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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

LEI DE TORTURA (LEI 9.455/97)

Por Roberto Lobo


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SUMÁRIO

1 PARTE INTRODUTÓRIA .......................................................................................................................... 4


1.1. CONCEITO DE TORTURA ...................................................................................................................... 9
1.2. BEM JURÍDICO TUTELADO ..................................................................................................................10
1.3. EQUIPARAÇÃO A CRIME HEDIONDO...................................................................................................10
1.4. COMPETÊNCIA ...................................................................................................................................11
1.5. ABSORÇÃO ........................................................................................................................................13
1.6. AÇÃO PENAL......................................................................................................................................13
2 CRIMES EM ESPÉCIE ..................................................................................................................................13
2.1. TORTURA PROBATÓRIA, PARA A PRÁTICA DE CRIME E DISCRIMINATÓRIA (INCISO I) ...........................13
2.1.1. SUJEITOS DO CRIME ....................................................................................................................14
2.1.2. MEIOS DE EXECUÇÃO ..................................................................................................................14
2.1.3. ELEMENTO SUBJETIVO ESPECIAL (ESPECIAL FIM DE AGIR/MOTIVAÇÃO) .......................................15
2.2. TORTURA CASTIGO ............................................................................................................................17
2.2.1. SUJEITOS DO CRIME ....................................................................................................................18
2.2.4. ELEMTENTO SUBJETIVO ESPECIAL/MOTIVAÇÃO ...........................................................................18
2.2.5. PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE .....................................................................................................19
2.2.6. TENTATIVA .................................................................................................................................19
2.2.7. CONSUMAÇÃO ............................................................................................................................19
2.3. CRIME DE TORTURA CONTRA PRESO OU PESSOA SUBMETIDA À MEDIDA DE SEGURANÇA ...................19
2.3.1.SUJEITOS DO CRIME .....................................................................................................................20
2.3.2. MODO DE EXECUÇÃO ..................................................................................................................21
2.3.2. TENTATIVA .................................................................................................................................21
2.3.3. CONSUMAÇÃO ............................................................................................................................21
2.4. CRIME DE OMISSÃO PERANTE A TORTURA .........................................................................................22
2.4.1. SUJEITOS DO CRIME ....................................................................................................................22
2.4.2. MODO DE EXECUÇÃO ..................................................................................................................23
2.4.3. PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE .....................................................................................................23
2.4.4. TENTATIVA .................................................................................................................................23
2.4.5. Consumação ...............................................................................................................................24
3 QUALIFICADORAS .....................................................................................................................................24
4 CAUSAS DE AUMENTO ..............................................................................................................................25
5 EFEITOS DA CONDENAÇÃO ........................................................................................................................26
7 EXTRATERRITORIALIDADE .........................................................................................................................27
8 DISPOSITIVOS PARA O CICLO DE LEGISLAÇÃO ............................................................................................28
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9 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................................................28
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ATUALIZADO EM 31/12/20181

LEI DE TORTURA (LEI 9.455/97)

Caros alunos e alunas Ciclos, muito importante no estudo das leis penais especiais atentar para
o seguinte: elementos subjetivos especiais, princípio da especialidade, qualificadoras, causas de
aumento, efeitos da condenação e jurisprudências. As questões sempre tratam desses pontos. Bom
estudo!

1 PARTE INTRODUTÓRIA

A Declaração Universal dos Direitos do Homem, proclamada pela Assembleia Geral das Nações
Unidas, em 10 de dezembro de 1948, consagrou, em seu artigo V, o princípio básico de que ninguém
será submetido à tortura, nem à tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.

O Brasil foi signatário de dois tratados internacionais, por meio dos quais se obrigou a reprimir
os crimes de tortura. O primeiro tratado foi a Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou
Penas Cruéis, Desumanos e Degradantes, de 1984. O segundo tratado foi a Convenção lnteramericana
para Prevenir e Punir a Tortura, de 1985.

A Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou


Degradantes, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1984, assinada
pelo Brasil em 1985 e ratificada em 1989, determinou, em seu art. 2º, que “cada Estado-Parte tomará
medidas eficazes de caráter legislativo, administrativo, judicial ou de outra natureza, a fim de impedir a
prática de atos de tortura em qualquer território sob sua jurisdição”. Além disso, em seu art. 4º,
enfatizou que “cada Estado-Parte assegurará que todos os atos de tortura sejam considerados crime
segundo a sua legislação penal”. No mesmo sentido, a Convenção Americana sobre Direitos Humanos,
conhecida como Pacto de São José da Costa Rica, de 1969.

1 As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de diálogo
(setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos, porventura
identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do material e o
número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas jurídicas acerca
do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos eventos
anteriormente citados.
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#PISANOFREIO #APROFUNDAMENTO #HUMANOS #TUDOJUNTOEMISTURADO

É necessário fazer distinção entre o crime de tortura na Convenção das Nações Unidas e na Convenção
Interamericana de Direitos Humanos:

Tortura na ótica da Convenção das Nações Tortura na ótica da Convenção Interamericana


Unidas de Direitos Humanos
Conceito: Qualquer ato pelo qual dores ou Conceito: Todo ato pelo qual são infligidos
sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são intencionalmente a uma pessoa penas ou
infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de sofrimentos físicos ou mentais, com fins de
obter, dela ou de uma terceira pessoa, investigação criminal, como meio de intimidação,
informações ou confissões; de castigá-la por ato como castigo pessoal, como medida preventiva,
que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido como pena ou com qualquer outro fim. Entender-
ou seja suspeita de ter cometido; de intimidar ou se-á também como tortura a aplicação, sobre
coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por uma pessoa, de métodos tendentes a anular a
qualquer motivo baseado em discriminação de personalidade da vítima, ou a diminuir sua
qualquer natureza; quando tais dores ou capacidade física ou mental, embora não causem
sofrimentos são infligidos por um funcionário dor física ou angústia psíquica.
público ou outra pessoa no exercício de funções
públicas, ou por sua instigação, ou com o seu
consentimento ou aquiescência. Não se
considerará como tortura as dores ou sofrimentos
que sejam conseqüuência unicamente de sanções
legítimas, ou que sejam inerentes a tais sanções
ou delas decorram.
#OBS1: Não se admite invocação de
circunstâncias excepcionais, tais como ameaça ou
estado de guerra, instabilidade política interna ou
qualquer emergência pública como justificação
da tortura. Não se admite, também, a exculpante
da “ordem hierárquica” como justificação para o
crime. Não há, portanto, possibilidade de
derrogar a proibição contra a tortura.
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#OBS2: Os atos oriundos de sanções legítimas que
causem sofrimento ou dores NÃO são
considerados tortura.
Elemento subjetivo: dolo. A tortura culposa não Elemento subjetivo: dolo. A tortura culposa não
é punível. é punível.
Finalidade específica: Obter confissão, Finalidade específica: Não há finalidade
informação ou ainda como forma de punição ou específica.
discriminação (“dolo específico”).
Modalidade omissão: NÃO está prevista na Modalidade omissão: Está prevista na
Convenção. Convenção.
Sujeito ativo: É o agente público ou particular Sujeito ativo1: Empregos ou funcionários
agindo em caráter oficial ou ainda por instigação, públicos que, no exercício de sua função,
consentimento ou aquiescência do agente ordenem a prática de ato de tortura ou ainda
público. instiguem ou induzem a ele, cometem-no
#CONCLUSÃO: Para a Convenção da ONU, a diretamente ou, podendo impedi-lo, não o façam.
presença do funcionário público como sujeito Sujeito ativo2: As pessoas que, por instigação dos
ativo é obrigatória. funcionários ou empregados públicos em apreço,
ordenem sua prática, instiguem ou induzem a ela,
cometem-no diretamente ou nele sejam
cumplices.
#CONCLUSÃO: Para a Convenção Interamericana,
o particular pode ser sujeito ativo de tortura sem
que esteja em concurso com um agente público.
Resultado prático da tortura: O ato deve causar Resultado prático da tortura: O ato pode ou não
dor ou sofrimento agudo, físico ou mental. resultar em pena ou sofrimento físico ou mental.
#ATENÇÃO: Também configura tortura o ato que
anule a personalidade da vítima ou diminua a sua
capacidade física ou mental, mesmo que dele não
decorra qualquer dor física ou psíquica.

#CONCLUSÃO: Verificando as características comparadas acima, pode-se concluir que a Lei 9455/97 está
mais próxima da Convenção Interamericana.
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Além do rigor da legislação nacional, em 2013, foi criado o Sistema Nacional de Prevenção e Combate à
Tortura- SNPCT, instituído pela Lei 12.847/2013, possuindo como princípios e diretrizes:

PRINCÍPIOS: I - proteção da dignidade da pessoa humana; II - universalidade; III - objetividade; IV -


igualdade; V - imparcialidade; VI - não seletividade; e VII - não discriminação; e como

DIRETRIZES: I - respeito integral aos direitos humanos, em especial aos direitos das pessoas privadas de
liberdade; II - articulação com as demais esferas de governo e de poder e com os órgãos responsáveis
pela segurança pública, pela custódia de pessoas privadas de liberdade, por locais de internação de longa
permanência e pela proteção de direitos humanos; e III - adoção das medidas necessárias, no âmbito de
suas competências, para a prevenção e o combate à tortura e a outros tratamentos ou penas cruéis,
desumanos ou degradantes.

Ficou instituído, no âmbito da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, o Comitê


Nacional de Prevenção e Combate à Tortura - CNPCT, com a função de prevenir e combater a tortura e
outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes, mediante o exercício das seguintes
atribuições, sendo composto por 23 membros, escolhidos e designados pelo Presidente da República,
sendo 11 representantes de órgãos do Poder Executivo federal e 12 de conselhos de classes profissionais
e de organizações da sociedade civil, tais como entidades representativas de trabalhadores, estudantes,
empresários, instituições de ensino e pesquisa, movimentos de direitos humanos e outras cuja atuação
esteja relacionada com a temática de que trata esta Lei.

#LEMBRAR: Os representantes do Ministério Público, do Poder Judiciário, da Defensoria Pública e de


outras instituições públicas participarão do CNPCT na condição de convidados em caráter permanente,
com direito a voz.

#ISSOCÊNUMCONTA: O que é teoria do cenário da bomba relógio (ticking bomb scenario)?

A teoria do cenário da bamba relógio é uma vertente do Direito Penal máximo que levanta a
problemática sobre a possibilidade ou não de se torturar um determinado indivíduo em razão de um
“estado de necessidade coletivo”, dando ensejo à exclusão da ilicitude da conduta. O ticking bomb
scenario tem aceitação nos EUA que tenta implementar “medidas contra terroristas”. No entanto,
conforme ressaltado acima, nem a Convenção das Nações Unidas, nem a Convenção Interamericana
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contra a Tortura admitem a inovação de circunstâncias excepcionais, tais como ameaça ou estado de
guerra, instabilidade política interna ou qualquer outra emergência publica, como justificação de
tortura. Portanto, diante do atual estágio de proteção internacional de direitos humanos, a ticking bomb
scenario caracterizaria um ato ilícito e contrários aos direitos humanos resguardados, seja pela ordem
internacional, seja pela ordem interna.

Quanto à previsão constitucional, a CRFB/88, no art. 5º, foi o primeiro ato normativo da nova
Ordem Constitucional a fazer menção expressa ao delito de tortura, dispondo no inciso III: "ninguém
será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante".

Há, ainda, fundamento constitucional para a criminalização da tortura: a Constituição Federal,


em seu art. 5º, XLIII, determinou que a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou
anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos
como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-
los, se omitirem.

Para atender ao mandado de criminalização, foi aprovada e promulgada, em 7 de abril de 1997,


a Lei n. 9.455, que regulamentou todo o tema da tortura.

#PISANOFREIO: mandados de quê, coach? Mandados de criminalização ou mandados constitucionais


de criminalização.

São ordens emitidas pela CF ao legislador ordinário, no sentido da criminalização de


determinados comportamentos. O legislador estaria obrigado. Não há discricionariedade. Eles podem
ser expressos (a ordem está explícita no texto constitucional. Ex.: art. 225, § 3º - As condutas e atividades
consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções
penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados e art. 5º, XLII
a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos
da lei) ou tácitos (a ordem é retirada da harmonia, do espírito de todo o texto da CF. Ex.: combate à
corrupção no poder público – citado no caso do mensalão).

#OLHAOGANCHO #TUDOJUNTOEMISTURADO #HUMANOS #INTERNACIONAL: mandados de


criminalização convencionais ou internacionais.
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Não obstante a existência de diversos mandados de criminalização previstos nas Constituições
dos Estados, existem ainda os mandados de criminalização internacionais, que estão previstos em
tratados internacionais ou ainda em decisões de tribunais internacionais.

Nesse sentido, caso a ordem para tipificação de uma determinada conduta esteja prevista em
tratado internacional, dar-se-á o nome de mandado internacional ou convencional expresso de
criminalização, que, conforme leciona André de Carvalho Ramos, consiste em cláusula prevista em
tratados ordenando a tipificação penal nacional de determinada conduta, a imposição de determinada
pena, a vedação de determinados benefícios (por exemplo, a proibição da prescrição penal) ou até o
tratamento prisional específico.

A título de exemplo, a Convenção de Belém do Pará foi explícita em estabelecer mandados de


criminalização de condutas de violência contra a mulher. Neste sentido, os Estados partes devem adotar,
na legislação interna, normais penais, civis e administrativas, bem como de qualquer natureza, para
prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher (RAMOS, 2014).

1.1. CONCEITO DE TORTURA

A própria lei da tortura não dá a definição. Apenas diz: constitui crime de tortura (...) Podemos
encontrar a definição no art. 1º da Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis,
Desumanos e Degradantes, que dispõe:

Art. 1º. Para os fins da presente Convenção, o termo "tortura" designa qualquer ato pelo qual dores ou
sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter,
dela ou de uma terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato cometido; de intimidar
ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer
natureza; quando tais dores ou sofrimento são infligidos por um funcionário público ou outra pessoa no
exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência. Não
se considerará como tortura as dores ou sofrimentos consequências unicamente de sanções legítimas,
ou que sejam inerentes a tais sanções ou delas decorram."

#ATENÇÃO – A Convenção contra a Tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanas ou


degradantes (1984) rotulou o delito de tortura como próprio (#QUESTÃODEPROVA), só podendo ser
praticado por funcionário público ou pessoa no exercício da função pública. No entanto, a lei 9.455/97,
em regra, não exige qualidade ou condição especial do agente. No Brasil, em regra, o crime é comum.
Apesar de haver doutrina lecionando que o legislador nacional não poderia ter destoado do legislador
10
internacional, vêm entendendo o STJ e o STF que o crime de tortura não exige do autor condição de
agente público. Veremos que, se cometido por funcionário público, haverá causa de aumento.

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA – O STJ, no informativo de número 577, decidiu que a tortura de preso


custodiado em delegacia praticada por policial constitui ato de improbidade administrativa que atenta
contra os princípios da administração pública.

1.2. BEM JURÍDICO TUTELADO

Tutela a dignidade da pessoa humana, bem como a Integridade física e psíquica.

1.3. EQUIPARAÇÃO A CRIME HEDIONDO

Tanto a CRFB/88 no art. 5°, XLlll, quanto a lei de crimes hediondos no art. 2º, caput equipararam
o delito de tortura a crimes hediondos, dando-lhes o mesmo tratamento penal e processual penal. Note-
se que a tortura não é considerada crime hediondo (tipo de assertiva correta que pega muita gente,
menos a galera cicleira!!), pois não figura no rol do art. 1 º da lei 8072/90, mas apenas equiparada ou
assemelhada a hediondos.

Em razão disso, a tortura submete-se a regras específicas, próprias dos crimes hediondos.
Vamos conhecer?

• FIANÇA/GRAÇA/ANISTIA: o delito de tortura é considerado inafiançável, insuscetível de


graça ou anistia. Quanto ao indulto, veremos adiante que prevalece também ser
vedado.
• LIVRAMENTO CONDICIONAL: impossibilidade de concessão de livramento
condicional ao reincidente específico.
• PROGRESSÃO DE REGIME: após o cumprimento de 2/5 (não reincidente) ou 3/5
(reincidente) da pena.

O crime de tortura é imprescritível?

Não. Por mais grave que seja o delito, no Brasil a prescrição é regra, havendo na Constituição
Federal de 88 apenas duas hipóteses de imprescritibilidade:

• Racismo – Artigo 5º, XLII da CF.


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• Ação de Grupos Armados contra a ordem constitucional e o Estado democrático – Artigo
5º, XLIV da CF.

Ocorre que, em Tratados Internacionais a tortura é imprescritível. Ante esta antinomia entre a
nossa Constituição e alguns Tratados, três são as correntes que apresentam uma solução à
incompatibilidade. Vejamos:

1ª corrente: Se a CF/88 etiquetou a Tortura como delito prescritível, mesmo sendo considerada
imprescritível nos tratados internacionais, deve prevalecer a nossa Carta Maior. Para provas objetivas,
deve-se responder nesse sentido: o delito de tortura é prescritível. Numa prova subjetiva, no entanto, é
bom o candidato demonstrar conhecimento sobre as demais correntes.

2ª corrente: No conflito entre a Constituição Federal de 88 e os Tratados de Direitos Humanos


(não importando o quórum de ratificação), deve prevalecer a norma mais favorável à dignidade da
pessoa humana (Princípio pro homine). Esta corrente trabalha no sentido de a tortura ser imprescritível.
#MP #MPF #DELTA

#APROFUNDAMENTO: Deve-se ter em mente que a prática de tortura configura crime contra a
humanidade, e nesse caso, há a sua imprescritibilidade e necessidade de repressão são normas jus
cogens. A CorteIDH já conheceu a imprescritibilidade dos crimes contra a humanidade nos casos
Almonacid Arellano vs Chile e caso Bairros altos vs Peru.

3ª corrente: A imprescritibilidade trazida pelos Tratados Internacionais de Direitos Humanos é


incompatível com o direito penal moderno e com o Estado Democrático de Direito. No direito penal é
perigoso eternizarmos o direito de punir do Estado. #DEFENSORIA

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA – O STJ, no informativo número 523, decidiu que as ações de indenização


por danos morais decorrentes de atos de tortura ocorridos durante o Regime Militar de exceção são
imprescritíveis. Não se aplica o prazo prescricional de 5 anos previsto no art. 1º do Decreto 20.910/1932.
Não confundir com o crime de tortura. As ações de indenização por danos morais que são
imprescritíveis.

1.4. COMPETÊNCIA

A regra é de que os crimes de tortura sejam julgados pela justiça comum estadual. No entanto,
eles serão julgados pela justiça federal em uma hipótese: quando houver interesse da União. É o
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exemplo na hipótese de a tortura ser praticada dentro de uma Delegacia de Polícia Federal (inf. 436) ou
dentro do INSS, autarquia federal.

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA - Recentemente, no informativo número 549, o STJ decidiu o seguinte:


crime de tortura praticado contra brasileiro no exterior: trata-se de hipótese de extraterritorialidade
incondicionada (como estudaremos adiante). No Brasil, a competência para julgar será da Justiça
Estadual. O fato de o crime de tortura, praticado contra brasileiros, ter ocorrido no exterior, não torna,
por si só, a Justiça Federal competente para processar e julgar os agentes estrangeiros. Isso porque a
situação não se enquadra, a princípio, em nenhuma das hipóteses do art. 109 da CF/88.

*#ATENÇÃO – Antes, a tortura cometida por militar ou era competência da justiça estadual, ou da justiça
federal. Nunca da justiça militar, porque tortura não é crime militar. Entretanto, com as alterações
promovidas pela Lei 13.491/2017, esse entendimento está ultrapassado. #NOVIDADELEGISLATIVA*.
Conforme esclareceu Aury Lopes Jr2:
“Antes, o artigo 9º, II do CPM assim dispunha:
II. os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum,
quando praticados: (...).
Com essa redação, o legislador determinava que a Justiça Militar julgaria os militares (nas situações de
atividade ou interesse militar definidos nas alíneas “a” a “f”) pela prática dos crimes previstos no CPM,
"embora também o sejam com igual definição na lei penal comum". Com isso, estavam afastados da
competência da Justiça Militar os crimes previstos em leis penais especiais e, portanto, não contemplados
no CPM. Eram os clássicos exemplos dos crimes de abuso de autoridade, tortura, associação para o
tráfico, organização criminosa etc., todos crimes não previstos no CPM, mas apenas em leis penais
extravagantes e que eram julgados na Justiça comum. Se houvesse conexão entre um crime militar e
outro previsto em lei especial, haveria uma cisão: o crime militar seria julgado pela Justiça castrense, e o
crime não previsto no CPM seria julgado na Justiça comum (estadual ou federal, conforme o caso).
Agora, a nova redação do inciso II é muito mais ampla:
II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando praticados.
Significa dizer que a Justiça Militar (federal ou estadual) agora poderá julgar os crimes previstos no CPM
e na legislação penal (comum e especial/extravagante). Dessa forma, há uma ampliação significativa da
competência das Justiças militares estaduais e federal, que passarão a julgar crimes não previstos no
CPM, tais como os anteriormente citados.”

2 Trecho retirado do Site CONJUR: https://www.conjur.com.br/2017-out-20/limite-penal-lei-134912017-fez-retirar-


militares-tribunal-juri.
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1.5. ABSORÇÃO

A configuração do crime de tortura absorve delitos menos graves decorrentes do emprego da


violência ou grave ameaça, como os crimes de maus-tratos, lesões corporais leves, constrangimento
ilegal, abuso de autoridade...

1.6. AÇÃO PENAL

Todos os crimes previstos nessa lei apuram-se mediante ação pública incondicionada.

2 CRIMES EM ESPÉCIE

2.1. TORTURA PROBATÓRIA, PARA A PRÁTICA DE CRIME E DISCRIMINATÓRIA (INCISO I)

Alunos Ciclos, o art. 1º, inciso I, da Lei n. 9.455/97 dispõe o seguinte:

Art. 1º Constitui crime de tortura:

I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou
mental:

a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;

b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;

c) em razão de discriminação racial ou religiosa;

Pena - reclusão, de dois a oito anos.

Percebe-se que tal dispositivo descreve vários crimes ligados à prática da tortura, cada um com
características próprias. Esse dispositivo (inciso I) contém três figuras caracterizadoras do crime de
tortura. São três espécies delituosas sob o mesmo nomen juris, sendo, portanto, necessária a adoção de
outras designações para diferenciá-las (tortura-prova, tortura para a prática de crime e tortura
discriminatória).
14
Por outro lado, quanto aos meios de execução, sujeitos ativo e passivo, consumação, tentativa
e ação penal, as regras são as mesmas para todas elas, que, dessa forma, se diferenciam apenas no que
se refere ao elemento subjetivo especial (motivação) do agente torturador.

2.1.1. SUJEITOS DO CRIME

Sujeito ativo: É crime comum (já vimos que na convenção contra a tortura é crime próprio, mas
no Brasil é crime comum). Pode ser cometido por qualquer pessoa. Não é crime próprio nem crime
funcional (de funcionário público). É crime comum que pode ser praticado por qualquer pessoa, mas se
o sujeito ativo for agente público, a pena é aumentada de 1/6 a 1/3, conforme o art. 1°, parágrafo 4°, I:

Art. 1°, § 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:

I - se o crime é cometido por agente público;

Sujeito passivo: A vítima da tortura pode ser qualquer pessoa, tendo em vista que o legislador
se referiu a “alguém” no inciso I. No entanto, se a vítima for gestante, idoso (maior de 60 anos), portador
de deficiência física ou mental, criança, ou adolescente, a pena é aumentada de 1/6 a 1/3.

Art. 1°, § 4º - Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:

II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência (física ou mental),


adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos;

#ATENÇÃO - A lei fala em criança e adolescente. Portanto, revoga um dispositivo do ECA: esse art., que
era o 233 do ECA, tipificava o crime de tortura contra criança e adolescente. Portanto, crime de tortura
contra criança e adolescente está tipificado na lei de tortura e não no ECA.

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA – O STJ, no informativo número 589, decidiu que no caso de crime de


tortura perpetrado contra criança em que há prevalência de relações domésticas e de coabitação, não
configura bis in idem a aplicação conjunta da causa de aumento de pena prevista no art. 1º, § 4º, II, da
Lei nº 9.455/1997 (Lei de Tortura) e da agravante genérica estatuída no art. 61, II, "f", do Código Penal.

2.1.2. MEIOS DE EXECUÇÃO

Constranger significa obrigar alguém a fazer algo que não queira, forçar, tolher a liberdade de
alguém, por anular por completo a sua voluntariedade.
15
A Lei estabelece como formas de execução desses crimes de tortura a violência e a grave
ameaça. Violência consiste no emprego de qualquer desforço físico sobre a vítima, como socos,
pontapés, choques elétricos, pauladas, chicotadas, submersão temporária em água, privação de
liberdade etc. Grave ameaça consiste na promessa de mal grave, injusto e iminente, como ameaça de
morte, de estupro, de lesões etc.

Sofrimento físico ou mental é o sofrimento desnecessário e cruel do ser humano, que pode se
dar em seu corpo (sofrimento físico) ou em sua mente (sofrimento mental), por meio da inflição de
tormentos.

Princípio da especialidade - O inciso 1 do art. 1º da lei ora estudada é especial em relação ao


delito de constrangimento ilegal, previsto no art. 146 do Código Penal. A especialidade reside no dolo
do agente, uma vez que a sua pretensão é obter da vítima ou de terceira pessoa informação, declaração
ou confissão; obrigar a vítima a praticar um crime ou discriminá-la em razão de raça ou religião.

2.1.3. ELEMENTO SUBJETIVO ESPECIAL (ESPECIAL FIM DE AGIR/MOTIVAÇÃO)

O art. 1º, I, da Lei n. 9.455/97 descreve três hipóteses caracterizadoras do crime de tortura. A
diferença entre esses ilícitos reside na motivação do agente

ALÍNEA “A”: CHAMADA DE TORTURA PROBATÓRIA

“Com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa”

Quando a intenção do sujeito, ao torturar a vítima, é obter alguma informação, declaração ou


confissão desta ou de terceira. Pouco importa a natureza da informação visada (pode ser criminal, civil,
comercial...).

O tipo contém um especial fim de agir, contido na expressão “com o fim de”. Assim, muito
embora não seja necessária a obtenção da informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira
pessoa para a consumação do delito, o especial fim de agir deve estar presente na conduta do agente,
sob pena de atipicidade da conduta, caso em que se poderá configurar outro delito, como lesão corporal.

Tentativa: É possível, quando o agente emprega a violência ou grave ameaça, sem conseguir
provocar sofrimento à vítima.
16
Consumação: Trata-se de crime formal, que se consuma com o sofrimento físico ou mental
causado à vítima. Está consumado ainda que a finalidade não seja alcançada. Embora não seja
necessária a obtenção da informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa, para a
consumação do delito, é certo que, uma vez obtidas, constituirão provas obtidas por meio ilícito,
vedadas na forma do art. 5º, LVI da CRFB/88, e deverão ser desentranhadas dos autos do processo ou
do inquérito policial

ALÍNEA “B”: CHAMADA DE TORTURA CRIME

“Para provocar ação ou omissão de natureza criminosa”

Nessa modalidade, o agente causa à vítima sofrimento físico ou mental para obrigá-la a praticar
um crime.

Trata de hipótese de coação moral irresistível que funciona, a um só tempo, como espécie de
autoria mediata e causa de inexigibilidade de conduta diversa, prevista no art. 22 do Código Penal, o que
implica a absolvição do coagido por esse fundamento. Recairá a responsabilidade penal somente sobre
o autor da tortura, que responderá pelos dois delitos, quais sejam: tortura, como autor imediato, e o
delito praticado pelo coagido, como autor mediato, em concurso material.

Por exemplo, digamos que um preso perigoso tortura psicologicamente um preso primário, que
está pela primeira vez na cadeia por conta de um furto, para que ele mate um outro preso. Não
suportando mais a tortura psicológica, o preso novato mata o terceiro preso. O preso perigoso vai
responder pela tortura contra o preso novato (aqui ele responde como autor direto) + o homicídio
praticado pelo preso novato (aqui ele responde como autor mediato). O preso novato vai estar
protegido pela excludente de culpabilidade da coação moral irresistível.

TORTURADO TORTURADOR
Não responde pelo crime eventualmente Responde pela tortura (autor imediato) em
praticado, considerando que a coação moral concurso com o crime eventualmente
irresistível exclui a culpabilidade. praticado pelo torturado, na condição de
autor mediato. Trata-se de um concurso
material.

#ATENÇÃO - Só há esse crime se o infrator coagir a vítima a cometer crime. Se ele coagir a vítima a
cometer contravenção penal, não se aplica esse dispositivo. Nesse caso se aplica o CP (constrangimento
17
ilegal, tentativa de homicídio...). Isso porque o tipo penal diz “para provocar ação ou omissão de
natureza criminosa”.

O tipo contém um especial fim de agir, contido na expressão “para provocar”, que deve estar
presente na conduta do agente, sob pena de atipicidade da conduta, caso em que poderá estar
configurado outro delito, como lesão corporal.

Tentativa: É possível, quando o agente emprega a violência ou grave ameaça, sem conseguir
provocar sofrimento à vítima.

Consumação: Trata-se de crime formal, que se consuma com o sofrimento físico ou mental
causado à vítima. O crime está consumado mesmo que o torturador não consiga a finalidade pretendida.
Ou seja, mesmo que o torturador não consiga que a vítima cometa o crime.

ALÍNEA “C”: CHAMADA DE TORTURA DISCRIMINATÓRIA/PRECONCEITUOSA

“Em razão de discriminação racial ou religiosa”

#ATENÇÃO - O legislador só se preocupou com a discriminação racial e religiosa, não inseriu outras
formas de discriminação, como sexual ou política, caso em que a conduta será atípica, podendo
configurar outro delito, como lesão corporal.

Dependendo da forma de agir do torturador, poderá também incorrer no crime de racismo do


art. 20 da Lei n. 7.716/89.

Ao contrário do que ocorre com os dispositivos anteriores, na letra c o agente não tortura a
vítima esperando dela alguma conduta. Tortura apenas por preconceito à sua raça ou religião.

Tentativa: É possível, quando o agente emprega a violência ou grave ameaça, sem conseguir
provocar sofrimento à vítima.

Consumação: Trata-se de crime formal, que se consuma com o sofrimento físico ou mental
causado à vítima.

2.2. TORTURA CASTIGO


18
Nesta modalidade de tortura, a violência ou grave ameaça provocada na vítima gerando intenso
sofrimento físico ou mental, são empregadas como forma de castigar a vítima ou aplicar-lhe medida de
caráter preventivo.

Art. 1º, caput (...) II — submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de
violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal
ou medida de caráter preventivo.

Pena — reclusão, de dois a oito anos.

2.2.1. SUJEITOS DO CRIME

Sujeito ativo: Trata-se de crime próprio, que somente pode ser praticado por quem se encontre
em relação de guarda, poder ou autoridade em relação à vítima.

*#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #STJ: Somente pode ser agente ativo do crime de tortura-castigo (art
1º, II, da Lei nº 9.455/97 aquele que detiver outra pessoa sob sua guarda, poder ou autoridade(crime
próprio). STJ. 6ª Turma. REsp 1738264-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 23/08/2018 (Info
633).

Sujeito Passivo: A vítima da tortura deve estar sob a guarda, poder ou autoridade do agente.

#ATENÇÃO - Essa relação entre sujeito ativo e sujeito passivo, exigida pelo tipo penal, pode ser uma
relação pública ou particular. Guarda significa vigilância permanente. Poder decorre de exercício de
cargo ou função pública. Autoridade está ligada às relações privadas, como ocorre com o tutelado,
curatelado, filhos etc. Portanto, esse crime pode ser cometido pelo pai contra o filho, pela babá contra
a criança, pelo policial contra o preso, pelo neto contra o avô...

Lembrar que se o sujeito ativo for agente público haverá aumento de pena e se a vítima for
idoso (acima de 60), gestante, criança, adolescente ou deficiente também existirá aumento de pena.

2.2.3. MEIOS DE EXECUÇÃO

Trata-se de crime de ação livre que pode ser praticado por qualquer meio (omissivo ou
comissivo): privação de alimentos ou de cuidados indispensáveis, castigos imoderados ou excessivos,
privação da liberdade...

2.2.4. ELEMENTO SUBJETIVO ESPECIAL/MOTIVAÇÃO


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O tipo contém um especial fim de agir, presente na expressão ”como forma de aplicar castigo
pessoal ou medida de caráter preventivo”, que deve estar presente na conduta do agente, sob pena de
atipicidade da conduta, caso em que se poderá configurar outro delito, como lesão corporal.

2.2.5. PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE

O tipo penal ora analisado se parece muito com o tipo penal do art. 136 do Código Penal, que
trata do crime de maus tratos. O conflito aparente de normas deve ser resolvido pelo princípio da
especialidade. Com efeito, a distinção entre ambos reside em diversos pontos, sobretudo no dolo do
agente. Em relação ao dolo, enquanto o delito do art. 136 do Código Penal tem caráter educativo e o
dolo do agente é a repreensão a uma indisciplina e se aperfeiçoa com a simples exposição a perigo a
vida ou a saúde da vítima, em razão de excesso no uso dos meios de correção ou disciplina, no delito de
tortura ora estudado, o dolo do agente é causar padecimento à vítima, causando-lhe sofrimento físico
ou mental, sem nenhum cunho educativo. A outra distinção reside no fato de que o crime do art. 136
do Código Penal é de perigo, ao passo que o delito de tortura é de dano.

Tortura castigo Maus tratos

Dolo de causar padecimento à vítima, Para fim de educação, ensino, tratamento


causando-lhe sofrimento físico ou mental, ou custódia.
sem nenhum cunho educativo

Crime de dano Crime de perigo

2.2.6. TENTATIVA

A doutrina diz que a tentativa é possível se o agente submete a vítima a violência ou grave
ameaça, com o fim previsto no dispositivo, mas não consegue causar-lhe intenso sofrimento físico ou
mental.

2.2.7. CONSUMAÇÃO

Se dá no momento em que a vítima sofre intenso sofrimento físico ou mental. O tipo penal
adjetiva o sofrimento físico ou mental. A expressão “intenso” é elemento normativo do tipo, que
depende de comprovação por exame pericial.

2.3. CRIME DE TORTURA CONTRA PRESO OU PESSOA SUBMETIDA À MEDIDA DE SEGURANÇA


20
Art. 1° § 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a
sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de
medida legal.

Como o legislador não fez qualquer distinção, quis abranger qualquer espécie de prisão.
Portanto, abrange também todas as espécies de prisão cautelar, quais sejam: prisão em flagrante; prisão
preventiva e prisão temporária. Abrange preso provisório ou definitivo, bem como jovens infratores
apreendidos, internados ou em estado de semiliberdade. Abrange inclusive o preso civil (devedor de
alimentos).

Mesma coisa para a medida de segurança. Entende-se que ele quis se referir a todas as espécies
de medida de segurança. Portanto, abrange a medida de segurança detentiva, que é aquela na qual há
a internação (art. 96, 1 do Código Penal), bem como a medida de segurança restritiva, em que o agente
é submetido a um tratamento ambulatorial (art. 96, li do Código Penal).

A conduta é submeter pessoa presa ou sujeita à medida de segurança a sofrimento físico ou


mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal.

A premissa do delito é que a vítima esteja legalmente presa ou sujeita a medida de segurança.
Assim, comete o crime quem adota medidas não previstas na Lei de Execuções Penais ou em outras leis
similares, como cela escura, solitária, aplicação de choques, sessões de “pau-de-arara” etc.

Igualmente comete o crime quem coloca preso em regime disciplinar diferenciado sem prévia
determinação judicial. Nesse caso, o ato está previsto em lei, mas é executado ilegalmente. Atenção,
pois RDD não é tortura. Colocar em RDD sem determinação legal, causando sofrimento físico ou mental,
que é.

A figura em análise difere da modalidade de abuso de autoridade, em que a finalidade do


agente público é submeter o preso a vexame ou constrangimento (art. 4º, “b”, da Lei n. 4.898/65). No
crime de tortura, a finalidade do agente é provocar sofrimento físico ou mental na vítima.

#ATENÇÃO - O torturador não realiza o crime com finalidade específica. Não há elemento subjetivo
especial. O tipo não exige do agente finalidade específica. Há apenas o dolo genérico de causar
sofrimento físico e mental.

2.3.1. SUJEITOS DO CRIME


21
Sujeito ativo: Pode ser qualquer pessoa, embora normalmente seja o carcereiro, o agente
penitenciário, o diretor do estabelecimento prisional etc. O tipo penal, ao contrário de outros desta Lei,
não exige que a vítima esteja sob a guarda ou autoridade do agente, embora muito dificilmente possa
ocorrer o delito sem o envolvimento direto ou a conivência de um desses agentes públicos.

Sujeito Passivo: Pessoa presa ou sujeita a medida de segurança

Novamente lembrar que, se o sujeito ativo for agente público, aumenta a pena. Se o sujeito
passivo for idoso, gestante, deficiente, criança ou adolescente, aumenta a pena.

2.3.2. MODO DE EXECUÇÃO

A presente figura dispensa emprego de violência física ou mental. Basta que se pratique um
ato não previsto em lei.

2.3.2. TENTATIVA

Admite-se. Haverá tentativa se não houver sofrimento físico ou mental na vítima.

2.3.3. CONSUMAÇÃO

Se dá no momento em que ocorre o sofrimento físico ou mental da vítima.

A seguir um quadro comparativo, para facilitar a compreensão:

MODO DE
SUJEITOS X DOLO
EXECUÇÃO
a) Obter info...

SA – Comum Emprego de Causando b) Tortura para a


ARTIGO 1º, I
violência ou grave sofrimento físico prática de crime.
SP – Comum ameaça. ou mental.
“constranger
c) Para
alguém”
discriminar.
ARTIGO 1º, II SA - Próprio -Aplicar castigo
Causando
Emprego de
INTENSO
(“Submeter SP – Próprio violência ou grave - Medida de
sofrimento físico
alguém sob seu ameaça. caráter
ou mental.
poder”) preventivo.
Age por
Causando
intermédio da
sofrimento físico
ARTIGO 1º, §1º prática de ato não
ou mental.
previsto em lei ou
22
(Torturar pessoa SA – Comum não resultante de Essa tortura não
enclausurada) medida legal. exige finalidade
SP – Próprio especial no agente
Não exige
emprego de
violência ou grave
ameaça.

2.4. CRIME DE OMISSÃO PERANTE A TORTURA

Nessa modalidade de tortura, o agente deve evitar ou apurar a prática dos delitos descritos
anteriormente, e não o faz.

Art. 1°, § 2º - Aquele que se omite em face dessas condutas (do art. 1°, incisos I e II e parágrafo 1°),
quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos.

#ATENÇÃO – Percebam que a pena para quem se omite diante da tortura é menor. Nos crimes anteriores
era de 2 a 8 anos, enquanto neste é de 1 a 4 anos. Além de caber o SURSIS processual, entende-se que
esse crime de omissão perante a tortura do parágrafo 2º não é equiparado a hediondo.

Há um equívoco no dispositivo, uma vez que tipifica como crime menos grave a conduta de
quem tem o dever de evitar a tortura e deixa de fazê-lo (estamos falando do dever de evitar apenas, não
de apurar). Ora, nos termos do art. 13, § 2º, do Código Penal, responde pelo resultado, na condição de
partícipe, aquele que deve e pode agir para evita-lo e não o faz. Por consequência, quando uma pessoa
tortura a vítima para obter dela uma confissão, e outra, que podia e devia evitar tal resultado, omite-se,
ambas deveriam responder pelo crime de tortura do art. 1º, I, “a”, da Lei n. 9.455/97 e não por esse
crime descrito no § 2º. Essa solução, inclusive, atende ao preceito constitucional que estabelece que
também responde pela tortura aquele que, podendo evitar o resultado, deixa de fazê-lo (art. 5º, XLIII,
da CF).

Dessa forma, o § 2º do art. 1º da Lei n. 9.455/97 somente será aplicável àquele que tem o dever
jurídico de apurar a conduta delituosa e não o faz. Como tal dever jurídico incumbe às autoridades
policiais e seus agentes, torna-se evidente a impossibilidade de aplicação do aumento do § 4º, I, do
art. 1º da lei (crime cometido por agente público), já que isso constituiria bis in idem.

2.4.1. SUJEITOS DO CRIME


23
Sujeito ativo: Trata-se de crime próprio, que somente pode ser praticado por quem tiver o
dever de apurar a ocorrência da prática de qualquer modalidade de tortura descrita na lei.

Sujeito Passivo: Qualquer pessoa.

2.4.2. MODO DE EXECUÇÃO

Dever de evitar consiste no dever de impedir a ocorrência da prática de qualquer modalidade


de tortura descrita na lei. Nessa modalidade, o agente deve ter um vínculo legal com a vítima da tortura,
sendo, portanto, agente garantidor. Há a discussão que fora explicada no tópico anterior: quando uma
pessoa tortura a vítima para obter dela uma confissão, e outra, que podia e devia evitar tal resultado,
omite-se, ambas devem responder pelo crime de tortura do art. 1º, I, “a”, da Lei n. 9.455/97 e não por
esse crime descrito no § 2º. Essa solução atende ao preceito constitucional que estabelece que também
responde pela tortura aquele que, podendo evitar o resultado, deixa de fazê-lo (art. 5º, XLIII, da CF).

Por outro lado, dever de apurar é o dever de averiguar, investigar a ocorrência da prática de
qualquer modalidade de tortura descrita na lei. Trata-se de dever que está inserido dentro das
atribuições de funcionário público, sobretudo Autoridade Policial. Nessa hipótese, não deverá ser
aplicada a causa de aumento de pena prevista no § 4º da lei, sob pena de incidência em bis in idem.

OMITIR-SE NO DEVER DE EVITAR OMITIR-SE NO DEVER DE APURAR

Trata-se da omissão imprópria. Temos Trata-se de omissão própria. Nesta


aqui a figura do garante ou garantidor. hipótese a tortura já ocorreu. Não há o
Logo, deve responder pelo crime que que ser evitado, mas sim apurado.
tinha o dever de evitar e não por essa
figura mais branda.

Ex.: Delegado que percebe os seus


agentes levando um preso para tortura
e não busca evitar.

2.4.3. PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE

Na conduta omitir-se em relação à apuração da tortura, configura especialidade em relação aos


delitos de prevaricação (art. 319 do Código Penal) e condescendência criminosa (art. 320 do Código
Penal).

2.4.4. TENTATIVA
24
Não é possível. Não é possível porque não existe tentativa de crime omissivo puro ou próprio.
Se a pessoa não se omite, não há crime algum. Se a pessoa se omite, o crime já está consumado pela
simples omissão.

2.4.5. Consumação

Se dá com a simples omissão. Portanto, esse crime é um crime omissivo puro ou próprio
(levando-se em consideração o dever de apurar, em que a omissão é imprópria). É aquele crime cujo
verbo do tipo é uma omissão.

3 QUALIFICADORAS

O art. 1°, § 3º, é uma forma qualificada dos outros crimes que vimos

Art. 1°, § 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a
dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.

O parágrafo 3º traz duas qualificadoras aplicáveis ao delito de tortura, que são:

• Lesão corporal grave ou gravíssima


• Morte

Essas figuras qualificadas são obrigatoriamente preterdolosas, ou seja, configuram-se somente


quando existe dolo de torturar e culpa em relação ao resultado qualificador (lesão grave ou morte).

Se o agente causar à vítima lesões corporais leves, não incidirá a qualificadora. Estar são
absorvidas pelo crime de tortura.

Atenção: Não se pode confundir homicídio qualificado pela tortura (121, §2°, III, do CP) com
tortura qualificada pela morte (art. 1°, §3° da lei de tortura). A diferença entre os dois crimes está no
dolo.

Homicídio Qualificado Pela Tortura Tortura Qualificada Pela Morte


Artigo 121, §2º, III do CP. Artigo 1º, §3º da lei 9.455/97
O dolo é de matar. O dolo é de torturar.
Há dolo de matar e a tortura é o meio de Há dolo de torturar e a morte é resultado
execução escolhido para matar. culposo decorrente da tortura.
25
Pena de 12 a 30 anos. Pena de 8 a 16 anos.
Competência do júri. Competência do juiz singular

É preciso, ainda, esclarecer que é possível a existência autônoma do crime de tortura simples
em concurso material com o homicídio. Suponha-se que os torturadores empreguem a violência ou
grave ameaça para obter uma informação da vítima e, após conseguirem a informação visada,
provoquem sua morte com disparos de arma de fogo. Nesse caso, a tortura não foi meio para a morte
e, assim, não pode qualificar o homicídio. Temos, na hipótese, um crime de tortura simples em concurso
material com o delito de homicídio (qualificado por visar o agente, com a morte da vítima, assegurar a
ocultação ou impunidade de crime anterior).

Prevalece na doutrina que a qualificadora só incide na tortura ativa (praticada pelo torturador
ativo). Não se aplica para quem se omite diante da tortura. Esta é a corrente que prevalece na doutrina.
Na jurisprudência ainda não foi possível identificar a corrente que prevalece.

4 CAUSAS DE AUMENTO

Art. 1º, § 4°. Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:

I - se o crime é cometido por agente público;

II - se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de 60


(sessenta) anos; (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)

III - se o crime é cometido mediante sequestro.

O §4º traz causas de aumento de pena, que devem incidir na terceira fase do critério trifásico
de aplicação da pena. São aplicáveis a todas as modalidades de tortura.

Em resumo são:

• POR agente público (CUIDADO COM PEGADINHA! As provas costumam colocar “contra
agente público”.
• Contra:
o Criança ou adolescente
o Gestante
o Portador de deficiência
26
o Maior de 60 anos
• Mediante sequestro (tem que ser meio para a tortura)

A causa de aumento do inciso I não pode ser aplicada a certos crimes da lei em que a condição
de funcionário público já é requisito do próprio tipo penal, como ocorre na figura do art. 1º, § 2º.

Quanto ao inciso III, para que incida essa causa de aumento, a privação da liberdade deve ser
utilizada como meio para a prática da tortura. Caso contrário, haverá concurso de crimes entre tortura
e sequestro ou cárcere privado (art. 148 do Código Penal).

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA – O STJ, no informativo número 589, decidiu que no caso de crime de


tortura perpetrado contra criança em que há prevalência de relações domésticas e de coabitação, não
configura bis in idem a aplicação conjunta da causa de aumento de pena prevista no art. 1º, § 4º, II, da
Lei nº 9.455/1997 (Lei de Tortura) e da agravante genérica estatuída no art. 61, II, "f", do Código Penal.

5 EFEITOS DA CONDENAÇÃO

Art. 1°, §5º - A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para
seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.

Trata-se de efeito da condenação, que só pode ser aplicado após o trânsito em julgado da
sentença penal condenatória. Esse efeito é AUTOMÁTICO (diferentemente do art. 92 do CP) e decorre
da condenação, não sendo necessária motivação expressa na sentença.

#PARAFIXAR - Efeitos da condenação (AUTOMÁTICOS!!!)

- Perda do cargo

- Interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena

6. NÃO CABIMENTO DE FIANÇA, GRAÇA OU ANISTIA

Art. 1°, § 6º - O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.

A proibição de concessão de fiança, da anistia e da graça trazida pelo legislador ordinário está
em perfeita compatibilidade com o art. 5°, XLlll da CRFB/88. Quanto ao indulto, nada mais é do que a
graça coletiva. Portanto, também não é cabível. Esse é o entendimento do STF.
27
REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DE PENA

O § 7º dispõe que o condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º (omissão
perante a tortura), iniciará o cumprimento da pena em regime fechado.

Entretanto, tendo em vista que o STF entende que o regime inicial fechado é inconstitucional
por violar o princípio constitucional da individualização da pena, da mesma forma que entendeu em
relação ao regime integralmente fechado, não se exige a obrigatoriedade de o condenado pelo delito de
tortura iniciar a pena privativa de liberdade em regime fechado.

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #AJUDAMARCINHO – informativo número 789 do STF. O STF já decidiu


que é inconstitucional a Lei que impõe o regime inicial fechado para os crimes hediondos e equiparados
(STF. HC 111.840-ES). Para o STJ, isso se aplica também ao delito de tortura, por ser este equiparado a
crime hediondo. Logo, o juiz deve desconsiderar a regra disposta no art. 1º, § 7º, da Lei nº 9.455/1997,
por ser esta norma também inconstitucional. Assim, não é obrigatório que o condenado por crime de
tortura inicie o cumprimento da pena no regime prisional fechado. O juiz, no momento da dosimetria
da pena, deverá seguir as regras do art. 33 do CP.

7 EXTRATERRITORIALIDADE

Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido cometido em território
nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira.

Esse artigo 2° trata da extraterritorialidade (aplicação da lei brasileira a um crime ocorrido fora
do Brasil) da lei de tortura. Ou seja, o art. 2° diz que a nossa lei de tortura é aplicada ao crime de tortura
ocorrido fora do Brasil, se:

• A vítima for brasileira


• O torturador se encontrar em território nacional

Nessas duas hipóteses a lei de tortura será aplicada ao crime de tortura ocorrido fora do Brasil. Trata-se
de extraterritorialidade incondicionada, uma vez que a presente lei não impôs qualquer condição.

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #AJUDAMARCINHO #STJ

- Recentemente, no informativo número 549, o STJ decidiu o seguinte: crime de tortura praticado contra
brasileiro no exterior: trata-se de hipótese de extraterritorialidade incondicionada. No Brasil, a
28
competência para julgar será da Justiça Estadual. O fato de o crime de tortura, praticado contra
brasileiros, ter ocorrido no exterior, não torna, por si só, a Justiça Federal competente para processar
e julgar os agentes estrangeiros. Isso porque a situação não se enquadra, a princípio, em nenhuma das
hipóteses do art. 109 da CF/88.

- (Inf. 549) - Tortura cometida contra brasileiro no exterior. Crime de tortura praticado contra brasileiro
no exterior: trata-se de hipótese de extraterritorialidade incondicionada (art. 2º da Lei 9.455⁄97). No
Brasil, a competência para julgar será da Justiça Estadual. O fato de o crime de tortura, praticado contra
brasileiros, ter ocorrido no exterior, não torna, por si só, a Justiça Federal competente para processar e
julgar os agentes estrangeiros. Isso porque a situação não se enquadra, a princípio, em nenhuma das
hipóteses do art. 109 da CF/88.

- (Inf. 556) - Termo inicial da prescrição de pretensão indenizatória decorrente de tortura e morte de
preso Determinada pessoa foi presa e torturada por policiais. Foi instaurado inquérito policial para
apurar o ocorrido. Qual será o termo de início da prescrição da ação de indenização por danos morais?
• Se tiver sido ajuizada ação penal contra os autores do crime: o termo inicial da prescrição será o
trânsito em julgado da sentença penal. • Se o inquérito policial tiver sido arquivado (não foi ajuizada
ação penal): o termo inicial da prescrição da ação de indenização é a data do arquivamento do IP.

- (Inf. 577) - Caracterização de tortura como ato de improbidade administrativa. A tortura de preso
custodiado em delegacia praticada por policial constitui ato de improbidade administrativa que atenta
contra os princípios da administração pública.

- (Inf. 589) - Ausência de bis in idem na aplicação do art. 1º, § 4º, II, da Lei de Tortura em conjunto com
a agravante do art. 61, II, "f", do Código Penal. No caso de crime de tortura perpetrado contra criança
em que há prevalência de relações domésticas e de coabitação, não configura bis in idem a aplicação
conjunta da causa de aumento de pena prevista no art. 1º, § 4º, II, da Lei nº 9.455/1997 (Lei de Tortura)
e da agravante genérica estatuída no art. 61, II, "f", do Código Penal.

8 DISPOSITIVOS PARA O CICLO DE LEGISLAÇÃO

LEI 9.455/97 NA ÍNTEGRA.

9 BIBLIOGRAFIA

Esse material é uma fusão das seguintes fontes:


- Livro de Gabriel Habib
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- Livro de Victor Eduardo Rios Gonçalves
- Livro de Renato Brasileiro
- Anotações pessoais de aulas

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