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O Tratamento na Fibrose Cística

e suas Complicações

Marcos César Santos de Castro


Mônica de Cássia Firmida

Resumo é fundamental para otimização e maior eficácia


dos cuidados, objetivando melhor qualidade e
A fibrose cística é uma complexa doença
maior expectativa de vida. Este artigo traz uma
genética que se caracteriza por afetar diversos
revisão do tratamento da fibrose cística e de suas
órgãos. A doença apresenta predileção pelos sis-
complicações, e apresenta novas perspectivas
temas respiratório e digestório, manifestando-se
terapêuticas.
clinicamente por quadro pulmonar obstrutivo
crônico e supurativo, além de alteração absor- PALAVRAS-CHAVE: Fibrose cística; Tra-
tiva do trato gastrointestinal. A história natural tamento; Complicações.
do comprometimento pulmonar consiste em
acometimento precoce e persistente, com piora Introdução
progressiva. A fisiopatologia do processo decor-
A fibrose cística (FC) é uma doença genética
re de um ciclo vicioso de obstrução, infecção
autossômica recessiva. É causada por mutações
e resposta inflamatória intensa, que resulta
em um gene localizado no braço longo do cro-
em lesões progressivas e consequente falência
respiratória. O comprometimento pulmonar mossomo 7 responsável pela codificação de uma
é responsável por mais de 85% da mortalidade proteína denominada proteína reguladora da
pela doença. A base do tratamento do paciente condutância transmembrana da fibrose cística.
fibrocístico consiste em medidas que promovam Já são descritas mais de 1800 mutações neste
desobstrução, anti-inflamação e tratamento gene. Embora nos países desenvolvidos seu
antimicrobiano respiratórios, além de boa diagnóstico seja realizado em 70% dos casos
nutrição. Diversas modalidades terapêuticas antes do primeiro ano de vida, o diagnóstico
compõem o arsenal de cuidado para adultos e na idade adulta se faz de forma cada vez mais
crianças com FC, incluindo uso de antibióticos, frequente em todo o mundo1-4.
mucolíticos, suporte nutricional, entre outros. A expressão clínica da doença é extrema-
O acompanhamento em serviços de referência mente diversificada, apresentando-se normal-

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mente como um envolvimento multissistêmico, Comprometimento das vias


caracterizada por doença pulmonar progressiva,
aéreas superiores
disfunção pancreática exócrina, acometimento
intestinal, doença hepática, infertilidade mascu- Os principais acometimentos da FC nas vias
lina (azoospermia obstrutiva) e concentrações aéreas superiores (VAS) são a rinossinusite e a
elevadas de eletrólitos no suor1,3,5. polipose nasal6. A doença sinusal é uma mani-
A FC simula muitas outras doenças e tem festação comum na FC, com prevalência entre
amplo diagnóstico diferencial. O primeiro passo 92 e 100% dos casos. O acometimento difuso dos
para o sucesso de sua abordagem é o diagnósti- seios paranasais, principalmente dos etmoidais
co. Como o sistema respiratório é quase sempre e dos maxilares, pode ser explicado pela obs-
acometido e é o principal responsável pela trução mecânica dos óstios sinusais, decorrente
morbidade relacionada à FC, muitas vezes é com de alterações do muco sinusal. As modificações
base na síndrome respiratória que o diagnóstico nas propriedades viscoelásticas do muco são
desta doença é considerado. É mais comum que secundárias à alteração na condutância do
o médico lembre da FC no diagnóstico diferen- íon cloreto e à colonização bacteriana crônica,
cial de pessoas com acometimento respiratório principalmente por Pseudomonas aeruginosa
e gastrointestinal associados e menos comum (Pa). Na FC, o clearance mucociliar encontra-
quando um destes sistemas é isoladamente -se diminuído, apesar de a ultraestrutura ciliar
acometido. Na ausência de sintomas gastroin- apresentar-se normal6.
testinais, o diagnóstico diferencial deve incluir A polipose nasal em criança saudável é
discinesia ciliar primária, síndrome de Young e rara e, quando ocorre, o diagnóstico de fibrose
deficiência de imunoglobulina G3. cística deve ser sempre lembrado. A incidência
Após o diagnóstico, recomenda-se que o de pólipos nasais na FC tem sido relatada entre
tratamento seja feito em serviços especializados, 7 e 67%. É pouco frequente antes dos 5 anos
em centros de referência para FC. O tratamento de idade e mais rara em menores de 2 anos. O
intensivo, com abordagem multidisciplinar e pico de incidência é observado na adolescência
utilização criteriosa do grande arsenal tera- e, após os 20 anos, torna-se menos comum6.
pêutico disponível, tem colaborado para que O tratamento clínico abrange também tra-
se consiga retardar a progressão da FC e tratar tamento da via aérea inferior. A utilização de
oportunamente suas complicações, elevando antimicrobianos sistêmicos específicos para a
substancialmente a sobrevida e a qualidade de contaminação sinusal por Pa ou Staphylococcus
vida destes pacientes1,3,5. aureus deve ser baseada na sintomatologia do
A abordagem terapêutica deve ser individu- paciente fibrocístico e não no achado tomo-
alizada, levando-se em consideração os órgãos gráfico, já que a maioria desses pacientes apre-
e sistemas acometidos em cada paciente e o senta tomografia alterada. A higiene nasal com
momento da doença em que ele se encontra. soluções fisiológicas isotônicas ou hipertônicas
Esta doença é crônica e cursa com momentos de é realizada quando se observa a presença de
crises e de intervalo que requerem tratamento de secreção na cavidade nasal6.
agudização e de manutenção, respectivamente. A cirurgia endoscópica nasossinusal propi-
A busca por melhores opções terapêuticas e pela cia nos casos sintomáticos com obstrução nasal
cura da FC tem sido imensa e acompanhar a persistente por polipose ou por abaulamento da
produção de conhecimentos relacionada a este parede medial do seio maxilar e/ou etmoidal, ou,
tema é um grande desafio. Este texto, baseado em fase pré-transplante pulmonar, abordagem
em revisão da literatura científica, visa ser uma localizada com drenagem e aeração dos seios
fonte de atualização para profissionais interes- maxilares através de uncifectomia, antrostomia
sados neste assunto. média e/ou polipectomia. A cirurgia não é cura-

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tiva e apresenta índice de recidiva expressiva, inicialmente pelo fisioterapeuta que auxiliará
embora possa ser realizada com segurança, na escolha dos dispositivos, na definição da
apesar de eventual intubação orotraqueal pro- melhor combinação de técnicas e na determi-
longada6. nação da frequência e duração do tratamento a
ser realizado. A prática de exercício físico deve
Comprometimento ser estimulada, pois atenua o declínio da função
pulmonar pulmonar, melhora o desempenho cardiovascu-
lar e aumenta a capacidade funcional, melhoran-
A doença pulmonar é a causa mais comum
do desta forma a qualidade de vida do paciente.
de morte na FC, seja por insuficiência respira-
Além disto, o exercício aumenta o clearance
tória ou por complicações inerentes à própria
das secreções das vias aéreas, constituindo um
progressão da doença. O tratamento visa pre-
importante adjuvante nas medidas de higiene
venir e abordar oportunamente as complicações
brônquica. A necessidade de suplementação de
obstrutivas, inflamatórias e infecciosas das vias
oxigênio durante a atividade deve ser avaliada
aéreas. As medidas dividem-se em tratamento
nos pacientes com comprometimento pulmonar
de manutenção ou contínuo e de agudização ou
mais grave1,3.
exacerbação e incluem fisioterapia respiratória,
Apesar dos benefícios conhecidos da fisio-
antibióticos, mucolíticos, broncodilatadores,
terapia respiratória na FC, uma meta-análise da
anti-inflamatórios, suporte nutricional e oxi-
Chochrane (2000) não foi capaz de mostrar suas
genioterapia1-3,5.
evidências. No referido estudo, Van der Schans
Fisioterapia respiratória e cols.8 realizaram uma revisão extensa basea-
da em quase todos os trabalhos sobre técnicas
A fisioterapia respiratória ajuda a retardar
fisioterápicas em pacientes com fibrose cística
a progressão natural da FC. Medidas que visam
publicados em literatura internacional indexada
melhorar o clearance mucociliar podem ser
de 1974 até 2000. Por problemas metodológicos
consideradas um dos grandes pilares deste tra-
nos estudos disponíveis, nenhum deles foi elegí-
tamento, que tem também como objetivos a me-
vel para a meta-análise. Assim, não foi possível
lhoria da ventilação pulmonar e a promoção de
afirmar a existência de evidências científicas
qualidade de vida. Variadas técnicas fisioterápi-
do benefício da fisioterapia na FC, o que não
cas estão disponíveis. As técnicas convencionais
significa que ela não seja eficaz. Recomenda-se
incluem drenagem postural e percussão torácica
que as técnicas fisioterápicas sejam utilizadas
em posições anatômicas diferentes objetivando
e que a comunidade científica busque realizar
a remoção das secreções com o favorecimento
trabalhos com o objetivo de demonstrar a eficá-
da ação gravitacional3,7.
cia e eficiência das técnicas de fisioterapia sobre
Conforme o paciente vai crescendo e se
a drenagem de secreções pulmonares. Não é
tornando mais autônomo no autocuidado, par-
objetivo deste texto o aprofundamento no tema
ticularmente na fase adulta, é possível que ele
fisioterapia, que será explorado mais profunda-
realize algumas técnicas fisioterápicas sozinho,
mente em outro momento, nesta mesma revista.
sem a obrigatoriedade de assistência do profis-
sional da fisioterapia. Essas técnicas incluem: Comprometimento infeccioso
drenagem autogênica, drenagem autogênica pulmonar
modificada, ciclo ativo da respiração, técnica de
expiração forçada, pressão expiratória positiva Terapia de erradicação
aplicada por máscara, técnicas com dispositivos As infecções pulmonares agudas e crôni-
oscilatórios orais, compressões torácicas de cas, facilitadas pela presença de muco espesso
alta frequência e ventilação percussiva intra- e pegajoso e associadas com intensa resposta
pulmonar. Tais técnicas devem ser orientadas inflamatória, determinam a maior parte da

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morbidade e mortalidade nos pacientes com FC. patógenos, que é fundamental para o tratamento
Colonizações e infecções agudas ou intermiten- individual apropriado, o entendimento da epi-
tes, com tendência à infecção crônica, ocorrem demiologia dos patógenos na FC e a tomada
já nos primeiros meses de vida. A microbiologia de medidas eficazes de controle infeccioso. O
da FC é bem peculiar e vem sendo estudada há uso frequente de antibióticos, favorecendo o
muitos anos. desenvolvimento de resistência microbiana e o
A história evolutiva das colonizações e surgimento de patógenos emergentes também
infecções pulmonares segue uma sequência cro- são preocupações constantes11.
nológica na maioria dos casos. No momento do Devido à importância da microbiologia na
nascimento, o paciente geralmente não possui evolução da doença pulmonar na FC, recomen-
micro-organismo colonizador. Os agentes infec- da-se a realização de culturas sistemáticas de
ciosos iniciais são predominantemente virais e, secreções respiratórias de pacientes fibrocísticos,
entre as bactérias, destacam-se o Staphylococcus habitualmente através de exames de escarro ou
aureus (Sa) e o Haemophillus influenzae (Hi). A de swab de orofaringe. Este último costuma ser
Pseudomonas aeruginosa (Pa), bactéria de maior realizado em crianças que não conseguem ex-
prevalência na FC, pode ser eventualmente pectorar. Outros materiais usados para culturas
identificada nos pacientes mais jovens, porém podem ser aspirados traqueais (em pacientes
costuma surgir mais tarde, principalmente em intubados), lavado broncoalveolar e biópsia
idade escolar ou adolescente10. pulmonar. Para o acompanhamento clínico
A tendência da Pa é de se causar infecção regular, a frequência ideal de culturas das secre-
crônica do trato respiratório de pacientes fi- ções respiratórias é de, pelo menos, três vezes
brocísticos e de assumir o fenótipo mucoide. ao ano, com intervalos de aproximadamente 4
Nas primeiras identificações de Pa no paciente, meses1,3. Os patógenos de importância clínica na
tenta-se a erradicação desta bactéria através FC deverão ser valorizados em quaisquer destes
de tratamento antimicrobiano específico. O materiais respiratórios e em qualquer contagem
sucesso desta abordagem terá sido atingido se de colônias11.
esta bactéria não aparecer nas próximas culturas O uso de antibióticos costuma ser feito
mensais de escarro. Posteriormente, a Pa tende basicamente em três situações: na identificação
a permanecer e desenvolver uma capa de prote- inicial de um patógeno (para erradicação), na
ção (biofilme), composta por exopolissacaride, terapêutica de manutenção e em casos de exa-
assumindo a forma denominada Pa mucoide. cerbação1,3. As vias de administração utilizadas
Este biofilme pode conferir maior resistência aos são oral (VO), intravenosa (IV) e/ou inalatória
antibióticos e dificultar o sucesso dos esquemas (AI).
terapêuticos de erradicação10. O Sa costuma ser a primeira bactéria culti-
Outros micro-organismos também são vada na secreção respiratória de crianças com
comumente encontrados, principalmente bac- fibrose cística, mas permanece como um impor-
térias do grupo de Gram negativos não fermen- tante patógeno no adulto. No momento em que
tadores (BGN-NF), entre as quais destacam-se há o primeiro crescimento de Sa na cultura do
o Complexo Burkholderia cepacia (CBc), Stre- escarro, pode-se tentar erradicar este agente com
notrophomonas maltophilia e Achromobacter antibiótico, mesmo que não haja sintomas. O
xylosidans, entre outros11. uso de antibióticos para erradicar essa bactéria,
Infecções polimicrobianas são comuns na no entanto, tem sido motivo de debates, embora
FC. Além de variados tipos de bactérias, fungos estudos recentes tenham concluído que a terapia
e micobactérias; também ocorrem. Um dos antiestafilocócica traz muitos benefícios aos
grandes desafios para laboratórios de micro- pacientes fibrocísticos. Para a erradicação do
biologia clínica é a identificação correta destes Sa, pode-se utilizar oxacilina ou amoxicilina-

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-clavulanato por período de três a quatro se- de nova detecção da bactéria, deve-se internar
manas. No caso de SA resistente à meticilina o paciente e administrar antibiótico venoso, no
(MRSA), utiliza-se linezolida, vancomicina ou caso ceftazidima e amicacina venosos por 21
teicoplanina. Em caso de detecção de Hi no dias associados à colimicina inalatória durante
escarro, recomenda-se utilizar amoxicilina ou 3 meses. Na presença de escarros sem a detecção
amoxicilina-clavulanato por período de 4 se- da Pa após esquema inicial, deve-se manter ape-
manas. Os guidelines recomendam evitar o uso nas a colimicina inalatória por 12 meses12,16-20.
de cefalosporina de segunda geração devido ao Nos adultos, a aquisição e persistência da
maior risco de colonização por PA12. Pa no trato respiratório inferior do paciente com
Embora ocorra sucesso na erradicação do fibrose cística estão associadas à maior morbi-
Sa em 75% dos casos, após término do esquema dade e mortalidade. Inicialmente as cepas de Pa
antibiótico nota-se a recidiva13. Mesmo diante costumam ser não mucoides e multissensíveis
dessas informações, até o momento não existem aos antibióticos21. Estas cepas, se tratadas de
evidências suficientes para definir a utilização forma adequada, podem ser erradicadas em um
de antibioticoterapia profilática voltada para este primeiro momento. Com o tempo, o fenótipo
microbiota. Há estudos que demonstram que a mucoide pode se apresentar levando a um pior
colonização pelo MRSA poderia estar envolvida declínio clínico e funcional do ponto de vista
na piora da função respiratória durante acom- pulmonar. Desta forma, quando estamos diante
panhamento em longo prazo14,15. de um primeiro escarro onde se apresenta na
Em crianças já colonizadas por Sa e que cultura a Pa, deve-se iniciar tratamento agres-
apresentam isolamento recente de Pa, diversos sivamente com o objetivo de erradicá-la.
esquemas podem ser utilizados como, por exem- Nos adultos, há também diversos esquemas
plo, o uso combinado de ceftazidima, amicacina que objetivam erradicar a Pa. Pode-se fazer uso
e oxacilina intravenosas12. Também pode ser de ciprofloxacina oral associada à polimixina E
recomendado o uso de tobramicina inalatória inalatória (colistina) por período de três a seis
e ciprofloxacina oral ou venosa, ambas por semanas. Em caso de recidivas ou na presença
período de 2 a 4 semanas12,16. de cepa Pa mucoide, pode-se estender o tempo
Os esquemas de erradicação da Pa diver- de tratamento para três meses. Um estudo mul-
gem, principalmente, de acordo com a escola ticêntrico denominado ELITE não evidenciou
preconizada (americana e europeia)12,16-20. A diferença estatística quanto à erradicação da
escola europeia propõe que – na presença de Pa quando comparado ao uso de tobramicina
cultura com a detecção da Pa ou nova cultura inalatória durante 28 e 56 dias14,15,22,23. Outra
após 6 meses de erradicação – utilize-se cipro- opção no indumentário terapêutico seria a
floxacina oral, associada à colimicina inalatória associação de antibióticos venosos, por exem-
por 6 semanas. Procede-se com escarro ou as- plo, ciprofloxacina e antibióticos inalatórios22.
pirado traqueal mensalmente por período de 6 Seguem outros esquemas de antibioticoterapia
meses. Neste caso, na presença de nova detecção, objetivando a erradicação da Pa24-26: 1) ciproflo-
no escarro, da bactéria deve-se proceder com xacina oral + tobramicina inalatória por 3 meses;
antibioticoterapia venosa. Caso as culturas per- 2) tobramicina inalatória durante 28 dias; 3) beta
maneçam negativas, deve-se manter colimicina lactâmico antipseudomonas (2-3 semanas) +
inalatória por 12 meses12-20. Já a escola americana ciprofloxacina oral (3-12 semanas) + colistina
propõe como esquema antibiótico a utilização inalatória por 12 semanas.
de ciprofloxacina oral durante 3 meses, asso- Não há protocolos de erradicação para o
ciada à colimicina inalatória por 3 meses. Para tratamento do complexo Burkholderia cepa-
pacientes com idade inferior a 12 meses, utiliza- cia. Em caso de exacerbação, deve ser tratada
-se a tobramicina inalatória por 28 dias. Em caso seguindo o perfil de sensibilidade fornecido

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pela cultura do escarro. Os antibióticos mais endovenosa. Para os pacientes com exacerbação
utilizados são sulfametoxazol-trimetropim, mais grave ou com rápida deterioração clínica,
ceftazidima e meropenem1,3,16-20. preconizam-se antibióticos via endovenosa
Importante salientar que, assim como na por período de, em média, 14 a 21 dias, seja
população adulta, as crianças colonizadas por por internação hospitalar ou em caráter de
Pa ou CBc devem ter seu atendimento segre- internação domiciliar, obviamente após caracte-
gado dos outros pacientes devido ao risco de rização clínica e disponibilidade do paciente3,27.
contaminação cruzada12,16. A escolha dos antibióticos é baseada na revisão
das culturas de escarro e avaliação dos antibio-
Tratamento das exacerbações
gramas mais recentes.
As exacerbações (ou agudizações) são ca- O tratamento antibiótico objetiva dar co-
raterizadas por alterações periódicas da inten- bertura contra os patógenos especificamente
sidade dos sintomas respiratórios ocasionadas relacionados com a fibrose cística, como Sa,
principalmente por infecções respiratórias. Para Pa e CBc9.
defini-las utilizam-se no ambiente pediátrico os Como a Pa é o patógeno de maior prevalên-
critérios de Fuchs, compostos por 12 itens que, cia na FC, o tratamento com fluoroquinolonas
quando quatro destes estão presentes, caracte- orais é uma boa opção para as exacerbações
rizam o episódio de exacerbação (Quad.1)12. leves, enquanto que uma combinação de um
O tratamento das exacerbações pode ser beta-lactâmico antipseudomonas associado a
feito, dependendo da gravidade do quadro clí- um aminoglicosídeo, ambos de administração
nico, com antibióticos por via oral ou por via venosa, é opção terapêutica para as exacerbações

Quadro 1: Critérios de Fuchs. Exacerbação presente quando quatro de doze sintomas estão
presentes.

1. Alteração do volume e da cor do escarro

2. Hemoptise nova ou aumentada

3. Aumento da tosse

4. Aumento da dispneia

5. Mal-estar, fadiga ou letargia

6. Temperatura axilar >38°C

7. Anorexia ou perda de peso

8. Cafaleia ou dor na região dos seios da face

9. Alteração da cor da rinorreia

10. Alteração da ausculta pulmonar

11. Queda do VEF1 superior a 10% do valor basal

12. Alterações radiológicas indicativas de infecção pulmonar.

Adaptado: Ribeiro JD, Ribeiro MAGO, Ribeiro AF. Controversies in cystic fibrosis – from pediatrician to specia-
list. J Pediatr 2002;78(Supl. 2):S171-86.

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mais graves. Dá-se preferência para a posologia duas vezes ao dia, administrada 28 dias seguidos
dos aminoglicosídeos em dose única diária, de 28 dias de interrupção, ou seja, o paciente
reduzindo desta forma o seu potencial nefrotó- faz uso do medicamento em meses alternados.
xico, ototóxico e de toxicidade vestibular1,4,28,29. A polimixina E (colistin ou colistina) é outra
Os estudos ainda são insuficientes para de- droga inalatória disponível. É usada nas doses
finir o risco-benefício da administração venosa de 500.000 a 1.000.000 unidades, nebulizadas
prolongada de beta-lactâmicos nos pacientes duas vezes ao dia1,31.
internados para o tratamento de exacerbações28. Ainda faltam evidências para definir qual
Uma meta-análise comparou o uso de monote- a melhor droga para a supressão crônica. Há
rapia versus terapia combinada no tratamento trabalhos relatando que o uso combinado de
de exacerbação por Pa. Não houve diferença polimixina E inalatória associada à tobramicina
estatística quando avaliada sob o ponto de inalatória poderia ser superior quando compa-
vista funcional, clínico, além da presença de rado à monoterapia inalatória, evidenciando
efeitos adversos, porém o uso de monoterapia maior efetividade na redução da população
apresentou maior correlação com a indução de bacteriana e na redução do biofilme in vitro31,32.
resistência quando os pacientes foram acom- Um estudo que comparou o uso da tobramicina
panhados por período de 2 a 8 semanas30. Por inalatória com a tobramicina E (colistina), não
este motivo, diferentes guidelines preconizam apresentou diferença estatística na redução das
o uso de antibioticoterapia combinada venosa colônias de PA no escarro. Entretanto, o estudo
para o tratamento de internação da exacerbação mostrou que a tobramicina inalatória foi capaz
infecciosa pulmonar em pacientes colonizados de proporcionar melhor ganho funcional quan-
por Pa. Visando reduzir efeitos adversos, custos do comparada com a colistina inalatória33.
e indução de resistência bacteriana, diferentes O aztreonam é um antibiótico monolac-
estudos buscam avaliar a possibilidade de redu- tâmico e é outra opção terapêutica, podendo
ção do tempo de tratamento, mas esta medida ser utilizado tanto nas exacerbações como no
ainda é controversa na FC28. tratamento de manutenção. Este antibiótico
Não há consenso sobre a preconização apresenta em sua composição a lisina, denomi-
de internações programadas, independente
nada como AZLI e é utilizado por via inalatória,
de o paciente apresentar ou não exacerbação
na dose de 75mg sendo utilizado três vezes ao
pulmonar. A escola europeia é a que apresenta
dia, por período de 28 dias, intercalados com um
maior tendência a recomendar internações
intervalo de 28 dias. O AZLI inalatório difere da
programadas. No entanto, parece não haver mo-
forma do aztreonam de administração por via
dificação do desfecho da doença, além de expor
venosa devido à substituição na sua composição
o paciente a doses adicionais de antibióticos em
da arginina pela lisina. O aztreonam para via
um ambiente contaminado por outros germes
intravenosa (contendo arginina) não deve ser
resistentes10,15.
utilizado pela via inalatória por poder causar
Tratamento de manutenção inflamação pulmonar. O AZLI se mostrou se-
Nos pacientes que já apresentam coloni- guro e eficaz, promovendo boa resposta sob os
zação da via aérea por cepas da Pa, faz-se ne- aspectos clínicos e funcionais10,34,35.
cessário o uso de tratamento supressivo através Não há evidências que comprovem bene-
de antibioticoterapia inalatória. Dispomos de fícios no uso crônico de antibióticos orais em
um aminoglicosídeo inalatório, a tobramicina pacientes adultos ou pediátricos com fibrose
nas doses de 60-80mg, nebulizados duas a três cística colonizados por Pa, sendo desta forma
vezes ao dia. Outra preparação disponível é a não recomendados1,16.
tobramicina livre de fenol, utilizada também de No caso de aspergilose broncopulmonar
forma inalatória na dosagem de 300mg realizada alérgica (ABPA), recomenda-se prednisona na

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dose de 2 mg/kg/dia por duas semanas ou itraco- recem a obstrução ductal, que se acompanha
nazol na dose de 5 mg/kg/dose para menores de de reação inflamatória e de posterior processo
12 anos e na dose de 200 mg/dose para maiores de fibrose11. A viscosidade anormal do escarro
de 12 anos12,16-20. é causada pelo DNA extracelular liberado pelos
Os macrolídeos possuem atividade an- neutrófilos3.
ti‑inflamatória, e são bem tolerados quando A terapêutica com alfadornase, ou DNase
administrados por via oral 12 . Reduzem o recombinante humana (rhDNase), foi aprovada
recrutamento de eosinófilos e neutrófilos nos em 1994 para o uso exclusivo na fibrose cística.
pulmões, causam supressão do TNF-alfa, redu- Esta droga, administrada pela via inalatória,
ção dos níveis da IL8 no lavado broncoalveolar diminui a viscosidade do escarro devido à
(BAL), e aumentam a apoptose de neutrófilos, degradação do DNA extracelular em pequenos
reduzindo o número dessas células no BAL. fragmentos. Foi demonstrado benefício da al-
Apresentam também ação na inibição da ade- fadornase em pacientes com mais de 5 anos de
rência e na formação do biofilme da Pa. Também idade e com VEF1 maior que 40% do previsto,
são capazes de reduzir a viscosidade do escarro, promovendo redução na taxa de exacerbação da
e algumas evidências têm sugerido que esse doença pulmonar em 22% e melhora no VEF1 de
grupo de medicamentos poderia desempenhar 5,8%. Em pacientes com doença pulmonar mais
uma up regulation dos canais de cloro20. Na FC, grave (VEF1 < 40% do previsto), foi observado
recentemente alguns trabalhos prospectivos, benefício funcional pulmonar, mas não redução
randomizados, duplo cego e controlados com nas exacerbações. A dose recomendada da alfa-
placebo, mostram bons efeitos desse grupo de dornase é de 2,5 mg, utilizada através de nebuli-
drogas12. Além de seus efeitos celulares e nos zação com nebulizador específico, uma ou duas
imunomoduladores, há evidências de que o vezes ao dia. Os principais efeitos adversos são
tratamento oral com macrolídeos melhora a rouquidão, alteração da voz e faringite, sendo
função pulmonar e diminui a frequência das autolimitados na grande maioria das vezes. Na
exacerbações em pacientes colonizados com população pediátrica, há recomendação clara
Pa. Além dos pacientes colonizados por Pa, os para o início do uso da alfadornase em pacientes
macrolídeos também parecem exercer seu efeito com FC com idade superior a 5 anos12 ou 6 anos,
em pacientes não colonizados por esta bactéria. com obstrução fixa das vias aéreas, comprovada
As doses utilizadas da azitromicina são de 250 por espirometria, e na presença de produção
mg a 500 mg via oral uma vez ao dia e 250 mg crônica de escarro7,12,14,16.
via oral ao dia para pacientes com menos de A nebulização utilizando a solução de
40 kg. Outra forma de uso seria de 500 mg de salina hipertônica por curto prazo aumenta o
azitromicina três vezes por semana23,36. transporte ciliar, melhora as propriedades do
O acometimento dos seios da face se ma- escarro e melhora a hidratação da superfície
nifesta clinicamente com sinusite bacteriana das vias aéreas, consequentemente, melhorando
de repetição. Utiliza-se antibioticoterapia em o clearance mucociliar e a função pulmonar.
caso de exacerbações. O uso de corticosteroides Recomenda-se a nebulização com solução sali-
tópicos é feito de modo a reduzir o componente na hipertônica de 3 a 7%, e preferencialmente
inflamatório1-3. precedida do uso de broncodilatadores 37,38.
Estudos evidenciam que o uso prolongado da
Agentes mucolíticos solução salina hipertônica pode reduzir a efi-
Nas vias aéreas dos pacientes com FC, cácia das defensinas no fluido das vias aéreas,
ocorrem alterações no líquido de superfície pro- proporcionando o crescimento de colônias de
movendo desidratação das secreções mucosas e pseudomonas. Em um estudo comparativo
aumento da viscosidade. Estas alterações favo- entre salina hipertônica e alfadornase, as duas

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O Tratamento na Fibrose Cística e suas Complicações

substâncias têm-se mostrado equivalentes na tudos mostra um discreto benefício funcional1.


melhora da obstrução brônquica e sinergismo, Desta forma, a avaliação da hiper-reativi-
quando utilizadas conjuntamente e por curto dade brônquica deve ser realizada em todos os
período12. pacientes com fibrose cística, além da possibi-
Até o momento, a N-acetilcisteína inalada lidade da realização de teste terapêutico com
carece de evidências suficientes. Seu uso pode medicamentos broncodilatadores9. Na popu-
estar relacionado à apresentação de broncoes- lação pediátrica, os broncodilatadores também
pasmo devido ao efeito irritante1,12,37. podem melhorar o clearance mucociliar e a
O manitol inalatório, quando utilizado por resistência das vias aéreas. Broncoconstrição
período de duas semanas, se correlacionou com paradoxal tem sido descrita, e, dessa forma, a
a melhora na hidratação da mucosa das vias aé- espirometria deve ser utilizada de rotina, de
reas, além de proporcionar alterações no escarro modo a checar se os resultados obtidos com o
dos pacientes com fibrose cística38,39. No entanto, broncodilatador são eficazes12.
o manitol inalatório, sob a forma de pó seco, Agentes anti-inflamatórios
ainda não está disponível para uso clínico12.
Embora inúmeras pesquisas tenham sido
Broncodilatadores realizadas de modo a melhor utilizar os anti-
Os broncodilatadores inalatórios têm sido -inflamatórios, ainda não foi identificada uma
utilizados no tratamento dos pacientes com droga que seja eficaz e segura para este fim40.
fibrose cística. Seu uso é de grande utilidade Os corticosteroides orais e o ibuprofeno são
quando o paciente apresenta hiper-reatividade as drogas mais estudas nos pacientes portadores
brônquica, o que ocorre em até metade dos de fibrose cística. Os corticosteroides orais na
casos3. dose de 1 a 2 mg/kg em dias alternados pare-
Os agonistas beta-adrenérgicos de curta cem retardar a progressão da doença pulmonar,
duração são os agentes mais empregados. São porém importantes efeitos colaterais colocam
utilizados geralmente antes da fisioterapia respi- em questionamento o uso desta classe de medi-
ratória para facilitar o clearance das vias aéreas. camentos. Nas exacerbações, faltam evidências
Os broncodilatadores de longa duração apre- que justifiquem sua utilização, exceto nos casos
sentam as mesmas indicações, lembrando-se da selecionados de exacerbação grave em que
coexista a hiper-reatividade brônquica3,9,28,41,42.
praticidade da utilização através do spray ou por
pó seco inalado. O formoterol e o salmeterol são Quanto ao uso de corticosteroides inala-
os grandes representantes dessa classe de drogas. tórios, há uma revisão sistemática recente42,
Apresentam meia vida de 12 horas, tornando a em que os autores encontraram 266 trabalhos
sua utilização mais prática, favorecendo, desta sobre o uso de corticosteroides inalatórios na
forma, uma melhor aderência do medicamento FC, dos quais apenas 9 puderam ser incluídos
pelo paciente. Podem ser utilizados de forma na meta-análise. Os outros 257 trabalhos não
intercalada com os broncodilatadores de curta foram selecionados por problemas metodoló-
duração proporcionando efeito sinérgico, ob- gicos quanto aos critérios de inclusão, idade
jetivando melhora do efeito broncodilatador. dos pacientes, gravidade do comprometimento
Recentemente foi lançado no mercado um pulmonar, diagnóstico de asma associado e
broncodilatador de duração de 24 horas, o presença de colonização ou infecção por pseu-
indacaterol. Sua utilização até o momento está domonas. Os autores concluíram que os dados
restrita aos pacientes com DPOC1,7. são insuficientes para recomendar a utilidade
O emprego do brometo de ipratrópio como dos corticosteroides no tratamento da FC.
broncodilatador na fibrose cística tem dados li- Apesar desta limitação, procura-se identificar
mitados e controversos, porém a maioria dos es- a presença de atopia associada à FC, e o uso do

90 Revista do Hospital Universitário Pedro Ernesto, UERJ


O Tratamento na Fibrose Cística e suas Complicações

corticoide inalatório tem sido considerado nas rioração progressiva da função pulmonar. Nas
situações de FC com asma associada ou no caso fases mais avançadas do comprometimento
de sibilância recorrente12,42,43. pulmonar, a hipoxemia e a hipertensão pul-
O uso do ibuprofeno na dose de 20 a 30 mg/ monar passam a estar presentes, tornando-se
kg/dia foi estudado em pacientes com fibrose desta forma de fundamental importância a su-
cística, evidenciando redução na taxa de declínio plementação de oxigênio. Recomenda-se o uso
do VEF1, redução nas hospitalizações e melhora de oxigenoterapia quando a pressão arterial de
no estado nutricional. O uso do ibuprofeno exige oxigênio for menor do que 55 mmHg na vigília e
a monitorização do nível sérico da medicação. em ar ambiente, ou pressão arterial de oxigênio
A hemorragia gastrointestinal e o aumento da menor do que 59 mmHg, na presença de edema
de membros inferiores, policitemia, evidência
incidência de insuficiência renal são umas das
ecocardiográfica de sobrecarga cardíaca direita
principais complicações observadas no uso
ou hipertensão pulmonar. Os dados disponíveis
contínuo desta medicação1. Devido aos efeitos
de forma específica para fibrose cística acerca da
adversos e à falta de evidências de que os benefí-
oxigenoterapia são limitados, extrapolando-se
cios superem os riscos, não se recomenda o uso
desta forma as indicações baseadas em estudos
de ibuprofeno na rotina clínica42-44.
sobre doença pulmonar obstrutiva crônica
Outras substâncias com propriedades
(DPOC)1,3.
anti‑inflamatórias que estão sendo testadas na
Alguns pacientes apresentam critérios de
FC incluem pentoxifiline, tiloxapol, gelsolin, oxigenoterapia apenas durante o exercício e du-
surfactante, amiloride e solução salina hiper- rante o sono. Durante o exercício, recomenda-se
tônica em concentrações variadas. Nenhuma suplementação de oxigênio nos casos em que
dessas substâncias ainda deve ser usada de rotina a saturação arterial de oxigênio estiver menor
no tratamento das manifestações pulmonares do que 88-90%. Entretanto, a suplementação
na FC12. Os antibióticos macrolídeos citados de oxigênio durante o sono se faz necessária
previamente são principalmente utilizados na quando o paciente apresenta saturação arterial
FC por apresentarem atividade anti-inflamatória inferior a 88-90% por mais de 10% do tempo
e imunomoduladora12. de sono1,3.

Suporte nutricional Comprometimento


Todo paciente com fibrose cística deve pancreático
ser avaliado regularmente com objetivo de Com a obstrução dos ductos pancreáticos,
monitorizar o estado nutricional e assegurar há o impedimento da chegada das enzimas
uma adequada ingesta calórica. A intervenção pancreáticas até o duodeno. A insuficiência
nutricional deve ser precoce, pois desempenha pancreática manifesta-se clinicamente através
um importante papel no curso clínico da fibrose de perda de peso ou dificuldade de ganho de
cística. Prejuízos no estado nutricional acarre- peso, associado frequentemente à presença de
tam alterações na função pulmonar, também episódios de fezes pastosas ou diarreicas de
interferindo na sobrevida do paciente45. Devido aspecto gorduroso. Estas alterações podem ser
à grande importância da nutrição no tratamento confirmadas pela dosagem da elastase fecal ou
e acompanhamento dos pacientes com fibrose pela dosagem de gordura fecal por 72 horas3. Há
cística, um capítulo foi dedicado exclusivamente também relatos de dor abdominal e aumento do
a este tema. meteorismo abdominal associado à insuficiência
pancreática3,12.
Suplementação de oxigênio Tão logo fique caracterizada a insuficiên-
A fibrose cística se caracteriza pela dete- cia pancreática, deve-se iniciar uma terapia de

Ano 10, Outubro / Dezembro de 2011 91


O Tratamento na Fibrose Cística e suas Complicações

reposição enzimática, evitando assim a insta- tus relacionado à FC (DRFC) estão entre as
lação ou agravamento do estado nutricional12. manifestações extrapulmonares mais comuns
A dose inicial de enzimas para o adulto é de da doença45. Estes problemas são menos encon-
500U de lipase por quilo de peso do paciente trados em pacientes com FC menores do que 10
nas grandes refeições e metade dessa dose nas anos de idade, faixa etária em que a incidência
pequenas refeições (por exemplo, nos lanches). é menor que 1%, se assemelhando à observada
As doses devem ser ajustadas de acordo com as em indivíduos sem FC. No entanto, tornam‑se
necessidades clínicas até o máximo de 2.500U mais frequentes em adolescentes e adultos com
de lipase por quilo de peso por refeição maior3,35. FC, em especial naqueles com insuficiência
Na população pediátrica, a quantidade inicial pancreática exócrina1. À medida que um maior
de enzima pode ser calculada em unidades número de pacientes tem atingido a vida adul-
de lipase, por grama de gordura ingerida, por ta, a incidência de diabetes em fibrocísticos
refeição, por dia (dose inicial de 500-1.000U de aumenta concomitantemente com frequência
lipase/g de gordura/refeição/dia). Este método é que varia entre 15 a 43%47-49. Nos pacientes
prático para lactentes no primeiro ano de vida. transplantados, os medicamentos com ação
A quantidade inicial de enzima também pode imunossupressora também estão relacionados
ser calculada em unidades de lipase por quilo de ao aumento da frequência de intolerância à
peso, por refeição, por dia (dose inicial de 500- glicose e de DRFC1.
1.500U de lipase/kg/refeição/dia)12. O resultado O DRFC apresenta características clínicas e
da reposição enzimática deve ser controlado fisiopatológicas próprias, com aspecto tanto de
com a melhora clínica (ganho de peso, mudança diabetes melito tipo 1 (DM1) quanto de tipo 2
no aspecto das fezes) ou com exames laborato- (DM2)49-51. A fibrose e a destruição do pâncreas
riais, para o ajuste individualizado da terapia de são componentes presentes na patogênese do
reposição enzimática. As preparações comer- DRFC. As alterações do canal de cloro levam à
ciais contendo enzimas pancreáticas evoluíram hiperviscosidade da secreção ductal pancreática,
desde o uso de preparações de liberação rápida, causando lesões obstrutivas, infiltração gordu-
sem proteção, até preparações de microesferas, rosa, fibrose progressiva das ilhotas e redução
com proteção ácido-resistentes e concentrações da secreção de insulina, glucagon e polipetídeo
variadas de enzimas por cápsulas12. pancreático. O acúmulo de substância amiloide
Recomenda-se, para os pacientes obterem dentro das células beta, presente nos pacientes
um melhor aproveitamento da terapia de repo- com FC e diabetes e ausente naqueles com FC
sição enzimática, o seguinte: (1) dar as refeições e não diabéticos, contribui para a insulinopenia
em “blocos”, a cada 3 ou 4 horas; (2) evitar devido ao seu efeito citotóxico e limitador da
“beliscar” alimentos; (3) dar enzimas em todas secreção de insulina1.
as refeições, imediatamente antes de iniciá-las;
Especula-se quanto à participação de meca-
(4) ajustar a dose em função da quantidade e
nismos imunológicos na patogênese do DRFC.
qualidade dos alimentos ingeridos; (5) observar
Alguns autores relataram a presença de anti-
mudança no padrão das evacuações; (6) obser-
corpos anti-ilhotas, enquanto outros falharam
var ganho de peso12.
Os pacientes com insuficiência pancreática na tentativa de encontrar um fator autoimune.
estão predispostos à má absorção das vitaminas Maior prevalência de anticorpos contra Pseudo-
lipossolúveis A, D, E e K. Por este motivo, a monas em pacientes com DRFC já foi observada
suplementação dessas vitaminas também é por outros autores, sugerindo a possibilidade
recomendada de rotina3,35. de um mecanismo imunológico desencadeado
por infecções pulmonares bacterianas. Não
Diabetes melito na FC foram descritas associações com antígenos de
A intolerância à glicose e o diabetes melli- histocompatibilidade HLA-DR3 e DR4, comuns

92 Revista do Hospital Universitário Pedro Ernesto, UERJ


O Tratamento na Fibrose Cística e suas Complicações

em pacientes com diabetes melito tipo 1, nos sos em que tais valores não sejam concordantes,
pacientes com DRFC diabéticos com FC1,14. o TTOG estará indicado. Um valor ≥200 mg/dL
Quanto à apresentação clínica, o DRFC aferido após duas horas pós-prandial também é
também apresenta características tanto de diagnóstico de DRFC1.
DM1 como DM2. O curso clínico é insidioso. O manejo do paciente com DRFC requer
Inicialmente ocorre hiperglicemia pós-prandial toda atenção da equipe multidisciplinar, além
que evolui para hiperglicemia em jejum. Outras do acompanhamento do endocrinologista. São
vezes, a hiperglicemia só surge durante períodos objetivos a serem alcançados: 1) manutenção do
de estresse49-52. A cetoacidose é infrequente49. status nutricional; 2) controle glicêmico rigoro-
Além de poliúria, polidipsia e perda ponderal, so, objetivando a redução das suas complicações
sintomas clássicos do DM1, manifestações agudas e crônicas; 3) prevenção de episódios de
inespecíficas como nos casos da redução da hipoglicemia grave; 4) adaptação do paciente ao
velocidade de crescimento, atraso no desenvol- manejo do diabetes; 5) introdução de cuidados
vimento puberal e declínio não explicado da adicionais junto ao cotidiano do paciente.
função pulmonar sugerem o diagnóstico50,52-55. O tratamento da DRFC se faz através de
Estudos demonstraram que a deterioração da diversas medidas dietéticas, além do uso da
função respiratória e do índice de massa corpo- insulina. O uso dos hipoglicemiantes orais
ral podem anteceder o diagnóstico de DRFC em deve ser evitado devido ao comprometimento
2 a 4 anos56. O declínio da função respiratória hepático do paciente com FC1. O paciente deve
também se mostra aumentado em pacientes com dosar a glicemia capilar rotineiramente antes das
intolerância à glicose1. refeições maiores. A dosagem da hemoglobina
Diversos estudos demonstram que a DRFC glicosilada deve ser solicitada, preferencialmen-
está relacionada a um aumento de morbidade e te, a cada 4 meses61. Exames para a detecção
mortalidade, podendo elevar o risco de morte das complicações da DRFC (retinopatia e ne-
em até 2,5 vezes53-55. A DRFC está relacionada fropatia) deverão ser realizados anualmente. A
à piora da função respiratória, menores índices hipertensão arterial deverá ser tratada de forma
de massa corporal, maior incidência de com- adequada quando presente, preferencialmente,
plicações infecciosas respiratórias, além de com o uso de inibidores da enzima conversora
maiores taxas de complicações microvasculares, da angiotensina.
como retinopatia (5-16%), nefropatia (3-16%) Cuidados adicionais deverão ser avaliados
e neuropatia (5-21%). As complicações macro- nos pacientes portadores de DRFC com com-
vasculares são raras nos pacientes com FC57-60. prometimento renal, principalmente na escolha
Para o diagnóstico de DRFC, poderão de medicamentos com característica nefrotó-
ser utilizados a glicemia de jejum, a dosagem xica, como é o caso dos antibióticos aminogli-
glicêmica casual e o teste de tolerância oral à cosídeos, anti-inflamatórios não esteroidais, e
glicose (TTOG). Todos os pacientes devem drogas imunossupressoras1.
realizar, pelo menos anualmente, uma dosagem Nos pacientes que apresentam intolerância
da glicemia. Um valor esporádico ou casual de à glicose, o tratamento deve ser conduzido
glicemia >126 mg/dL é considerado anormal. A através de modificações dietéticas e atividades
dosagem casual de glicose com valor ≥ 200 mL/ físicas, quando possíveis. O uso de insulina
dL em duas ou mais aferições é diagnóstica de nesses casos se faz necessário apenas quando
DRFC. A dosagem de glicemia de jejum com ocorrer deterioração clínica e perda de peso56.
valor ≥126 mL/dL em duas ou mais medidas ou Para os pacientes com DRFC e hiperglice-
uma dosagem de glicemia de jejum ≥126 mg/dL mia de jejum, a insulina é o único tratamento
associada a uma medida de glicemia casual ≥200 farmacológico recomendado. Os pacientes em
mg/dL também é diagnóstico de DRFC55. Em ca- uso de nutrição enteral ou parenteral noturna

Ano 10, Outubro / Dezembro de 2011 93


O Tratamento na Fibrose Cística e suas Complicações

necessitam de esquemas de insulina específicos No caso de alterações laboratoriais com


para evitar hiperglicemia durante a infusão da elevação de GGT ou fosfatase alcalina, o estudo
dieta. As doses de insulina também necessitam das vias biliares se faz necessário, em vigência
de ajustes durante infecções pulmonares, inter- da possibilidade diagnóstica de colelitíase, co-
namentos, febre e corticoterapia1,46,50. lecistite, obstrução biliar com ou sem colestase
e alterações ósseas. Outros exames laboratoriais
Comprometimento Hepatobiliar se fazem necessários como dosagens de proteínas
O comprometimento do fígado e das vias totais e frações, hemograma completo e coa-
biliares também ocorre na FC. Essas alterações gulograma1.
podem evoluir progressivamente com cirrose e Diversos exames complementares podem
fibrose biliar progressiva62,63. ser solicitados de modo a diagnosticar e melhor
Estima-se que 17% dos pacientes pediá- avaliar o comprometimento hepático e das vias
tricos possam apresentar comprometimento biliares. O ultrassom abdominal total tem sua
hepático, enquanto que nos adultos os dados importância na detecção de cálculos na vesícula
são escassos. Em um estudo retrospectivo63 e no colédoco, na presença de nodularidade
com 233 adultos (com idade superior a 15 anos hepática, sugerindo cirrose hepática, além de
de idade), observou-se que 24% dos pacientes heterogeneidade hepática, podendo correspon-
apresentavam hepatomegalia ou valores per- der à esteatose hepática1.
sistentemente elevados de enzimas hepáticas. Dois exames capazes de melhor estudar a
As três maiores causas de doença hepática ob- vesícula biliar e seus respectivos ductos intra e
servadas nos pacientes com fibrose cística são: extra-hepáticos são a colangiorressonância e a
1) colestase/cirrose biliar/cirrose multilobar; 2) colangiopancreatografia retrógrada endoscópica
esteatose hepática; 3) congestão hepática devido (CPRE), ambas no intuito de detectar estenoses
ao cor pulmonale64. e obstruções biliares. Alterações nos ductos bi-
Durante cada consulta, o paciente deve ser liares intra-hepáticos são comuns nos pacientes
examinado a procura de alterações no fígado com FC65,66.
e baço, com solicitações anuais de transami- A endoscopia digestiva alta é o exame mais
nases (AST e ALT), além de fosfatase alcalina, sensível para detectar a presença de varizes eso-
GGT e bilirrubina total e frações. É importante fagianas, varizes de fundo gástrico, gastropatia
lembrar que nenhuma dessas medidas se cor- hipertensiva e úlceras gástricas e duodenais.
relaciona com o grau de hepatopatia. Pacientes Todos os pacientes com cirrose, com ou sem
que apresentem elevações das transaminases indícios de hipertensão portal, devem ser sub-
acima de 1,5 vezes dos valores de referência metidos à endoscopia digestiva alta de modo a
para normalidade deverão ser submetidos à detectar precocemente as possíveis alterações
nova dosagem em um período de 3 a 6 meses. citadas acima, o que agregaria riscos inerentes
No caso de elevações persistentes ou de uma e, com isso, um pior prognóstico. A biópsia he-
única elevação das transaminases superior a 3 pática poderá ser realizada de modo a melhor
vezes do valor da normalidade, impõe-se uma especificar o diagnóstico, além de determinar
investigação mais criteriosa1. a presença e a extensão da cirrose e da fibrose
Durante a investigação, uma detalhada his- portal. Os riscos devem ser exaustivamente
tória clínica questionando-se o uso de drogas, discutidos em prol dos relativos benefícios
álcool e toxinas deve ser realizada, além de um provenientes das informações que poderão ser
exame físico criterioso. Estes dados deverão ser obtidas, já que a cirrose observada nos pacientes
complementados com a dosagem de sorologias com FC não é difusa e sim “em retalho”, trazendo
para hepatite A, B e C, citomegalovírus e vírus frequentemente informações inconclusivas1.
Epstein-Barr1. Depois de devidamente diagnosticados e

94 Revista do Hospital Universitário Pedro Ernesto, UERJ


O Tratamento na Fibrose Cística e suas Complicações

avaliados, os pacientes fibrocísticos com doença O uso de betabloqueadores também é recomen-


hepática e biliar deverão ser conduzidos clinica- dado em pacientes que já apresentaram san-
mente pela equipe multidisciplinar, de preferên- gramento proveniente das varizes esofagianas.
cia em conjunto com o gastroenterologista e o Nos pacientes com história de broncoespasmo
hepatologista. A abordagem terapêutica envolve ou com disfunção cardiológica grave, o uso de
terapia medicamentosa e nutricional, manejo betabloqueadores deve ser criterioso pesando-se
das complicações, além de terapia profilática. risco versus benefícios1.
Todos os pacientes com fibrose cística e com- Outras terapêuticas disponíveis para o tra-
prometimento hepático devem ser imunizados tamento das varizes esofagianas são a ligadura
contra os vírus da hepatite A e B, a não ser que elástica e esclerose das varizes esofagianas. O
já apresentem marcadores imunológicos reati- shunt portossistêmico deve ser considerado se
vos. Todos devem ser desencorajados quanto as medidas terapêuticas citadas previamente
ao uso de bebidas alcoólicas e qualquer droga não forem viáveis, sempre à luz dos benefícios
hepatotóxica1. que tal procedimento poderá proporcionar78,79.
O uso do ácido ursodesoxicólico (URSO) O transplante hepático deve ser considera-
tem como objetivo melhorar o fluxo biliar, subs- do nos pacientes com grande comprometimento
tituindo o ácido biliar hidrofóbico tóxico que se do fígado, principalmente naqueles com função
acumula nos casos de colestase hepática. Além pulmonar preservada. A sobrevida em 1 ano
disso, apresenta efeito citoprotetor e estimula a de pacientes submetidos a transplante hepático
secreção intrabiliar de bicarbonato. Também age pode variar entre 75% a 80%80,81.
aumentando a capacidade da bile em solubilizar Quanto ao comprometimento biliar e das
o colesterol, transformando a bile litogênica em vias biliares, sabe-se que 30% dos pacientes
não litogênica67-74. O URSO retarda a progressão apresentam cálculos na vesícula biliar, com
da doença hepática colestática1. O uso do URSO índices de colelitíase e colecistite que podem
está indicado nos pacientes com colestase, fibro- variar entre 1% e 12%. A colelitíase nos pacientes
se e/ou cirrose. A dose inicial é de 20 mg/kg/ fibrocísticos não é responsiva ao uso do URSO.
dia, administrado em duas doses. Deve-se mo- A colecistectomia deverá ser indicada na pre-
nitorar as transaminases, com dosagem inicial sença de sintomas clínicos, sempre com devida
três meses após o início do uso e a cada 6 a 12 avaliação pulmonar funcional, objetivando pe-
meses. Não há justificativa científica para o uso sar os riscos inerentes ao procedimento. Caso
desta droga para fins “profiláticos” em pacientes a colecistectomia seja uma opção terapêutica, a
fibrocísticos com alterações leves ou sem docu- realização da biópsia hepática e a colangiogra-
mentação de comprometimento hepático75,76. fia devem sempre ser consideradas de modo a
O suporte nutricional também é fundamen- avaliar a repercussão da doença nestes sítios1.
tal para o adequado manejo do paciente com A estenose do colédoco pode ocorrer ocasio-
hepatopatia. A suplementação das vitaminas nalmente, devido à compressão extrínseca pelo
A, D, E e K é de fundamental importância. O pâncreas fibrosado63,64. Há descrição na litera-
tempo de protrombina deve ser monitorado de tura de colangite esclerosante primária, porém
modo a avaliar a necessidade de reposição da
achados semelhantes na colangiografia podem
vitamina K77.
ser encontrados simplesmente pelo comprome-
Nos pacientes com hipertensão portal e com
timento da árvore biliar ocasionados pela FC82.
varizes esofagianas documentadas por estudo
endoscópico, o uso de betabloqueadores deve Complicações
ser recomendado profilaticamente, mesmo sem
a presença de sangramento prévio. Varizes de
gastrointestinais
grande calibre com o “sinal da cor vermelha” são A dor abdominal é uma queixa frequente
as que apresentam maior risco de sangramento. dos pacientes com FC80. De todas as causas de

Ano 10, Outubro / Dezembro de 2011 95


O Tratamento na Fibrose Cística e suas Complicações

dor abdominal, apenas a síndrome da obstrução parecem ser desencadeantes da síndrome, como
do intestino distal (DIOS) e a colonopatia fibro- a desidratação, o uso de medicamentos que
sante (CF) são específicas desta doença. Uma interferem na motilidade intestinal, narcóticos,
forma prática de abordar o paciente com FC e além da reposição das enzimas pancreáticas.
dor abdominal é a de tentar elaborar diagnósti- Entretanto, na maioria dos casos, nenhum fator
cos diferenciais de acordo com a localização da precipitante bem estabelecido pode ser identi-
dor como, por exemplo, epigástrica, periumbi- ficado90. Os sinais e sintomas mais observados
lical e hipogástrica. As principais causas de dor na DIOS são redução de eliminação de fezes e
de localização epigástrica nos pacientes com dor em cólica, habitualmente em localização
FC têm como causa a doença do refluxo gas- periumbilical e também no quadrante inferior
troesofágico, doença do trato biliar, pancreatite direito. Distensão abdominal, náuseas e vômitos
e gastrite com ou sem doença ulcerosa péptica podem sem observados. Ao exame físico, pode-
associada1. -se notar redução do peristaltismo intestinal,
Em um estudo com 50 pacientes adultos, a podendo evoluir até a ausência do peristaltismo
maioria apresentava como causa de dor epigás- intestinal. Em alguns casos, pode-se palpar uma
trica a doença do refluxo gastroesofágico, com massa no quadrante inferior direito, que corres-
80% se manifestando com dor em queimação ponde à distensão do ceco e do cólon direito1.
e 56% com relato de dispepsia. Apenas 12% Na vigência da possibilidade diagnóstica da
apresentavam doença biliar como causa da dor83. DIOS, o paciente deve ser devidamente hidra-
Pacientes que evoluem com pancreatite tado. A dieta oral deverá ser interrompida. Nos
crônica ou recorrente pertencem a um seleto casos de distensão significativa e náuseas, pode-
grupo em que a função exócrina pancreática -se utilizar sonda nasogástrica em sifonagem
permanece preservada. A dor abdominal re- de modo a reduzir a pressão intra-abdominal.
corrente é a manifestação mais comum deste Enemas retais podem ser utilizados na tentativa
problema1. A dor periumbilical pode ser cau- de desafazer fecalomas que possam estar con-
sada por DIOS, apendicite e intussuscepção. tribuindo com a obstrução. Soluções radiopacas
A apendicite não apresenta maior incidência podem ser utilizadas visando, além do trata-
nos pacientes fibrocísticos quando comparada mento, a avaliação da obstrução. Procinéticos
com a população geral85,86. Já quando a dor é por via oral, óleo mineral e N-acetilcisteína são
hipogástrica, causas a serem lembradas incluem outras opções entre as medidas terapêuticas. A
DIOS, principalmente se for ascendente, colite lavagem intestinal poderá ser realizada em casos
infecciosa (não se devendo esquecer do Clostri- selecionados. Em casos seletos de obstrução
dium difficile), colonopatia fibrosante e, menos intestinal, a laparotomia deve ser realizada.
frequentemente, câncer de cólon1. Um pequeno número de pacientes experimenta
Episódios recorrentes de obstrução intes- recorrência da DIOS, não justificando o uso de
tinal ocorrem em cerca de 3,5% dos pacientes medicamentos profiláticos1.
com fibrose cística87,88. A disfunção da proteína A dor hipogástrica também pode ser ma-
CFTR altera os mecanismos de secreção líquida nifestação de colite por Clostridium difficile. O
luminal, modificando a viscosidade do conteúdo diagnóstico deve ser considerado em pacientes
intestinal1. com uso recorrente de antibióticos. Normal-
Previamente conhecida como equivalen- mente, manifesta-se com dor abdominal, febre,
te de íleo meconial, a DIOS apresenta como presença de sangue nas fezes e leucocitose. Mes-
principal local de comprometimento o cólon mo na ausência de sintomas, o Clostridium diffi-
direito, assim como o íleo terminal89. A DIOS cile ou suas toxinas podem ser encontrados nas
ocorre quase que exclusivamente em pacientes fezes. O inverso também pode ocorrer, ou seja,
com insuficiência pancreática. Diversos fatores pacientes apresentando uma clínica exuberante,

96 Revista do Hospital Universitário Pedro Ernesto, UERJ


O Tratamento na Fibrose Cística e suas Complicações

sem a identificação do Clostridium ou de suas digestiva deverá ser solicitada96,97. Recomenda-


toxinas nas fezes. Nestes casos, a colonoscopia -se a mamografia anualmente em mulheres
poderá ser útil para identificar a presença da acima de 40 anos. O autoexame da mama e do
pseudomembrana1. testículo deve ser estimulado1.
Outra causa menos frequente de dor abdo-
minal é a colonopatia fibrosante. Caracterizada Comprometimento ósseo
por inflamação, levando a um consequente
A prevalência de osteoporose varia de 38 a
estreitamento da luz do cólon direito, é causada
77% em pacientes adultos.
pelo uso de doses excessivas de enzimas pan-
Recomenda-se a realização de densitome-
creáticas. Esta complicação é mais comum na
tria óssea a cada 2 a 5 anos em pacientes sem
população pediátrica, sendo observada em um
número restrito de pacientes adultos91,92. osteoporose ou osteopenia prévia. Nos pacientes
que já apresentam tais alterações, está recomen-
Neoplasias malignas na dada a realização da densitometria óssea anual-
mente. As medidas primordiais preventivas da
fibrose cística
doença óssea consistem em vigilância intensa,
O risco de câncer é uma preocupação para principalmente durante a puberdade, associada
a população de indivíduos com FC de todas ao exercício físico e suplementação com cálcio e
as idades. Os pacientes com FC apresentam vitaminas D e K. Os bifosfonados, por via oral ou
elevação no risco de tipos específicos de câncer.
intravenosa, são úteis no tratamento da doença
Um grande estudo retrospectivo com mais de
estabelecida1,98.
25.000 pacientes com FC, englobando pacientes
dos Estados Unidos e Canadá, não demonstrou
Fertilidade
elevação global da incidência de câncer nesta
população quando comparada à população A infertilidade é outra manifestação da
geral. Entretanto, quando analisada pela loca- fibrose cística decorrente de anormalidades no
lização do câncer, concluiu-se que há elevação trato reprodutivo, resultando em azoospermia
obstrutiva98,99. Noventa e cinco por cento dos
na incidência e prevalência de neoplasia do tubo
homens com FC são inférteis. A ausência de
gastrointestinal, subdivididas principalmente
espermatozoides no espermograma confirma a
por esôfago, estômago, intestino delgado, intes-
infertilidade. Técnicas como aspiração micro-
tino grosso, além de comprometimento hepático
cirúrgica de esperma do epidídimo, aspiração
e pancreático1,82. Em outro estudo realizado no
percutânea de esperma do epidídimo e biópsia
Reino Unido93 com 442 pacientes, demonstrou-
testicular permitem obter espermatozoides. A
-se elevação na incidência de doença maligna
paternidade biológica dos pacientes com fibrose
hepática e pancreática. A fisiopatologia que está
cística pode ser alcançada através da técnica de
envolvida no aumento da incidência ainda não concepção assistida de injeção intracitoplasmá-
pode ser explicada. Parece existir uma menor tica do espermatozoide no oócito. Porém, é um
incidência de câncer de mama e de melanoma processo caro, disponível somente em grandes
nos pacientes com fibrose cística e nos indivídu- centros e com uma taxa de sucesso por ciclo de
os que apenas carreiam o gene, porém estudos 12 a 45%92. A redução na fertilidade feminina na
adicionais devem ser realizados para consolidar FC tem sido questionada e medidas contracep-
estes achados94,95. Como prevenção primária, a tivas devem ser tomadas quando não se deseja
pesquisa de sangue oculto nas fezes pode ser engravidar. A escolha do método contraceptivo
requisitada, mesmo que sua sensibilidade estaja é difícil e deve ser individualizada. Além disso,
reduzida nos pacientes com fibrose cística. No o uso de antibióticos de largo espectro pode
caso de positividade neste teste, obviamente afetar a absorção e a eficácia dos contraceptivos
associada a um contexto clínico, a endoscopia orais101.

Ano 10, Outubro / Dezembro de 2011 97


O Tratamento na Fibrose Cística e suas Complicações

Complicações pulmonares classificada em leve, quando o volume de san-


gue é menor do que 5mL; moderada, quando
As principais complicações inerentes ao se observa sangramento com volume entre 5 e
acometimento pulmonar são a hemoptise e o 240mL; e maciça, no caso de sangramentos que
pneumotórax. A hemoptise é comum em pa- ultrapassem os 240mL (Quad.2)102.
cientes com fibrose cística. Aproximadamente Não há uma recomendação rotineira para
9,1% dos pacientes apresentam hemoptise em o uso de antibióticos nos casos de sangramento
um período de 5 anos. O sangramento, em sua leve, excetuando-se em situações em que a he-
maioria, é de leve a moderada intensidade, com moptise faça parte de um contexto clínico infec-
diversos casos de sangramento maciço. Ao longo cioso pulmonar. Para sangramento moderado,
do período de vida, 4,1% dos pacientes irão recomenda-se que o paciente faça contato com
apresentar sangramento maciço, com incidência seu centro de atendimento e que um esquema
anual de 0,87%, ou 1 para cada 115 pacientes antibiótico para tratamento seja iniciado, obje-
por ano102. tivando tratar uma exacerbação infecciosa, que
O pneumotórax também é uma importante possa ser a causa do sangramento. A indicação
complicação, apresentando uma média anual de internação hospitalar por sangramento mo-
de incidência de 0,64%, ou de 1 para cada 167 derado é controversa e deve ser avaliada caso a
pacientes. Aproximadamente 3,4% dos pacientes caso102. Já no caso de sangramento de grande
irão experimentar um pneumotórax ao longo monta, ou sangramento maciço, a recomenda-
de seu período de vida. Ambas as complicações ção de internação hospitalar é inquestionável102.
ocorrem mais comumente em pacientes com O uso de anti-inflamatórios não hormonais
maior média de idade e com doença pulmonar (AINES), como o ibuprofeno, altera a função
mais avançada102. plaquetária, podendo contribuir para a ocor-
rência e/ou o volume de sangramentos. Por este
Hemoptise motivo, recomenda-se interromper o uso de
A hemoptise é classificada de acordo com AINES em pacientes com hemoptise moderada
o volume aproximado de sangue emitido. É ou maciça. Depois da identificação da causa e
Quadro 2: A abordagem na hemoptise.
Hemoptise Leve Moderada Maciça

Volume < 5 mL 5-240 mL > 240 mL

Comunicar Centro Primeiro episódio Sim Sim

Internação Não Avaliar Sim

Uso de Antibiótico Não Sim Sim

Suspender AINE Não Sim Sim

Suspender Mucolíticos Não Avaliar Sim

Suspender SSH Não Sim Sim

Suspender BD Não Não Avaliar

Suspender ATB INAL Não Avaliar Avaliar

Suspender VNI / BIPAP Não Avaliar Não

EAB Não Avaliar Avaliar

AINE: Anti-inflamatório não esteroidal. EAB: Embolização de artéria brônquica. SSH: solução salina hipertônica; BD: Bron-
codilatadores. VNI/BIPAP: ventilação não invasiva/bilevel positive airway pressure.
Flume PA, Mogayzel PJ, Robinson KA. Cystic Fibrosis Pulmonary Guidelines. Pulmonary Complications: Hemoptysis and Pneu-
mothorax. Am J Respir Crit Care Med 2010; 182:298-306.

98 Revista do Hospital Universitário Pedro Ernesto, UERJ


O Tratamento na Fibrose Cística e suas Complicações

da interrupção dos episódios de hemoptise, o Nos casos de hemoptise leve ou mesmo


AINES pode ser reiniciado, se indicado102. moderada, os exames de tomografia de tórax e
Outra classe medicamentosa cujo uso deve a própria broncoscopia são fundamentais para
ser reavaliado durante os episódios de hemopti- melhor estudar o local do provável sangramento,
se são os mucolíticos. Os pacientes que apresen- além de, endoscopicamente, tentar conter ou
tam hemoptise leve não precisam interromper minimizar o sangramento vigente, seja com
a terapia mucolítica. No entanto, em caso de soro gelado ou com diluições com adrenalina102.
sangramento maciço, a interrupção das terapias
mucolíticas está indicada. Acredita-se que a
Pneumotórax
formação de plugs ou “rolhas de secreção” distal O pneumotórax é uma das principais com-
poderiam contribuir para o tamponamento no plicações pulmonares observadas nos pacientes
local do sangramento102. com fibrose cística. Inicialmente era classificado
No caso de hemoptise moderada, reco- em pequeno, moderado e completo, de acordo
menda-se que a necessidade de suspensão do com o comprometimento atelectásico pulmonar.
mucolítico seja analisada individualmente. O Mais recentemente, por se tratar de uma forma
uso de medicamentos em aerossóis também mais didática, o pneumotórax é classificado em
deve ser avaliado. Soluções salinas hipertônicas pequeno ou volumoso (esta última compreen-
nebulizadas devem ser interrompidas nos casos dendo as antigas denominações moderado e
de hemoptise moderada e maciça porque podem completo). Sua classificação se faz através da
provocar broncoespasmo e tosse, favorecendo radiografia de tórax, onde se calcula a distância
e perpetuando a hemoptise. O uso dos bronco- do parênquima pulmonar até a parede do tó-
dilatadores inalatórios deve ser interrompido rax. Se esta distância for menor do que 2,0cm,
apenas nos casos de hemoptise maciça. Não há o pneumotórax é classificado como pequeno,
um consenso acerca da interrupção do uso de enquanto maior ou igual a 2,0cm é classificado
antibióticos inalatórios no caso de hemoptise, como grande102-104.
devendo ser analisado individualmente. A in- A internação hospitalar dos pacientes com
terrupção da ventilação não invasiva (BIPAP – pneumotórax depende do volume do mesmo
bilevel positive airway pressure) deve ser avaliada e da condição clínica do paciente. Aqueles
individualmente nos pacientes que apresentam com pneumotórax grande devem sempre ser
hemoptise, levando‑se em consideração a re- internados, enquanto os com pneumotórax
lação risco-benefício. Nos casos de hemoptise pequeno, muitas vezes detectados como acha-
maciça, o BIPAP deve ser interrompido102. dos radiológicos, devem ser apenas observados
Quanto à investigação e ao tratamento de clinicamente, sem necessidade de internação.
pacientes com hemoptise maciça, há grande dis- No caso de pacientes com pneumotórax mode-
cussão acerca da prioridade de se fazer tomogra- rado, a conduta será determinada pela condição
fia computadorizada de tórax, broncoscopia ou clínica do paciente. Em vigência de um pneu-
embolização de artéria brônquica imediata. No motórax, a necessidade de drenagem deve ser
caso de pacientes com hemoptise maciça com sempre avaliada. Os pneumotórax de volume
instabilidade hemodinâmica, a pronta realização pequeno a moderado deverão ser drenados caso
da embolização da artéria brônquica se mostrou provoquem instabilidade clínica, enquanto os de
a conduta mais adequada, acreditando-se que o grande volume devem ser drenados98,102.
tempo que será despendido para a realização da A pleurodese é outra opção terapêutica
tomografia de tórax e da broncoscopia não trará a ser considerada quando o pneumotórax for
informações adicionais, desta forma apenas recorrente, em especial nos volumosos, em
prolongando o período de sangramento e de que a recorrência é estimada em 50 a 90%. Nos
seus riscos inerentes102. pacientes com FC, o método de escolha para a

Ano 10, Outubro / Dezembro de 2011 99


O Tratamento na Fibrose Cística e suas Complicações

realização da pleurodese é o cirúrgico. É im- conquistados nas últimas décadas, a taxa de


portante salientar, no entanto, que a pleurodese sobrevida em 5 anos dos pacientes fibrocísticos
pode excluir o paciente da possibilidade de transplantados se aproxima de 50%105.
transplante pulmonar. Antibióticos só estão re- Um capítulo específico e exclusivo foi re-
comendados nos casos em que os pneumotórax servado para o devido aprofundamento acerca
é secundário à pneumonia101,102. do transplante pulmonar nos pacientes com
Na vigência de pneumotórax, o uso do fibrose cística.
BIPAP é habitualmente desaconselhado. Caso
o uso do BIPAP seja indispensável, o paciente Avanços e perspectivas
deverá estar obrigatoriamente sob vigilância
clínica em unidade fechada, em local que apre- Perspectivas medicamentosas
sente equipe de suporte, caso ocorra necessidade Novos antibióticos são necessários para
de drenagem torácica de urgência. Viagens os pacientes com FC, principalmente naqueles
com transporte aéreo devem ser evitadas por, colonizados por Pseudomonas aeruginosa pelas
pelo menos, duas semanas após a resolução do mais diversas razões. Inicialmente devido às
pneumotórax. Alguns autores prolongam este frequentes queixas de intolerância e até mesmo
período por quatro a seis semanas102. Também por reações alérgicas proporcionadas pelos an-
deverão ser adiadas por duas semanas atividades tibióticos inalatórios, o que leva a desmotivar o
físicas com carga superior a 2kg e a realização seu uso. Outra importante justificativa se deve
de espirometria102. ao tempo utilizado no manejo dessas drogas
Em vigência de pneumotórax, independen- inalatórias. Os pacientes gastam muitos minutos
te do volume, não há qualquer impedimento a horas do seu dia para a adequada utilização
quanto à utilização dos mucolíticos e dos desses medicamentos, tempo que poderia ser
broncodilatadores102. O Quadro 3 resume a utilizado para seu descanso e lazer, principal-
abordagem e suas respectivas condutas frente mente nos pacientes adultos. Isto também é um
ao paciente com pneumotórax. desafio à adesão do paciente ao tratamento15.
Novas opções medicamentosas estão em
Transplante pulmonar fase de teste ou em fase de lançamento nos Es-
Atualmente o transplante tem se tornado tados Unidos e em países europeus (Quad.4). O
uma importante ferramenta para proporcio- aztreonam lisina (AZLI), a tobramicina inalató-
nar uma maior expectativa, e também melhor ria e a colistina inalatória, ambas em pó seco, já
qualidade de vida nos pacientes com fibrose se encontram em fase III. Estão resumidas no
cística que apresentam grave comprometimento Quadro 4 as drogas que estão em fase de estudo
pulmonar. Fatores como critérios mais rigorosos ou que já se encontram em fase de lançamento15.
de seleção para o transplante, melhor preser- Quanto aos medicamentos efetivos para o
vação do órgão a ser transplantado, melhor clearance mucociliar, duas drogas novas estão
manejo pré e pós‑operatório, além da terapia sendo estudadas, o manitol inalatório e o denu-
de imunossupressão e da adequada profilaxia de fosol. O tetrasódio de denufosol é um agonista
infecções oportunistas possibilitaram melhores do receptor de P2Y2, estimulando a secreção de
taxas de sobrevida aos pacientes transplantados. cloreto e ativando os canais acessórios de cloreto.
O sucesso do transplante pulmonar e o período O denufosol também é capaz de inibir a absor-
de sobrevida dos pacientes com fibrose cística ção do sódio, aumentar o batimento ciliar, além
estão relacionados à indicação do transplante de aumentar a produção de surfactante pelos
pulmonar no momento adequado, ao trata- pneumócitos tipo II, resultando em aumento
mento agressivo das infecções e à detecção pre- da hidratação da mucosa e melhor clearance
coce de rejeição. Mesmo com todos os avanços mucociliar. O manitol inalatório é um agente

100 Revista do Hospital Universitário Pedro Ernesto, UERJ


O Tratamento na Fibrose Cística e suas Complicações

Quadro 3: Abordagem e condutas diante do paciente com pneumotórax.


BTS 2003 Pequeno < 2cm - Grande > 2 cm

Pneumotórax Pequeno Moderado Volumoso

Internação Não avaliar* Sim

Drenagem Não* avaliar* Sim

Pleurodese Não avaliar** avaliar**

Atividade física Após 2 semanas Após 2 semanas Após 2 semanas

Espirometria Após 2 semanas Após 2 semanas Após 2 semanas

Transporte aéreo 2 – 6 semanas 2 – 6 semanas 2 – 6 semanas

Suspender
Não Não Não
Mucolíticos

Suspender SSH Não Não Não

Suspender BD Não Não Não

Antibióticos Avaliar(***) Avaliar(***) Avaliar(***)

Suspender VNI / BIPAP Avaliar Sim Sim

SSH: solução salina hipertônica; BD: Broncodilatadores; VNI/BIPAP: ventilação não invasiva/bilevel positive airway pressure.
(*) avaliar estabilidade clínica. (**) a partir do segundo pneumotórax. (***) comprometimento infeccioso associado.
Flume PA, Mogayzel PJ, Robinson KA. Cystic Fibrosis Pulmonary Guidelines. Pulmonary Complications: Hemoptysis and Pneu-
mothorax. Am J Respir Crit Care Med 2010;182: 298-306.
Henry M, Arnold T, Harvey J, et al. British Guidelines for the management of spontaneous pneumothorax.
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Quadro 4: Novos antibióticos para a fibrose cística.


Tratamento Agente alvo Fase da Pesquisa

PA erradicação Infecção PA precoce Estudos Multicentricos

Inflamação da via aérea / bron-


Azitromicina para NC Fase IV
quiectasias

Fosfomicina PA MDR Aprovado para n-FC

Tigecyclina MRSA, MSSA, BCC, MA, MC Aprovado para n-FC

AZLI PA, possível BCC Fase III

Tobramicina Pó inalatório PA Fase III

Fosfomicina/Tobramicina
PA, MRSA, MSSA, BCC, SM Fase II
inalatório

Ciprofloxacina lipossomal PA Fase II

Levofloxacina inalatória PA Fase II

Amicacina lipossomal PA / BCC Fase Ib / IIa

Colistemitato pó inalatório PA Fase III

Ciprofloxacina póinalatória PA Fase II

PA: Pseudomonas aeruginosa; BCC: Complexo Burkholderia cepacea; MRSA: Staphylococcus aureus resistente à meticilina;
MSSA: Staphylococcus aureus sensível à meticilina; SM: Stenotrophomonas maltophilia; MA: Mycobacterium abscessus;
MC: Mycobacterium chelonae; PA MDR: Pseudomonas aeruginosa multi-droga resistente.
Adaptado: Zemanick ET, Harris JK, Conway S, Konstan MW, Marshall B, et al. Measuring and improving respiratory outcomes
in cystic fibrosis lung disease: Opportinuties and challenges to therapy. Journal of Cystic Fibrosis 2010;9:1-16.

Ano 10, Outubro / Dezembro de 2011 101


O Tratamento na Fibrose Cística e suas Complicações

com ação osmótica que será utilizado como pó terferir no mecanismo de virulência da Pseu-
seco inalado. Sua ação se faz pelo aumento de domonas aeruginosa 10. Um estabilizador de
hidratação da mucosa das vias aéreas, além de surfactante também está em fase de pesquisa na
promover aumento do clearance mucociliar15. tentativa de combater a colonização e infecção
Além dos antibióticos, outras opções tera- da via aérea pela Pseudomonas aeruginosa10,15.
pêuticas vêm sendo desenvolvidas com o obje- Outra ferramenta que poderá ser utilizada
tivo de ajudar no combate dos micro‑organis- no futuro é a dosagem de anticorpos contra
mos15. Imunoterapia passiva com gamaglobulina Pseudomonas aeruginosa. Os anticorpos que
G hiperimune, que promove opsonização contra são dosados contra a Pseudomonas aeruginosa
antígenos de superfície da P. aeruginosa, pode apresentam baixa sensibilidade, podendo atingir
auxiliar a fagocitose e reduzir a densidade de valores próximos de 42% nos pacientes com a
bactérias nas vias aéreas. Outro benefício seria a presença da bactéria no escarro. Atualmente são
neutralização de exoprodutos das psedomonas, mais utilizados como acompanhamento quanto
a neutralização e a diminuição da deposição de à resposta ao tratamento nas exacerbações,
complexos imunes, que resultam em dano tis- e principalmente na avaliação de efetividade
sular. Existem apenas dois estudos que relatam terapêutica nos casos de terapia de erradicação
poucos efeitos colaterais, mas também poucos desse micro-organismo15.
benefícios105. Está em fase de desenvolvimento Novos medicamentos em fase de pesquisa
um novo anticorpo humano recombinante estão sendo desenvolvidos e testados, agindo na
(KB001) que também tem como objetivo in- modulação do CFTR através do tipo de mutação.

Figura 1: Drogas em pesquisa segundo a Cystic Fibrosis Foundation.


Cystic Fibrosis Foundation [www.cff.org/research/drugdevelopmentpipeline]. New York: Association of Cystic
fibrosis Resources, Inc., c2000-01 [update 2011 Feb 13; cited 2011 Jun 12]. Available from: http://www.cff.org.

102 Revista do Hospital Universitário Pedro Ernesto, UERJ


O Tratamento na Fibrose Cística e suas Complicações

Como representantes desse grupo de drogas, utilização dos desfechos convencionais como
pode-se citar o VX-770, PTC124 (Ataluren) e medida de eficácia da terapêutica gênica. Dessa
VX-809. O VX-770 e o VX-809 têm o objetivo forma, a terapia gênica não se converteu ainda
de agir nos canais de cloreto (mutações tipo III), em realidade clínica a despeito dos inúmeros
potencializando sua função. Diversos estudos ensaios clínicos110,111.
estão em andamento e têm demonstrado resul- Uma perspectiva de tratamento consiste na
tados promissores. Mais especificamente no caso terapêutica com células-tronco. Várias popula-
do VX-770, o estudo está sendo realizado com ções celulares derivadas da medula óssea adulta
pacientes que apresentam a mutação G551D107. ou do cordão umbilical podem localizar uma
O PTC124 (Ataluren) é um pequeno com- variedade de órgãos e adquirir características
posto molecular interferindo na leitura e codi- fenotípicas e funcionais de células orgânicas
ficação do RNA das CFTR. Age nas mutações específicas maduras. Isso permitiria corrigir
do tipo I107. Segue, na Figura 1, o andamento o defeito genético através da regeneração de
das novas perspectivas medicamentosas da células epiteliais respiratórias. Entretanto, o
Cystic Fibrosis Foudation atualizadas até 23 de conhecimento das células-tronco pulmonares
Fevereiro de 2011108. é muito escasso e a pesquisa está em fase muito
inicial110,111.
Terapia gênica
Recentemente, um estudo em pacientes
Atualmente a terapia gênica é um tema com FC entre 2 a 18 anos de idade, sem co-
muito estudado na perspectiva de contribuição lonização por P. aeruginosa mostrou que a
ao tratamento do paciente com fibrose cística. vacinação por uma vacina bivalente a partir do
Consiste no conjunto de métodos e técnicas com flagelo da P. aeruginosa foi eficiente em reduzir
objetivo de modificar a informação genética o risco de infecção por essa bactéria, podendo,
anômala. O método da transferência de DNA assim, contribuir para a maior sobrevida desses
normal para o interior de células FC já foi tes- pacientes113.
tado com duas técnicas: uma utilizando vetores
virais (adenovírus), outra utilizando partículas Transição da equipe
inertes de gordura (lipossomos)109. pediátrica para a equipe de
O princípio da terapia gênica envolve a ad-
adultos
ministração do RNA ou do DNA para as células
epiteliais das vias aéreas a fim de compensar Embora seja sugerido que a transição ocorra
o defeito genético. As dificuldades técnicas entre os 16 e 18 anos, deve haver flexibilidade,
incluem a necessidade de readministrações con- levando em consideração a maturidade e esta-
tínuas devido ao turnover das células-alvo. Além do clínico do paciente. O programa de adulto
disso, a administração do material gênico nas deve priorizar a independência e autonomia
vias aéreas precisa vencer as defesas sistêmicas e do indivíduo com a abordagem de temas mais
locais pulmonares. A utilização de vetores virais restritos aos adultos com fibrose cística como,
para essa administração tem maior eficiência por exemplo, a perspectiva da paternidade1,114.
de transdução, porém não se tem encontrado Em geral, a transição requer estabilidade
solução para evitar a resposta imunológica que clínica da doença. Os pacientes com exacerba-
surge com as readministrações. A utilização de ção grave, com doença terminal ou em lista de
vetores não virais está associada com uma res- transplante não são candidatos à transição. O
posta imunológica bem menos intensa, porém processo de transição dos cuidados de saúde
possui uma eficiência menor de transdução. entre equipes que lidam com diferentes faixas
Além disso, a baixa expressão da CFTR e o curso etárias é uma estratégia importante a ser desen-
episódico da doença pulmonar tornam difícil a volvida em todos os centros de FC3,35.

Ano 10, Outubro / Dezembro de 2011 103


O Tratamento na Fibrose Cística e suas Complicações

Conclusões 10. Geller DE, Aerosol Antibiotics in Cystic fibrosis.


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doença ainda esteja associada a altas taxas de continuous flucloxacillin from the neonatal
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to provide effective care and appropriate support
Abstract for all ages and the full spectrum of disease is
vital to continue to improve outcomes in this
Cystic fibrosis is a complex genetic disease
challenging disease. This article will review the
affecting many organs. It has a predilection for
basic principles in the treatment of pulmonary
the lungs and gastrointestinal tract, and clas-
exacerbations that will be covered first, followed
sically manifests as chronic suppurative lung
by a discussion of the various components of
disease and malabsorption. The natural history
maintenance therapy for the treatment of the
of the lung disease consists of early and persis-
systemic disease, their respective complications,
tent infection, an exaggerated inflammatory
and the new perspectives of treatment in the
response, and progressive airways obstruction,
future.
ultimately resulting in respiratory failure. Al-
KEY WORDS: Cystic fibrosis; Treatment;
most 85% of the mortality results from lung
Complications.
disease. The cornerstones of treatment for those

108 Revista do Hospital Universitário Pedro Ernesto, UERJ


Titulação dos Autores

Editorial Elizabeth de Andrade Marques

Professora Associada da Disciplina de


Agnaldo José Lopes
Microbiologia da FCM/UERJ;
Professor Adjunto da Disciplina de Pneumologia e
Chefe do Laboratório de Bacteriologia do
Tisiologia da FCM/UERJ;
HUPE/UERJ.
Coordenador do Ambulatório de Fibrose Cística da
Policlínica Piquet Carneiro da UERJ. Artigo 3: Avanços da Genética
na Fibrose Cística.
Mônica de Cássia Firmida
Professora Assistente da disciplina de Pneumologia e Giselda Maria Kalil de Cabello
Fisologia da FCM/UERJ;
Doutora em Biologia Celular e Molecular pelo
Médica do Ambulatório de Fibrose Cística da
Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz;
Policlínica Piquet Carneiro da UERJ.
Pós-Doutorada em Nanociência e Nanotecnologia
Marcos César Santos de Castro pelo Centro de Nanociência e Nanotecnologia/
Universidade de Brasília.
Mestrando em Ciências Médicas pela Universidade
Federal Fluminense (UFF);
Artigo 4: Fisiopatologia e
Médico do Ambulatório de Fibrose Cística da
Policlínica Piquet Carneiro da UERJ.
Manifestações Clínicas da Fibrose
Cística.
Artigo 1: Aspectos
Mônica de Cássia Firmida
Epidemiológicos da Fibrose
Cística. (Vide Editorial)

Bruna Leite Marques


Mônica de Cássia Firmida
Residente de Pneumologia e Tisiologia do
(Vide Editorial) HUPE/UERJ.

Agnaldo José Lopes


Cláudia Henrique da Costa
(Vide Editorial)
Professora Adjunta da Disciplina de Pneumologia e
Tisiologia da FCM/UERJ;
Artigo 2: Perfil Microbiológico Coordenadora da Disciplina de Pneumologia e
na Fibrose Cística. Tisiologia da FCM/UERJ.

Ano 10, Outubro / Dezembro de 2011 9


Artigo 5: Avanços no Diagnóstico por Imagem do HUPE/UERJ.

Diagnóstico da Fibrose Artigo 7: Testes de Função


Cística – Visão Crítica. Pulmonar em Adultos
Tânia Wrobel Folescu Fibrocísticos.
Médica assistente do Departamento de
Agnaldo José Lopes
Pneumologia Pediátrica do Instituto Fernandes
Figueira – Fundação Oswaldo Cruz (IFF- (Vide Editorial)
FIOCRUZ);
Mestre em Ciências Médicas pela FCM/UERJ.
Anamelia Costa Faria

Renata Wrobel Folescu Cohen Médica do Serviço de Pneumologia e Tisiologia do


HUPE/UERJ.
Residente de Pediatria do Instituto Fernandes
Figueira – Fundação Oswaldo Cruz Thiago Thomaz Mafort
(IFF-FIOCRUZ).
Residente de Pneumologia e Tisiologia do
Artigo 6: A Radiologia do Tórax HUPE/UERJ.

na Fibrose Cística. Renato de Lima Azambuja

Domenico Capone Residente de Pneumologia e Tisiologia do


HUPE/UERJ.
Professor Adjunto da Disciplina de Pneumologia e
Tisiologia da FCM/UERJ.
Rogério Rufino
Raquel E. B. Salles Professor Adjunto da Disciplina de Pneumologia e
Tisiologia da FCM/UERJ.
Médica do Serviço de Pneumologia e Tisiologia do
HUPE/UERJ.
Artigo 8: O Tratamento
Maurício R. Freitas na Fibrose Cística e suas
Médico Residente do Serviço de Radiologia e Complicações
Diagnóstico por Imagem do HUPE/UERJ.
Marcos César Santos de Castro
Leonardo Azevedo
(Vide Editorial)
Médico Residente do Serviço de Radiologia e
Diagnóstico por Imagem do HUPE/UERJ.
Mônica de Cássia Firmida

Rodrigo Lucas (Vide Editorial)

Médico Residente do Serviço de Radiologia e


Diagnóstico por Imagem do HUPE/UERJ.
Artigo 9: Transplante na
Fibrose Cística.
Oswaldo Montessi
Marcos César Santos de Castro
Médico Residente do Serviço de Radiologia e
Diagnóstico por Imagem do HUPE/UERJ. (Vide Editorial)

Carla Junqueira Mônica de Cássia Firmida


Médica Residente do Serviço de Radiologia e (Vide Editorial)

10 Revista do Hospital Universitário Pedro Ernesto, UERJ


Agnaldo José Lopes Mônica de Cássia Firmida
(Vide Editorial) (Vide Editorial)

Artigo 10: O Papel da Artigo 14: As Representações


Fisioterapia na Fibrose Cística Sociais da Fibrose Cística em
Sueli Tomazine do Prado Pacientes Adultos
Fisioterapeuta do Ambulatório de Fibrose Cística Lucinéri Figueiredo da Motta Santos
da Policlínica Piquet Carneiro da UERJ.
Assistente Social do Ambulatório de Fibrose Cística
Artigo 11: Cuidados na da Policlínica Piquet Carneiro da UERJ.

Utilização e na Limpeza Artigo 15: O Trabalho


de Nebulizadores e
da Associação Carioca de
Compressores para a Redução
de Infecções Recorrentes em
Assistência a Mucoviscidose
no Estado do Rio de Janeiro.
Pacientes com Fibrose Cística.
Roberta Cristina Guarino
Samária A. Cader
Assistente Social e especialista em Responsabilidade
Doutora em Fisioterapia. Social.

Adalgisa I. M. Bromerschenckel Coordenadora da ACAM/RJ.

Fisioterapeuta especialista em Pneumofuncional; Tatiane Andrade


Coordenadora da Divisão de Fisioterapia da UERJ;
Fisioterapeuta da ACAM/RJ;
Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em
Ciências Médicas da UERJ. Mestranda do Curso de Pós-graduação em Ciências
do Cuidado da Saúde – EEAAC/UFF.
Sueli Tomazine do Prado
Solange Cunha
(Vide Artigo 10)
Assistente Social da ACAM/RJ e especialista em
Artigo 12: Fibrose Cística gestão de pessoas;

e Suporte Nutricional no Coordenadora da ACAM/RJ.

Adulto Ana Carolina Victal


Carolina Fraga de Oliveira
Psicóloga da ACAM/RJ.
Nutricionista da ACAM/RJ.
Carolina Fraga de Oliveira
Mariana Jorge Favacho dos Santos
Nutricionista da ACAM/RJ.
Nutricionista do Ambulatório de Fibrose Cística da
Policlínica Piquet Carneiro da UERJ. Joana Carvalho

Artigo 13: Gestação na Acadêmica de Serviço Social e estagiária da


ACAM/RJ.
Paciente com Fibrose Cística
Eloá Lopes
Marcos César Santos de Castro
Acadêmica de Fisioterapia e estagiária da
(Vide Editorial) ACAM/RJ.

Ano 10, Outubro / Dezembro de 2011 11

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