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Boechat e Suas Contribuições para o Declínio Civilizatório Dos Brasileiros - Rede Brasil Atual
Boechat e Suas Contribuições para o Declínio Civilizatório Dos Brasileiros - Rede Brasil Atual
Número 149,
LALO LEAL
por Laurindo Lalo Leal Filho publicado 16/02/2019 16h24, última modi cação 17/02/2019 13h00
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19/02/2019 Boechat e suas contribuições para o declínio civilizatório dos brasileiros — Rede Brasil Atual
apoiar no tripé música, notícia e esporte. Com a internet, ao invés de sucumbir ao concorrente que surgia
com igual ou maior agilidade, a ela incorporou-se ampliando globalmente sua possibilidade de audiência.
Não pode fugir, é claro, da lógica capitalista e das mazelas que cercam a legislação da radiodifusão no
Brasil. A concentração dos meios fez com que, com raras exceções, as emissoras passassem a ser
controladas por interesses políticos, econômicos e religiosos, não excludentes. Com essa limitação
estrutural o rádio conservou a audiência de públicos tradicionais em regiões isoladas, de eis seguidores
matinais – um dos seus horários nobres – e a recepção em automóveis e caminhões pelo país.
Boechat entra aqui. Ocupou um espaço quase em extinção no rádio, o de dar e comentar notícias de forma
muito pessoal e aparentemente sem nenhuma restrição. Diferenciava-se tanto dos “especialistas” de
outras emissoras noticiosas, quase sempre enfadonhos, como dos direitistas extremados, e se aproximava,
na forma, dos histriônicos e populares apresentadores de programas policialescos. Lembrava um pouco o
apresentador Vicente Leporace (1912-1978) que, na mesma emissora e praticamente no mesmo horário,
lia e comentava as notícias dos jornais do dia no seu “O Trabuco”, entre 1962 e 1978. Foi a recuperação de
um formato de rádio bem sucedido no passado mas que desaparecera.
Na TV a situação é um pouco mais complexa. Por aqui não tivemos um telejornalismo marcado pela gura
do âncora, como na Europa e nos Estados Unidos. O modelo nativo foi o do apresentador, limitado à
leitura das notícias. A censura estatal da ditadura cívico-militar (1964-1985) e a patronal em todos os
tempos impediu a formação de jornalistas capazes de ler e interpretar o noticiário nos limites e na
linguagem da televisão. Os que se aventuraram a isso tornaram-se meros propagandistas das posições
políticas o ciais ou dos interesses empresariais dos patrões. Vindo da mídia impressa, Boechat
surpreendeu ao se adaptar à televisão e conseguiu se aproximar dos modelos de âncora menos
pan etários, tanto na forma como no conteúdo. Ainda assim imposições patronais limitavam, por exemplo,
o tratamento de notícias referentes aos movimentos sociais, especialmente aqueles relacionados ao
campo. O agronegócio e a pecuária são muito in uentes na empresa em que trabalhava.
Ai entra a questão dos conteúdos difundidos pelo jornalista nos dois veículos. Ela não se restringe a
problemas políticos ou empresariais, vai além. Entra na esfera do comportamento social e da forma como
os grupos e classes se organizam no Brasil neste momento histórico. A informalidade do discurso, tão
atraente para a audiência, acabava muitas vezes descambando para um desprezo perigoso de valores
civilizatórios duramente conquistados pela sociedade. Ao invés de tentar elevar, ainda que sensivelmente,
a média geral de civilidade, Boechat fazia o contrário, jogava para baixo.
Mandar alguém, por mais ignóbil que seja, “chupar uma rola” em rede nacional, não contribui em nada
para melhorar a convivência entre os seres humanos. Ou mandar a ex-presidenta Dilma fazer uma “visita
íntima” ao ex-presidente Lula apenas favorece a desquali cação do debate político, já tão precário no
Brasil. São contribuições perniciosas para o uso cada vez mais disseminado de uma linguagem chula e
para o tiroteio verbal inconsistente, frequentes nas redes sociais mas não apenas nelas.
A mídia, ao criminalizar com denodo a política, fez com que essa atividade caísse, com poucas exceções,
nas mãos de aventureiros e criminosos. Boechat, infelizmente, deu sua contribuição para isso.
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