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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO E


SISTEMAS

Renata Letícia de Oliveira

PRÁTICAS DA LOGÍSTICA REVERSA NA GESTÃO DE


RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL NA FRANÇA

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Departamento de
Engenharia de Produção e Sistemas da
Universidade Federal de Santa Catarina,
como requisito parcial para a obtenção
do título em Engenharia, área Civil,
habilitação Produção Civil.
Orientadora: Profª. Drª. Mônica Maria
Mendes Luna.

Florianópolis
2017
Renata Letícia de Oliveira

PRÁTICAS DA LOGÍSTICA REVERSA NA GESTÃO DE


RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL NA FRANÇA

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado e


aprovado, em sua forma final, pelo Curso de Graduação em Engenharia de
Produção Civil, da Universidade Federal de Santa Catarina.

Florianópolis, 17 de agosto de 2017.

_______________________________________
Profª. Mônica Maria Mendes Luna, Drª.
Coordenadora do Curso

Banca Examinadora:

_______________________________________
Profª. Mônica Maria Mendes Luna, Drª.
Orientadora
Universidade Federal de Santa Catarina

_______________________________________
Profª. Olga Regina Cardoso, Drª.
Universidade Federal de Santa Catarina

_______________________________________
Profª. Nebel Argüello Affonso da Costa, Drª.
Dedico este trabalho aos meus pais,
com todo o meu amor e gratidão,
por estarem sempre ao meu lado e
terem me guiado até aqui.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por sempre guardar o meu


caminho e por me permitir alcançar esta conquista.
Agradeço à minha mãe Nayra e ao meu pai Mozart, pelo amor
incondicional, pela dedicação e pelas orações em meu favor. Por nunca
medirem esforços e por buscarem sempre o melhor para mim e minha
irmã. É com o apoio e incentivo de vocês que concluo mais uma etapa
da minha vida.
Agradeço à minha irmã Manuela, que cresceu ao meu lado, que
foi e que sempre será a minha melhor companheira. Que sorte a minha
em te ter pra sempre comigo. És parte de mim.
Meus sinceros agradecimentos à professora Mônica Maria
Mendes Luna, que me acompanhou desde o início da graduação.
Agradeço por todo o conhecimento compartilhado, pela grande ajuda e
pela valiosa orientação na realização deste trabalho.
Agradeço a todos os professores que contribuíram para a minha
formação durante esses anos de Engenharia, pelos ensinamentos que me
tornaram mais sábia e pelos desafios que me tornaram mais
determinada.
Agradeço às minhas queridas amigas de graduação, que tornaram
esses anos mais leves e alegres.
Aos colegas e colaboradores do meu estágio na França, por terem
me acolhido de forma tão positiva e por terem me ajudado com
informações importantes para o desenvolvimento deste trabalho.
Por fim, o meu muito obrigada a todos aqueles que colaboraram
de alguma forma para que este objetivo pudesse ser alcançado.
RESUMO

As atividades realizadas pela indústria da construção civil são


responsáveis pela geração de grandes volumes de resíduos. Logo, o
tratamento e a destinação adequada desses resíduos é um fator
importante para reduzir os impactos negativos causados por essa
indústria. Estudos realizados com base nos países da União Europeia
apontam que, no ano de 2014, aproximadamente 2.598 milhões de
toneladas de resíduos foram geradas pelos seus 28 países membros, das
quais um terço foram provenientes do setor da construção. Em relação a
esses resíduos, a França ganha destaque nesse cenário: 71% do volume
total de resíduos gerados pelo país no ano de 2014 foram resultantes das
atividades do setor da construção. Em função desses altos volumes,
medidas devem ser tomadas a fim de reduzir os impactos negativos
causados à sociedade e o tratamento e destinação adequados aos
resíduos constituem formas de reduzir os impactos negativos gerados
pela prática, contribuindo para a manutenção da qualidade de vida e
bem-estar da população. Nesse sentido, a logística reversa entra como
uma ferramenta importante para auxiliar na gestão dos resíduos da
construção civil, contribuindo com a valorização destes resíduos e até
mesmo com a sua reutilização na indústria da construção civil ou em
outras indústrias. Este trabalho tem como objetivo principal apresentar
as práticas da logística reversa adotadas por uma empresa francesa do
setor da construção civil especializada em impermeabilização das
construções através do acompanhamento das suas atividades em duas
obras na região de Île-de-France, com ênfase à análise de três materiais
que geram resíduos classificados, de acordo com a legislação francesa,
como: inertes; não perigosos (DIB – Déchets Industriels Banals); e
perigosos. O trabalho traz ainda uma revisão bibliográfica acerca do
tema, abordando também a legislação da União Europeia válida para os
seus 28 países membros, além da legislação francesa pertinente ao tema.
Além disso, apresenta a empresa escolhida para a realização do trabalho
e as obras escolhidas como cenários para o desenvolvimento da
pesquisa.

Palavras-chave: Logística reversa. Resíduos da construção civil.


Impermeabilização das construções. França.
ABSTRACT

The activities carried out by the civil construction industry are


responsible for the generation of substantial amounts of waste.
Therefore, the treatment and proper disposal of these wastes is a key
factor for reducing the negative impacts caused by it. Studies based on
the European Union countries indicate that, in 2014, approximately
2,598 million tons of waste were generated by its 28 member countries,
of which one third came from the construction sector. In relation to these
wastes, France stands out in this scenario as 71% of the total volume of
waste generated by the country in 2014 resulted from construction
activities. Due to these high volumes, measures must be taken to reduce
the negative impacts caused to society and the appropriate treatment and
disposal of waste are ways to reduce the negative impacts generated by
this practice, contributing to the maintenance of the population quality
of life and well-being. In this sense, reverse logistics is a valuable tool to
assist in the management of construction waste, contributing to the
recovery of this waste and even to its reuse in the construction industry
or in other industries. The main objective of this work is to present the
reverse logistics practices adopted by a French construction company
specialized in waterproofing constructions through the monitoring of its
activities in two works developed in the Île-de-France region,
emphasizing the analysis of three materials, which generate waste
classified, according to the French legislation, as: inert; non-hazardous
(DIB – Déchets Industriels Banals); and hazardous. The work also
brings a bibliographical review on the subject, discussing the legislation
of the European Union valid for its 28 member countries, as well as the
French legislation concerning the subject. In addition, this research
presents the company chosen to carry out the work and the works
chosen as scenarios for the development of the research.

Keywords: Reverse logistics. Waste from civil construction.


Waterproofing of buildings. France.
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

BFC BusinessObjects Financial Consolidation


DIB Déchets Industriels Banals
EoW End of Waste
EUROSTAT Gabinete de Estatísticas da União Europeia
FFB Fédération Française du Bâtiment
ISDI Instalações de Armazenamento de Resíduos Inertes
LR Logística Reversa
PIB Produto Interno Bruto
PUL Plano de Urbanismo Local
RCC Resíduos da Construção Civil
RCD Resíduos da Construção e Demolição
UE União Europeia
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Hierarquia para a gestão de resíduos dos países membros da


União Europeia, segundo a Diretiva 2008/98/EC............... 44
Figura 2 – Corte representativo de um sistema de impermeabilização
adotado em terraços acessíveis ........................................... 52
Figura 3 – Procedimentos metodológicos ............................................. 57
Figura 4 – Pôster informativo de triagem de resíduos inertes e não
perigosos adotado pela empresa ......................................... 59
Figura 5 – Pôster informativo de estocagem de produtos perigosos
adotado pela empresa ......................................................... 60
Figura 6 – Localização da comuna francesa de Saint-Denis ................. 61
Figura 7 – Chegada dos isolantes no canteiro de obra .......................... 62
Figura 8 – Depósito móvel alugado pela empresa (contêiner de 8 pés) 63
Figura 9 – Acondicionamento das latas de verniz ................................. 64
Figura 10 – Transporte de isolantes para o terraço do edifício com o
auxílio de grua .................................................................... 65
Figura 11 – Cartilha de transporte de cargas em grua ........................... 66
Figura 12 – Aplicação de verniz sobre estrutura de concreto................ 67
Figura 13 – Encaixe de placas de isolantes ........................................... 68
Figura 14 – Piso de pedras naturais ....................................................... 69
Figura 15 – RCCs gerados acondicionados em big bags....................... 70
Figura 16 – Caçamba coletora de RCCs na obra................................... 72
Figura 17 – Latas de verniz armazenadas temporariamente no depósito
da empresa .......................................................................... 73
Figura 18 – Documento obrigatório de acompanhamento dos resíduos
perigosos............................................................................. 74
Figura 19 – Localização da comuna francesa de Jouy-en-Josas ........... 75
Figura 20 – Materiais armazenados dentro do depósito móvel ............. 76
Figura 21 – Acondicionamento das latas de verniz ............................... 77
Figura 22 – Paletes de pedras naturais no terraço após transporte por
grua ..................................................................................... 78
Figura 23 – Carrinho de resíduos não perigosos (DIB) à direita e
carrinho de resíduos de papel à esquerda ........................... 81
Figura 24 – Caçambas de resíduos de metal ......................................... 82
Figura 25 – Caçambas de resíduos de madeira ..................................... 82
Figura 26 – Caçambas de resíduos de embalagens sujas (esquerda) e
aerossóis (direita)................................................................ 83
Figura 27 – Caçambas de resíduos de papel (esquerda), resíduos não
perigosos – DIB (meio) e resíduos inertes (direita) ............ 83
Figura 28 – Indicadores de prevenção, reciclagem e eliminação de
resíduos avaliados nos anos de 2014 e 2015 ...................... 88
Figura 29 – Traços de verniz na água.................................................... 92
Figura 30 – Acúmulo de RCC nas áreas comuns .................................. 93
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Composição dos RCDs na Europa ..................................... 34


Gráfico 2 – Geração de resíduos por atividade econômica e de resíduos
domésticos dos países da União Europeia no ano de 2014
(dados em mil toneladas) .................................................... 37
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Classificação dos RCDs de acordo com as regulamentações


francesas ............................................................................. 48
Quadro 2 – Estimação dos custos praticados para o encaminhamento dos
resíduos de acordo com a sua destinação ........................... 49
Quadro 3 – RCCs analisados nos canteiros de obras ............................ 56
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Geração de resíduos (em mil toneladas) por atividade


econômica e resíduos domésticos nos países da União
Europeia.............................................................................. 36
Tabela 2 – Geração de resíduos da construção (em mil toneladas) nos
países da UE em 2014 ........................................................ 42
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.............................................................................. 25
1.1. OBJETIVO PRINCIPAL .............................................................. 27
1.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................ 27
1.3. JUSTIFICATIVA E IMPORTÂNCIA DO TEMA....................... 27
1.4. DELIMITAÇÃO DO ESTUDO E ESTRUTURA DO
TRABALHO .....................................................................................
29
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................ 30
2.1. LOGÍSTICA REVERSA............................................................... 30
2.1.1. Logística reversa e construção civil ........................................ 33
2.2. RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO NA UNIÃO EUROPEIA E NA
FRANÇA ...................................................................................... 35
2.3. LEGISLAÇÃO DE GESTÃO DE RESÍDUOS NA UNIÃO
EUROPEIA E NA FRANÇA ........................................................ 43
2.4. IMPERMEABILIZAÇÃO DAS CONSTRUÇÕES...................... 51
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................ 54
3.1. ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO DA PESQUISA ...... 54
3.2. A EMPRESA E A LOGÍSTICA REVERSA DOS RCCS ............ 57
3.3. CENÁRIO 1: OBRA SITUADA EM SAINT-DENIS .................. 60
3.3.1. Recebimento dos materiais ...................................................... 61
3.3.2. Acondicionamento dos materiais ............................................ 62
3.3.3. Transporte interno dos materiais ............................................ 64
3.3.4. Utilização dos materiais e geração dos RCCs ........................ 66
3.3.5. Tratamento e destinação final dos RCCs ............................... 69
3.4. CENÁRIO 2: OBRA SITUADA EM JOUY-EN-JOSAS............. 75
3.4.1. Recebimento dos materiais ...................................................... 75
3.4.2. Acondicionamento dos materiais ............................................ 76
3.4.3. Transporte interno dos materiais ............................................ 77
3.4.4. Utilização dos materiais e geração dos RCCs ........................ 79
3.4.5. Tratamento e destinação final dos RCCs ............................... 79
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ....................... 85
4.1. CARACTERÍSTICAS GERAIS DA EMPRESA E A GESTÃO DE
RCC............................................................................................... 85
4.2. RECEBIMENTO, ACONDICIONAMENTO, TRANSPORTE
INTERNO E UTILIZAÇÃO DOS MATERIAIS E GERAÇÃO DE
RCC............................................................................................... 89
4.3. TRATAMENTO E DESTINAÇÃO FINAL DE RCC ................. 90
5. CONCLUSÃO ................................................................................ 95
5.1. SUGESTÕES DE PESQUISAS FUTURAS ................................ 96
REFERÊNCIAS .................................................................................. 98
ANEXO .............................................................................................. 103
25

1. INTRODUÇÃO

A população mundial vem se aproximando rapidamente dos


8 milhões de pessoas e, em função deste crescimento, aumenta também
a preocupação com a gestão dos recursos naturais. Muitos desses
recursos são de fontes não renováveis e vêm tornando-se escassos,
levando os governos de vários países a adotar políticas de incentivo à
reciclagem e ao aproveitamento dos resíduos gerados pelos setores
industriais, comerciais e pelos consumidores.
De acordo com estudos estatísticos publicados pelo Gabinete de
Estatísticas da União Europeia (EUROSTAT, 2016), das 2.598 milhões
de toneladas de resíduos geradas pelos 28 países membros da União
Europeia (UE) no ano de 2014, aproximadamente 83% desse volume foi
devidamente tratado, o que significa que mais de 453 milhões de
toneladas de resíduos foram descartados de maneira inadequada. Dentre
os principais países que contribuíram para a produção de resíduos na UE
em 2014, destacam-se a Alemanha, com 15% do volume total, a França,
com 13%, seguidos de Romênia e Reino Unido, com 10% cada um. A
soma do volume de resíduos gerados pelos quatro países representa
quase metade do volume total produzido pela UE em 2014.
No entanto, além dos volumes de geração e de tratamento, as
características e a origem desses resíduos apresentam variações
significativas entre cada um dos países membros da UE. Dentre os
países citados e que mais contribuíram com o volume total gerado, a
França destaca-se pela grande variedade no que diz respeito à origem
dos resíduos. O destaque é dado à indústria da construção civil, que gera
cerca de 71% do volume total de resíduos do país, com base em dados
de 2014 (EUROSTAT, 2016).
A indústria da construção civil é reconhecida como uma das mais
importantes para o desenvolvimento econômico e social de um país
(BRASILEIRO; MATOS, 2015). Por outro lado, as atividades da
construção relacionadas ao processo de criação e expansão dos centros
urbanos geram impactos negativos ao meio ambiente, que afetam
diretamente a qualidade de vida e o bem-estar da sociedade. Assim, a
destinação adequada de resíduos constitui uma das formas de reduzir
estes impactos negativos.
O Relatório Brundtland de 1987 define desenvolvimento
sustentável como “[…] o desenvolvimento que satisfaz as necessidades
presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir
suas próprias necessidades” (BRUNDTLAND et al., 1987 apud
26

PAZIRANDEH; JAFARI, 2013, p. 890, tradução nossa). No que se


refere ao setor da construção, o conceito de sustentabilidade é
importante devido a diversos aspectos, como o consumo de matéria-
prima, energia, e a elevada produção de resíduos. Dentro do contexto da
produção de resíduos, a logística reversa constitui uma ferramenta útil
para viabilizar a valorização desses resíduos e a sua reutilização na
indústria da construção civil ou outras indústrias.
Em se tratando da adoção das práticas da logística reversa nas
atividades das organizações, Kappel (2015, p. 24) afirma que:

A inclusão da logística reversa no sistema


produtivo de uma organização altera o tradicional
sistema de extrair, produzir, consumir e descartar,
fazendo com que ao final da vida útil de um
produto, seja adicionada a fase de reciclagem e
reaproveitamento.

Além dos aspectos ambientais, mudanças na legislação que


tratam das responsabilidades e obrigações dos geradores de resíduos
vêm sendo promovidas em vários países. Na União Europeia, está em
vigor, desde o ano de 2008, a Diretiva 2008/98/CE do Parlamento
Europeu e do Conselho (EUR-LEX, 2008), apresentando definições e
diretrizes que tratam da gestão de resíduos, além de metas para o setor
da construção civil que devem ser atingidas, até o ano de 2020, pelos
seus 28 estados membros.
Tendo em vista esse cenário, o presente trabalho apresenta um
levantamento das práticas de logística reversa na indústria da construção
civil na França, contribuindo para a compreensão deste tema no contexto
da União Europeia. Para este trabalho, foi realizado levantamento de
dados em duas obras de construção civil na França, o que permitiu
identificar as práticas adotadas naquele país que visam minimizar os
impactos causados pelos resíduos da construção civil (RCC). As
exigências impostas pela União Européia também são discutidas, assim
como são descritas as ações adotadas pelos países membros, com
destaque para a França, país com grande representatividade na geração
de resíduos da construção civil.
27

1.1. OBJETIVO PRINCIPAL

O objetivo principal deste trabalho é apresentar as práticas da


logística reversa adotadas por uma empresa francesa do setor da
construção civil especializada em impermeabilização das construções.
Para tanto, são descritos os processos de geração e gestão de resíduos
adotados pela empresa em duas obras de grande porte, a primeira
localizada na comuna de Saint-Denis, e a segunda localizada na comuna
de Jouy-en-Josas, ambas em Île-de-France, na França.

1.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

A fim de alcançar o objetivo principal foram estabelecidos os


seguintes objetivos específicos:

 identificar o panorama da geração de resíduos na UE e na França;


 descrever o panorama da geração dos RCCs na França;
 levantar a legislação pertinente à gestão de resíduos da construção
na UE e na França;
 selecionar os RCCs a serem analisados;
 apresentar uma descrição da geração desses materiais ao longo do
processo produtivo em obra;
 identificar as práticas da logística reversa adotadas para
revalorizar os RCCs, bem como o destino dado a estes resíduos
nas obras analisadas.

1.3. JUSTIFICATIVA E IMPORTÂNCIA DO TEMA

A oportunidade para desenvolvimento desta pesquisa surgiu


durante a realização de estágio em uma empresa francesa do setor da
construção civil, que trabalha com serviços de impermeabilização da
construção. A empresa faz parte de um grande grupo e a unidade da
empresa onde foi realizado o estágio é responsável pelas obras
localizadas na região de Île-de-France – região com maior concentração
de obras no grande centro de Paris e comunas periféricas. Pôde-se
28

observar, ao longo do estágio, uma grande preocupação por parte dos


gerentes da empresa quanto às questões relacionadas aos resíduos
produzidos nas obras, e ações voltadas para a conscientização dos
funcionários quanto a geração, gestão e destinação dos RCCs.
O estudo de caso precedido de uma revisão bibliográfica e
documental realizado na empresa francesa e utilizando duas obras como
cenários diferentes permitiu o acesso ao conhecimento sobre os
processos de gestão de resíduos conduzidos por uma empresa do setor
da construção civil que atua na União Europeia, e que deve atender as
exigências legais impostas aos estados membros. Nesse sentido, a
relevância do estudo é justificada pela importância de entender como as
mudanças recentes na legislação têm levado à adoção de novas práticas
em um contexto diferente do cenário brasileiro, o que poderá constituir
uma referência para a adequação das empresas nacionais às novas
exigências legais, relativas ao tratamento dos resíduos e, mais
especificamente, dos RCCs.
No Brasil, um estudo em uma obra da cidade de Florianópolis
(SC), visando descrever as práticas de logística reversa dos RCCs, foi
realizado por Kappel (2015). O presente estudo pode ser visto como
uma replicação do estudo de Kappel em um diferente contexto, o que
pode permitir, como destaca Goldsby e Autry (2011), a possibilidade de
generalizar resultados de estudos anteriores, bem como identificar
especificidades relacionadas aos diferentes contextos.
Além disso, a importância da realização do trabalho é justificada
pela diferença nos cenários da construção na França e no Brasil. As
tecnologias construtivas aplicadas na França e as práticas da logística
reversa adotadas nas obras do país diferem em relação à realidade da
construção civil brasileira. Dessa forma, o trabalho permite identificar as
principais diferenças a fim de contribuir para o desenvolvimento da
engenharia no Brasil e a possível implementação de melhorias em obras
no país.
Tendo em vista a importância das atividades da construção civil,
a utilização intensiva de recursos para o fornecimento de matéria-prima
neste setor e o grande volume de resíduos gerados, os resultados desta
pesquisa podem contribuir para o desenvolvimento e implementação de
práticas de gestão de resíduos nas empresas do setor da construção, em
especial, práticas da logística reversa.
29

1.4. DELIMITAÇÃO DO ESTUDO E ESTRUTURA DO


TRABALHO

O presente trabalho trata das práticas da logística reversa


aplicadas à gestão de resíduos em uma obra de uma empresa francesa do
setor da construção civil, a qual está inserida no contexto de
regulamentações da União Europeia. O estudo não abrange as práticas
da logística reversa, a gestão de resíduos e as legislações aplicadas nos
outros 27 países membros da UE. Além disso, os resultados dizem
respeito aos materiais que foram objeto de análise no presente trabalho,
não devendo ser generalizados.
Este trabalho está estruturado em cinco capítulos. Na sequência
deste primeiro capítulo introdutório é apresentada a fundamentação
teórica e revisão bibliográfica, bem como a contextualização da
problemática de pesquisa. O terceiro capítulo traz a coleta dos dados,
sua descrição e análise. O quarto capítulo aborda a discussão dos
resultados obtidos com o presente estudo. Por fim, o quinto capítulo
apresenta a conclusão do trabalho, além de trazer sugestões identificadas
como oportunidades para pesquisas futuras.
30

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo apresenta o levantamento e análise dos principais


trabalhos identificados na literatura que abordam o assunto da pesquisa.
Também aborda a legislação referente à gestão de resíduos no âmbito da
União Europeia. O embasamento do trabalho e o enquadramento da
pesquisa no referencial teórico é, portanto, o objetivo deste capítulo.
Conceitos relacionados à logística reversa, à gestão de resíduos da
construção e demolição na União Europeia e na França, bem como a
descrição do processo de logística reversa dos resíduos da construção na
França estão presentes neste capítulo.

2.1. LOGÍSTICA REVERSA

De acordo com Dekker et al. (2004), o conceito de Logística


Reversa (LR) vem sendo tratado na literatura desde a década de 1970.
As primeiras definições de logística reversa apresentadas na literatura a
relacionam com a “direção incorreta do fluxo” e, ao longo do tempo, há
um destaque para as questões ambientais. De qualquer forma, observa-se
que as diferentes abordagens contribuíram para o conceito atual do
termo, a qual é mais ampla do seu domínio. Como destaca Leite (2003)
a logística reversa é:

[…] a área da logística empresarial que planeja,


opera e controla o fluxo e as informações
logísticas correspondentes do retorno dos bens de
pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios
ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de
distribuição reversos, agregando-lhes valor de
diversas naturezas: econômico, ecológico, legal,
logístico, de imagem corporativa, entre outros.
(LEITE, 2003, p. 16).

É importante ressaltar que o autor menciona bens de pós-venda e


bens de pós-consumo em sua definição de LR. O mesmo autor (LEITE,
2003), afirma que as características relativas a LR pós-venda e pós-
consumo têm diferenças significativas, inclusive no que diz respeito às
condições dos bens. No pós-venda, os produtos geralmente foram pouco
31

utilizados ou, muitas vezes, sequer foram utilizados e o seu retorno se


deve a defeitos de fabricação, problemas de funcionamento ou garantia,
erros no momento da emissão do pedido ou, até mesmo, por danos
ocasionados no transporte. Os bens de pós-consumo, por sua vez,
retornam porque chegaram ao fim da sua vida útil ou porque não têm
mais serventia ao consumidor. Esta LR pós-consumo inclui todos os
resíduos, os quais precisam ser descartados adequadamente quando
chegam ao fim do seu ciclo de vida útil.
De uma forma simplificada, os fluxos reversos partem dos
consumidores ou usuários – que constituem os primeiros elos da cadeia
no fluxo reverso. Os produtos usados, ou resíduos, são coletados para,
em seguida, serem encaminhados a reciclagem, remanufatura, reparação
ou eliminação, decisões estas a serem tomadas por aqueles responsáveis
pelo gerenciamento dos resíduos (GOVINDAN; SOLEIMANI;
KANNAN, 2015).
De acordo com Ravi e Shankar (2005), a LR tem recebido
crescente atenção nas últimas décadas devido a fatores econômicos,
legislativos e ambientais. Estudos afirmam que, ao introduzir as práticas
de uma logística verde 1 dentro dos sistemas logísticos, as empresas
podem colher bons frutos na sua eficiência e ganhar benefícios a longo
prazo, tais como crescimento de market share e margens de lucro mais
elevadas (PAZIRANDEH; JAFARI, 2013) , o que chama a atenção das
organizações para a adoção da prática, tendo em vista aspectos
econômicos e de marketing. No entanto, são os aspectos legislativos e
ambientais que vêm forçando as organizações a adotarem práticas da
LR, de forma a promover o desenvolvimento de cadeias produtivas
sustentáveis. Para Rao e Holt (2005 apud PAZIRANDEH; JAFARI,
2015, p. 891):

[…] as organizações estão aumentando sua


competitividade por meio de melhorias do
desempenho para atender as exigências da
legislação ambiental, para tratar das preocupações
ambientais dos seus clientes e para diminuir o

1
Logística verde: inicia-se antes do processo de produção com o planejamento para reduzir a
geração de resíduos, adotar materiais menos prejudiciais ao meio ambiente e que apresentem
maior possibilidade de reciclagem e decomposição. Logo, a logística reversa é parte da
logística verde, pois trata apenas do retorno dos resíduos, sua revalorização e reinserção
econômica após a sua geração (GUARNIERI, 2011).
32

impacto ambiental resultante das suas atividades


produtivas.
Quando se trata dos aspectos socioambientais, Santos (2012)
destaca os benefícios gerados pela adoção das práticas da LR por parte
das organizações. Os benefícios ambientais se relacionam à
minimização dos problemas ocasionados ao meio ambiente, tendo em
vista que os princípios da LR estão baseados na correta disposição dos
resíduos gerados, por meio do seu reaproveitamento, remanufatura ou
reciclagem. Os benefícios sociais, por sua vez, estão relacionados à
melhoria da qualidade de vida da população, pois o tratamento adequado
dos resíduos, ao reduzir a quantidade de lixo gerada, minimiza o
impacto ambiental e melhora as condições estéticas e sanitárias do meio
ambiente e a qualidade dos recursos naturais.
Por outro lado, existem alguns fatores que dificultam a adoção
das práticas da LR nas organizações. Mollenkopf e Closs (2005 apud
LADEIRA; RODAS VERA; TRIGUEIROS, 2014) evidenciam o fato de
que as empresas ainda precisam perceber o valor implícito da LR em
suas atividades e se concentrar nessa área para compreender o impacto
financeiro da adoção da prática. Nesse sentido, Xavier e Corrêa (2013
apud KAPPEL, 2015) destacam algumas barreiras encontradas pelas
organizações para incorporarem as práticas da LR nos seus sistemas:

• custo logístico do retorno de produtos pós-


consumo ou resíduos perigosos;
• localização “pulverizada” dos pontos de descarte e
unidades de triagem, o que compromete a
eficiência da coleta e processamento;
• qualidade dos produtos pós-consumo coletados,
muitas vezes contaminados com impurezas ou
material residual;
• localização dos centros de reciclagem como
aspecto facilitador ou comprometedor no
planejamento de rotas de coleta e entrega; e
• especialização dos centros de reciclagem por tipo
de material como forma de garantir o foco dos
processos desenvolvidos. (XAVIER; CORRÊA,
2013 apud KAPPEL, 2015, p. 31, grifo do autor).

Ao relacionar as atividades logísticas à gestão de resíduos da


indústria da construção, Tischer, Besiou e Graubner (2013) ressaltam
que o principal objetivo é favorecer a criação de um modelo não apenas
eficaz, mas, principalmente, eficiente para a atividade, levando em
33

consideração os objetivos econômicos, socioambientais e tecnológicos.


Dentro dessa indústria, o objetivo ambiental é caracterizado tanto pela
minimização da utilização dos recursos quanto pela minimização dos
impactos ambientais, como emissões de poluentes na atmosfera e
geração de resíduos que seriam destinados à incineração ou aos aterros
sanitários (BRUNS, 1997; DEL RIO MERINO; GRACIA; AZEVEDO,
2010; SHEN et al., 2005 apud TISCHER; BESIOU; GRAUBNER,
2013).
Segundo Bruns (1997 apud TISCHER; BESIOU; GRAUBNER,
2013), o objetivo social consiste em minimizar o impacto negativo na
saúde da população, minimizar o ruído causado pelas atividades
logísticas e o incômodo no trânsito. Por sua vez, o objetivo econômico
fica a cargo da minimização dos custos logísticos aplicados à gestão de
resíduos, levando em consideração a complexidade associada à área
utilizada e ao tempo de construção (BRUNS, 1997; PFOHL;
ENGELKE, 1995; WILDEMANN, 2000 apud TISCHER; BESIOU;
GRAUBNER, 2013). Por fim, o objetivo tecnológico deve ser
maximizar a utilização da capacidade dos processos logísticos, seus
níveis de desempenho e potencial de produção, ao mesmo tempo que
minimiza os danos causados por tais processos (BRUNS, 1997 apud
TISCHER; BESIOU; GRAUBNER, 2013).

2.1.1. Logística reversa e construção civil

Ao abordar a aplicabilidade dos resíduos da construção e sua


reutilização, Brasileiro e Matos (2015) apresentam em seu estudo uma
solução que, segundo os autores, vem ganhando força entre os
pesquisadores: a reciclagem de resíduos da construção e demolição
(RCD) e a sua reutilização na própria construção civil como matéria-
prima alternativa. Os RCDs possuem um elevado potencial de
reciclagem e reutilização no próprio setor da construção.
Segundo o Protocolo da União Europeia sobre resíduos de
construção e demolição, sua gestão adequada, além da geração de um
impacto positivo em termos de sustentabilidade, pode trazer grandes
benefícios para as indústrias da construção e da reciclagem, uma vez que
aumenta a utilização de materiais reciclados oriundos da construção e
demolição (EUROPEAN COMISSION, 2017). A reutilização dos RCDs
no canteiro e sua reciclagem ganham cada vez mais importância devido
a fatores como a redução da superexploração de jazidas minerais para
34

extração de recursos naturais não renováveis e a carência de locais para


a deposição desses resíduos. No referido protocolo são mencionados
ainda os benefícios econômicos gerados pela adoção da prática, tais
como a diminuição dos custos de gerenciamento do resíduo na cidade e
a economia resultante da utilização do produto reciclado, o qual possui
um custo bem menor que o agregado natural, em que se observa uma
economia de 67% em média quando comparados os preços do agregado
reciclado aos do agregado natural.
A composição dos RCDs varia consideravelmente entre países e
diferentes regiões, tendo em vista que é resultante das técnicas
construtivas e tecnologias adotadas. Entre os numerosos materiais
encontrados nos RCDs estão o concreto, tijolos, gesso, madeira, vidro,
metais, plásticos, solventes, amianto e terra escavada, muitos dos quais
podem ser reaproveitados e apresentam possibilidades de serem
submetidos ao processo de reciclagem (EUROPEAN COMMISSION,
2016). O Gráfico 1 mostra a composição dos RCDs produzidos na
Europa, de acordo com Fischer e Werge (2009 apud PEPE, 2015), em
que de forma geral e abrangente é possível identificar o concreto, tijolos,
azulejos e cerâmicas como os principais resíduos provenientes das
atividades de construção e demolição.

Gráfico 1 – Composição dos RCDs na Europa

Fonte: Adaptado de Fischer e Werge (2009 apud PEPE, 2015)


35

2.2. RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO NA UNIÃO EUROPEIA E NA


FRANÇA

A Diretiva 2008/98/EC do Parlamento Europeu e do Conselho


(EUR-LEX, 2008) define resíduo como qualquer substância ou objeto
que o detentor se desfaz ou tem intenção ou obrigação de se desfazer.
Estima-se que, no ano de 2014, o volume total de resíduos
produzidos pelos 28 países membros da União Europeia, resultado de
todas as atividades econômicas realizadas acrescidos dos resíduos
domésticos gerados, tenha sido de aproximadamente 2,6 bilhões de
toneladas, como mostra a Tabela 1. Esse valor representa o maior
volume na geração de resíduos produzidos pela UE desde o ano de 2004
(EUROSTAT, 2016). Para Arendse e Godfrey (2001 apud SHAKANTU
et al., 2008), a geração de resíduos pode ser considerada uma
manifestação do uso ineficiente dos recursos e é a causa raiz da poluição
e da degradação ambiental associada.
36

Tabela 1 – Geração de resíduos (em mil toneladas) por atividade econômica e resíduos domésticos nos países da União Europeia

Fonte: Adaptado de Eurostat (2016)


37

Segundo a European Comission (2016), o fluxo de resíduos da


indústria da construção civil é constituído pelos resíduos mais pesados e
volumosos: no ano de 2014, a indústria da construção civil na UE gerou,
aproximadamente, 871 milhões de toneladas, superando os volumes
individuais de resíduos gerados por outros setores da economia e o
volume de resíduos domésticos produzidos. Esse valor corresponde a
um terço do total dos resíduos produzidos na UE naquele ano, como
destaca o Gráfico 2.

Gráfico 2 – Geração de resíduos por atividade econômica e de resíduos


domésticos dos países da União Europeia no ano de 2014 (dados em mil
toneladas)

Fonte: Adaptado de Eurostat (2016)

A indústria da construção desempenha um papel essencial nas


diferentes economias do mundo, pois é responsável por empregar um
38

grande número de pessoas e contribuir significativamente com o


aumento da Formação Bruta de Capital Fixo2. Além disso, esta indústria
é responsável pela infraestrutura das cidades e do campo e suas
atividades movimentam a economia de várias outras indústrias,
fornecedoras dos insumos essenciais as suas operações (SHAKANTU,
W. et al, 2008).
Tendo em vista a importância econômica dessa indústria e o
impacto de suas atividades sobre diversos setores, estudos que
contribuam para sua sustentabilidade se fazem necessários. Como
destacam o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná (CAU/PR,
2015) e Shakantu et al. (2008), a construção civil é a atividade humana
que possui maior impacto sobre o meio ambiente, tanto pelo elevado
consumo de recursos naturais para a fabricação dos materiais
necessários à atividade – estima-se que 50% dos recursos naturais
extraídos estejam relacionados à atividade da construção
(BRASILEIRO; MATOS, 2016) – quanto pelo volume total de resíduos
gerados pelos sistemas construtivos, os quais tradicionalmente não
possuem um projeto voltado à minimização da geração dos resíduos.
Além disso, a mão de obra utilizada na indústria da construção é muitas
vezes desqualificada e utiliza os materiais de forma inadequada, o que
acarreta o aumento do consumo e desperdício de matéria-prima.
De acordo com Kappel (2015), os resíduos da construção civil
são gerados desde as atividades de produção dos materiais e
componentes que serão empregados nas obras, ou seja, antes mesmo da
sua chegada ao canteiro. Resíduos também são produzidos durante as
atividades de manutenção e modernização de construções, bem como
nas atividades de canteiro e na demolição de construções. Ressalta-se
que os resíduos da construção (advindos de novas construções) e os
resíduos da demolição apresentam características bastante diferentes em
termos de quantidade, composição e potencial de recuperação
(MONIER, V. et al., 2011). Os resíduos da construção são geralmente
mais homogêneos e menos contaminados, o que confere um maior
potencial de recuperação a esse material. Por outro lado, os resíduos de
demolição tendem a ser mais heterogêneos devido à presença de
2
“[...] mede o quanto as empresas aumentaram os seus bens de capital, ou seja, aqueles bens
que servem para produzir outros bens. São basicamente máquinas, equipamentos e material de
construção. [...] é calculada trimestralmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE).” (WOLFFENBÜTTEL, 2004). É um indicador importante porque indica se a
capacidade de produção do país está crescendo e também se os empresários estão confiantes no
futuro.
39

diferentes tipos de materiais, o que os torna mais difíceis de serem


recuperados. Apesar destas diferenças, os resíduos da construção e
demolição (RCD) na União Europeia são considerados em uma só
categoria e os dados disponíveis não permitem uma distinção destes dois
tipos de resíduos.
Para minimizar os impactos ambientais causados pela indústria da
construção, Kilbert (1994 apud BRASILEIRO; MATOS, 2015, p. 180)
propõe:

I. minimizar o consumo de recursos: gastar mais


tempo na fase de planejamento e projetos para
otimizar a utilização de materiais e minimizar a
produção de resíduos;
II. maximizar a reutilização de recursos: reutilizar
componentes que ainda possam desempenhar a
função para a qual foram produzidos, ou mesmo
serem utilizados em outra função;
III. usar recursos renováveis e recicláveis: optar
por materiais recicláveis ou cujas fontes de
matéria-prima sejam renováveis;
IV. proteger o meio-ambiente: evitar o uso de
materiais cuja extração de matéria-prima cause
danos ambientais: aproveitar os recursos naturais
para iluminação e ventilação, reusar águas
servidas, etc.;
V. criar um ambiente saudável e não tóxico: evitar
utilização de materiais que podem causar danos
tanto ao meio ambiente quanto aos usuários;
VI. buscar a qualidade na criação do ambiente
construído: projetar utilizando técnicas que
permitam uma construção mais econômica, menos
poluente e que impacte menos agressivamente no
meio-ambiente.

Desde os anos 1980, em virtude da escassez de áreas para


disposição final de RCDs na Europa, a reciclagem e a minimização de
resíduos passaram a ser objeto de atenção especial no setor da
construção civil e diversas políticas públicas foram implementadas com
o objetivo de promover essas medidas, de acordo com Silva, Malheiros e
Campos (2013 apud BRASILEIRO; MATOS, 2015). A gestão
responsável desses resíduos é um aspecto essencial para criar um
cenário sustentável na indústria da construção. Tendo em vista o alto
40

volume gerado de RCDs, a European Commission (2016b) considerou


prioritários os fluxos destes materiais.
Lipsmeier e Ghabel (1999 apud TISCHER; BESIOU;
GRAUBNER, 2013, p. 161) descrevem algumas características do setor
da construção que tornam ainda mais complexa a gestão dos RCDs:

• requisitos elevados para a logística da construção


devido ao aperto estrutural no centro da cidade;
• alto volume diário de lixo resultante de um curto
tempo de construção;
• pressão de prazo imposta pelo proprietário ao
contratante favorecendo; o fornecimento de novos
materiais em comparação com a recuperação de
resíduos que podem aumentar a reutilização de
materiais
• requisitos profissionais e legais que afetam a
coleta e separação de RCDs;
• potencial de alto risco ligado à eliminação
inadequada dos resíduos;
• inexistência de um sistema integrado de
gerenciamento de resíduos disponível no setor da
construção até os dias de hoje;
• estrutura regulatória fraca para monitorar a
disposição de RCDs durante o processo de
construção.

Quando se analisa o contexto da produção de resíduos na França,


alguns dados merecem ser destacados. De acordo com o estudo anual
intitulado Chiffres-clés Déchets, publicado pela Agence de
l'Environnement et de la Maîtrise de l'Energie (ADEME, 2016), a
produção de resíduos no país apresentou um aumento de quase 10% em
volume entre os anos de 2006 e 2010, muito acima do crescimento da
população (+ 3%) e do Produto Interno Bruto (PIB) do país (3% em
volume) no mesmo período. O estudo ainda ressalta que, naquele
período, o setor da construção civil foi o principal responsável por esse
aumento, apresentando um crescimento de 9% nos RCCs gerados. No
entanto, apesar do cenário de crescimento que o país vinha observando,
no ano de 2012 constatou-se um decréscimo de 2,8% nas quantidades de
resíduos produzidos. A inversão no cenário foi resultado da
desaceleração no setor da construção, em que se observou uma
diminuição de 5% na produção dos RCCs.
41

Além desse aumento no volume de RCCs na França, de acordo


com dados de 2014 do Eurostat (2016), este país é o principal gerador de
resíduos da construção na União Europeia, com uma produção de 231
milhões de toneladas, o que representa 27% do volume total, conforme
mostram os dados da Tabela 2. Segundo esse mesmo relatório, o volume
de resíduos de construção e demolição na França representou 71% do
volume total de resíduos gerados no país, incluídos resíduos domésticos
e os advindos de todas as outras atividades econômicas.
42

Tabela 2 – Geração de resíduos da construção (em mil toneladas) nos países da


UE em 2014

Fonte: Adaptado de Eurostat (2016)


43

2.3. LEGISLAÇÃO DE GESTÃO DE RESÍDUOS NA UNIÃO


EUROPEIA E NA FRANÇA

Há na União Europeia somente uma diretiva que regulamenta a


gestão de resíduos nos seus 28 países membros, trata-se da Diretiva
2008/98/EC do Parlamento Europeu e do Conselho, de 19 de novembro
de 2008. Essa diretiva constitui um instrumento de caráter geral, cujo
objetivo é harmonizar a legislação dos vários países membros dentro da
comunidade, e apresenta metas a serem cumpridas pelos países da UE
deixando a cargo destes a responsabilidade do “como fazer” (EUR-LEX,
2015). Dessa forma, cabe a cada país definir como colocar em prática o
disposto na diretiva, bem como controlar os resultados alcançados no
seu território por meio de uma legislação própria – o que confere certa
autonomia em relação às regras que serão impostas por cada um dos
países membros.
A Diretiva 2008/98/EC (EUR-LEX, 2008), além de definir
conceitos relacionados à gestão de resíduos, estabelece alguns princípios
básicos de gestão de resíduos. Segundo a diretiva, a gestão de resíduos
deve ser realizada sem colocar em perigo a saúde humana e sem
prejudicar o meio ambiente e, em particular, sem oferecer riscos à água,
ao ar, ao solo, às plantas ou aos animais, e sem prejudicar o ambiente ou
espaços de interesse especial. Além disso, de acordo com os artigos 28 e
29 do Capítulo 5 da Diretiva, exige-se que os países membros adotem
programas para prevenir a geração de resíduos, assim como planos de
gestão de resíduos. No Art. 4o do Capítulo I, a Diretiva prevê que a
legislação e as políticas adotadas sigam a hierarquia de gestão de
resíduos ilustrada na Figura 1, isto é, que sejam priorizadas a prevenção,
a reutilização, a reciclagem e a recuperação, nesta ordem, ao passo que o
descarte constitui a última alternativa.
44

Figura 1 – Hierarquia para a gestão de resíduos dos países membros da União


Europeia, segundo a Diretiva 2008/98/EC

Fonte: Adaptado de European Commission (2016a)

No que diz respeito à indústria da construção civil, a diretiva


apresenta um objetivo a ser cumprido em cada um dos seus 28 países
membros, até 2020, qual seja: a preparação para reúso, reciclagem e
outros meios de valorização de material, incluindo operações de
enchimento (aterro) utilizando resíduos para substituir outros materiais3
utilizados nesta operação, devem sofrer um aumento mínimo de 70% em
peso.
A Diretiva também trata dos conceitos de “poluidor-pagador” e
de “responsabilidade estendida do produtor”. De acordo com a
consideração de número 26 da Diretiva, o princípio do “poluidor-
pagador” constitui uma diretriz a ser adotada na Europa e
internacionalmente. O produtor de resíduos e o detentor de resíduos
deverão assegurar uma gestão adequada desses materiais garantindo um
nível elevado de proteção do ambiente e da saúde humana.
Em outras palavras, o conceito de “poluidor-pagador” refere-se à
“exigência de que os custos da eliminação dos resíduos devem ser
arcados pelo seu detentor atual, pelos anteriores detentores dos resíduos
ou pelos produtores do produto que deram origem aos resíduos”

3
Materiais não perigosos, excluindo os materiais definidos na categoria 17 05 02 da lista de
resíduos definida pela Comissão Europeia (2000/532/CE) (JORNAL OFICIAL DAS
COMUNIDADES EUROPEIAS, 2000).
45

(Consideração 01 da Diretiva). De acordo com a consideração 27 da


Diretiva, o conceito de “responsabilidade estendida do produtor” é:

[…] um dos meios para apoiar a concepção e


produção de bens em moldes que tenham
plenamente em conta e facilitem a utilização
eficiente dos recursos durante todo o seu ciclo de
vida, inclusive na reparação, reutilização,
desmontagem e reciclagem destes bens, sem
comprometer a livre circulação de mercadorias no
mercado interno. (EUR-LEX, 2008).

Para a “responsabilidade estendida do produtor”, o Art. 8o da


Diretiva, estabelece que:

1. A fim de reforçar a reutilização, a prevenção, a


reciclagem e outros tipos de valorização de
resíduos, os Estados-Membros podem tomar
medidas de caráter legislativo ou não legislativo
para assegurar que uma pessoa singular ou
coletiva que a título profissional desenvolva,
fabrique, transforme, trate, venda ou importe
produtos (o produtor do produto) esteja sujeita ao
regime de responsabilidade alargada do produtor.
Essas medidas podem incluir a aceitação dos
produtos devolvidos e dos resíduos que subsistem
depois de esses produtos terem sido
utilizados, bem como a subsequente gestão de
resíduos e a responsabilidade financeira por essas
actividades. Estas medidas podem incluir a
obrigação de disponibilizar ao público
informações acessíveis sobre até que ponto o
produto é reutilizável e reciclável.
2. Os Estados-Membros podem tomar medidas
adequadas para incentivar a concepção de
produtos de modo a que tenham um menor
impacto ambiental e dêem origem a menos
resíduos durante a sua produção e posterior
utilização, bem como para assegurar que a
valorização e eliminação dos produtos que se
tenham transformado em resíduos seja realizada
nos termos dos artigos 4.o e 13.o
Essas medidas podem incentivar, nomeadamente,
o desenvolvimento, a produção e a
46

comercialização de produtos adequados a várias


utilizações, que sejam tecnicamente duradouros e
que, depois de transformados em resíduos, possam
ser sujeitos a uma valorização correcta e segura e
a uma eliminação compatível com o ambiente.
3. Caso apliquem a responsabilidade estendida do
produtor, os Estados-Membros tomam em conta a
exequibilidade técnica e a viabilidade econômica,
bem como os impactos globais em termos
ambientais, de saúde humana e sociais,
respeitando a necessidade de garantir o correto
funcionamento do mercado interno.
4. A responsabilidade estendida do produtor é
aplicada sem prejuízo da responsabilidade pela
gestão de resíduos prevista no n.o 1 do artigo 15. e
sem prejuízo da legislação específica em vigor
relativa a produtos e fluxos de resíduos. (EUR-
LEX, 2008).

Esses conceitos são importantes pois definem claramente a quem


cabe as responsabilidades de gestão dos resíduos e a sua correta
destinação. Há ainda, outras definições importantes na Diretiva que
devem ser destacadas:

[...]
5. «Produtor de resíduos», qualquer pessoa cuja
actividade produza resíduos (produtor inicial dos
resíduos) ou qualquer pessoa que efetue operações
de pré-processamento, de mistura ou outras, que
conduzam a uma alteração da natureza ou da
composição desses resíduos;
[...]
9. «Gestão de resíduos», a recolha, o transporte, a
valorização e a eliminação de resíduos, incluindo
a supervisão destas operações, a manutenção dos
locais de eliminação após encerramento e as
medidas tomadas na qualidade de comerciante ou
corretor;
[...]
13. «Reutilização», qualquer operação mediante a
qual produtos ou componentes que não sejam
resíduos são utilizados novamente para o mesmo
fim para que foram concebidos;
47

14. «Tratamento», qualquer operação de


valorização ou de eliminação, incluindo a
preparação prévia à valorização ou eliminação;
15. «Valorização», qualquer operação cujo
resultado principal seja a transformação dos
resíduos de modo a servirem um fim útil,
substituindo outros materiais que, caso contrário,
teriam sido utilizados para um fim específico, ou a
preparação dos resíduos para esse fim, na
instalação ou no conjunto da economia. O Anexo
II contém uma lista não exaustiva de operações de
valorização;
[...]
17. «Reciclagem», qualquer operação de
valorização através da qual os materiais
constituintes dos resíduos são novamente
transformados em produtos, materiais ou
substâncias para o seu fim original ou para outros
fins. Inclui o reprocessamento de materiais
orgânicos, mas não inclui a valorização energética
nem o reprocessamento em materiais que devam
ser utilizados como combustível ou em operações
de enchimento;
[...]
19. «Eliminação», qualquer operação que não seja
de valorização, mesmo que tenha como
consequência secundária a recuperação de
substâncias ou de energia. O Anexo I contém uma
lista não exaustiva de operações de eliminação;
[…] (EUR-LEX, 2008).

No entanto, como citado anteriormente, a Diretiva 2008/98/EC


define os conceitos e estabelece os objetivos a serem alcançados,
deixando a cargo dos países membros o desenvolvimento da sua própria
legislação. Na França, desde 1975, o país adota leis que tratam da gestão
de resíduos. Diversas outras leis, códigos e decretos foram elaborados ao
longo dos últimos anos com o intuito de complementar a legislação em
vigor e reduzir o impacto ambiental causado pela produção de resíduos.
Algumas são genéricas enquanto outras dispõem sobre categorias
específicas de resíduos, como os resíduos da construção e demolição no
país.
48

Os quadros disponíveis no anexo apresentam as principais leis


que orientam a gestão dos resíduos do setor da construção civil na
França.
Os RCDs são classificados em três diferentes categorias, tendo
em vista a periculosidade e as possibilidades de valorização destes
resíduos, de acordo com a legislação: i) resíduos inertes; ii) resíduos
perigosos; e iii) resíduos não perigosos. A Federação Francesa da
Construção, Fédération Française du Bâtiment (FFB), descreve as
características dos três tipos de resíduos (Quadro 1).

Quadro 1 – Classificação dos RCDs de acordo com as regulamentações


francesas

Fonte: Adaptado de FFB (2014, p. 4)

Com base nas categorias apresentadas são estabelecidos os


valores cobrados para o tratamento dos resíduos, visto que cada
categoria exige um tratamento diferente. Quanto mais perigoso o
resíduo, mais caro é o seu tratamento. Além disso, se os resíduos não
são triados adequadamente ao serem encaminhados para o tratamento, o
valor cobrado será definido em função do resíduo mais caro presente na
mistura, independentemente dos volumes de cada tipo de resíduo.
Esses custos de tratamento dos resíduos são significativos. De
acordo com a FFB (2014), os custos correspondentes à adequada
eliminação dos resíduos da construção representam cerca de 2% a 4% do
49

faturamento total dos negócios do setor. Os empresários devem


conhecer os custos inerentes ao tratamento dos RCDs gerados nas obras
para que estes sejam considerados no valor final do investimento. Ainda
de acordo com a FFB (2014), as organizações devem incluir no cálculo
dos custos de suas obras os seguintes:

 mão de obra necessária para realizar a triagem ou


uma separação prévia à eliminação dos resíduos;
 instalações específicas no canteiro da obra (área
de armazenamento, caçambas etc.);
 transporte dos resíduos, dependendo do
afastamento do canteiro das instalações do local
de disposição;
 classificação do montante de resíduos a ser
eliminado (importante para definir a destinação do
resíduo dependendo da sua categoria, como
centros de triagem e reagrupamento, centros de
tratamento, unidades de reciclagem e unidades de
incineração). (FFB, 2014, p. 16, tradução nossa).

O Quadro 2 mostra uma estimativa dos valores praticados na


França para a eliminação dos resíduos de acordo com a sua destinação,
segundo dados de 2014 da FFB.

Quadro 2 – Estimação dos custos praticados para o encaminhamento dos


resíduos de acordo com a sua destinação

Fonte: Adaptado de FFB (2014, p. 16)

No transporte dos RCDs é exigido o preenchimento de um


formulário padrão na prefeitura da cidade para o transporte de carga
acima de 100 kg de resíduos perigosos, e acima de 500 kg no caso de
resíduos não perigosos. Esse documento deve ser preenchido e revisado
50

pelos seguintes intermediários: produtor, coletor, transportador e


empresa especializada no tratamento dos resíduos. Entre as
possibilidades de transporte a serem realizadas estão as seguintes,
segundo a FFB (2014).
 Transporte próprio, caso em que a empresa deve
indicar na declaração de transporte o local de
carga e descarga dos resíduos e atestar que o
condutor do veículo é empregado da empresa e
que o veículo pertence à empresa ou é por esta
alugado
 Transportador público, solicitado pela empresa
que deve ter, necessariamente, uma inscrição no
registro de transportadores a ser informada no
contrato de transporte.
 Transporte próprio e para terceiros, em que a
empresa torna-se um “transportador comum” e
deve atender todas as exigências para este caso,
incluindo uma inscrição no registo de
transportadores. (FFB, 2014, p. 11, tradução
nossa).

A FFB (2014) resume as obrigações das empresas do setor da


construção civil quanto à eliminação dos resíduos, conforme descrição
reproduzida a seguir:

 respeitar as obrigações de rastreabilidade


estabelecidas para os resíduos perigosos, feita por
meio de um documento obrigatório de
acompanhamento dos resíduos perigosos que
inclui informações sobre origem, características,
forma de coleta, transporte e armazenamento,
identidade da empresa e o destino final. Este
documento acompanha os resíduos até a instalação
de destino, podendo ser um centro de eliminação,
centro de separação e reagrupamento ou centro de
pré-tratamento;
 realizar a separação dos materiais (como paletes,
caixas, plásticos, recipientes vazios e limpos etc.)
visando a sua valorização;
 respeitar as obrigações para o transporte dos
resíduos, ou atribuir a atividade a um profissional
responsável pelo seu tratamento, ou seja, um
profissional que promoverá sua reutilização,
reciclagem ou transformação em energia,
51

excluindo qualquer outro meio de eliminação.


(FFB, 2014, p. 3, tradução nossa).

2.4. IMPERMEABILIZAÇÃO DAS CONSTRUÇÕES

De acordo com a NBR 9575/2010, a impermeabilização das


construções é definida como o “conjunto de operações e técnicas
construtivas (serviços), composto por uma ou mais camadas, que tem
por finalidade proteger as construções contra a ação deletéria de fluidos,
de vapores e da umidade.” (ABNT, 2010, p. 5). Em outras palavras, o
sistema de impermeabilização é responsável por proteger a estrutura da
edificação do ambiente na qual está inserida.
Soares (2014) afirma que os objetivos dos sistemas de
impermeabilização nas construções são: (i) permitir maior durabilidade
à edificação, ao impedir a passagem de água e vapores pela estrutura,
tendo em vista que estes são os agentes mais agressivos e que mais
causam danos às estruturas, (ii) oferecer conforto e usabilidade, evitando
problemas como umidade, infiltrações e vazamentos e,
consequentemente, as restrições de uso impostas aos usuários
decorrentes desses problemas; e (iii) proteger o meio ambiente, mais
recente objetivo e que deve ganhar destaque nos próximos anos devido
às questões de sustentabilidade e meio ambiente. A proteção ao
ambiente refere-se aos benefícios que a impermeabilização pode trazer
em relação ao tratamento de lagoas e dejetos industriais, dado que a
impermeabilização contribui para evitar a contaminação do solo e de
aquíferos subterrâneos; criação de canais de irrigação de baixíssimo
custo, os quais possibilitam não só a agricultura, mas também a
arborização de faixas áridas do sertão, através de matas ciliares ou
programas de reflorestamento; e à criação de coberturas verdes, fator de
grande importância na recuperação climática dos grandes centros
urbanos que apresentam alta densidade de edificações, população e
veículos, atuando como células de recuperação ambiental.
De forma geral, os sistemas de impermeabilização são adotados
em toda a área na qual faz-se necessário impedir a penetração ou
passagem de água e vapor do material. Logo, são comumente realizados
os serviços de impermeabilização nos terraços e sacadas, locais onde se
deseja bloquear a passagem de água do exterior para o interior da
edificação, em níveis térreos por exemplo acima de garagens de subsolo,
52

ou em qualquer outra área, mesmo que interna à edificação, onde é


prevista a presença de água e que se deseja impedir a sua passagem.
Existem alguns tipos de sistemas de impermeabilização que
podem ser adotados. No entanto, neste estudo é descrito e analisado um
sistema específico de impermeabilização, para o qual são identificados
os RCCs gerados. A Figura 2 mostra o sistema de impermeabilização
usado em terraços acessíveis em um projeto da empresa.

Figura 2 – Corte representativo de um sistema de impermeabilização adotado


em terraços acessíveis

Fonte: Adaptado de documentos fornecidos pela empresa

O sistema ilustrado na Figura 2 conta com uma camada de verniz,


responsável pela aderência da camada de barreira de vapor à estrutura;
uma camada de barreira de vapor; um isolante, responsável pelo
isolamento térmico da estrutura quando necessário; e duas camadas de
mantas de impermeabilização para a finalização. Acima do sistema de
impermeabilização encontram-se suportes plásticos de altura regulável,
os quais sustentam a laje de pedra natural do piso. Essa figura apresenta
um esquema de um dos sistemas de impermeabilização comumente
53

adotados pela empresa, a fim de identificar os materiais que podem ser


encontrados em um sistema de impermeabilização.
54

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O presente capítulo descreve os procedimentos metodológicos


adotados no desenvolvimento desta pesquisa.

3.1. ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO DA PESQUISA

Os aspectos de natureza metodológica que orientaram o estudo


baseiam-se nos objetivos da pesquisa, na sua natureza e nas técnicas
utilizadas para efetuar a coleta e análise dos dados.
Do ponto de vista dos objetivos da pesquisa, este trabalho pode
ser considerado como uma pesquisa exploratória e descritiva. De acordo
com Gil (1991), a pesquisa exploratória visa proporcionar maior
familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explícito ou a
construir hipóteses e a pesquisa descritiva visa descrever as
características de determinada população ou fenômeno ou o
estabelecimento de relações entre variáveis, envolvendo o uso de
técnicas padronizadas de coleta de dados. Neste caso, o trabalho
realizado busca contribuir para um melhor entendimento sobre como
ocorre a atividade de descarte dos resíduos da construção civil na
França, país membro da UE, classificado como maior gerador desses
resíduos (em comparação ao percentual de resíduos produzidos pelas
suas outras atividades e resíduos domésticos no país).
Ainda de acordo com Gil (1991), em relação aos procedimentos
técnicos adotados, a pesquisa utilizou diversos procedimentos diferentes.
Segundo o autor, pode ser classificada como:

 pesquisa bibliográfica, tendo em vista que foi elaborada a partir


de material já publicado, constituído principalmente de livros,
artigos de periódicos e, atualmente, com material disponibilizado
na internet;
 pesquisa documental, pois foi elaborada a partir de materiais que
não receberam tratamento analítico;
 levantamento, uma vez que a pesquisa envolve o questionamento
direto às pessoas cujo comportamento se deseja conhecer;
55

 estudo de caso, tendo em vista que foi realizado estudo profundo


e exaustivo de um ou poucos objetos de maneira que se
permitisse o seu amplo e detalhado conhecimento.

A partir desses procedimentos adotados foi possível comparar os


resultados da análise realizada na França com uma análise previamente
realizada no Brasil, a fim de identificar algumas diferenças entre os
cenários, além da comparação entre práticas adotadas em ambas as
realidades.
O desenvolvimento deste trabalho seguiu cinco etapas. Com o
intuito de definir o problema de pesquisa e os objetivos, iniciou-se com
a realização de uma pesquisa bibliográfica preliminar, a qual permitiu
adquirir maior conhecimento sobre o tema e o contexto da logística
reversa na Europa, mais especificamente na França, país membro da UE
que mais gera RCCs. Nesta etapa foram realizadas buscas nas bases de
dados Emerald Insight, Scopus e Springer Link e identificados artigos
científicos que tratam do tema logística reversa na construção civil.
Em uma segunda etapa foi construído o referencial teórico sobre
os temas logística reversa e construção civil, visando descrever a
situação da gestão dos RCCs na União Europeia e na França. Para tanto,
foi elaborado um portfólio de artigos obtidos nas bases de dados
científicas Emerald Insight, Scopus, Springer Link e Scielo. Os
trabalhos obtidos foram identificados usando palavras-chave como
logística reversa, closed-loop supply chains, logística verde e aplicação
de LR na construção civil. Foram identificados cerca de 150 artigos e,
em seguida, foram lidos os títulos dos artigos para avaliar a pertinência
com o tema de pesquisa e, quando necessário, foram lidos os resumos
dos trabalhos. Por fim, 18 artigos diretamente ligados ao tema do
trabalho foram selecionados e alguns deles estão listados nas referências
do presente estudo. Além da pesquisa por publicações nas bases de
dados, foram utilizados outros artigos identificados nas listas de
referências de alguns dos trabalhos utilizados no desenvolvimento desta
pesquisa, os quais são devidamente referenciados no texto.
Uma terceira etapa consistiu na descrição do contexto europeu e
francês, no que diz respeito à gestão de RCCs e a forma como país trata
esta questão. Esta etapa foi realizada com base em dados obtidos a partir
de pesquisas em material disponível on-line na página da União
Europeia e Eurostat (Gabinete de Estatísticas da União Europeia), uma
organização da Comissão Europeia responsável por produzir dados
estatísticos e promover a harmonização dos métodos estatísticos entre os
seus 28 países membros. Foram utilizados ainda materiais
56

disponibilizados pela Fédération Française du Bâtiment (FFB), uma


organização profissional que visa representar e defender as empresas de
construção com as autoridades públicas, decisores econômicos e outras
partes interessadas da construção na França.
A etapa de coleta de dados de campo visou fornecer um melhor
entendimento sobre como são realizadas as atividades de LR na
construção civil na França. Foi conduzido um estudo de caso precedido
de uma revisão bibliográfica e documental em uma empresa que
trabalha com serviços de impermeabilização das construções onde foram
analisados dois diferentes canteiros de obras em que atua a empresa, a
qual é descrita na primeira etapa dos procedimentos do trabalho. A
empresa manuseia os três tipos de resíduos identificados na classificação
dos RCCs na legislação do país, o que permitiu a observação dos
processos de LR adotados para os três tipos de resíduos, conforme
mostra o Quadro 3.

Quadro 3 – RCCs analisados nos canteiros de obras

Fonte: Elaboração própria

As atividades nas duas obras da empresa foram acompanhadas


durante dois meses, o que permitiu a descrição dos processos em dois
cenários diferentes. A descrição dos serviços de impermeabilização
realizados pela empresa em cada um dos cenários inclui os processos de:
(i) recebimento dos materiais; (ii) armazenamento; (iii) transporte
interno; (iv) aplicação e utilização dos materiais; (iv) triagem dos RCCs;
e (v) encaminhamento para o tratamento.
Por fim, com base na revisão bibliográfica e nos resultados
obtidos a partir dos dois meses de observação nas obras, foram
57

realizadas análises e discussão dos resultados obtidos em cada um dos


cenários.
A Figura 3 apresenta os procedimentos metodológicos adotados
para a realização deste trabalho.

Figura 3 – Procedimentos metodológicos

Fonte: Elaboração própria

3.2. A EMPRESA E A LOGÍSTICA REVERSA DOS RCCs

A empresa escolhida para a realização do trabalho é uma empresa


líder no setor francês da construção civil, especializada em
impermeabilização da construção, com mais de cem anos no mercado. A
empresa conta com mais de setenta escritórios espalhados por todo o
território francês, e está presente também em países da América Latina,
regiões caribenhas e continente africano. O presente trabalho foi
realizado na unidade de Île-de-France, a qual é responsável pelos
projetos realizados na região.
A responsabilidade da destinação dos resíduos da construção civil
resultantes dos serviços de impermeabilização realizados pela empresa
em questão depende do acordo previamente estabelecido com o cliente.
No entanto, independentemente do acordo estabelecido com o cliente, há
alguns anos os responsáveis pela empresa vêm mostrando uma maior
preocupação com os impactos ambientais gerados pelas suas atividades,
que se refletem na busca da conformidade quanto às exigências legais e
ao tratamento e destinação adequada dos RCCs gerados pelos seus
58

serviços. Assim, têm adotado algumas medidas visando a


conscientização das equipes para reduzir a geração e dar destinação e
tratamento adequado aos resíduos.
A conscientização das equipes se dá por meio da sensibilização
dos funcionários e treinamentos, visando explicar como são definidas as
categorias de RCCs e como deve ser realizada a gestão para cada uma
dessas categorias. Também são realizados cursos de formação para que
os funcionários façam os serviços de forma mais eficiente e com
qualidade, evitando o desperdício dos materiais utilizados. A empresa
também divulga as orientações por meio de pôsteres que abordam
assuntos relacionados aos RCCs, os quais são apresentados e discutidos
em treinamentos e afixados nos locais mais frequentados pelos
funcionários, como o depósito dos materiais, a sede da empresa e os
carros de transporte de pessoal. A Figura 4 mostra o pôster que trata da
triagem dos RCCs de acordo com a classificação prevista pela
regulamentação francesa, apresentando as formas corretas e incorretas
de triagem, trazendo exemplos de resíduos classificados com inertes e
não perigosos (DIB).
59

Figura 4 – Pôster informativo de triagem de resíduos inertes e não perigosos


adotado pela empresa

Fonte: Documentos fornecidos pela empresa

A estocagem dos produtos classificados segundo as categorias


especificadas na legislação também é tratada pela empresa. A Figura 5
mostra a forma adequada de estocagem de produtos perigosos, usando o
exemplo do verniz, produto indispensável na realização dos serviços de
impermeabilização. O verniz está presente em quase todos os canteiros
de obra em que a empresa realiza seus serviços e é um produto
inflamável que apresenta risco à saúde dos funcionários.
60

Figura 5 – Pôster informativo de estocagem de produtos perigosos adotado pela


empresa

Fonte: Documentos fornecidos pela empresa

3.3. CENÁRIO 1: OBRA SITUADA EM SAINT-DENIS

A obra escolhida para a realização do primeiro estudo está


localizada na comuna francesa de Saint-Denis, situada a 10 km ao norte
de Paris, no departamento de Seine-Saint-Denis, região de Île-de-France.
A obra consiste na construção de sete edifícios residenciais, dos quais
quatro possuem sete pavimentos e os outros três edifícios possuem
61

apenas dois pavimentos cada. A Figura 6 destaca a localização da


comuna de Saint-Denis em relação à cidade de Paris.

Figura 6 – Localização da comuna francesa de Saint-Denis

Fonte: Google Maps (2017)

A obra possui diferentes tipos de sistemas de impermeabilização


a serem executados, no entanto, como destacado anteriormente, o
sistema de impermeabilização adotado em terraços acessíveis foi
tomado como base para a realização do estudo.

3.3.1. Recebimento dos materiais

O processo de recebimento dos materiais na obra é feito de


acordo com o pedido realizado previamente, sendo estes materiais
entregues no canteiro pelo fornecedor ou trazidos diretamente pelos
funcionários da empresa. Neste último caso os materiais são obtidos
diretamente nas lojas ou no depósito próprio da empresa, que mantém
estoques de alguns materiais, inclusive de aqueles que não foram
utilizados em obras já concluídas.
Na obra descrita, os três materiais analisados (pedras naturais,
isolantes e verniz) são entregues no canteiro diretamente pelos
fornecedores em cargas unitizadas ou paletes. No caso de quantidades
62

inferiores a um palete, são recebidas embalagens individuais. A Figura 7


mostra um carregamento de isolantes no canteiro de obra.

Figura 7 – Chegada dos isolantes no canteiro de obra

Fonte: Acervo próprio

3.3.2. Acondicionamento dos materiais

Após o recebimento dos materiais no canteiro, estes são


encaminhados para o local onde a carga será armazenada até que seja
utilizada na obra. O armazenamento é uma atividade importante e se
feita de forma incorreta pode ocasionar danos ao material e prejudicar a
sua qualidade, tornando-o inadequado para o uso. Nesta obra, o
armazenamento de materiais de pequenos volumes é realizado em um
depósito móvel, um contêiner de 8 pés, alugado pela empresa (Figura 8).
O armazenamento nesse contêiner evita que os materiais frágeis sofram
os efeitos de intempéries, além de evitar furtos desses materiais e de
outras ferramentas.
63

Figura 8 – Depósito móvel alugado pela empresa (contêiner de 8 pés)

Fonte: Acervo próprio

No entanto, o depósito móvel não possui espaço suficiente para


comportar as cargas de maior volume, como as cargas unitizadas, por
exemplo. Estas são armazenadas em um local da obra com espaço
suficiente que permita o seu manuseio e que não dificulte as atividades
de outros prestadores de serviços, ou a circulação de pessoas e de outros
materiais.
O mesmo acontece com as latas de verniz, as quais são
armazenadas no exterior, ao lado do depósito móvel, como pode ser
visto na Figura 9. Porém, as latas de verniz precisam ser armazenadas
sem contato com o solo e protegidas, como mostrado no pôster de
estocagem de produtos perigosos da empresa.
64

Figura 9 – Acondicionamento das latas de verniz

Fonte: Acervo próprio

3.3.3. Transporte interno dos materiais

Para realizar o transporte interno dos materiais até o local onde


estes serão utilizados, é usada uma grua que movimenta os materiais
pesados até os terraços dos edifícios (Figura 10). Para serem
transportados pela grua os materiais precisam ser unitizados no canteiro,
ao contrário dos isolantes e das pedras naturais, que chegam ao canteiro
já paletizados. No caso dos materiais a serem aplicados no pavimento
térreo, são os próprios funcionários que realizam o transporte, assim
como no caso de outros pavimentos de edifícios onde a grua não tem
acesso. Nestes casos, a movimentação das cargas é feita pelos
funcionários usando as escadas, pois a obra não dispõe de elevador de
cargas.
65

Figura 10 – Transporte de isolantes para o terraço do edifício com o auxílio de


grua

Fonte: Acervo próprio

É comum a utilização da grua para transporte de materiais nas


obras em que a empresa atua, tendo em vista que a impermeabilização é
realizada em terraços e sacadas, locais altos e de mais fácil acesso com o
uso desse equipamento. Os funcionários da empresa que trabalham nas
obras recebem treinamento para preparar a carga a ser transportada pela
grua de forma correta, a fim de garantir a segurança no transporte. Esse
cuidado evita a queda de material durante o transporte, prevenindo
acidentes e reduzindo perdas de materiais. A Figura 11 ilustra um trecho
da cartilha utilizada no treinamento para transporte de carga com
utilização da grua.
66

Figura 11 – Cartilha de transporte de cargas em grua

Fonte: Documentos fornecidos pela empresa

3.3.4. Utilização dos materiais e geração dos RCCs

A geração dos RCCs está diretamente ligada à utilização dos


materiais para realização das atividades de impermeabilização. Como
destacado anteriormente, os funcionários recebem treinamento para
realizar os trabalhos da melhor forma, visando garantir a qualidade dos
serviços e evitar o uso inadequado bem como o desperdício de materiais.
Apesar destas ações, RCCs são gerados nesses processos.
O verniz é utilizado em todas as partes onde será recebida a
manta de impermeabilização. Esse serviço é sempre iniciado com a
aplicação de uma camada de verniz, pois este material garante a
aderência da primeira camada da manta à superfície em que se deseja
realizar a impermeabilização. A aplicação do verniz pode ser vista na
Figura 12.
67

Figura 12 – Aplicação de verniz sobre estrutura de concreto

Fonte: Acervo próprio

As placas de isolante são utilizadas para garantir o isolamento


térmico, conforme especificado no projeto. Essas placas podem variar
no tipo de material e na espessura, tendo em vista que quanto melhor o
material isolante da placa, menor a espessura necessária para garantir a
isolação térmica prevista no projeto. As placas de isolantes são
encaixadas entre as camadas de mantas de impermeabilização, como
mostra a
Figura 13. No entanto, as placas precisam ser cortadas para fazer o
acabamento lateral da área a ser isolada. Os pedaços de placas de
isolante recortados durante a colocação podem ser reutilizados para
preencher pequenos espaços, evitando a necessidade de cortes de novas
placas e garantindo um melhor aproveitamento de material.
68

Figura 13 – Encaixe de placas de isolantes

Fonte: Acervo próprio

Por fim, as pedras naturais são utilizadas como piso nos locais
externos da edificação. Como ilustrado na Figura 14, as pedras são
colocadas sobre suportes plásticos que permitem a regulagem de altura e
o nivelamento do piso em relação ao solo. As pedras naturais são
consideradas peças frágeis, portanto, o transporte ou armazenamento
inadequado facilmente danificam as peças. As peças danificadas são
separadas, pois não podem ser utilizadas no piso, com exceção dos casos
em que há necessidade de cortes nas peças, como é o caso dos
acabamentos em cantos.
69

Figura 14 – Piso de pedras naturais

Fonte: Acervo próprio

3.3.5. Tratamento e destinação final dos RCCs

Durante a realização das atividades de impermeabilização, os


RCCs gerados são colocados em big bags, próximo ao local onde os
funcionários aplicam os materiais, como mostra a Figura 15. Os RCCs
armazenados em big bags são, posteriormente, transportados para o
pavimento térreo com o auxílio da grua.
70

Figura 15 – RCCs gerados acondicionados em big bags

Fonte: Acervo próprio

Na obra em questão, o acordo estabelecido com o cliente para o


tratamento e a destinação dos resíduos é o tipo de acordo mais comum,
no qual a empresa realiza os serviços, mas o cliente fica responsável
pela contratação de uma empresa especializada no tratamento dos RCCs.
Nesse caso, a empresa que trata os resíduos fornece as caçambas para
coletar os resíduos e realiza o transporte para a instalação de tratamento.
Esse serviço é remunerado por todas as empresas que atuam no canteiro
e que contribuem com a geração dos RCCs, sendo a cobrança feita
pro rata. Esse tipo de acordo é mais simples porque evita que cada uma
das empresas que prestam serviços no canteiro precise contratar uma
empresa especializada para tratar da destinação adequada dos seus
RCCs.
Inicialmente o contrato fechado pelo cliente com a empresa de
tratamento dos resíduos era um contrato no qual cada tipo de RCC devia
ser previamente separado no canteiro de acordo com as três categorias
previstas na legislação francesa, ou seja, resíduos inertes, resíduos não
perigosos (DIB) e resíduos perigosos. Existiam no mínimo duas
caçambas diferentes depositadas no canteiro da obra, destinadas ao
recolhimento dos resíduos inertes e resíduos não perigosos (DIB), as
quais eram recolhidas sempre que necessário. A cobrança pelo
71

tratamento dos RCCs nessa forma de contrato é realizada de acordo com


o tipo de resíduo encaminhado à instalação de tratamento. No caso das
latas de verniz classificadas como resíduos perigosos, estas eram
recolhidas pelos funcionários da empresa e levadas ao depósito de
materiais, onde uma empresa especializada realizava o recolhimento. No
entanto, esse tipo de contrato foi modificado pelo cliente, passando para
um contrato em que não é prevista a separação dos RCCs. Essa alteração
foi realizada devido à falta de cuidado dos funcionários no processo de
triagem dos resíduos, sendo, muitas vezes, colocados os RCCs
misturados nas caçambas coletoras. Outro fator importante é o de que a
empresa não mantinha vigia noturno e materiais não classificados como
resíduos de construção eram depositados nas caçambas por pessoas
estranhas às empresas. Essa situação fazia com que os materiais
colocados nas caçambas não correspondessem à categoria identificada e
o valor cobrado pelo volume de cada caçamba não fosse relativo ao tipo
de resíduo previamente definido. Com a alteração do contrato, apenas
uma caçamba passou a ficar disponível no perímetro da obra, a qual é
recolhida pela empresa responsável pelo tratamento do RCC sempre que
necessário. Quando o cliente julga necessário, ele realiza o pedido de
mais caçambas para ficarem disponíveis no canteiro de obra, mas todas
destinadas ao recolhimento dos RCCs sem que seja necessária a sua
triagem. A alteração do contrato eliminou a necessidade de haver
sempre, no mínimo, três tipos de caçambas coletoras de RCCs na obra e
passou a possuir um único valor de cobrança para todos os resíduos
eliminados, tendo em vista que não se realiza mais a triagem dos RCCs
no canteiro.
A Figura 16 mostra a caçamba de recolhimento dos RCCs na
obra.
72

Figura 16 – Caçamba coletora de RCCs na obra

Fonte: Acervo próprio

Como pode ser observado na foto, uma vez que todos os RCCs
gerados na obra são colocados em um único coletor, muitas vezes as
caçambas coletoras ficam cheias provocando o acúmulo de RCCs no
pátio da obra. Para substituição da caçamba é necessário que o cliente
entre em contato com a empresa responsável pela coleta e tratamento
dos RCCs solicitando este serviço.
No caso das latas de verniz, classificadas como resíduos
perigosos, estas continuam sendo recolhidas pelos funcionários e
levadas até o depósito da empresa onde são temporariamente
armazenadas até o seu recolhimento por uma empresa especializada. O
mesmo acontece para diversas obras onde a empresa presta serviços,
uma vez que os resíduos perigosos não devem ser misturados com
outros RCCs a fim de evitar sua contaminação.
A Figura 17 mostra as latas de verniz armazenadas
temporariamente no depósito da empresa.
73

Figura 17 – Latas de verniz armazenadas temporariamente no depósito da


empresa

Fonte: Acervo próprio

Além disso, como a destinação das latas de verniz é de


responsabilidade da empresa, ela é também responsável por providenciar
o documento obrigatório de acompanhamento dos resíduos perigosos,
como abordado anteriormente. Esse documento deve acompanhar os
resíduos perigosos até a instalação de destino, como previsto na
legislação, e pode ser observado na Figura 18.
74

Figura 18 – Documento obrigatório de acompanhamento dos resíduos perigosos

Fonte: CERFA (2005)


75

3.4. CENÁRIO 2: OBRA SITUADA EM JOUY-EN-JOSAS

O estudo do Cenário 2 foi realizado em uma obra localizada em


Jouy-en-Josas, uma comuna francesa situada a 19 km a sudoeste de
Paris, no departamento de Yvelines, na região de Île-de-France. A obra
consiste em seis edifícios com quatro pavimentos cada, destinados à
implantação de escritórios e laboratórios. A Figura 19 mostra a
localização da comuna de Jouy-en-Josas em relação à cidade de Paris.

Figura 19 – Localização da comuna francesa de Jouy-en-Josas

Fonte: Google Maps (2017)

Assim como no estudo do Cenário 1, o sistema de


impermeabilização adotado em terraços acessíveis e empregado em
algumas áreas dessa obra foi utilizado como referência para o estudo.

3.4.1. Recebimento dos materiais

O recebimento dos materiais em obra ocorre da mesma forma que


na obra do Cenário 1. Os materiais tanto podem ser entregues pelo seu
fornecedor diretamente no canteiro quanto podem trazidos do depósito
da empresa pelos próprios funcionários. As pedras naturais, isolantes e
76

latas de verniz são entregues diretamente pelos fornecedores no canteiro


de obra, todos transportados como carga unitizada, exceto quando o
pedido é inferior a um palete, como acontece eventualmente com as
latas de verniz.

3.4.2. Acondicionamento dos materiais

Nesse canteiro de obra, a empresa também conta com um


depósito móvel, um contêiner de 8 pés, alugado para proteger das
intempéries os materiais de menor volume e guardar em segurança os
equipamentos de maior valor, como mostra a Figura 20.

Figura 20 – Materiais armazenados dentro do depósito móvel

Fonte: Acervo próprio

No caso de isolantes, pedras naturais e latas de verniz que chegam


no canteiro como carga unitizada, estes são armazenados em áreas com
77

espaço livre suficiente para os paletes. As latas de verniz são


armazenadas de forma a evitar o contato com o solo e sem proteção
superior, como pode ser visto na Figura 21.

Figura 21 – Acondicionamento das latas de verniz

Fonte: Acervo próprio

3.4.3. Transporte interno dos materiais

A obra em questão também dispõe de uma grua para realizar o


transporte de materiais dentro do canteiro, permitindo que os materiais
78

sejam transportados até o terraço dos edifícios quando necessário.


Durante a realização deste trabalho, houve um caso em que uma carga
de pedras naturais foi recebida quando a grua não estava disponível, o
que levou a empresa a providenciar a locação deste serviço de
movimentação vertical de cargas, tendo em vista que era o único meio
de transportar as pedras naturais até os terraços. O transporte dos paletes
de isolantes e pedras naturais é sempre realizado com o uso de grua,
exigindo atenção redobrada dos funcionários para evitar acidentes e
perda de material.
As latas de verniz podem ser transportadas em embalagens
individuais pelos funcionários, pelas escadas, tendo em vista que o seu
peso permite esse tipo de transporte. A Figura 22 mostra os paletes de
pedras naturais no terraço de um dos edifícios disponíveis para
aplicação.

Figura 22 – Paletes de pedras naturais no terraço após transporte por grua

Fonte: Acervo próprio


79

3.4.4. Utilização dos materiais e geração dos RCCs

A utilização dos materiais nessa obra é semelhante ao descrito no


primeiro cenário, assim como a geração dos resíduos de isolantes,
pedras naturais e verniz, uma vez que a técnica de impermeabilização
utilizada é a mesma.

3.4.5. Tratamento e destinação final dos RCCs

A obra do segundo cenário caracteriza um cenário diferente


daquele encontrado no primeiro. O cliente dessa obra tem maior
preocupação com a destinação de resíduos pois procura obter a
certificação. Certificações de sustentabilidade e de qualidade do
empreendimento, como a certificação BREEAM (2017), são cada vez
mais almejadas pelos grandes empreendimentos franceses e vêm se
tornando mais comuns no país.
De acordo com a definição:

BREEAM é o principal método de avaliação de


sustentabilidade do mundo para projetos de
planejamento, infraestrutura e edifícios. Ele
aborda uma série de fases do ciclo de vida, como
uma nova construção, reabilitação e construções
que estão em uso. […]
O foco no valor sustentável e na eficiência torna
os empreendimentos com certificação BREEAM
atrativos investimentos imobiliários e gera
ambientes sustentáveis que melhoram o bem-estar
das pessoas que vivem e trabalham neles.
(BREEAM, 2017, tradução nossa).

A certificação BREEAM avalia aspectos de sustentabilidade em


uma série de categorias. Dentro de cada categoria os empreendimentos
avaliados pela certificação vão acumulando pontos para atingir metas e,
como resultado dessa pontuação, o empreendimento é classificado. De
acordo com a certificação, o objetivo da categoria de avaliação de
resíduos é:
80

[…] incentivar a gestão sustentável (e reutilização


quando viável) dos resíduos da construção,
resíduos operacionais e resíduos gerados por
futuros reparos e manutenções associados à
estrutura da construção. Por meio do incentivo a
uma boa concepção de projeto e práticas
construtivas, os quais são abordados nessa
categoria, a certificação possui como objetivo a
redução de resíduos gerados pela construção e por
suas operações, incentivando evitar a destinação
de resíduos para aterros sanitários. (BREEAM,
2017, tradução nossa).

Tendo em vista a obtenção da certificação de sustentabilidade, o


cliente tem o interesse de acompanhar o processo e ficar responsável
pela separação e destinação dos RCCs. Assim, o acordo estabelecido
com o cliente nessa obra funciona da seguinte forma: o cliente é
responsável pela contratação do serviço de uma empresa especializada
na destinação dos RCCs, a qual, neste caso, também é responsável pelo
transporte e fornecimento das caçambas na obra. A obra é dividida em
zonas, e cada zona abrange o perímetro de um dos seis edifícios. Em
cada um dos quatro pavimentos da obra existem carrinhos específicos
para receber os resíduos separados previamente, os quais podem ser
vistos na Figura 23.
81

Figura 23 – Carrinho de resíduos não perigosos (DIB) à direita e carrinho de


resíduos de papel à esquerda

Fonte: Acervo próprio

No pavimento térreo estão localizadas caçambas, para os


diferentes tipos de RCC, quais sejam: metal (Figura 24), madeira
(Figura 25), embalagens sujas, aerossóis (Figura 26), papel, resíduos
inertes, resíduos não perigosos (DIB) (Figura 27) e resíduos perigosos.
Nessa obra a separação dos RCCs é mais rigorosa que aquela prevista na
legislação, tendo em vista a exigência imposta pelo cliente.
82

Figura 24 – Caçambas de resíduos de metal

Fonte: Acervo próprio

Figura 25 – Caçambas de resíduos de madeira

Fonte: Acervo próprio


83

Figura 26 – Caçambas de resíduos de embalagens sujas (esquerda) e aerossóis


(direita)

Fonte: Acervo próprio

Figura 27 – Caçambas de resíduos de papel (esquerda), resíduos não perigosos –


DIB (meio) e resíduos inertes (direita)

Fonte: Acervo próprio

Cada empresa que presta algum tipo de serviço dentro da obra


deve realizar a triagem dos RCCs gerados e colocá-los nos devidos
carrinhos de coleta dispostos em cada um dos pavimentos. Ao final do
dia, um funcionário encarregado pelo pavimento transporta esses
84

carrinhos até o pavimento térreo e deposita os resíduos nas caçambas


coletoras. Esse transporte dos RCCs é feito diariamente, pouco antes de
encerrar o expediente. O cliente conta com um funcionário de uma
empresa terceirizada responsável pela verificação da separação dos
RCCs, o qual inspeciona a triagem três vezes ao dia para garantir que a
separação está sendo realizada de forma correta.
85

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Este capítulo apresenta a análise e discussão dos vários resultados


apresentados ao longo do trabalho, tanto relativos à geração de resíduos
da construção civil na UE e França e a legislação em vigor quanto às
políticas de gestão e práticas de logística dos RCCs adotadas pela
empresa, objeto deste estudo de caso. Essa discussão permite também
comparar os resultados obtidos neste trabalho, com estudo semelhante
desenvolvido por Kappel (2015).

4.1. CARACTERÍSTICAS GERAIS DA EMPRESA E A GESTÃO DE


RCC

No que diz respeito ao volume de RCC na França, pode-se


observar que o país é um dos que mais gera resíduos dentre os países da
UE, como mostram pesquisas realizadas pelo Eurostat (2016). Estima-se
que o volume de RCCs gerados nos centros urbanos do Brasil gira em
torno de 40% a 70% (KAPPEL, 2015) do volume total dos resíduos
sólidos urbanos, ao passo que na França, segundo as pesquisas
publicadas pelo Eurostat (2016), o volume produzido no ano de 2015
tenha ultrapassado 70% dos resíduos totais do país.
O estudo de caso precedido de uma revisão bibliográfica e
documental foi realizado em uma das agências de uma empresa do ramo
da construção civil que atua prestando serviços de impermeabilização,
sendo esta agência responsável pelas obras da região de Île-de-France.
No estudo, duas obras foram acompanhadas e pôde-se perceber que há
uma preocupação dos diretores da empresa com as questões
relacionados à gestão dos RCCs. A legislação na França contribui para a
adoção de algumas práticas, tais como a correta separação e o
acompanhamento dos resíduos considerados perigosos, a triagem dos
diferentes tipos de resíduos em obra ou em posterior instalação
especializada para que sejam aproveitados e reciclados quando possível,
entre outras medidas. No entanto, merece destaque o fato de a empresa
pesquisada, bem como a empresa de uma das obras analisadas,
buscarem certificações específicas, como a já citada certificação
BREEAM. No caso da empresa em estudo, encontra-se em andamento
desde 2013 o processo de certificação ISO 14001 para as suas usinas de
asfalto (material utilizado em alguns sistemas de impermeabilização) e
86

para as suas filiais que fabricam estruturas metálicas. A certificação ISO


14001 diz respeito a Sistemas de Gestão Ambiental, é reconhecida
internacionalmente e permite que a organização demonstre o seu
compromisso com a proteção do meio ambiente e comprometimento
com a redução de impactos ambientais, atendendo às expectativas de
sustentabilidade. As Políticas Ambientais adotadas tanto para as usinas
de asfalto quanto para as filiais fabricantes de estruturas metálicas
preveem a adoção de uma triagem seletiva sistemática para os resíduos
produzidos nas unidades a fim de permitir a sua reciclagem. Para as
usinas de asfalto, a Política Ambiental adotada também prevê o aumento
da utilização de materiais reciclados no asfalto.
Em termos de legislação, foi possível observar que a França
aplica um vasto quadro de regulamentações para a gestão de resíduos e
as atividades associadas que afetam diretamente os RCCs quando em
comparação com o quadro legislativo brasileiro, abordado por Kappel
(2015). Essas leis são detalhadas e definem claramente as
responsabilidades e as obrigações, o que se torna importante para os
RCCs, pois, no ambiente da construção civil, existem diversos
intervenientes presentes na obra. Em ambos os cenários estudados,
apesar do vasto quadro legislativo, não foram identificadas para a prática
de gestão e eliminação dos RCCs quaisquer dificuldades ou entraves em
termos de processos burocráticos que mereçam ser destacados. Em nível
de documentação, foi observado nos dois cenários que as atividades
ligadas aos RCCs foram incorporadas às demais atividades necessárias a
serem realizadas no dia a dia da obra e eram realizadas com a mesma
atenção e rigor, mantendo os documentos em dia e seguindo as diretrizes
estabelecidas na legislação.
De um modo geral, da mesma forma que constatado no estudo de
Kappel (2015), pôde-se observar que a própria empresa adota diversas
práticas de gestão de resíduos, neste caso com destaque para a
minimização destes. No que se refere à conscientização das equipes que
trabalham em obra e lidam diretamente com os resíduos, são evidentes
as medidas adotadas pela empresa em relação à capacitação dos seus
funcionários, através da realização de treinamentos periódicos e da
elaboração de pôsteres visando a comunicação visual. Além de abordar
as práticas da gestão de resíduos, os treinamentos ministrados têm o
intuito de capacitar os funcionários quanto à realização dos serviços,
objetivando diminuir o desperdício de materiais e consequentemente
reduzir a geração de resíduos. Além disso, é realizada também em
treinamento a capacitação do pessoal quanto à utilização de ferramentas
e equipamentos, a fim de evitar danos causados aos materiais devido à
87

incorreta utilização, como foi apresentado por exemplo para a


preparação da carga para o transporte em gruas. Essas medidas têm
como objetivo não somente evitar o desperdício dos materiais, mas
também conscientizar as equipes quanto à importância de manter a obra
limpa e organizada, além de promover a segurança de todos os
funcionários envolvidos.
Outro ponto importante a se destacar é o fato de que os
engenheiros e estagiários que trabalham nas obras também são
instruídos quanto à forma correta de realizar as atividades. A fim de
promover a segurança e a qualidade dos trabalhos, eles são responsáveis
pelo controle contínuo dos serviços realizados e podem orientar as
equipes quando identificam que algo deve ser realizado de maneira
diferente.
Também no âmbito de qualidade dos serviços e segurança dos
funcionários, a empresa fornece ferramentas e equipamentos em boas
condições de uso para a realização das atividades. Isso contribui também
para a redução do desperdício de materiais, tendo em vista que evita a
necessidade de repetição do serviço por falha ou inadequação no que foi
realizado devido à ferramenta ou equipamento utilizado.
Além das medidas apresentadas para evitar e reduzir a geração de
resíduos nos canteiros de obra, a empresa adota outras ferramentas para
avaliar a geração de resíduos resultantes dos serviços prestados e a sua
destinação. Em conformidade com o Decreto nº 2012-557, de 24 de abril
de 2012, relativo aos deveres de transparência corporativa em questões
sociais e ambientais (Artigo 225 da Lei nº 2010-788, de 12 de julho de
2010) na França, a empresa elabora um relatório anual pelo qual presta
contas quanto a questões sociais e ambientais, trazendo indicadores e
comentários sobre os resultados. Para as questões ambientais, o relatório
é elaborado com base nas unidades do território francês e unidades
internacionais através da coleta de dados realizada pelo software BFC
(BusinessObjects Financial Consolidation), extraídos para o período de
um ano, a partir de 1º de outubro do ano n-1 até 30 de setembro do ano
n, de acordo com o período desejado.
Um modelo dos indicadores de prevenção, reciclagem e
eliminação de resíduos avaliados nos anos de 2014 e 2015 pode ser
observado na Figura 28.
88

Figura 28 – Indicadores de prevenção, reciclagem e eliminação de resíduos


avaliados nos anos de 2014 e 2015

Fonte: Documentos fornecidos pela empresa

Em relação à documentação relacionada ao transporte dos


resíduos prevista na legislação, a empresa segue rigorosamente as regras
elaborando o documento necessário para o transporte das latas de verniz
que partem do depósito. Já para os resíduos que são depositados nas
caçambas das obras em que a empresa realiza serviços, esses
documentos ficam por responsabilidade do cliente, o qual gerencia as
etapas de recolhimento dos RCCs no canteiro de obra e destinação.
No entanto, o acompanhamento das obras nos dois cenários por
um período de dois meses permite que um ponto importante seja
destacado. Kappel (2015) enfatiza em seu estudo a utilização de grandes
quantidades de tijolos e blocos cerâmicos em obra, os quais chamam
atenção por gerar elevados volumes de RCCs. No entanto, em ambos os
cenários acompanhados no presente estudo, verificou-se a falta desses
materiais de construção no dia a dia das obras. Isso está relacionado ao
tipo de tecnologia comumente adotada na construção civil do país, onde
são empregadas peças pré-fabricadas em concreto para as paredes do
exterior da construção e placas de gesso, também pré-fabricadas, para as
paredes internas à edificação. Além de acelerar o processo de
89

construção, a utilização de peças pré-fabricadas diminui a quantidade de


material manuseada pelo funcionário e reduz consideravelmente a
quantidade de RCCs gerados a partir do emprego dos tijolos e blocos, os
quais, de acordo com Kappel (2015), possuem destaque por seu elevado
volume.

4.2. RECEBIMENTO, ACONDICIONAMENTO, TRANSPORTE


INTERNO E UTILIZAÇÃO DOS MATERIAIS E GERAÇÃO DE
RCC

O material que chega no canteiro de obras, quando entregue por


um fornecedor, é sempre recepcionado por um funcionário da empresa.
Os funcionários, no entanto, não costumam conferir a qualidade do
material recebido nem checar a quantidade de acordo com a nota fiscal
recebida. Ao questionar um engenheiro da empresa, responsável por
uma das obras, sobre a atividade de verificação do material recebido, ele
confirmou que realmente esta verificação não costuma ser feita, tendo
em vista que são raros os erros nos pedidos ou problemas na qualidade
do material fornecido. Apesar disso, se algum erro na quantidade ou
problema de qualidade da carga for identificado, os funcionários são
instruídos a não receberem o material.
O acondicionamento dos materiais em ambos os cenários é
realizado de forma apropriada, respeitando as regras previstas para o
armazenamento de latas de verniz e para os outros materiais, sendo
realizado sempre em locais onde não atrapalhe a circulação de pessoal,
máquinas e equipamentos ou de outros materiais. Os funcionários estão
sempre atentos ao realizarem o acondicionamento dos materiais, tendo
em vista que o acondicionamento inadequado pode ocasionar danos ou
até mesmo a perda de um carregamento.
O transporte interno dos materiais é realizado, na grande maioria
das vezes, com o auxílio de grua. Apesar de facilitar e agilizar o
transporte de materiais, a utilização da grua requer cuidados redobrados
para realizar o transporte, uma vez que a carga é movimentada sobre
todo o perímetro dos canteiros, onde diversos outros funcionários
realizam seus serviços. O transporte interno das cargas que chegam no
canteiro de obras já unitizadas é, geralmente, realizado na hora do
recebimento do material. Os funcionários da empresa em conjunto com
os motoristas dos caminhões que realizam as entregas são responsáveis
por preparar os paletes para serem transportados pela grua diretamente
90

aos terraços onde é prevista a sua utilização. Nos terraços, os materiais


ficam estocados já nas quantidades necessárias previstas, prontos para
serem utilizados. Isso acontece, pois, o recebimento das cargas nos
canteiros de obra é geralmente realizado quando há a necessidade do
emprego de algum material, evitando grandes quantidades de estoques.
Os engenheiros da empresa costumam preferir realizar os pedidos
prevendo a quantidade necessária, pois, apesar de aumentar um pouco o
custo devido à entrega de materiais, diminui o seu acúmulo no canteiro
de obras, onde o espaço costuma ser restrito, além de evitar que o
material fique exposto a intempéries e possíveis problemas com perdas e
roubos de cargas.
É realizada, também, sempre na última semana do mês, a
contagem do estoque em cada uma das obras. Essa medida é adotada
para todos os canteiros de obra da empresa, permitindo que o engenheiro
faça a programação das suas necessidades baseando-se no que tem ainda
disponível.
A utilização dos materiais nos serviços de impermeabilização
ocorre como o previsto e não foram identificadas grandes perdas de
material. Ao realizar o cálculo das necessidades de alguns materiais,
como é o caso dos três materiais escolhidos para o estudo, os
engenheiros acrescentam uma perda de 10% a 20% da quantidade
necessária. Essa perda é uma variação da previsão decorrente da própria
natureza do serviço, resultante da variação na metragem ou corte de
material, por exemplo. Esse percentual é adotado com base na
experiência de obras já realizadas e evita que sejam necessários pedidos
de pequenas cargas quando se aproxima da conclusão dos serviços,
devido à falta de material.

4.3. TRATAMENTO E DESTINAÇÃO FINAL DE RCC

No que se refere à gestão dos resíduos, observou-se que em


ambas as obras os funcionários da empresa desenvolvem esta função
com facilidade e seguem as condições impostas pelo cliente.
No Cenário 1, em que a separação dos RCCs não é necessária, os
funcionários reúnem os resíduos gerados pelas suas atividades sempre
em um local próximo ao que estão trabalhando. Isso ocorre de forma
natural e organizada, e os próprios funcionários parecem perceber a
necessidade de realizar essa atividade. Quando se julga necessário, os
resíduos inertes e os resíduos não perigosos (DIB) são transportados
91

para o pavimento térreo para serem então depositados nas caçambas. Se


a quantidade de resíduos gerados for alta e recolhida em big bags, os
funcionários solicitam o auxílio da grua para realizar o transporte até o
pavimento térreo. No entanto, se a quantidade gerada for pequena, os
resíduos são recolhidos em sacolas menores e levados até as caçambas
pelos próprios funcionários, descendo as escadas dos edifícios. O
agrupamento dos RCCs enquanto é realizado o serviço facilita o
trabalho e o deslocamento da equipe no local, além de contribuir para a
manutenção da limpeza e organização geral do espaço. As latas de
verniz que não podem ser misturadas com os outros RCCs são
armazenadas no mesmo local dos outros resíduos durante as atividades
e, ao final do expediente, são levadas pelos funcionários até o veículo da
empresa, para que sejam levadas posteriormente ao depósito.
Durante a realização do trabalho, pôde-se observar um episódio
ocorrido com uma das latas de verniz que ratifica a importância do
recolhimento dos resíduos perigosos. Em um dos terraços onde foi
finalizado o sistema de impermeabilização, foi realizado o teste para
comprovar a qualidade do serviço realizado. O teste consiste em
bloquear todas as saídas de água existentes no terraço e, em seguida,
enche-se o terraço com uma lâmina de água. A água deve ficar no local
por pelo menos 48 horas antes que sejam desobstruídas as passagens de
água, a fim de identificar se existem pontos de infiltração e atestar que o
sistema de impermeabilização foi realizado de forma correta. Na obra,
foi realizado o enchimento do terraço com uma lamina d’água, mas um
dos funcionários esqueceu de retirar uma lata de verniz que havia sido
depositada no local de agrupamento dos resíduos. No dia em que se foi
desobstruir as passagens de água para esvaziar o terraço, foi encontrada
a lata de verniz virada no local e traços do produto na água (Figura 29).
O verniz é um produto que, além de inflamável, é tóxico por via cutânea
e inalação e não deve ser descartado em esgoto.
92

Figura 29 – Traços de verniz na água

Fonte: Acervo próprio

Em relação ao local de recebimento dos RCCs no Cenário 1,


pôde-se observar que diversas vezes a caçamba coletora disponível no
perímetro da obra não foi suficiente para o volume de resíduos gerados.
Alguns dias, observou-se a existência de mais de uma caçamba
disponível no canteiro para recebimento dos RCCs, mas estas não
permaneciam por um longo período de tempo dentro da obra e eram
recolhidas sem que fossem substituídas.
Além disso, em diversos dias foi possível observar que diferentes
equipes prestadoras de serviços na obra acumulavam seus RCCs e não
os encaminhavam diretamente para as caçambas coletoras, o que
atrapalhava locais de circulação de pessoas, materiais e equipamentos,
além de trazer um aspecto de desorganização e falta de limpeza nas
áreas comuns, como mostra a Figura 30.
93

Figura 30 – Acúmulo de RCC nas áreas comuns

Fonte: Acervo próprio

Na obra do Cenário 2, a separação e o descarte de materiais


impostos pelo cliente também é respeitado pelos funcionários, sem que
fosse observada resistência por parte da equipe. Os RCCs são reunidos
no mesmo local onde são gerados e, assim que os funcionários
identificam a necessidade, levam os resíduos para os carrinhos coletores
mais próximos, presentes nos diferentes pavimentos da obra. A
existência dos carrinhos em cada pavimento elimina a necessidade do
transporte pelos funcionários tanto por grua quanto pelas escadas do
prédio, quando em menor quantidade. No entanto, os funcionários
precisam realizar a separação nos carrinhos coletores, tarefa que é feita
de forma rápida e sem grandes dificuldades.
A necessidade de separação dos RCC pelas diversas equipes
prestadoras de serviços dentro da obra, a existência de um funcionário
responsável por transportar o carrinho coletor para as caçambas de
resíduos e a supervisão de um funcionário de uma empresa terceirizada
quanto à realização das atividades de gestão dos RCC previstas fazem
parte do conjunto de medidas adotadas pelo cliente e que contribuem
para um ambiente de limpeza e organização na obra do Cenário 2.
94

No entanto, foi observado que a existência de diversas caçambas


coletoras de resíduos no pavimento térreo da obra requer uma grande
área disponível. Essa área deve ser prevista contando com a entrada, no
canteiro de obras, do caminhão que vai recolher as caçambas, garantindo
espaço suficiente para a realização da operação (espaço de manobra, se
necessário).
Em ambas as obras acompanhadas as equipes cumpriram o
acordo estabelecido com o cliente e realizaram o que era previsto sem
apresentar resistência. Acredita-se que isso deva-se à consciência
adquirida pelos funcionários durante os treinamentos ministrados, uma
vez que estes são orientados a realizar sempre que necessário a
separação dos RCCs e a manter o local de trabalho em ordem. Os
próprios funcionários percebem a importância da limpeza do local,
tendo em vista que quando identificam que os resíduos devem ser
evacuados devido à grande quantidade depositada, eles mesmos
providenciam o serviço sem que seja necessário receber orientação para
isso. Outro fator que deve ser destacado é a quantidade de funcionários
nas equipes de trabalho em obra. Em ambas as obras, as equipes
variaram de três a cinco funcionários, dependendo da necessidade de
pessoal para executar os serviços no dia. O baixo número de pessoal
favorece a observação dos serviços por todos, despertando naturalmente
um senso de disciplina na equipe.
Durante a realização deste trabalho foi possível constatar, por
meio de entrevistas informais com colaboradores de diferentes equipes
prestadoras de serviços na obra, que a grande maioria dos funcionários
percebe a diferença no aspecto da obra com a adoção da política de
gestão de resíduos. Os funcionários relatam que os espaços comuns
estão sempre organizados, limpos e livres, o que facilita o trânsito de
pessoas e o acesso das equipes às diferentes áreas de trabalho, aos
materiais e aos equipamentos e, consequentemente, contribui para a
melhoria da produtividade. Além disso, a limpeza do local agrada todos
os funcionários e visitantes, como engenheiros, arquitetos e clientes.
Cabe destacar ainda que a triagem dos RCCs, realizada pelos próprios
funcionários, não gera incômodos para estes nem prejudica o andamento
dos trabalhos. Muitas equipes relataram que a triagem é feita
naturalmente, e que todos consideram uma atividade necessária,
contratada pelo cliente e que deve ser obrigatoriamente realizada. A
triagem dos RCCs pelas próprias equipes prestadoras de serviço confere
agilidade ao processo, pois cada uma fica responsável pela gestão dos
seus próprios RCCs.
95

5. CONCLUSÃO

O objetivo deste trabalho foi identificar as práticas da logística


reversa adotadas em uma empresa francesa do setor da construção civil,
prestadora de serviços de impermeabilização, identificando como são
realizados o tratamento e a destinação final dos RCCs classificados
como inertes, não perigosos (DIB) e perigosos, de acordo com a
classificação prevista na legislação do país.
De forma geral, o acompanhamento das atividades da empresa
permitiu identificar diversas práticas adotadas pela gerência em relação
à gestão dos resíduos gerados pela realização dos sistemas de
impermeabilização. Identificou-se também um alto grau de
conscientização das equipes que trabalham em obras e lidam
diretamente com a geração de resíduos, além de despertar um senso de
disciplina em todos os funcionários. No entanto, de acordo com as obras
acompanhadas para a realização do trabalho, identificou-se que a
destinação dos RCCs fica sujeita ao acordo feito com o cliente
contratante dos serviços, uma vez que os RCCs são depositados
juntamente com os resíduos produzidos por todas as outras empresas
prestadoras de serviços na obra. Esta prática constatada nos dois estudos
de caso demonstra que a empresa, por mais que adote políticas de
conscientização e instrução de seus funcionários, não possui controle
total sobre a destinação de todos os resíduos gerados, tendo em vista que
a empresa especializada no tratamento dos RCCs é contratada
diretamente pelo cliente.
Também foi possível constatar a diferença entre a forma de
tratamento dos RCCs entre dois cenários diferentes, o primeiro no qual é
realizado apenas o cumprimento das leis básicas quanto ao tratamento
de resíduos por uma empresa especializada e, o segundo, quando existe
uma maior preocupação quanto à separação e ao tratamento e destinação
dos resíduos, adotando políticas de gestão mais rigorosas do que o
mínimo exigido por lei. A diferença entre os dois cenários é evidente,
sendo possível constatar que, quando as políticas de gestão dos RCCs
são mais rigorosas, existe uma maior organização e limpeza nos espaços
comuns da obra, proporcionando um ambiente de qualidade para o
trabalho das diferentes equipes e contribuindo para o trânsito de pessoas,
materiais e equipamentos pela obra.
No que se refere ao acompanhamento dos materiais analisados ao
longo do estudo e seus resíduos gerados em obra, foi possível identificar
96

o processo de descarte dos resíduos classificados como inertes, não


perigosos (DIB) e perigosos, de acordo com a legislação francesa.

5.1. SUGESTÕES DE PESQUISAS FUTURAS

O desenvolvimento deste trabalho permitiu identificar o cenário


de gestão e destinação de resíduos na França, com base nas atividades
realizadas em duas obras por uma empresa do setor da construção civil
prestadora de serviços de impermeabilização. No entanto, o escopo do
estudo foi limitado ao acompanhamento de três tipos de materiais – as
pedras naturais, os isolantes e as latas de verniz –, os quais geram
resíduos classificados respectivamente como resíduos inertes, resíduos
não perigosos (DIB) e resíduos perigosos, de acordo com a definição da
legislação francesa. Por isso, a pesquisa resulta apenas em uma visão
geral do tratamento e destinação desses resíduos, tendo em vista a
grande variedade de materiais utilizados na construção civil e seus
RCCs gerados.
O acompanhamento das obras foi realizado por um período de
dois meses com visitas diárias aos canteiros, sendo analisados os
processos desde a chegada do material em obra até a sua deposição nas
caçambas coletoras de resíduos, ainda dentro do perímetro da obra.
Informações quanto ao tratamento posterior dado aos RCC foram
coletadas das empresas especializadas no tratamento dos resíduos, mas
não foram efetivamente vistas e acompanhadas. Sugere-se que em
trabalhos futuros seja realizado também o acompanhamento do
tratamento dos RCCs nas empresas especializadas no tratamento,
evidenciando a destinação dos resíduos.
Cabe ainda ressaltar que o presente estudo tem natureza
predominantemente qualitativa, evidenciando as práticas adotadas
quanto á gestão dos RCCs e sua destinação. Trabalhos futuros podem
tratar dos volumes dos resíduos gerados por diferentes materiais, por
exemplo. Além disso, poderiam ser desenvolvidas pesquisas que
enfoquem o potencial de reutilização de certos materiais dentro da
própria obra ou de materiais alternativos que possam ser adotados a fim
de substituir materiais que geram elevados volumes de RCC.
O acompanhamento da gestão em obra e destinação dos resíduos
foi realizado em duas obras do setor da construção civil francesa. Apesar
disso, é sabido que o maior volume de resíduos da construção gerado é
proveniente da demolição. Trabalhos futuros poderiam abordar este
diferente cenário, a fim de explorar como é realizada a logística reversa
97

dos resíduos da demolição, os quais apresentam características


diferentes dos resíduos tratados neste estudo.
Por fim, a pesquisa foi limitada à análise do cenário francês, país
da União Europeia que apresenta o maior volume em geração de
resíduos da construção civil. Trabalhos futuros poderiam analisar o
cenário de outros países pertencentes à União Europeia, dando ênfase,
por exemplo, aos países que possuem altos índices de reciclagem de
RCC.
98

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WOLFFENBÜTTEL, A. O que é? –Formação Bruta de Capital Fixo.


Desafios do Desenvolvimento, Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA), ano 1, edição 3, 1º out. 2004. Disponível em:
<http://ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=artic
le&id=2045:catid=28&Itemid=23>. Acesso em: 17 mar. 2017.
103

ANEXO

Quadro A – Quadro jurídico referente a resíduos da construção civil na França


(parte 1)

Fonte: Adaptado de Construction and Demolition Waste management in France


(EUROPEAN COMMISSION, 2015)

Quadro B – Quadro jurídico referente a resíduos da construção civil na França


(parte 2)

Fonte: Adaptado de Construction and Demolition Waste management in France


(EUROPEAN COMMISSION, 2015)
104

Quadro C – Quadro jurídico referente a resíduos da construção civil na França


(parte 3)

Fonte: Adaptado de Construction and Demolition Waste management in France


(EUROPEAN COMMISSION, 2015)

Quadro D – Quadro jurídico referente a resíduos da construção civil na França


(parte 4)

Fonte: Adaptado de Construction and Demolition Waste management in France


(EUROPEAN COMMISSION, 2015)
105

Quadro E – Quadro jurídico referente a resíduos da construção civil na França


(parte 5)

Fonte: Adaptado de Construction and Demolition Waste management in France


(EUROPEAN COMMISSION, 2015)
106

Quadro F – Quadro jurídico referente a resíduos da construção civil na França


(parte 6)

Fonte: Adaptado de Construction and Demolition Waste management in France


(EUROPEAN COMMISSION, 2015)
107

Quadro G – Quadro jurídico referente a resíduos da construção civil na França


(parte 7)

Fonte: Adaptado de Construction and Demolition Waste management in France


(EUROPEAN COMMISSION, 2015)

Quadro H – Quadro jurídico referente a resíduos da construção civil na França


(parte 8)

Fonte: Adaptado de Construction and Demolition Waste management in France


(EUROPEAN COMMISSION, 2015)
108

Quadro I – Quadro jurídico referente a resíduos da construção civil na França


(parte 9)

Fonte: Adaptado de Construction and Demolition Waste management in France


(EUROPEAN COMMISSION, 2015)

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