resultados para o desenvolvimento da auto-estima, devido a uma relação autêntica
de aceitação do cliente independentemente dos seus comportamentos, a relação terapêutica não deixa de
ser uma Interação condicional, por ser profissional. Ou seja, é paga e ocorre apenas no tempo da sessão.
,J Costumo dlzor aos meus clientes que precisamos de pessoas que também precisem da gente. Relaçfies
em que tenho que me esforçar multo para ser “amado", afetam negativamente a auto-estlma e normalmente
geram insatisfação.
O utros processos:
Os exemplos citados estão longe de esgotar as inúmeras possibilidades de análise
que podem ser feitas em cada caso clínico. São restritos a algumas condições e tem valor
ilustrativo da importância que as inserções em certos ambientes podem ter como recursos
terapêuticos. Por exemplo, um ciumento e possessivo poderia experimentar mais situações
em que a partilha fosse inevitável e de preferência reforçada; alguém inseguro exploraria
situações com boa possibilidade de êxito, aumentando as dificuldades gradativamente;
uma pessoa desmotivada poderia inserir-se em contextos que funcionem como operações
estabelecedoras para diversos aspectos e assim por diante. Outras interpretações poderiam
ser feitas seguindo esta linha de análise.
Conclusão
A abordagem aqui empregada se assemelha ao raciocínio skinneriano aplicado
ao planejamento cultural. Se as contingências modelam as práticas culturais, que por sua
vez atuam diretamente na formação do indivíduo, por que não interferir e planejá-las, ao
invés de deixá-las ao acaso. Isto torna o ser humano mais próximo do que se chama
liberdade e autonomia, dando ao mesmo mais poder de interferir no seu futuro.
"Se queremos que a espécie sobreviva, é o mundo fizemos que temos que
mudar" (Skinner, 1987/1989, p.70, em Micholotto, 1997).
Este raciocínio se aplica perfeitamente ao plano individual: se quisermos que nossa
vida mude, é o mundo em que vivemos que devemos mudar. Assim, como foi necessário
conhecer a história da espécie para compreender a sua formação biológica, e conhecer a
história da humanidade ou das práticas culturais para compreender por que as sociedades
são assim constituídas, então precisamos conhecer nossa história de vida (i.e. história de
contingências) para sabermos por que somos do jeito quo somos. No entanto, esta análise
vai além. Este conhecimento dá poderes ao homem de interferir na sua cultura e,
especificamente, em sua vida particular, por meio de um planejamento adequado das
contingências de vida em que está inserido. Uma passagem de Skinner (1967, em 0'Donahue
e Ferguson, 2001) ilustra a visão pragmática que a análise funcional permite14:
R eferências
Abreu-Rodrigues, J. e Sanabio-Heck, E. T. (2004). Instruções e auto-instruções. contribuições
da pesquisa básica. Em Abreu, C. N. e Guilhardi, H. J. (org.). Terapia Comportamental e
cognitivo comporamental - Práticas clinicas. Sâo Paulo: Roca.
Balwin, J. D. e Baldwin. J. I. (1986) Behavior principles in everyday life. New Jersey: Prentice Hall.
Bandura, A. (1979). Modificação do comportamento. Rio de Janeiro: Interamericana.
Baum, W. (1999). Compreender o behaviorismo. Porto Alegre: Artmed.
Berns, S.; Jacobson, N S. e Christensen, A. (2000). Marital Problems. In Dougher, M, J. (ed.).
Clinical Behavior Analysis. Reno, Nevada: Context Press.
Catania, A. C. (1998, 1979). Learning. New Jersey: Prentice Hall.
Chiesa, M. (1994). Radical Behaviorism: The philosophy and the science. Boston: Authors
Cooperative.
Cirino, S. (2001). O quo ó história comportamental. Em Guilhardi, H. J,; Madi, M.B.B.;Queiroz, P. P.;
Scoz, M, C. (Org.). Sobre Comportamento e Cogniçáo, vol. 7, p. 153-158. Santo André: Esetec,
m I have, I think, made good of my analysis of behavior In managing my own life, particularly my
own verbal behavior. Can psychoanalysts and the cognitive and humanistic psychologists say
as much? Did Freud ever report the use of his theory to influence his own thinking? Are
cognitive psychologists particularly knowledgeable about knowledge? Are humanistic
psychologists more effective in helping other people because of their theories?
1fl Skinner, 1967", em Boring & Lindzey - orgs. - A history of psychology in atobiogmphy vol. 5, p. 75.
2. Descrição do Caso
Dna. lida1, uma mulher de 40 ar.os de idade, casada, dona de casa, analfabeta,
tem duas filhas adolescentes.
Sua queixa inicial ora de que se preocupava muito com a pele do rosto. Dizia que
enxergava muitas rugas, uma “coisera" na pele, vendo-se como um "monstro" (SIC).
Começou a machucar a pele com um pano que esfregava em frente ao espelho, quando
via as rugas, tentando tirá-las, por isso, passou a evitar o espelho.
Nào, nào fico mais porque agora eu tenho medo do espelho. Sabe o que
eu faço para limpar o banheiro? Eu tenho até vergonha de falar, eu abro o espelho,
pra mim não fícar na frente do espelho, eu não consigo. (Dna. lida)
Queixava-se de não conseguir parar de falar e se lamentar sobre as marcas que
via no rosto. Sentia muita tristeza, chorava, tinha insônia, não tinha vontade de fazer
nada, pensava e falava em morrer.
Ah, eu fico falando: 'o que eu vou fazer agora, porque eu fui passar esse
creme na peie? Fico falando assim, pra pessoa que está junto (...) Me lamentando.
(...) Eu tenho que ficar falando, se eu ficar parada ai é pior, eu tenho que ficar
conversando e falando comigo mesma. (Dna. lida)
O pai era enjoado, bravo. Nunca sentou para conversar. Sentia falta, pois qualquer
coisa já ficava bravo (...). Ah, eu só me lembro assim, que quando eu era mais
nova o meu pai já ia falando com tapa, ele não escolhia lugar para bater, era na
cabeça mesmo, onde pegasse. O meu pai não era muito de conversar: ‘é assim,
assim e assim', ele ia dando os murros dele. Eu falo pra você que ele era bravo.
(Dna. lida)
1Nome fictício.
Ah, bem não fazia né, porque eu era assim, eu limpava aqui, pra mim já tava na
hora de limpar de novo, encafifava sabe? (...) Limpei ali, parece que já ta cheio de
poeira de novo, ia de novo, passava o pano de novo. (Dna. lida).
Conversar assim aberto com a pessoa eu não converso, eu fíco sempre com a mão
assim (mostra com a mão na frente do rosto), segurando assim (segura o queixo
com a mão na frente), sinto mal de ficar assim, sem a mào na frente. (Dna. lida)
Vocô não vè?(...) O pior ó que tem esse creme em todas as farmácias, vocô já viu?
Será que só o meu rosto foi estragar?(...) Eu vejo coisa, nâo sei se você vê uma
coisera na minha pele, como ó que eu vejo, dá pra você ver? (Dna lida)
Com o início das preocupações com as marcas no rosto começou a se isolar
socialmente.
Ê eu tenho vergonha de sair, que nem, a minha menina me chama para sair e eu nâo
saio, às vezes, eu deixo de sair com ela, às vezes, eu preciso sair com ela e não saio,
fico escondida, quando as amigas dela vêem em casa, eu pego e fico escondida no
quarto. (...) Porque eu tenho vergonha, vergonha das marcas no rosto. Nem mais na
casa da minha mãe, que eu ia sempre, eu não vou mais. (Dna. lida).
Então, tudo isso fica na minha cabeça, coisa que não tem nada a ver, você acha
que eu é que to pensando errado? (Dna. lida)
Dna. lida tinha poucas amizades. Devido à falta de contato com pessoas e lugares
diferentes, desde a infância e adolescência, não teve oportunidades de desenvolver
comportamentos socialmente habilidosos.
Nunca fui assim de ter muita amiga, tambóm não gostava de sair, eu era meio
vergonhosa de sair. (Dna. lida)
Quanto aos relacionamentos familiares, foram coletadas algumas informações que
demonstraram contingências coercitivas e a ausência de comportamentos de contra-controle.
Tinha uma relação de submissão em relação ao marido. Não brigavam, porém,
tinha que estar sempre pensando no que ia dizer e fazer, pois dependendo do que dizia ou
fazia, ele ficava quieto, parava de falar com ela e só voltava a conversar depois de uns dois
dias. Diante desta situação ela tentava explicar, conversar, mas era inútil. Para evitar que o
marido ficasse bravo, ela tomava uma série de cuidados, como por exemplo, ligava para a
filha mais velha vir embora logo, caso estivesse ficando tarde, pois sabia que o marido iria
Não pode tirar ele do sério, tem que saber levar, tem uma natureza difícil. Eu nào
tenho nada pra falar dele, mas tem que saber levar (Dna.llda).
Por outro lado, dizia que ele tinha muitas qualidades, como: não reclamava do
barulho quando estava dormindo, levava café da manhã para ela na cama, etc. A cliente
demonstrava ter pouca discriminação em relação às contingências do relacionamento:
Nunca brigamos, o problema tá comigo, porque ele nào faz nada de errado, vem
do serviço pra casa. Ele nào é daquelas homens que ficam em bar. Também è
um ótimo pai. (Dna. lida)
Dna. lida era uma mãe bastante dedicada, demonstrava preocupar-se com horários
a serem cumpridos, com os estudos, com a reputação, com o futuro das meninas.
Conversava e tinha bom relacionamento com a filha mais nova, que lhe fazia companhia, a
maior parte do tempo. Com a filha mais velha a relação era mais difícil, pois ela era
"irritada” (SIC) não ouvia a mãe e gritava com ela, antes que terminasse de falar. Diante
dos gritos da filha Dna. lida se omitia, ficava quieta, justificando:
Entào, eu deixo para lá um pouco, para ela sentir na pele como não se deve tratar
uma mãe (Dna lida).
Muitas vezes a cliente até evitava conversar com a filha. Por outro lado, elogiava a
filha, dizia que ela era inteligente, sabia conversar sobre qualquer assunto, que todo mundo
gostava dela.
Antes de começar com as preocupações, Dna. lida fazia o serviço doméstico para
ajudar a mãe, enquanto as irmãs não ajudavam, porque trabalhavam. Ficava preocupada se
as irmãs iriam julgá-ía por eia não ter ajudado mais a mãe, porém sabia que fazia muito mais
que elas e considerava isso injusto, mas nunca expressava suas opiniões perante a família.
Isso mesmo, a opinião da Sra. também é muito importante, gostoi de ver a Sra.
se colocar, (terapeuta)
Paralelamente, quando a cliente emitia o comportamento de pedir confirmações de
suas opiniões, a terapeuta, no início devolvia suas perguntas, depois começou a nào responder
e a mudar de assunto, visando a extinção deste comportamento. Um exemplo de interação:
O que a Sra. acha? Mais importante do que a minha opinião, è a opinião da Sra
(terapeuta)
Estes procedimentos estão de acordo com as sugestões de Kohlenberg e Tsai (2001):
Eu não vou mais ficar respondendo a essas suas perguntas sobre o rosto. Gostaria
que a Sra. começasse a perceber como vai ser bom eu não responder, pois, com
o tempo, a Sra vai ficar menos preocupada com isso e poderemos conversar
sobre outras coisas. Também gostaria que a Sra. tentasse nâo ficar perguntando
aos outros sobre o rosto, nem ao seu marido, nem às suas filhas, para vermos se
vai melhorando, se vai ficando menos preocupada depois de algum tempo.
(terapeuta)
A terapeuta também deu instruções para a cliente procurar evitar passar qualquer
coisa no rosto e olhar-se no espelho, mais do que o necessário, que foi estipulado em
duas vezes por dia, na hora em que se levantava, para lavar o rosto, e depois que tomava
banho, para pentear o cabelo. Para Baum (1994) todas as instruções são regras e encaixam-
se na categoria de estímulos discriminativos verbais que indicam uma contingência.
3.3. Resultados
Outro dia ela (a cunhada) jogou na m/nha cara, hoje, eu è que jogo na cara dela.
O meu marido, quase ajoelhou no chão de tanto que gostou do que eu falei. Disse
que finalmente eu estou mudando, estou aprendendo a me defender. (Dna. lida)
Dna. lida passou a discriminar algumas contingências no relacionamento com o marido
e a filha mais velha e a contra-controlar. Ela explicou ao marido que ele ficava "emburrado"
(SIC) muito fácil e que isso a incomodava. Obteve reforços com este comportamento de
conversar e expor seus sentimentos, pois o marido deixou de apresentar os comportamentos
de retirada de atenção, após situações, em que normalmente faria. Ela verbalizou:
Sabe J. (terapeuta), a gente nâo pode ficar guardando com a gente, nâo tá certo
a pessoa ficar emburrada. (Dna. lida)
Em relação à filha, passou a consequénciar seus comportamentos
inadequados, retirando estímulos reforçadores (punição negativa), como por exemplo, não
deixando o jantar pronto para ela, o que trouxe bons resultados nos comportamentos da
filha para com a cliente. É importante ressaltar que se optou por ensinar a cliente a usar a
punição como contra-controle, porque a extinção, quando deixava de falar com a filha
Agora eu levanto de manhã e estou mais feliz, o dia está mais bonito! (Dna. lida)
4. Conclusões
A terapeuta procurou ampliar o repertório geral da cliente. Isto foi feito através da
modelagem dos comportamentos na própria sessão e do aumento da discriminação das
contingências em operação. Dna. lida ia até as situações naturais, realizava as mudanças
comportamentais e recebia conseqüências diferentes. Ao voltar à sessão e relatar seus
comportamentos a terapeuta liberava conseqüências positivas e o repertório da cliente ia
sendo ampliado. Entretanto, reforçar o comportamento verbal durante as sessões não é
suficiente para que os comportamentos sejam mantidos em ambiente natural (Delitti,
2003). Isto vai depender das conseqüências naturais obtidas com estes comportamentos.
Os comportamentos incompatíveis aos característicos do TDC, no caso de Dna. lida,
foram generalizados para fora das sessões, pois passaram a ser reforçados em ambiente
natural. O marido, de quem antes recebia atenção com os comportamentos-problema,
passou a reforçar positivamente os comportamentos incompatíveis. Embora as classes
de comportamento características do TDC não tenham sido diretamente alteradas, elas
diminuíram em freqüência, como conseqüência da alteração dos comportamentos
incompatíveis a elas, estes sim diretamente manejados durante as sessões.
R eferências
Allen, A., & Hollander, E. (2000). Body Dysmorphic Disorder. The Psychiatric Clinics of North
America, 23(3): 617-628.
Associação Psiquiátrica Americana (APA). (1995). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais (DSM-IV). D. Batista (trad.) 4*ed. Porto Alegre; Artes Módicas.
Banaco, R.A. (1999). Técnicas Cognitivo-Comportamcntais e Análise Funcional. In: R.R.Kerbauy,
R.C.Wielenska. (org.). Sobre Comportamento e Cognição: Psicologia comportamental
e cognitiva: da reflexão teórica à adversidade na aplicação, 4, (pp. 75-82). Santo André:
ESETec Editores Associados.
Banaco, R.A. (2001a). Alternativas nâo Aversivas para o Tratamento de Problemas de Ansiedade.
In: M.L.Marinho, & V.Caballo (org.). Psicologia Clinica e da Saúde. Londrina: UEL.
Banaco, R.A. (2001b). Auto-Regras e Patologia Comportamental. In: D.R.Zamignani (org.). Sobre
Comportamento e Cognição: A aplicação da análise do comportamento e da terapia
*Psicóloga, Doutoranda em Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
botxhiffiiiQl.cQm -br
O presente trabalho é baseado na Dissertação de Mestrado da autora (2002) sob orientação da Profa. Dra.
Melania Moroz apresentado na mesa-redonda intitulada "Contribuições Convergentes da Análise do
Comportamento na Educação" no XIII Encontro da ABPMC / II ABA - Campinas. Setembro de 2004.
Explica a matéria. Aluna convorsa com colega. Olha para ela e diz: "Tchau, nos
vemos na próxima aula".
Olha para ela e diz: “Tchau, nos Aluna levanta e sal da sala. Continua a explicação da matéria.
vemos na próxima aula".
R esultados e D iscussão
A seguir, são apresentados os resultados e a discussão a respeito dos
comportamentos apontados pela literatura como indisciplina nas aulas dos professores
Francisco, Antônio e Sílvia.
Considerações Finais
Tomando-se como referência a literatura (Ivanoff, 1988; FreHer, 2000) existem vários
comportamentos considerados, pelos professores, como indisciplina: conversar (em tom
normal ou elevado); gritar (individual ou com os colegas); cantar (individual ou com os colegas);
brincar (imitar animais, caçoar, dentre outros); movimentar-se (sair do lugar, correr, pular);
responder ao professor (desobedecer, contrapor-se oralmente); agredir fisicamente ou
verbalmente (brigar, executar brincadeiras de mau gosto a pessoas ou ao ambiente físico,
xingar, danificar objetos ou o prédio da escola); roubar; mentir; fazer atividade diferente da
proposta (mexer em agenda, usar walkman); perguntar sobre outros assuntos. De acordo
com os dados obtidos no presente trabalho, verificou-se que apenas alguns desses
comportamentos ocorreram em sala de aula: movimentação, contraposição ao professor,
agressão verbal ao professor, execução de atividade diferente da proposta e conversa.
Como os resultados apontaram, as conseqüências emitidas pelos professores
eram de natureza aversiva e, nesse aspecto, há concordância com a literatura (Estrela,
1992; Vasconcellos, 1993; Araújo, 1996; Jover, 1998; Zanotto, Moroz E Gióia, 2000; Bibou-
nakou, 2000) que destaca o uso de estratégias coercitivas dos professores ao lidarem
com os comportamentos considerados indisciplina. De acordo com os autores, os
professores acabam agindo de diferentes formas, utilizando castigos (às vezes físico),
retirada de algo valioso para o aluno (baralho, revista), ameaça, ironia, expulsão, bilhete
para os pais, redução de nota, gritos, repreensões, entre outros. De acordo com os dados,
ao elencarmos as conseqüências emitidas pelos professores em relação ao comportamento
de indisciplina, alguns desses recursos puderam ser vistos, inclusive a expulsão. O uso
da coerção, no contexto escolar, é uma prática antiga. Skinner (1975) faz referência à
Antiguidade, quando estudar era acompanhado de grosserias e de brutalidades. Segundo
o autor, os educadores da época defendiam o uso da vara de marmelo como um poderoso
coadjuvante da educação, sendo empregados a força e até mesmo a crueldade.
(...) O jovem professor pode começar sua carreira com uma atitude favorável para
com a sua profissão e para com os seus alunos, apenas para encontrar-se na
posição de quem desempenha um papel consistentemente inamistoso, na medida
que o repertório do comportamento agressivo vai sendo repetidamente reforçado.
É uma perspectiva quo não atrai nem segura bons professores (...) (1975, p.95).
Assim, de acordo com o autor, podemos considerar que as conseqüências do uso do
controle aversivo são capazes não só de provocar subprodutos indesejáveis nos alunos, mas
também nos próprios professores. A desistência e a falta de interesse pela profissão podem
ser geradas por essas condições aversivas de ensino, sem considerar o fato de que a aplicação
de técnicas aversivas chega a ser impeditiva também para o bom relacionamento entre professor
e aluno. Além de se opor a práticas coercitivas, deixando claro os seus sub-produtos indesejáveis,
Skinner (1975) também mostra que é um engano pensar que, ao eliminar os comportamentos
inadequados, ensinam-se os adequados. De acordo com o autor:
(...) Não se faz com que um estudante seja aplicado punindo a preguiça, ou
corajoso punindo a covardia, ou interessado no trabalho punindo a indiferença
(...) (1975, p.141).
De acordo com o autor, o controle aversivo não tem poderes de gerar os
comportamentos desejados. Como afirma Skinner (1995): (...) Retornar ao controle punitivo
é admitir que fracassamos na resolução do problema central da educação (...) (p.137).
Essa é uma das sugestões que consideramos importante para a superação dos
problemas de indisciplina - agir em função do comportamento adequado do aluno,
R eferências
Amado, J. da S. (1998). Pedagogia e actuação disciplinar na aula. Revista Portuguesa de
Educação: Universidade do Minho, 11 (2), 35-41.
Araújo, U. F. (1996). "Moralidade o indisciplina: uma leitura possível a partir do referencial
piagotiano". In: Aquino, J. G. (org). Indisciplina na escola - Alternativas teóricas e práticas.
(pp. 103-116). São Paulo, Summus editorial.
Interpretações analítico-
comportamentaís de histórias
infantis: A história de Pinóquio1.
Idcrcid Abreu Vüsconcclof
1 Projeto parcialmente financiado pela FINATEC e pelo Decanato de Pesquisa e Pós-graduaçáo da Universidade
de Brasília (FUNPE).
2 Endereço: Departamento de Processos Psicológicos Básicos, Instituto de Psicologia, Universidade de
Brasília. Campus Universitário Darcy Ribeiro. CEP 70910-900Brasllla, DF. Email: laercia@unb.br
* Alunas do Progama Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica - PIBIC/UnB.
300 Iitfrxli A Viisconcdo*, Aivi kiti C. X. N.ivrv (.'«troliix- C. ill Silva, I ik1<iivi M. Himirus, M«ii1Ii<i di C. AhuiLi
de aprendizagem. O termo gradual deve ser sempre lembrado pelos educadores ao
interagirem, especialmente, com essa população. A aquisição de novas respostas ou a
alteração de um padrão de comportamentos deveria seguir, sempre que possível, um ritmo
de exigências gradual, o que facilitará experiências de sucesso por parte da criança. (3)
Evitar comparações da criança com outras pessoas e, ainda, a classificação de seus
comportamentos por meio de rótulos - tal pai (mâe), tal filho(a); nào adianta ensinar
porque ele(a) è como o pai(mãe) - ou rótulos tais como agitada(o), acelarada(o), lenta(o),
burra(o), atrevida(o), estúpida(o), desamorosa(o) e interesseira(o) - estratégias que podem
contribuir para experiências de insucesso por parte da criança, sendo, em geral,
acompanhadas também por sentimentos de tristeza e raiva. (4) Que os pais tenham uma
rotina de brincadeiras com seus filhos, ainda que seja apenas uma hora por dia no período
da noite. Isso possibilitará a transmissão de seus próprios valores familiares e,
principalmente, conhecer o mundo da criança - seus pensamentos, sentimentos, suas
formas de expressão; seus amigos; as brincadeiras do grupo de amigos ou colegas; e as
atividades em que se insere a cada dia. (5) Não transferir para nenhum profissional a tarefa
de educar o(a) filho(a), mesmo que os pais estejam diante dos especialistas mais
renomados e premiados do planeta. A tarefa de educar o filho é um direito inalienável dos
pais (e.g. Azevedo,2003; Guerra, 2000).
A introdução apresentada neste capítulo evidencia o compromisso do analista do
comportamento no contexto da clínica infantil, considerando tanto os padrões de
comportamentos da criança como os comportamentos apresentados pelos seus
cuidadores/educadores, para tanto, é necessária a compreensão da organização familiar.
A família tem apresentado mudanças significativas em sua rotina e valores. Investimentos
voítados para a criação de estratégias de convivência que aproximem os pais de seus
filhos, apesar da concorrência entre a vida profissional e a vida familiar, constituem-se de
fundamental importância para o desenvolvimento de crianças felizes e saudáveis.
As novas tecnologias de comunicação do século XXI são responsáveis pela
transmissão de informações em alta velocidade, nunca antes imaginada. Inúmeras
informações diariamente alcançam as famílias. São muitos os “especialistas" que
apresentam por meio de softwares, internet, televisão, rádio, jornais e revistas orientações
voltadas para práticas educativas. Diante da variedade de abordagens teóricas e de posições
defendidas por estes “peritos”, vale ressaltar aos pais a importância e a pertinência de
uma auto-observação cuidadosa de sua história familiar, seus valores e dinâmica
idiossincráticos3. As diferenças individuais seja entre famílias, pais ou crianças devem ser
consideradas por todos os profissionais-observadores, profissionais-pesquisadores, os
quais diante de um problema a ser resolvido não recorrem imediatamente a um sistema de
classificação por síndromes ou por faixas etárias.
'Pais atuantes na vida de seus filhos - aqueles que, além de atenderem as necessidades básicas de suas
crianças, brincam e mantém diálogos rotineiramente - desenvolvem fortes vlncutos de amor com seus filhos.
Uma criança acompanhada dessa forma, ao entrar na escola, pode apresentar dificuldades de adaptação e
estes pais podem ser questionados em suas práticas educativas, ouvindo de um especialista que “amor em
excesso faz mal". Entretanto, o retomo destes pais aos seus próprios valores poderá conduzi-los à conclusão
de que sun rotina com seus filhos nâo deve ser alterada, que a forma como estâo transmitindo amor nâo tem
efeitos adversos Concluindo, portanto, que outras estratégias deveriam ser implementadas a fim de facilitar a
adaptação daquela criança ao contexto escolar. Vale ressaltar que muitas instituições de ensino Infantil tôm
desenvolvido uma metodologia com passos que envolvem a presença e a salda gradual dos pais da escola,
deixando a criança mais confortável dentro do contexto académico. Esse exemplo presente na clinica psicológica
infantil ilustra uma visão critica dos pais diante de avaliações apresentadas por especialistas
4 Comportamentos apropriados referem-se àqueles que mostram sensibilidade às contingências, que são
freqüentemente seguidos por reforçamento social e sentimentos de prazer, sendo valorizados por um
determinado grupo social. Entretanto, estes comportamentos nào são sinônimos de comportamentos
adaptativos Comportamentos inapropriados podem ser considerados também como adaptativos ao garantir
a sobrevivência do indivíduo, embora envolvam riscos a longo prazo O dizer inverdades, por exemplo, pode
evitar uma pu
rilção física, em uma família cujas interações são coercitivas Entretanto, a longo prazo, esses relatos
poderão ser descobertos, confrontados e conseqüenclados com perdas significativas para o Indivíduo.
302 Litoi.i A V.isconcdos, An«i RJf«i X. N<iv«, C\m>llnr t'. ili Silva I ihiwiii M . IViirvinK, M.irlll.i il«i C, Anudi
modelo educativo que provavelmente será repetido pelas futuras gerações de pais e
educadores (e.g., Gomide, 2004).
O seguimento de instruções por parte de uma criança é uma área de estudo que
merece ser considerada tanto com os educadores e terapeutas quanto com as próprias
crianças. Pinóquio recebe a instrução de seu pai de ir para a escola, entretanto, em seu
caminho novos amigos o convencem de buscar uma maneira mais rápida para o sucesso
e a fama - o teatro. O boneco não tem repertório comportamental para considerar os reais
objetivos de seus novos amigos - vendê-lo ao proprietário de um teatro de marionetes. A
influência de outras pessoas sobre os comportamentos de uma criança pode ser observada
L ifa .ii A . V riscunuH oi A n .i Rll.i t \ X . N iiv w , (".iruJlnc d i S ilv a I ik íiik i M Ktirmros, Miirfliii d i A rrw li
Os educadores e terapeutas podem promover uma reflexão sobre a ampla utilização
da classificação de comportamentos considerados inapropriados de uma criança em
transtornos mentais definidos pelo Manual de Diagnóstico e Transtornos Mentais, o DSM
IV-TR (2002/2003). As condições ambientais oferecidas a uma criança podem conduzir ao
desenvolvimento de um padrão de comportamentos inapropriados. Assim, a análise e a
intervenção devem ser voltadas para as condições adversas, e não para a responsabilização
simplista da criança, utilizando construtos internalistas como explicação de seus
comportamentos inapropriados ou, ainda, a medicalizaçào de problemas sociais.
Diagnósticos intuitivos formulados por profissionais em instituições de ensino ou por
pais, com altos níveis de exigência diante de uma criança, têm sido freqüentemente registrados.
Ademais, o diagnóstico médico de muitos transtornos mentais da infância se apresenta também
sobre uma base frágil ao se detectar critérios vagos em sua formulação. Diante de dificuldades
acadêmicas é urgente que todos os profissionais da infância atuem em busca de condições
que favoreçam o desempenho com sucesso da criança. O método de ensino, a punição como
estratégia disciplinadora, as salas com excessivo número de alunos, o significativo rodízio de
professores devido às condições de trabalho questionáveis, a ausência dos pais na rotina de
seus filhos são variáveis a serem alteradas para que as crianças formem vínculos de amor e
segurança e desenvolvam o comportamento de estudar de forma apropriada. É necessário
estimular a curiosidade, a investigação, oferecendo alternativas de açáo. Uma educação plena,
não apenas voltada para o conteúdo de disciplinas do ensino regular, mas que envolva a
formação voltada para as áreas intelectual, emocional e social.
+ K v e n t o s a n te c e d e n te s # C o n ip o r tu m e n to s - a lv o # C o n s e q iiô n c ia s
# Fada A a i I - ^ Kclato de inverdades. # Mais relatos de inverdades
l’ or que vocô nâo ibi para escola? (1’ inóquin) para evitar contradivftes...
Cirsci/neMo di> nariz,..
A descoberta de uma inver
dade.
“EGA - Lei No 8 069 de 13/07/1990, texto atualizado em 08/07/2002 (Ministério da Justiça, 2002)
"Negligência é caracterizada pela desatenção, pela ausôncla, pelo descaso, pela omissão ou, simplesmente,
pela falta de amor (Gomide, 2004, p 69) É a omlssôo ao rrâo-prover as nocessidades físicas e emocionais
de uma criança ou adolescente (e g , Azevedo, 2000/2003).
' Mentir - Dizer, afirmar ser verdadeiro (aquilo que se sabe falso); dar informação Uilsa (a alguém) a fim
de induzir ao erro (Houaiss, 2002)
306 I «lóaii A , V iisconidos, A n .i Rjl«i C'. X . N«ivw, C.iaJiiH ’ C iLi Silv.i, I u i i i m M Rinvirt*, M .irlli.i <l.i A m id i
R eferências
Abreu-Rodrigues, J.( & Sanabio-Hock, E. T. (2004). Instruções e auto-instruções: Contribuições
da pesquisa básica. Em C. N. Abreu & H. J. Guilhardi (Orgs), Terapia comportamontal e
cognitivo-comportamental. Práticas clinicas (Pp. 152-168). São Paulo: Roca.
American Psychiatric Association (2002/2003). Manual diagnóstico o estatístico do transtornos
montais (4* Ed.). Porto Alegro: Artmed.
Angiolillo, F. (2002, 18 de maio). Livro explora a doida trilha da marionete Pinóquio. Folha de
São Paulo. Retirado em 15 de novembro, 2003, do http://www1.folha.uol.com.br/folha/
ilus tf ada/ult& Q ü2 4 f l ( H . stil
O Questionário Construcional de
Qoldiamond:
Uma Análise Não-linear de
Contingências
Lincoln di S//v,i L/imcncs!
!\w t I honuisAndnmis*
/. V. /oc Liyntf3
Introdução
Eu vou lhe fazer algumas perguntas que podem nos ajudar entender
exatamente em que direção devemos trabalhar neste programa. As perguntas
têm três objetivos:
Primeiramente, nós precisamos de informações que nos auxiliem a conhecer você.
Em segundo lugar, a partir das perguntas que as pessoas fazem, podemos aprender
coisas sobre elas; assim, estas perguntas podem lhe ajudar a conhecer sobre a
abordagem que usaremos neste programa.
Em terceiro lugar, para verificar como estamos progredindo, nós precisamos de
registros, informações anteriores e posteriores. Isto é um tipo de "informações
anteriores” sobre como você vê as coisas agora, e quais os objetivos que você deseja
alcançar. Portanto, por favor, fale o que achar necessário.
Questão 1. Resultados
Eu vou lhe fazer uma série de perguntas sobre nossas metas. Você está aqui
porque deseja que algum tipo de mudança ocorra em sua vida ou algo semelhante.
1a. (Resultados apresentados). A primeira delas é: Assumindo que nós
tenhamos sucesso, quais seriam os resultados para você?
Esta questão fornece aos clientes a chance de dizer em suas próprias palavras
exatamente porque eles procuraram nossa ajuda. Respostas comuns podem incluir: “eu
preciso perder peso”; “eu preciso perder tantos quilos"; "meu médico disse que eu tenho de
parar de me preocupar tanto com meu..."; “eu quero parar de gritar tanto com meus filhos";
"eu não posso parar de trabalhar, mas também não posso continuar no mesmo emprego";
etc. Como as respostas a esta pergunta são tipicamente apresentadas em termos negativos
(perder, se livrar, não magoar, evitar, sentir menos, etc.) elas são freqüentemente inadequadas
para determinar direções positivas do programa. Entretanto, esses tipos de resposta podem
fornecer dicas sobre como o cliente foi motivado a procurar o programa. Esta também é uma
boa pergunta para coletar importantes informações módicas, como diagnósticos anteriores
de diabetes, hipertensão, arteriosclerose, padrões familiares de doenças cardiacas ou
vasculares, e assim por diante. Nesse respeito, respostas a esta questão ajudam a identificar
se pode haver algum benefício físico imediato e distinto que os clientes esperam obter do
programa (como alívio de dores de artrites, serem capaz de respirar mais livremente etc.), ou
se eles foram encaminhados ao programa simplesmente por conta de futuros riscos em sua
saúde - infelizmente, medo de uma morte iminente é um motivador (surpreendentemente)
fraco e (somente) temporário para mudanças de comportamento, e quanto mais as pessoas
vivem após ouvir sobre os riscos para sua saúde, menos elas são motivadas pelo medo.
Finalmente, esta questão dá aos clientes a oportunidade de apresentar imediatamente suas
agendas, expressar suas preocupações, e simplesmente começar a conversar com o
entrevistador em seus próprios termos. Não deveria haver nenhuma tentativa de reestruturar
ou redirecionar qualquer resposta a esta pergunta, exceto quando o entrevistador necessitar
alguma clarificação ou alguma informação adicional importante.
Lincoln ila Silva C/imenes, l\»ul I hom .is A rn lro n ls, f. V . loc I iiynfl
1b. (Resultados observáveis). Isto pode parecer ridículo, mas suponha que
um desses discos voadores que vivemos ouvindo falar seja real. Ele aterrissa e
2.000 pequenos marcianos desembarcam. Um deles ó designado para observar
você. Estamos no Dia-L - Dia de Liberação dos seus problemas - e o pequeno
marciano segue você invisivelmente. Ele registra suas observações e as repassa
a um computador toda noite. O que o marciano vê você fazendo? Lembre-se:
Você já terminou este programa com sucesso, e você parece e se sente da maneira
como você queria. O que o marciano vê?
Esta pergunta pode, na verdade, soar ridícula, mas é bastante eficiente em fazer
os respondentes pensarem (freqüentemente pela primeira vez) sobre alguns resultados
verdadeiramente positivos que eles podem esperar se participarem com sucesso no
programa. É uma pergunta suficientemente "brincalhona" para fazer os respondentes se
sentirem confortáveis - permite a eles darem respostas genuínas, sem sentir pressão
para apresentar alguns tipos de metas completamente racionais e intelectuais que eles
podem pensar que o entrevistador está buscando. Dizer que um marciano é o observador
do resultado do programa permite ao entrevistador focalizar nos esforços do respondente
em descrever aspectos concretos e observáveis das suas vidas futuras; listas explícitas e
objetivas de atividades recreacionais, ocupacionais e de rotina diária que eles se engajariam
se não fossem seus problemas; qualquer relação interpessoal existente que é importante
para eles ou a falta delas; redes sociais disponíveis que podem sustentar mudanças de
comportamento; e assim por diante. A forma da pergunta também ajuda a elucidar (sem
fazer o entrevistador parecer distanciado ou crítico) quaisquer hábitos ou práticas
aparentemente idiossincráticas que podem simplesmente ser obscuras às pessoas não
familiarizadas com a cultura nativa ou subcultura particular do respondente. Sendo solicitado
a falar em termos concretos e no “aqui e agora" ao invés de falar em termos subjetivos ou
“anteriores e posteriores” (como “eu quero ser mais feliz”... “ter uma aparência melhor"...
“sair mais vezes"... “ter mais amigos"... “ser capaz de usar roupas mais elegantes" etc.),
o respondente fornecerá ou dará respostas que podem ser usadas para formular metas
úteis de tratamento e medidas objetivas do seu progresso durante o mesmo. O entrevistador
pode fornecer algumas dicas tais como: “com que freqüência o marciano vê você jogando
boliche quando você não se cansa mais facilmente?"; "exatamente que estilo de roupa
você estaria usando?"; “você estaria trabalhando no mesmo emprego (ou teria os mesmos
amigos, cônjuge etc.)?"; ou “o que o marciano veria você fazendo que mostrasse a ele que
você está feliz (mais energético, mais saudável, mais capaz de controlar estresse, com
bom humor, mais popular etc.)?". Esta pergunta pode também ajudar a identificar problemas
pessoais ocultos que, mesmo que não relacionados às metas do programa, podem,
entretanto, interferir com um compromisso adequado do respondente em participar das
atividades programadas. Um comentário final: esta questão tem sido utilizada efetivamente
com uma ampla variedade de clientes psiquiátricos, incluindo alguns que eram
extremamente paranóicos na ocasião das entrevistas, outros que reclamavam de ansiedade
crônica ou aguda, fobias, obsessões, compulsões ou dores (sem causa física aparente),
e muitos que simplesmente procuraram alívio de hábitos problemáticos ou distúrbios mais
sérios de comportamento. Clientes psiquiátricos geralmente não esperam um terapeuta
começar a falar sobre um marciano, assim essa pergunta tem, geralmente, o efeito de
"desarmar" ou "baixar a guarda", especialmente com pessoas que de outra forma podem
ficar extremamente na retaguarda ou desconfortáveis num ambiente clínico. Se você tiver
qualquer reserva mais séria sobre o uso desta questão com um cliente em particular, pule
312 I Iiko I m il.i Silvd l/lm en«, l\iul lliom.u Amironls, I. V. )oc I itynq
informação em toda a entrevista. Esta é algumas vezes chamada de questão da “agenda
oculta", porque geralmente leva o cliente a falar livremente de problemas que são muito
importantes para eles, extremamente pessoais, e que de outra forma eles poderiam não
admitir ter. A forma da pergunta sugere aos clientes que você não quer aprofundar muito
esses poucos e especiais problemas privados que os estão perturbando, mas que eles
podem, caso queiram, contar esses problemas de forma que vocês saibam quais problemas
deixar nos bastidores; isso dá aos clientes a chance de falar desses problemas nos seus
próprios termos, na sua própria velocidade em confidenciá-los a você, e na extensão em que
eles sintam que é confortável e “seguro". Você geralmente obterá relatos surpreendentemente
gráficos de certos tipos de problemas (isto é, problemas extremamente pessoais em relações
maritais, sociais, parentais, e outras relações sociais, admissões secretas de baixa auto*
estima ou autoconfiança, medos secretos, e assim por diante), que os clientes sentem
muito constrangimento de trazê-los à tona, ou que eles sentem serem muito dolorosos para
discutir com meros conhecidos, mas que geralmente constituirão as mais importantes áreas
de suas vidas que necessitam de intervenção programática.
2c. (Subprodutos do programa). Que outras coisas na sua vida podem mudar,
além daquelas em que trabalharíamos diretamente no programa?
Esta pergunta geralmente produz respostas similares àquelas dadas a questão
prévia de “agenda oculta", mas tem uma abordagem mais positiva. Ela também começa a
modelar o pensamento dos clientes sobre alguns dos benefícios na vida real que eles
podem experimentar a partir de intervenções bem sucedidas, e geralmente representa
algumas das suas primeiras oportunidades para “avaliar" os resultados desejáveis da adesão
aos seus programas de intervenção, ao invés de focalizar exclusivamente no trabalho duro
e nas difíceis mudanças de estilo de vida necessárias para alcanças suas metas.
Questão 4. Recursos
A próxima série de perguntas ó sobre áreas em que você é forte, certas
habilidades ou recursos que você tem que nós podemos desenvolver no nosso
programa. Todas as pessoas têm algumas coisas nas quais elas são muito boas,
de forma que ninguém tem que começar completamente do zero.
4a. (Habilidades relacionadas às metas do programa). Que habilidades ou
aptidões você tem que são relacionadas com aquilo que você gostaria de alcançar
neste programa?
Você pode dar dicas aos clientes sobre habilidades específicas que eles podem
precisar em seus programas específicos, e avaliar em que extensão eles podem já ter
essas habilidades. Por exemplo, conhecimento básico sobre bons hábitos alimentares e
interesse e aptidão para certos esportes são repertórios úteis para pessoas que devem
mudar seus hábitos alimentares e físicos; experiência de manter registros no trabalho, ou
história de manter diários pessoais, é extremamente útil para clientes que precisam manter
registros detalhados de suas atividades diárias ou hábitos específicos; estudantes
universitários podem (ou não) já saber como elaborar e ler gráficos; diabéticos podem
saber como aplicar em si próprios, injeções de insulina; e assim por diante. Dadas as
metas que os clientes afirmaram em resposta á primeira pergunta da entrevista, junto com
sua compreensão geral da vinculação que a intervenção em seus problemas particulares
pode vir a estabelecer, você pode guiar e fornecer dicas aos clientes ao longo da avaliação
de seus repertórios correntes relevantes - "correntes" no sentido em que eles já podem
fazer tais coisas, "relevantes" significando diretamente relacionados ao seu mais provável
programa prospectivo de tratamento, e “repertórios" significando algumas vezes habilidades
complexas e de grande escala, tanto "cognitivas" quanto físicas.
4b. (Outras habilidades não relacionadas às metas do programa). Que outras
habilidades ou aptidões você tem? Algum recurso especial (tais como equipamentos
especiais em casa; sociedade em alguma organização que pode ser útil; possíveis
novos recursos financeiros, etc.)?
Aqui você obtém informações sobre as competências gerais dos clientes, e seus
recursos sociais e financeiros. Você pode avaliar: se seus clientes podem ler, ou a qualidade
da leitura (leitura é uma habilidade básica, mas também muitas vezes inexplicavelmente
ausente, e que é crucial para quase qualquer programa de mudança de comportamento
3 1 4 I incoln il>i Silv.i l/ im c n r t, l\iul I liom .is A in lro n is, |. V . lot* I <iy»R
para adultos); se eles têm algum passatempo, ou interesses especiais (i.e., fazer
artesanato, cozinhar, ler romances, ou outras atividades que podem ser úteis, por exemplo,
em programas de "redução de estresse" ou relaxamento); se eles pertencem a alguma
organização que provavelmente apóia as tentativas dos clientes para mudar seus estilos
de vida (i.e., organizações comunitárias, religiosas ou profissionais, Alcoólicos Anônimos,
clubes de leitura ou de outras atividades, grupos de casais, e assim por diante); que
recursos financeiros são disponíveis para os clientes e suas famílias (i.e., seguro saúde
para atendimento psicológico e outros, renda familiar, parentes abastados que poderiam
oferecer o uso de casa de praia ou coisas do tipo, etc.) Você pode usar esta pergunta para
avaliar com o que, no geral, os clientes podem contar, tanto por eles mesmos ou por
outros.
4c. (Controle de estímulos). Existem momentos ou lugares quando o problema
presente não é um problema, ou quando ele é pelo menos mais ameno?
"Controle de estímulos" refere-se a observação que um dado padrão de
comportamento ó mais provável de ocorrer sob certas circunstâncias (geralmente porque
é mais provável de ser "recompensado", ou porque outros padrões alternativos não são
"recompensados" sob essas mesmas circunstâncias.) Ao invés de focalizar nas piores
situações, piores momentos, e fracassos, esta pergunta dá aos clientes a chance de falar
sobre aqueles momentos e circunstâncias quando as coisas não são tão ruins, ou sobre
momentos quando eles são, na verdade, capazes de lidar um pouco mais eficientemente
com seus problemas. Tente chamar à atenção aqui para quaisquer habilidades adaptativas
e de enfrentamento eficaz que os clientes possam já possuir, mas que não estão cientes
delas. Como você está perguntando "existem alguns momentos quando...", você está, na
verdade, revelando aos clientes que você sabe que os problemas deles estão presentes
na maior parte do tempo, mas com algum esforço eles podem ser capazes de pensar em
algumas poucas e extraordinárias circunstâncias quando eles obtiveram algum grau de
alívio (em geral, os clientes podem rapidamente pensar em numerosas situações quando
seus problemas não são tão severos, mas eles têm medo de admitir, por pensar que isso
pode questionar a legitimidade de seus sintomas).
Como uma regra geral, evite perguntar diretamente aos clientes quando os
problemas ocorrem ou quando os problemas são particularmente ruins - você pode ter de
esperar um longo tempo para qualquer resposta satisfatória a tais perguntas, especialmente
em casos onde os problemas permitem aos clientes evitar ou escapar de certas tarefas
desagradáveis ou obrigações, as quais, caso contrário, teriam de realizar. É como dizer
ao cliente, "eu penso que você está simplesmente fingindo que tem esses problemas,
para obter simpatia, ou evitar cumprir suas responsabilidades familiares ou sociais. Você
pode me dizer exatamente quando você tem esses problemas específicos, de forma que
eu possa provar que você está apenas fingindo?" Que clientes em seus perfeitos juízos
admitiriam tais coisas ao responder suas perguntas colocadas dessa forma? Além disso,
os clientes geralmente têm uma fala automática que eles recitam toda vez que solicitados
para descrever seus sintomas (mesmo quando solicitados “só mais uma vez, para nossos
registros"), e dessa forma as informações que os clientes fornecem geralmente se tomam
menos acuradas e menos úteis cada vez que eles são solicitados a repeti-las. Eles também
não precisam de mais prática em reclamações, a maioria deles já é bastante bom nisso
quando você os vê pela primeira vez. Eles poderiam, entretanto, usar toda a prática que
eles têm para pensar e falar construtivamente sobre seus problemas, sobre como solucioná-
los, o assim por diante.
Questào 5. Conseqüências
Eu vou fazer algumas perguntas sobre alguns efeitos produzidos pelo seu problema,
ou efeitos que você gostaria de produzir com a solução desse problema.
5a. (Reforçadores dos sintomas: positivos). Você provavelmente já ouviu o
provérbio, “ há males que vêm para o bem.” Com respeito a algumas vantagens
ou desvantagens que possam ter “ vindo para o seu bem," alguma vez seu problema
produziu alguma vantagem especial ou considerações por você (na escola, no
trabalho, ou em casa)? Por favor, forneça exemplos específicos.
Você pode fazer algumas coisas com esta pergunta. Primeiro, pela sua própria
forma, você pode usar esta pergunta como parte da sua avaliação da capacidade de
compreensão dos clientes (i.e., eles compreendem o provérbio corretamente, ou eles o
interpretam de uma forma particularmente desordenada ou destorcida?).
Mais importante ainda, vocô pode começar identificar que resultados do comportamento
problema do cliente pode, na verdade, manter esse padrão, apesar dos custos módicos ou
sociais para ele - em outras palavras, de que maneiras podem os sintomas do cliente ser
"adaptativos" ou considerados de algum modo benéficos, apesar de seus aspectos obviamente
perturbadores. Algumas vezes, os clientes são extremamente cautelosos ao responder qualquer
pergunta sobre "o que eles conseguem" com seus sintomas, mais uma vez por conta das
possíveis implicações de que os sintomas sejam falsos. Após garantir a eles que você acredita
que os sintomas sejam, sem dúvidas, reais, você diz a eles que, mesmo assim, normalmente
existem algumas coisas boas que podem advir de doenças ou problemas. Os clientes geralmente
respondem adequadamente a isso (por exemplo, "bem, pela primeira vez em 20 anos meu
cônjuge diz que me ama, que sente minha falta, e que não vê a hora de eu voltar para casa após
Questão 6. Conclusão
Tem alguma coisa que deixamos de fora ou não discutimos o suficiente?
Tem alguma coisa que nós passamos por cima - ou enfatizamos demais? Tem
alguma impressão que você gostaria de corrigir?
Se alguns clientes mais resguardados estiverem se sentindo mais confortáveis
com você a esta altura da entrevista, eles podem querer neste momento suplementar suas
respostas anteriores com mais detalhes. Alguns fatos ou detalhes que eles não se lembraram
antes podem vir à tona agora, depois de eles terem falado por algum tempo sobre assuntos
distantemente relacionados. Por outro lado, clientes com personalidades anti-sociais ou
com dificuldades de expressão verbal, geralmente usam esta oportunidade para alterar
substancialmente respostas prévias, ou dar informações que obscurecem ou mudam os
significados subjacentes de suas respostas prévias, especialmente se eles suspeitam que
revelaram alguma coisa que mais tarde pode ser usada contra suas "agendas ocultas". As
respostas às estas perguntas de “complementação" são algumas vezes mais implicitamente
informativas sobre as personalidades dos clientes do que as respostas diretas ás perguntas
anteriores de conteúdos específicos. Por essas razões, é geralmente uma boa idéia deixar
as respostas originais dos clientes às perguntas de conteúdo específico de lado, e claramente
identificar qualquer informação que eles adicionaram mais tarde ou mudaram em resposta a
esta pergunta de complementação. Dessa forma, você deveria anotar quaisquer impressões
que você tenha neste momento sobre tais atributos como compulsão, paranóia, sensibilidade
emocional, preocupações demasiadas com certos temas recorrentes, auto-engrandecimento,
Questão 7. Inversão
Inverter papéis é jogar limpo. Nós lhe fizemos muitas perguntas. Tem qualquer
pergunta que você gostaria de nos fazer? Algum comentário? Reclamações? Alguma
coisa que você gostaria de saber sobre nossas metas, ou abordagem?
Esta questão ó auto-explanatória, e não tem nenhum grande significado oculto.
Ela fornece uma maneira natural de introduzir o cliente à filosofia geral do programa,
regras e regulamentos, e recursos institucionais disponíveis. Esteja preparado para,
ocasionalmente, receber algumas criticas construtivas (ou mesmo pessoais e
desagradáveis) sobre o seu estilo de entrevistador, ou aceitar o ímpeto da raiva de um
cliente por ter problemas ou não estar bem. Apenas considere esses tipos de incidentes
como oportunidades para o seu próprio ajustamento e crescimento pessoal.
Considerações finais. Como descrito acima, o Questionário Construcional é um
roteiro de entrevista inicial elaborado para coletar as informações necessárias para identificação
das relações funcionais controladoras dos CPs, dentro de uma análise não linear do
comportamento. Além disso, estas informações servirão como base para o desenvolvimento
do programa construcional a ser implementado. Dessa forma, o Questionário Construcional
nào é um instrumento de auto-aplicaçáo, nem táo pouco se trata de uma entrevista rígida e
com tempo definido para aplicação. O tempo necessário para obtenção das informações
dependerá do tipo de cliente e das condições de interação entre cliente e entrevistador, não
sendo incomum a utilização de algumas sessões para completar o questionário. Além disso,
as informações obtidas podem ser complementadas por registros de atividades realizados
pelos próprios clientes ou por entrevistas com pessoas significativas para eles.
R eferências
QUESTIONÁRIO CONSTRUCIONAL
(O objetivo destas perguntas é obter informações, portanto, as palavras devem ser
adequadas a cada situação.)
Introdução
Eu vou lhe fazer algumas perguntas que podem ajudar a entender exatamente em que
direção nós devemos trabalhar neste programa. As perguntas têm trôs objetivos:
Primeiramente, nós precisamos de informações que nos auxiliem a conhecer vocô.
Em segundo lugar, a partir das perguntas que as pessoas fazem, podemos aprender
coisas sobre elas; assim, estas perguntas podem lhe ajudar a conhecer sobre a
abordagem que usaremos neste programa.
Em terceiro lugar, para verificar como estamos progredindo, nós precisamos de
registros, informações anteriores e posteriores. Isto ó um tipo de “informações
anteriores" sobre como vocô vô as coisas agora, e quais os objetivos que você deseja
alcançar. Portanto, por favor, fale o que achar necessário.
Questão 1. Resultados
Eu vou lhe fazer uma série de perguntas sobre nossas metas. Vocô está aqui porque
deseja que algum tipo de mudança ocorra em sua vida ou algo semelhante.
1a. (Resultados apresentados). A primeira delas ó: Assumindo que nós tenhamos sucesso,
quais seriam os resultados para vocô?
1b. (Resultados observáveis). Isto pode parecer ridículo, mas suponha que um desses
discos voadores que vivemos ouvindo falar seja real. Ele aterrissa e 2.000 pequenos
marcianos desembarcam. Um deles é designado para observar vocô. Estamos no Dia-L
- Dia de Liberação dos seus problemas - e o pequeno marciano segue vocô invisivelmente.
Ele registra suas observações e as repassa a um computador toda noite. O que o marciano
vô vocô fazendo? Lembre-se: Vocô já terminou este programa com sucesso, e vocô
parece e se sente da maneira como vocô queria. O que o marciano vô?
1c. (Estado presente). Como isso ó diferente do jeito que as coisas são agora?
O próximo grupo de perguntas se relaciona as coisas na sua vida que estão indo bem, e
outras que não estão.
320 Lincoln ila Silva C/imenet, Paul I homat Andronl*, í. V. loc I ayn#
2a. (Áreas inalteradas, coisas indo bem). Provavelmente têm coisas na sua vida neste
momento que estão indo bem - coisas que você não quer que sejam alteradas pelo nosso
programa (incluindo algumas comidas favoritas que você absolutamente se recusa em
parar de comer, ou hábitos distintos que o tornaram ‘‘famoso" com sua família e seus
amigos, dos quais você não quer desistir). Você pode descrever algumas dessas coisas
que estão indo bem, ou que você não quer alterar de forma alguma?
2b. (Coisas que nào estão indo bem, mas que não serão melhoradas pelo programa). Têm
coisas acontecendo na sua vida neste momento que você não gosta, mas que não serão
afetadas pelo nosso programa?
2c. (Subprodutos do programa). Que outras coisas na sua vida podem mudar, além daquelas
em que trabalharíamos diretamente no programa?
3a. ( Tentativa presente). O que fez com que você quisesse começar um programa como
este agora? Por quê?
3b. (Primeira tentativa). Quando lhe ocorreu pela primeira vez tentar essas mudanças? O que
ostava acontecendo na sua vida naquele momento? O que você fez? Quais foram os resultados?
3a. (Outras tentativas). O que você fez então? O que estava acontecendo? Quais foram os
resultados? (A série continua até o presente).
Questão 4. Recursos
A próxima série de perguntas é sobre áreas em que você é forte, certas habilidades ou
recursos que você tem que nós podemos desenvolver no nosso programa. Todas as pessoas
têm algumas coisas nas quais elas são muito boas, de forma que ninguém tem que
começar completamente do zero.
4a. (Habilidades relacionadas às metas do programa). Que habilidades ou aptidões você
tem que são relacionadas com aquilo que você gostaria de alcançar neste programa?
4b. (Outras habilidades não relacionadas às metas do programa). Que outras habilidades ou
aptidões você tem? Algum recurso especial (tais como equipamentos especiais em casa;
sociedade em alguma organização que pode ser útil; possíveis novos recursos financeiros etc.)?
4d. (Outros problemas resolvidos). Que outros problemas você lidou com sucesso? Como?
4c. (Controle passado). Você alguma vez teve domínio sobre o presente problema? Caso
afirmativo, quando e sob que circunstâncias? Alguma idéia de como?
S o b rr C o m p o rt.im c n lo e C o r u IçíIo
Questão 5. Conseqüências
Eu vou lhe fazer algumas perguntas sobre alguns efeitos produzidos pelo seu problema,
ou efeitos que você gostaria de produzir com a solução desse problema.
5a. (Reforçadores dos sintomas: positivos). Você provavelmente já ouviu o provérbio, "há
males que vêm para o bem." Com respeito a algumas vantagens ou desvantagens que
possam ter "vindo para o seu bem," alguma vez seu problema produziu alguma vantagem
especial ou considerações por você (na escola, no trabalho, ou em casa)? Por favor,
forneça exemplos específicos.
5b. (Reforçadores dos sintomas: negativos). Como um resultado do seu problema, você já
foi alguma vez desculpado por coisas, ou de coisas, o que você não seria se a situação
fosse outra?
5c. (Custos dos sintomas). Como o seu problema atual ó um peso para você, ou como ele
é um risco para você?
5d. (Possíveis reforçadores atuais). Que tipos de coisas você realmente gosta de fazer?
Existo alguma coisa que realmente lhe motiva?
5e. (Comportamentos de alta probabilidade). Ao invés disso, o que você se vê fazendo (ou
conseguindo?)
5f. (Reforçadores sociais). Quem mais está interessado nas mudanças que você está
buscando?
5g. (Reforçadores sociais). Que pessoas lhe ajudaram no passado? Como elas lhe
ajudaram? Como você obteve ajuda delas?
Questão 6. Conclusão
Tem alguma coisa que deixamos de fora ou não discutimos o suficiente? Tem alguma
coisa que nós passamos por cima - ou enfatizamos demais? Tem alguma impressão que
você gostaria de corrigir?
Questão 7. Inversão
Inverter papéis é jogar limpo. Nós lhe fizemos muitas perguntas. Tem qualquer pergunta
que você gostaria de nos fazer? Algum comentário? Reclamações? Alguma coisa que
você gostaria de saber sobre nossas metas, ou abordagem?
2. Religião.
A religiosidade é analisada na literatura skinneriana como fazendo parte das práticas
culturais. Práticas culturais muitas vezes permanecem consistentes entre indivíduos através
das gerações. São conjuntos intertecidos de contingências em que o comportamento e os
produtos do comportamento de cada participante funcionam como eventos ambientais com
os quais o comportamento de outros indivíduos interage (Glenn, 1988). Em outras palavras,
são práticas de indivíduos que dependem das práticas do grupo (Skinner, 1953).
Skinner (1981) propõe que práticas culturais são selecionadas e moldadas pelas
conseqüências que têm para o grupo. Enquanto o comportamento do indivíduo está muito
sensível a conseqüências imediatas, as práticas de uma sociedade têm uma escala maior
e entram em contato direto com conseqüências mais adiadas que não influenciam diretamente
os atos de um indivíduo isolado. Assim, o paradigma operante permite ver o homem como
produto das suas relações sociais, porém enfatiza que essas relações, por sua vez, são
produzidas a partir do processo histórico de uma sociedade. Enquanto o indivíduo age,
produz história para si mesmo (ele muda através de suas ações e por conseqüência dos
efeitos das suas ações). Mas ao fazer isto, também produz (inova, cria ou reproduz)
contingências que controlarão o comportamento de outros.
De acordo com Malott (1988), práticas religiosas emergem em função de contingências
de sobrevivência de sociedades. Conseqüências de comportamentos que são nocivas ou
benéficas para o grupo podem não influenciar o comportamento do indivíduo, por serem muito
afastadas no tempo dos atos individuais. Precisa-se, então, de um outro mecanismo para
3. Espiritualidade
Enquanto é possível estudar a evolução da religião no nível da seleção cultural, a
espiritualidade é compreendida como o encontro com si mesmo e com o transcendente
que dá sentido a todo o resto da vivência. É a experiência pessoal de significado profundo
e de transcendência. A busca espiritual é a procura do ser humano para dar sentido
profundo a sua existência (Barnes, Hayes e Gregg, 2001). Isto é uma definição ampla que
inclui também a construção de valores por um sujeito ateu (Worthington e Sandage, 2002).
A fé é uma base para operações, um contexto que dá sentido a ações, más é
diferente do conhecimento racional ou da crença intelectual (Amatuzzi, 1999). Trata-se de
I ut ViimJcnbcrtilir
(desejos, paixões e conceitos), está em perfeita concordância com o sentimento que predomina
em certas filosofias Orientais (Hayes, 2002). O caminho espiritual é um processo de abrir mão
(das ilusões de poder controlar sua vida, das lutas e das regras mundanas) que leva a uma
maior liberdade e a uma compreensão do que realmente importa. É coerente com o argumento
de Tagore (1931) que o cativo em todas suas formas está nos conteúdos do eu e não no
mundo exterior, no estreitar do nosso olhar e em nossa avaliação arbitrária das coisas.
Hayes (1984) argumenta que a espiritualidade pode ser fonte de sabedoria profunda
porque seria mais fácil entrar em contato com as contingências reais, a partir de um ponto
de vista espiritual (eu como perspectiva) do que a partir do “eu" como conjunto de crenças
e outros conteúdos. Aponta que o controle verbal produz uma insensibilidade ás
contingências e que o controle por estímulos simbólicos pode ser altamente alienador. Ver
conceitos, símbolos e verdades convencionais a partir de uma perspectiva transcendente
enfraquece este controle verbal e dá espaço para contato mais genuíno com as contingências
e para emergência de comportamento mais criativo. O autor lembra que práticas espirituais
não promovem o pensamento analítico, mas a abertura para o que acontece, e o
distanciamento dos conteúdos, tanto os racionais quanto os emocionais. Argumenta que
o homem moderno pode ter uma necessidade a mais de espiritualidade, que poderia
ajudá-lo a se distanciar das ilusões geradas pelo controle verbal e entrar mais efetivamente
em contato com as contingências naturais.
A experiência espiritual pode ser entendida como a perspectiva a partir da qual
tem-se consciência do sentido da vida, e como se situa no todo. Seria um desenvolvimento
mais avançado que vai além da consciência semântica (a dos conteúdos) e que tem a
vantagem evolutiva de possibilitar a pessoa a se situar no seu universo, dar sentido e rumo
à sua vida. Alternativamente, pode ser considerada um modo de saber mais primário e
mais básico, que antecede o comportamento verbal, este saber irracional, intuitivo, que
situa o organismo nas suas interações diretas com as contingências, sem intermediação
de significados convencionais.
Pode-se indagar se tal análise não nos afasta muito do mundo material do
consultório e dos problemas muitas vezes extremamente concretos do cotidiano dos nossos
clientes. O conceito de fé ficou especialmente relacionado com o saber irracional e com a
crença em coisas sagradas, fora do alcance da ciência. Mas como Amatuzzi (1999) ressalta,
precisa-se desta fé em algo para poder fundamentar qualquer epistemologia, e a
racionalidade também somente traz sentido para quem tem fé na razão.
A espiritualidade aponta, então, para a perspectiva a partir da qual nós percebemos,
entendemos e acreditamos em coisas. É um contexto profundamente íntimo e próprio do indivíduo,
que fundamenta suas escolhas, seus atos ooncretos. É possível que uma análise comportamental
da espiritualidade possa contribuir para uma visão behaviorista do processo psicoterápico.
4. Encontros
Quando a religiosidade e a espiritualidade encontram a terapia comportamental?
De acordo com Eysenck (1994), o efeito terapêutico não-especlfico compartilhado por
quase todas as formas de psicoterapia, pode ser parcialmente explicado pelo lugar de
sacerdote profano, que na sociedade moderna ó o do terapeuta. Compara o papel
sociocultural do psicoterapeuta com o do padre, o guru ou do xamâ.
A observação de Eysenck está correta porque os terapeutas assumiram algumas
funções que tradicionalmente caracterizam estes personagens, o que abre espaço para um
328 I uc V.imlenbcrfilic
ACT procura-se desenvolver clareza acerca dos valores fundamentais do cliente (Hayes, 2004)
podem tomar o sentimento religioso do cliente como ponto de partida.
A experiência espiritual, A busca espiritual e a terapia podem se encontrar na
tentativa do cliente de construir um sentido mais profundo. A experiência de transcendência
pode ser uma aliada nesta construção de sentido. O conhecimento racional é frio e rígido
e a experiência espiritual possibilita à pessoa superar as limites do seu próprio paradigma
intelectual, sua visão do mundo. Esta quebra de paradigma pessoal, permite aumentar a
resolução criativa de problemas, inclusive de impasses bem concretos na vida do cliente.
A vivência espiritual pode promover flexibilidade intelectual e tolerância de
incongruências e possibilita à pessoa aprender a lidar com a incerteza e o não definido.
Possibilita, ainda, observar a se mesmo de ângulos que diferem das concepções
convencionais. Isto pode ter vantagens, como a melhora do manejo dos limites pessoais;
a identificação de contingências que não correspondem com as suas regras, a intensificação
da vida. O cliente pode se tornar um pouco menos rígido em relação a si mesmo e um
pouco mais tolerante de sua incompletude.
A afiliação religiosa. Na sua revisão da literatura empírica sobre a relação entre
compromisso religioso e saúde, Gartner (1996) destaca estudos que mostraram que a
freqüência à igreja está relacionada com melhor saúde física, satisfação conjugal e bem-
estar e especula sobre variáveis que poderiam mediar esta relação como beber ou fumar
menos. Pessoas que se comprometem mais com uma religião, vivem mais, cometem
menos suicídio e têm menor índice de delinqüência. Um ponto interessante que é destacado
nesta revisão ó que estudos não encontraram relação entre delinqüência e convicções
religiosas, mas sim uma relação negativa entre freqüência à igreja e delinqüência. Os
dados não são tão claros quando se trata da saúde mental. Há resultados contraditórios
entre estudos quanto à relação entre religiosidade e ansiedade, enquanto principalmente
entre pessoas convertidas o grau de religiosidade é relacionado com intolerância de
ambigüidade, uma atitude rígida que caracteriza uma falta de abertura para experiência.
O apoio social oferecido pela comunidade religiosa, ao membro que participa
regularmente nos encontros, pode ser uma variável na prevenção de delinqüência, suicídio,
e evitação de vários comportamentos de risco para a saúde. O terapeuta pode recorrer a
este recurso quando percebe, por exemplo, que um grupo de oração do qual um paciente se
afastou por medo de ter um ataque de pânico no caminho poderia trazer motivação para sair
de casa e se engajar em contatos sociais renovados, ou que um paciente depressivo poderia
retomar as idas a sua comunidade, onde poderia assumir tarefas e atividades sociais.
Pertencer à uma comunidade religiosa significa também que o cliente tem à sua
disposição mais um ambiente onde pode experimentar. Novas estratégias podem ser
exploradas, como aprender a desliteralizar normas; questionar, aceitar por inteiro ou em
parte, tolerar o outro, colaborar, contribuir, se engajar em projetos, defender seus limites
pessoais contra tentativas de invasão por outros participantes ou líderes da comunidade.
O terapeuta pode combinar com o cliente tornar este setor da vida real, como também a
relação de casal, o trabalho e outros ambientes em situações em que o cliente pode
mudar as maneiras em que se relaciona com seu mundo.
I ui ViimlenlKTtflic
assim como práticas meditativas (Hayes, 2004; Linehan, 1993), Metáforas e parábolas
Budistas ou Hindus podem ajudar introduzir estratégias centrais da ACT, como difusão, a
tomada de perspectiva, o distanciamento dos conteúdos ou das ilusões e regras sociais
que nos impedem de viver. Este entusiasmo para o Oriente não deve ofuscar o fato de que
lições bíblicas podem ser aproveitadas da mesma forma. Além de passar recados ricos para
o cliente, falar em parábolas evita que o terapeuta reforce o contexto de literalidade. O
cliente pode experimentar entender o que o terapeuta fala em sentidos metafóricos e literais,
para depois poder distanciar-se das regras e dos conceitos rígidos com os quais lutou sua
vida inteira. A consideração de metáforas ó um exercício que enfraquece o controle verbal.
I.uc VdiulirnbriRbc
8. Aproveitar os problemas na terapia
A ocorrência de dificuldades do cliente na sessão constitui uma oportunidade
inédita para a atuação terapêutica (Kohlenberg e Tsai, 2001/1991; Kohlenberg, Hayes e
Tsai, 1993). Na terapia, o excessivo controle verbal religioso ó atacado por intervenções
que promovem pensar a partir dos dados; avaliar evidência; promover flexibilidade; tolerar
ambivalências sem precisar se esconder atrás de uma regra que assegura e garante;
valorizar a própria experiência, promover desliteralização e procurar ver o que pode ter de
válido ou pragmático numa dada regra religiosa, além da aparência literal. Assim, o encontro
com tais regras pode se tornar uma oportunidade para aprender a questionar palavras e a
filtrar significados. Que o excessivo controle verbal se refere a conteúdos religiosos não é
tão relevante, mas a ocorrência do comportamento de seguir regras de modo inflexível
possibilita ao terapeuta atuar diretamente sobre este comportamento do cliente, tornando
assim o dogmatismo e a rigidez religiosa oportunidades para trabalhar atitudes disfuncionais
que vão muito além da sua vida religiosa.
O mesmo pode ser dito quando a religião é responsável por desencontros pessoais
entre cliente e terapeuta. Os problemas na relação terapêutica muitas vezes são
oportunidades de explorar a vivência do cliente. Diferenças e conflitos fazem parte do
processo contínuo de negociação do relacionamento entre terapeuta e cliente. Uma ruptura
é uma possibilidade de tornar este processo explícito. Assim, o terapeuta preparado e
atento pode aproveitar de crises na relação para aprofundar a terapia.
Explorar e resolver conflitos e dificuldades de comunicação sobre valores religiosos
ou espiritualidade pode ser uma oportunidade para identificar comportamentos que dificultam
relacionamentos no cotidiano do cliente e de trabalhar com estes ao vivo. Na exploração
dos conflitos, pode-se evidenciar, por exemplo, que um certo cliente não é capaz de levar
em conta que o outro (no caso o terapeuta) veja as coisas de sua própria maneira e do seu
próprio ponto de vista, e não da maneira e do ponto de vista do cliente. Este déficit é
clinicamente relevante quando o mesmo acontece com outras pessoas no seu cotidiano,
em relação aos problemas para os quais o cliente procura a terapia.
Neste caso, um conflito de valores entre terapeuta e cliente, é uma oportunidade
para aprender a negociar a partir de visões diferentes da realidade. O cliente pode descobrir
que vive num mundo onde realidades são negociáveis e aprender a lidar com isto sem abrir
mão do que é importante para si mesmo e sem agredir o outro. Até em casos extremos,
quando a vivência do cliente é irreconciliável com a do terapeuta, as incompatibilidades
continuam sendo oportunidades de aprendizagem. O cliente vai ter a oportunidade de
lidar, numa relação bastante íntima, com alguém que não pensa igual e não concorda com
ele. A identificação de opostos aparentes pode propiciar a oportunidade de reconhecer
elementos comuns que se situam além das aparências (Vandenberghe, 2002).
A impossibilidade de aceitar a visão do outro, pode oferecer acesso a um
autoconhecimento aprimorado. Quando uma diferença aguda entre ambos está em
evidência, o cliente tem a oportunidade de aprender a lidar com sua decepção com o
outro, e com o sentimento que o outro não o entende inteiramente (mas que pode entende-
lo muito bem em outros aspectos). O cliente que se vê assim confrontado com o fato que
relacionamentos não são perfeitos tem a oportunidade de aprender a aproveitar, a apreciar
e a curtir trocas dentre de uma relação que inclui diferenças. A imperfeição do encontro
constitui em parte sua riqueza em oportunidades. Da mesma forma, amizades, namoros,
relações de trabalho e outros relacionamentos com os quais o cliente não consegue lidar
no seu cotidiano não são invalidados pelos seus inevitáveis defeitos.
334 I uc V.indcnbcTflhr
dos papeis que desempenham naturalmente na relação terapêutica. Estes temas permitem
variações ilimitadas. É um momento para sair de rotinas e experimentar sua disposição
para tentar formas de relacionamento imprevisíveis.
Referências
Amatuzzi, M M. (1999). Roligiâo e sentido do vida: um ostudo teórico. Temas em psicologia da
SBP, 7, 183-190.
Banaco, R. A. (2001). Roligiâo e psicoterapia. Fragmentos de Cultura Goiana, 11(1), 55-64.
Barnes, D., Hayes, S. C., & Gregg, J. (2001). Religion, Spirituality and Transcendonce. In: S.
Hayes, D. Barnes, & B. Roche (Orgs.). Relational Frame Theory; A Post-Skinnerian
Account of Human language and Cognition. Now York: Plonurn
Batoson, G., & Bateson, M. (1988). Angels foar: Towards an opistomology of the sacred. New
York: Bantam.
Ellis, A. (1983). Tho case against reiigiosity. Now York: Institute for Rational-Emotive Thorapy.
Introdução
O relato verbal é a fonte de dados mais amplamente utilizada na psicologia,
constituindo a base de entrevistas clínicas, levantamentos e avaliações padronizadas,
entrevistas pós-experimentais, entre outros. Segundo De Rose (1995/2001 ) \ a psicologia,
além de estar freqüentemente interessada no comportamento verbal per se, também se
interessa pelo comportamento verbal como um relato de comportamentos, eventos ou estados,
aos quais não se tem acesso fácil ou direto. É nesta perspectiva que se situa este trabalho.
Skinner (1989/2003) defende que o analista do comportamento deva fazer uma
análise funcional do comportamento operante “relatar" e, em muitos casos, isso significa
perguntar o que as pessoas estão sentindo ou pensando. A partir dessas informações, ó
possível inferir algo sobre as suas histórias, genética e pessoal. De fato, fazer estas
perguntas é, freqüentemente, a única forma de que os analistas do comportamento (e
pesquisadores de quaisquer abordagens teóricas) dispõem para investigar sobre uma
dada história pessoal. Faltam-lhes as facilidades necessárias para investigações diretas
das condições sentidas ou do pensar em si mesmo.
338 I ilo Sou&i t\ m lw , M .ir io A n tó n io A . (.'Iicquci, lodo t\n lo s M . M .ir tin d li, I li/c u KitisM Horloli
Lidando com tais limitações, o presente Capítulo visa, portanto, apresentar uma
discussão acerca do comportamento verbal tacto sobre controle de estímulos a partir de
dados de um experimento usando um software elaborado para o estudo de relatos verbais
sobre efeitos de diferentes contingências de reforçamento. Para isso, antes serão apresentados
alguns conceitos fundamentais para a compreensão do objeto de estudo aqui focalizado.
fl O termo “suprimir" é utilizado no sentido de que ocorre uma interrupção súbita do responder
340 L ik IiIih » ile Sous.1 ('u n iu , Mcirco António A . C lieqwer. lodo (~<iriiw M . M .irtinclli, I li/mi K.itkt«i IW Ioti
objeção a qualquer concepção internalista do homem. No behaviorismo radical, as relações
com o ambiente externo (à ação)7que devem ser buscadas para as explicações pertinentes
ao fenômeno com porta mental.
Pode-se dizer então, que “ao se voltar para os determinantes externos do
comportamento, a análise do comportamento evidenciou progresso significativo na
compreensão do fenômeno comportamental. Isso sugere que um progresso científico na
direção de uma maior capacidade de previsão e produção do comportamento pode
independer da análise do que eventualmente esteja ocorrendo no interior de cada um".
(Tourinho, 1995/2001, pág. 176)
Em reíação á nomeação disso que ocorre no interior do corpo, Engeímann (1978),
diz que o vocabulário das línguas naturais compreende um grande número de palavras que
costumam ser consideradas nomes de “emoções”. Tudo indica que os nomes de "emoções"
em sentenças de tipo "Eu sinto x (emoção)" possuem fundamentalmente uma função
referencial. Isso já foi reconhecido por Skinner (1957/1978) ao incluir respostas verbais que
descrevem emoções na categoria de tactos. Holland & Skinner (1961/1973) falam que, sob
diferentes condições emocionais a serem tateadas, diferentes eventos entram no seu controle
de estímulo da resposta de relatá-las, e diferentes grupos de operantes aumentam sua
probabilidade de emissão. O quadro 1 aponta as relações entre as contingências operantes
básicas e o comportamento verbaí tacto sob controle de estímulos privados (sentimentos)8.
Koforçnmonto Positivo Fô, confiança, segurança, intorosso, «ntxçAo, dotomiinaçfln, obstmaçAo, porsovorançn, oxdtaçâo,
entusiasmo, d«dlcaçAo, compolsAo (Skinner, 1974/2003); Alegria, prazer, «atmfaçAo (Skinnor,
____________________ 1989/2003); Prazer, dacAo, áxtaso (MHIenaon, 1967).______________________________________
Hciforçamonto AimMxJadft, (uga, agroesivldado, vergonha (Skinnor, 1974/2003), Anslodado, torror, aproonsAo,
Nouativo____________ alivio (MINnon. 1967): AqrcusMdado. avereflo, anfiedad» (Hdland & 8klnnr. 1961/1973).__________
Puniçflo Poaitiva Ansledad*. vergonha, culpa (Skinnor, 1974/2003); Kaiva (Banaco, [1999?]); Medo, ralvn (Holland &
Skinnor, 1961/1973); Raiva, Cókwa, Atxrrecimonto (Milifinuon, 1967); Anniododo (HayoB, ot nl„
1994); ______________ ________________
PuniçAo NnyaUV'1 FrufitraçAo, doprosnâo, incnrtoza, desapontanionto, Impotdncia, dononcoratanionto, iniltiçAo,
limidojr, ombaraço (Skmnaí. 1974/2003); FrustraçAo, Trtntoza (Banaco, |1999?|); Alivio, sonaogo,
^^^^^^^^^^^^^^calm^BanjKalíWSI^ruj^rjKfljWHolIan^^Skinnor^^l/igTS^TjlBte^
M étodo
Participantes:
Participaram deste estudo 30 estudantes de graduação em Psicoíogía, de ambos
os sexos, da Universidade Vale do Rio Doce, cursando até o quinto (5o) período, com
idade variando de 18 e 22 anos.
7 Uma discussão detalhada sobre a terminologia "ambiente externo à açáo" encontra-se em Matos (1995/
2 0 0 1 ).
8 É importante ressaltar que o quadro 1 nâo Inclui o conceito de extinção, uma vez que o procedimento
experimental usado neste estudo não trabalha com essa operação.
CUPONS
Cada participante teve acesso a uma regra, dependendo das contingências a que
foi exposto, e teve também a chance de concorrer a cupons para participar do sorteio de
um brinde (R$ 50,00; cinqüenta reais). Portanto, o participante se comportava e, durante o
desenrolar do procedimento, seus “acertos" e “erros" eram trocados por cupons para
concorrer ao sorteio de cinqüenta reais. Em outras pesquisas (Critchfield, et al„ 2003) foi
verificado que o dinheiro era um reforçador efetivo, assim como a perda de dinheiro era
também um punidor efetivo, sendo esse o critério adotado para a utilização do dinheiro ao
invés de outros reforçadores. Acredita-se que o valor generalizado do dinheiro possa tornar
os efeitos das contingências mais efetivos.
O sistema processa relatórios para visualização em vídeo informando o número da
tentativa, acertos e erros e o tempo de respostas (contagem em segundos entre a
apresentação do estímulo modelo e a resposta de clicarem uma dos estímulos comparação).
Os gráficos podem ter as suas escalas configuradas de acordo com a necessidade do
pesquisador.
I ud.mo di» Sousa Cunha, M arco AntOnio A . Chequer. loAo Carlos M , Martinelli, I li/eu Hatkta Uotlotl
Figura 2 - Visualização dos relatórios em video
Procedimento:
Cada participante foi encaminhado ao local de realização da coleta de informações
e solicitado a sentar-se diante do monitor, ao lado do qual havia um cartão instrução e 50
cupons para o sorteio. As únicas informações que os participantes tiveram acesso se
referiam ao procedimento, e eram disponibilizadas tanto na tela do computador quanto no
cartão instrução.
O início do procedimento consistiu em apresentar ao participante, após este se
sentar em frente ao monitor, a seguinte instrução: "Você terá a sua frente uma tela de
computador com 4 cartas, sendo que uma estará à mostra (carta modelo), e outras três
ocultas. Sua tarefa será tentar acertar, através de um clique com o mouse, qual das três
cartas ocultas é igual à carta modelo. Ao clicar em uma das cartas, o computador informará
se sua resposta está certa ou errada e o número de cupons que você terá direito. Esses
cupons serão trocados ao longo do experimento, acompanhando o número exibido na
parte superior direita da tela. Tente acertar o máximo possível, pois o numero de acertos
será convertido em cupons para o sorteio de 50 (cinqüenta) reais. Quando a tarefa terminar
você será avisado. Compreendeu? Caso seja necessário, poderá consultar a instrução
que está ao seu lado. Clique em iniciar para começar a tarefa". Após 1er a instrução geral,
o participante deveria clicar no botão "iniciar a tarefa" para então aparecer na tela uma
configuração semelhante á mostrada na figura 1.0 número de “acertos" e “erros" já estavam
programados, e estes eram randomizados, de modo que o desempenho de cada
participante ocorreu de acordo com a programação prévia.
O experimento seguiu dois procedimentos com duas fases cada um, e cada fase
apresentava dois momentos. Em um deles predominava um esquema de reforço em razão
variável, e no outro, um esquema de reforço contínuo (CRF) ou punição num esquema fixo.
Nesse caso o desempenho era uma variável controlada ao longo do experimento, para
garantir que cada participante fosse exposto a uma contingência específica. O quadro 2
especifica a programação em cada momento.
g Uma pergunta poderia surgir diante da utilização da punição, Como manter o responder numa operação de
punição, se uma das características da punição é a supressão de respostas? Uma pista da resposta é fornecida
por Sklnner (1989/1995), que diz que a programação para o responder, em um esquema de razão variável produz
a manutenção de comportamentos resistentes á extinção na ocasião em que reforçadores ocorrerem
infrequentemente Por isso, durante a fase onde o sujeito era exposto á punição, foi usado um esquema d® razão
variável, onde o sujeito terá acesso a reforços esporádicos, conforme exposto no Quadro 3.
344 I uci<ino ili’ Sousa 1'unKi, Marco António A . Chcqucr, kxlo C'.irlos M Martinelli, Hl/eu Batista Rorloll
Durante a metade de cada procedimento, os participantes eram interrompidos e
aparecia na tela uma mensagem dizendo "Você está na metade da tarefa. Agora responda,
qual dos sentimentos corresponde mais precisamente o que você sentiu durante esta primeira
metade da tarefa? Marque sua resposta na folha ao lado". A tela disponibilizava múltiplas
opções de respostas que deveriam ser escolhidas e marcadas em uma folha. Ao final do
experimento o participante também respondeu a outra pergunta: "Você terminou a tarefa.
Agora responda, qual dos sentimentos abaixo corresponde precisamente o que você sentiu
durante esta segunda metade da tarefa? Marque sua resposta na folha ao lado". Tanto na
metade quanto no fim de cada fase, as respostas disponíveis para os participantes eram:
Opção a: Alegria, Satisfação e Contentamento: Opção b: Frustração, Desapontamento,
Tristeza; Opção c: Medo, Raiva, Aborrecimento; e Opção d; Ansiedade, Apreensão, Aversão.
Os sentimentos escolhidos para compor estas opções de respostas, seguiram
os critérios utilizados para a confecção do Quadro 1 e tais opções descreviam os principais,
e mais típicos, estados corporais para cada contingência. Esse critério aumentou a
probabilidade de uma opção com maior probabilidade de reforçamento prévio por parte da
comunidade verbal. Para certificação desse critério foi feita a seguinte pergunta: "Os
sentimentos disponíveis nas opções de respostas do questionário representam
adequadamente o que você sentiu? Você acha que sentiu algo que não estava escrito?
Em caso de resposta positiva, enumerar os sentimentos”.
O procedimento de análise incluiu a estatística descritiva, a partir da qual foi feito
um histograma das respostas às perguntas. Assim, pode-se verificar a freqüência absoluta
dos relatos dos participantes em cada contingência, e também a porcentagem da incidência
desses relatos. Torna-se necessário informar que 100% dos participantes (N=30),
consideraram que os sentimentos disponíveis no questionário eram suficientes para
descrever o que estes observavam introspectivamente em seus estados corporais.
R esultados
1 A # r e * n t * , i k £ * M « *u o a « n o» . .e ro v
O
£ CHMhfMHfIMflIVMM
tttjrFrâi
* Irmtmr
0
M
» A*#WWt#fW*W-
J AAltHNHt*
' 1 J ’i - M . • 'I * *(
1 A»««***«
I mimo de Souso (. uuIm, M.irto Anlrtnlo A. ( brquer, loilo Carlos M M<irttiH*lli, 1ll/cu l^itisU Horloti
“emoção”. Há algumas explicações para isto. Skinner (1974/2003) afirma que todos os sistemas
de jogos se baseiam em esquemas de reforço de razão variável, embora seus efeitos sejam
geralmente atribuídos a sentimentos. Para Skinner, freqüentemente, as pessoas jogam pela
excitação (exercendo a função de reforçador interoceptivo), mas ‘este é entendido como um
produto colateral das contingências de reforçamento. Então, de acordo com a análise de Skinner,
os relatos dos participantes (Ansiedade e Apreensão) podem ocorrer nessa ocasião. Durante
essa fase (Reforçamento Positivo), também houve um relato indicando que o participante sentiu
frustração (N=1; 6,7%). Pode-se inferir a partir deste dado que essa frustração pode se referir ao
fato desse participante ter descoberto que a contingência que estava sendo exposto era
programada, e que seu desempenho era uma variável independente. Para esse participante, o
jogo parece ter “perdido a graça".
Na fase Punição Negativa, confirmando o conteúdo do quadro 1, predominaram
relatos sobre Frustração e Descontentamento (N=9; 60%), "esperados" para esta
contingência. A respeito dos relatos sobre Raiva e Aborrecimento (N=4; 26,7%), estes sugerem
uma baixa tolerância do participante à punição, na medida em que o limite de diferenciação
entre estes sentimentos e aqueles "esperados", de acordo com os autores das obras
consultadas, difíceis de serem delimitados. Em nossa comunidade verbal a raiva pode estar
relacionada à frustração; é difícil saber a diferença entre descontentamento e aborrecimento.
Durante o Procedimento 1, nas duas fases descritas acima, os relatos “esperados"
de Alegria e Tristeza não ocorreram. Isto pode ser interpretado pelo que propõe Millenson
(1967). Segundo ele algumas emoções, aparentemente diferentes, podem ser consideradas
correspondentes a diferenças na intensidade do reforçador positivo ou negativo em que
estão baseadas, de acordo com a história do sujeito e a intensidade da contingência atual.
Portanto, a ausência desses relatos "esperados" sugere que o pouco tempo de exposição à
contingência pode não ter sido suficiente para controlar a emissão desses relatos.
Durante o Procedimento 2, na fase Punição Positiva, 33,3% (N=5) dos participantes
relataram que sentiram Medo, Raiva e Aborrecimento, enquanto os relatos sobre Ansiedade,
Apreensão e Aversão tiveram uma incidência maior (60%; N=9). Estes relatos, também,
podem ser considerados “esperados", a partir das afirmações de Millenson (1967) e Sidman
(1989/1995), que dizem que o uso de estimulação aversiva pode estar relacionado a esse
tipo de relato de sentimentos.
Outra interpretação possível ó de que a contingência Punição Positiva, conforme
a programação do software, pode não estar representar uma contingência pura. Isso se
deve ao fato de que durante essa fase, houve a retirada de reforçadores, o que poderia
constituir Punição Negativa. No entanto, essa possibilidade de controle por dupla relação
de contingência se justifica na medida em que essa programação foi feita para que o
participante não discriminasse que estava sendo exposto a uma contingência programada,
impedindo que o relato ficasse sobre controle do seu desempenho (Variável Independente).
É, portanto, baseado nessa análise, que a exposição dos participantes à fase de Punição
Positiva possa ter produzido uma variação nos relatos sobre sentimentos. Uma sugestão
metodológica para estudos futuros ó que o Participante exposto a Punição Positiva seja
exposto anteriormente ao Procedimento 1, e que ao se passar para a contingência em
questão, não haja necessidade da retirada de reforçadores, mas sim, apenas da introdução
de estímulos aversivos como conseqüência ao erro.
Já durante a fase Reforçamento Negativo predominaram os relatos sobre
Ansiedade, Apreensão e Aversão (60%; N=9), considerados “esperados", o que denota,
que o ruído, estímulo antes neutro, passou a ser um aversivo condicionado ao ser pareado
com o erro e, por conseqüência, á perda de cupons. Ocorreram também relatos sobre
R e fe rê n cia s
Banaco, R. A. (1999) O aœsso a evontos encobertos na prática clínica: um fim ou um meio?
Revista Brasileira de Terapia Comportamental o Cognitiva. Campinas: Átomo ABPMC.
Vol. 1, núm. 2. p. 135-142.
I iKliino de Sousa C iimIm, M.irco António A. C hequer, I0.I0 C.irlos M . M.irtinWII, I Il/eu Horloli
Catania, Charles. (1999) Aprendizagem: Comportamento, Linguagem e Cognição. Trad.: DE
SOUZA, Deisy das Graças et al. 4a ed. Porto Alegre: Artmed Editora. 467p,
Critchfild, Thomas S. et al. (2003) Punishment is Human Choice: Direct or Competitive Supression?
Journal of Experimental Analysis of Behavior. Bloomington. Indiana, 80, p. 1-27.
De Rose, J. C. C. (1995) O relato verbal segundo a perspectiva da análise do comportamento:
contribuiçõos conceituais e experimentais. In: Sobre Comportamento e Cognição. Aspectos
teóricos, metodológicos e formação em análise do comportamento e terapia comportamental.
Org.: Banaco, R. A. Santo André, SP: ESETec, 2001. Volume 1, capitulo 17, p. 146-161.
De Souza, D. G. O que ó contingência? (1995) In: Sobre Comportamento e Cognição. Aspectos
teóricos, metodológicos e fomiaçêo em análise do comportamento e terapia comportamental.
Org.: Banaco, R. A. Santo André, SP: ESETec, 2001. Volume 1, capitulo 10, p. 82-87.
Engolmann, Arno. (1978) Os estados subjetivos: Uma tentativa de classificação de seus relatos
verbais. São Paulo: Editora Atica. 544p.
Guilhaedil, Hólio Josó. (2002) A Análise Comportamental do Sentimento de Culpa. In: Teixeira,
Adólia Maria Santos et al. (Org.). Ciência do Comportamento: Conhecer e Avançar. Santo
Andró: ESETec. p. 171-200.
Hayes, S. C. et al. (Eds.) (1994) Acceptance and change: content and context in psychotherapy.
Reno, N.V.: Context Press.
Holland, J. G., & Skinner, B. F. (1961) A Análise do Comportamento. Trad. AZZI, Rodolpho. São
Paulo: E. P. U., 1974. 337p.
Keller, F. S. (1973) Aprendizagem: Teoria do Reforço. 13* ed. Trad.: Azzi, R. Zimmerman, L &
Queiroz, L. O. S. São Paulo: E.P.U., 2003. 73p.
Millenson, J. R. (1967) Princípios de Análise do Comportamento. Trad.: Souza, Alina de Almeida
& Rezende, Dione. Brasilia: Coordenada. 461 p.
Sidman, Murray. (1989) Coerção e suas implicações. Trad.: Anderry, Maria Amália & Serio, Maria
Tereza. Campinas: Editoral Psy II, 1995. 301 p.
Skinner, B. F. (1953) Ciência e Comportamento Humano. Trad.: Todorov, João Carlos & Azzi,
Rodolfo. 11“ ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 489p.
Skinner, B. F. (1957) O Comportamento Verbal. Trad.: Villalobos, Maria da Penha. São Paulo:
Cultrix, 1978. 557p.
Skinner, B. F. (1974) Sobre o Behaviorismo. Trad.: Villalobos, Maria da Penha. 8" ed. São Paulo:
Cultrix, 2003. 216p.
Skinner, B. F. (1989) Questões Recentes na Análise Comportamental. Trad.: NERI, Anita
Liberalesso. 4* ed. Campinas: Papirus Editora, 2003. 193p.
Tourinho, E. Z. (1995) Eventos privados em uma ciôncla do comportamento. In: Sobre
Comportamento e Cognição. Aspectos teóricos, metodológicos e formação em análise
do comportamento e terapia comportamental. Org.: Banaco, R. A. Santo Andró, SP:
ESETec, 2001. Volume 1, capitulo 19, p. 172-184.
Tourinho, E. Z. (1995) Privacidade, comportamento e o conceito de ambiente interno. In: Sobre
Comportamento e Cognição. Aspectos teóricos, metodológicos e formação em análise
do comportamento e terapia comportamental. Org.: Banaco, R. A. Santo Andró, SP:
ESETec, 2001. Volume 1, capítulo 23, p. 213-225.
S o b re C \m ip o r t, im c n f o e ('(ifln/ivJo
Capítulo 31
Suicídio: Epidemiologia,
características, fatores de risco e
medidas preventivas
Mitkilin Nunes liipt/shi'
M jiv c L i R i^otkf
\y m/rd / c,i/
' - Doutor pelo Departamento de Psiquiatria e Psicologia da Escola Paulista de Medicina (UNIFESP); Docente
e Pesquisador do Programa de Pós-Graduaçâo Strlcto-Sensu em Psicologia da Universidade sáo Francisco
(USF) — Itatiba/SP Endereço - Rua Dr Miguel Pierrô, 61 - Cidade Universitária II - Campinas-C E P 13083-300,
e.mall: makllim baptista@saofrancisco.edu.br.
7 - Mestranda do Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco
(USF) — ltatlba/SP
3 - Doutora em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas; professora assistente-doutor
na UNESP, campus Bauru SP
350 M .iktlln Nunes Kiiptístu, D.ilemc M«irccl«i Kigotto, Samlr.i I e,il C\il.ils
socialmente ou como um ato de covardia e repulsa, punido e desencorajado por instituições
sociais. Por exemplo, no Japão existe uma prática integrante da cultura samurai, o seppuku
(haraquiri), em que o suicídio constitui-se em um fenômeno rodeado de preconceito e
pouca compreensão das variáveis inseridas neste processo, pelos leigos. No Brasil, muitas
vezes, a mídia noticia de forma inadequada os casos de suicídio, já que geralmente observa-
se também uma exagerada associação com doença mental e/ou fatores de risco que nem
sempre são avaliados de forma adequada (Daher e Baptista, 2004; Mello, 2000).
Anualmente, segundo os dados da Organização Mundial de Saúde (2001), um
milhão de pessoas no mundo comete suicídio e entre 10 a 20 milhões de pessoas por ano
tentam se suicidar (OMS, 2001). Da mesma forma, o suicídio pode ser considerado como
um problema de saúde pública mundial, além do que ó um fenômeno complexo multicausal,
envolvendo diversas variáveis psicológicas, sociais e neurobiológicas.
Na literatura, as mulheres apresentam maior freqüência de tentativas de suicídios,
no entanto o número de suicídios (mortes) em homens é maior do que em mulheres, fato
provavelmente relacionado à utilização de métodos mais violentos e também, ao fato de
as mulheres geralmente deixarem pistas sobre seu ato, sendo socorridas na primeira hora
após o evento. Considerando a faixa etária, a predominância do suicídio relaciona-se a
adultos mais velhos, porém os jovens estão aumentando seus índices, bem como os
idosos também são uma faixa etária prevalente (Merlin, Baptista e Baptista, 2004; Grossi,
Marturanoe Vansan, 2000; Vansan, 1996).
Algumas pesquisas corroboram com os dados citados no parágrafo anterior, por
exemplo, em um estudo realizado no HC-Unicamp, na cidade de Campinas - SP, com 156
pacientes de ambos os sexos que tentaram suicídio no período de maio a setembro de
1992, levantou-se o seguinte perfil: predominantemente do sexo feminino, majoritariamente
adolescentes e adultos jovens, residindo na zona urbana, sendo o ato geralmente impulsivo
e com baixa intencionalidade suicida por meio de ingestão medicamentosa, motivado por
crises sócio-familiares (Botega e cols., 1995).
Em um outro estudo, por meio dos dados de 60 indivíduos da cidade de Ribeirão Preto/
SP de abril a novembro de 1993, levantou-se o seguinte perfil: predominantemente do sexo
feminino, com idade entre 12 e 24 anos, sendo o ato mais impulsivo que planejado, por meio de
ingestão de medicamentos, praticado na própria residência e, em decorrência de estados
emocionais imediatos como perdas pessoais ou problemas sócio-familiares (Vansan, 1996).
Marcondes e cols. (2002), por meio de um estudo retrospectivo dos dados de um
hospital universitário no município de Londrina-PR com 70 participantes, de 12-24 anos, que
apresentaram tentativa de suicídio entre janeiro de 1994 e julho de 1999, objetivaram caracterizar
o perfil das tentativas de suicídio por substâncias químicas e observaram que as mulheres
apresentaram mais tentativas que os homens; o lugar de maior prevalência de tentativa foi na
própria residência; o método mais utilizado foi a ingestão de medicamentos e praguicidas e,
os motivos mais relevantes foram perdas pessoais, depressão e abuso de drogas.
Como afirmam Dhossche, Ulusarac e Syed (2001), as taxas de suicídios de
pacientes recém-hospitalizados, que tiveram alta hospitalar e se suicidaram após este
evento chega a ser três vezes maior do que as taxas da população, nos Estados Unidos,
ou seja, algo em torno de 32 indivíduos por 100.000 habitantes (no caso dos pós-
hospitalizados). Um outro ponto levantado pelos pesquisadores é que uma parte significativa
destes suicidas tinha diagnóstico de transtornos psiquiátricos, levantados pelos prontuários,
especificamente depressão e abuso de substâncias. No entanto, esta pesquisa deve ser
vista com certa cautela, já que a maioria dos suicidas pesquisados era de origem indígena,
Transtornos Afetivos
Segundo Baptista (2004a), a depressão, além de causar sofrimento para o indivíduo,
afastá-lo de suas atividades e ocupações, dificultar sua convivência com a rede social,
também pode ser considerada um dos mais prevalentes transtornos deste século e do
passado, acometendo milhões de pessoas em todo o mundo.
Nunes (1990), em seu artigo de revisão bibliográfica, enfatiza que a depressão é
um problema mundial, atingindo 3 a 5% de toda a população. Porém apenas 1,5% das
pessoas deprimidas chegam ao médico clínico geral e 0,2% ao psiquiatra. O diagnóstico
clínico da depressão é necessário, para que um tratamento precoce previna um possível
suicídio, sendo este a causa morte de 15% desta população. Torna-se fundamental, então,
que os módicos saibam diagnosticar a depressão, que é uma enfermidade com bases
etiológicas cada vez mais conhecidas, e que saibam encaminhar para o tratamento
adequado, evitando que o quadro evolua para uma complicação maior, o suicídio.
Aproximadamente um terço das pessoas que apresentam transtornos afetivos
estão em tratamento. Tal fato se dá, principalmente, devido à procura por centros de
atendimento primários de saúde, sendo os pacientes deprimidos atendidos por médicos
generalistas, com pouco conhecimento em psiquiatria e psicofarmacologia. Este é um
problema de saúde pública, não somente pelo alto custo econômico decorrente do prejuízo
em várias áreas de funcionamento do indivíduo que não é diagnosticado adequadamente,
mas principalmente pelo alto risco de suicídio nesta população (Nascimento, 1999).
Bandim, Fonseca e Lima (1997), fizeram uma pesquisa em uma escola particular de
Recife, a fim de levantar dados referentes à prevalência de ideação suicida em uma população
de 270 escolares com idade entre 9 e 13 anos do nordeste brasileiro. Concluíram através do
Inventário de Depressão Infantil (CDI) que destas 270 crianças, 32,2% apresentaram ideação
suicida e 1,5% intenção suicida, o que denota uma associação importante entre ideação
suicida e sintomatologia depressiva. Deve-se levar em consideração que a amostra referida é
de conveniência e em pequeno número, o que limita sua generalização, mas pode denotar um
problema que vem ocorrendo nesta faixa etária, em outras instituições escolares.
Diante do conhecimento acerca da depressão maior, faz-se necessário diagnosticar
o paciente deprimido com risco de suicídio e estabelecer um tratamento através da associação
Referências
Agerbo, E., Nordentoft, M., & Mortensen, P. B. (2002). Familial, Psychiatric, and Socioeconomic
Risk Factors for Suicide in Young People: nestod caso-control study. British Medicai
Journal, 325(13): 74-77.
Bandim, J. M., Fonseca, L., & Lima, J. M. (1997). Prevalência da ideação suicida numa população
de escolares do Nordeste brasileiro. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 46 (9): 477 481.
Baptista, M. N. (2004). Suicidio e Depressão: atualizações. Rio de janeiro: Guanabara-Koogan.
Baptista, M N. (2004a). "Depressão: Histórico, Epidomiotogia, Fatores de Risco e Modolos Integrativos".
In: Baptisa, M. N. Suicidio e Depressão - Atualizações. Editora Guanabara Koogan.
Baptista, M. N. (2004b). "Suicidio: Aspectos Teóricos e Pesquisas Internacionais". In: Baptisa,
M. N. Suicidio e Depressão - Atualizações. Editora Guanabara Koogan.
Baptista, M. N., Baptista, A. S. D., & Dias, R. R. (2001). Estrutura e suporte familiar como fatores
de risco na depressão de adolescentes. Psicologia: Ciência e Profíssão, 21: 56-61.
Baptista, M. N., Borges, A., & Biagi, T. A. T. (2004). "Pesquisas de Suicídio no Brasil". In: Baptista,
M. N. Suicidio e Depressão - Atualizações. Editora Guanabara Koogan.
358 M.ikilin Num** H.ipllíl.i, P.iiemc Miircrld RífloMo, S.niilr.i l.cal t\il.iis
Martins, L. A. N. (1990). Morbidade psicológica e psiquiátrica na população módica. Boletim de
Psiquiatria, 22 (23): 9-15.
Mello, M. F. (2000). O suicídio e suas relações com a psicopatologia: análise qualitativa de seis
casos de suicídio racional. Caderno de Saúde Pública, 16 (1): 163-170.
Merlin, M. S., Baptista, A. S. D., & Baptista, M. N. (2004). "Doprossão e Suicídio na Terceira Idade".
In: Baptista, M. N. Suicídio e Depressão - Atualizações. Editora Guanabara Koogan S. A.
Nascimento, I. (1999). Depressão unipolar: uma revisão. Informativo Psiquiátrico, 18 {3): 75-83.
Noguoira-Martins, L. A. (2004). The mental health of graduato students at the Federal University
of Sâo Paulo: a preliminary report. Brazilian Journal of Modical and Biological Research,
37: 1519-1524.
Nunes, S. O. V. (1990). As depressôos maiores - característica clínicas o torapêuticas. Jornal
Brasileiro de Psiquiatria, 39 (6): 293-296.
Organização Mundial da Saúde (2001). Relatório sobre a Saúde no mundo 2001: Saúde Mental:
nova concepção, nova esperança.
Pellizzari, E. M. L., & Almeida, R. A. (2001). Suicídio: a motáfora do Dorian Gray. Jornal Brasileiro
de Psiquiatria, 50 (3-4): 69-76.
Toledo, J. (1990). Dicionário de Suicidas Ilustres. Rio de Janeiro: Record, 360p.
Valença, A., Nascimento, I., Nardi, A. E., Marques, C., Figueira, I., & Versiani, M. (1998). Pânico o
suicídio. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 47 (12): 647-655.
Vansan, G. A. (1996). Tentativas de suicídio admitidas em um sen/iço de urgências psiquiátricas
de um hospital geral. Neurobiologia, 59(1): 17-28.
Sidman, M. (1995). Rotas de Fuga. In: M. Sidman. Coerção e suas Implicações. Campinas:
Editorial Psy II.
* Sempre que na referência de alguma obra aparecerem duas datas, a primeira Indicará a dala de publicação
original da obra e a segunda, a data da publicação da obra consultada Agradeço á psicóloga Silvia Groberman
por sua colaboração durante a elaboração deste texto
A Díade Terapeuta-Cliente
Uma vez que a situação de terapia é caracterizada pelas interações comportamentais
entre terapeuta e cliente, cabe analisar cada um separadamente, a fim de compreender
como ocorrem tais interações.
O Terapeuta: É na sessão de terapia que o terapeuta tem a oportunidade de analisar e
modificar o comportamento do cliente, via relato verbal. A prática terapêutica, então, baseia-
se essencialmente na interação verbal, instrumento que tem sido muito utilizado pelos
terapeutas para ter acesso aos comportamentos encobertos do cliente.
Levando em conta tais considerações, entende-se porque a Terapia Funcional Analítica
(FAP - Kohlenberg) preconiza a importância do terapeuta criar condições para que os
comportamentos clinicamente relevantes (CRBs) do cliente sejam emitidos durante a sessão.
Os comportamentos de esquiva emocional, dificuldades de comunicação, agressividade e
outros que são emitidos na sessão, costumam ser os mesmos que o cliente emite fora dela,
e através da relação com o terapeuta é que se torna possível haver a mudança para padrões
mais adequados. Devido a este fato, desde o início do processo, o terapeuta deve ter como
objetivo estabelecer-se como uma fonte de reforçamento social, ou segundo Skinner (1953/
1998) uma audiência não-punitiva, pois é a partir deste poder de reforçamento do terapeuta
que muitos eventos da terapia se desenvolvem. Estudos realizados em situação de terapia
mostraram que a expectativa e a percepção que os clientes têm acerca do terapeuta e da
relação influem diretamente sobre os resultados da terapia (Ford, 1978)
Por ser uma figura significativa, o terapeuta muitas vezes serve de modelo para o
cliente. Conforme afirmam Goldfried e Davison (1975):
(...) Por isso, o terapeuta deve estar sempro consciente do seu impacto sobre o
cliente, fazendo todo o esforço para dar modelo de comportamentos, atitudes e
emoções que possam acelerar o progresso terapêutico. Exomplificando, os
clientes podem expor problomas que fazem parte da própria experiência pessoal
do terapeuta. O terapeuta pode muitas vezes usar suas próprias experiências de
vida para ajudar na mudança do comportamonto do cliente (p.61).
Pode-se afirmar, portanto, que o terapeuta, no início do processo terapêutico,
deve procurar reforçar toda uma ampla classe de comportamentos, que poderia ser
denominada de "comportamento de ser cliente”. Sem esta classe, a terapia não ocorreria.
Entretanto, o terapeuta deve ter bem clara a diferença do emprego do reforçador
natural e do arbitrário. A este respeito, Ferster (1967) acrescenta que o reforçamento
natural ocorre sem planejamento e o terapeuta dele se utiliza quando o seu comportamento
está sob controle do comportamento do cliente. A utilização do reforço natural na relação
terapêutica aumenta a probabilidade de generalização dos comportamentos do cliente
para a situação natural. Quanto ao reforçador arbitrário, o seu uso deve ser contingente a
362 M .i ly D e lilli
comportamentos do cliente que freqüentemente são diferentes daqueles reforçados no
seu ambiente natural. Assim, o reforçamento arbitrário ó efetivo para a modelagem de
determinado comportamento, mas como apontado anteriormente, para que o comportamento
aprendido seja generalizado e mantido no ambiente natural do cliente, gradualmente o
reforçamento arbitrário deve ser substituído pelo natural.
Ainda com relação à utilização do reforçamento no processo terapêutico, Folette
et al (1996) afirma que o terapeuta pode liberar dois tipos de estímulos reforçadores: o
geral, que implica em reforçar todos os comportamentos da classe “ser cliente", como: vir
à sessão, esforçar-se em mudar, emitir comportamentos alternativos aos comportamentos
queixa, auto-revelação; enfim comportamentos cuja função ó estabelecer e manter o
repertório necessário para a aprendizagem de novos padrões comportamentais; e o
especifico, que o terapeuta deve fazer uso depois que já tenha se constituído numa figura
significativa para o cliente, e portanto, um estímulo reforçador natural, para reforçar os
comportamentos alvo, que vão ficando cada vez mais específicos.
Nota-se que as definições de tipos de reforçadores que estão à disposição do
terapeuta para uso no processo não são excludentes, mas sim complementares. Por
exemplo, ao mesmo tempo em que um estímulo reforçador ó natural, pode ser específico
para determinado tipo de comportamento alvo; ainda, o mesmo estímulo reforçador pode
continuar sendo natural, mas geral para outro padrão comportamental. O interessante é
sempre fazer a análise da contingência em vigor para identificar quais estímulos estão
controlando o comportamento em questão e verificar a sua funcionalidade. Feito isto, o
terapeuta terá mais clareza do esquema de reforçamento vigente.
Outras variáveis que devem ser levadas em consideração referem-se a determinadas
características pessoais do terapeuta que podem facilitar ou dificultar a mudança comportamental.
Habilidades sociais não substituem conhecimento teórico, mas terapeutas que se mostram
mais seguros, flexíveis e afetuosos costumam ter mais sucesso em seu trabalho.
Banaco (1993) chama atenção para o impacto que o cliente pode ter sobre o terapeuta.
O autor refere-se a temas como: valores morais ou religiosos muito diferentes; identificação
do terapeuta com o problema do cliente; desrespeito do cliente em relação ao terapeuta, e
outros. É comum, principalmente no início de seu trabalho, que os terapeutas possam
apresentar dificuldade no estabelecimento da relação terapêutica, ficando sob controle das
regras aprendidas de seus professores e supervisores. Não conseguir ficar sob controle das
contingências da sessão e deixar de ouvir o discurso do cliente ou de discriminar todos os
SDs da situação são exemplos desta dificuldade'. A supervisão e o aprimoramento constantes,
bem como a terapia pessoal são recursos recomendáveis para solucionar este problema.
Existem muitos estudos que abordam classes de comportamento do terapeuta que
pedem favorecer a relação com seu cliente. Os trabalhos clássicos de Rogers (1957) enfatizam
a importância da empatia, da compreensão, e a aceitação. Outros autores como Kanfer
(1970), Wielenska (1989), Banaco, R. Zamignani, D.Re Kovac, (1997) também estudaram
classes de comportamentos do terapeuta e todos parecem concordar que além de ficar sob
controle de regras, é importante que o terapeuta fique atento às contingências da sessão
bem como a dicas de seu próprio comportamento e de seus eventos internos.
O Cliente: O cliente pode procurar o terapeuta com queixas mais ou menos específicas; sabe
que aígo está incomodando ou causando desconforto, isto ó, identifica alguma situação aversíva
1Para facilitar esta aprendizagem os supervisores de Terapia Comportamental da PUC/SP fazem a observação
direta dos atendimentos via espelho unidireclonal e a supervisão é feita imediatamente após o mesmo.
C asos C lfnico s
O objetivo de descrever alguns casos clínicos, é poder ilustrar na prática terapêutica,
como os aspectos considerados estão presentes.
Caso 1: P. relatou já ter feito outras terapias, antes de ser encaminhado ao terapeuta
comportamental; mas nenhuma havia conseguido “lidar com o seu caso" (palavras do
cliente). Disse que ouviu falar da terapia comportamental por agir diretamente no problema,
sendo desta forma eficiente.
Quando P. iniciou a terapia estava com depressão profunda; mal conseguia sair
de casa. A queixa é que tinha terminado o namoro de aproximadamente um ano. Também
relatou que há muitos anos era deprimido e já havia feito inúmeros tratamentos, mas todos
sem efeito. Quase morrera ao tomar antidepressivos e, por este motivo, não acreditava
neste tipo de medicamento, recusando-se a tomá-lo. Ao conhecer sua ex-namorada, M.
passou a se sentir muito melhor, como se os seus problemas tivessem terminado.
Nas sessões, P. se queixava por não entender o porquê M. havia terminado o
relacionamento. Ele relatava que era ótimo companheiro; limpava a casa dela, fazia comida,
resolvia assuntos burocráticos etc. M. trabalhava o dia todo e P. estava desempregado.
Moravam em casas separadas, sendo que uma amiga da ex-mulher de P. havia emprestado
o seu apartamento para ele morar.
P. era separado e não tinha filhos. Como estava desempregado, não tinha dinheiro
para nada e reclamava que a vida era ruim, que “nada dava certo"(palavras do cliente). Por
este motivo, não adiantava procurar emprego porque não iria ter sucesso.
Conforme pode-se perceber, P. tinha um padrão de comportamento queixoso;
reclamava tanto da sua vida pessoal como profissional. Sempre atribuía ao ambiente externo
o motivo de seus fracassos.
Ao ser encaminhado á terapia comportamental, logo de imediato, perguntou em
quantas sessões estaria "curado". O episódio a seguir ilustra como ocorreu a interação
terapeuta-cliente neste momento:
C - "Eu vim procurara terapia comportamental porque ouvi dizer que ela è rápida..."
T - "O que você quer dizer com rápida ?"
C - "Em algumas sessões já estarei curado... ”
364 M .i ly D elltfl
T - "Mas vocé acha que é simples assim?"
C - "Bom, falaram que a terapia comportamental vai direto ao ponto...”
T
C - "Se é direta, então é rápida...”
T - “Como foram as suas outras experiências terapêuticas?"
C - “Muito longas... Nem me lembro..."
T - “Porque você desistiu?”
C - “Desisti porque os terapeutas não eram bons. Nada mudou, eu continuei deprimido..."
T - "O que você espera então?"
C - "Eu espero que vocé tenha a solução para o meu caso, afinal, você ó o profissional e
tem o conhecimento. Só depende de você..."
T - “Não, você está enganado; não depende só de mim, depende muito de você"
Este episódio mostra uma situação comum enfrentada pelo terapeuta nas sessões
iniciais com o cliente. Este pensa que o terapeuta tem a solução pronta para todas as
suas queixas e, como se fosse uma receita, dirá o que fazer e como fazer e, num passe
de mágica, estará “curado”.
Partindo da premissa que o vínculo terapêutico ó o aspecto central a ser trabalhado
com o cliente, fundamentalmente no Início da terapia, o terapeuta que se vê na situação
acima, deve orientar a sua intervenção no sentido de buscar uma forma de expor ao cliente
os pressupostos da terapia comportamental (o que ó, como funciona, qual o papel do
cliente, do terapeuta, contrato, sigilo, etc.), sem no entanto, confrontá-lo de maneira punitiva.
Desta forma, é importante que reforce o fato do cliente ter vindo, mais uma vez, procurar
ajuda (já que neste caso o histórico de vida do cliente ó de frustrações com outras terapias)
e demonstre que compreende que estar lá não é fácil.
Dando seqüência à interação, o seguinte trecho demonstra tais características:
T - "Ter vindo até aqui ô muito importante, demonstra que você está mesmo buscando
ajuda. O processo terapêutico depende de nós dois; temos que trabalhar juntos: você na
sua vida lá fora e também aqui na terapia comigo”.
Ao mesmo tempo em que o terapeuta atua como uma figura reforçadora, fortalecendo
o vínculo terapêutico, deve esclarecer que a terapia não depende só dele, mas que é um
trabalho construído baseado em uma relação; e por ser uma relação, é uma via de mão
dupla: depende dos dois.
Ainda, o terapeuta deve discutir com o cliente se ele está disposto a enfrentar as
situações aversivas de sua vida porque, muitas vezes, o mero queixar-se não significa
estar a fim de mudar certos padrões de comportamento. A terapia propicia o
autoconhecimento, mas é um processo que passa por momentos difíceis e doloridos; o
cliente que não estiver preparado para tanto, não aderirá ao que for proposto pelo terapeuta
ef na primeira situação aversiva, abandonará a terapia por fuga/esquiva.
Mais uma vez, fica claro a importância do papel do terapeuta como uma audiência
não-punitiva, no sentido de saber reforçar e acolher o seu cliente, mas também ensiná-lo
a analisar funcionalmente a situação e torná-lo consciente das variáveis que estão
controlando o seu comportamento.
Retomando o exemplo em questão, num dado momento da terapia, o cliente faltou
Caso 2: S. era a irmã do meio de outras duas irmãs. Sua mãe sempre exigiu que fossem
ótimas alunas (e elas eram) e bem educadas. Punia fisicamente e verbalmente quando
cometiam erros. O pai sempre foi quieto e ausente, "um cara apagado e triste; o que me
lembro dele é que recebeu medalha de operário padrão apôs 30 anos no trabalho, o que
eu acho ridículo"(palavras da cliente).
A irmã mais velha de S. tornou-se uma advogada bem sucedida e a mais nova,
administradora de empresas. Ambas ganhavam bem e a mãe dizia para ela que até nisso
havia errado: na escolha da profissão. Ela era professora de inglês no secundário, mas
freqüentemente ficava sem emprego, pois brigava com as colegas de trabalho.
O seu marido, engenheiro, trabalhava em uma empresa do governo; conheceram-
se quando estava na faculdade. Ele era quieto, pouco afetivo com ela e com a filha de 12
anos; dedicava-se totalmente ao trabalho. A vida sexual do casal era insípida e rotineira,
com uma média de duas relações sexuais por mês, sem ela ter orgasmo
S. era uma mulher sem amigos e seu lazer se resumia em assistir televisão e ir ao
shopping. Quando isto ocorria, ela e o marido combinavam a hora e o local para se encontrar
posteriormente: ela e a filha iam para um lado e o marido para outro, nunca conversavam.
Com a filha, o seu relacionamento “não era dos melhores”('‘sic"): a menina reclamava
que era uma mãe "careta", exigente e que não dava carinho. Quando queria conversar, a
filha saía de perto.
Tinha ainda uma cunhada, irmã do marido, que era executiva de uma multinacional.
S. sentia-se mal perto desta cunhada. Segundo ela "... me incomoda, ô arrogante, acha
que sabe mais do que todo mundo, quando falo com ela me irrito demais, acabamos
discutindo"(palavras da cliente).
Desde o início da terapia, S. constantemente agredia o terapeuta com frases
como: "Sua sala é bem simples hem !!!", "Você não é nada vaidosa não é?”,
"Engraçado...Intelectual ô tudo igual... Não se cuidam mesmo... Olha só sua sandália...".
O terapeuta ignorava, não reagindo às provocações da cliente. As agressões sempre
aconteciam no início da sessão; até que um dia, por volta do 4o mês de terapia, aconteceu
o seguinte diálogo:
C - "Hoje estou bem triste mesmo... Puxa, hoje você caprichou, sua roupa está feia
mesmo... Parece coisa de hipe velho"
R e fe rê n c ia s
Banaco, R.A. (1993). O impacto do atendimento sobre a pessoa do terapeuta. Temas em
Psicologia, 2, 71-79;
Banaco, R.A. (1997). O impacto do atendimento sobre a pessoa do terapeuta2: experiências de
vida. Em M. Delitti (Org,), Sobre comportamento e cognição: Vol. 2. A prática da análise
do comportamento e da terapia cognitivo-comportamental. Santo André, SP: Esetec,
174-181;
Banaco, R.A., Zamignani, D.R., & Kovac, R. (1997). O estudo de eventos privados através de
relatos verbais de terapeutas. Em R. A. Banaco, (org.). Sobre Comportamento e Cognição:
Aspectos teóricos, metodológicos e de formação em Análise do Comportamento e Terapia
Cognitivista. Santo André, S.Paulo: Esetec, 289-302;.
Ferster, C.B. (1967). Psychotherapy from the Standpoint of a Behaviorist. In: J. D. Keehn (Editor)
Psychopathology in Animals. New York: Academic Press, 279-303;
Follette, W.C., Naugle, A.E. e Callaghan, G.M. (1996). A Radical Behavioral Understanding of the
therapoutic Relationship in Effecting Change. Behavior Therapy, 27, 623-641;
Ford, J.D. (1978). Thorapeutic Relationship in Behavior Therapy: An Empirical Analysis. Journal
of Consulting and Clinical Psychology, 46, n°6, 1302*1314.
Golfriod, M.R., & Davidson, G.C. (1975). Clinical Behavior Therapy. New York: Holt, Rinehart and
Winston;
Kanfer, F.H., & Philips, J.S. (1970). Learning Foundations of Behavior Therapy. New York: Wiley
& Sons;
Kõhlomberg, R.J., & Tsai, M. (1987). Funcional Analytic Psychotherapy. In N.S. Jacobson (Org.)
Psychotherapy in Clinical Practice: Cognitive and Behavioral Perspectives. New York:
Guilford Press, 388-443;
Rimm, D.C. e Masters, J.C. (1974) Behavior Therapy Techniques and Empirical Findings. Now
York: Academic Press;
368 M .i ly P c lltti
Rosenfarb, I.S. (1992). A Behavior Analytic Interpretation of the Therapeutic Relationship. The
Psychological Record, 42, 341-354;
Skinner, B.F. (1995). Questões Recentes na Análise do Comportamento - Ed Papirus - Titulo
original: Recent Issues in The Analysis of Behavior, 1989;
Skinner, B.F. (1998). Ciência e Comportamento Humano - Ed Martins Fontes - Titulo original:
Science and Human Behavior, 1953;
Skinner, B.F. (1999). Sobro o Behaviorismo - Ed Cultrix - Titulo original: About Behaviorism,
1974;
Wielonska, R.C. (1989). A Investigação de Alguns Aspectos da Rotação terapeuta-cliente em
sessões de supervisão. Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo, SP, Brasil;
370 M átvI«» I W'len>» il.t Silv.» M d o , I dw iflts I crnnr.i ilc M iiltos Mlv.wc»
Apesar de estar claro que as oportunidades de relacionamentos com os pares
infantis são insubstituíveis, seus efeitos - sejam eles benéficos ou não - parecem ter
raízes nas interações das crianças com os pais, como bem sinalizam Patterson et al.
(1992). A aquisição de um repertório comportamental socialmente competente na infância,
portanto, parece depender primariamente da habilidade dos pais em lidar com suas crianças.
Não esquecendo, entretanto, que assim como o que os pais fazem ou deixam de fazer
possui uma influência sobre o desenvolvimento de seus filhos, seus comportamentos
também estão sob ação das contingências, muitas vezes estressantes. Sabe-se que a
pobreza, a falta de emprego, moradia precária constituem variáveis contextuais de risco
para o desenvolvimento de padrões comportamentais desajustados, interferindo assim em
qualquer intervenção que venha a ser realizada (Mash, 1998; Dumas, 1994).
Neste sentido, o alcance da intervenção clínica tradicional se mostra restrito,
insuficiente para resultar na prevenção ou mesmo remediaçào de condutas socialmente
desadaptativas, tornando imperiosa a necessidade de ampliar o enfoque do tratamento
psicoterápico. Isso porque, incluindo o maior número de elementos do mundo significativo
da criança neste trabalho, maximizam-se as possibilidades de sucesso da atuação do
psicólogo, sobretudo quando a intervenção se dá no próprio contexto do cliente, isto é, no
ambiente escolar ou familiar, posição esta defendida por autores como Biglan, Metzler e
Ary (1994) e Spence e Matos (2000). Para estes autores, considerando que um dos papéis
do psicólogo reside na capacitação do indivíduo para participar da vida na comunidade,
faz-se necessária a promoção de competências que lhe permitam melhorar a qualidade
de suas relações com os demais. Como conseqüência direta, a aquisição de competências
reduz a probabilidade de desenvolvimento de condutas que comprometem a qualidade das
relações interpessoais, constituindo uma relevante forma de prevenção.
A partir dessas considerações, justificam-se as vertentes que regem este trabalho
- uma ampliação do atendimento em clínica com enfoque preventivo e atuação na
comunidade, envolvendo màes, crianças e professores em uma escola estadual na periferia.
Considerou-se pertinente inserir no atual estudo o ambiente social da escola, já
que reconhecidamente é onde a criança põe em prática os comportamentos aprendidos
no âmbito familiar, além de ser um local que favorece mais interações sociais e, por
conseguinte, a ampliação de seu repertório comportamental.
Optou-se, ainda, por intervir junto às crianças que faziam parte de grupo de risco,
apresentando já algumas dificuldades tanto no que se refere aos comportamentos
externalizantes (p,ex. conduta agressiva) como aos comportamentos internalizantes (p.ex.
retraimento social) e ao desempenho acadêmico insuficiente.
Tal escolha fundamentou-se no resultado de outras pesquisas, que apontam a
conduta externalizante, ao lado do fracasso escolar, como um dos principais motivos de
encaminhamento para atendimento psicológico, como enfatizam Silvares (1999) e Ancona-
Lopez (1983). Do mesmo modo, tem-se conhecimento de que o retraimento interfere na
qualidade das interações sociais. Seguindo a proposta de ampliação do modelo de
atendimento, a intervenção se estendeu aos pais destas crianças, aos seus professores
e ainda aos colegas de sala de aula.
Todos os passos percorridos para a realização desta pesquisa objetivaram
exatamente verificar a eficácia de um modelo de atuação preventiva na comunidade,
trabalhando com crianças de baixa renda que já manifestavam algumas dificuldades de
interação interpessoal.
M é to d o
1. Participantes
Participaram desta pesquisa 26 crianças (12 meninas e 14 meninos) entre sete e
oito anos, suas mães (n=26), suas professoras (n=7) e seus colegas de classe (n=219).
2. Instrumentos de Avaliação
Neste capítulo serão ressaltados os resultados provenientes das observações de
comportamentos ocorridos em sala de aula, a partir de gravações em vídeo-tape. Os
comportamentos foram agrupados e analisados como Categorias Comfwrlamentais. Estas
foram elaboradas para avaliação do envolvimento da criança nas tarefas escolares e das
interações ocorridas em sala. As interações sociais observadas entre aluno-professor foram
categorizadas como positivas e negativas. Entre os pares foram registrados episódios de
interações pró-sociais, reação agressiva e intimidação. Observando o comportamento do aluno
em relação à classe, foram estabelecidas as categorias perturbação do ambiente e
comportamento solitário e, por último, levando-se em conta o desempenho das crianças nas
tarefas escolares durante as aulas foram criadas as categorias atenção à tarefa e dispersão.
3. Procedimento
Baseados nos objetivos do estudo e nos eventos naturais da situação de pesquisa
aplicada, foram adotados os procedimentos descritos a seguir.
FASE 4: Atendimentos
• Atendimento às professoras
Nas primeiras reuniões com as professoras foram salientados os objetivos que
norteavam as atividades propostas, inseridas no Programa de Educação Social e Afetiva
elaborado por Trianes e Muftoz (1994), para professores. Durante trinta e nove encontros,
uma hora por semana, as professoras foram instruídas sobre como proceder na sala de
aula, treinando esses procedimentos. Eram discutidas as dificuldades que surgiam na
execução das atividades, buscando solucioná-las em conjunto. Além de treinar as atividades
do programa, discutiu-se durante os encontros a qualidade do relacionamento que
estabeleciam com seus alunos, analisando-se funcionalmente suas condutas em sala de
aula, incluindo seus sentimentos em relação às crianças.
• Atendimento às crianças
Após oito semanas do início do Módulo I, foi iniciado o atendimento psicológico
ao GAI, utilizando recursos lúdicos. As 22 sessões realizadas com as crianças ocorreram
uma vez por semana com duração de 60 minutos. Durante o processo de intervenção,
procurou-se implementar algumas estratégias básicas no manejo com a criança para
aumentar a freqüência de comportamentos adaptados ou para a aquisição de novas
habilidades.
FASE 6: Seguimento
Intervalo de nove meses sem nenhuma intervenção psicológica e reaplicação do
procedimento de filmagem em sala de aula.
Inbela 1: Comparação estatística das médias obtidas nas avaliações dos comportamentos das
crianças integrantes dos grupos de atendimento infantil e de validação social, na Imhn de bane.
AVALIAÇÕES DO
COMPOHT AMtNI O INFANTIL
; CatogoriH» coniportamentals
i Interação positiva professor-aluno
; Interação negutlva prolosüor-aluno
Interação positiva Hluno-professor
Intnriiçfto negativa aluno-professor
Interações prô-sociais
Roaçfto agresslv»
Intimldaçfto
Perturbação do ambienta
Comportamento solitário
Atenção á tarefa
DIspersAo na tareia
Fora d« observiçflo
>rtni jvae»r v
Nota: foi aplicado o Teste T (para amostras independentes) na análise estatística das categorias
comportamentais para os Grupos de Atendimento e de Validação Social. O * indica diferença ostatlsticamente
significativa, considerando a*5%.
376 M ilrild I Iclcna <ia Sllv.i Melo, h iw itfe t Ferrelia «le Mattos Silvares
rabeia 2: Avaliações dos comportamentos das crianças dos grupos de atendimento e de validação social
nas fases de linha de base, pós-lntervençâo e seguimento a partir da análise das categorias comportamentais.
U U ttfP W lUUlDUtfWUlUlUU» í
IntcruvAo |X)h i I i \ u pti>tcynor-ultmo 4 ,56 5.09 3,36 0 ,(88)* 0,(8)8*
il 7 >
lnlei'.«s'Aii nc|{uiivu pnitctMor-nlimn II (>.‘»2 1,89 j i.o o ; i,6 i 0,341 0,351
InlctiKiV) (HMiiiva ulun<>-prvlcn*or 5,1» ! 3,09 1 1.57 0 ,(88 )* 0,(881*
II <M(>
lntcnKiV) ncgulivu nlimo pnitcs.ior 1. 0 ,38 1.12 | 0.(8) t 0,00 > 0,1 9 0 0,341
ImenK.iV M p ró huciiuh 12,3 •4.21 ! 13,90 í 3,33 | 0 ,(88 )* 0,(88)*
KcikAoaipvMtivH 3.8! • 1.90 2.77 í 0 .0 1 6 * 0 .0 3 2 *
lnim mlw,rto 0,4(i i i.iv 0,45 1,03 . j, 0 ,0 4 7 * 0 ,0 5 8 * *
l’criiirhn(,'i\ii do lunhictiic 6.53 6.64 1.36 2,06 |i 0 .0 1 5 * (),(8M *
( ()iti|Km m iictiio M thláno 4 ,7 6 5,70 0,45 1.03 ! 0,021 * 0 ,0 2 3*
AtcnvAo A lurvlii l*i,C> 5,3« 14,00 4,97 j 0 ,0 1 9 * 0,102
Dispcrarto na tutvfn 13.15 1 5.44 «.(Kl 5.15 1 0 ,(8)2* 0.(88)*
I oiii dc ohucrvnvAo 7.78 4.14 4,09 3,38 | 0,(813* ().(8)0*
i
... - i j «■ 11 i 'r - j■ - 11 L-i t , J
'* 1
f '
í
. 1 |
i
l> I
(jm v SMUAl
r r -
i
j
i
j
ÜlU ^UIlitoO JUliJO lUUlC üU Uíi
i
Intcm vd» posinvn proloNMir nluiK) * 11.53 3,45 8,84 ; 4.81 0 .7 3 7 0,101
1
(mentiuiKg»uvuproUrHsw«Umo o .w U.ítO | 0 .( 5 i " ,3 7 • <U<»5
IntcruvAo poftittva nlimo-pnircwtor t 9,92 2,98 8,53 1 4,1« 0.(168 i 0.445
Intcnm k) ncyutiv.i «luno prolM Sor | 0,(8) 0,(8) j 0 ,0 0 ! 0,(8) . -
Im etaçtV s prò-Hociui* 14,76 3,16 14.6 1 3,66 0,407 0,474
KeiiviU) ii|ta-sNiva 1 0.53 n .w i ! 0 ,0 0 1 0.(8) . 0 ,0 5 4 * * 0 ,0 1 7*
lnliim<liK,.V> 1 (MH) | 0,(8) j 0.(8) . O.(N) !• -
PcnuitouvAo do lunbicntc 0 ,7 6 0.27 i 0.15 I 0,55 ’ 1 0 ,165 0,337
i i
C oinportuin niin üolilAno 0 ,7 6 1 0,27 | 0 .38 1 0 .76 , 0,21«
AicnviVi ú Uirelu 27,07 ; 3.86 26.4 j 4.32 j 0,803 0,689
DiKpcmAo iiu lua'lii ! 9,<8) 3.3! 1 8.15 2.57 ! o ,*m : 0,529
Foro de otacrvnçAo 1 1.53 1 1,26 ! i 3,38 1 1.32 1 0,819 1 0,(88)*
1
1
L 1_______ --------- --- •- -t- 4
Nota: Os Testes estatísticos aplicados foram o Teste T (para amostras Independentes) e ANOVA (análise de
variância para medidas repetidas). Instrumento estatisticamente analisado: Categorias Comportamentais
para os Grupos de Atendimento e de Validação Social. O n da amostra foi Igual a 13, pré e pós-intervençAo
em ambos os grupos (atendimento e validação social). Na fase de seguimento, o n reduziu para 11 no grupo
de atendimento. O * Indica diferença estatisticamente significativa (p < 0,05). ** é Indicativo de forte
tendência à slgnlflcáncia estatística.
IPP PA PS AT
ComportMinnnlato Poaitiva»
Figura 1: freqüência média das categorias comportamentos positivas e negativas do (jru|>o de ntoiidlmento psicológico
infantil, no« trAs momentos de avaliaçáo- pró-atendimento, pós-atendlmento e seguimento de nove meses.
IPA IPS AT
0
2
INP INA RA IN PA CS
II
DIS FO
PIS: Dispersão durante a Tarefa;
FO: Fora de Observação.
D iscussão
O modelo de intervenção multifocal implementado nesta pesquisa mostrou-se efidente
no alcance dos objetivos propostos, promovendo melhoras, sobretudo na esfera escolar,
quanto à relação da criança com seus pares e à percepção das professoras. Os resultados
obtidos também apontam a maximização dos efeitos do programa sócio-afetivo no grupo de
atendimento infantil em função do atendimento psicológico a que foi a submetido. A eficácia
do programa refletiu-se nos resultados das categorias comportamentais criadas a partir da
observação do comportamento das crianças em classe. A avaliação deste instrumento sugere
que o grupo de atendimento psicológico infantil adquiriu habilidades que apóiam indícios da
superação dos déficits escolares e comportamentais.
Em relação às professoras, vale mencionar que os encontros com elas favoreceram
não apenas discussões em tomo das atividades que cumpriram ao longo do desenvolvimento
do programa, mas também trocas de experiências sobre o que passavam em sala de aula
e com a direção da escola. Além disso, foram ensinadas a identificar os eventos dos quais
seus comportamentos eram função assim como os fatores contextuais aos quais estavam
expostas e como isso afetava sua relação com seus alunos. Desta forma, a intervenção
conduzida com as professoras também apresentou o caráter de mudança de suas práticas
com seus alunos, na medida que estudos como o de Donohue et al. (2003) demonstram
que a atenção às diferenças individuais, o desenvolvimento de relações sociais positivas e
a orientação acadêmica auxiliam na redução da probabilidade de rejeição pelos pares.
Nesse sentido, quando se observam as interações entre professoras e alunos,
nota-se que inicialmente as primeiras davam mais atenção às crianças consideradas por
elas como sem dificuldades, enquanto que praticamente não notavam as crianças que
receberam atendimento psicológico. Após a intervenção, as professoras passaram a interagir
mais com este último grupo, como seria desejável.
Assim como os participantes adultos desta intervenção, as crianças também
(re)aprenderam novas formas de ler o ambiente, alternativas de condutas que viessem a
melhorar a interação com as pessoas que as cercavam, dentro de casa ou na escola. Se
durante as sessões de atendimento psicológico as crianças aprenderam a identificar, descrever
e alterar comportamentos - abertos e encobertos - na sala de aula elas parecem ter tido
oportunidade de treinar suas novas habilidades, como afirmam Price e Dodge (1989). No
decorrer das sessões, tais habilidades foram ensinadas por meio de jogos e brincadeiras,
que são experiências significativas para aprendizagem de novas habilidades que favorecem
o convívio, com destaque para os pares. Esta estratégia é defendida por autores como
Trianes e Murtoz (1994) bem como por Guerrelhas (1999) e Del Prette e Del Prette (2001).
As mudanças alcançadas pelo grupo infantil ficaram evidentes quando avaliadas
no ambiente escolar. Não só suas relações com os pares se tornaram mais amigáveis
R eferências
Ancona-Lopez, M. A. (1983). Características da clientela de clínicas-escola do psicologia em
Sáo Paulo. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 35(1), 78-92.
Biglan, A., Metzler, C. W,, & Ary, D. V. (1994). Increasing the prevalence of successful children: lhe
case for community intervention research. The Behavior Analyst, 17, 335-351.
Coie, J. D.; Dodge, K A. & Kupersmidt, J. B. (1990). Peer group behavior and social status. Em
S. R. Asher & J. D Coie (Orgs.), Peer rejection in childhood (pp. 17-59), Nova York:
Cambridge University Press
Criss, M. M., Pettit, G. S., Bates, J. E., Dodge, K. A , & Lapp, A. L. (2002). Family adversity, positive
peer relationships, and children's externalizing behavior: a longitudinal perspective on
risk and resilience. Child Development, 73 (4), 1220-1237.
Del Prette, Z. A. P., & Del Prette, A. (2001). Psicologia das relações interpessoais: vivências para
o trabalho em grupo. Petrópolis, Vozes.
Donohue, K. M., Perry, K. E., & Weinstein, R. S. (2003). Teachers’ classroom practices and
children's rejection by their peers. Applied Developmental Psychology, 24, 91-118.
Dumas, J.E. (1994). Interactional correlates of treatment outcome in behavioral parent training.
Journal of Consulting and Clinical Psychology, 52 (6), 946-954.
Elias, L. C. S. (2003). Crianças que apresentam baixo rendimento escolar e problemas de
comportamento associados: caracterização e intervenção. Tese de doutorado, Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto.
Guerrelhas, F. F. (1999). Lista de espera x grupo de espera recreativo. uma nova experiência
numa clínica-escola de Psicologia, Dissertação de Mestrado, Instituto de Psicologia,
Universidade de São Paulo, Sâo Paulo.
* CLIN (Clinicas Integradas) e GARPE ( Grupo de Atendimento e Reabilitação ao Paciente com Esquizofrenia,
do Ambulatório Geral do IPQ do Hospital das Clinicas da Faculdade do Medicina da Universidade de São Pauto).
M étodo de Trabalho
É importante ressaltar que o trabalho de terapia aqui descrito é um processo que
segue algumas etapas que aparecem descritas separadamente, mas que de forma alguma
são estanques em termos do tempo requerido para sua execução ou da ordem em que
ocorrem: a avaliação é sempre a primeira etapa, mas os objetivos propostos inicialmente
são constantemente revistos, bem como os procedimentos para alcançá-los e a formulação
das hipóteses levantadas sobre as contingências relacionadas aos comportamentos
apresentados; durante a etapa de avaliação também pode ocorrer uma intervenção, ou
seja, avaliação e intervenção ocorrem durante todo o processo de terapia. A descrição a
seguir é uma tentativa de operacionalizar esta forma de atendimento.
A entrevista inicial
A entrevista inicial é realizada com os pais da criança e tem como objetivo fazer um
levantamento da queixa apresentada, da história de vida da criança em relação a aspectos
familiares, desenvolvimento físico, de linguagem, escolarização, relacionamentos sociais tanto
familiares quanto fora da família. Nesta entrevista é possível o levantamento de dados sobre
expectativas dos pais em relação à criança, o relacionamento dos mesmos e com cada elemento
da família, não sendo importante só o que dizem, mas a forma como fornecem as informações,
como ocupam a sala e se relacionam com o terapeuta. Outras características sobre a entrevista
comportamental infantil podem ser encontradas em Silvares (1998) e Conte e Regra (2000).
Procedimentos
Os procedimentos e atividades desenvolvidos nos grupos de crianças com os TA
estão voltados aos comportamentos que observamos freqüentemente relacionados às suas
dificuldades. As crianças com estas características têm mais chances de falhar ao se
exporem a situações que exijam as habilidades de leitura e escrita que estão deficitárias, o
que as coloca abaixo do desempenho esperado por pais e professores e expostas a níveis
crescentes de exigência tanto em sala de aula quanto em casa. Esta situação favorece o
desenvolvimento de comportamentos de fuga e esquiva por parte das mesmas. Desta maneira,
um dos primeiros objetivos é reverter gradualmente a esquiva apresentada em situações que
exijam habilidades acadêmicas e comportamentos específicos (como realizar uma atividade
até o final). As atividades selecionadas têm um nível de dificuldade crescente e gradualmente
vão aproximando-se de uma atividade considerada escolar. O princípio que orienta o terapeuta
é valorizar o esforço e empenho ao realizar uma tarefa e não só o resultado obtido com a
mesma. No início, todos conseguem emitir comportamentos que serão reforçados, mesmo
que sejam remotamente semelhantes ao que esperado como objetivo final. As exigências
na terapia vão aumentando de acordo com os progressos na aquisição das habilidades.
Construímos, com as próprias crianças, um conjunto de regras que envolvem o
desenvolvimento de habilidades sociais e cognitivas sobre enfrentamento de situações -
problema, que são afixadas nas salas de terapia e servem para a avaliação e auto-avaliação
Habilidades do Terapeuta
A descrição da Terapia Comportamental em grupo para crianças com TA foi feita
com o objetivo de ser operacional e cada um dos passos e características importantes,
que enfatizamos durante sua realização, foi descrita separadamente. No entanto, estamos
nos referindo a uma situação extremamente dinâmica, onde muitas variáveis atuam ao
mesmo tempo, onde várias técnicas são aplicadas ao mesmo tempo, interferindo não só
no comportamento das crianças, mas também no do terapeuta. Nesta situação, o terapeuta
deve desenvolver todo um conjunto de habilidades que são fundamentais para o processo
de terapia. Sem pretender esgotar estas habilidades, seguem abaixo as que nos parecem
mais importantes e evidentes.
Afeto, empatia, compreensão, aceitação: como é afirmado e enfatizado pelos que
descrevem e analisam o processo de terapia, seja ela individual ou em grupo, com adultos ou
crianças, é de fundamental importância a relação terapêutica. Com crianças, este é um dos
aspectos centrais sem o qual nenhuma técnica utilizada funciona. A afetividade da relação, a
empatia que o terapeuta demonstra, o respeito pela criança ao aceitá-la sem críticas e a
ausência de punição para os comportamentos inadequados, são alguns dos aspectos centrais.
As crianças com os TA apresentam uma imagem do adulto como alguém que o critica, que é
"chato". Tornar a sessão divertida, rir com a criança, torna o processo mais suave e reformula
esta visão que ele desenvolveu sobre os adultos. O caráter lúdico das atividades e uma postura
do terapeuta sem críticas, afetiva, descontraída, torna mais suave o momento de desenvolver
habilidades que são especialmente difíceis para estas crianças como a leitura, escrita, raciocínio
mais sistematizado e que estão associadas a inúmeros fracassos e punições anteriores.
Habilidades Sociais como contato visual, expressar sentimentos positivos, postura
física dentro da sala de atendimento, usar contato físico adequado, elogiar, rir, ser assertivo,
devem ser desenvolvidos em quem pretende trabalhar com crianças em situação de grupo.
O próprio terapeuta é modelado pela Situação e melhora todas as suas habilidades sociais
de relacionamento,
Empregar uma linguagem adequada à compreensão da criança e um padrão de
verbalização que utilize termos semelhantes aos do seu grupo social é outro aspecto importante.
Estar muito atento aos comportamentos e pequenos progressos alcançados pelas
crianças, principalmente no início do processo, encorajando-as a continuar. Para isto o
terapeuta deve ter clareza dos objetivos a alcançar e ser diretivo. Planejar as sessões é
importante, assim como modificá-las de acordo com os resultados que obtém. Nenhum
planejamento ou técnica deve ser mais importante que os dados obtidos na situação real
de terapia, que vão avaliar se realmente a estratégia utilizada foi adequada.
Colocar limites claros dentro das sessões, sem confrontar diretamente a criança.
Resultados e Conclusão
Ao longo do processo de terapia, são observados os seguintes resultados:
Realização de um maior número de tarefas, com níveis crescentes de dificuldade;
Diminuição no número de tarefas começadas;
Aumento na participação em situações novas de desafio;
Diminuição nas verbalizações de queixas e recusas prévias à execução de alguma
atividade;
Aumento nas verbalizações que indicam aceitação dos desafios e pedidos para
executar tarefas cada vez mais complexas;
Aumento da colaboração com as outras crianças do grupo;
Diminuição das críticas às dificuldades de outras crianças frente a alguma situação
surgida na sessão;
Seguimento das regras que foram construídas para cada um durante as várias sessões
e verbalizações que indicam o uso destas regras pela própria criança, bem como
uma auto-avaliação de seus comportamentos e suas conseqüências de acordo com
elas;
Verbalizações que indicam uma compreensão maior de que as conseqüências
dependem de seus comportamentos e podem ser manejadas por eles mesmos.
Descrição de caso
Hipótese inicial
O conjunto das dificuldades apresentadas, repertórios de leitura, escrita e cálculo
deficitários, em contraste com seu repertório verbal adequado, bom nível de informação geral
sobre diversos assuntos e relacionamento adequado com as terapeutas, combinava com a
descrição para Transtorno de Aprendizagem. Este quadro geral o expunha a conseqüências
aversivas como críticas constantes dos professores e pais, fracassos em relação às outras
crianças, mesmo em situações mais descontraídas. Felipe passou a desenvolver
comportamentos de esquiva das situações onde as habilidades de leitura, escrita, cálculo
ou a elas relacionadas eram requeridas, caracterizados por dispersões, agressões, queixas
e recusas de realizar as tarefas. Tal situação persistia desde a pré-escola e Felipe era
interpretado pelos adultos como "preguiçoso", "mimado", "protegido da mamãe", “briguento".
Suas verbalizações demonstravam uma crítica acentuada à sua pessoa como um todo
(“sou burro"; "sabia, eu errei de novo"). Ele era indiferente à importância do trabalho escolar,
tanto verbalmente quanto em termos de comportamentos. Conseqüências como notas mais
baixas, comentários negativos dos professores ou pais e a possibilidade de ser reprovado
não exerciam controle aparente sobre seu desempenho de realizar as tarefas. O fracasso
diante destas solicitações era altamente provável e ele optava por não mostrar seu nivel real
de dificuldades ("não vou fazer nada chato!" - relacionado a ler, escrever e calcular).
Referências
American Psychiatric Association (2000). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders,
fourth edition, Text Revision. Washington, DC: American Psychiatric Association.
Baraldi, D M. (2000). Orientação a pais e atendimento a crianças em grupo: um atendimento
conjugado. Dissertação de Mestrado desenvolvida sob orientação da Dra Edwiges
Ferreira de Mattos Silvares. Departamento de Psicologia Clínica da USP (IPUSP).
Universidade de São Paulo.
Bellack et al (1997). Social Skills Training for Schizophrenia: a step by step guide. New York: NY:
The Guilford Press.
Conte, F. & Regra, J, (2000). A psicoterapia comportamental infantil: novos aspectos. In Silvares,
E. F. M. (org), Estudos de caso em psicologia comportamental infantil (pp.79-136).
Campinas, SP: Papirus
Guerrolhas, F. Bueno, M. & Silvares, E. F. M (2000). Grupo de Ludoterapia Comportamental X
Grupo de Espera Recrestivo Infantil. Dissertação de Mestrado desenvolvida sob
orientação da Dra. Edwiges Ferreira de Mattos Silvares. Departamento de Psicologia
Clínica da USP (IPUSP).Universidade de São Paulo.
Knell, S.M. (1995). Cognitive-Behavioral Play Therapy. Ohio, Cleveland: Hardcover.
Kohlenberg, R. J., & Tsai.M. (1991). Psicoterapia Analítica Funcional. Santo Andró, SP: ESETec.
McFayden-Kettchum, S., & Dodge ,K.A. (1998). Problems in Social Relationships. In E. J.Mash,
& B. A. Barkley (Org.). Treatments of childhood disorders, 2nd ed.(cap.B) (pp,338-365).
New York, NY: Guilford Press.
Rose, S.D. (1977). Behavior Therapy in Groups. Prentice Hall.
Ross, A. (1974). Os distúrbios psicológicos da infância. São Paulo: SP: McGraw Hill Ed.
Silvares, E. F. M. (1993). O pape!preventivo das cllnicas-escola de psicologia em seu atendimento
a crianças. Temas em Psicologia, 2 .
Vinogradov, S., & Yalom, I. (1992). Manual de Psicoterapia de Grupo. Porto Alegre, RS: Ed. Artes
Módicas.
Sobro C'omportiimcnto c C o r ii M o
Capítulo 35
0 Jato de A r Quente Como Estímulo
Aversivo: Efeitos da sua
Apresentação Contingente e Não-
Contingente em Rattus
N orvegicus'2.
M d rcua Hcntcs </<• C',itv,ilho Neto*
400 Marcuti R. ile Ctirvalho Neto, Vivliinc V Rico, l}r<Ky K. »1» S. Anwurl C/ouvctii I r , losó Q . I. An^cnimi
foi testada a função do JAQ (concorrendo com reforçamento positivo continuo) após o
fortalecimento de uma resposta em esquema contínuo. Tanto em esquema contínuo (CRF)
quanto em esquema intermitente (FR3) de apresentação do evento, observou-se a
supressão do responder (na ordem de ‘‘"{98,4% e “|71,15%, respectivamente).
Em um segundo estudo (Maestri & Carvalho Neto, 2004), após dez sessões de
punição, de forma continua para um grupo e intermitente (FR3) para outro, ambas
concorrendo com o reforçamento positivo continuamente apresentado, observou-se que a
função supressora do JAQ foi mantida ao longo de todo o experimento (com queda de
"186,27% no grupo CRF e de “151,45% no grupo FR3).
Em um terceiro estudo (Ribeiro & Carvalho Neto, 2004) foi avaliado o efeito da
ordem de apresentação do esquema de punição, de contínuo para intermitente (FR3) em
um grupo e de intermitente (FR3) para contínuo em outro (todos concorrendo com
reforçamento positivo contínuo). O JAQ funcionou como Sp+ em ambas as condições e o
efeito supressor foi maior no esquema contínuo nos dois grupos. Esses resultados também
sugerem que prevaleceu o tipo de esquema usado e não a experiência prévia (efeito de
ordem de exposição) com o Sp+.
Em um quarto estudo (Magalhães & Carvalho Neto, 2004) foi testado o efeito da
apresentação contínua do JAQ (concorrendo com reforçamento positivo contínuo) após
diferentes histórias de fortalecimento prévio (CRF, VR5 e VI5"). Observou-se uma queda
de “ {92,91 % no grupo CRF 4, deu{88,08% no grupo CRF 8, de "{98,98% no grupo VR5
e de" |97,78% no grupo VI5”. Ocorreu, portanto, a supressão parcial do responder (acima
de" {88%) independentemente do esquema de fortalecimento prévio.
Note-se que em todas as condições testadas o JAQ, nas especificações físicas
aqui descritas e usando um total de 22 ratos, suprimiu parcialmente o responder, mostrando-
se um punidor efetivo nos contextos utilizados.
Sendo o JAQ um evento supressor do responder quando disposto de maneira
contingente, como um punidor positivo, seria também capaz de suprimir o responder quando
apresentado de maneira não contingente a uma classe de respostas?
Camp, Raymond & Church (1967) testaram alguns procedimentos envolvendo a
apresentação contingente, com e sem atraso do choque elétrico, e a apresentação não
contingente deste mesmo estímulo sobre a freqüência da resposta de pressão à barra em
ratos. Em um dos experimentos, 84 ratos foram divididos em seis grupos: um grupo de
apresentação contingente do choque elétrico sem atraso (0.0 segundos), composto por
18 ratos; dois grupos com atraso diferenciados (7.5 e 30 segundos, respectivamente),
compostos por 18 ratos cada; um grupo de apresentação não contingente do choque; um
de apresentação contingente com atraso de 2.0 segundos; e um grupo controle (não
recebia choques), cada um composto por 10 ratos. Todos os ratos foram submetidos
inicialmente a 10 sessões de treino discriminativo durante as quais respostas de pressão
à barra na presença de um estímulo auditivo eram conseqüenciadas com pelotas de
alimento. Em seguida, cada grupo foi submetido a 12 sessões de apresentação do choque
com intensidades variando de 0.1 a 2.0 mA. A apresentação do choque após cada resposta
ocorria para cada grupo da seguinte forma: apresentação sem atraso (grupo 1),
apresentação com atraso de 2.0 segundos (grupo 2), com atraso de 7.5 segundos (grupo
3) e com atraso de 30 segundos (grupo 4). Na ausência do estímulo auditivo, choques
eram liberados aproximadamente a cada 2 minutos independente da emissão da resposta
para o grupo 5 (apresentação não contingente) e o grupo 6 não recebia choques. Em
M ÉTODO
Sujeitos; Seis ratos albinos (Rattus norvegicus, Wistar), machos, com idade no início do
experimento de aproximadamente 10 meses, obtidos junto ao Biotério da UNESP de
Botucatu, experimentalmente ingênuos, em privação de água de 24 horas antes de cada
sessão experimental e fornecimento continuo de comida na gaiola-viveiro. Os animais
eram acomodados em duas caixas de polipropileno forradas com serragem: Grupo Punição
+ CRF com cinco sujeitos (dois não usados) e Grupo Não Contingente com quatro sujeitos
(um não usado). Ambas as caixas ficavam alojadas em uma Estante Ventilada Para
Camundongos e Ratos da Alesco Indústria e Comércio Ltda (mod. ALE 9902.001) com
controle constante de temperatura (20°) e umidade (65%). Os animais eram conduzidos
em grupo nas sessões de fortalecimento e individualmente nas sessões de enfraquecimento
da resposta e eram imediatamente devolvidos a estante logo após as sessões, quando
recebiam então 10 minutos de água.
Ambiente da Pesquisa: As sessões de fortalecimento da resposta de pressão á barra
foram realizadas no Laboratório de Psicologia Experimental da UNESP-Bauru. As sessões
que envolveram a apresentação do JAQ foram realizadas no Laboratório de Psicobiologia
e Psicopatologia Experimental da UNESP-Bauru.
Equipamentos & Materiais: Para as sessões de fortalecimento operante foram utilizadas
seis Caixas de Condicionamento Operante Modelo 3 da Insight Equipamentos Ltda, todas
alojadas em Cabines de Isolamento Térmico e Acústico (Modelo padrão da Insight). As
M.IIWS R. ilo C.hv.i IIw Neto, Vrvwme V Rkt>, (yr.iiy K. tLi S. fobia», Am.iun C/uuvru Ir , liwé (./■ I. An#ci<imi
sessões envolvendo apresentação do Sav foram realizadas em uma Caixa de
Condicionamento Operante Modelo FUNBEC adaptada: o teto era constituído de uma tela
de arame (com orifícios em formato quadrangular de 0,5 cm cada) que separava o interior
da caixa de um secador de cabelo acoplado sobre a caixa de condicionamento (Para
detalhes sobre o equipamento, ver Carvalho Neto & cols., Submetido). O secador da
marca TAIFF, modelo Turbo 6000,1700w, com cinco possíveis combinações de intensidade
do deslocamento do ar e temperatura do jato e nível de ruído de 85 db. A intensidade do
jato de ar quente aqui adotada foi a intermediária do equipamento (número 2). O jato era
acionado por um período de 5 segundos e aumentava a temperatura em aproximadamente
2 graus Celsius em um raio de 10 cm. Uma filmadora (Panasonic NVRZ315 BR) usada
somente nas sessões de apresentação do JAQ, cronômetro, folhas de registro e caneta.
Fase
Fase
Fase 3(Condição Fase 4(Condição
Grupos 1(Modolagom da 2(Fortalecimento da
Aversiva 1) Aversiva 2)
RPB)
RPB)
A. JAQ Aquisição da CRF (água) _ 5’ iniciais: CRF _ 30':CRF
Contingente RPB (5 sessões de 60’ (água). (água)+CRF
cada) „ 25’ CRF (JAQ)
(água)+CRF (Uma sessão)
(JAQ)
(Uma sessão de
30)
B: JAQNão Aquisição da CRF (água) _ 5’ iniciais: CRF _ 30’:CRF
Contingente RPB (5 sessõos de 60’ (água). (água)+FT10"
cada) _ 25’:CRF (JAQ)
(água)-* FT10" (Uma sessão de
(JAQ) 30’)Não Ocorrida
(Uma sessão de
30')
Fig. 1; Delineamento experimental com exposição ao Jato de Ar Quente, concorrentemento
ao reforçador positivo (água), de forma Contingente (CRF) o Não-Contingente (FT10").
Procedimentos Específicos:
As sessões de instalação e fortalecimento da RPB para todos os sujeitos seguiram o
padrão clássico, com modelagem, autoshaping e CRF em sessões de 60 minutos em média.
Para o Grupo Contingente, na 1asessão de Punição+ a água permanecia disponível
em regime de CRF contingente á RPB durante os 5 primeiros minutos. Após esse período
a água permanecia disponível em regime de CRF contingente à RPB, mas também, no
mesmo regime, durante 5 segundos, um jato de ar quente era acionado a cada RPB. Essa
parte da sessão durou 25 minutos. Na 2“ sessão de Punição* não houve um período
inicial de 5 minutos de CRF de água sem a presença do JAQ, iniciando já com a punição*
e pelo mesmo tempo total (30 minutos).
R esultados e discussão
Observou-se nas sessões envolvendo apresentação do JAQ uma redução na
freqüência da classe de resposta previamente fortalecida independentemente do esquema
de apresentação, CRF (contingente) ou FT10" (não contingente). Entretanto, a apresentação
contingente suprimiu parcialmente o responder (percentuais de queda por sujeito de: PC1:
" j 84,87% e " |95,4%; PC2: "J 88,98% e "J 88,98%; PC3: " [ 92,02% e "189,57%,
respectivamente), enquanto que a apresentação não contingente suprimiu integralmente o
responder nos três sujeitos (FT 1, FT2 e FT3:" Jl 00%3). (Ver Figura 2).
8.0 T
45 ■
c 4.0 ■
2 3.6-
Î npci
á ,i0 ,
$ 2.5 • --------------------- ; D PC?
(üsssm 1
& 2,0 ■ *! " — .....1 BPC3
8 1.S ■
<r 1,0 •
0.5 ■
0.0 •
CRF1 CRF2 CRr3 CRF4 CRhfi Modm CRr P+ P*
Sa m Ao
404 Mcirvus H. tic C'cwviillw Neto, VM.irw V Riu), Qn*cy K. <Li S. lobia», Anviuri C'/ouvtii Ir , kwí C/. T. Antfcntmi
Tipicamente, os padrões de fortalecimento da resposta nos primeiros cinco minutos
preliminares da primeira sessão de condição aversiva foram similares (positivamente
acelerados) nos dois Grupos, mas ao iniciar o período de exposição ao JAQ os desempenhos
diferenciaram-se. No Grupo Contingente o responder foi reduzido de freqüência, mas não
integralmente, pois algumas respostas ainda ocorriam ao longo da sessão. No Grupo Não
Contingente houve, em contraste, uma supressão absoluta do responder, não sendo
registrada nenhuma RPB durante esse período (Ver Figura 3).
Os dados aqui descritos são diferentes dos produzidos com choque elétrico por Camp
& cols. (1967), no qual a supressão observada foi maior durante a punição positiva sem atraso do
que durante a apresentação não contingente. Esta diferença pode ser atribuída especialmente
ao procedimento adotado em cada estudo. Mais à frente a questão será retomada.
Em relação â produção de respostas emocionais, observou-se que todos os sujeitos
expostos ao evento aversivo de maneira não contingente defecaram e urinaram durante o
experimento, enquanto apenas um sujeito do Grupo Contingente urinou durante a sessão,
não sendo registradas respostas de defecaçào nesse Grupo (ver Figura 4).
Fig. 4: Respostas emocionais (defecar e urinar) apresentadas por cada sujeito em cada
Grupo (Contingente e Não-Contingente).
R eferências
Azrin, N, K , & Holz, W. C. (1975), Castigo. Em W. K. Honig, (Ed.), Conducta operante. investigación
y aplicaciones (pp. 455-531) (F. López, E. Galindoe E. R. Ingosta, Trads). México: Trillas.
406 M«irvus R. tlc Ciirvullx) Neto, V iviane V R k o , C/rucy K . «Li S. Tobús, Am»iuri (/o u v tii li , kntf C/. I, An^eriimi
Azrin, N. H. (1958). Some effects of noise on human bohavior. Journal of the Experimental
Analysis of Behavior, 1, 183-200.
Baron, A. (1991). Avoidance and punishment. In I. H. Iversen & K. A. Lattal (Eds.), Techniques in
the behavioral and neural sciences: Experimental analysis of behavior. Amsterdam, The
Netherlands: Elsevior.
Barry Jr., J, J., & Degelman, J (1961). A high-power noise amplifier with an electronic keying
system, Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 4, 85-86.
Camp, D. S., Raymond, G. A, & Church, R. M. (1967). Temporal relationship between response
and punishment. Journal of Experimental Psychology, 74 (1), 114-123
Carvalho Neto, M. B., Maestri, T. C., Tobias, G. K. S., Ribeiro, T. C., Coutinho, E. C. N. N., Miccione,
M. M., Oliveira, R. C. V., Ferreira, F. S. S., Farias, D. C., & Moroira, D. (Submetido). Ojatode
ar quente como estimulo punidor em Rattus norvegicus. Manuscrito submetido para
publicação na Revista Psicologia: Teoria e Pesquisa em janeiro do 2005.
Catania, A. C. (1999). Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição. 4" Edição (D. G.
Souza ... [et alj, Trads). Porto Alegre: Artmed.
Domjan, M., & Burkhard, B. (1993). The principies of learning and behaviour. Pacific Grove, CA:
Brooks/Colo.
Herman, R. L., & Azrin, N. H. (1964). Punishment by noise in an alternative response situation.
Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 7 (2), 185-188.
Holz, W. C., & Azrin, N. H. (1962). Recovery during punishment by intense noise. Psychological
Reprints, 11, 655-657.
Knutson, J. F., & Bailey, M. I. (1974). Free-operant escape-avoidance of noise by rats. Journal of
the Experimental Analysis of Behavior, 22 (1), 219-229.
Lattal, K. A & Perone, M (Eds.) (1998). Handbook of research methods in human'operant
behavior. New York: Plenum.
Maestri, T. C., & Carvalho Neto, M B. (2004). Os efeitos de uma longa história (10 sessões) do
apresentação continua e intermitente de um jato de ar quente sobre a freqüência de
pressão à barra em Rattus norvegicus. Caderno de Resumos da VII Semana Científica
do Laboratório de Psicologia (pp. 25-26). Departamento do Psicologia Experimental,
Programa de Pós-Graduação em Teoria o Pesquisa do Comportamento, Universidade
Federal do Pará, Belém-PA.
Magalhães, P. G. S., & Carvalho Neto, M. B. (2004). Os efeitos de diferentes histórias fortalecimento
operante sobre a sensibilidade a eventos punitivos contínuos (jatos de ar quonto). Em
Caderno de Resumos da VII Semana Científica do Laboratório de Psicologia (p. 26).
Departamento de Psicologia Experimental, Programa do Pós-Graduação em Tooria e
Pesquisa do Comportamento, Universidade Federal do Pará, Bolóm-PA.
Ribeiro, T. C., & Carvalho Neto, M. B. (2004), Alguns efeitos da apresentação contínua o intermitente
de um jato de ar quente sobre a freqüência de pressão à barra em Rattus norvegicus. Em
Caderno de Resumos da VII Semana Científica do Laboratório de Psicologia (p. 26).
Departamento do Psicologia Experimental, Programa do Pós-Graduação em Tooria e
Pesquisa do Comportamento, Universidade Federal do Pará, Belóm-PA.
(iRÜPO I: PUNIÇÁO K R?
SHSSÓFS
---------- ------------ 1--------- Pt 1
um o CRI- 1 CRI* 2 CRI* 3 CRI 4 CRI 5 Pt 2
CRI- Pi
122 RÍ’ B 9 6 RPB~ ” 95~RPB 94 RPB 81 RPB 17 RPB 7 RPB 2 RPB
PCI 1,52 1.6 1.58 1,57 1.35 3.4 0,23 0,07
R/MIN R/MIN R/MIN R/MIN R/MIN R/MIN R/MIN R/MIN
43 RPM 6« RPB 81 RÍ*B 62 RPB 66 RPB 21 RPB 4 RPB 4 RPB
PC 2 1,43 1.0 1,35 1,03 1,1 4.2 0,13 0,13
R/MIN R/MIN R/MIN R/MIN R/MIN R/MIN R/MIN R/MIN
117 RPB 124 RPB 84 RPB 76 RPB 147 RPB 8 RPB 4 RPB 5 RPB
PC3 1,95 1,57 0,93 1,27 2,45 1.6 0,13 0,17
R/MIN R/MIN R/MIN R/MIN RM IN R/MIN R/MIN R/MIN
Anexo 1: Total de RPB, Taxa de RPB/Min de cada sujeito, em cada sessão, do Grupo
Contingente.
Anexo 2: Total de RPB, Taxa de RPB/Min de cada sujeito, em cada sessão, do Grupo
Não Contingente.
408 Miircus B. de C.irv.tllK) Nldo, V íw in r V Rico, C/wcy K. tki S. lobvis, Am<njri C/ouvci.i I r , losí C/. f. An#cr<imi
Capítulo 36
410 Mitri.i ilii C/r.ivu Sdlil.mfni P.uiilli.t, I úci.i C.Witlamti de Albuquerque Willicim*
profissional não deve apenas relatar os resultados, levantamentos e números à comunidade,
mas interagir com esta, proporcionando momentos de reflexões, questionamento e discussões,
a fim de explicar e entender os seus achados e articulá-los para futuras aplicações práticas
que promovam a proteção das pessoas e o desenvolvimento adaptado."
Segundo Gordon e Schroeder (1995 - p. 17), os pais apresentam diversas desculpas
para não falarem sobre abuso sexual com seus filhos. As mais comuns são: "o assunto é
muito difícil para discutir"; "os tópicos podem amedrontar as crianças"; "a criança ó muito
jovem para esta discussão" ou ainda "a necessidade desta discussão não ocorreu aos pais".
É importante detectar o conhecimento que os pais têm acerca do abuso sexual
infantil, para que possam aprimorar suas habilidades de proteger seus filhos, e maximizar
as habilidades pessoais de segurança das crianças, seja orientando-as, seja oportunizando
sua participação em programas de prevenção primária.
O estudo relatado a seguir teve como objetivos verificar o conhecimento de pais
de uma comunidade carente acerca de abuso sexual e verificar sua opinião sobre questões
pertinentes a esse assunto, para posterior aplicação de um programa de prevenção.
Método
Os participantes foram 63 pessoas residentes em uma comunidade da região
metropolitana de Curitiba-Pr, da qual emergem com freqüência denúncias de maus-tratos
e abuso sexual feitas ao Conselho Tutelar da região. Entre os participantes, 82,5% eram
mulheres e 17,5% homens, com idade média de 38 anos, renda familiar média de 633,00
reais e a maioria com escolaridade de primeiro grau (73%). Os participantes foram sorteados
entre pais de alunos de uma escola local de primeiro grau, na qual foi posteriormente
realizado um programa de prevenção primária de abuso sexual.
Utilizou-se um questionário com 40 afirmações (alternativas: concordo totalmente,
concordo em parte, não sei, discordo em parte, discordo totalmente), abordando os seguintes
temas: características do abuso sexual, causas, conseqüências para a criança, informação
para crianças e pais, características do agressor, punição ao agressor. Os participantes foram
convidados a comparecerem locais previamente determinados, escolhidos pela Direção da
escola, segundo sua proximidade com as residências dos participantes. Os aplicadores do
questionário, que foram a primeira autora e oito alunos de graduação em Psicologia, reuniram-
se com os participantes nesses locais, em horários previamente determinados. A aplicação foi
feita individualmente porém simultaneamente nos locais citados acima, na forma de sessões
de aplicação que duraram aproximadamente uma hora cada. Os aplicadores leram as questões
para cada participante e anotaram as alternativas escolhidas (alguns dos participantes eram
analfabetos). Após cada sessão, os participantes foram convidados para uma confraternização,
que consistiu em reuniões com lanches fornecidos pela equipe de aplicadores.
Resultados e Discussão
A análise a respeito de conhecimento e opiniões dos participantes acerca de
abuso sexual foi realizada agrupando-se as questões do questionário referentes a cada
um dos seis temas abordados.
Na Tabela I são mostrados os resultados sobre o conhecimento dos participantes
em relação às características do abuso sexual. Os resultados de duas questões chamam
a atenção: o abuso sexual envolve contato físico (58,7%) e o abuso sexual é praticado
com violência física (65,1%). De acordo com a literatura, há comportamentos considerados
412 M iiri.i <!<■ C/r.iç.i S<il<lanh.i [\idilh.i, Lúci«i L'.iv.ilc.tnli de Albuquerque W illi<nm
(96,8%). Adicionalmente, a maioria náo considerou que falar sobro abuso com a criança
poderia aumentar sua curiosidade, no sentido de fazê-la expor-se a situações de risco (25,4%).
Tabela IV. Porcentagem de concordância em questões relativas à educação sobre abuso sexual.
Questões T%
Falar sobre abuso aumenta a curiosidade da criança 25,4
As pessoas nâo tôm informação sobre abuso 46
As crianças deveriam ser informadas pelos pais 95,2
As crianças deveriam ser informadas pela escola 96,8
Os adultos deveriam conversar mais sobre o assunto 96,8
Questões [%
Apenas homens praticam 44,4
Pode ter qualquer escolaridade 87,3
Pode ter sido vitima de abuso 49,2
Nào tem caráter 96,8
Deve ser denunciado 98,4
Nunca é condenado 55,6
Deveria fazer tratamento psicológico 84,2
A Tabela VI contém, finalmente, questões que permitem conhecer a opinião dos
participantes, a respeito da punição ao agressor. A grande maioria (87,3%) sabia que
abuso sexual é crime, pouco mais da metade (58,7%) opinou que as pessoas denunciam
os casos de que tomam conhecimento, mas quase a totalidade opinou que os que não
denunciam não o fazem porque têm medo de ameaças ou de vingança (90,4%). Uma
pequena parte (22,3%) achou que a comunidade deveria fazer justiça com as próprias
mãos, dado que somado ao da Tabela V - o agressor nunca ó condenado (55,6%)- pode
apontar para a incredulidade dos participantes no sistema judicial brasileiro quanto à
impunidade de tal crime.
Questões ["%
Abuso sexual ó crime na lei brasileira 87,3
As pessoas denunciam casos 58,7
As pessoas nâo denunciam porque tômmodo deameaças ou 90,4
de vingança
A comunidade deveria fazer justiça com asprópriasmáos 22,3
R eferên cias
Associaçáo Brasileira de Proteção à Infância e à Adolescência (ABRAPIA) (2003) Sistema
nacional de combate à exploração sexual infanto-juvenil. Retirado da World Wide Web
em março de 2005: http://www.abfapia.Qrg.br.
Benetti, S. PC. (2002) Maus-tratos da Criança: Abordagem Preventiva. Em: C.S. Hutz (org )
Situações de Risco e Vulnerabilidade na Infância e na Adolescência - Aspectos Teóricos
e Estratégias de Intervenção. São Paulo: Casa do Psicólogo.
Faller, K.C. (1989) Why sexual abuse? An exploration of the intergeneration hypothesis. Child
Abuse and Neglect, 13, 543-548.
Finkelhor, D. (1984) Child Sexual Abuse. New York: Free Press, Macmillan.
Gibson, L. and l.oitonborg, H, (2000) Child Sexual Abuse Prevention Programs: do thoy docrease
the ocurrence of child sexual abuse? Child Abuse and Neglect, 24, 1115-1125.
Gordon, B. and Schrooder, C. (1995) Sexuality: a developmental approach to problems. New
York: Plonum Press.
Leventhal, J. (1987) Programs to prevent sexual abuse: what outcomes should bo mesured?
Child Abuse and Neglect, 11, 169-172.
Lisboa, C.S.M. e Koller, S.H. (2002) Considerações Éticas na Pesquisa e na Intervenção sobre
Violência Doméstica. Em: C.S. Hutz (org.) Situações de Risco e Vulnerabilidade na
Infância e na Adolescência - Aspectos Teóricos e Estratégias de Intervenção. São Paulo:
Casa do Psicólogo.
Padilha, M.G.S. (2001) Adolescentes institucionalizadas vitimas de abuso sexual: análise de
um processo terapêutico em grupo. Dissertação de mestrado. Universidade Federal do
Paraná, Curitiba.
414 M.irUi «l,i C/r.iva Vald.tnh*» P.ulillt.i, I úci<t C\iviilciinti dc Albuqunijuc Willi.ims
Parynik Mendel, M. (1995). The male survivor: The impact of sexual abuse. Thousand Oaks, CA: Sage.
Pears, K.C., & Capaldi, D.M. (2001) Intergenerational transmission of abuse: a two-generational
prospective study of an at-risk sample. Child Abuse and Neglect, 25, 1439-1461.
Ramsey-Klawsnik, H. (1990a). Sexually abused boys: Indicators, abusers, and impact of trauma.
Paper presented at the Third National Conference on the Male Survivor, Tucson, AZ.
Reppold, C.T., Pacheco, J., Bardagi, M., Hutz, C.S. (2002) Prevenção de Problomas de
Comportamento e o Desenvolvimento de Competências Psicossociais em Crianças o
Adolescentes: uma Análise das Práticas Educativas o dos Estilos Parentais. Em: C.S.
Hutz (org.) Situações de Risco e Vulnerabilidade na Infância e na Adolescência - Aspectos
Teóricos e Estratégias de Intervenção. São Paulo: Casa do Psicólogo.
Trickett, E. and Levin, G.B. (1990) Paradigms for Prevention: Providing a Context for Confronting
Ethical Issues. In: E. Trickett; G.B. Levin; R. Ness, (orgs.) Ethical Implications of Primary
Prevention. Now York: The Haworth Press.
Williams, L.C.A. (2002) Abuso sexual infantil. Em: H, J. Guilhardi, M.B.Madi, P.Queiroz, M.C.Scoz
(orgs.) Sobre comportamento e cognição. Contribuições para a construção da teoria do
comportamento. Santo Andró, SP: ESETec.
Wolfe, V.V. (1998) Child Sexual Abuse. In: G.Mash, & R. Barkley, Treatment of Childhood
Disorders . New York: The Guilford Press.
Wurtele, S.K. (1987) School-based sexual abuse prevention programs: a review. Child Abuse
and Neglect, 11, 483-495.
Estudar, compreendido como uma relação especifica entre a ação de uma pessoa
e seu ambiente, constituiu uma classe de comportamentos. Como tal, está sujeita
às mesmas leis e princípios que regem condutas humanas, e tão passível de
investigação quanto quaisquer outros comportamentos específicos tomados com
objotos da Ciência". (Cortegoso e Botome, 2002, p. 50 e 51)
Os autores também discorrem sobre a relevância de estudar como objetivo
educacional e sua inclusão nas práticas do cotidiano escolar:
“Em uma sociedade a cada dia mais exigente em relação á produção e uso do
conhecimento, muitas são as dificuldades, nos âmbitos acadêmico, profissional
e social do um modo geral, que decorrem de ausência ou insuficiência de um
roportório de comportamentos que, não sondo dirotamonte ensinado pela oscola
ó, no entanto, crucial para atonder às domandas dessa agência: o de estudar".
(Cortegoso e Botome, 2002, p. 50)
A maneira como Analista realizava a intervenção, nas vezes em que chegava a fazé-
lo, indica também propriedades importantes para a compreensão dos efeitos que
conseguia. Ao invés de dar destaque ao comportamento presente (e eventualmente
inadequado da criança) ou de constrangè-la utilizando recursos do controle coercitivo,
Analista sugeria nova atividado ou novo modo de fazer o que estava sendo feito pola
criança. Algumas vezes apenas conversava com a criança sobre assunto diverso. Ao
invés do admoestar oferecia nova condição para que a criança pudesse se engajar
em comportamento mais apropriado.
... Evitar um confronto direto com a criança sobre seus comportamentos inadequados
não significa privá-la de informações sobre os aspectos de sua conduta que são
indesejáveis. O fato de Analista olhar em tomo de si, para o conjunto das crianças,
mesmo na ausência do solicitação especifica por parte delas, de tempos em tompos,
criava, provavelmente, uma condição privilegiada para a identificação precoce de
acontecimentos, ao mesmo tempo em quo permitia a ola munir-se de informações
sobro o dosompenho das crianças enquanto ocorriam, ainda que por amostra ... É
possível supor que, ao contrário de companheira, sua atuação tendia a se voltar
mais para processos comportamentais subjacentos ao estudar do que a
comparações do que era produzido pela criança com padrões estabolecidos, de
forma absoluta e sem inserção no repertório comportamental da criança. (Cortegoso
e Botome, pps 62 e 63)
Especificamente para a família também existem algumas orientações ou pacotes de
variáveis que produzem comumente resultados favoráveis ou desfavoráveis à implementação
de hábitos de estudos. Hübner (1999) analisa tais conjuntos de comportamentos familiares
dividindo-os em dois padrões antagônicos que comportam, no entanto, um complexo continuo
entre ambos, da seguinte forma:
R eferências
ASSIS, Fátima Regina Pires de (1986). Lição de casa: um estudo exploratório sobre as condições
e conseqüências de sua elaboração, em crianças da primeira série do primeiro grau.
São Paulo: Dissertação de Mestrado em Psicologia Experimental, IP-USP.
CORTEGOSO, Ana Lucia e BOTOMÉ, Silvio Pauto (2002). Comportamentos de agentos
educativos como parte de contingências de ensino de comportamentos de estudar.
Psicologia Ciência e Profissão (revista dos consolhos federal e regionais de psicologia).
22 (1), 50-65.
HÜBNER, Maria Martha (1999). Contingências e regras familiares que minimizam problemas
de estudo: a família pró-saber. In KERBAUY, Rachel Rodrigues e WIELENSKA. Regina
Christina. Sobre Comportamento e Cognição: Psicologia Comportamontal e Cognitiva
- da reflexão teórica à diversidade na aplicação. 1a ed. Santo Andró, SP: ESETec, v. 4.
MATOS, Henrique Cristiano José (1994). Aprenda a estudar. Orientações metodológicas para
o estudo. Potrópolis, RJ: Vozes.
MOROZ, Melania (1993). Educação e autonomia: relação presente na visão do B. F. Skinnor.
Tomas em Psicologia - Análises da análise do comportamento: do conceito à aplicação
(Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia). N. 2, 31-40.
SERAFINI, Maria Teresa (2001). Saber estudar e aprender Lisboa: Editorial Presença.
SILVA, Adelina LoposeSÁ, lsabolde(1997). Saber estudar e estudar para saber. Porto (Portugal):
Porto Editora, LDA.
SKINNER, B. F. (1972). Tecnologia do Ensino. Sào Paulo: Hurder e Edusp.
ZANOTTO, Maria de Lourdes Bara. Formação de Professores: a contribuição da análise
Comportamental a partir da visão Skinneriana de Ensino. Tese de Doutorado em
Psicologia da Educação PUC-SP, orientada pela Profa Maria do Carmo Guedes.
Augusto A n u to N c k f
M iiy r.i I lclcn .1 Roniltkio O/. M encflliclo, A u r u * Io A m .ilo N o to , Miiri<i 1'rislinti I. V e lo / leixcír.i
probabilidade da outra, a controlada. A resposta controladora pode manipular quaisquer
das variáveis das quais a resposta controlada ó função. Há muitas formas diferentes de
autocontrole (Skinner, 1979).
O comportamento dos sujeitos ocorre (desenvolve-se e modifica-se) em função de
certas condições ambientais que podem ser especificadas segundo Caballo (1996). A
partir desses pressupostos teóricos o objetivo geral deste trabalho foi analisar e explorar a
influência da análise comportamental de um cliente colaborador no desenvolvimento do
processo de autocontrole, tanto em relação à situação terapêutica como em relação a
contingências da vida diária. Derivado disso, um dos objetivos específicos do trabalho foi
explorar como este processo de autocontrole poderia se manifestar não só na cliente,
mas tambóm nos estagiários em fase de treinamento em análise do comportamento.
Partiu-se da hipótese que as diferentes análises funcionais dos comportamentos
relevantes do cliente colaborador afetariam o domínio e a capacidade de autocontrole
desses estagiários frente ao processo terapêutico. Isto é, as respostas operariam em
diversas contingências ambientais do processo com o objetivo de alterar outras respostas,
no caso: as respostas de autoconhecimento do cliente-colaborador e as respostas de
conhecimento por parte dos estagiários responsáveis pelo processo terapêutico. Alguns
comportamentos do cliente seriam, em última instância, uma função dos comportamentos
dos estagiários que conduziam essas sessões.
Existem pressupostos teóricos para tentar compreender de que maneira um
indivíduo pode ter êxito na regulação de seu próprio comportamento. Caballo (1996) coloca
que o autocontrole converte os processos naturais que normalmente estão fora da
consciência, por serem encobertos e informais, em procedimentos que são conscientes,
manifestos e formais. O desenvolvimento do autocontrole parte de uma premissa essencial
que é a generalização desses comportamentos conscientes e formais ao ambiente natural
da pessoa situando de algum modo a Intervenção nesse ambiente.
É possível afirmar, ainda, que o termo autocontrole expressa claramente a importância
do papel da pessoa como diretor de seu próprio comportamento. Trata-se a pessoa como se
fossem duas pessoas. De um lado, um indivíduo que se comporta de modo problemático em
uma serie de situações (controlado) e, de outro, o indivíduo controlador que observa, avalia e
tenta modificar o comportamento do primeiro (Caballo, 1996).
Desta forma, o objetivo do autocontrole ó comumente chamado de auto-realização
ou auto-atualização. A satisfação parece estar associada com a realização, com evitar
restrições e descobrir reforçadores positivos. A atualização parece estar mais voltada para
o engrandecimento de histórias genéticas e ambientais a fim de livrar a pessoa de seus
cenários imediatos. Nos dois casos a ênfase permanece claramente no aqui e agora, no
ser ou bem estar ou na transformação momentânea (Skinner, 2002).
Então, em inúmeras vezes o comportamento é resultado de conseqüências
imediatas ambientais. A pessoa com um lugar de controle interno pode acreditar que os
resultados estão, geralmente, sob seu controle e responsabilidade pessoais. A pessoa
que prioriza o ambiente externo de controle acredita que os acontecimentos se encontram,
na maioria das vezes, controlados por fatores fora dele e que por estarem fora dele, muitas
vezes fogem a seu controle (Caballo, 1996 p. 583).
Caballo (1996) ressalta que a forma como a pessoa maneja suas respostas aos
acontecimentos é determinada, em parte, pelas causas que ele atribui a estes
comportamentos. As atribuições se produzem ao longo de dimensões básicas, como
M .iyf.i I (e(ci)ii Honil.kio Q. Mcocfllielo, Augusto Am<ilo Neto, M iiri.i ('rlstln.i f. Velo/ leixeir.i
Em Ciência e Comportamento Humano (1998), Skinner fala da vida privada como
aquela que é construída na relação do indivíduo com a comunidade verbal pertencente ao
seu meio cultural. Por isso, para compreender e analisar a subjetividade é preciso investigar
o contexto com a qual a mesma está relacionada. (Costa, 2004).
Os eventos privados são menos conhecidos que os eventos públicos. O mótodo
de contornar o que é privativo do indivíduo não ó isento de erros, pois as manifestações
públicas e privadas podem não estar perfeitamente correlacionadas (Skinner, 1998).
No processo de instalação dos eventos privados no repertório comportamental do
indivíduo, é preciso que ele se comporte publicamente e que a comunidade verbal o ensine
a discriminar e nomear o evento privado (Costa, 2004).
Um dos fatos mais extraordinários a respeito do autoconhecimento é que ele
pode não existir. Um homem pode não saber que fez alguma coisa, nem saber porque o
fez. Pode ter se comportado de uma dada maneira, talvez energicamente, e não obstante
ser incapaz de descrever o que fez. Os exemplos vão desde os lapsos verbais não
percebidos até as amnésias prolongadas nas quais grandes áreas do comportamento
anterior não podem ser descritos pelo próprio indivíduo. A possibilidade de que o
comportamento que não pode ser descrito seja encoberto origina um problema teórico
interessante, pois a existência desse comportamento deve ser inferida, não apenas pelo
cientista, mas pelo próprio indivíduo. Um homem pode não reconhecer as variáveis das
quais seu comportamento é função. Como aponta Skinner (1998), talvez devêssemos nos
surpreender com a freqüência com que esses eventos são observados.
O autoconhecimento é um repertório especial. O ponto crucial não é saber se o
comportamento que um homem deixa de relatar é realmente por ele observável, mas sim
saber se alguma vez houve razão para observá-lo. Não obstante, o autoconhecimento pode
faltar mesmo quando prevaleceram circunstâncias reforçadoras apropriadas (Skinner, 1998).
Por conta da história da filosofia e da psicologia, acreditamos que, ao emitir um
comportamento, necessariamente sabemos que ele foi emitido, mas muitas vezes temos
dificuldade em reconhecer que, quando descrevemos um comportamento nosso, dois
comportamentos ocorrem - o comportamento descrito e o comportamento de descrever -
e provavelmente eles estão sob controle de variáveis diferentes, ou seja, um não implica
necessariamente no outro. Em outras palavras, acreditamos que dada a aparente intimidade
que cada um de nós tem consigo mesmo, nossos fenômenos seriam acessíveis ao nosso
próprio conhecimento, tão acessíveis que esse conhecimento pode ser imediato; no entanto
temos dificuldades em reconhecer que o conhecimento que temos a nosso respeito está,
necessariamente, mediado por outros homens. Em fim o autoconhecimento é um produto
social (Sério, 2001, p. 206).
Sendo assim, só quando o mundo privado de uma pessoa se torna importante
para as demais é que ele se torna importante para ela própria. Ele então ingressa no
controle de comportamento chamado conhecimento. Mas o autoconhecimento tem um
valor especial para o próprio indivíduo. Uma pessoa que se tornou consciente de si mesma
por meio de perguntas que lhe foram feitas está em melhor posição de prever e controlar
seu próprio comportamento (Skinner, 2002, p. 31).
Hipotetizamos que quando nossa atuação terapêutica era mais consciente, maior
autocontrole estávamos desenvolvendo no cliente. No caso clínico que será apresentado aqui,
quando o mundo privado passou a ser importante no contexto terapêutico, os comportamentos
de fuga e esquiva da cliente colaboradora frente a essa exploração nos trouxeram uma
M .iyr.i I k’lcn.i Honíf.kio (./. Mcneflbelo, Augusto Am .ito Neto, M .iri.i Cristln.i f. Velo/ leixelr<i
e funcionai. Se correta, a previsão por parte do terapeuta adiciona evidências a favor da
adequação de sua análise, porém não a prova. Somente o controle sobre o comportamento,
pouco acessível num contexto clínico, a comprovaria. A repetição dos padrões de análise
e a repetição das comprovações de previsão dão maior solidez ao trabalho do terapeuta,
mas não lhe outorgam ainda o status de experimento (Guilhardi, 2001, p. 317-8).
O processo de autoconhecimento ocorre, concretamente, através de questões feitas
pelo terapeuta, que levam o cliente a descrever seus comportamentos e os sentimentos que o
acompanham e a relacionar esses comportamentos e sentimentos com o ambiente (Guilhardi,
2001). Neste caso, as contingências verbais que promovem a autoobservaçào sào explícitas.
"As pessoas sáo solicitadas a falar sobro o que estão fazendo ou porque o estão
fazendo e, ao responderem, podem tanto falar a si próprias com a outrem. A
psicoterapia ó, freqüentemente, um espaço para aumentar a auto-observação,
para “trazer è consciência'' uma parceria maior daquilo que é feito e das razões
pelas quais as coisas são feitas" (Skinner, 1991, p. 46-7).
O terapeuta pode auxiliar ainda mais nesse processo discriminativo dando modelos
para o cliente. Sua função não é exclusivamente questionar, mas também sistematizar as
informações, fazer previsões, levantar hipóteses, etc. (Guilhardi, 2001, p. 319).
Assim, o conhecimento emerge da relação inseparável entre a prática ou vivência
(o cliente deve entrar em contato real com, as conseqüências de seus atos) e a reflexão (o
terapeuta deve auxiliar o cliente a identificar as operações às quais responde). Essa relação
dinâmica envolve: observação do comportamento como ponto de partida para a formulação
(ainda que na forma de hipóteses) das contingências em operação; previsão sobre
comportamentos, se essas contingências forem reais, ou sobre suas alterações, no caso
de manipulação das contingências; contato com as contingências, o que permitirá confirmar
ou não as previsões; nova elaboração das contingências em operação (se for o caso);
novo teste de realidade e assim sucessivamente (Guilhardi, 2001).
M étodo
Estudo de Caso
A pesquisa no presente estudo assumiu a forma de estudo de caso para a coleta de
dados. Partiu-se do pressuposto de aplicar a análise clinica de orientação comportamental
para explicar aqueles comportamentos clinicamente relevantes do cliente.
Considerando que os resultados desta pesquisa estavam enquadrados na parte
prática de uma disciplina do currículo básico de formação em bacharel em psicologia
denominada Técnicas de Observação Comportamental, determinou-se que o critério de
inclusão do caso na pesquisa fosse que o cliente não estivesse estudando psicologia,
nem ser menor de idade. Assim, o cliente que se dispôs a colaborar era uma estudante de
19 anos que na época cursava o 2o ano do curso de Administração. Para referir-se à
mesma usaremos o nome fictício de Isadora.
Discussão do Resultados:
Comportamentos clinicamente relevantes da cliente colaboradora que funcionaram
como estímulos discriminativos para o controle e atuação terapêutica dos estagiários.
1-Medo de julgamento:
Esse medo de julgamento foi um comportamento que se manifestou a partir da
contingência associada com o uso do gravador nas sessões de avaliação comportamental.
Vejamos o seguinte exemplo de análise funcional de um dos comportamentos da classe
comportamental “medo de julgamento":
M.iyr.i i leleii»i Honií.kio (/. M cnqiholo, A urusIo Am .ilo Neto, M<iri.i (.'rislimi |. Velo/ lelxelr.i
Isadora: Não, não, a única coisa que eu tenho medo é que às vezes vai que, sei lá,
divulguem alguma coisa, não se sabe o que vão fazer com essas coisas.
O contrato verbal estabelecido com a cliente-colaboradora e o termo de
consentimento assinado pela mesma, não foram suficientes para que se sentisse segura na
realização das atividades durante as sessões, mesmo depois da abolição do uso do gravador.
Assim, verificou-se que o receio que sentia sobre o uso das verbalizações era um
comportamento cuja funcionalidade era semelhante aos comportamentos que ela expressava
em outras situações sociais. No caso, ela agia na maioria das vezes, tentando ganhar a
aceitação do grupo. Infere-se que desde o início do processo de avaliação comportamental,
inconscientemente, produzimos uma contingência aversiva que propiciou em Isadora a
emissão de comportamentos de fuga e de esquiva. Obviamente esse sentimento de medo e
insegurança verbalizado por ela foi aprendido. A recusa da gravação tinha uma função muito
clara: evitar julgamentos posteriores e conseguir a aceitação dos estagiários. Com certa
nitidez percebe-se, como colocam Queiroz e Guilhardi (2001) que a cliente ainda não
conseguia avaliar a função real da condição específica, no caso o operante “fuga”. Logo nas
primeiras sessões conseguia-se identificar um dos comportamentos clinicamente relevantes
da cliente que estava contribuindo de maneira importante com sua inadaptação social.
A vontade de agradar os outros produzia em Isadora comportamentos de esquiva,
por exemplo, respostas estereotipadas. As conseqüências almejadas desses
comportamentos geralmente eram a aceitação das outras pessoas (reforçador positivo)
ou a rejeição do grupo evitada (reforçador negativo). Quer dizer, mecanismos de fuga ou
esquiva que não contribuíam de modo algum com um processo de autoconhecimento por
parte dela sobre as causas que influenciavam essas contingências.
Uma pessoa que age, fundamentalmente, por reforçamento negativo, tem suas
interações com outras pessoas influenciadas por esse tipo de controle coercitivo (Sidman,
1995). Na vida, os estímulos aversivos são tão ubíquos quanto as respostas de fuga e
esquiva que eles produzem. Sempre que houver um estímulo aversivo, potencialmente ocorrerá
alguma resposta que lhe dará término ou o evitará. (Abreu, C.; Guilhardi, H., 2004).
Eventos aversivos estão presentes no ambiente natural e têm efeitos sobre as
respostas dos sujeitos. Frente a (ou a possibilidade de) um evento aversivo, o sujeito
aprende a emit/r determinada resposta que cessa ou evita a apresentação dele e, assim,
a resposta aumenta de freqüência graças ao seu efeito no mundo. A função dessa resposta
é um fato cotidiano e as pessoas as apresentam em virtude da adequação ao ambiente.
Apresentar algumas dessas respostas é altamente adaptável e mantém a sobrevivência.
(Abreu, C.; Guilhardi, H., 2004).
Quando uma resposta de esquiva bem sucedida ocorre, a conseqüência importante
é que nada ocorre. Como pode a ausência de um evento afetar o comportamento? De
acordo com um ponto de vista, o respondedor de esquiva ó mantido porque o organismo
está fugindo de algumas propriedades da situação que acompanharam os estímulos
aversivos passados. (Catania, 1999).
O comportamento de esquiva pode ser persistente depois de uma longa história de
esquiva, e sua extinção pode ser lenta, pois a conseqüência de uma resposta de esquiva é
que nada acontece, o evento aversivo é esquivado com sucesso (Abreu & Guilhardi, 2004).
"Ah, porque eu falo muita merda (risos). Ah, sei lá, a gente se diverte mesmo, a
gente faz bastante zoeira, fala bastante, como é que eu vou falar? Ah sei lá".
Na verbalização acima pode ser observado um comportamento que sinaliza como
ela se costumava agir em situações sociais fora da sessão de avaliação. De um lado se
mostra alegre e fútil e, de outro, o operante encoberto indica a necessidade de Isadora de
poder expressar o que realmente pensa e sente. Não o faz pelo medo de ser rejeitada em
situação social.
Na mesma técnica de completar frases, ao completar a sentença: "Carinho ó
essencial na minha vida"5, nosso questionamento foi:
Terapeuta: carinho: como você definiria?
Isadora: se sentir acolhida, sabe.
Terapeuta: por quem?
Isadora: por quem? Ah, por todo mundo, eu acho.
Pode-se perceber que uma preocupação de Isadora é como os outros a vêem, e
verbaliza que sua altura pode ser um fator que intimida as pessoas com as quais convive.
Quando coloca que carinho e acolhimento são essenciais em sua vida, mostra uma
necessidade grande de aceitação pelos grupos do seu convívio social, e conseqüentemente
4 Refere-se à atividade das frases incompletas, os caracteres sublinhados indicam a lacuna que foi completada
pela cliente-colaboradora Assim, na atividade constava: "Eu gostaria de s e r ____________
b Neste caso, na atividade constava: ___________ é essencial em minha vida".
M iiym I IcIfOii Honifócio (}. Mencfjlicio, Augusto Am .ito Nefo, M .irtii Crisfin.i I. Velo/ leixeira
um receio da rejeição que nunca foi compreendido por ela própria. A cliente funcionava
mais sob o controle da auto-regra "ser acolhida por todos" do que sob o controle das
conseqüências das condições em que ela vivia. Outras vezes, ela funcionava sob controle
de reforçamento negativo o que impedia que ela se tornasse sensível a outros estímulos
do meio, por exemplo: poder emitir uma opinião própria, mesmo que fosse contrária a de
outras pessoas e entender que isso não a levaria, necessariamente, a uma contingência
de rejeição social. Nosso raciocínio pode ser compreendido no seguinte relato:
Isadora referia que rejeição era o que mais detestava e acrescentou: "eu acho que
rejeição é discriminação, que eu acho uma coisa muito besta". Vejamos o seguinte relato
de umas das sessões de análise comportamental:
Terapeuta: você já se sentiu rejeitada alguma vez?
Isadora: já, quando eu era pequena, eu era muito rejeitada porque eu era grande (risos).
Terapeuta: rejeitada em que sentido?
Isadora: no sentido de zoeira, assim, na escola.
Terapeuta: E recentemente, você tem passado por isso?
Isadora: não, ah, já "to” meio acostumada com as piadinhas, assim, mais nada a ver.
Criança é fogo, uma porque é banguela, uma porque usa óculos.
Quando verbaliza que rejeição é o que mais detesta, Isadora sinaliza que seu
comportamento de “falar besteira" em situação de grupo tem como evento antecedente o
medo perante uma possível rejeição do grupo. Assim, ao “falar besteira” a leva a ser aceita no
grupo, já que as pessoas passam a rir e podem achar ela engraçada agindo como um reforçador
positivo e negativo ao comportamento descrito anteriormente. Infere-se que há uma generalização
de operantes sem um adequado processo de discriminação de contingências.
3 - Independência e Autonomia
Durante as sessões, Isadora se avaliava como independente e corajosa e dizia que
seus familiares também a consideravam assim, como o mostra o seguinte relato. Durante a
execução da técnica de representação de papéis, Isadora representou o papel de seu cunhado
e ao perguntara Isadora-Cunhado (termo que será usado para mostrar Isadora representando
o cunhado) sobre o que mais ele gostava de nossa colaboradora, Isadora-Cunhado respondeu:
adoro minha cunhada, acho que ela é bem independente. No papel de sua mãe quando
perguntamos: O que você menos gosta na Isadora? Isadora-Mãe respondeu: o fato de ela se
achar independente, ela não tem medo das coisas, eu fico preocupada. Entretanto, na
primeira entrevista a cliente havia dito ao se referir à sua independência financeira que ganhar
mesada era a melhor coisa do mundo. E quando a questionamos sobre se ela já sentiu
alguma vez dificuldades para lidar com seu dinheiro ela disse: às vezes eu ultrapasso um
pouco, mas minha mãe me dá dinheiro, cobre a conta, mas geralmente consigo.
Ao confrontar as verbalizações acima da cliente, discutimos com Isadora se ela
realmente se achava independente depois dos exemplos citados e ela disse: não
totalmente, financeiramente não sou. No entanto nessas verbalizações há operantes verbais
que mostraram outros eventos comportamentais encobertos de se achar capaz de funcionar
por si própria e, ao mesmo tempo, operantes encobertos de ter que aceitar a condição de
ainda ter que depender da família. Isto gerava conflitos importantes em Isadora.
A seguir ilustraremos uma outra vinheta do 4o encontro em que o proceder da
sessão gerou um experimento clínico que trouxe a testagem de nossas hipóteses a respeito
do comportamento clínico relevante de fuga de Isadora.
M iiyr.i I leltrn,i Homíácio (./. Mcncflbelo, Augusto A n u lo Nclo, M drl.i Crisfin.i I. Velo/ Irlxclra
dos comportamentos relevantes que ela produzia e que foram identificados nas sessões
de avaliação. Já, os fatores mantenedores desses comportamentos não puderam ser
identificados como conscientes na verbalização acima de Isadora. Entretanto o fato da
cliente fazer esse comentário mostra como nossas intervenções estavam se tornando
estímulos discriminativos. Ao mesmo tempo essa fala servia como auto-reforço para um
melhor conhecimento do porque de seus comportamentos.
2. Autocontrole
Na técnica das frases incompletas, Isadora completou a frase da seguinte maneira:
"Honestidade é o meu melhor".6 E explicando disse: “Então, eu sou honesta, quando me
perguntam alguma coisa, eu falo a verdade. Ou quando, às vezes, a verdade não tem a
hora certa de dizer a verdade. Às vezes eu omito, mas eu não fico jogando confete só para
dizer que eu sou boazinha".
A partir dessas verbalizações, identificamos a necessidade de um inquérito mais apurado:
Terapeuta: por qual motivo a honestidade é o seu melhor?
Isadora: então, não sei. Não tinha pensado. Eu acho que não ó o meu melhor não. É
porque eu acho que é assim, você tem que conquistar a confiança das pessoas. Se você
tem confiança você adquire o restante.
O trecho acima evidencia a falta de autoconhecimento por parte da coladoradora
e, novamente, a presença da auto-regra "ser acolhida por todos". Essa auto-regra motivou
Isadora a usar do senso comum como expressão de seus pensamentos. Desta maneira,
os estagiários viram-se obrigados a desenvolver o autocontrole frente os operantes verbais
da cliente-colaboradora, que muitas vezes contradiziam verbalizações anteriores. O inquérito
era conduzido de maneira a confrontar estes operantes verbais contraditórios para
proporcionar um autoconhecimento maior sobre os fatores que influenciavam as
contingências de fuga ou esquiva dela.
C onsiderações fin a is
Considerando a proposta do trabalho, o objetivo das sessões de análise
comportamental foi tentar integrar dois processos: o de autoconhecimento e o de autocontrole.
De um lado o desenvolvimento deste processo nos estagiários, decorrente dos operantes de
Isadora nas sessões. De outro, a conscientização de alguns dos fatores determinantes dos
comportamentos relevantes em Isadora a partir das perguntas. Os estagiários se tornavam
sensíveis às contingências de fuga e de esquiva que eram trazidas pela colaboradora e ela
também se conscientizava em relação a alguns dos comportamentos-problema relevantes
que produzia e sobre o por que dos mesmos. Como coloca Guilhardi (2003) tanto o terapeuta
como o cliente participaram do processo de autoconhecimento, O terapeuta aprende a
M iiy rti I idcMti Honlf.kío (./. Meneflbelo, Aufluslo A n u lo Nclo, M.irl»i Crlstlru I. Velo/ leixcir<i
funcionalidade dos operantes do cliente, o cliente aprende a funcionalidade dos próprios
operantes gerados durante o processo da terapia.
No caso da cliente trazida neste trabalho chama a atenção que, pelo menos, a
análise comportamental contribuiu para que ela descrevesse aqueles comportamentos e
contingências em que ela agia na base de fuga e de esquiva. Isto nos permitiu hipotetizar,
como afirmou Skinner (2002), que a cliente se tornou consciente de seus próprios atos.
Ao passo que nós desenvolvíamos habilidades terapêuticas, Isadora ontendia e percebia a
relação funcional que existia entre muitas das respostas emitidas por ela. Daí um processo
de mão dupla.
R eferências
M ôniiü HcssthOlivcirti*
R c n jt i C/u/n?,i/itcs / /o r /j*
Sérgio I ).Cirino, I ustáquioJ.dcS, lúnior, Manuel) C/. I opcs, Môniai H.-Olivrim, Ismifa Q. I lortti
também os recursos didáticos utilizados. O terceiro remete às características próprias da
filosofia desta ciência e seu impacto na construção de conhecimento válido para os
problemas humanos. Finalmente, a autora aponta a construção histórica da abordagem,
enquanto uma forma de pensar o fenômeno psicológico.
Com numerosas variáveis determinando o problema, justifica-se a investigação de
textos introdutórios em Psicologia que abordam questões da AC. Objetiva-se, portanto,
verificar a qualidade do tratamento dado aos conceitos e questões consideradas mais
importantes no estudo da AC em manuais de teorias da personalidade. A escolha destes
manuais decorre do assunto psicologia da personalidade estar presente na grande maioria
dos cursos de graduação em Psicologia e, somando-se a isso, o fato de serem recursos
didáticos de utilização provável nestes cursos. Além disso, nem sempre o professor está
preparado para apresentar as diversas abordagens com a mesma qualidade.
1) M etodologia
Fadman, J., Frager, R., & Mayer, E. L. (1986). Teorias da personalidade. São
Paulo: Harbra.
C14) Deixar claro que o analista do comportamento reconhece que nem todos os comportamentos sâo
igualmente condicionáveis
Sórtfioí).Grino, Lustóquio l.cleS. lúnior, M »inixii Q, Lopes, Mònic.i K.-Oliveim, RorviLi Cy. I lorti
& Cols. (1997) foram definidos como se segue:
1.3)Critérios de Classificação
Acurada (A): quando a análise foi considerada cuidadosa seguindo todos os critérios
determinados na definição da categoria:
Parcialmente acurada (PA): quando as informações foram consideradas
insuficientes:
Nâo acurada (NA): quando as explicações envolviam considerações equivocadas:
Omite (O,); quando o texto não fazia nenhuma referência às questões de determinada
categoria.
--------- A anaiise aos iivro5~PCorreu em duas-etapas: na primeiracteias unr qos lit ros
(Fadman) foi analisado por todos os pesquisadores individualmente. Desta forma, foram
feitos o treino de análise e a avaliação das categorias e critérios a serem utilizados. Os
resultados dessa análise consistiram no consenso dos pesquisadores com relação à
classificação de cada categoria.
Na segunda etapa, cada livro foi analisado por dois pesquisadores, primeiro
individualmente e depois em dupla. Na análise em dupla, os pesquisadores entraram em
consenso quanto à classificação de cada categoria.
Em todas as etapas foram selecionados trechos dos textos lidos como forma de
exemplificar e justificar a classificação.
2) R esultados
40%
20 %
47%
" 33%
Shultz Burton A nálls* conjunta
13% 13% 0% 16% _ 19%
33% "V
40%
27%
29%
47^
27%
2.3) Análise de cada categoria
CD É um campo de estudos-leaílimo
Somente em Burton essa categoria não foi classificada como acurada. O autor
não mostrou os diferentes campos de aplicação. A predominância da avaliação dessa
categoria como acurada foi atribuída à possibilidade de que, ao dedicar um capítulo sobre
determinada teoria, os autores já estejam considerando a legitimidade do campo de estudos.
3) D iscussão
Sérgio P.Cirino, tustáquio l.do S. júnior, M inudd Q. Lopes, Mòrm.i H.-Olivriru, Rerviü C/. I lorti
A pesquisa aponta para dados que permitem a proposição de reflexões e
discussões sobre alguns pontos. O primeiro deles refere-se à constatação de que livros
mais atuais (Shultz e Cloninger) trouxeram temas mais avançados, omitidos ou tratados
inacuradamente pelos livros mais antigos (Pervin e Burton). Talvez por isso, representem
um momento bibliográfico de transição naquilo que se refere aos recursos didáticos da
AC. Ao acrescentar em suas análises temas como comportamento verbal e relações de
equivalência, refletem o movimento histórico da produção científica da AC, que passou a
se ocupar mais de assuntos como a aquisição e o desenvolvimento da linguagem e a
emissão de comportamentos sem treino prévio direto.
Uma dificuldade encontrada no processo de pesquisa, e que não é uma
particularidade desse campo, como nos mostra Lakoff (1987), foi a definição de categorias
e a utilização das mesmas. Ainda que a definição de cada categoria tenha sido construída
para objetivar aqueles critérios que deveriam ser levados em consideração, vimos que o
próprio fato de considerar critérios ocorre de forma subjetiva, onde alguns têm mais valor e
outros não são tão importantes. A medida de valor dado, ao que deveria ser levado em
conta, varia de acordo com o sujeito que analisa o texto. Isso ficou evidente nas discussões
que buscavam o consenso dos pesquisadores, como foi descrito na metodologia. O critério
de análise PA (parcialmente acurado), é um bom exemplo de como essas classificações
podem variar, sendo interpretado, em alguns momentos, de maneira mais positiva, em
outros, no entanto, de maneira mais negativa.
Ao contrário do que se pode pensar, essas pequenas diferenças podem trazer
informações pertinentes, apesar de sutis. Porém, não se encontram instrumentos mais
adequados para descrever essas sutilezas, uma vez constatada a limitação do método de
categorização.
A categoria que avalia se a AC poderia ser vista como um campo de estudo legítimo
(C1), também pode apresentar alguns problemas. Por exemplo, um campo de estudo hoje
considerado legítimo pode não ter sido assim abordado há algum tempo. E ainda que seja
considerado legítimo isso pode acontecer apenas dentro de um contexto histórico, ou seja,
o autor pode mostrar a legitimidade e importância da AC para a história da Psicologia, mas,
não deixar claro que ainda considere esse, um campo de estudos legítimo.
A partir dessas dificuldades concordamos que"(...) uma categorização clássica,
pautada por condições necessárias e suficientes, se torna extremamente problemática"
(Matos, 2004).
Outro aspecto que deve ser observado nesse tipo de pesquisa é que algumas
análises podem receber influências de problemas de tradução. O uso de traduções neste
estudo se justifica pelo fato de constituírem recursos usados com maior freqüência do que
as obras originais. Não obstante, o problema de se valer de uma tradução para análise,
reside no fato de que sempre será analisada a percepção do tradutor acerca da obra
original e não aquilo que o autor pretendeu transmitir de fato com a publicação.
Pode-se destacar a importância do analista do comportamento trabalhar
diretamente com outras áreas, principalmente no meio acadêmico, mostrando na prática
as possibilidades da AC. Já que se constata que o material didático, muitas vezes, aponta
incorreções sobre a abordagem, torna-se mais relevante ainda o estabelecimento de um
diálogo com outros campos de estudo, mostrando como os princípios comportamentais
podem ser aplicados, onde, quando, em que tipo de contexto, com que grau de
generalização, dentre outros aspectos. Algumas experiências brasileiras de aproximações
R e fe rê n cia s
Barros, M. S. F. A. (1989). Uso do laboratório como instrumento de ensino nos cursos de
Sérçio í ).C‘irino, fustáquio J.ilc S. Júnior, Manudii C/. I x>pos, Mí>nR«i H.-()livcim, Reivila Q. I lorLi
graduação em psicologia. São Paulo: Dissertação de Mostrado, Dopartamonto do
Psicologia Experimental, Universidade de São Paulo.
Burton, A. (1974). Teorias operacionais da personalidade. Rio de Janeiro: Imago Editora.
Cloninger, S. C. (2003). Toorias da personalidade. São Paulo: Martins Fontes.
Debell, C. S., & Harleos, D K. (1992) B. F. Skinner; Myth and misperception. Teaching of
Psychology V. 19, No. 2
Fadman, J.; Fragor, R., & Mayor, E. L. (1986). Teorias da personalidade. São Paulo: Harbra.
Fazzi, E. H. o Cirino, S. D. (2003). A pedagogia da autonomia de Paulo Freire e uma possivel
aproximação com a proposta de B. F. Skinner. Em: H. M. Sadi & N. M. Castro (Org.)
Ciência do Comportamento: Conhecer e Avançar V. 3. Esetec: Santo André.
Horta, R. G. (2004) Um diálogo entre Skinner e Schein - Cultura organizacional e análise do
comportamento. Em: Anais do XIII Encontro Brasileiro de Psicoterapia e Medicina
Comportamental e li international Conference o f ABA. Campinas.
Lamal (1995) College students misconceptions about behavior analysis. Teaching of Psychology
V. 19, No. 2
Lakoff, G. (1987) Women, fire, and dangerous things: what categories reveal about the mind.
Chicago: Chicago Univ. Press.
Matos, M. A. (1992). Análise de contingências no aprender e no ensinar. Em: Alencar, Eunice
Soriano de. (Org). Novas contribuições da psicologia aos processos de ensino e
aprendizagem. São Paulo: Editora Cortez.
Matos, M. A. (1995). Behaviorismo metodológico e behaviorismo radical. Em: Range, B. (Org.)
Psicoterapia comportamental e cognitiva: pesquisa, prática, aplicações e problemas.
Campinas: Editorial Psy.
Mattos, D. A. S. (2004) Categorização: uma reflexão sobre condições necessárias e suficientes.
[comunicação pessoal)
Medeiros, C. A e Rocha, G. M. (2003). Racionalização: Um breve diálogo entre a análise do
comportamento o a psicanálise. Em: Anais do XII Encontro Brasileiro de Psicoterapia e
Medicina Comportamontal. Londrina.
Miraldo, C. M. V. (1985). Conhecimento e crenças de estudantes de psicologia acerca da análise
do comportumonto. São Paulo: Dissertação de Mestrado, Departamento do Psicologia
Experimental, Univorsidade de São Paulo.
Peroira, M. E. M. (2000). O estudo da linguagem pela psicologia: Uma aproximação entre B.F.
Skinner ü M.M. Bakhtin. Educ: Sâo Paulo:
Pervin, L. A. (1978). Personalidade: Teoria, avaliação e pesquisa. São Paulo: E.P.U.
Rodrigues, M. E. (2002). Behaviorismo Radical. Cascavol: Edunioeste.
Souza, M., Ruas, T. o Cirino, S. D. (2004). Análise do comportamento o a construção social do
conhocimonto. Em: Anais do XIII Encontro Brasileiro de Psicoterapia e Medicina
Comportamental e II International Conference of ABA. Campinas.
Schultz, D.P, & Schultz, S.E. (2004). Teorias da personalidade. São Paulo: Pioneira Thomson Learning.
Velasco, S., Cirino, S., Alvos, A., Abreu, L., Nascimento, M., Mota, A. e Borges, C. (2000).
Representações da Análise do Comportamento em Livros introdutórios de Psicologia.
Sobrc C o m p o rt.m u -n lo f C o r o I vJ o
A Terapia Comportamental e a Terapia
Cognitivo-comportamental têm se expandido
rapidam ente como processo terapêutico,
ampliando significativamente os recursos de
psicólogos e psiquiatras, na prática clínica. O
volume que você tem em mãos lhe oferece o que há
de mais atualizado e abrangente na área
comportamental e cognitivo-comportamental,
complementado por textos teóricos e de pesquisa
que dão sustentação científica e conceituai aos
procedimentos terapêuticos. Além disso, a atuação
comportamental tem se expandido para outras
áreas, com a mesma clareza de intervenção e
consistência de resultados, tais como nos contextos
hospitalar, de ensino, das organizações. O presente
livro é um instrumento indispensável a todos os
estudantes e profissionais da Psicologia,
interessados no desenvolvimento e nas contribui
ções da abordagem comportamental como ciência
e como aplicação.
Os organizadores
ESETec
Editores Associados