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CENTRO UNIVERSITÁRIO FACULDADE DE MEDICINA DO ABC

ANA CLÁUDIA GONTIJO GUIMARÃES

ANA LUIZA MUNIZ FERNANDES BEZERRA

A Terapia Ocupacional no Ensino das AVDs para Crianças com Autismo.

Santo André
2022
1

1
Sede: Av. Príncipe de Gales, 821 – Bairro Príncipe de Gales – Santo André, SP – CEP:
09060-650 (Portaria 1) Av. Lauro Gomes, 2000 - Vila Sacadura Cabral - Santo André / SP -
CEP: 09060-870 (Portaria 2) Telefone: (11) 4993-5400 ou www.fmabc.br#
ANA CLÁUDIA GONTIJO GUIMARÃES

ANA LUIZA MUNIZ FERNANDES BEZERRA

A Terapia Ocupacional no Ensino das AVDs para Crianças com Autismo.

Trabalho de Conclusão de
Curso apresentado ao Centro
Universitário FMABC, como
requisito parcial para obtenção do
título de Bacharel em Terapia
Ocupacional.

Orientadora: Prof. Natasha


Carreno
Co-orientadora: Prof. Renata Tizo
Momesso

Santo André

2022
EPÍGRAFE

“Não podemos nos assumir como sujeitos da procura, da decisão,


da ruptura, da opção, como sujeitos históricos, transformadores, a não
ser assumindo-nos como sujeitos éticos(...) E por esta ética inseparável
da prática educativa, não importa se trabalhamos com crianças, jovens ou
com adultos, que devemos lutar”.

Paulo Freire.
RESUMO

O Transtorno do Espectro do Autismo é caracterizado por déficits


significativos na comunicação, na interação social e na rigidez
comportamental, dificuldades que podem interferir na participação das
AVDs. O desempenho nas AVDs é importante para que as criança se sinta
capaz realizar suas necessidades básicas, garantindo assim maior
autonomia, independência e participação em seu ambiente domiciliar. As
práticas e atuação do profissional de Terapia Ocupacional na reabilitação
de pessoas com autismo ocorre a partir de intervenções para aprimorar
o desempenho ocupacional, o que, em grande parte, refere-se às AVDs.
Portanto o objetivo deste estudo foi realizar uma revisão bibliográfica
para analisar o que há na literatura referente a atuação da Terapia
Ocupacional na intervenção das Atividades de Vida Diária de crianças e
adolescentes com TEA e identificar o trabalho com os familiares e
cuidadores a respeito da orientação e treinamento sobre as AVDs,
visando potencializar o ganho de independência da criança e
consequentemente o alívio de sobrecarga dos cuidadores.

Foi possível observar que o trabalho do terapeuta ocupacional,


abarca instrumentos de avaliação e aplicação direcionados, bem como
estratégias de ensino de país para aumentar a participação das crianças e
adolescentes nas atividades do dia a dia e que capacitar pais com
conhecimentos e habilidades para ensinar seus filhos com TEA fornece
recursos para o melhor desenvolvimento da criança e potencializa o
efeito do tratamento, aprimorando o processo terapêutico e contribuindo
para a qualidade de vida familiar.

Palavras-Chave: Atividades de Vida Diária, Transtorno do Espectro


Autista e Terapia Ocupacional; Atividades de Vida Diária, Transtorno do
Espectro Autista e Família.
ABSTRACT

Autism Spectrum Disorder is characterized by significant deficits in


communication, social interaction and behavioral rigidity, difficulties that
can interfere with participation in ADLs. Performance in ADLs is important
for children to feel able to fulfill their basic needs, thus ensuring greater
autonomy, independence and participation in their home environment.
The practices and performance of the Occupational Therapy professional
in the rehabilitation of people with autism are based on interventions to
improve occupational performance, which, in large part, refer to ADLs.
Therefore, the objective of this study was to carry out a bibliographical
review to analyze what is in the literature regarding the role of
Occupational Therapy in the intervention of Activities of Daily Living of
children and adolescents with ASD and to identify the work with family
members and caregivers regarding guidance and training on ADLs,
aiming to enhance the child's independence gain and consequently
relieve caregivers' burden.
It was possible to observe that the work of the occupational therapist
encompasses targeted assessment and application instruments, as well
as country teaching strategies to increase the participation of children
and adolescents in day-to-day activities and that empower parents with
knowledge and skills to teach their children with ASD provides resources
for the best development of the child and enhances the effect of the
treatment, improving the therapeutic process and contributing to the
quality of family life.

Keywords: Activities of Daily Living, Autism Spectrum Disorder


and Occupational Therapy; Activities of Daily Living, Autism
Spectrum Disorder and Family.
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Quadro de ocupações referente às AVD’s

Tabela 2: Artigos selecionados


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. O Transtorno do Espectro Autista e seus impactos nas atividades


cotidianas

2.2. O papel do Terapeuta Ocupacional no ensino da AVDs.

2.3. Saúde e sobrecarga de pais e cuidadores de crianças no espectro


autista.

3. METODOLOGIA

4. RESULTADOS

5. DISCUSSÃO

6. CONCLUSÃO

REFERÊNCIAS
1. INTRODUÇÃO
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é caracterizado por déficits
persistentes na comunicação e interação social em vários contextos, incluindo
alterações na reciprocidade social, comportamentos comunicativos não verbais
usados para interação social e habilidades para desenvolver, manter e
compreender relacionamentos (APA, 2015).

Os sintomas causam prejuízos significativos no funcionamento social,


acadêmico e ocupacional da criança com autismo. No ambiente doméstico, as
dificuldades relacionadas à quebra na rotina e mudanças, bem como as
Disfunções de Integração Sensorial, podem interferir e tornar difícil o
desempenho das Atividades de Vida Diária (AVD) como por exemplo a
alimentação e o sono. Podemos citar, ainda, as dificuldades extremas para
planejar, organizar e enfrentar mudanças, que acabam por causar impacto
negativo no desenvolvimento de autonomia e independência das ocupações e
no aprendizado das habilidades de desempenho, de maneira que o cuidador
passa a desempenhar papel fundamental no desenvolvimento dessa criança.
(APA, 2014)

Um diagnóstico de TEA está associado a uma sobrecarga substancial do


cuidador, incluindo níveis mais altos de estresse parental, maior risco de
consequências psicológicas e emocionais negativas e perda/redução financeira
e de emprego (GALPIN et al., 2018; LINDLY et al., 2016). Tais adversidades
aumentam a carga do cuidador, limitando o acesso das famílias a cuidados de
saúde de qualidade. Além disso, o aumento do estresse do cuidador e o menor
bem-estar contribuem para resultados ruins nos ganhos de habilidades de
crianças com TEA (SMITH & ANDERSON, 2014). Portanto, identificar as
necessidades de apoio à criança e à família é necessário para ajudar a projetar
serviços que atendam efetivamente às necessidades e, facilitem os resultados
ideais para a criança com TEA.

A participação nas Atividades da Vida Diária estão entre os objetivos e


funções da Terapia Ocupacional. Segundo a American Occupational Therapy
Association (AOTA) é papel do terapeuta ocupacional testar e avaliar as AVDs
adequar e estruturar o ambiente e equipamento, selecionar e graduar as
atividades, modificar as atividades e adaptar os métodos de ensino, auxiliar o
paciente na integração com a família, trabalho e comunidade, favorecendo a
competência para o autocuidado, independência no cuidado da casa, o
ajustamento psicossocial, a tolerância e a preparação para o trabalho. O
profissional é capacitado para realizar outras ações como assistência no
planejamento de modificações em casa ou no trabalho, encorajar o paciente a
desenvolver segurança nas habilidades necessárias para o seu ajustamento na
vida diária e na aquisição de máxima independência, e por fim, treinar o
paciente no autocuidado e na independência no máximo de suas capacidades
(AOTA, 1958).

Portanto, diante do contexto apresentado e pela relevância do tema


apresentado, o objetivo geral deste estudo foi realizar uma revisão bibliográfica
para analisar e discorrer sobre o que há na literatura referente a atuação da
Terapia Ocupacional na intervenção das Atividades de Vida Diária de crianças
e adolescentes com TEA. Como objetivo específico, esse estudo pretende
identificar o trabalho com os familiares e cuidadores a respeito da orientação e
treinamento sobre as AVDs, visando potencializar o ganho de independência
da criança e consequentemente no alívio de sobrecarga dos cuidadores e da
família.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. O Transtorno do Espectro Autista e seus impactos nas atividades


cotidianas

O Transtorno do Espectro Autista caracteriza-se por déficits persistentes


na comunicação social e na interação social e em habilidades para
desenvolver, manter e compreender relacionamentos. Além dos déficits na
comunicação social, o diagnóstico do TEA requer a presença de padrões e
interesses restritos e repetitivos de comportamento.

Para o diagnóstico é necessário a permanência do prejuízo na


comunicação, interação social e nos padrões restritos e repetitivos de
comportamento. Esses sintomas estão presentes desde o início da infância e
limitam ou prejudicam o funcionamento diário. O estágio em que o prejuízo
funcional fica evidente irá variar de acordo com características do indivíduo e
seu ambiente. (APA, 2013). O comprometimento do sujeito com TEA pode
ocorrer em três níveis de gravidade, que é definido pelo grau de
necessidade de apoio do indivíduo (APA, 2014):

● Nível um: necessita de apoio com prejuízo


funcional notado sem suporte, demonstra dificuldade em
iniciar interações sociais, apresenta respostas atípicas
ou não sucedidas para abertura social, tem interesse
diminuído nas interações sociais, falência na
conversação e tentativas de fazer amigos de forma
estranha e mal sucedida. O seu comportamento interfere
significativamente com a função. A criança apresenta
dificuldade para trocar de atividades e tem
independência limitada por problemas com organização
e planejamento.

● Nível dois: precisa de apoio substancial


com déficits evidentes na conversação, prejuízos
aparentes, mesmo com suporte, iniciação limitada nas
interações sociais e resposta anormal e/ou reduzida a
aberturas sociais. Tem comportamentos suficientemente
frequentes, sendo óbvios para observadores casuais, o
comportamento interfere com função, numa grande
variedade de ambientes e dificuldade para mudar o foco
ou ação.

● Nível três: requer muito apoio substancial,


exibe prejuízos graves no funcionamento, a iniciação de
interações sociais são muito limitadas e as respostas a
aberturas sociais mínimas. O seu comportamento
interfere marcadamente com função em todas as
esferas, dificuldade extrema de lidar com mudanças,
grande aflição/dificuldade de mudar o foco ou ação.
De acordo com Kao (2012), o que se observa na prática terapêutica com
crianças no TEA, tanto no Brasil quanto em outros países, é que estes sinais e
sintomas tornam a aquisição de habilidades para as atividades cotidianas e na
infância difíceis de serem alcançadas e, por isto, precisam de cuidados de
profissionais diversos. Embora a literatura disponibilize evidências sobre as
restrições na participação destas crianças nas AVDs, baseadas nos sintomas
que podem apresentar, as informações sobre o impacto no desempenho de
atividades diárias desta população necessitam de mais estudos (KAO et al.,
2012).

Segundo estudo de Vitorino (2014) cujo objetivos foram descrever o perfil


funcional e sensorial de crianças com autismo e analisar as implicações para a
prática da Terapia Ocupacional, as maiores dificuldades das sete crianças
avaliadas foram em tarefas de higiene pessoal, tarefas de toalete e vestir. O
estudo também reforça que crianças com autismo apresentam disfunções no
processamento sensorial que poderão interferir nas ocupações que participam,
além de servir como uma barreira para adquirir novos papéis comuns à infância
.As demandas para ter desempenho satisfatório nas AVDs requerem
habilidades percepto-sensoriais, práxicas e motoras, já que a resposta
sensorial interfere nas atividades do cotidiano (JASMIM, et al., 2009;
REYNOLDS, et al., 2011).

A integração sensorial é definida como a capacidade de processar,


integrar e organizar os inputs sensoriais provenientes do corpo e do ambiente,
a fim de que seja possível uma resposta adaptativa do indivíduo, frente às
demandas funcionais. Nesse sentido, o sistema nervoso central deve ser capaz
de perceber, selecionar, melhorar, inibir, comparar e associar as informações
sensoriais em padrões flexíveis, constantes e mutáveis, podendo, assim,
trabalhar de forma integrativa (AYRES, 1989; SCHAAF; MAILLOUX, 2015).
Quando esse processo não acontece conforme o esperado, podem surgir as
Disfunções de Integração Sensorial (DIS).

A DIS é uma condição que afeta crianças com o desenvolvimento típico e


atípico, uma vez que de 10 a 15% das crianças sem deficiência diagnosticada
têm dificuldades nessa área. Essa estimativa aumenta para 40% a 90%, nas
crianças com várias modalidades diagnósticas (BEN-SASSONEN, 2009;
CHEUNG, SIU, 2009). Estudos demonstram que cerca de 45% a 96% de
indivíduos com TEA apresentam algum tipo de Disfunção de Integração
Sensorial , que levam a ter dificuldade para se adaptarem aos estímulos
sensoriais que envolvem o ambiente, tendo tais alterações impacto direto em
sua participação social (HOWE & STAGG, 2016; METZ et al., 2019).

O perfil sensorial, questionário desenvolvido por Winnie Dunn (1999) tem


sido o protocolo mais utilizado para identificar problemas no processamento
sensorial que podem estar ligados ao desempenho nas ocupações
(REYNOLDS et al., 2011). O Perfil Sensorial possibilita a avaliação das
possíveis contribuições do processamento sensorial para os padrões de
desempenho diário da criança, além de informar se suas tendências de
resposta aos estímulos dos diversos sistemas sensoriais favorecem ou
dificultam seu desempenho funcional (DUNN, 1999; MAGALHÃES, 2008).

As práticas e atuação do profissional de Terapia Ocupacional na


reabilitação de pessoas com autismo ocorre a partir de intervenções com o
intuito de aprimorar o desempenho ocupacional em todas as áreas de vida,
com o enfoque na demanda principal do paciente (MAPURUNGA, 2021).
Nesse contexto, uma melhor visualização a respeito dos aspectos sensoriais,
observadas a partir das avaliações e atividades ofertadas, permitem que o
terapeuta ocupacional possa ter uma percepção melhor e mais qualitativa,
delineando assim estratégias de intervenção a serem adotadas (SOUSA,
2020).

2.2. O papel do Terapeuta Ocupacional no ensino da AVDs.

Segundo definição do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia


Ocupacional (COFFITO) a Terapia Ocupacional é uma profissão da área da
saúde que objetiva promoção, prevenção, desenvolvimento, tratamento e
recuperação do indivíduo, visando ampliar seu desempenho em todo o
contexto biopsicossocial da vida cotidiana, e que é função do Terapeuta
Ocupacional operar com as capacidades de desempenho das AVDs.
(COFFITO)

A literatura descreve a ocupação como vários tipos de atividades


cotidianas nas quais indivíduos, grupos ou populações se envolvem, incluindo
Atividades de Vida Diária , Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVD),
descanso e sono, educação, trabalho, brincar, lazer, participação social e
gestão em saúde. Entre as ocupações, o desempenho nas Atividades de Vida
Diária, além de necessário para o sujeito viver em sociedade, proporciona
independência e bem estar.

A tabela 1 a seguir apresenta a descrição das AVDs, caracterizadas pela


AOTA.

Tabela 1: Quadro de ocupações referente às AVD’s

Ocupação Descrição

Tomar banho Obtenção e utilização de materiais para o banho; ensaboar,


enxaguar e secar partes do corpo; manter a posição de
banho; transferência de e para as posições de banho.

Higiene Sanitária Obtenção e uso de materiais de higiene, gestão de roupas,


manutenção da posição na sanita, transferência de e para a
sanita, limpeza do corpo, cuidados com as necessidades
menstruais e de continência, mantendo o controle
intencional dos movimentos intestinais e urinários.

Vestir Seleção de roupas e acessórios tendo em consideração a


hora do dia, o clima e a apresentação desejada; ir buscar
roupa ao armário ou gaveta; vestir e despir de forma
sequencial; apertar e ajustar roupas e sapatos; aplicar e
remover dispositivos pessoais.

Comer e engolir Manter e manipular alimentos sólidos ou líquidos na boca,


engolindo-os (ou seja, movendo-os da boca para o
estômago).

Alimentação Preparar, organizar e levar comida ou líquido do recipiente


para a boca.

Mobilidade Funcional Mover-se de uma posição ou lugar para outro (durante a


realização de atividades quotidianas), como mobilidade na
cama, mobilidade em cadeira de rodas e transferências (p.
ex., cadeira de rodas, cama, carro, chuveiro, banheira,
sanita, cadeira, chão); inclui deambulação funcional e
transporte de objetos

Higiene pessoal e cuidados pes Obtenção e utilização de materiais de higiene; aplicação e


remoção de cosméticos; lavar, secar, pentear, modelar,
escovar e aparar o cabelo; cuidar de unhas; cuidar da pele,
orelhas, olhos e nariz; aplicação de desodorizante; limpar a
boca; escovar os dentes e utilizar fio dentário; remover,
limpar e reinserir ortóteses e próteses dentárias

Atividade sexual Envolver-se nas amplas possibilidades de expressão e


experiências sexuais consigo mesmo ou com outros (p. ex.,
abraços, beijos, preliminares, masturbação, sexo oral,
relação sexual).
AOTA, 2020.
As AVDs que fazem parte do desenvolvimento infantil e esperadas que
crianças realizem são: banho, vestuário, alimentação, uso do banheiro e
higiene oral. O desempenho nessas atividades é importante para que a criança
se sinta capaz realizar suas necessidades básicas, garantindo assim maior
autonomia, independência e participação em seu ambiente domiciliar e outros
contextos que está inserida (GUERZONI et al. 2008). De acordo com
Matsukura, Marturano (2001) é fundamental destacar a presença do Terapeuta
Ocupacional na equipe durante a avaliação e intervenção nas AVD, pois estes
possuem sua formação voltada para a análise das atividades do cotidiano.

Ao realizar a intervenção com a criança com TEA, com o objetivo de


promover o melhor desempenho ocupacional, o terapeuta ocupacional pode
pautar sua prática em atividades lúdicas, gerando criatividade, favorecendo a
criação de estratégias para a resolução das atividades vividas no dia a dia
(GRADIM et al. 2020). Considerando as alterações no processamento
sensorial, por meio da Terapia de Integração Sensorial, o profissional pode
organizar a oferta sensorial, visando respostas adaptativas que impactem
positivamente o desempenho funcional, as capacidades de autorregulação e as
habilidades sensório-perceptivas-motoras (COSTA; PFEIFER, 2016).
Por fim, Gradim e colaboradores (2020), também destacam o papel
importante da família e cuidadores, que auxiliam as intervenções, visto que
estão nos diversos contextos além do ambiente clínico em que a criança com
TEA está inserida.

2.3. Saúde e sobrecarga de pais e cuidadores de crianças no


espectro autista.

O marco mais importante no desenvolvimento infantil está vinculado à


capacidade da criança de ter autonomia e independência para executar suas
principais atividades, entendendo ser capaz de realizar suas AVD, para que
tenha avanços em suas competências e ganhe áreas sociais mais amplas
(FIGUEIRAS et al., 2005).

Os prejuízos no funcionamento social e ocupacional da criança com


autismo, bem como possíveis Disfunções de Integração Sensorial podem
tornar os cuidados de rotina difíceis como por exemplo as Atividades de Vida
Diárias relacionadas aos cuidados pessoais, alimentação e sono (Andrade,
2020).

Para famílias, os desafios de cuidar geralmente surgem quando a criança


tem dificuldades em participar de tarefas diárias. Crianças com autismo muitas
vezes têm habilidades atrasadas de se vestir, se arrumar, utilizar o banheiro e
tomar banho (DALRYMPLE & RUBLE, 1992; GREEN, GILDCHRIST, BURTON,
& COX, 2000; HOWLIN, MAHWOOD, & RUTTER, 2000). Ficar sozinha pode
ser um problema e mesmo à noite pode haver perturbações significativas na
vida familiar como dificuldade em iniciar ou manter o sono, despertar noturno e
birras noturnas (GREEN et al., 2000; SCHRECK & MULIK, 2000).

O estudo de Larson (2010), que teve como objetivo avaliar o bem-estar


dos cuidadores e esclarecer por que os cuidadores de crianças com autismo
costumam ser mais estressados por seus cuidados do que os cuidadores de
crianças com outras deficiências, identificou que mães das crianças com
autismo co-regulam as respostas sociais e emocionais de seus filhos por meio
de constante atenção, diminuindo as demandas e facilitando o nível, qualidade
e velocidade do desempenho. Sendo constantemente vigilantes e antecipando
problemas, as mães podem estar em risco de uma cascata de influências do
sistema nervoso autônomo, como uma desregulação aumentada de seu
próprio humor e sono, decréscimos de memória, ansiedade e depressão
(SAPOLSKY, 2003). Para garantir que seus filhos sejam capazes de concluir as
atividades cotidianas, os cuidadores precisam supervisionar rotineiramente
essas tarefas, provocando uma necessidade contínua de vigilância.

Compreender a intensidade desse trabalho permite que os terapeutas


sejam mais sensíveis às circunstâncias familiares ao sondar as necessidades e
sugerir atividades domésticas. Destacar essas dificuldades diárias permite que
os terapeutas evoquem melhor as questões centrais a serem abordadas na
intervenção terapêutica (LARSON, 2001). Neste sentido, a necessidade de
vigilância pode ser minimizada por meio de intervenções terapêuticas
ocupacionais que abordem as restrições de participação independente nas
AVDs para aliviar as demandas dos cuidadores estressados.
2. MÉTODO
Este trabalho trata-se de uma revisão bibliográfica que buscou estudos
nas bases de dados PubMed, Scielo e BVS. Os descritores foram escolhidos
conforme os Descritores em Ciências da Saúde (DECs), considerando os
idiomas inglês e português e utilizando o operador booleano “AND”, sendo
estes: Activities of Daily Living AND Autism Spectrum Disorder AND
Occupational Therapy; Atividades de Vida Diária AND Transtorno do Espectro
Autista AND Terapia Ocupacional; Activities of Daily Living AND Autism
Spectrum Disorder AND Family; Atividades de Vida Diária AND Transtorno do
Espectro Autista AND Família.

Os critérios de inclusão estabelecidos foram: artigos completos


publicados nos últimos 5 anos, que abordassem a temática deste trabalho. Os
critérios de exclusão definidos foram: estudos de revisão bibliográfica, estudos
com adultos, estudos relacionados a outros transtornos e estudos não
relacionados ao tema abordado.

Fonte: elaborado pelas autores

3. RESULTADOS

A partir da busca realizada através das palavras chave “Activities of Daily


Living AND Autism Spectrum Disorder AND Family” 72 artigos foram
encontrados na base de dados Pubmed, após breve leitura do material 31
foram imediatamente excluídos com base nos critérios de inclusão, 24 artigos
foram selecionados para leitura dos resumos, destes 7 foram excluídos por se
tratarem de adultos ou por serem revisões de literatura

Na busca realizada através dos descritores “Activities of Daily Living AND


Autism Spectrum Disorder AND Occupational Therapy” 35 artigos foram
encontrados, destes 21 foram excluídos por estarem duplicados ou por não
estarem de acordo com os critérios de inclusão, 14 artigos foram selecionados
para leitura dos resumos, destes 8 foram excluídos por serem revisões de
literatura ou se tratarem de estudos com adultos.

Foram encontrados 107 artigos no total, sendo 19 deles incluídos nesta


revisão. Nenhum artigo foi encontrado nas bases de dados para os descritores
em português e nenhum artigo foi encontrado na base de dados Scielo para
nenhum dos descritores utilizados.

O nome dos artigos, autores, ano, objetivo e resultados de cada estudo


encontrado estão na Tabela 2.

Tabela 2: Artigos selecionados

Nome do artigo Autores e ano Objetivo Resultados

Associations
Among Daily
Avaliar a relação entre
Living Skills,
os escores sensoriais e Os resultados indicaram uma
Motor, and
Travers et al. motores combinados e forte relação entre as
Sensory
(2022) o desempenho de dificuldades motoras e todos
Difficulties in
AVDS entre crianças os domínios do AVDs.
Autistic and
autistas e não autista.
Nonautistic
Children
Brief Report: Examinar a associação Os resultados sugerem que
Postural Balance entre o equilíbrio um equilíbrio mais pobre foi
and Daily Living Fishera et al postural e o associado a um desempenho
Skills in Children (2018) desempenho nas AVDs pior nas AVDs, mas apenas
and Adolescents em crianças e em indivíduos com QI abaixo
with Autism adolescentes com TEA da média.
Can a
combination of
Os resultados revelaram que o
mental health Examinar as relações
tipo de uso do serviço previu
services and ADL entre domínios
significativamente a satisfação
therapies improve Fong et al. específicos de FQOL e
das famílias com seu
quality of life in (2020) tipo de uso de serviço
bem-estar emocional, bem
families of entre famílias de
estar físico/material e suporte
children with crianças com TEA.
relacionado à deficiência.
autism spectrum
disorder?
Foram identificadas
estratégias que os cuidadores
usam para aumentar a
participação em atividades
Determinar quais
Caregiver domésticas e comunitárias
estratégias os
strategies to para crianças com transtorno
cuidadores usaram para
enhance do espectro autista. As
Schiavone et al. apoiar a participação
participation in estratégias do cuidador
(2018) nas atividades da vida
children with identificadas neste estudo
diária em casa e na
autism spectrum podem ser úteis para outros
comunidade com seus
disorder cuidadores testarem com seus
filhos com TEA.
filhos para aumentar sua
participação em uma
variedade de atividades
domésticas e comunitárias.
Identificar as atividades
diárias mais frequentes
que ocorreram para as
mães e seus filhos com
TEA, examinar a
relação entre a
proporção de tempo em
Child-rearing
que as mães se Os resultados demonstraram a
routines among
dedicam a uma importância de se envolver em
Mexican-heritage Cohen, Miguel ,
atividade específica e o atividades sociais conjuntas
children with Guerra (2020).
valor percebido dessa para aumentar o envolvimento
autism spectrum
atividade e identificar social e não-verbal.
disorder
atividades diárias
específicas que eram
mais prováveis ​de
ocorrer durante as
horas do dia em qual
intervenção do TEA
ocorreu.
Content Validity of
the Parentship
Promover a resiliência
Protocol: A O estudo forneceu suporte
Wachspress, parental e aumentar a
Multidimensional para a validação de conteúdo
Maeir e Karsenty participação dos
Intervention for e aceitabilidade do protocolo
(2018) adolescentes na vida
Parents of Parentship.
diária.
Adolescents with
High-Functioning
Autism Spectrum
Disorder
Verificar se o
Efficacy of Social O desempenho das crianças
desempenho na
Story Intervention melhorou significativamente
escovação dos dentes e
in Training após o uso de histórias
o estado de higiene
Toothbrushing Zhou, Wong, sociais. No entanto, não houve
bucal em crianças com
Skills Among McGrath. (2020) diferenças significativas no
autismo seriam
Special-Care desempenho da escovação
alterados após o uso da
Children With and entre crianças com e sem
intervenção da história
Without Autism autismo.
social.
O tutorial parental se
demonstrou eficaz para
Examinar se o tutorial melhorar os resultados
parental é eficaz para principais dos pais
Enhancing melhorar os resultados imediatamente e um mês
Interactions que são: (a) específicos depois da conclusão.
during Daily da rotina e diretamente Enquanto o pais do grupo
Routines: A direcionados por seu Tutorial obteve aumento do
Randomized conteúdo (ou seja, uso parental de estratégias
Ibañez et al.
Controlled Trial of resultados proximais); e baseadas em evidências em
(2018)
a Web-Based (b) relacionados à T2 e T3; diminuição do
Tutorial for comunicação social estresse parental e aumento
Parents of Young infantil e ao da eficácia parental em T3; e
Children with relacionamento melhor envolvimento da
ASD pais-filhos em contextos criança durante as rotinas e
mais amplos (ou seja, comunicação social mais
resultados amplos). ampla em T2 e T3. O grupo de
controle não exibiu tais
ganhos.
Evaluation of a
.
telehealth parent O resultado do estudo
Avaliar um programa de
training program Boutain, identificou melhores resultados
orientação sobre as
in teaching Sheldon, nas habilidades das crianças
habilidades de
self-care skills to Sherman (2020) após treinamento e orientação
autocuidado para pais
children with para os pais.
de crianças com TEA
autism
Um total de 46,3% dos
Exploring the Explorar os padrões de
participantes teve uma
Participation participação de crianças
diferença de ±1 nível,
Patterns and pré-escolares com TEA
enquanto apenas 2% tiveram
Impact of Khalifa et al (3 a 6 anos de idade) e
uma diferença de 2 níveis. No
Environment in (2020) investigar o impacto de
geral, os pais relataram que
Preschool diferentes fatores
seus filhos participam de uma
Children with ambientais e individuais
variedade de atividades em
ASD em sua participação.
casa e na comunidade.
Descrever o
desenvolvimento do O DRA apresentou
Questionário de Rotina confiabilidade interna de
Diária e Autonomia moderada a alta para fatores e
(DRA), desenvolver a escores totais. Os
Full-information
validade de construto participantes apresentaram
factor analysis of
do questionário via FIFA independência parcial na
the Daily Routine
e relatar a maioria das atividades diárias,
and Autonomy
confiabilidade da com alto desejo de
(DRA) Lamashÿ,
consistência interna. independência nas atividades
questionnaire Josman. (2020)
Além disso, o estudo sociais e de lazer. Lacunas
among
pretendeu descrever os significativas em metade dos
adolescents with
níveis de desejo de itens do DRA indicam que o
autism spectrum
independência, bem desejo de independência dos
disorder
como as lacunas participantes era
significativas entre o significativamente maior do
nível e o desejo que seu nível de
percebidos pelos independência.
adolescentes com TEA.
O objetivo principal
deste artigo é detalhar o
desenvolvimento
Iterative
iterativo de uma
Development of a Os resultados indicaram que o
intervenção em AVDs
Daily Living Skills grupo de tratamento STRW
específicas para
Intervention for Duncan, Liddle e obteve ganhos significativos
adolescentes com TEA
Adolescents with Stark (2021) no domínio Vineland-3 AVDs
sem uma comorbidade
Autism Without em comparação com o grupo
ID que inclui os estudos
an Intellectual de controle da lista de espera.
iniciais de viabilidade
Disability
que demonstram taxas
promissoras de eficácia
e aceitabilidade.
Explorar e comparar as
perspectivas dos pais
Parent
sobre (1) a participação
perspectives on
de crianças com e sem
home
transtorno do espectro
participation of Os resultados destacam a
do autismo em
high-functioning importância dos aspectos
atividades em casa, (2)
children with Egilson, ambientais e apontam como
as características e
autism spectrum Jakobsdóttir, os profissionais podem apoiar
recursos ambientais
disorder Ólafsdótti. (2018) as famílias em seus esforços
que afetam a
compared with a para promover a participação
participação dessas
matched group of de seus filhos em casa
crianças em casa e (3)
children without
a estratégias que os
autism spectrum
pais usam para ajudar
disorde
seus filhos a participar
em casa
Seis categorias foram
identificadas: (1) pais
intervindo e ignorando, (2)
preparação de refeições e
adaptabilidade, (3) brincadeira
Parents’
Identificar e descrever e imaginação, (4) distrações,
Strategies to
as estratégias que os (5) reforços positivos e (6)
Support Mealtime
pais usam para apoiar a modelagem. Adereços –
Participation of Ausderau et al.
participação nas objetos infantis comuns que
Their Children (2020)
refeições de seus filhos apóiam a participação da
With Autism
com transtorno do criança na hora da refeição –
Spectrum
espectro autista (TEA). foram usados ​no contexto de
Disorder
múltiplas estratégias. Além
disso, o aumento da vigilância
dos pais surgiu como um
componente importante de
todas as refeições da família.
Promoting Daily Avaliar os efeitos do
Os resultados indicaram que
Living Skills for BST com coaching de
os pais foram bem-sucedidos
Adolescents with acompanhamento para
Torres et al. na aplicação dos
Autism Spectrum ensinar os pais a
(2020). procedimentos de treinamento
Disorder via entregar VP usando um
e seus filhos adquiriram e
Parent Delivery of iPad para ensinar AVD
mantiveram as habilidades.
Video Prompting a seus filhos com TEA.
Relationship
O estudo mostra que
Between the
crianças pequenas com TEA
Performance of
A relação entre o demonstram dificuldade
Self‐Care and
desempenho do significativa tanto
Visual Perception
autocuidado e a no autocuidado quanto na
Among Young
Chi e Lin. (2020) capacidade de percepção visual, e tiveram
Children With
percepção visual em pontuações
Autism Spectrum
crianças pequenas com significativamente mais baixas
Disorder and
TEA nessas áreas do que as
Typical
crianças com
Developing
DT.
Children
Os resultados indicaram que
Relationships existem relações significativas
Between entre renda familiar e
Household Explorar as relações comportamento de
Income and entre renda familiar e independência funcional
John, Ausderau.
Functional comportamento de (SIB-R SS e SIB-R Support)
(2021)
Independent independência funcional para crianças com TEA ao
Behavior for para crianças com TEA controlar a gravidade dos
Children With sintomas, idade do diagnóstico
Autism e recebimento de serviços de
intervenção.
Avaliar até que ponto
um pai implementou um
procedimento de A intervenção aumentou a
encadeamento total de conclusão independente de
Telehealth parent tarefas, com duas a três das três
coaching to treinamento fornecido habilidades de vida diária
improve daily Gerow (2021) por meio da tecnologia direcionadas para cada
living skills for de telessaúde, levaria a participante. No geral, os
children with ASD um aumento na participantes alcançaram o
conclusão independente critério de domínio para sete
das habilidades da vida das 12 habilidades visadas.
diária para crianças
com TEA.
Os resultados deste estudo
indicam que os Props foram
usados para promover a
participação da criança nas
Use of Props
refeições da família, apoiando
During Mealtime
Explorar a frequência e a regulação da criança ou
for Children With
caracterizar a finalidade fornecendo reforço
Autism Spectrum Muesbeck1
dos Props usados comportamental. No entanto, a
Disorders: (2018)
​durante as refeições eficácia dos Props durante as
Self-Regulation
com crianças com TEA. refeições não pode ser
and
necessariamente determinada
Reinforcement
no contexto do conjunto de
dados atual, mas seria
importante considerá-la em
estudos futuros.
5. DISCUSSÃO

A pessoa com diagnóstico de TEA pode encontrar alterações na


comunicação e interação social em vários contextos, incluindo alterações na
reciprocidade social, comportamentos comunicativos não verbais usados para
interação social e habilidades para desenvolver, manter e compreender
relacionamentos (APA, 2015), o que pode acarretar em prejuízos no
desempenho ocupacional, neste sentido, o estudo de Travers (2022) indica que
crianças com habilidades motoras diminuídas demonstram atuação nas AVDs
prejudicada, assim como o artigo de Fishera (2018) indica que o equilíbrio
prejudicado foi associado a um desempenho inferior nas AVDs (acima e além
dos efeitos da idade), embora isso aconteça apenas em indivíduos com QI
abaixo da média (QI de 67-104). Além disso, no artigo de Chi e Lin (2020)
pôde-se notar a relação dos desempenhos de autocuidado com a integração
viso-motora, inclusive a integração motora visual bem-sucedida depende de
uma percepção visual bem coordenada e habilidades motoras finas (BEERY,
2010). Esses artigos corroboram com artigos anteriores, onde se reconhece
que existe uma relação entre habilidades motoras e as principais
características do TEA, além dos prejuízos no domínio social e comunicativo
(MACDONALD et al., 2013).

Além dos prejuízos já citados, a independência funcional varia entre as


categorias de renda familiar para crianças com TEA. Os resultados do estudo
de John (2021) demonstram que uma renda familiar mais baixa está associada
a um menor comportamento de independência funcional e maior necessidade
de apoio para crianças com TEA.
Por causa das dificuldades, os pais e cuidadores buscam estratégias para
conseguir uma participação maior das crianças, como obter uma ampla gama
de objetivos para incentivar a participação na alimentação, encorajar ou
eliminar comportamentos infantis, apoiar a regulação sensorial e até mesmo
tentar expandir o repertório de alimentos da criança (AUSDEROU, 2019). Uma
outra estratégia para a aprendizagem que pode ser utilizada e que traz
resultados comprovados é o lúdico, segundo Mendes (2015) às atividades
lúdicas são consideradas um recurso facilitador ao aprendizado de qualquer
criança, incluindo as que possuem o TEA, promovendo sua imersão no mundo
cultural. A realização de atividades lúdicas com crianças com TEA podem
trazer autonomia, gerando criatividade favorecendo a criação de estratégias
para atividades vividas no dia a dia. Na literatura, outros estudos identificaram
que o treinamento de escovação de dentes auxiliado por histórias sociais
melhorou o desempenho da escovação entre crianças com e sem autismo.
(ZHOU, WONG, 2020).

A resolução de nº 516 do COFFITO autoriza os terapeutas ocupacionais a


prestação de atendimento não-presencial através da Teleconsulta,
Teleconsultoria e Telemonitoramento, sendo este último, o acompanhamento à
distância, de paciente atendido previamente de forma presencial, por meio de
aparelhos tecnológicos. Através disso, como podemos ver no artigo de
CruzÿTorres (2020) muitas famílias foram beneficiadas com instrução através
da internet em suas diferentes formas, fazendo com que fosse comprovada que
as intervenções portáteis de prompt de vídeo podem ser eficazes na promoção
da aquisição de habilidades para indivíduos com TEA. Além do tutorial ter tido
um efeito direto na dinâmica imediata das interações durante as rotinas das
crianças, pois levou a mudanças nas estratégias específicas de rotina usadas
pelos pais, e melhorias nos comportamentos exibidos pelas crianças, o
estresse parental relacionado a desafios no relacionamento pais-filhos diminuiu
significativamente para os pais (IBANEZ, 2018). Esse efeito acontece quando
os pais sentem que são gestores mais eficazes dos comportamentos de seus
filhos (SPAGNOLA & FIESES, 2007).

Durante a adolescência a pessoa com autismo continua tendo déficits nas


AVDs, o que os deixa significativamente atrás de seus colegas, e isso afeta sua
capacidade de fazer uma transição bem-sucedida do ensino médio para o
mundo adulto (DUNCAN, 2021), por isso dá-los oportunidade de
autodeterminação, como fazer escolhas independentes, é tão importante, pois
proporciona a oportunidade de sucesso em suas tarefas, o que traz um
sentimento de orgulho e eleva sua auto-estima (FIRST et al., 2016).

O estudo de Ibanez (2018) sugere que ensinar aos pais estratégias


comportamentais específicas e contextualizadas pode ser eficaz mesmo
quando não fazem parte de um programa de intervenção específico e
abrangente. Dado que as rotinas diárias representam um padrão transacional
de comportamentos pais-filhos, é possível que as estratégias dos pais tenham
afetado positivamente o comportamento da criança, o que, por sua vez,
influenciou o senso de eficácia e estresse dos pais (SPAGNOLA & FIESE,
2007).

Essas descobertas continuam a destacar os benefícios potenciais da


implementação de intervenções que se concentram nas rotinas, pois as rotinas
podem frequentemente oferecer oportunidades para interações sociais
positivas e frequentes que podem apoiar o desenvolvimento precoce da
comunicação social [SPAGNOLA & FIESE, 2007].

No geral, os tutoriais para pais fornecem uma maneira eficaz e de baixo


custo para melhorar o relacionamento entre pais e filhos, aumentar a
participação durante as rotinas diárias e melhorar a comunicação social das
crianças, além de ter o potencial de contornar barreiras importantes para
obtenção de serviços, como escassez de terapeutas e restrições de localização
e logística familiar.

6. CONCLUSÕES

Esta revisão verificou que as práticas e atuação do profissional de Terapia


Ocupacional na reabilitação de crianças com Transtorno do Espectro Autista
ocorre a partir de intervenções com o intuito de aprimorar o desempenho
ocupacional em todas as áreas de vida, com o enfoque na demanda principal
do paciente. Observou-se que o trabalho do terapeuta ocupacional, voltado
para o ensino de AVDs, abarca instrumentos de avaliação e aplicação
direcionados, bem como estratégias de ensino de pais para aumentar a
participação das crianças e adolescentes nas atividades domésticas e do dia a
dia.
Capacitar pais com conhecimentos e habilidades para ensinar seus filhos
com TEA fornecem recursos para o melhor desenvolvimento da criança e
potencializa o efeito do tratamento a longo prazo, aprimorando o processo
terapêutico e contribuindo para a qualidade de vida familiar. As estratégias
identificadas utilizadas atualmente pelos terapeutas ocupacionais foram
atividades lúdicas e treino de habilidades de vida diária em oficinas
terapêuticas e em casa, por meio de intervenções de ensino por telessaúde e
voltadas para o processamento sensorial juntamente de estratégias com foco
na comunicação e intervenções com o objetivo de promover o desempenho
ocupacional e funcional do paciente, tendo eficácia significativa quando se trata
de aspectos do processamento sensorial e a qualificação do desempenho
funcional.
Este estudo teve como limitações a falta de artigos publicados na língua
portuguesa. Para pesquisas futuras sugere-se que sejam realizados mais
estudos de ensino de AVDs a outros cuidadores, como acompanhantes
terapêuticos e professores, para aprofundar e potencializar o aprendizado das
AVDs em crianças com TEA, essa consideração terá um impacto significativo
no planejamento de tratamento específico para crianças e adolescentes,
integrando uma prática centrada na família, contendo treinamento de pais e
cuidadores, assim como um programa de intervenção precoce utilizando de
intervenções direcionadas diretamente ao desenvolvimento das habilidades de
vida diária.
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