Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
UNICAMP - PROVA Estudos Da Presença Victoria Pérez Royo
UNICAMP - PROVA Estudos Da Presença Victoria Pérez Royo
UNICAMP - PROVA Estudos Da Presença Victoria Pérez Royo
Além disso, essa figura nos chama a atenção para o fato de que
a pesquisa não é um meio para alcançar um fim (extrair um pedaço
de conhecimento) por meio do qual o pesquisador tropeça no objeto
ou pula por cima para obtê-lo. Ao contrário: é o objeto em si (o tema
que foi descoberto, a situação que fascina, o campo a ser explorado)
e a relação que é formada com ele; essa é a finalidade do projeto de
pesquisa. O prazer do estudo encontra-se no encontro com o objeto
e não em uma meta hierarquicamente superior a ele.
Notas
1
Obviamente, para facilitar essa perspectiva que se concentra na subjetividade, é necessário
abstrair outras dimensões fundamentais da pesquisa, como seu caráter coletivo e relacional.
Abordei a dimensão coletiva e colaborativa da pesquisa em outros artigos. Veja Pérez Royo
(2012) e Pérez Royo e Monni (2015).
2
Quando conseguirmos reorganizar, ou pelo menos questionar, o funcionamento que
assumimos como válido na pesquisa em artes, seria interessante extrapolar essa pesquisa para
outros campos do conhecimento relacionados, como as humanidades, que na atualidade
seguem os critérios acadêmicos das ciências positivas, aplicando a eles seus procedimentos
específicos com algum grau de dificuldade. Concordo com a afirmativa de Dieter Lesage
de que essa é a grande oportunidade de debate sobre pesquisa nas artes (Lesage, 2012).
3
Enquanto outros aspectos da pesquisa, como a metodologia e a criação de ferramentas,
vêm recebendo atenção exponencialmente crescente nos últimos anos, a dimensão ética
da pesquisa foi relegada a conversas privadas sobre os detalhes das atividades básicas que
a maioria dos programas de mestrado assume para organizar, como seminários, círculos
de leitura, think tanks etc.
4
O potencial do amor para a mudança não foi negligenciado em outras áreas: provou ser
um termo muito interessante não apenas para examinar o potencial subversivo da pesquisa
artística, mas também para desafiar o pensamento político atual. A prova disso é a atenção
prestada a esse conceito nos últimos anos. Hardt e Negri recorrem ao amor no último
capítulo de Multidão, no qual é definido como “[...] uma manifestação de força que defende
a progressão histórica da emancipação e da libertação” (Hardt; Negri, 2004, p. 351) [2005,
p. 439]. Badiou, embora partindo de uma perspectiva diferente, também parece acreditar
firmemente no poder do amor para subverter positivamente nossos valores atuais (Badiou,
2009). Muitos outros autores (por exemplo, Beardsworth, 2006; Verwoert, 2009) também
trabalharam em uma direção parecida, libertando o conceito de amor de sua compreensão
burguesa (ligada a termos como posse e privacidade, restritos à área estreita da família) e
recuperando um conceito mais amplo dele.
5
Neste texto, optei, em muitos casos, por usar termos (sujeito pesquisador e objeto de pesquisa)
que não têm nenhum suporte nas relações recíprocas que defendo no conteúdo; meu objetivo
é forçar a linguagem, de tal maneira que alguém possa pensar um objeto como tendo as
características de um sujeito e vice-versa. Além disso, uso as expressões pesquisador, criador
e artista de maneira intercambiável.
Referências
BADIOU, Allain; TRUONG, Nicolas. In Praise of Love. London: Profile Books, 2012 [2009].
BARTHES, Roland. A Lover’s Discourse: fragments. New York: Hill and Wang, 2001 [1977].
BARTHES, Roland. Fragmentos de um Discurso Amoroso. 2. ed. Rio de Janeiro:
Francisco Alves, 1981.
BEARDSWORTH, Richard. A Note to a Political Understanding of Love in our Global Age.
Contretemps: an online journal of philosophy, Sydney, University of Sydney, n. 6, p. 2-10, jan. 2006.
Victoria Pérez Royo - Sobre a Pesquisa nas Artes: um discurso amoroso
Rev. Bras. Estud. Presença, Porto Alegre, v. 5, n. 3, p. 533-558, set./dez. 2015. 557
D i s p on í v e l e m : < ht t p: //w w w. s e e r.u f r g s .br/pr e s e nc a >
E-ISSN 2237-2660
DELEUZE, Gilles. Negotiations. New York: Columbia University Press, 1995 [1990].
DEVEREUX, Georges. From Anxiety to Method in the Behavioral Sciences. The
Hague/Paris: Mouton & Co., 1967.
DEWEY, John. Art as Experience. New York: Perigee Books, 1980 [1934].
HARDT, Michael; NEGRI, Toni. Multitude: war and democracy in the age of empire.
New York: The Penguin Press, 2004.
HARDT, Michael; NEGRI, Toni. Multidão: guerra e democracia na era do império. Rio
de Janeiro: Record, 2005.
LE ROY, Xavier. Product of Circumstances. 1999. 1 performance.
LESAGE, Dieter. Who’s Afraid of Artistic Research?: on measuring artistic research output.
In: LESAGE, Dieter; BUSCH, Kathrin (Org.). A Portrait of the Artist as a Researcher.
Antwerp: The Academy and the Bologna Process/MuHKA, 2009. P. 84-93.
LÉVI-STRAUSS, Claude. The Savage Mind. London: Weidenfeld and Nicolson, 1966 [1962].
MOLES, Abraham. La Creación Científica. Madrid: Taurus, 1986 [1934].
PÉREZ ROYO, Victoria. Knowledge and Collective Practice. In: BRANDSTETTER, Ga-
briele; KLEIN, Gabriele (Org.). Dance [and] Theory. Bielefeld: Transcript, 2012. P. 51-62.
PÉREZ ROYO, Victoria; MONNI, Kirsi. Composition: relatedness and collective learning
environments. In: ALLSOPP, Ric (Org.). Composition: poetics and procedure in indi-
vidual performance. Helsinki: Theatre Academy of the University of the Arts Helsinki/
Kinesis 6, 2015. P. 89-135.
WERVOERT, Jan. Masters and Servants of Love. Gas, Copenhagen, CA Andersson/The
Danish Arts Council, n. 4, p. 8-17, 2009.
Victoria Pérez Royo é professora assistente de Estética e Teoria das Artes na Facul-
dade de Filosofia da Universidad de Zaragoza, co-diretora do Mestrado em Artes
Cênicas e Cultura Visual da Universidad de Castilla-La Mancha e do museu Reina
Sofía (Madri), professora convidada de programas internacionais de pesquisa em
Artes Dramáticas na Europa. É membro da Artea (www.arte-a.org), onde coordenou
diversos projetos. É editora, juntamente com José A. Sánchez, do livro Practice and
Research (2010).
E-mail: vicpr@unizar.es
Este texto inédito, traduzido por Ananyr Porto Fajardo, também se encontra publi-
cado em inglês neste número do periódico.