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e suas Complicações
tiva e apresenta índice de recidiva expressiva, inicialmente pelo fisioterapeuta que auxiliará
embora possa ser realizada com segurança, na escolha dos dispositivos, na definição da
apesar de eventual intubação orotraqueal pro- melhor combinação de técnicas e na determi-
longada6. nação da frequência e duração do tratamento a
ser realizado. A prática de exercício físico deve
Comprometimento ser estimulada, pois atenua o declínio da função
pulmonar pulmonar, melhora o desempenho cardiovascu-
lar e aumenta a capacidade funcional, melhoran-
A doença pulmonar é a causa mais comum
do desta forma a qualidade de vida do paciente.
de morte na FC, seja por insuficiência respira-
Além disto, o exercício aumenta o clearance
tória ou por complicações inerentes à própria
das secreções das vias aéreas, constituindo um
progressão da doença. O tratamento visa pre-
importante adjuvante nas medidas de higiene
venir e abordar oportunamente as complicações
brônquica. A necessidade de suplementação de
obstrutivas, inflamatórias e infecciosas das vias
oxigênio durante a atividade deve ser avaliada
aéreas. As medidas dividem-se em tratamento
nos pacientes com comprometimento pulmonar
de manutenção ou contínuo e de agudização ou
mais grave1,3.
exacerbação e incluem fisioterapia respiratória,
Apesar dos benefícios conhecidos da fisio-
antibióticos, mucolíticos, broncodilatadores,
terapia respiratória na FC, uma meta-análise da
anti-inflamatórios, suporte nutricional e oxi-
Chochrane (2000) não foi capaz de mostrar suas
genioterapia1-3,5.
evidências. No referido estudo, Van der Schans
Fisioterapia respiratória e cols.8 realizaram uma revisão extensa basea-
da em quase todos os trabalhos sobre técnicas
A fisioterapia respiratória ajuda a retardar
fisioterápicas em pacientes com fibrose cística
a progressão natural da FC. Medidas que visam
publicados em literatura internacional indexada
melhorar o clearance mucociliar podem ser
de 1974 até 2000. Por problemas metodológicos
consideradas um dos grandes pilares deste tra-
nos estudos disponíveis, nenhum deles foi elegí-
tamento, que tem também como objetivos a me-
vel para a meta-análise. Assim, não foi possível
lhoria da ventilação pulmonar e a promoção de
afirmar a existência de evidências científicas
qualidade de vida. Variadas técnicas fisioterápi-
do benefício da fisioterapia na FC, o que não
cas estão disponíveis. As técnicas convencionais
significa que ela não seja eficaz. Recomenda-se
incluem drenagem postural e percussão torácica
que as técnicas fisioterápicas sejam utilizadas
em posições anatômicas diferentes objetivando
e que a comunidade científica busque realizar
a remoção das secreções com o favorecimento
trabalhos com o objetivo de demonstrar a eficá-
da ação gravitacional3,7.
cia e eficiência das técnicas de fisioterapia sobre
Conforme o paciente vai crescendo e se
a drenagem de secreções pulmonares. Não é
tornando mais autônomo no autocuidado, par-
objetivo deste texto o aprofundamento no tema
ticularmente na fase adulta, é possível que ele
fisioterapia, que será explorado mais profunda-
realize algumas técnicas fisioterápicas sozinho,
mente em outro momento, nesta mesma revista.
sem a obrigatoriedade de assistência do profis-
sional da fisioterapia. Essas técnicas incluem: Comprometimento infeccioso
drenagem autogênica, drenagem autogênica pulmonar
modificada, ciclo ativo da respiração, técnica de
expiração forçada, pressão expiratória positiva Terapia de erradicação
aplicada por máscara, técnicas com dispositivos As infecções pulmonares agudas e crôni-
oscilatórios orais, compressões torácicas de cas, facilitadas pela presença de muco espesso
alta frequência e ventilação percussiva intra- e pegajoso e associadas com intensa resposta
pulmonar. Tais técnicas devem ser orientadas inflamatória, determinam a maior parte da
morbidade e mortalidade nos pacientes com FC. patógenos, que é fundamental para o tratamento
Colonizações e infecções agudas ou intermiten- individual apropriado, o entendimento da epi-
tes, com tendência à infecção crônica, ocorrem demiologia dos patógenos na FC e a tomada
já nos primeiros meses de vida. A microbiologia de medidas eficazes de controle infeccioso. O
da FC é bem peculiar e vem sendo estudada há uso frequente de antibióticos, favorecendo o
muitos anos. desenvolvimento de resistência microbiana e o
A história evolutiva das colonizações e surgimento de patógenos emergentes também
infecções pulmonares segue uma sequência cro- são preocupações constantes11.
nológica na maioria dos casos. No momento do Devido à importância da microbiologia na
nascimento, o paciente geralmente não possui evolução da doença pulmonar na FC, recomen-
micro-organismo colonizador. Os agentes infec- da-se a realização de culturas sistemáticas de
ciosos iniciais são predominantemente virais e, secreções respiratórias de pacientes fibrocísticos,
entre as bactérias, destacam-se o Staphylococcus habitualmente através de exames de escarro ou
aureus (Sa) e o Haemophillus influenzae (Hi). A de swab de orofaringe. Este último costuma ser
Pseudomonas aeruginosa (Pa), bactéria de maior realizado em crianças que não conseguem ex-
prevalência na FC, pode ser eventualmente pectorar. Outros materiais usados para culturas
identificada nos pacientes mais jovens, porém podem ser aspirados traqueais (em pacientes
costuma surgir mais tarde, principalmente em intubados), lavado broncoalveolar e biópsia
idade escolar ou adolescente10. pulmonar. Para o acompanhamento clínico
A tendência da Pa é de se causar infecção regular, a frequência ideal de culturas das secre-
crônica do trato respiratório de pacientes fi- ções respiratórias é de, pelo menos, três vezes
brocísticos e de assumir o fenótipo mucoide. ao ano, com intervalos de aproximadamente 4
Nas primeiras identificações de Pa no paciente, meses1,3. Os patógenos de importância clínica na
tenta-se a erradicação desta bactéria através FC deverão ser valorizados em quaisquer destes
de tratamento antimicrobiano específico. O materiais respiratórios e em qualquer contagem
sucesso desta abordagem terá sido atingido se de colônias11.
esta bactéria não aparecer nas próximas culturas O uso de antibióticos costuma ser feito
mensais de escarro. Posteriormente, a Pa tende basicamente em três situações: na identificação
a permanecer e desenvolver uma capa de prote- inicial de um patógeno (para erradicação), na
ção (biofilme), composta por exopolissacaride, terapêutica de manutenção e em casos de exa-
assumindo a forma denominada Pa mucoide. cerbação1,3. As vias de administração utilizadas
Este biofilme pode conferir maior resistência aos são oral (VO), intravenosa (IV) e/ou inalatória
antibióticos e dificultar o sucesso dos esquemas (AI).
terapêuticos de erradicação10. O Sa costuma ser a primeira bactéria culti-
Outros micro-organismos também são vada na secreção respiratória de crianças com
comumente encontrados, principalmente bac- fibrose cística, mas permanece como um impor-
térias do grupo de Gram negativos não fermen- tante patógeno no adulto. No momento em que
tadores (BGN-NF), entre as quais destacam-se há o primeiro crescimento de Sa na cultura do
o Complexo Burkholderia cepacia (CBc), Stre- escarro, pode-se tentar erradicar este agente com
notrophomonas maltophilia e Achromobacter antibiótico, mesmo que não haja sintomas. O
xylosidans, entre outros11. uso de antibióticos para erradicar essa bactéria,
Infecções polimicrobianas são comuns na no entanto, tem sido motivo de debates, embora
FC. Além de variados tipos de bactérias, fungos estudos recentes tenham concluído que a terapia
e micobactérias; também ocorrem. Um dos antiestafilocócica traz muitos benefícios aos
grandes desafios para laboratórios de micro- pacientes fibrocísticos. Para a erradicação do
biologia clínica é a identificação correta destes Sa, pode-se utilizar oxacilina ou amoxicilina-
-clavulanato por período de três a quatro se- de nova detecção da bactéria, deve-se internar
manas. No caso de SA resistente à meticilina o paciente e administrar antibiótico venoso, no
(MRSA), utiliza-se linezolida, vancomicina ou caso ceftazidima e amicacina venosos por 21
teicoplanina. Em caso de detecção de Hi no dias associados à colimicina inalatória durante
escarro, recomenda-se utilizar amoxicilina ou 3 meses. Na presença de escarros sem a detecção
amoxicilina-clavulanato por período de 4 se- da Pa após esquema inicial, deve-se manter ape-
manas. Os guidelines recomendam evitar o uso nas a colimicina inalatória por 12 meses12,16-20.
de cefalosporina de segunda geração devido ao Nos adultos, a aquisição e persistência da
maior risco de colonização por PA12. Pa no trato respiratório inferior do paciente com
Embora ocorra sucesso na erradicação do fibrose cística estão associadas à maior morbi-
Sa em 75% dos casos, após término do esquema dade e mortalidade. Inicialmente as cepas de Pa
antibiótico nota-se a recidiva13. Mesmo diante costumam ser não mucoides e multissensíveis
dessas informações, até o momento não existem aos antibióticos21. Estas cepas, se tratadas de
evidências suficientes para definir a utilização forma adequada, podem ser erradicadas em um
de antibioticoterapia profilática voltada para este primeiro momento. Com o tempo, o fenótipo
microbiota. Há estudos que demonstram que a mucoide pode se apresentar levando a um pior
colonização pelo MRSA poderia estar envolvida declínio clínico e funcional do ponto de vista
na piora da função respiratória durante acom- pulmonar. Desta forma, quando estamos diante
panhamento em longo prazo14,15. de um primeiro escarro onde se apresenta na
Em crianças já colonizadas por Sa e que cultura a Pa, deve-se iniciar tratamento agres-
apresentam isolamento recente de Pa, diversos sivamente com o objetivo de erradicá-la.
esquemas podem ser utilizados como, por exem- Nos adultos, há também diversos esquemas
plo, o uso combinado de ceftazidima, amicacina que objetivam erradicar a Pa. Pode-se fazer uso
e oxacilina intravenosas12. Também pode ser de ciprofloxacina oral associada à polimixina E
recomendado o uso de tobramicina inalatória inalatória (colistina) por período de três a seis
e ciprofloxacina oral ou venosa, ambas por semanas. Em caso de recidivas ou na presença
período de 2 a 4 semanas12,16. de cepa Pa mucoide, pode-se estender o tempo
Os esquemas de erradicação da Pa diver- de tratamento para três meses. Um estudo mul-
gem, principalmente, de acordo com a escola ticêntrico denominado ELITE não evidenciou
preconizada (americana e europeia)12,16-20. A diferença estatística quanto à erradicação da
escola europeia propõe que – na presença de Pa quando comparado ao uso de tobramicina
cultura com a detecção da Pa ou nova cultura inalatória durante 28 e 56 dias14,15,22,23. Outra
após 6 meses de erradicação – utilize-se cipro- opção no indumentário terapêutico seria a
floxacina oral, associada à colimicina inalatória associação de antibióticos venosos, por exem-
por 6 semanas. Procede-se com escarro ou as- plo, ciprofloxacina e antibióticos inalatórios22.
pirado traqueal mensalmente por período de 6 Seguem outros esquemas de antibioticoterapia
meses. Neste caso, na presença de nova detecção, objetivando a erradicação da Pa24-26: 1) ciproflo-
no escarro, da bactéria deve-se proceder com xacina oral + tobramicina inalatória por 3 meses;
antibioticoterapia venosa. Caso as culturas per- 2) tobramicina inalatória durante 28 dias; 3) beta
maneçam negativas, deve-se manter colimicina lactâmico antipseudomonas (2-3 semanas) +
inalatória por 12 meses12-20. Já a escola americana ciprofloxacina oral (3-12 semanas) + colistina
propõe como esquema antibiótico a utilização inalatória por 12 semanas.
de ciprofloxacina oral durante 3 meses, asso- Não há protocolos de erradicação para o
ciada à colimicina inalatória por 3 meses. Para tratamento do complexo Burkholderia cepa-
pacientes com idade inferior a 12 meses, utiliza- cia. Em caso de exacerbação, deve ser tratada
-se a tobramicina inalatória por 28 dias. Em caso seguindo o perfil de sensibilidade fornecido
pela cultura do escarro. Os antibióticos mais endovenosa. Para os pacientes com exacerbação
utilizados são sulfametoxazol-trimetropim, mais grave ou com rápida deterioração clínica,
ceftazidima e meropenem1,3,16-20. preconizam-se antibióticos via endovenosa
Importante salientar que, assim como na por período de, em média, 14 a 21 dias, seja
população adulta, as crianças colonizadas por por internação hospitalar ou em caráter de
Pa ou CBc devem ter seu atendimento segre- internação domiciliar, obviamente após caracte-
gado dos outros pacientes devido ao risco de rização clínica e disponibilidade do paciente3,27.
contaminação cruzada12,16. A escolha dos antibióticos é baseada na revisão
das culturas de escarro e avaliação dos antibio-
Tratamento das exacerbações
gramas mais recentes.
As exacerbações (ou agudizações) são ca- O tratamento antibiótico objetiva dar co-
raterizadas por alterações periódicas da inten- bertura contra os patógenos especificamente
sidade dos sintomas respiratórios ocasionadas relacionados com a fibrose cística, como Sa,
principalmente por infecções respiratórias. Para Pa e CBc9.
defini-las utilizam-se no ambiente pediátrico os Como a Pa é o patógeno de maior prevalên-
critérios de Fuchs, compostos por 12 itens que, cia na FC, o tratamento com fluoroquinolonas
quando quatro destes estão presentes, caracte- orais é uma boa opção para as exacerbações
rizam o episódio de exacerbação (Quad.1)12. leves, enquanto que uma combinação de um
O tratamento das exacerbações pode ser beta-lactâmico antipseudomonas associado a
feito, dependendo da gravidade do quadro clí- um aminoglicosídeo, ambos de administração
nico, com antibióticos por via oral ou por via venosa, é opção terapêutica para as exacerbações
Quadro 1: Critérios de Fuchs. Exacerbação presente quando quatro de doze sintomas estão
presentes.
3. Aumento da tosse
4. Aumento da dispneia
Adaptado: Ribeiro JD, Ribeiro MAGO, Ribeiro AF. Controversies in cystic fibrosis – from pediatrician to specia-
list. J Pediatr 2002;78(Supl. 2):S171-86.
mais graves. Dá-se preferência para a posologia duas vezes ao dia, administrada 28 dias seguidos
dos aminoglicosídeos em dose única diária, de 28 dias de interrupção, ou seja, o paciente
reduzindo desta forma o seu potencial nefrotó- faz uso do medicamento em meses alternados.
xico, ototóxico e de toxicidade vestibular1,4,28,29. A polimixina E (colistin ou colistina) é outra
Os estudos ainda são insuficientes para de- droga inalatória disponível. É usada nas doses
finir o risco-benefício da administração venosa de 500.000 a 1.000.000 unidades, nebulizadas
prolongada de beta-lactâmicos nos pacientes duas vezes ao dia1,31.
internados para o tratamento de exacerbações28. Ainda faltam evidências para definir qual
Uma meta-análise comparou o uso de monote- a melhor droga para a supressão crônica. Há
rapia versus terapia combinada no tratamento trabalhos relatando que o uso combinado de
de exacerbação por Pa. Não houve diferença polimixina E inalatória associada à tobramicina
estatística quando avaliada sob o ponto de inalatória poderia ser superior quando compa-
vista funcional, clínico, além da presença de rado à monoterapia inalatória, evidenciando
efeitos adversos, porém o uso de monoterapia maior efetividade na redução da população
apresentou maior correlação com a indução de bacteriana e na redução do biofilme in vitro31,32.
resistência quando os pacientes foram acom- Um estudo que comparou o uso da tobramicina
panhados por período de 2 a 8 semanas30. Por inalatória com a tobramicina E (colistina), não
este motivo, diferentes guidelines preconizam apresentou diferença estatística na redução das
o uso de antibioticoterapia combinada venosa colônias de PA no escarro. Entretanto, o estudo
para o tratamento de internação da exacerbação mostrou que a tobramicina inalatória foi capaz
infecciosa pulmonar em pacientes colonizados de proporcionar melhor ganho funcional quan-
por Pa. Visando reduzir efeitos adversos, custos do comparada com a colistina inalatória33.
e indução de resistência bacteriana, diferentes O aztreonam é um antibiótico monolac-
estudos buscam avaliar a possibilidade de redu- tâmico e é outra opção terapêutica, podendo
ção do tempo de tratamento, mas esta medida ser utilizado tanto nas exacerbações como no
ainda é controversa na FC28. tratamento de manutenção. Este antibiótico
Não há consenso sobre a preconização apresenta em sua composição a lisina, denomi-
de internações programadas, independente
nada como AZLI e é utilizado por via inalatória,
de o paciente apresentar ou não exacerbação
na dose de 75mg sendo utilizado três vezes ao
pulmonar. A escola europeia é a que apresenta
dia, por período de 28 dias, intercalados com um
maior tendência a recomendar internações
intervalo de 28 dias. O AZLI inalatório difere da
programadas. No entanto, parece não haver mo-
forma do aztreonam de administração por via
dificação do desfecho da doença, além de expor
venosa devido à substituição na sua composição
o paciente a doses adicionais de antibióticos em
da arginina pela lisina. O aztreonam para via
um ambiente contaminado por outros germes
intravenosa (contendo arginina) não deve ser
resistentes10,15.
utilizado pela via inalatória por poder causar
Tratamento de manutenção inflamação pulmonar. O AZLI se mostrou se-
Nos pacientes que já apresentam coloni- guro e eficaz, promovendo boa resposta sob os
zação da via aérea por cepas da Pa, faz-se ne- aspectos clínicos e funcionais10,34,35.
cessário o uso de tratamento supressivo através Não há evidências que comprovem bene-
de antibioticoterapia inalatória. Dispomos de fícios no uso crônico de antibióticos orais em
um aminoglicosídeo inalatório, a tobramicina pacientes adultos ou pediátricos com fibrose
nas doses de 60-80mg, nebulizados duas a três cística colonizados por Pa, sendo desta forma
vezes ao dia. Outra preparação disponível é a não recomendados1,16.
tobramicina livre de fenol, utilizada também de No caso de aspergilose broncopulmonar
forma inalatória na dosagem de 300mg realizada alérgica (ABPA), recomenda-se prednisona na
dose de 2 mg/kg/dia por duas semanas ou itraco- recem a obstrução ductal, que se acompanha
nazol na dose de 5 mg/kg/dose para menores de de reação inflamatória e de posterior processo
12 anos e na dose de 200 mg/dose para maiores de fibrose11. A viscosidade anormal do escarro
de 12 anos12,16-20. é causada pelo DNA extracelular liberado pelos
Os macrolídeos possuem atividade an- neutrófilos3.
ti‑inflamatória, e são bem tolerados quando A terapêutica com alfadornase, ou DNase
administrados por via oral 12 . Reduzem o recombinante humana (rhDNase), foi aprovada
recrutamento de eosinófilos e neutrófilos nos em 1994 para o uso exclusivo na fibrose cística.
pulmões, causam supressão do TNF-alfa, redu- Esta droga, administrada pela via inalatória,
ção dos níveis da IL8 no lavado broncoalveolar diminui a viscosidade do escarro devido à
(BAL), e aumentam a apoptose de neutrófilos, degradação do DNA extracelular em pequenos
reduzindo o número dessas células no BAL. fragmentos. Foi demonstrado benefício da al-
Apresentam também ação na inibição da ade- fadornase em pacientes com mais de 5 anos de
rência e na formação do biofilme da Pa. Também idade e com VEF1 maior que 40% do previsto,
são capazes de reduzir a viscosidade do escarro, promovendo redução na taxa de exacerbação da
e algumas evidências têm sugerido que esse doença pulmonar em 22% e melhora no VEF1 de
grupo de medicamentos poderia desempenhar 5,8%. Em pacientes com doença pulmonar mais
uma up regulation dos canais de cloro20. Na FC, grave (VEF1 < 40% do previsto), foi observado
recentemente alguns trabalhos prospectivos, benefício funcional pulmonar, mas não redução
randomizados, duplo cego e controlados com nas exacerbações. A dose recomendada da alfa-
placebo, mostram bons efeitos desse grupo de dornase é de 2,5 mg, utilizada através de nebuli-
drogas12. Além de seus efeitos celulares e nos zação com nebulizador específico, uma ou duas
imunomoduladores, há evidências de que o vezes ao dia. Os principais efeitos adversos são
tratamento oral com macrolídeos melhora a rouquidão, alteração da voz e faringite, sendo
função pulmonar e diminui a frequência das autolimitados na grande maioria das vezes. Na
exacerbações em pacientes colonizados com população pediátrica, há recomendação clara
Pa. Além dos pacientes colonizados por Pa, os para o início do uso da alfadornase em pacientes
macrolídeos também parecem exercer seu efeito com FC com idade superior a 5 anos12 ou 6 anos,
em pacientes não colonizados por esta bactéria. com obstrução fixa das vias aéreas, comprovada
As doses utilizadas da azitromicina são de 250 por espirometria, e na presença de produção
mg a 500 mg via oral uma vez ao dia e 250 mg crônica de escarro7,12,14,16.
via oral ao dia para pacientes com menos de A nebulização utilizando a solução de
40 kg. Outra forma de uso seria de 500 mg de salina hipertônica por curto prazo aumenta o
azitromicina três vezes por semana23,36. transporte ciliar, melhora as propriedades do
O acometimento dos seios da face se ma- escarro e melhora a hidratação da superfície
nifesta clinicamente com sinusite bacteriana das vias aéreas, consequentemente, melhorando
de repetição. Utiliza-se antibioticoterapia em o clearance mucociliar e a função pulmonar.
caso de exacerbações. O uso de corticosteroides Recomenda-se a nebulização com solução sali-
tópicos é feito de modo a reduzir o componente na hipertônica de 3 a 7%, e preferencialmente
inflamatório1-3. precedida do uso de broncodilatadores 37,38.
Estudos evidenciam que o uso prolongado da
Agentes mucolíticos solução salina hipertônica pode reduzir a efi-
Nas vias aéreas dos pacientes com FC, cácia das defensinas no fluido das vias aéreas,
ocorrem alterações no líquido de superfície pro- proporcionando o crescimento de colônias de
movendo desidratação das secreções mucosas e pseudomonas. Em um estudo comparativo
aumento da viscosidade. Estas alterações favo- entre salina hipertônica e alfadornase, as duas
corticoide inalatório tem sido considerado nas rioração progressiva da função pulmonar. Nas
situações de FC com asma associada ou no caso fases mais avançadas do comprometimento
de sibilância recorrente12,42,43. pulmonar, a hipoxemia e a hipertensão pul-
O uso do ibuprofeno na dose de 20 a 30 mg/ monar passam a estar presentes, tornando-se
kg/dia foi estudado em pacientes com fibrose desta forma de fundamental importância a su-
cística, evidenciando redução na taxa de declínio plementação de oxigênio. Recomenda-se o uso
do VEF1, redução nas hospitalizações e melhora de oxigenoterapia quando a pressão arterial de
no estado nutricional. O uso do ibuprofeno exige oxigênio for menor do que 55 mmHg na vigília e
a monitorização do nível sérico da medicação. em ar ambiente, ou pressão arterial de oxigênio
A hemorragia gastrointestinal e o aumento da menor do que 59 mmHg, na presença de edema
de membros inferiores, policitemia, evidência
incidência de insuficiência renal são umas das
ecocardiográfica de sobrecarga cardíaca direita
principais complicações observadas no uso
ou hipertensão pulmonar. Os dados disponíveis
contínuo desta medicação1. Devido aos efeitos
de forma específica para fibrose cística acerca da
adversos e à falta de evidências de que os benefí-
oxigenoterapia são limitados, extrapolando-se
cios superem os riscos, não se recomenda o uso
desta forma as indicações baseadas em estudos
de ibuprofeno na rotina clínica42-44.
sobre doença pulmonar obstrutiva crônica
Outras substâncias com propriedades
(DPOC)1,3.
anti‑inflamatórias que estão sendo testadas na
Alguns pacientes apresentam critérios de
FC incluem pentoxifiline, tiloxapol, gelsolin, oxigenoterapia apenas durante o exercício e du-
surfactante, amiloride e solução salina hiper- rante o sono. Durante o exercício, recomenda-se
tônica em concentrações variadas. Nenhuma suplementação de oxigênio nos casos em que
dessas substâncias ainda deve ser usada de rotina a saturação arterial de oxigênio estiver menor
no tratamento das manifestações pulmonares do que 88-90%. Entretanto, a suplementação
na FC12. Os antibióticos macrolídeos citados de oxigênio durante o sono se faz necessária
previamente são principalmente utilizados na quando o paciente apresenta saturação arterial
FC por apresentarem atividade anti-inflamatória inferior a 88-90% por mais de 10% do tempo
e imunomoduladora12. de sono1,3.
reposição enzimática, evitando assim a insta- tus relacionado à FC (DRFC) estão entre as
lação ou agravamento do estado nutricional12. manifestações extrapulmonares mais comuns
A dose inicial de enzimas para o adulto é de da doença45. Estes problemas são menos encon-
500U de lipase por quilo de peso do paciente trados em pacientes com FC menores do que 10
nas grandes refeições e metade dessa dose nas anos de idade, faixa etária em que a incidência
pequenas refeições (por exemplo, nos lanches). é menor que 1%, se assemelhando à observada
As doses devem ser ajustadas de acordo com as em indivíduos sem FC. No entanto, tornam‑se
necessidades clínicas até o máximo de 2.500U mais frequentes em adolescentes e adultos com
de lipase por quilo de peso por refeição maior3,35. FC, em especial naqueles com insuficiência
Na população pediátrica, a quantidade inicial pancreática exócrina1. À medida que um maior
de enzima pode ser calculada em unidades número de pacientes tem atingido a vida adul-
de lipase, por grama de gordura ingerida, por ta, a incidência de diabetes em fibrocísticos
refeição, por dia (dose inicial de 500-1.000U de aumenta concomitantemente com frequência
lipase/g de gordura/refeição/dia). Este método é que varia entre 15 a 43%47-49. Nos pacientes
prático para lactentes no primeiro ano de vida. transplantados, os medicamentos com ação
A quantidade inicial de enzima também pode imunossupressora também estão relacionados
ser calculada em unidades de lipase por quilo de ao aumento da frequência de intolerância à
peso, por refeição, por dia (dose inicial de 500- glicose e de DRFC1.
1.500U de lipase/kg/refeição/dia)12. O resultado O DRFC apresenta características clínicas e
da reposição enzimática deve ser controlado fisiopatológicas próprias, com aspecto tanto de
com a melhora clínica (ganho de peso, mudança diabetes melito tipo 1 (DM1) quanto de tipo 2
no aspecto das fezes) ou com exames laborato- (DM2)49-51. A fibrose e a destruição do pâncreas
riais, para o ajuste individualizado da terapia de são componentes presentes na patogênese do
reposição enzimática. As preparações comer- DRFC. As alterações do canal de cloro levam à
ciais contendo enzimas pancreáticas evoluíram hiperviscosidade da secreção ductal pancreática,
desde o uso de preparações de liberação rápida, causando lesões obstrutivas, infiltração gordu-
sem proteção, até preparações de microesferas, rosa, fibrose progressiva das ilhotas e redução
com proteção ácido-resistentes e concentrações da secreção de insulina, glucagon e polipetídeo
variadas de enzimas por cápsulas12. pancreático. O acúmulo de substância amiloide
Recomenda-se, para os pacientes obterem dentro das células beta, presente nos pacientes
um melhor aproveitamento da terapia de repo- com FC e diabetes e ausente naqueles com FC
sição enzimática, o seguinte: (1) dar as refeições e não diabéticos, contribui para a insulinopenia
em “blocos”, a cada 3 ou 4 horas; (2) evitar devido ao seu efeito citotóxico e limitador da
“beliscar” alimentos; (3) dar enzimas em todas secreção de insulina1.
as refeições, imediatamente antes de iniciá-las;
Especula-se quanto à participação de meca-
(4) ajustar a dose em função da quantidade e
nismos imunológicos na patogênese do DRFC.
qualidade dos alimentos ingeridos; (5) observar
Alguns autores relataram a presença de anti-
mudança no padrão das evacuações; (6) obser-
corpos anti-ilhotas, enquanto outros falharam
var ganho de peso12.
Os pacientes com insuficiência pancreática na tentativa de encontrar um fator autoimune.
estão predispostos à má absorção das vitaminas Maior prevalência de anticorpos contra Pseudo-
lipossolúveis A, D, E e K. Por este motivo, a monas em pacientes com DRFC já foi observada
suplementação dessas vitaminas também é por outros autores, sugerindo a possibilidade
recomendada de rotina3,35. de um mecanismo imunológico desencadeado
por infecções pulmonares bacterianas. Não
Diabetes melito na FC foram descritas associações com antígenos de
A intolerância à glicose e o diabetes melli- histocompatibilidade HLA-DR3 e DR4, comuns
em pacientes com diabetes melito tipo 1, nos sos em que tais valores não sejam concordantes,
pacientes com DRFC diabéticos com FC1,14. o TTOG estará indicado. Um valor ≥200 mg/dL
Quanto à apresentação clínica, o DRFC aferido após duas horas pós-prandial também é
também apresenta características tanto de diagnóstico de DRFC1.
DM1 como DM2. O curso clínico é insidioso. O manejo do paciente com DRFC requer
Inicialmente ocorre hiperglicemia pós-prandial toda atenção da equipe multidisciplinar, além
que evolui para hiperglicemia em jejum. Outras do acompanhamento do endocrinologista. São
vezes, a hiperglicemia só surge durante períodos objetivos a serem alcançados: 1) manutenção do
de estresse49-52. A cetoacidose é infrequente49. status nutricional; 2) controle glicêmico rigoro-
Além de poliúria, polidipsia e perda ponderal, so, objetivando a redução das suas complicações
sintomas clássicos do DM1, manifestações agudas e crônicas; 3) prevenção de episódios de
inespecíficas como nos casos da redução da hipoglicemia grave; 4) adaptação do paciente ao
velocidade de crescimento, atraso no desenvol- manejo do diabetes; 5) introdução de cuidados
vimento puberal e declínio não explicado da adicionais junto ao cotidiano do paciente.
função pulmonar sugerem o diagnóstico50,52-55. O tratamento da DRFC se faz através de
Estudos demonstraram que a deterioração da diversas medidas dietéticas, além do uso da
função respiratória e do índice de massa corpo- insulina. O uso dos hipoglicemiantes orais
ral podem anteceder o diagnóstico de DRFC em deve ser evitado devido ao comprometimento
2 a 4 anos56. O declínio da função respiratória hepático do paciente com FC1. O paciente deve
também se mostra aumentado em pacientes com dosar a glicemia capilar rotineiramente antes das
intolerância à glicose1. refeições maiores. A dosagem da hemoglobina
Diversos estudos demonstram que a DRFC glicosilada deve ser solicitada, preferencialmen-
está relacionada a um aumento de morbidade e te, a cada 4 meses61. Exames para a detecção
mortalidade, podendo elevar o risco de morte das complicações da DRFC (retinopatia e ne-
em até 2,5 vezes53-55. A DRFC está relacionada fropatia) deverão ser realizados anualmente. A
à piora da função respiratória, menores índices hipertensão arterial deverá ser tratada de forma
de massa corporal, maior incidência de com- adequada quando presente, preferencialmente,
plicações infecciosas respiratórias, além de com o uso de inibidores da enzima conversora
maiores taxas de complicações microvasculares, da angiotensina.
como retinopatia (5-16%), nefropatia (3-16%) Cuidados adicionais deverão ser avaliados
e neuropatia (5-21%). As complicações macro- nos pacientes portadores de DRFC com com-
vasculares são raras nos pacientes com FC57-60. prometimento renal, principalmente na escolha
Para o diagnóstico de DRFC, poderão de medicamentos com característica nefrotó-
ser utilizados a glicemia de jejum, a dosagem xica, como é o caso dos antibióticos aminogli-
glicêmica casual e o teste de tolerância oral à cosídeos, anti-inflamatórios não esteroidais, e
glicose (TTOG). Todos os pacientes devem drogas imunossupressoras1.
realizar, pelo menos anualmente, uma dosagem Nos pacientes que apresentam intolerância
da glicemia. Um valor esporádico ou casual de à glicose, o tratamento deve ser conduzido
glicemia >126 mg/dL é considerado anormal. A através de modificações dietéticas e atividades
dosagem casual de glicose com valor ≥ 200 mL/ físicas, quando possíveis. O uso de insulina
dL em duas ou mais aferições é diagnóstica de nesses casos se faz necessário apenas quando
DRFC. A dosagem de glicemia de jejum com ocorrer deterioração clínica e perda de peso56.
valor ≥126 mL/dL em duas ou mais medidas ou Para os pacientes com DRFC e hiperglice-
uma dosagem de glicemia de jejum ≥126 mg/dL mia de jejum, a insulina é o único tratamento
associada a uma medida de glicemia casual ≥200 farmacológico recomendado. Os pacientes em
mg/dL também é diagnóstico de DRFC55. Em ca- uso de nutrição enteral ou parenteral noturna
dor abdominal, apenas a síndrome da obstrução parecem ser desencadeantes da síndrome, como
do intestino distal (DIOS) e a colonopatia fibro- a desidratação, o uso de medicamentos que
sante (CF) são específicas desta doença. Uma interferem na motilidade intestinal, narcóticos,
forma prática de abordar o paciente com FC e além da reposição das enzimas pancreáticas.
dor abdominal é a de tentar elaborar diagnósti- Entretanto, na maioria dos casos, nenhum fator
cos diferenciais de acordo com a localização da precipitante bem estabelecido pode ser identi-
dor como, por exemplo, epigástrica, periumbi- ficado90. Os sinais e sintomas mais observados
lical e hipogástrica. As principais causas de dor na DIOS são redução de eliminação de fezes e
de localização epigástrica nos pacientes com dor em cólica, habitualmente em localização
FC têm como causa a doença do refluxo gas- periumbilical e também no quadrante inferior
troesofágico, doença do trato biliar, pancreatite direito. Distensão abdominal, náuseas e vômitos
e gastrite com ou sem doença ulcerosa péptica podem sem observados. Ao exame físico, pode-
associada1. -se notar redução do peristaltismo intestinal,
Em um estudo com 50 pacientes adultos, a podendo evoluir até a ausência do peristaltismo
maioria apresentava como causa de dor epigás- intestinal. Em alguns casos, pode-se palpar uma
trica a doença do refluxo gastroesofágico, com massa no quadrante inferior direito, que corres-
80% se manifestando com dor em queimação ponde à distensão do ceco e do cólon direito1.
e 56% com relato de dispepsia. Apenas 12% Na vigência da possibilidade diagnóstica da
apresentavam doença biliar como causa da dor83. DIOS, o paciente deve ser devidamente hidra-
Pacientes que evoluem com pancreatite tado. A dieta oral deverá ser interrompida. Nos
crônica ou recorrente pertencem a um seleto casos de distensão significativa e náuseas, pode-
grupo em que a função exócrina pancreática -se utilizar sonda nasogástrica em sifonagem
permanece preservada. A dor abdominal re- de modo a reduzir a pressão intra-abdominal.
corrente é a manifestação mais comum deste Enemas retais podem ser utilizados na tentativa
problema1. A dor periumbilical pode ser cau- de desafazer fecalomas que possam estar con-
sada por DIOS, apendicite e intussuscepção. tribuindo com a obstrução. Soluções radiopacas
A apendicite não apresenta maior incidência podem ser utilizadas visando, além do trata-
nos pacientes fibrocísticos quando comparada mento, a avaliação da obstrução. Procinéticos
com a população geral85,86. Já quando a dor é por via oral, óleo mineral e N-acetilcisteína são
hipogástrica, causas a serem lembradas incluem outras opções entre as medidas terapêuticas. A
DIOS, principalmente se for ascendente, colite lavagem intestinal poderá ser realizada em casos
infecciosa (não se devendo esquecer do Clostri- selecionados. Em casos seletos de obstrução
dium difficile), colonopatia fibrosante e, menos intestinal, a laparotomia deve ser realizada.
frequentemente, câncer de cólon1. Um pequeno número de pacientes experimenta
Episódios recorrentes de obstrução intes- recorrência da DIOS, não justificando o uso de
tinal ocorrem em cerca de 3,5% dos pacientes medicamentos profiláticos1.
com fibrose cística87,88. A disfunção da proteína A dor hipogástrica também pode ser ma-
CFTR altera os mecanismos de secreção líquida nifestação de colite por Clostridium difficile. O
luminal, modificando a viscosidade do conteúdo diagnóstico deve ser considerado em pacientes
intestinal1. com uso recorrente de antibióticos. Normal-
Previamente conhecida como equivalen- mente, manifesta-se com dor abdominal, febre,
te de íleo meconial, a DIOS apresenta como presença de sangue nas fezes e leucocitose. Mes-
principal local de comprometimento o cólon mo na ausência de sintomas, o Clostridium diffi-
direito, assim como o íleo terminal89. A DIOS cile ou suas toxinas podem ser encontrados nas
ocorre quase que exclusivamente em pacientes fezes. O inverso também pode ocorrer, ou seja,
com insuficiência pancreática. Diversos fatores pacientes apresentando uma clínica exuberante,
AINE: Anti-inflamatório não esteroidal. EAB: Embolização de artéria brônquica. SSH: solução salina hipertônica; BD: Bron-
codilatadores. VNI/BIPAP: ventilação não invasiva/bilevel positive airway pressure.
Flume PA, Mogayzel PJ, Robinson KA. Cystic Fibrosis Pulmonary Guidelines. Pulmonary Complications: Hemoptysis and Pneu-
mothorax. Am J Respir Crit Care Med 2010; 182:298-306.
Suspender
Não Não Não
Mucolíticos
SSH: solução salina hipertônica; BD: Broncodilatadores; VNI/BIPAP: ventilação não invasiva/bilevel positive airway pressure.
(*) avaliar estabilidade clínica. (**) a partir do segundo pneumotórax. (***) comprometimento infeccioso associado.
Flume PA, Mogayzel PJ, Robinson KA. Cystic Fibrosis Pulmonary Guidelines. Pulmonary Complications: Hemoptysis and Pneu-
mothorax. Am J Respir Crit Care Med 2010;182: 298-306.
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Fosfomicina/Tobramicina
PA, MRSA, MSSA, BCC, SM Fase II
inalatório
PA: Pseudomonas aeruginosa; BCC: Complexo Burkholderia cepacea; MRSA: Staphylococcus aureus resistente à meticilina;
MSSA: Staphylococcus aureus sensível à meticilina; SM: Stenotrophomonas maltophilia; MA: Mycobacterium abscessus;
MC: Mycobacterium chelonae; PA MDR: Pseudomonas aeruginosa multi-droga resistente.
Adaptado: Zemanick ET, Harris JK, Conway S, Konstan MW, Marshall B, et al. Measuring and improving respiratory outcomes
in cystic fibrosis lung disease: Opportinuties and challenges to therapy. Journal of Cystic Fibrosis 2010;9:1-16.
com ação osmótica que será utilizado como pó terferir no mecanismo de virulência da Pseu-
seco inalado. Sua ação se faz pelo aumento de domonas aeruginosa 10. Um estabilizador de
hidratação da mucosa das vias aéreas, além de surfactante também está em fase de pesquisa na
promover aumento do clearance mucociliar15. tentativa de combater a colonização e infecção
Além dos antibióticos, outras opções tera- da via aérea pela Pseudomonas aeruginosa10,15.
pêuticas vêm sendo desenvolvidas com o obje- Outra ferramenta que poderá ser utilizada
tivo de ajudar no combate dos micro‑organis- no futuro é a dosagem de anticorpos contra
mos15. Imunoterapia passiva com gamaglobulina Pseudomonas aeruginosa. Os anticorpos que
G hiperimune, que promove opsonização contra são dosados contra a Pseudomonas aeruginosa
antígenos de superfície da P. aeruginosa, pode apresentam baixa sensibilidade, podendo atingir
auxiliar a fagocitose e reduzir a densidade de valores próximos de 42% nos pacientes com a
bactérias nas vias aéreas. Outro benefício seria a presença da bactéria no escarro. Atualmente são
neutralização de exoprodutos das psedomonas, mais utilizados como acompanhamento quanto
a neutralização e a diminuição da deposição de à resposta ao tratamento nas exacerbações,
complexos imunes, que resultam em dano tis- e principalmente na avaliação de efetividade
sular. Existem apenas dois estudos que relatam terapêutica nos casos de terapia de erradicação
poucos efeitos colaterais, mas também poucos desse micro-organismo15.
benefícios105. Está em fase de desenvolvimento Novos medicamentos em fase de pesquisa
um novo anticorpo humano recombinante estão sendo desenvolvidos e testados, agindo na
(KB001) que também tem como objetivo in- modulação do CFTR através do tipo de mutação.
Como representantes desse grupo de drogas, utilização dos desfechos convencionais como
pode-se citar o VX-770, PTC124 (Ataluren) e medida de eficácia da terapêutica gênica. Dessa
VX-809. O VX-770 e o VX-809 têm o objetivo forma, a terapia gênica não se converteu ainda
de agir nos canais de cloreto (mutações tipo III), em realidade clínica a despeito dos inúmeros
potencializando sua função. Diversos estudos ensaios clínicos110,111.
estão em andamento e têm demonstrado resul- Uma perspectiva de tratamento consiste na
tados promissores. Mais especificamente no caso terapêutica com células-tronco. Várias popula-
do VX-770, o estudo está sendo realizado com ções celulares derivadas da medula óssea adulta
pacientes que apresentam a mutação G551D107. ou do cordão umbilical podem localizar uma
O PTC124 (Ataluren) é um pequeno com- variedade de órgãos e adquirir características
posto molecular interferindo na leitura e codi- fenotípicas e funcionais de células orgânicas
ficação do RNA das CFTR. Age nas mutações específicas maduras. Isso permitiria corrigir
do tipo I107. Segue, na Figura 1, o andamento o defeito genético através da regeneração de
das novas perspectivas medicamentosas da células epiteliais respiratórias. Entretanto, o
Cystic Fibrosis Foudation atualizadas até 23 de conhecimento das células-tronco pulmonares
Fevereiro de 2011108. é muito escasso e a pesquisa está em fase muito
inicial110,111.
Terapia gênica
Recentemente, um estudo em pacientes
Atualmente a terapia gênica é um tema com FC entre 2 a 18 anos de idade, sem co-
muito estudado na perspectiva de contribuição lonização por P. aeruginosa mostrou que a
ao tratamento do paciente com fibrose cística. vacinação por uma vacina bivalente a partir do
Consiste no conjunto de métodos e técnicas com flagelo da P. aeruginosa foi eficiente em reduzir
objetivo de modificar a informação genética o risco de infecção por essa bactéria, podendo,
anômala. O método da transferência de DNA assim, contribuir para a maior sobrevida desses
normal para o interior de células FC já foi tes- pacientes113.
tado com duas técnicas: uma utilizando vetores
virais (adenovírus), outra utilizando partículas Transição da equipe
inertes de gordura (lipossomos)109. pediátrica para a equipe de
O princípio da terapia gênica envolve a ad-
adultos
ministração do RNA ou do DNA para as células
epiteliais das vias aéreas a fim de compensar Embora seja sugerido que a transição ocorra
o defeito genético. As dificuldades técnicas entre os 16 e 18 anos, deve haver flexibilidade,
incluem a necessidade de readministrações con- levando em consideração a maturidade e esta-
tínuas devido ao turnover das células-alvo. Além do clínico do paciente. O programa de adulto
disso, a administração do material gênico nas deve priorizar a independência e autonomia
vias aéreas precisa vencer as defesas sistêmicas e do indivíduo com a abordagem de temas mais
locais pulmonares. A utilização de vetores virais restritos aos adultos com fibrose cística como,
para essa administração tem maior eficiência por exemplo, a perspectiva da paternidade1,114.
de transdução, porém não se tem encontrado Em geral, a transição requer estabilidade
solução para evitar a resposta imunológica que clínica da doença. Os pacientes com exacerba-
surge com as readministrações. A utilização de ção grave, com doença terminal ou em lista de
vetores não virais está associada com uma res- transplante não são candidatos à transição. O
posta imunológica bem menos intensa, porém processo de transição dos cuidados de saúde
possui uma eficiência menor de transdução. entre equipes que lidam com diferentes faixas
Além disso, a baixa expressão da CFTR e o curso etárias é uma estratégia importante a ser desen-
episódico da doença pulmonar tornam difícil a volvida em todos os centros de FC3,35.
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to provide effective care and appropriate support
Abstract for all ages and the full spectrum of disease is
vital to continue to improve outcomes in this
Cystic fibrosis is a complex genetic disease
challenging disease. This article will review the
affecting many organs. It has a predilection for
basic principles in the treatment of pulmonary
the lungs and gastrointestinal tract, and clas-
exacerbations that will be covered first, followed
sically manifests as chronic suppurative lung
by a discussion of the various components of
disease and malabsorption. The natural history
maintenance therapy for the treatment of the
of the lung disease consists of early and persis-
systemic disease, their respective complications,
tent infection, an exaggerated inflammatory
and the new perspectives of treatment in the
response, and progressive airways obstruction,
future.
ultimately resulting in respiratory failure. Al-
KEY WORDS: Cystic fibrosis; Treatment;
most 85% of the mortality results from lung
Complications.
disease. The cornerstones of treatment for those