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UnB – Universidade de Brasília

FGA – Faculdade do Gama


William de Oliveira Medeiros – 11/0021738

Uma visão geral sobre Smart Grids e o panorama


no Brasil e no mundo

Brasília, 2016
Resumo

Diferentemente de diversos setores da economia, cada vez mais dinâmicos e


conectados, o sistema elétrico é tecnologicamente estagnado. Aliado a esse fato, a busca por
formas mais eficientes de produção, transmissão e distribuição de energia, bem como a
melhor integração dos consumidores com o sistema e a necessidade de utilização de fontes
renováveis de energia trouxeram consigo o surgimento e pesquisa de redes inteligentes de
eletricidade, chamadas de smart grids. Esse artigo aborda uma visão geral da tecnologia dos
smart grids, com sua conceituação, vantagens e desvantagens, além de impactos econômicos
e alguns casos no Brasil e no Mundo, buscando responder o que são as redes elétricas
inteligentes e quais suas vantagens e desvantagens em relação ao modelo já existente.

Palavras-chave: smart grids, redes elétricas inteligentes, eficiência energética,


desenvolvimento sustentável.

Abstract

Unlike many sectors of the economy, more dynamic and connected, the electrical system is
technologically stagnant. Allied to this fact, the search for more efficient forms of production,
transmission and energy distribution, as well as the better integration of the consumers with
the system and the need to use renewable energy sources has brought the emergence and
research of intelligent electricity networks, also known as smart grids. This article addresses
an overview of the smart grids technology. Its concept, advantages and disadvantages, as well
as economic impacts and some cases in Brazil and in the World, trying to answer what are
intelligent electricity networks and what their advantages and disadvantages in relation to the
existing model.

Key-words: smart grids, intelligent electricity networks, energy efficiency, sustainable


development
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Sumário

Introdução.................................................................................................................. 2
1. Smart Grids............................................................................................................ 3
1.1. O que são Smart Grids?........................................................................... 3
1.2. Vantagens e Desvantagens da Utilização de Smart Grids..................... 5
2. Impactos Econômicos da Utilização de Smart Grids............................................. 7
3. Panorama Geral de Smart Grids no Mundo............................................................ 8
4. Panorama Geral de Smart Grids no Brasil............................................................ 9
Conclusão................................................................................................................... 11
Referências Bibliográfica .......................................................................................... 12
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Introdução

As mudanças na indústria energética costumam se dar por meio de processos lentos,


fazendo com que o setor tenha ficado estagnado por praticamente um século, possuindo
apenas diferenças pontuais entre o modelo inicial e o atual. Desde o advento das redes pra
distribuição de eletricidade, que o sistema elétrico é unidirecional, ou seja, a energia é gerada,
posteriormente transmitida por meio de linhas de transmissão que são distribuídas por outras
linhas de menor porte até chegar ao consumidor final.
Diversos aspectos negativos surgiram decorrentes desse modelo pouco dinâmico, com
blackouts, limitações na geração diante da demanda, sem haver necessariamente um
conhecimento do perfil específico dela, e falhas nos equipamentos, passando a ser parte do
cotidiano dos consumidores conviverem com esses problemas, em menor e maior grau, mas
ainda sim de forma presente na vida de todos.
Assim, os primeiros conceitos e ideias de smart grids surgiram, buscando responder a
essa demanda por melhor qualidade no setor, alinhada também com fatores como a busca pelo
desenvolvimento sustentável, novos perfis de consumo com tarifas específicas e diferenciadas
e também o surgimento de equipamentos inteligentes que poderiam atuar de forma integrada
com esse novo conceito de rede elétrica inteligente.
O artigo busca centrar-se em uma visão geral do que são smart grids, apresentando um
conceito com foco no resultado do que seriam essas redes inteligentes, e também as principais
vantagens e desvantagens da utilização dessa nova tecnologia, inclusive dedicando um tópico
ao aspecto econômico que o investimento nessa área trouxe para os Estados Unidos durante o
período de descenso do país logo após a crise imobiliária de 2008.
Por fim, são apresentados os panoramas gerais de como está o desenvolvimento da
tecnologia no mundo e no Brasil, explicitando as principais motivações das pesquisas e
implantações na área, e deixando bastante claro a diferença entre a motivação existente nos
países asiáticos, nos europeus, nos EUA e no Brasil, além de citar brevemente alguns casos
interessantes em determinados países, como Portugal e a Itália, e também exemplos de
projetos pilotos que já estão sendo desenvolvidos pelas empresas de distribuição de energia no
Brasil.
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1. Smart Grids
1.1. O que são Smart Grids?

De forma geral, definir Smart Grids (ou Redes Elétricas Inteligentes) como um só
conceito, pode ser um processo bastante complexo e pouco prático para o contexto onde este
será utilizado. Isso se deve ao fato de que em geral a definição de redes inteligentes pode ser
divida em diversos grupos: focado na tecnologia, caracterizando-as através da tecnologia de
sensores e inteligência empregada; nos resultados obtidos, baseado principalmente no objetivo
geral da implantação das redes (Sioshansi, 2011); ou mesmo em perspectivas ambientais e
políticas; cabendo a cada um definir de que forma cada um destes melhor se encaixa na sua
proposta de abordagem.
Diante desse panorama, neste artigo será utilizada a definição proposta pelo Grupo de
Reguladores Europeus de Eletricidade e Gás (ERGEG), onde se têm que Smart Grid é “uma
rede elétrica que pode integrar eficientemente o comportamento e as ações de todos os
usuários conectados a ela – geradores, consumidores e aqueles que praticam ambos – no
intuito de garantir eficiência econômica e um sistema elétrico sustentável, com poucas perdas
e segurança de fornecimento e qualidade“ (ERGEG 2010, tradução do autor).
Um ponto a ser destacado é que essa abrangência do conceito pode, em determinados
casos, apresentar-se como um entrave para uma boa implantação da rede dentro da cidade e
da relação dela com os consumidores “comuns”, como a população em si. Esse exemplo é
bastante nítido na primeira cidade que utilizou um smart grid no mundo, Boulder no
Colorado, onde a empresa que o projetou, Xcel Energy’s, falhou em explicar educativamente
o conceito em si, fazendo com que parte da população não soubesse ou mesmo não usasse
algumas das aplicações disponíveis.
Na figura 1 têm-se um esquema que dá um panorama geral de como seria a integração
e funcionamento de um Smart Grid. Basicamente, ele representa a forma como cada usuário
da rede elétrica teria uma participação chave em todo o processo, gerando uma interação
contínua e integrada, que pode ser bem exemplificada como próximo ao que hoje é a internet.
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Figura 1: Esquema de um Smart Grid

Fonte: Página Eco inteligência.

Pela figura, é possível visualizar os aspectos gerais da rede citada no parágrafo


anterior: com um sistema completamente funcional e integrado, tanto consumidores teriam
seus perfis de consumo eficientemente mapeados pelas prestadoras de serviços, como usinas
de geração de energia renovável, produtoras de energia e mesmo pequenas geradoras teriam
acesso a informações de demanda e estado climático em tempo real, podendo flexibilizar sua
produção de acordo com a necessidade vista através dos dados obtidos.
Segundo Bandeira [5], os Smart Grids podem ser caracterizados e inseridos em três
áreas específicas, que se relacionam entre si e também com desafios que devem ser vencidos
para a implementação da rede de maneira efetiva.
A primeira área seria a inteligência do sistema de fornecimento de energia, onde
basicamente toda a parte de geração, transmissão e distribuição já existentes no atual sistema
elétrico passariam a utilizar informações coletadas para automatizar o processo, fornecer parte
desses dados ao consumidor e melhor o processo de proteção da rede.
A segunda área se refere ao próprio medidor em si, que em geral, costuma ser um
smart meter, um medidor inteligente que atua como mecanismo de interface entre quem
fornece a energia elétrica e o consumidor final. É importante salientar que apesar de ser um
componente importante em redes inteligentes, um medidor inteligente não é obrigatório para a
existência de uma, bem como a existência dele, não garante a existência do smart grid
propriamente dito.
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A terceira e última área se refere à inteligência do consumo, ou seja, a modificação do


perfil do consumidor, que passaria a utilizar componentes mais inteligentes em sua própria
residência, com equipamentos que poderiam se comunicar com a rede, aumentando o número
de dados obtidos por ela e dando ainda mais integração ao sistema. O mesmo se aplica a
indústrias, residências que produzem parte da sua energia, etc.

1.2 Vantagens e Desvantagens da Utilização de Smart Grids

Como citado na introdução, o modelo unidirecional do sistema elétrico foi um dos


fatores responsáveis pelo surgimento da proposta de smart grids, bem como seu posterior
desenvolvimento e pesquisa. Um dado interessante, mesmo que apenas visual, é comparar o
modelo apresentado na figura 1 com a cadeia produtiva do sistema elétrico atual, na figura 2,
onde nitidamente a linearidade da segunda se mostra como fator limitador da capacidade desta
de ser plenamente integrada, indicando que existe pouco ou até mesmo nenhum contato entre
os extremos da cadeia.

Figura 2: Cadeia do sistema elétrico

Fonte: Quanta Geraçao S.A.

A primeira vantagem atrelada às redes inteligentes é a confiabilidade do sistema como


um todo. Com maiores parâmetros e dados disponíveis para os provedores de energia, sejam
distribuidores, sejam produtores, será possível planejar de forma eficiente a produção e
distribuição de energia, o que aliado à automação do processo, auxilia também na diminuição
de casos de falha, sejam elas da cadeia produtiva em si, sejam elas humanas.
Da mesma forma que a confiabilidade, a eficiência e flexibilidade da rede também são
fatores onde smart grids levam vantagem em relação a rede elétrica comum, pois da mesma
forma que citado anteriormente, os dados utilizados para prover a segurança do sistema,
poderiam ser utilizados para melhorar a eficiência do mesmo, bem como para flexibilizá-lo,
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permitindo que práticas possam ser melhor empregadas de acordo com a necessidade da
demanda. Um exemplo disso, é que atualmente, é necessário que a distribuidora mantenha a
disponibilidade da carga de forma plena, independentemente do horário, fazendo com que
haja energia de sobra em momentos de pouco uso, um fator que poderia ser melhorado com o
uso da automação na rede.
Por fim, uma vantagem que é esperada, e não necessariamente se relaciona tão
diretamente como as demais se inter-relacionam, é a contribuição dos smart grids com o
desenvolvimento sustentável. Com a melhor eficiência e flexibilidades, e aliado ao fato de que
cada vez mais os métodos de obtenção de energia tendem para fontes renováveis, espera-se
que o perfil do consumidor seja alterado para produtos cada vez mais ambientalmente
“amigáveis”, como carros elétricos, em detrimentos dos movidos a combustão. Além disso, a
possibilidade de integração de pequenos produtores com fontes renováveis é bem mais
palpável nesse modelo do que no vigente.
O grupo de trabalho de smart grids elencado pelo Ministério de Minas e Energia
também possui considerações sobre as vantagens da implementação do sistema, podendo ser
citadas algumas como: redução de perdas não técnicas e técnicas na transmissão e
distribuição, geração de empregos, formação de conhecimento nacional, melhor do serviço
prestado, criação de novos mercados, redução nas emissões do efeito-estufa e aumento da
arrecadação de impostos.
No aspecto das desvantagens, a principal delas é o custo de implantação total. Como a
rede deve ser intensamente integrada para um bom funcionamento, o custo geral é elevado,
sendo comumente necessária a troca de todos os medidores mecânicos de energia, além de
investimentos em tecnologia de telecomunicações, segurança de dados, capacitação de
pessoal, novos modelos de negócio diante da nova bilateralidade da relação com o
consumidor, além de outros aspectos relacionados.
Outra desvantagem a ser considerada é relativa à necessidade de criação de protocolos
de segurança robustos para proteger toda a informação coletada, pois esses perfis de demanda
praticamente particulares obtidos são dados importantes, sendo necessário manter a
confiabilidade do sistema, principalmente considerando os tipos de protocolos utilizados em
smart grids são os mesmos ou bem semelhantes aos usados na criptografia da internet. Por
isso, é importante que o sistema esteja constantemente livre de hackers ou de outros agentes e
atividades maliciosas que possam prejudicar o consumidor.
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Uma última desvantagem a ser considerada é a própria população em si. A não


instrução e familiarização da mesma com a tecnologia pode torna-la parcialmente ineficiente,
como o que ocorreu na cidade de Boulder, citada no capítulo um.

2. Impactos econômicos da utilização de Smart Grids

É difícil precisar os impactos econômicos que esse novo modelo pode causar no setor
elétrico dos países, principalmente quando se observa que existem poucos casos já existentes
no mundo para serem comparados ou mesmo servirem de exemplos unitários. Fora isso,
mesmo nos exemplos já existentes em locais brasileiros, ainda não se divulgou os resultados
financeiros dos testes inicias, sendo necessária a utilização de dados internacionais.
Baseado nessa premissa de escassez de dados, um relatório do Departamento de
Energia dos Estados Unidos, publicado em 2013, relativo aos investimentos americanos
realizados em smart grids em 2009 como parte do Ato de Recuperação e Reinvestimento
Americano (ARRA) apontaram alguns índices interessantes que indicam o impacto
econômico da utilização e desenvolvimento de redes inteligentes na economia americana
durante o período analisado.
Os pontos mais relevantes do relatório referem-se ao ganho econômico de US$ 6,8
bilhões na economia, em detrimento do investimento de “apenas” US$ 2,9 bilhões diretos, um
valor considerável, explicado principalmente pelo desenvolvimento de equipamentos de alta
tecnologia que modificaram o perfil das vagas de trabalho do setor, tornando-as mais
especializadas e consequentemente mais bem remuneradas. A figura 3 apresenta os impactos
na economia devido ao investimento em smart grids, divididos em três grupos baseados nos
efeitos do investimento, impactando de três formas: induzida, indireta ou diretamente.
Figura 3: Impactos na economia americana dos investimentos em smart grids

Fonte: Departamento de Energia dos EUA


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Os três tipos de efeitos podem ser caracterizados da seguinte forma:

 Efeitos Induzidos: são os impactos econômicos referentes ao aumento do


consumo dos cidadãos que foram direta ou indiretamente beneficiados pelos
efeitos do investimento;
 Efeitos Indiretos: impactos realizados nas indústrias que compõe a cadeia de
fornecimento de outras indústrias que receberam investimentos diretos do
programa;
 Efeitos Diretos: refere-se às indústrias que receberam investimentos diretos do
ato, basicamente as produtoras primárias de equipamentos centrais nos projetos
de smart grids propostos.

É nítido que os efeitos foram sentido de maneira mais intensa nas indústrias que
receberam investimentos diretos do governo americano e também para os cidadãos que foram
abarcados pelos benefícios gerados por esses investimentos, ou seja, pessoas que passaram a
ter empregos com melhor capacitação e remuneração, podendo assim participar mais
ativamente da economia do país.

3. Panorama geral de Smart Grids no Mundo

Diversos países e regiões do mundo já se mobilizam em torno da implantação e


desenvolvimento de smart grids. Assim como em diversos outros aspectos tecnológicos,
existe um pioneirismo nessa área relacionado principalmente aos Estados Unidos (EUA), a
União Europeia (EU) e na Ásia, ao Japão e China.
A União Europeia já fixou como meta a utilização de 80% de medidores inteligentes e
20% de geração renovável até 2020 (Comissão do Parlamento Europeu, 2011), entretanto,
alguns países já se adiantaram e apresentam alguns resultados expressivos desde agora, como
a Itália, que desde 1999 com a Enel já possuía um projeto inicial de implantação de smart
grids em território local que fora concluído em cinco anos, fazendo com que 85% dos lares
italianos já possuam medidores inteligentes. Inclusive, em parceria com a IBM, ela realiza um
projeto de cidade inteligente em Búzios, Rio de Janeiro.
Outro país a sair na dianteira é a Alemanha, que já possui seis projetos de redes
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inteligentes, além de já ter 17% da sua matriz energética baseada em energia renovável.
Um caso notável a ser destacado em terras europeias é o de Portugal. Desde 2011, o
país iniciou um processo de adoção de redes inteligentes em larga escala, com uma empresa
de distribuição liderando a iniciativa aliadas a diversas outras em setores determinantes para o
sucesso da implantação. O projeto teve grande foco na substituição dos medidores comuns
por medidores inteligentes, bem como a instalação de uma rede elétrica ativa e na redução de
emissões de gás carbônico (CO2), as quais Portugal se comprometeu a diminuir em 20% até
2020.
Na figura 4 são apresentados alguns dos principais motivadores para que diversas
regiões do mundo adotem a utilização de redes inteligentes em seus modelos no setor de
energia elétrica. Apesar de alguns pontos em comuns, dado o fato de que cada rede é bastante
personalizada ao local onde é instalada, cada país ou região possui uma agenda própria onde
foca o uso da tecnologia. Enquanto os EUA tendem a focar na confiabilidade do sistema e na
recuperação econômica, a Europa visa mais a integração com fontes renováveis enquanto
Japão e China voltam seus esforços para o surgimento das cidades inteligentes,
principalmente.

Figura 4: Motivadores para a implantação de Smart Grids no mundo

Fonte: RIVERA, R; Esposito A.S.; Revista do BNDES, p.12, dezembro 2013

4. Panorama geral de Smart Grids no Brasil

Para o Brasil a utilização de Smart Grids vem de encontro a outras necessidades do


setor elétrico nacional, principalmente considerando que, apesar de mais antigos, o setor
elétrico europeu e americano são bem estabelecidos, enquanto o brasileiro, ainda possui
diversos problemas característicos de um setor mais jovem, ainda mais quando se considera
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que este era centralizado até a década de 90, quanto após uma série de privatizações e
alterações, o setor passou a ser mais aberto, com uma competição mais ampla.
Outros fatores importantes de serem contextualizados no caso brasileiro são: a matriz
energética, constituída majoritariamente de fontes renováveis devido ao uso extenso de
hidrelétricas; o potencial de recursos ainda não explorados seja por meio de solares e eólicas
que ainda estão longe de usarem todo o potencial do território brasileiro, ou mesmo os
combustíveis fósseis com o pré-sal; as tarifas de energia elevadas que são entre as mais caras
do mundo e a qualidade do serviço não apresentando uma relação proporcional.
A implantação de redes elétricas no Brasil tem os motivos explanados através da
Figura 5 e demonstra que os principais objetivos da implantação ainda estão ligados a questão
mais básicas como a segurança do sistema e o aumento da confiança e eficiência do mesmo,
demonstrando que os smart grids seriam utilizados como uma forma de melhorar e
amadurecer o próprio sistema elétrico em si, pois este ainda não está em um nível de
qualidade interessante.

Figura 5: Motivadores para a implantação de smart grids no Brasil

Fonte: RIVERA, R; Esposito A.S.; Revista do BNDES, p.13, dezembro 2013

Ainda que as motivações sejam diferentes, o Brasil aos poucos já se movimenta e


busca encontrar as primeiras soluções nesse novo modelo elétrico. Para isso, alguns projetos
pilotos foram e estão sendo desenvolvidos, principalmente pelas empresas distribuidoras de
energia, preocupadas em melhorar sua eficiência comercial. Alguns casos serão citados aqui
de maneira breve.
Um bastante destacado é o projeto Cidades do Futuro elaborado pela Companhia
Energética de Minas Gerais (CEMIG), elaborado em parceria com Fundação Centro de
Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações, que é focado em algumas regiões
mineiras, como Sete Lagoas, Santana de Pirapama, Santana do Riacho, Baldim, Prudente de
Moraes, Funilândia e Jequitibá, envolvendo cerca de 290.000 habitantes. Nestas localidades
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pretende-se aplicar, principalmente, a troca dos medidores por equipamentos modernos,


podendo colher as principais informações para a implantação de um modelo específico para a
região.
Outro projeto destacável é o da empresa ECIL em parceria com um grupo português,
responsável pela marca InovCity, que está implementado o sistema em Aparecida do Norte,
São Paulo. A cidade já é considerada a primeira com uma rede inteligente no país, contando
com medidores eletrônicos inteligentes, iluminação pública alterada para se tornar mais
eficiente e de melhor qualidade e geração de energia baseada em fontes renováveis,
principalmente placas fotovoltaicas. Um ponto interessante é que houve troca de experiência
em termos tecnológicos, fazendo com que os medidores fossem 100% desenvolvidos no país.
Um último projeto considerável é o esforço que a Light no Rio de Janeiro, com seu
programa de Pesquisa e Desenvolvimento, que hoje já avalia mil clientes com um conjunto de
redes inteligentes com automação e medição inteligente. É um dos mais avançados projetos,
pois já foram desenvolvidos os medidores eletrônicos com certificação digital, servindo como
o canal de interação entre consumidor e empresa. Além disso, essa rede já permite a interação
com equipamentos para monitoramento do consumo em fase experimental, bem como
modalidades de pré-pagamento, um modelo onde se paga antes do consumo ser efetivado.
Concluindo o panorama brasileiro, é interessante citar que algumas empresas
consideram o país uma oportunidade de negócio, principalmente devido às perspectivas de
substituição dos cerca de 64 milhões de medidores, além de investimentos em inovação,
tecnologia e dispositivos de geração distribuída que podem girar entre 41 e 96 bilhões até
2030 (Abradee, 2011), aliado ao fato do país estar em uma posição muito alta no ranking de
maiores países com perdas não técnicas de energia. Algumas empresas inclusive já reforçaram
sua participação e presença local por meio de aquisições na América Latina.

Conclusão

A utilização de smart grids de fato pode ser entendida como uma evolução
interessante do atual modelo existente no sistema de energia vigente no mundo todo. Mesmo
que possua ainda desvantagens em termos de custos, os ganhos em informação, eficiência,
confiabilidade e gestão apresentam um saldo positivo para a tecnologia, além de permitir que
o cliente e as empresas prestadores de serviços relacionados (distribuidoras, geradoras, etc.)
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possam ter uma relação mais próxima e menos uni direcionada, criando um mercado menos
engessado e mais saudável.
Outro ponto importante é salientar que as redes inteligentes se apresentam como um
meio interessante de se alinhar as demandas de energia com o desenvolvimento sustentável,
permitindo que tecnologias baseadas em fontes renováveis possam participar do processo de
uma forma muito mais direta do que participam atualmente, principalmente para pequenos
produtores ou mesmo unidades consumidoras que também produzem.
Por fim, como último ponto, fica a certeza que ainda existe muito para ser
desenvolvido e melhorado na tecnologia que já existe para uma implementação total de smart
grids em nível de cidades inteligentes, pois todo esse contexto exposto demonstra claramente
que o desenvolvimento está caminhando, mas ainda de forma embrionária.

Referências Bibliográficas

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