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Resumo
Este trabalho tem como objetivo comparar os resultados do uso dos procedimentos de videofeedback e modelação em
vídeo na orientação de mães de crianças pré-escolares quanto à agilidade na produção de mudanças nos
comportamentos relacionados ao uso do reforçamento diferencial (aumentar a atenção positiva para comportamentos
apropriados e diminuir a atenção negativa e punição aos comportamentos inadequados). Participaram duas díades
mãe e filho. As crianças tinham três e quatro anos, com problemas de comportamento externalizante e internalizante,
respectivamente. O procedimento consistiu em orientar as mães, alternando os procedimentos de videofeedback e
modelação em vídeo, tomando-se medidas observacionais repetidas entre as sessões. Nos dois casos, a modelação em
vídeo apresentou resultados superiores. Os resultados demonstraram que assistir a um terapeuta proficiente dando
modelo das habilidades-alvo à mãe é relevante para a percepção das mudanças imediatas no comportamento da
criança, em função de alterações simples no padrão de interação.
Abstract
The objective of this work is to compare results of the use of videofeedback and video modeling procedures in
parent training of preschool children about the agility to produce changes in behaviors related to the use of the
diferencial reinforcement (to increase the positive attention to appropriate behaviors and to decrease the negative
attention and punishment to inadequate behaviors). Two dyad mother-child participated. The children had three and
four years, with externalizing and internalizing behavior problems, respectively. The procedure consisted of training
the mothers, alternating the procedure of videofeedback and video modeling, making repeated measured
observations between the sessions. In the two cases, the video modeling presented superior results, which
demonstrated that watching a proficient therapist giving model of the target-skills to the mother is relevant to
perception the immediate changes in the child’s behavior in function of simple changes in the interaction patterns.
1E-mail: cmoura@uel.br
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Efeitos dos procedimentos de videofeedback e modelação em vídeo na mudança de
comportamentos maternos
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Mãe 1 (Paula) Sessão de modelação em vídeo: Mãe assistiu o desempenho de uma terapeuta-
modelo que gravou uma sessão lúdica com José, apresentando as habilidades-alvo
da intervenção. A pesquisadora acompanhou a sessão realizando apontamentos das
habilidades, quando elas ocorriam, para aumentar a discriminação por parte da mãe.
Mãe 2 (Edna) Sessão de videofeedback: Mãe assistiu seu próprio desempenho na sessão inicial. A
pesquisadora acompanhou a sessão realizando apontamentos das ocorrências das
inabilidades que precisavam ser alteradas, para aumentar a discriminação por parte
da mãe.
Etapa 3 – Avaliação Intermediária: As jogo livre com seu filho, nos moldes da
mães realizaram nova sessão em situação de Etapa 1, uma semana após a orientação.
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Efeitos dos procedimentos de videofeedback e modelação em vídeo na mudança de
comportamentos maternos
Mãe 1 (Paula) Sessão de videofeedback (mãe assistiu a sua segunda sessão lúdica com seu filho).
Mãe 2 (Edna) Sessão de modelação em vídeo (mãe assistiu à sessão gravada com uma terapeuta e
seu filho).
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Tabela 1 – Média da freqüência de ocorrência das categorias comportamentais nas quatro avaliações e a diferença
percentual entre os resultados obtidos. MODELAÇÃ0 EM VIDEO
VIDEOFEEDBACK
UM ANO DEPOIS
Elogios descritivos 0,5 18 + 3500 % 13,5 - 25 % 7 - 48%
Fig. 1
60
50
Freq. em 20 min
0
AV1 AV2 AV3 1 ANO
Fig 1- Freqüência de ocorrência dos comportamentos de interesse de Paula, nos 20 minutos de interação lúdica, nas
três medidas realizadas durante a intervenção, e no seguimento.
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Efeitos dos procedimentos de videofeedback e modelação em vídeo na mudança de
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Tabela 2 – Média da freqüência de ocorrência das categorias comportamentais nas três avaliações e no seguimento, e
a diferença percentual entre os resultados obtidos.
MODELAÇÃ0 EM VIDEO
CATEGORIAS AV 1 AV 2 Dif % AV 3 Dif % 1 ANO Dif %
VIDEOFEEDBACK
UM ANO DEPOIS
Elogios descritivos 0 0 0 5 -- 5 0
Fig 2
35
30
Freq. em 20 min
25 Elogios descritivos
20 Elogios genéricos
15 Críticas Restrições
10 Ordens
5
0
AV1 AV2 AV3 1 ANO
Fig 2 - Freqüência de ocorrência dos comportamentos de interesse de Edna, nos 20 minutos de interação lúdica, nas
três medidas realizadas durante a intervenção e no seguimento.
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Apêndice B:
Habilidades-meta da intervenção
ELOGIE o comportamento Faz com que o comportamento desejado Estou gostando muito de brincar com você
apropriado da criança, ocorra com mais freqüência; disso!
principalmente de forma Leva seu filho a saber do que você gosta; Muito bom! Você é muito bom nisso!
descritiva
Aumenta a auto-estima da criança; Essa sua tática foi ótima!
Faz com que você e seu filho sintam-se bem. Obrigado por esperar minha vez.
Obrigado por torcer por mim!
Boa idéia separar as notas de mesmo valor
antes de contar.
Você está me dando tantas dicas legais
que estou aprendendo rápido;
Não faça CRÏTICAS Aumenta o comportamento crítico da Essa cor de batom não combina.
criança; Ê menina chata, nem sabe brincar!
Pode diminuir a auto-estima e auto- Não mude as regras. Não é desse jeito.
confiança de seu fillho; Será que você sabe mesmo? Não parece.
Torna a interação desagradável. Não seja estabanado menino!
Diminuir a motivação para permanecer na Ê lerdeza... não tem jeito mesmo né?
atividade.
Evite dar ORDENS Tira a criança da liderança da brincadeira; Coloque as varetas vermelhas aqui.
Pode causar sério desagrado; Você não prefere guardar tudo primeiro?
Demonstra que quem sabe é você e não ela, Vá mais devagar... Cuidado!!
desvalorizando-a. Pegue as peças que você derrubou.
Muitas sugestões são ordens indiretas e Vamos seguir as regras do jogo!
requerem obediência; Agora vamos fazer de novo e caprichar!
Pode parecer que você está mandando ou Preste mais atenção!
que está discordando.
IGNORE o comportamento Ajuda a criança a notar diferença entre suas Cça: “Merda! Esse troço é uma merda
inadequado: respostas ao bom e ao mau comportamento; mesmo!” (recomeça o jogo).
Embora o comportamento ignorado possa Mãe: “Legal você fazer uma nova
a. Evite olhar para a criança,
aumentar no começo, o ignorar de forma tentativa!”.
sorrir, franzir a testa;
b. Não fale nada; consistente diminui muitos
comportamentos. Cça: (deita no chão e reclama) “Eu só estou
c. Ignore todas as vezes; perdendo, não vou mais jogar”.
d. Espere que o comportamento Pai não fala nada.
ignorado aumente no início;
e. Continue ignorando até que a Cça: (Levanta e olha o jogo).
criança faça algo apropriado;
Pai: “Que bom que você voltou. Tenho
f. Quanto ela se comportar
certeza que agora você vai ganhar!”
apropriadamente, elogie a
criança de imediato.
Adaptado de:
Brinkmeyer, M.Y. & Eyberg, S.M. (2003). Parent-Child Interaction Therapy for Oppositional
Children. In: Kazdin, A. E. & Weisz, J.R. (Eds). Evidence-based psychotherapies for children and
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