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MICHEL SCHOOYANS
OS RUMOS DA BUSCA DE
DEUS SEGUNDO PASCAL
O PAPEL DO CORAÇAO
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exercicio. A razâo em nenhum iugar comanda como rainha. Mas
o coraçâo nâo se opoe apenas à razâo; opôe-se igualmente à
experiência. "Coraçâo, instintos, principios" (281) vâo de par,
andam juntos e se distinguem da experiência: "Duas coisas ins-
truem o homem sobre a sua natureza: o instinto e a experiên
cia." (396)
A noçâo pascaliana de coraçâo se aparenta pois com o
intellectus dos antigos. Como este, evoca um conhecimento ime-
diato da existência de sêres superiores, apreendidos parcialmente
ou nâo na sua natureza. O conhecimento pelo coraçâo pode pois
dispensar o recurso ao raciocinio discursive "É tâo inûtil e tâo
ridiculo a razâo buscar no coraçâo provas de seus primeiros
principios, para consentir nêles, como o séria o coraçâo reclamar
da razâo um sentimento de tôdas as proposiçoes que ela de-
monstra, para assentir em recebê-las." (282; cf. 284, 287 etc.)
Mas para Pascal o coraçâo nâo evoca apenas o intellectus
dos antigos. Pascal nâo concebe o verdadeiro conhecimento sem
amor. Para êle, o coraçâo é a raiz comum do conhecimento e do
amor. "O coraçâo tem sua ordem, o espirito tem a sua que é por
principio e demonstraçâo; o coraçâo tem outra. Nâo provamos
que devemos ser amados expondo por ordem as causas do amor:
séria ridiculo." (283) "O coraçâo tem razôes que a razâo des-
conhece; sabemo-lo por mil coisas. Digo que o coraçâo ama o
ser universal naturalmente, e a si mesmo naturalmente, conforme
ao que se aplique." (277) Pascal recorre assim ao conceito
biblico de "conhecimento", inseparâvel do conceito de amor. O
acolhimento, a simpatia, e nâo apenas a inteligêneia; o coraçâo,
e nâo apenas a razâo: tais sâo as vias por onde o homem descobre
e atinge as verdades superiores e fundamentais.
Eis porque o coraçâo é capaz de apreender Deus sem recurso
as demonstraçôes, por uma sorte de evidência imediata. "Os que
vemos serem cristâos sem o conhecimento das profecias e das
provas êsses nâo deixam de julgâ-las tâo bem quanto os outros,
dotados dêsse conhecimento. Julgam pelo coraçâo, assim como
os outros julgam pelo espirito. Ê o prôprio Deus que os inclina
a crer; e assim estâo muito eficazmente persuadidos." (287;
cf. 28)
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Assim, malgrado o lento da sua razâo, o homem conservou
a capacidade de conhecer, um como resto de sua dignidade pri-
mitiva, isto é, anterior ao pecado original. O coraçâo é a parte
do homem onde conserva a saudade da felicidade perdida, mas
é também nêle onde se enraiza a esperança de um redentor.
CORAÇÂO E RAZAO
O AUTÔMATO
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