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FÍSICA DO ULTRASSOM

Be ni to Pi o Vi tóri o Ce ccato Jr.

1. INTRODUÇÃO
A ultrassonografia é método diagnóstico que patológica para outra, como ocorre na avaliação
teve profunda influência no exercício da prática do endométrio, que depende da idade e da fase
médica. Os primeiros trabalhos científicos foram do ciclo menstrual. Por exemplo, endométrio
publicados em 1958, por Ian Donald, em com aspecto ecográfico correspondendo à
Glasgow (Escócia), na área de ginecologia e segunda fase do ciclo estará alterado caso a
obstetrícia. paciente esteja na primeira fase do ciclo, ou na
menopausa. Por outro lado um exame
As primeiras imagens eram de má qualidade, e
ecográfico normal não afasta definitivamente a
os aparelhos, por sua vez, eram de grande
possibilidade de doença, pois nem todas elas
porte, caros e de difícil manipulação. O advento
têm manifestação ecográfica, como
das sondas endocavitárias, da
endometriose mínima ou a gravidez ectópica
Dopplervelocimetria e, mais recentemente, da
muito inicial. Além disso, uma mesma doença
ultrassonografia tridimensional, constituem
pode manifestar-se de diferentes formas a
grandes avanços tecnológicos na área de
ecografia e imagens similares podem significar
imagem.
patologias distintas.
O uso da ultrassonografia não tem
O endometrioma, por exemplo, tem diversas
contraindicações, riscos ou efeitos colaterais. É
formas de apresentação; também não é
prática não invasiva, confortável para o
possível diferenciar abscesso de cisto
paciente, pouco dispendiosa e de fácil
hemorrágico, levando-se em conta apenas os
manuseio.
aspectos ecográficos. Na maioria das vezes o
A ultrassonografia é exame complementar e, exame ecográfico corroborará a impressão
portanto, não dispensa a anamnese cuidadosa e clínica, embora nãO seja pouco frequente o
a correlação clínica, sendo necessário diagnóstico ultrassonográfico de alterações não
conhecimento da anatomia e fisiologia dos detectadas a anamnese e ao exame clínico cujo
órgãos genitais femininos para a interpretação e diagnóstico tenha importância para o tratamento
diagnósticos corretos. O ultrassonografista não como, por exemplo, pequenas neoplasias
está obrigado a associar a imagem a um ovarianas detectáveis apenas com o exame
diagnóstico, e estas devem ser sempre ultrassonográfico.
analisadas dentro do contexto clínico. Uma
A ultrassonografia é método dependente da
imagem normal para uma paciente poderá ser
qualidade técnica do operador e da máquina.
2. PRINCÍPIOS E BASES FÍSICAS

A imagem visibilizada no monitor durante o exame ecográfico é virtual, sujeita a artefatos que podem
levar a equívocos na interpretação. Portanto, é necessário conhecimento do processo de formação da
imagem para evitar erros diagnósticos. Descreveremos de modo sumário as bases físicas da
ultrassonografia.

2.1. A NATUREZA DO SOM


O som é energia mecânica sob a forma de Uma maneira de imaginarmos a onda sonora é
movimento ondulatório. A propagação do som é atirarmos uma pedra no meio de um lago com a
feita pela vibração das partículas do meio (uma água em repouso. A propagação da onda faz-se
molécula impulsiona a outra e assim por ondulações cíclicas acima e abaixo do nível
sucessivamente). O som necessita, portanto, de do lago. A representação esquemática deste
meio material para se propagar, ao contrário das movimento ondulatório está representada na
ondas eletromagnéticas (luz e ondas de rádio) figura.1.
que se sustentam pela troca alternada de
energia entre os campos elétricos e magnéticos.

y y

P
p

x
x

λ
A B 2

Figura.1 – Representação de movimento ondulatório (A) e seu gráfico (B).

O ciclo completo de uma onda sonora equivale O ouvido humano consegue captar faixa estreita
a uma contração (parte positiva da onda) mais de frequência, chamada som, que vai de 20 a
uma rarefação da matéria (parte negativa da 20.000 Hertz. Frequências abaixo desta faixa
onda). A quantidade de ciclos por segundo são chamadas de infra-som, e acima, de
determina a frequência da onda, que é dada em ultrassom. As frequências utilizadas na
unidades Hertz (Hz). O espaço que a onda ultrassonografia diagnóstica situam-se na faixa
percorreu na matéria para completar um ciclo é de 2 a 20 milhões de ciclos por segundo, ou
o comprimento de onda, que é dado em 10-9 Mega- Hertz (MHz).
metros. Um fator importante na transmissão do som é a
resistência que o meio oferece à sua passagem, propagação do som neste meio. Toda diferença
propriedade que é chamada de impedância (Z). de impedância acústica provoca uma reflexão
A impedância numericamente é o produto da da onda sonora.
densidade do meio pela velocidade de

2.2. A PRODUÇÃO DO ULTRASSOM


Determinados materiais tem a capacidade de a imagem na tela.
vibrar (produzir onda sonora) quando
A frequência da onda sonora está relacionada
submetidos a estímulo elétrico. Este fenômeno
com a espessura do cristal: quanto mais fino
descrito em 1930 por Pierre Curie é chamado de
maior a frequência emitida. Frequências
efeito piezo-elétrico e abriu as portas para o
menores têm maior
estudo da ultra- sonografia. Estes mesmos
materiais produzem corrente elétrica quando penetração nos tecidos, porém menor resolução
submetidos a impulso mecânico, o que é (qualidade de imagem), mas permitem o estudo
chamado de efeito piezo-elétrico invertido. de estruturas mais profundas. Transdutor de
3MHz (usado em gestações no segundo e
A produção das ondas ultra-sonoras é realizada
terceiro trimestres) pode penetrar 20cm,
pela vibração dos cristais piezoelétricos,
enquanto que transdutor de 10MHz (usado para
contidos nos transdutores (sondas). Após o
exames de mamas) penetra no máximo 6cm.
estímulo elétrico aplicado sobre os cristais,
Quanto maior a frequência melhor a definição
produzem-se feixes de ultrassom que,
da imagem. O transdutor de alta frequência,
parcialmente, são refletidos pelos tecidos, no
porém, precisa estar próximo à estrutura
seu trajeto pelo corpo humano, gerando os
estudada, devido a pouca penetração do
ecos. Os ecos retornam e deformam o cristal,
ultrassom. Um exemplo é o transdutor
gerando corrente elétrica (efeito piezoelétrico
endovaginal: a maior proximidade com os
invertido) que é captada e processada pelo
órgãos genitais pélvicos permite a utilização de
aparelho, e transformada em pontos luminosos
frequências maiores, produzindo imagens de
(pixels). O conjunto dos pontos luminosos forma
melhor qualidade.

2.3. A INTERAÇÃO DO SOM COM OS TECIDOS


2.3.1. Velocidade de propagação do A ultrassonografia diagnóstica estuda os tecidos
som nos tecidos moles e os líquidos do abdome, onde as
velocidades de propagação são muito próximas.
A velocidade de transmissão do som está Como não é possível para o aparelho identificar
relacionada com a estrutura molecular e atômica as diferentes estruturas, a velocidade de
do meio. Quanto maior a densidade e propagação é definida como fixa e constante,
principalmente a compressibilidade (dureza) do sendo feita uma média de velocidades calculada
meio, maior é a velocidade de propagação da em 1540 m/s. Este artifício não interfere com a
onda sonora. Densidade e dureza não são confecção da imagem nem com as medições
sinônimas, e o mais importante para a das estruturas, pois as diferenças não são
velocidade do som é a dureza (por exemplo, a detectáveis a olho nu.
velocidade de transmissão do som é a mesma
O Quadro.1 mostra as velocidades de
no mercúrio e na água, pois a água é menos
propagação nos diferentes tecidos examinados
compressível embora o mercúrio seja mais
a ecografia.
denso na mesma proporção).

Quadro 1. Velocidade de propagação do som em diverso materiais ou tecidos do corpo humano.


Velocidade de
Material ou Tecido propagação
(metros/segundo)

Ar 331

Cérebro 1.445

Tecido adiposo 1.450

Água 1.495

Tecidos moles (média) 1.540

Fígado 1560

Rim 1561

Músculo 1585

Ossos 4080

2.3.2. A absorção do som pelos passagem do som, levando a atenuação da


tecidos onda sonora à medida que ela percorre os
tecidos. Quanto maior a viscosidade do tecido
Absorção é a transferência de energia do feixe por onde o som passa, maior será a atenuação.
sonoro ao tecido, com a produção de calor pela
O Quadro.2 mostra os coeficientes de absorção
vibração das partículas do meio produzidas pela
dos tecidos insonados.

Quadro 2. Coeficientes de absorção do som por diferentes materiais e tecidos do corpo humano.

Coeficiente de Absorção
Material ou Tecido
(Decibéis/centímetro)

Água 0,0022

Sangue 0,18

Tecido adiposo 0,63

Fígado 0,94

Rim 1,00

Osso 20,00

A água e outros líquidos – como a urina e atenuação, o que impede a progressão da onda
alguns cistos – não absorvem o som que passa sonora e leva à formação da sombra acústica
livremente, levando à formação do reforço posterior (a parte posterior aparece em preto na
acústico posterior (a parte posterior das tela) (Figura 3). Esses dois aspectos serão
estruturas que contém líquido ficam mais abordados com mais detalhes na descrição dos
brilhantes) (Figura.2). As estruturas ósseas ou artefatos em ultra- sonografia. A formação de
calcificadas, por sua vez, levam a grande calor é mínima, não levando a efeitos deletérios
nos órgãos examinados (vide efeitos biológicos diferenças de impedância acústica provocarão
do ultrassom). grandes reflexões, como a que acontece com o
osso ou com estruturas calcificadas, tornando-
as hiperecogênicas (aparecem mais brancas na
tela do monitor), e diminuindo o coeficiente de
transmissão, outro fator que contribui para a
formação da sombra acústica.
Diferenças de impedâncias extremamente
grandes como a dos gases (os gases são muito
compressíveis), fazem com que haja acentuada
reflexão e dispersão das ondas sonoras,
inviabilizando a identificação das estruturas
posteriores, fenômeno que é chamado de
reverberação (reflexão de 100% da onda, que
alcança maior velocidade, volta ao cristal,
sofrendo inúmeras reflexões). Mesmo pequenas
interfaces gasosas (como o ar entre o transdutor
e a pele da paciente) inviabilizam o exame.
Para eliminar o ar entre a pele e o
Figura 2 – Cisto ovariano apresentando reforço
transdutor utiliza-se o gel. Encontram-se
acústico posterior.
gases normalmente no interior das alças
intestinais, e em situações específicas,
como gases em abscessos produzidos por
algumas bactérias anaeróbicas. O gás nas
alças intestinais poderá ser evitado com a
mudança da incidência dos cortes, o
“afastamento” das alças com o uso do
transdutor e a palpação, e ocasionalmente
com o uso de preparo intestinal (laxativos,
antiflatulentos e clisteres). Em algumas
situações não será possível evitar os gases,
e a avaliação das estruturas posteriores
será dificultada.
Percebe-se, então, que existem dois grandes
Figura.3 – Cálculo vesical apresentando sombra vilões que podem interferir no resultado de um
acústica posterior . exame ecográfico:
As estruturas ósseas: além da grande reflexão
2.3.3. A transmissão e a reflexão do da onda pela grande diferença de impedância
acústica, o osso é barreira à passagem do som,
som nos tecidos formando “sombra acústica”. Para exemplificar,
A onda sonora sofre reflexão toda vez que o estudo do sistema nervoso central só é
houver diferença de impedância acústica das possível na criança através das fontanelas
estruturas que atravessa, e continua o seu enquanto estas ainda não estão fundidas;
trajeto. A quantidade de som que é refletida e Os gases: a reverberação, provocada pela
transmitida (coeficiente transmissão/reflexão) grande reflexão e distorção das ondas pelas
depende do grau da diferença da impedância enormes diferenças de impedância acústica,
acústica e do ângulo de incidência da superfície aparece como a imagem de TV fora do ar,
refletora. impossibilita qualquer tipo de análise de
Pequenas diferenças de impedância acústica estruturas localizadas posteriormente.
provocarão pequenas reflexões, com alto
coeficiente de transmissão, permitindo que a
onda sonora continue o seu trajeto. Grandes
cometa” formada pro gás em movimento (a reflexão
total da onda impede a visibilização das estruturas
posteriores)

A textura ecográfica característica dos diversos


órgãos (cada estrutura possui um aspecto
ecográfico mais ou menos típico) está
relacionada com o “espalhamento” das ondas
sonoras. O espalhamento acontece quando o
comprimento de onda é menor que a interface
tecidual, fazendo com que a onda sonora sofra
nova reflexão antes de completar o ciclo,
permanecendo mais tempo no local. Como os
diversos órgãos tem espalhamentos diferentes,
as texturas ecográficas são peculiares aos
Figura 4: A: reverberação por gás- B: “cauda de mesmos.

2.4. O PROCESSAMENTO DA IMAGEM


Os ecos que alcançam os cristais do transdutor imagens: com pouco ganho ocorrerá a perda de
o impressionam mecanicamente produzindo detalhes gerados por ecos de menor
corrente elétrica (efeito piezo-elétrico invertido) intensidade; com muito ganho haverá
que é captada por cabo coaxial, e levada ao saturação da imagem e perda da
processador de imagem. discriminação dos ecos de maior
No processador ocorre a rejeição das ondas intensidade.
indesejáveis através de filtro onde são
processadas apenas as voltagens relacionadas
com a frequência emitida, eliminando-se assim 2.4.1. Modo de apresentação das
os ruídos prejudiciais à formação da imagem. imagens
A Compensação de Ganho pelo Tempo (TGC:
O monitor de vídeo é um tubo de raios catódicos
Time Gain Compensation) é o mecanismo pela
no qual um feixe de elétrons é disparado contra
qual o processador torna os sinais obtidos das
sua face interna, o que estimula o revestimento
estruturas mais profundas (que estariam mais
de fósforo, originando ponto luminoso na tela, e
atenuados pela absorção e múltiplas reflexões)
é utilizado para exibir imagens produzidas por
de intensidade igual aos ecos superficiais, de
todo este complexo sistema. Os monitores
maneira que estruturas semelhantes terão a
atuais são de alta resolução, tem de 512 a 1.024
mesma ecogenicidade (mesma tonalidade de linhas e reproduzem imagens em escala de
cinza na tela) independente da profundidade.
cinza. Por exemplo, a urina na bexiga aparece
Este processamento é feito automaticamente de
em preto na tela do monitor, enquanto que um
acordo com a seguinte formula: o,5 dB/ cm/
cálculo vesical aparece como estrutura branca.
Mhz. Quando as estruturas anteriores não
Outras estruturas com tonalidades
absirvem o som, como nos líquidos, a
intermediárias entre o preto e o branco
compensação posterior será maior, resultando
aparecem em graus diferentes na escala de
no chamado reforço acústico posterior. Os cinza.
aparelhos possuem a “Curva de Ganho” que
pode ser modificada pelo operador. Cada interseção de uma linha horizontal com
uma vertical forma um ponto luminoso ou pixel.
A amplificação ou ganho é o aumento das
A intensidade dos pontos luminosos está
pequenas voltagens produzidas pelo transdutor,
relacionada com a intensidade do eco que
aumentando na tela a intensidade do brilho dos
retorna ao transdutor, e a distância é calculada
pixels, mecanismo que é controlado pelo
pelo tempo (quanto mais tempo o eco demora a
operador de modo a tornar adequadas as
retornar, mais profunda é a estrutura). O para gerar pontos luminosos na tela, sendo a
conjunto dos pixels formará a imagem. intensidade do brilho proporcional à intensidade
do eco, formando a imagem bidimensional
A imagem processada poderá ser visibilizada de
utilizada na rotina da ultrassonografia;
vários modos:
-modo M: utiliza o Modo B, de forma que a linha
-modo A: os ecos são evidenciados como ondas
de base é continuamente mobiliza- da segundo
verticais sobre uma linha de base. Pouco
a amplitude dos ecos recebidos. Registra
utilizado em medicina;
movimentos de estruturas na unidade do tempo,
-modo B-scan: utiliza os sinais que retornam por exemplo, os batimentos cardíacos.

2.5. ARTEFATOS EM ULTRASSONOGRAFIA


Os artefatos são a representação na tela de grande diferença de impedância acústica
imagens que não tem correspondência real, ou inviabilizando a identificação das estruturas
a representação inadequada de alguma posteriores); a sombra acústica posterior (como
estrutura. Podem estar relacionados a dois ocorre nas estruturas ósseas e calcificações
fatores: problemas no aparelho (por exemplo, devido à grande absorção do som provocando
má calibração), instrumentação equivocada (por uma faixa posterior sem ecos); o reforço
exemplo, ganho inadequados); fatores inerentes acústico posterior (os líquidos não absorvem o
ao método, devido a falhas no processamento som provocando uma faixa posterior mais clara,
da imagem por efeito físico. Nesse caso, o importante no diagnóstico diferencial com as
aparelho processa a imagem como se o som se estruturas sólidas).
propagasse e refletisse em condições ideais, ou
Os outros artefatos mais comuns são:
seja, em linha reta e com velocidade fixa e
constante de 1540 m/s, o que pode levar a erros • Refração:
na formação da imagem. Os artefatos devem
ser reconhecidos, evitando-se equívocos de • Reflexão em espelho:
interpretação, sendo algumas vezes úteis para a • Ambigüidade de profundidade:
definição. Os mais importantes são: a
reverberação (como ocorre nos gases devido a • Espessura do feixe:

2.6. DOPPLERVELOCIMETRIA
Christian Doppler, um físico austríaco, postulou quando ocorrem movimentos entre a “fonte de
em 1842 que a luz emitida pelas estrelas em transmissão” da onda e o “observador”.
movimento, em relação a Terra, tinha espectro Percebemos estas variações quando, por
de cor diferente conforme a direção do seu exemplo, nós (observador) escutamos a sirene
movimento: o espectro mudaria para azul se a de uma ambulância em movimento (fonte
estrela se aproximasse da terra, ou para transmissora) e sabemos sua direção mesmo
vermelho se ela se afastasse. Esse princípio, sem vê-la: o som torna-se progressivamente
denominado efeito Doppler, foi aplicado mais agudo à medida que se aproxima e mais
inicialmente pela marinha, para detecção de grave quando se afasta de onde estamos. Na
estruturas fixas ou móveis quando da ultrassonografia com Doppler, o transdutor é, ao
navegação submarina (SONAR – Sound mesmo tempo, a “fonte de transmissão” e o
Navigation and Ranging), e pelos astrônomos. “observador”, e as estruturas móveis
Na década de 60 foi incorporado à observadas são as hemáceas do sangue
ultrassonografia o estudo da circulação circulante. O uso do efeito Doppler
sanguinea, através da Dopplervelocimetria. (Dopplervelocimetria) permite, portanto, avaliar o
fluxo sanguíneo dentro dos vasos.
O efeito Doppler representa as variações da
frequência de transmissão das ondas de energia Para medir o volume de sangue que circula em
determinado vaso no momento em que esta A onda espectral pode ser analisada pelo seu
sendo insonado, é necessário, dentre outros aspecto ou pela medida dos seus índices. Cada
parâmetros, medir o diâmetro do vaso e o território vascular tem característica própria, por
ângulo de insonação. Em Ginecologia não se exemplo, presença ou não de incisura
utiliza a medida direta do fluxo sanguineo dos protodiastólica, diástole reversa, e assim por
vasos pélvicos porque eles têm pequeno calibre, diante.
são tortuosos, e a mensuração do seu diâmetro
e ângulo de insonação podem implicar em
grandes margens de erro. Assim, 2.6.2. Doppler Colorido
estabeleceram-se índices que avaliam a forma
da onda da velocidade do fluxo do vaso Com o Doppler colorido o aparelho faz a leitura
examinado, e parâmetros de normalidade para simultânea da escala de cinzas e dos fluxos
estes indices. vasculares, que são exibidos em escalas de
cores. As cores são um artifício utilizado para a
Os índices mais utlizados são: representação da direção do fluxo. As mais
Indice de Resistência (IR), que é mensurado utilizadas são o azul e o vermelho. A cor azul
através da diferença entre o pico da sístole (A) e identifica o fluxo em direção contrária ao
o final da diastole (B), dividido pela sistole (A), transdutor e a vermelha o fluxo que caminha em
ou seja: direção ao transdutor (Figura 5).
IR= A- B/ A
Indice de Pulsatilidade, que é mensurado
atraves da diferença entre o pico sistolico (A) e
o final da diástole (B), dividido pela Velocidade
Media (Vm) da onda: IR= A – B/ Vm
Em Ginecologia utiliza-se o Doppler pulsátil, o
Doppler colorido e o Doppler de amplitude.

2.6.1. Doppler Pulsátil


Neste tipo de Doppler, também chamado
espectral, o espectro da onda descreve um ciclo
cardíaco completo (sistole e diástole),
Figura.5 - Vasos ilíacos: a artéria ilíaca está em
possibilitando a análise através dos índices já
vermelho, devido ao fluxo em direção ao transdutor,
citados (figura.4). e brilhante pela alta velocidade. A veia ilíaca está em
azul, pelo seu fluxo em direção contrária ao
transdutor.

2.6.3. Doppler de Amplitude


Também chamado Power Doppler. O
mapeamento de amplitude detecta apenas o
sinal Doppler, não interessando a direção ou a
velocidade do fluxo. Desta maneira aumenta-se
a sensibilidade, sendo possível captar sinais
mais fracos e fluxos mais lentos que não seriam
detectados pelo mapeamento colorido (figura 6).

Figura 4 - Espectro da onda de velocidade de um


ciclo cardíaco completo: A = pico sistólico; B= final
da diástole.
Figura.6- Fluxo de baixa velocidade em vaso pélvico
varicoso, visibilizado pelo Doppler de amplitude.

2.7. SEGUNDA HARMÔNICA E CONTRASTES


A avaliação ecográfica de regiões de difícil apenas a informação destas frequências
acesso e pouco refringentes (que refletem sinais maiores emitidas pelas micro-bolhas, fazendo
fracos) são um desafio constante para os com que se possa visibilizar fluxo de pequenos
técnicos na busca de melhor da qualidade de vasos, ou detectar fluxos de velocidades mais
imagem. lentas, que não eram possíveis de serem
identificados sem estes recursos, permitindo
Os contrastes são ecorrealçadores e consistem
melhor avaliação do mapa vascular dos órgãos
de micro-bolhas gasosas que permanecem em
e estudo mais apurado da vascularização
suspensão aquosa estabilizadas por galactose,
tumoral.
que produzem “microesferas” que ao serem
injetadas nos vasos sanguíneos, permitem Esses contrastes também podem ser utilizados
realizar a avaliação ecográfica realçada da para o estudo da permeabilidade tubárea. A
região de interesse. Estas micro-bolhas de ar injeção através do colo uterino permite a
refletem o feixe ultra-sônico com uma frequência visibilização do trajeto da tuba, da sua
duas vezes maior que a emitida, por isso diz-se permeabilidade e da presença ou não de
que as micro-bolhas de ar refletem a “segunda dilatações, sendo uma alternativa a
harmônica” da frequência do transdutor. O histerossalpingografia, principalmente nas
equipamento que tem este sofware processa pacientes alérgicas ao contraste iodado.

2.8. EFEITOS BIOLÓGICOS


Os ultrassons podem produzir lesões nos Os aparelhos de ultrassonografia diagnóstica
tecidos biológicos através de dois mecanismos: operam com potências bastante inferiores
térmico e cavitação. àquelas nas quais foram observados efeitos
biológicos in vivo em mamíferos expostos ao
O mecanismo térmico é a produção de calor
ultrassom. A intensidade máxima permitida é de
pela absorção de parte da energia acústica
durante a passagem do som pelo meio; 100 mW/ cm 2, de maneira que o aquecimento
máximo seria de 1,0 graus, identificado pelo
A cavitação refere-se à produção e dinâmica aparelho como Thermal Índex (TI: Índice
das bolhas que podem ser produzidas pela térmico). Além disso, o tempo de exposição ao
passagem do som pelo tecido. Estas bolhas ultrassom é muito pequeno, cerca de um
podem colapsar logo após a sua formação, se milésimo do tempo total do exame (o transdutor
estabilizar ou se expandir, rompendo-se. Nesta emite o som em aproximadamente 0,1% do
última situação podem danificar os tecidos. tempo em atividade e passa o restante do
tempo (99,9%) “desligado”, apenas captando os
ecos). Até hoje os estudos sobre os possíveis
efeitos deletérios do ultrassom, na frequência
usada em diagnóstico, não justificam qualquer
restrição ao método.

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