Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Ficha catalográfica
CDD: 370.981
CDU: 372(81)
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA
Esplanada dos Ministérios, Bloco L, Sala 500
CEP: 70.047-900
CADERNO 5
Brasília, 2016
INTRODUÇÃO 9
AS CRIANÇAS E OS LIVROS 95
1. Iniciando o diálogo 97
2. Escolhendo os livros 100
3. Os livros na Educação Infantil 108
4. Compartilhando experiência 115
5. Reflexão e ação 119
6. Aprofundando o tema 124
7. Ampliando o diálogo 125
8. Referências 126
Como já vimos ao longo das unidades anteriores, a linguagem escrita está presente em
situações do cotidiano de muitas crianças, mas ela circula de formas muito distintas e
com significados diversos entre os grupos sociais. Cabe à Educação Infantil ampliar as
experiências culturais das crianças, socializando os seus saberes e conhecimentos e
disponibilizando outros, favorecer a expressão das crianças em todas as formas, valo-
rizando as diferentes linguagens. A linguagem escrita faz parte do contexto educativo,
é uma entre as outras. Apropriar-se de uma linguagem – de uma nova forma de se
expressar e de se comunicar como o outro – é algo bastante complexo. A apropriação
é um processo relacionado à imersão, ao interesse. Não cabe à Educação Infantil ter
como objetivo a sistematização formal desse processo de apropriação no coletivo das
crianças – um grande diferencial entre pré-escola e Ensino Fundamental é justamente
o espaço de liberdade e de possibilidades de expressão. As crianças são diferentes
entre si, têm experiências e interesses distintos. Muitas delas iniciam seu ingresso à
escola aos quatro anos, e é justamente nesse momento que começam a ter uma maior
aproximação com a linguagem escrita.
Foi nosso objetivo neste Caderno 5 apresentar reflexões que levem você a compre-
ender como práticas significativas e dialógicas em torno da cultura escrita se relacio-
nam às apropriações das crianças, como situações desafiadoras possibilitam análises
e reflexões das crianças, ampliando seus conhecimentos sobre a linguagem escrita.
Esperamos que este caderno traga novas reflexões e desejamos boas leituras.
1. Iniciando o diálogo
13
Esta unidade busca trazer questões que nos ajudem a pensar o processo de
apropriação da linguagem escrita pelas crianças e suas implicações pedagó-
gicas. Tem como objetivos:
É provável que, para algumas de vocês que participam deste curso, soe fa-
miliar a discussão sobre se a Educação Infantil deve ou não trabalhar aspec-
tos ligados à aprendizagem da leitura e da escrita. Esse debate foi, inclusive,
uma das motivações para a existência deste curso. Para justificar as opções
conceituais que, por sua vez, implicam orientações metodológicas, é inevitá-
vel retomar concepções de criança, de infância e de educação das crianças
que se inicia nos primeiros dias de vida. É preciso, entretanto, não apenas
mencionar tais concepções, mas, sobretudo, analisar como se relacionam
com os processos de apropriação da linguagem escrita.
14
Assumir esse novo paradigma significa romper com uma visão linear de de-
senvolvimento, com etapas universais a serem percorridas. Significa tam-
bém considerar que as crianças, com suas produções singulares, criativas
e imprevisíveis, podem apresentar diferentes processos tanto individuais
quanto culturais, já que são sujeitos situados sócio-historicamente, com
traços culturais de seu grupo, gênero, etnia, religião. Tais concepções des-
locam a exclusividade do olhar sobre as crianças segundo uma perspectiva
da falta, da incompletude, da dependência e da improdutividade e trazem
outras dimensões mais positivas, tais como a da potência, da capacidade, da
inteligência, aproximando, assim, as crianças de características inerentes aos
humanos e não a alguns traços pretensamente circunscritos a uma condição,
especificamente, infantil.
15
Para Jorge Larrosa (1999, p. 197), tomar a competência das crianças como
parâmetro para as interações delas conosco, adultos, só seria possível pela
experiência do encontro, isto é, por uma relação que não seria nem de apro-
priação, porque o sujeito da apropriação é aquele que converte o outro em
algo à sua medida, nem de reconhecimento, porque o sujeito do reconheci-
mento é aquele que vê no outro o que sabe, o que quer, o que imagina, não
se abrindo ao inédito. O sujeito da experiência seria aquele que está disposto
a se alterar pelo outro, a se transformar numa direção desconhecida. Isso
exigiria do adulto não apenas conhecer as crianças ou ter conhecimentos de
diversas áreas sobre elas e seus processos, mas renunciar a “toda vontade
de saber, de poder e de controle para se aproximar da presença enigmática
da infância e se deixar transformar pela verdade que cada nascimento traz
consigo” (LARROSA, 1999, p. 196).
Tarefa bastante difícil para nós, professoras de Educação Infantil, cuja forma-
ção profissional se pauta e, muitas vezes, se alinha a um modelo de verdade
baseado em supostas evidências científicas e na lógica instrumental. Sendo
assim, são pequenas as possibilidades para os desvios, para o inédito, sen-
sível, poético ou para verdades que se dão a ver como lampejos, como nos
ensina Walter Benjamin (1993), pequenos clarões nas noites de tempestade,
que nos deixam ver parte da realidade e imediatamente desaparecem, fican-
do o escuro do desconhecido.
16
17
18