Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
Orí é um conceito central na concepção de personalidade humana em língua yorùbá.
Dizem que os yorùbás (Nigéria) acreditam que a personalidade de cada indivíduo é um Orí
predeterminado. O autor mostra que os relatos disponíveis de Orí constituem uma
explicação inadequada desse determinismo - o que é popularmente traduzido como destino
- no pensamento yorùbá. Em vez da predeterminação espiritualista da personalidade
implícita na ideia de destino, ele oferece uma interpretação naturalista dos conceitos
yorùbá de Orí. Para isso, ele analisa criticamente o mito yorùbá da criação da pessoa
humana, argumentando que esse relato não deve ser considerado literalmente, mas deve ser
entendido metaforicamente. Além disso, ele argumenta que um sentido plausível no qual
os indivíduos podem ser considerados livres, o que ainda é consistente com o conceito
yorùbá de Orí, é que cada pessoa tem o poder de introduzir uma nova energia ou fazer um
esforço de vontade de transcender fatores ambientais ou hereditários que possam restringir,
obrigar ou predispor a ele a fazer ou não certas coisas.
Abstract
Orí is a central concept in yorùbá-language conception of human personality. The yorùbá
(Nigeria) are said to believe that the personality of each individual is predetermined Orí.
The author shows that the available accounts of Orí constitute an inadequate explanation of
this determinism - what is popularly translated as destiny - in yorùbá thought. In place of
the spiritualistic predetermination of personality implied in the idea of destiny, he offers a
naturalistic interpretation of the yorùbá concepts of Orí. In order to do so, he critically
analyses the yorùbá myth of the creation of the human person, arguing that this account is
not meant to be taken literally but has to be understood metaphorically. Furthermore, he
argues that a plausible sense in which individuals may be said to be free, which is still
consistent with the yorùbá concept of Orí, is that each person has the power to introduce a
new energy or to make an effort of the will to transcend environmental or hereditary
factors that may want to constrain, compel or predispose him or her to do or not to do
certain things.
1
Prof. do Departamento de Filosofia da Universidade de Ìbàdàn, Nigéria.
2
Mário Alves da Silva Filho é Sacerdote afro-religioso. Dirigente do Templo Espiritual Caboclo Pantera
Negra e do Ilé Ifá Ajàgùnmàlè Olóòtọ́ Aiyé. Bacharel, Mestre e Doutor em Ciências Policiais de Segurança e
Ordem Pública pelo Centro de Altos Estudos de Segurança; Especialista em Políticas Públicas de Gestão em
Segurança Pública, Especialista e Mestre em Ciência da Religião (PUC/SP), Especialista em História da
África e do Negro no Brasil pela UCAM/RJ. Professor do Programa de Pós Graduação (Mestrado e
Doutorado) do Centro de Altos Estudo em Segurança. Endereço eletrônico: ezezide@gmail.com
O mito da Criação
Uma das versões yorùbá para a criação do homem defende que o corpo humano
(ará) foi moldado por Òrìṣà-nlá (uma das deidades no sistema religioso tradicional yorùbá -
Òṣàlá) de barro. Após ter sido moldado é que o corpo sem vida é infundido com o ẹ̀mí
(vida ou sopro de vida) por Olódùmarè (Deus Supremo). O corpo (ará), nessa fase, é
vivificado e enviado a Àjàlá (deidade responsável pela confecção do Orí) para selecionar
um Orí4.
O ato de selecionar um Orí na casa de Àjàlá possui três aspectos importantes5:
- Supõe-se ser uma livre escolha. Todos seriam livres para escolher qualquer Orí
disponível na “fábrica” de Àjàlá;
- O Orí selecionado determina, final e irreversivelmente, o curso de vida e a
personalidade de seu possuidor;
- Cada indivíduo ignora o conteúdo ou qualidade do Orí escolhido, isto é, a pessoa
que faz a escolha não sabe se o destino que acompanha aquele Orí é bom ou mau.
Outros termos usados para simbolizar o Orí incluem:
- Àkúnlẹ̀yàn: aquele que é escolhido ajoelhando-se;
- Ìpín-Orí: aquele que é atribuído;
- Àyànmọ́: aquele que é escolhido ou afixado por si mesmo; e
- Àkúnlẹ̀gbà: que é recebido ajoelhado.
Além da definição citada anteriormente para a determinação do destino feito
através da escolha do Orí na casa de Àjàlá, existem outras versões da crença yorùbá para a
determinação do destino. Uma dessas versões afirma que foi Olódùmarè quem conferiu o
destino a cada um, o qual é duplamente selado, mais tarde, por Oníbodè (o guardião do
3
Wándé Abímbọ́lá, Ifa: An Exposition of Ifa Literary Corpus (Ibadan, Nigeria: Oxford University Press,
1976), 96-115
4
Olusegun Gbadegesin, "Destiny, Personality and Ultimate Reality of Human Existence: A yorùbá
Perspective," in Ultimate Reality and Meaning, vol. 7, no. 3 (1984): 173-188; E. B. Ìdòwú, Olódùmarè: God
in yorùbá Belief (London: Longman Ltd., 1962), 169-186.
5
Wándé Abímbọ́lá, Ifa, cited; Olufemi Morakinyo, "The yorùbá Àyànmọ́ Myth and Mental Health Care in
West Africa," in Journal of Culture and Ideas, vol. 1, no. 1 (1983): 87.
6
E. B. Ìdòwú, Olódùmarè, 174
7
E. B. Ìdòwú, Olódùmarè, 174-175
8
Wándé Abímbọ́lá, Ifa.
9
M. Akin Mákindé, "An African Concept of Human Personality: The yorùbá Example," in Ultimate Reality
and Meaning, vol. 7, no. 3 (1984): 197-198; Olusegun Gbadegesin, Destiny, Personality and Ultimate
Reality; E. B. Ìdòwú, Olódùmarè.
10
E. B. Ìdòwú, 171
11
E. O. Odùwọlé, "The Concepts of Orí and Human Destiny," in Journal of Philosophy and Development,
vol. 1, nos. 1 and 2 (1996): 48.
12
A. S. Hornby, Oxford Advanced Learners Dictionary (Oxford: University Press, 1974).
13
M. Akin Mákindé, "A Philosophical Analysis of the yorùbá Concept of Orí and Human Personality," in
International Studies of Philosophy, vol. XVII, no. 1 (1985): 57.
14
M. Akin Mákindé, An African Concept, 198
15
M. Akin Mákindé, An African Concept, 198
16
M. Akin Mákindé, A Philosophical Analysis, 58.
17
M. Akin Mákindé, A Philosophical Analysis, 63-66
18
Olúṣẹ́gun Ọladipọ, "Predestination in yorùbá Thought: A Philosopher's Interpretation," Oríta, vol. XXIV,
no. 1-2 (June and Dec. 1992): 36-50
19
Olúṣẹ́gun Ọladipọ, Predestination, 37.
20
Olúṣẹ́gun Ọladipọ, Predestination, 41.
21
Olúṣẹ́gun Ọladipọ, Predestination, 41.
22
Olúṣẹ́gun Ọladipọ, Predestination, 2-43.
23
E. O. Odùwọlé, The Concepts of Orí, 48.
24
Ọlá Rótìmí, The Gods Are Not to Blame (Oxford: Oxford University Press, 1975).
25
Wándé Abímbọ́lá, Ifa, 63.
26
Wándé Abímbọ́lá, Ifa, 63.
27
Moritz Schlick, "Freedom and Responsibility," in P. R. Struhl and K. J. Struhl, Philosophy Now (New
York: Random House, 1972), 150.
28
C. A. Campbell, "In Defense of Free Will," in P. R. Struhl and K. J. Struhl, Philosophy Now, 140.
29
C. A. Campbell, "In Defense of Free Will," in P. R. Struhl and K. J. Struhl, Philosophy Now, 141-2.
32
E. O. Ìdòwú, Olódùmarè, 181.
33
Wándé Abímbọ́lá, Ifa, 63.
34
E. O. Ìdòwú, Olódùmarè, 155.
35
E. O. Ìdòwú, Olódùmarè, 155.