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classe de sinceridade há nessas práticas;


apliquei tortura a duas moças chamadas diaco-
nisas. Mas nada achei senão superstição baixa
e extravagante.Suspendi, portanto, minhas ob-
servações na espera do vosso parecer.2

Esta expressão de louvor da comunidade cristã primitiva foi pre-

servada nos escritos neotestamentários? As pesquisas crítico-

exegéticas da literatura bíblica têm procurado responder esta

questão, destacando as perícopes textuais que demarcam um material

de tradição querigmática da igreja apostólica. 3

Mas, pode-se encontrar sinais e evidências de tais hinos cristãos

em o Novo Testamento? A resposta é afirmativa. Há evidências tex-

tuais que revelam o uso e predominância dos hinos nas assembléias

cristãs4, como também, existem vários indícios de peças hínicas in-

corporadas na redação dos livros neotestamentários5.

Várias referências a hinos são feitas no Novo Testamento. Lucas

relata que Paulo e Silas cantavam hinos enquanto estavam aprisio-

nados em Filipos (Atos 16.25). Conforme narrativa de Marcos, Jesus

e os discípulos cantaram um hino antes de dirigirem-se ao Monte

das Oliveiras (Marcos 14.26). Paulo menciona em sua carta a igreja

2
Plínio, Epistle. X.96.7. In: BETTENSON, Henry. Documentos da
igreja cristã. Trad. Helmuth A.Simon. 2.ed., São Paulo: ASTE,
1963. p.27.
3
“Quem escreveu este livro, ou parte de um livro, a partir de
que fontes, em que cenário histórico e com quais objetivos?” é
para os críticos literários na nova pauta uma série bem menos
produtora de perguntas do que “Qual a estrutura e o estilo
característico deste escrito, ou segmento de escrito, e que
significado projeta ele desde dentro dos seus próprios limites
como obra de arte ou como sistema de significados linguísticos?”.
GOTTWALD, Norman K. Introdução socioliterária à Bíblia hebraica.
Trad. de Anacleto Alvarez. São Paulo: Paulinas, 1988.p.34.
4
Ver 1Coríntios 14.15,26; Colossenses 3.16; Efésios 5,19,20.
23

de Corinto, o hino como parte da adoração pública (1Co 14.26). O

próprio apóstolo escreve aos colossenses: “... ensinando e admoes-

tando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espiritu-

ais; cantando ao Senhor com graça em vosso coração”(Cl 3.16).6

Estes hinos se constituíram nas primeiras expressões de fé e con-

fissões cristãs. Trata-se de um material da tradição primitiva

cristã pré-literária. Entre os hinos do Novo Testamento, destacam-

se aqueles que exaltam a pessoa de Cristo. Uma análise detalhada

desta hinódia poderá definir a formação da cristologia primitiva.

Entre o material literário com destaque numa preservação de ele-

mentos litúrgicos estão as cartas paulinas, conhecidas como “epís-

tolas da prisão”.

Estas cartas constituem uma das principais fontes preservadoras da

cristologia contida na pregação da igreja primitiva. Elas são

identificadas como correspondências do apóstolo Paulo produzidas

durante seu aprisionamento em Roma7, entre 58 e 62 d.C., para as

5
Efésios 5.14, 1Timóteo 3.16, Filipenses 2.6-11; Colossenses
1.15-20; Hebreus 1.3.
6
De uma estimativa de 287 citações do Velho Testamento, 116 são
do livro dos Salmos, isto demonstra que durante os dois primeiros
séculos, a igreja usava as Escrituras tanto como um livro
profético quanto um hinário litúrgico.Ver SHEPHERD, M.E. hymns.
In: BUTTRICK, George Arthur (ed.ger.).Interpreter’s dictionary of
the Bible. Abingdon: Nashville, 1962.
7
Sobre o lugar de origem destas cartas, Hendriksen defende “De
acordo com a tradição da igreja primitiva, foi de Roma que Paulo
escreveu as quatro Epístolas da Prisão. Não foi senão até aos anos
1800 que surgiu a teoria que defende Cesaréia, e 1900 que surgiu a
teoria que defende Éfeso como lugar da redação. A ausência de uma
razão plausível, que nos constranja a abandonar a posição
tradicio- nal, é o bastante para sermos sábios em continuar
sustentando-a”. In: HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo
Testamento: Filipen- ses. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana,
1992. p.46.
24

cidades de Éfeso, Filipos e Colossos.8

Nessa literatura foram localizadas algumas unidades textuais sobre

a pessoa de Cristo. Os estudos críticos-literários revelaram indí-

cios de uma estrutura hínica com certos traços litúrgicos.9

Este capítulo identificará no prólogo da epístola aos Colossenses,

indicação de uma peça hínica, e demonstrará que o texto apresenta

marcas de um hino cristológico.

O deslocamento da perícope textual, para fins desta pesquisa, se

fará a partir do verso 15 até o verso 20. O problema é identificar

os elementos denunciadores de uma unidade de leitura e identificar

sua organização gramatical e literária.

Quais as evidências de uma composição hínica? Como desenvolver a

métrica do texto? E qual a estrutura sintática das versões moder-

nas? Uma análise adequada da contextura sintático-gramatical pos-

sibilitará algumas conclusões favoráveis à existência de uma peça

hínica na carta “aos Colossenses”.

Esta pesquisa focaliza o texto em seu expediente estilístico, gra-

matical e retórico. Ela analisará os diversos modos de aproximação

das correntes da crítica literária sem definir entre elas uma li-

nha de interpretação. A preocupação será de facilitar a leitura do

8
A autoria paulina destas cartas é contestada por algumas cor-
rentes da crítica literária. Embora, Colossenses está incluída no
corpo das obras paulinas desde as mais antigas referências como em
Irineu, Cânon Muratoriano, Clemente de Alexandria, Orígenes, na
lista de Marcião, e nas versões latinas desde o segundo século.
Lohse considera as cartas de Colossenses, Efésios e II Timóteo
como deuteropaulinas. In: LOHSE, Eduard. Introdução ao Novo
Testamento. 3.ed., São Leopoldo: Sinodal, 1980. p.40s.
9
Ver Filipenses 2.6-11, Efésios 1.3-20 e Colossenses 1.15-20.
25

texto traduzido para a língua portuguesa, considerando o expedien-

te literário peculiar da perícope textual.10

A Versão Revisada da Imprensa Bíblica Brasileira apresenta a se-

guinte tradução:

13 e que nos tirou do poder das trevas, e nos transportou para o reino do seu
Filho amado;
14 em quem temos a redenção, a saber, a remissão dos pecados;

15 o qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação;


16 porque nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra; as vi-
síveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principa-
dos, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele.
17 Ele é antes de todas as coisas, e nele subsistem todas as coisas;
18 também ele é a cabeça do corpo, da igreja: é o princípio, o primogêni-
to dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência,
19 porque aprouve a Deus que nele habitasse toda a plenitude,
20 e que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio
dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na
terra como as que estão nos céus.

2l A vós também, que outrora éreis estranhos, e inimigos no entendimento pe-


las vossas obras más,
22 agora, contudo vos reconciliou no corpo da sua carne, pela morte, a fim de
perante ele vos apresentar santos, sem defeito e irrepreensíveis,

2.1 - Evidências de uma composição hínica

Ao lado das "confissões de fé" e das "ações de graça", os hinos a

Cristo ocuparam lugar de destaque na liturgia cristã primitiva.

Os estudos exegéticos, publicados nos últimos anos, sobre a lite-

ratura paulina, concluem que a carta de Paulo aos Colossenses pre-

10
As preocupações da crítica das formas, crítica das tradições,
crítica retórica, crítica das redações e crítica canônica
permitiram uma nova crítica literária da Bíblia, a qual procura
olhar para a textura retórica da obra como um todo acabado em vez
de contemplá-la ao longo de uma linha cronológica de
desenvolvimento desde pequenas unidades a ciclos maiores até a
última etapa de composição. Ver GOTTWALD, Norman K. Introdução
socioliterária à Bíblia Hebraica. p.34.
26

serva a estrutura de uma peça hínica em seu texto 11.

Mas, quais as evidências textuais que confirmam estes resultados?

As diversas asserções apresentadas clarificam os seguintes elemen-

tos: a contextura gramatical, a metrificação prosaica, o estilo

literário e o vocabulário.

2.1.1 - Primeira evidência: A Contextura gramatical

Um texto não é apenas uma organização de enunciados em estruturas

ou períodos. Um texto, antes de ser uma unidade de forma, é uma

unidade de significado. Os estudos lingüísticos estão utilizando a

análise estruturalista, considerados os elementos que estabelece-

ram a organização interna do texto, e geraram o desencadeamento

lógico-semântico do documento escrito.

Considerando o texto de Colossense, a análise será feita na orga-

nização sintática. A identificação de elementos gramaticais que

justificam um deslocamento do texto para a formação de uma unidade

de leitura.

Ao longo do texto notam-se parágrafos contíguos e não-contíguos.

As relações sintático-gramaticais entre os períodos do texto em

questão mostram o tipo de inter-relacionamento dos enunciados. Es-

te inter-relacionamento oferece noções da tessitura textual. O au-

tor alterna momentos de confissão, de adoração e de exortação.

O texto em questão é precedido por um estilo confessional. O autor

substitui o pronome da segunda pessoa do plural pelo pronome da

11
Ver bibliografia de Eduard Norden, Charles Masson, Eduard
Lohse, Eduard Schweizer.
27

primeira pessoa do plural nos versos 13 e 14:

13 e que nos tirou do poder das trevas, e nos transportou para o reino do seu
Filho amado; 14 em quem temos a redenção, a saber, a remissão dos peca-
dos;

13 ὃς ἐρρύσατο ἡμᾶς ἐκ τῆς ἐξουσίας τοῦ σκότους καὶ μετέστησεν εἰς τὴν
βασιλείαν τοῦ υἱοῦ τῆς ἀγάπης αὐτοῦἐν 14 ᾧ ἔχομεν τὴν ἀπολύτρωσιν, τὴν
ἄφεσιν τῶν ἁμαρτιῶν:

Os versos seguintes da unidade em destaque (21 e 22) preservam um

estilo exortativo com o uso pronominal na segunda pessoa do plu-

ral:

2l A vós também, que outrora éreis estranhos, e inimigos no entendimento pe-


las vossas obras más, 22 agora, contudo vos reconciliou no corpo da sua car-
ne, pela morte, a fim de perante ele vos apresentar santos, sem defeito e irre-
preensíveis,

2l Καὶ ὑμᾶς ποτε ὄντας ἀπηλλοτριωμένους καὶ ἐχθροὺς τῇ διανοίᾳ ἐν τοῖς ἔργοις
τοῖς πονηροῖς, 22 νυνὶ δὲ ἀποκατήλλαξεν ἐν τῷ σώματι τῆς σαρκὸς αὐτοῦ διὰ τοῦ
θανάτου, παραστῆσαι ὑμᾶς ἁγίους καὶ ἀμώμους καὶ ἀνεγκλήτους κατενώπιον
αὐτοῦ,

Os versos 15 a 20 destacam-se pelo estilo declarativo com o uso do

pronome pessoal na terceira pessoa. Esta observação gramatical

permite isolar a passagem como uma perícope textual. O exame dos

processos de coesão da tessitura do texto localiza uma perícope

incorporada no discurso ou diálogo do escritor conferindo uma uni-

dade significativa:

(15) o qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação;


(16) porque nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra; as visíveis
e as invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam po-
testades; tudo foi criado por ele e para ele.
(17) Ele é antes de todas as coisas, e nele subsistem todas as coisas;
28

(18) também ele é a cabeça do corpo, da igreja: é o princípio, o primogênito


dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência,
(19) porque aprouve a Deus que nele habitasse toda a plenitude,
(20) e que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele
reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra co-
mo as que estão nos céus.

(15) ὅς ἐστιν εἰκὼν τοῦ θεοῦ τοῦ ἀοράτου, πρωτότοκος πάσης κτίσεως,

(16) ὅτι ἐν αὐτῷ ἐκτίσθη τὰ πάντα ἐν τοῖς οὐρανοῖς καὶ ἐπὶ τῆς γῆς, τὰ ὁρατὰ
καὶ τὰ ἀόρατα, εἴτε θρόνοι εἴτε κυριότητες εἴτε ἀρχαὶ εἴτε ἐξουσίαι: τὰ πάντα
δι' αὐτοῦ καὶ εἰς αὐτὸν ἔκτισται,

(17) καὶ αὐτός ἐστιν πρὸ πάντων καὶ τὰ πάντα ἐν αὐτῷ συνέστηκεν.

(18) καὶ αὐτός ἐστιν ἡ κεφαλὴ τοῦ σώματος, τῆς ἐκκλησίας: ὅς ἐστιν ἀρχή,
πρωτότοκος ἐκ τῶν νεκρῶν, ἵνα γένηται ἐν πᾶσιν αὐτὸς πρωτεύων,

(19) ὅτι ἐν αὐτῷ εὐδόκησεν πᾶν τὸ πλήρωμα κατοικῆσαι

(20) καὶ δι' αὐτοῦ ἀποκαταλλάξαι τὰ πάντα εἰς αὐτόν, εἰρηνοποιήσας διὰ τοῦ
αἵματος τοῦ σταυροῦ αὐτοῦ, [δι' αὐτοῦ] εἴτε τὰ ἐπὶ τῆς γῆς εἴτε τὰ ἐν τοῖς οὐρανοῖς.


O texto, portanto, está delimitado entre os versos 15 e 20, como

uma perícope textual. Esta unidade de leitura é marcada pela sua

tessitura gramatical de um estilo declarativo intercalado entre

uma expressão confessional e outra exortativa. Logo, a pesquisa

considerará a peça hínica a partir do verso 15 e sua conclusão no

verso 20:

ação de graças

Colossenses Colossenses Colossenses


1.12-14 1.15-20 1.21-23
confissão declaração exortação
29

2.1.2 - Segunda evidência: o estilo literário

O estilo poético e a disposição das frases assemelham-se às peças

hínicas no ambiente religioso do primeiro século cristão. Sturz

afirma tratar-se de "um glorioso hino de louvor, exaltação e ado-

ração a Jesus Cristo - o Filho de Deus e homem perfeito".12

Embora não se pode constatar uma peça hínica perfeitamente organi-

zada, nota-se uma consistência literária no texto em análise. A

seqüência das afirmações cristológicas em frases curtas e repeti-

tivas determina o estilo poético do texto.

No estilo literário sobrepõe o estilo coloquial da carta. Expres-

sões confessionais como “imagem do Deus invisível´, “primogênito

da criação”, “primogênito dos mortos”, confirmam a tradição lin-

güística da pregação primitiva influenciada pela transposição da

língua hebraica para conceitos gregos no período koinê.

Os textos hínicos de louvor a Cristo na literatura paulina apre-

sentam o mesmo estilo na organização das frases.

Quanto ao quadro morfológico das palavras do texto encontra-se na

seguinte disposição:

Substantivos 22
Artigos 20
Pronomes 15
Preposições 14
Verbos 10
Partículas conjuntivas 08
Advérbios 07

12
STURZ, Richard. Colossenses: o Cristo preeminente. São Luiz:
Ed.Evangélica, 1957. p.104.
30

Adjetivos 05

A figura de Cristo é preponderante nas afirmações de cada oração.

São seis nominativos de identificação, seis genitivos qualificati-

vos, dez pronomes pessoais. Estas atribuições predicativas, o uso

de pronomes relativos, as fórmulas adverbiais favorecendo uma di-

visão de estrofes com certo ritmo, são os elementos característi-

cos dos hinos primitivos.

O autor parece sofrer a “influência do estilo hinológico; ousaría-

mos dizer que reproduz à letra um hino conhecido dos colossenses.

Improvisa neste estilo determinado, seguindo um modelo ou vários,

o que equivaleria a glosar uma composição subjacente”.13

Assim, este contexto de predicativos e substantivos caracteriza um

sintaxe oriunda de uma fonte discursiva. São fórmulas em linhas

estróficas de um estilo não prosaico, mais próximo de uma forma

poética. São declarações nominativas de exaltação a uma pessoa:

imagem do Deus
invisível
primogênito de toda a primogênito dos
criação mortos
o qual
é
o princípio
antes de todas as
coisas
a cabeça do corpo
13
CERFAUX, Lucien. Cristo na teologia de São Paulo. São Paulo:
Paulinas, 1977. p.302. Bultmann “admite uma hipótese análoga rela-
tivamente a 1Pd.2.18-22, mas prefere dizer que o autor glosa um
texto que tem diante dos olhos, quer seja um hino, ou uma
confissão de fé.
31

2.1.3 - Terceira evidência: a metrificação do texto

Podem-se notar, também, indícios de uma forma poética na divisão

métrica do texto. Esta forma poética era comum nos cânticos primi-

tivos.

Os versos 15 e 18b apresentam duas afirmações introdutórias prece-

didas por um pronome relativo e alternadamente seguidas por uma

oração subordinada causal (1.16 e 1.19).

Os versos 17 e 18 são incorporados precedidos de um . Des-

ta forma, divide-se o texto em estrofes, mostrando uma obra lite-

rária organizada. Esta estrutura lembra um tipo de paralelismo

poético:

(15) o qual é imagem do Deus invisível,


o primogênito de toda a criação;
(16) porque nele foram criadas todas as coisas
nos céus e na terra;
as visíveis e as invisíveis,
sejam tronos, sejam dominações,
sejam principados, sejam potestades;
tudo foi criado por ele e para ele.
(17) Ele é antes de todas as coisas,
e nele subsistem todas as coisas;
(18) também ele é a cabeça do corpo, da igreja:
é o princípio,
o primogênito dentre os mortos,
para que em tudo tenha a preeminência,
(19) porque aprouve a Deus que nele habitasse toda a plenitude,
32

(20) e que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz,
por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas,
tanto as que estão na terra como as que estão nos céus.

Ente as evidências de uma estrutura poética, o texto grego mantém

algumas marcas de um paralelismo semítico. Pode-se notar:

a) Nos versos entre as duas estrofes:

 
       



 

    
  
    

b) No quiasmo das expressões conclusivas:



     

     
 

c) Na paralelismo sinônimo da primeira estrofe:


Desta forma o texto de Colossenses 1.15-20 possui uma independên-

cia sintática, com um conjunto de declarações nominativas, com um

arranjo de estilo poético próximo a um paralelismo semítico.

  

  

  

2.2 - O levantamento do vocabulário


33

Esta passagem, também, contém uma quantidade considerável de ter-

mos ausentes na literatura paulina e expressões peculiares como:

"imagem do Deus invisível", "tronos", "visíveis", "subsistem",

"princípio", "feito a paz", "pelo sangue de sua cruz". Estas ca-

racterísticas de linguagem e vocabulário próprios são determinan-

tes na inclusão do texto entre os hinos cristológicos do Novo Tes-

tamento.

Entre as expressões que celebram o senhorio universal de Cristo,

encontram-se uma série de termos que favorecem esta configuração

hinológica. São expressões únicas em toda literatura neotestamen-

tária:

2.2.1 Imagem do Deus invisível


     


Expressões N.T. Caso
   
   
   
   

A palavra "imagem" ocorre 23 vezes e apenas 6 vezes no gen i-

tivo plural. A palavra "invisível" ocorre 5 vezes e apenas

aqui no genitivo singular. A expressão "imagem de Deus"

ocorre 2 vezes. O texto paralelo é IICoríntios 4.4. A e x-

pressão "Deus invisível" é singular em o Novo Testamento. 14

2.2.2 Primogênito dos mortos e primogênito da criação

14
CLAPP,P.S. FRIBERG, Timothy, FRIBERG, B.(ed.ger.). Analytical
Concordance of the Greek New Testament: Grammatical Focus. Grand
Rapids: Baker Book House, 1975. p.632.
34

  
    

Expressões N.T. Caso


 18 3
 128 75
 19 8

A palavra "primogênito" é usada 18 vezes no NT e apenas 3 vezes no

nominativo singular. No hino colossense como "primogênito da cria-

ção" e "primogênito dos mortos" paralelamente com Apocalipse 1.5.


15

2.2.3 A cabeça do corpo


 

Expressões N.T. Caso


 75 11
 142 36

Embora as palavras cabeça e corpo sejam amplamente utilizadas pe-

los autores neotestamentários, a expressão "a cabeça do corpo" é

exclusiva do hino colossense e desenvolvida na carta (2.19). A ex-

pressão está identificada com a igreja. Neste sentido o texto en-

contra paralelos em Efésios (1.22,23; 4-5; 5.23) e nas epístolas

aos Romanos(8.29) e II Coríntios (3.18).16

2.2.4 O sangue da cruz




Expressões N.T. Caso


 97 33
 27 12

15
CLAPP, Philips S. op. cit., p.2230.
16
Ibid., p.1308.
35

As duas palavras, presentes em toda a literatura evangélica mas

não tão comum no NT, sangue e cruz, formam uma expressão singular

em toda a Bíblia. Embora peculiar ao texto, a expressão “sangue

da cruz” reporta ao fato da morte física e seu significado salví-

fico presente em todo o desenvolvimento da cristologia primitiva. 17

2.2.5 Visíveis, invisíveis,tronos, potestades, domínios


Além destas expressões, a série de termos que representam as “coi-

sas que estão sobre a terra e nos céus” é peculiar ao próprio hi-

no. São palavras raras e em sua forma léxicografica usadas no tex-

to que não possuem as mesmas características nos demais usos na


18
literatura neotestamentária.

Vocábulos N.T. Caso


 1 1
 5 2
 62 1
 4 1
 55 2
 102 1

Estas palavras são consideradas como um possível acréscimo do au-

tor na estrutura da peça hínica. Elas estão dispostas em relação

às coisas visíveis e as invisíveis:

visíveis invisíveis
tronos ( dominações 
17
CLAPP, Philips S. op. cit., p.42.
18
Ibid., p.1873.
36

principados  potestades 

2.2.6 Verbos

Também acontece no uso dos principais verbos. Embora mostrem uma

independência na construção sintática do texto, são ações relacio-

nadas nas exposições decorrentes de uma cristologia apostólica co-

mo: “havendo feito a paz”, “reconciliasse”, “aprouve”, “habitas-

se”, “subsistem”, “foram criadas”, “tenha proeminência”:19

Verbo N.T. Conj.


 01 1
 03 3
 21 6
 44 3
 16 1
 01 1
 01 1

O vocabulário mantém uma distância da literatura paulina20 e do No-

vo Testamento, com alguma aproximação de textos das cartas da pri-

são e joanina. Esta distância é de independência sintática. Isto

mostra uma construção própria, sem desconsiderar que existe uma

dependência léxica e de conteúdo.

A discussão amplia-se com estas evidências gramaticais. Existe uma

dependência sintática, um arranjo estrófico com um vocabulário pe-

19
CLAPP, P.S. op.cit., p.689.
20
Estas diferenças de terminologia e estilo levou Lohse a
concluir que o trecho é um hino recebido da tradição, adaptado
pelo autor, um teólogo pós-paulino, que alterou-o e interpretando-
o no sentido da teologia paulina. In: LOHSE, Eduard.Introdução ao
estudo do Novo Testamento. 3.ed., São Leopoldo: Sinodal, 1980.
p.31.
37

culiar. Pode-se recuperar este estilo poético? Como versificar o

texto?

2.3 - A pontuação das versões

As versões modernas estão incorporando os resultados de estudos

sobre material da tradição, recuperando o estilo confessional e

poético.

A definição da pontuação, nas diversas versões modernas, indica

uma tendência para uma interpolação gramatical no texto em ques-

tão. O texto grego editado por Kurt Aland, New Testament Greek,

3a.edição, da United Bible Societies, separa o texto por um ponto

e vírgula (;) e, ponto final de parágrafo (.).

Na 4a. edição, 1993, New Testament Greek, acrescenta em seu apara-

to crítico as versões que identificam passagens da tradição cristã

primitiva com a expressão "material tradicional" confirmando a ne-

cessidade de evidenciá-los como uma produção literária independen-

te do documento bíblico.

Entre as versões modernas destacam-se as que se aventuraram na ta-

refa de versificar os principais textos considerados hínicos.

A versão de Lutero reeditada em 1984, Die Bibel nach der Über-

setzung Martin Luthers, a versão de Jerusalém editada em 1985, New

Jerusalém Bible, a versão ecumênica de 1988, Traduction Oecuméni-

que de la Bible, entre outras, destacam a passagem de 1.15-20 como


38

21
“material tradicional”.

2.3.1 - Versão de Lutero

A Die Bibel de Lutero versifica, assim, Colossenses 1.15 a

17:

Wetcher ift das Ebenbild des unfichtbaren Gottes,


der Erftgeborene vor allen Creaturen.
Denn durch ihn ift alles gefchaffen,
was im Himmet und Erben ift,
das Sichtbare und Unfichtbare,
es feien Throne oder Herrfchaften
oder Fürftentümer oder Obrigkeiten;
es ift alles durch ihn und zu ihm gefchaffen. 22
2.3.2 - Versão de Jerusalém

A versão de A Bíblia de Jerusalém, diante das evidências do cará-

ter tipo hino, destaca em sua impressão, a forma prosaica:

"Ele é a imagem do Deus invisível,


o Primogênito de toda criatura,
porque nele foram criadas todas as coisas,
nos céus e na terra,
as visíveis e as invisíveis:
Tronos, Soberanias, Principados, Autoridades,
tudo foi criado por ele e para ele.
Ele é antes de tudo e tudo nele subsiste.
Ele é a Cabeça da Igreja,
que é o seu Corpo.
Ele é o Princípio,
o Primogênito dos mortos,
(tendo em tudo primazia),
pois nele aprouve a Deus

21
ALAND, Kurt (ed.ger.). The Greek New Testament. 4.ed. London:
United Bible Societies, 1993. p.686.
22
DIE BIBEL. Trad. de Martin Luthers. Berlin: Britifche und
Vusländifche Bibelgefellfchaft, 1984. p.202.
39

fazer habitar toda a Plenitude


e reconciliar por ele e para ele todos os seres,
os da terra e os dos céus,
realizando a paz pelo sangue da sua cruz". 23

2.3.3 - Bíblia na Linguagem de Hoje

A versão, da Sociedade Bíblica do Brasil, na Linguagem de Hoje se-

para o texto de 1.15-20 em um único parágrafo:

Cristo é a revelação visível do Deus invisível. Ele é o primeiro Filho, superior a


todas as coisas criadas. Porque, por meio dele, Deus criou tudo, no céu e na
terra, o que se vê e o que não se vê, inclusive todos os poderes espirituais, as
forças, os governos e as outoridades. Por meio dele e para ele, Deus criou todo
o universo. Cristo já existia antes de tudo, e em união com ele todas as coisas
são conservadas em ordeme harmonia. Ele é a cabeça do corpo, a Igreja. Ele é
a origem da vida do corpo.E o primeiro Filho, que foi ressuscitado para que
somente ele tivesse o primeiro lugar em todas as coisas. Porque é pela própria
vontade de Deus que o Filho tem em si mesmo a natureza completa do Pai.
Portanto, por meio do Filho, Deus resolveu trazer o universo de volta para si
mesmo. Ele fez a paz por meio da morte do seu Filho na cruz e assim trouxe de
volta para si mesmo todas as coisas, tanto na terra como no céu. 24

2.3.4 - Nova Versão Internacional

A Sociedade Bíblica Internacional destaca os versos 15 a 18 em

forma poética, na “Nova Versão Internacional” publicada em 1993: 25

Ele é a imagem
do Deus invisível,
o primogênito
de toda a criação,
pois nele foram criadas

23
A BIBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulinas, 1980. p.1535.
24
A BÍBLIA SAGRADA. Tradução na Linguagem de Hoje. São Paulo:
Sociedade Bíblica do Brasil. p.256.
25
NOVO TESTAMENTO, Nova Versão Internacional. São Paulo:
Sociedade Bíblica Internacional, 1993. p.261.
40

todas as coisas
nos céus e na terra,
as visíveis e as invisíveis,
sejam tronos ou soberanias,
poderes ou autoridades;
todas as coisas foram criadas
por ele e para ele.
Ele é antes de todas as coisas,
e nele tudo subsiste.
Ele é a cabeça do corpo,
que é a igreja,

A disposição poética destas versões corrobora a tendência das fu-

turas traduções bíblicas de incorporar os estudos conclusivos de

textos aceitos como “material tradicional” em destaque na organi-

zação literária dos documentos do Novo Testamento.

2.4 - A versificação do hino colossense

Pode-se notar que as versões não têm obedecido uma mesma metrifi-

cação, nem mesmo há concordância quanto ao início e término da

passagem considerada como uma peça hínica ou poética.

Não há concordância quanto à maneira de versificar as linhas do

hino cristológico colossense. Várias propostas e tentativas foram

feitas, procurando traçar uma métrica do texto.

2.4.1 - Eduard Norden

Eduard Norden(1913), filologista clássico, identificou a tradição


41

hínica do Novo Testamento a partir das características formais da

linguagem religiosa do judaísmo e na literatura religiosa grega.

Ele dividiu o hino em duas estrofes e considerou como ornamentos

literários supérfluos as expressões: "sejam tronos, sejam domina-

ções, sejam principados, sejam potestades"(v.16) e "tanto as que

estão na terra como as que estão nos céus"(v.20). Ele argumenta

que estas palavras são estranhas à natureza do semítico, embora

aceitável para os de mente helenística:26

 ὅς ἐστιν εἰκὼν τοῦ θεοῦ τοῦ ἀοράτου,


πρωτότοκος πάσης κτίσεως, 
ὅτι ἐν αὐτῷ ἐκτίσθη τὰ πάντα
ἐν τοῖς οὐρανοῖς καὶ ἐπὶ τῆς γῆς,
τὰ ὁρατὰ καὶ τὰ ἀόρατα, 

καὶ αὐτός ἐστιν πρὸ πάντων


καὶ τὰ πάντα ἐν αὐτῷ συνέστηκεν.
καὶ αὐτός ἐστιν ἡ κεφαλὴ τοῦ σώματος, τῆς ἐκκλησίας.
ὅς ἐστιν ἀρχή,

πρωτότοκος ἐκ τῶν νεκρῶν,


ἵνα γένηται ἐν πᾶσιν αὐτὸς πρωτεύων,
ὅτι ἐν αὐτῷ εὐδόκησεν

πᾶν τὸ πλήρωμα κατοικῆσαι 


καὶ δι' αὐτοῦ ἀποκαταλλάξαι
τὰ πάντα εἰς αὐτόν,
εἰρηνοποιήσας διὰ τοῦ αἵματος
τοῦ σταυροῦ αὐτοῦ, [δι' αὐτοῦ] 
   
  
2.4.2 - Charles Masson

26
NORDEN, Eduard. Agnostos theos: Untersuchungen zur
Formengeschiche religiöser Rede. Leipzig: B.G.Teubner, 1913.
42

Charles Masson (1950) construiu cinco estrofes de quatro linhas

cada. Estas linhas foram organizadas segundo a regra de paralle-

lismus membrorum: 1.15-16b; 16b-c; 17-18b; 19-20a; 20b-c.27

a ὅς ἐστιν εἰκὼν τοῦ θεοῦ τοῦ ἀοράτου,


b πρωτότοκος πάσης κτίσεως, 
a ὅτι ἐν αὐτῷ ἐκτίσθη 
b τὰ πάντα ἐν τοῖς οὐρανοῖς καὶ ἐπὶ τῆς γῆς, 
c τὰ ὁρατὰ καὶ τὰ ἀόρατα, 
d εἴτε θρόνοι εἴτε κυριότητες, 
e εἴτε ἀρχαὶ εἴτε ἐξουσίαι: 
f τὰ πάντα δι' αὐτοῦ καὶ εἰς αὐτὸν ἔκτισται 
a καὶ αὐτός ἐστιν πρὸ πάντων
b καὶ τὰ πάντα ἐν αὐτῷ συνέστηκεν.

b καὶ αὐτός ἐστιν ἡ κεφαλὴ τοῦ σώματος, τῆς ἐκκλησίας. 
a ὅς ἐστιν ἀρχή, πρωτότοκος ἐκ τῶν νεκρῶν,
b ἵνα γένηται ἐν πᾶσιν αὐτὸς πρωτεύων,
a ὅτι ἐν αὐτῷ εὐδόκησεν πᾶν τὸ πλήρωμα
b κατοικῆσαι καὶ δι' αὐτοῦ 
c ἀποκαταλλάξαι τὰ πάντα εἰς αὐτόν, 
d εἰρηνοποιήσας διὰ τοῦ αἵματος 
e τοῦ σταυροῦ αὐτοῦ, [δι' αὐτοῦ] 
f εἴτε τὰ ἐπὶ τῆς γῆς εἴτε τὰ ἐν τοῖς οὐρανοῖς.   

2.4.3 - Eduard Lohmeyer

E. Lohmeyer (1953) formou um padrão de 7+3+7+3 linhas na métrica

do hino. Duas estrofes de sete linhas foram colocadas em justapo-

sição e em oposição, cada uma é introduzida por uma estrofe de 3

linhas. Seu trabalho recebeu críticas de Kaesemann como sendo uma

p.250. In: LOHSE, op. cit., p.41.


27
MASSON, Charles. L’hymne christologique de l’epître aux
Colossiens I, 15-20. (Revue de Théologie et de Philosophie NS 36,
1948)p.138-42, citado por LOHSE, E. op.cit., p.42.
43

construção artificial e uma violência ao conteúdo do hino.28

a ὅς ἐστιν εἰκὼν τοῦ θεοῦ τοῦ ἀοράτου,


b πρωτότοκος πάσης κτίσεως, 
a ὅτι ἐν αὐτῷ ἐκτίσθη 
b τὰ πάντα ἐν τοῖς οὐρανοῖς καὶ ἐπὶ τῆς γῆς, 
c τὰ ὁρατὰ καὶ τὰ ἀόρατα, 
d εἴτε θρόνοι εἴτε κυριότητες, 
e εἴτε ἀρχαὶ εἴτε ἐξουσίαι: 
f τὰ πάντα δι' αὐτοῦ καὶ εἰς αὐτὸν ἔκτισται 
a καὶ αὐτός ἐστιν πρὸ πάντων
b καὶ τὰ πάντα ἐν αὐτῷ συνέστηκεν.

b καὶ αὐτός ἐστιν ἡ κεφαλὴ τοῦ σώματος, τῆς ἐκκλησίας. 
a ὅς ἐστιν ἀρχή, πρωτότοκος ἐκ τῶν νεκρῶν,
b ἵνα γένηται ἐν πᾶσιν αὐτὸς πρωτεύων,
a ὅτι ἐν αὐτῷ εὐδόκησεν πᾶν τὸ πλήρωμα
b κατοικῆσαι καὶ δι' αὐτοῦ 
c ἀποκαταλλάξαι τὰ πάντα εἰς αὐτόν, 
d εἰρηνοποιήσας διὰ τοῦ αἵματος 
e τοῦ σταυροῦ αὐτοῦ, [δι' αὐτοῦ] 
f εἴτε τὰ ἐπὶ τῆς γῆς εἴτε τὰ ἐν τοῖς οὐρανοῖς.  

2.4.4 - J.M. Robinson

J.M. Robinson (l957) procurou obter um hino com uma semelhança de

simetria. Para isto, omitiu do texto algumas frases para construir

um esboço teorético da composição original. Ele justificou esta

postura propondo que o autor, ao adotar o hino, reinterpretou o

significado das palavras. Ele divide o texto em duas estrofes de 6

estíquios: Primeira estrofe: 15, 15b, 16a, 16b, 17a, 17b; Segunda

estrofe: 18b1, 18b2, 19, 20a, 18a, 18c. Embora considerado um ar-

28
LOHMEYER, Ernest. In: KASEMANN, Ernest. Essays on new
testament themes. (Studies in biblical theology) série 41. London:
SCM Press Ltda, 1971. p.150.
44

ranjo engenhoso, é tido como arbitrário.29

 a 
 b
 
 a

 b

17a 
 17b 
18b1 
18b2  
 19  
20a   
18a   
18c   

2.4.5 - Eduard Lohse

Eduard Lohse (l968) preferiu versificar em duas estrofes, conside-

rando as marcas correspondentes: Os versos 15 e 18b começam com

uma cláusula relativa,  seguindo os predicados de Cristo, e

cada afirmação é acompanhada por uma oração causal iniciada com 

(V.16 e 19). Os versos 17 e 18 começam com  e o verso 20

inicia com .

As duas conclusões consideradas com a dimensão cósmica de Cristo

em 16b e 20b, culminam com uma frase pleonástica “feito paz por

seu sangue na cruz”. Lohse também concordou com duas prováveis

adições paulinas no hino:30

29
CARREZ, Maurice, e outros. As cartas de Paulo, Tiago, Pedro e
Judas. São Paulo: Paulinas, 1987. p.214.
30
LOHSE, Eduard. A commentary on the epistles to the Colossians
and to Philemon. 2.ed. Philadelphia, Fortress Press, 1975. p.45.
45

  
 
 
 
   
 
 
  
 
 .

 

 

 
  
   

 

 
  

 
 
 
   
   

2.4.6 - Eduard Schweizer

Eduard Schweizer (l970) distribuiu o texto em duas estrofes. A

primeira estrofe (1.15-18a) descreve o Cristo cósmico como Senhor

da criação e o princípio unificador do mundo; e a segunda estrofe

(1.18b-20) celebra o triunfo do Cristo cósmico como o Reconcilia-

dor do mundo. Para obter uma melhor simetria, ele omite certas
46

partes do texto consideradas como acréscimos de Paulo:31

(15) He is the image of the invisible God, the first -born of all
creation;
(16) for in him all things were created, in heaven
and on earth, visible and invisible;
all things were created throungh him and for him.
(17) He is before all things,
and in him all things hold together.
(18a)He is the head of the body
( the church).
(18b)He is the beginning, the first-born from the dead.
(19) For in him all the fullness of God was pleased to dwell
(20) and through him to reconcile to himself all things,
making peace, whether on earth
or in heaven.

Esta proposta de versificação vê uma simetria entre os versos 15 e

18b, 16a e 20a, 16b e 20b. Porém, Schweizer aceita que o hino ori-

ginal foi modificado pelo autor da epístola. Assim algumas expres-

sões seriam acréscimos como os versos 16c, 18c, 20c: 32

(15)

(16a)
(16b)  
(16c)   
(16d) 
(17a)
 
(17b)
 

31
SCHWEIZER, Eduard. Christ in the letter to the colossians.
Review and Expositor. Louisville, Southern Baptist Theological
Seminary, v.70, 1973, p.451.
47

(18a) 
         
18b) 
(18c)   s 
 
(19)   
(20a)   
(20b,d)
 
(20c)    
   


2.4.7 - Ralph Martin

Ralph Martin (1973) segue a análise de Schweizer e divide o hino

em três estrofes, aceitando a adição e interpolação do autor. O

uso retórico permitiu ao apóstolo Paulo trabalhar sobre os temas

principais do hino33. A estrutura da composição original do hino

seria:

1a. Estrofe

He is the image of the invisible God,


the firstborn of all creation;
For in him all things were created, in
heaven and on earth,
[visible and invisible,
Whether thrones or dominions

32
SCHWEIZER, Eduard. The letter to the colossians: a commentary.
Trad. Andrew Chester. Minneapolis: Augsburg Publishing House,
1982.p.57.
33
MARTIN, Ralph. Colossians: the church’s lord and the christi-
an’s liberty. Grand Rapids: Zondervan, 1972. p.44.
48

or principalities or authorities-]
All things were created through him and
for him.

2a.Estrofe

He is before all things,


And in him all things hold together
He is the head of the body,[the church];

3a. Estrofe

He is the beginning, the firstborn from


the dead,
[That in everything he might be preeminent]
For in him all the fullness of God was pleased
to dwell
And through him to reconcile to himself all
things,
[Whether on earth or in heaven, making peace
by the blood of his cross].
  
 
 
 
  



 
  

49

 
  
  
  
  
  

2.4.8 - Paul Beasley-Murray

Paul Beasley-Murray (l980) acredita que o hino foi composto em du-

as estrofes básicas que celebram Cristo como Senhor da criação

(v.15 e 16) e redenção (18b a 20) respectivamente. Estas duas es-

trofes foram ligadas por um estribilho intermediário (v.17 e 18a),

o qual aglutina as duas idéias de criação e redenção. 34 Ele entende

que o autor fez várias interpolações no hino:

  
  

 
 
  

34
BEASLEY-MURRAY, Paul. An early christian hynn celebrating the
lordship of Christ. In: Donald A., ed., Pauline studies. Grand
Rapids: W.M. B. Eerdmans Publishing Company, 1980. p.169.
50

     
   
     
     

      

  

  
  
  
 
 (C) 
    
    
   

      
     
  
    
  
    
  
      

2.5 - Conclusão: A formula hínica do hino colossense

O texto colossense está bem próximo de uma fórmula hínica da tra-

dição cristã primitiva. A situação literária do hino apresenta uma

proclamação da parte doutrinária da epístola. Deve-se portanto


51

considerar a organização do texto grego para a identificação das

duas principais partes do hino. A primeira exaltando a obra de

Cristo na criação, e a segunda exaltando a obra de Cristo na re-

denção.

O uso do pronome relativo e a referência a Cristo na terceira pes-

soa coincidem com outros textos hínicos do Novo Testamento, refor-

çando uma proclamação cristã e não uma interpelação literária.

O uso constante da palavra  (todas as coisas), relacionada à

criação, possibilita identificar uma unidade quanto ao objeto de

louvor a Cristo. Ele é louvado pela sua obra na criação e sua so-

berania sobre todas as coisas.

A sombra de um paralelismo poético é delineada na presença de ex-

pressões similares nas duas partes do hino como



O texto de Colossenses 1.15-20 é melhor identificado quando orga-

nizado numa estrutura poética. Apesar da utilização livre de sua

forma primitiva, este texto pode ser impresso com a seguinte pon-

tuação e metrificação:

o qual é imagem do Deus invisível,


o primogênito de toda a criação,
porque nele foram criadas todas as coisas
nos céus e na terra:
as visíveis e as invisíveis;
52

sejam tronos ou dominações,


sejam principados ou potestades.
Tudo foi criado por ele e para ele.
E ele é antes de todas as coisas.
E todas as coisas nele subsistem.
E ele é a cabeça do corpo,
da igreja.
O qual é o princípio,
o primogênito dentre os mortos,
para que em tudo tenha a preeminência,
porque aprouve (a Deus) nele
toda a plenitude habitasse.
E por meio dele reconciliasse
todas as coisas nele,
havendo feito a paz
pelo sangue da sua cruz,
sejam as que estão na terra
ou as que estão nos céus.35

Diante das evidências apresentadas podem-se definir alguns parâme-

tros sobre esta perícope textual:

a) O texto apresenta evidências textuais claras de uma composição

hínica em sua estrutura sintático-gramatical. Sua tessitura grama-

tical e sua organização sintática reforçam uma estrutura hínica;

b) O texto apresenta um núcleo de vocabulário peculiar e indepen-

dente. Esta independência determina apenas sua formação pré-

literária e não um distanciamento do conteúdo da epístola e da


53

mensagem do Novo Testamento;

c) O texto tem sido destacado nas últimas revisões das versões mo-

dernas, versificando-o como uma peça hínica tradicional com uma

composição independente da estrutura prosaica do documento bíbli-

co;

d) O texto não possui uma versificação definida, nem ritmo e mé-

trica adequados. As diversas tentativas apresentadas revelam a di-

ficuldade de identificar a estrutura poética do hino. Qualquer

tentativa de versificá-lo implicará em alterações, omissões, aglu-

tinações, interpolações e transposições de palavras. Isto sustenta

a teoria de que o hino foi utilizado livremente pelo autor da car-

ta;

Esta dificuldade proporciona a possibilidade de uma peça hínica

pré-epístola colossense. Este estágio pré-epístolar gera alguns

problemas subseqüentes: Qual o ambiente original da composição do

texto? Como justificar a autoria paulina do texto? Pode o texto

revelar o ambiente teológico de sua origem?

35
A tradução é uma reorganização da pontuação do texto da versão
revisada da Imprensa Bíblica Brasileira. O vocabulário foi
mantido, nos limtes da tradução literal.

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