Você está na página 1de 18

Participação popular, capital social e políticas

públicas de defesa do patrimônio cultural


Elementos e pressupostos para a construção de uma
democracia deliberativa no município

Eduardo Pordeus Silva e


Leandro Konzen Stein

Sumário
Introdução. 1. Da democracia representativa
à democracia participativa. 2. Pressupostos da
participação no município. 3. A participação po-
pular nas políticas públicas de defesa da cultura
no âmbito municipal. 4. Considerações finais.

Introdução
A administração pública contemporânea
passa por profundas mudanças, em face do
declínio do liberalismo e do surgimento de
tentativas de radicalizar a democracia, que
podem ser aglutinados no republicanismo
e no procedimentalismo.
No Brasil, esse processo de democratiza-
ção do Estado e da instauração de uma nova
relação do mesmo com a sociedade ganha
força com a Constituição Federal de 1988,
que estabelece o princípio democrático com
primazia absoluta.
Todavia, a deliberação política também
é regulada, em nosso sistema normativo-
constitucional, pelo princípio da constitu-
cionalidade, isto é, pelo respeito aos direitos
e garantias fundamentais expressos no
Texto Magno, que serão os pressupostos
normativos da formação pública da opinião
Eduardo Pordeus Silva é Mestrando em
e da vontade não-coatadas.
Ciências Jurídicas (Área de Concentração em
Direito Econômico) pela Universidade Federal Além disso, as modernas teorias políti-
da Paraíba – UFPB. cas e sociológicas advogam outros pressu-
Leandro Konzen Stein é Mestrando em postos (empíricos ou externos ao sistema
Direito pela Universidade de Santa Cruz do jurídico) para uma participação efetiva da
Sul – UNISC. Advogado. cidadania, que se podem aglutinar no am-
Brasília a. 46 n. 182 abr./jun. 2009 245
plo conceito de capital social, que irá revelar político até a década de 1970, é corolário do
a importância do histórico e do sentido de liberalismo burocrático e, também, da for-
pertencimento à comunidade. ma renovada do capitalismo (interventivo),
Na efetivação desses pressupostos, o Welfare State. Como aponta Rogério Leal
assume destaque ímpar o ente público (2006, p. 31-32):
municipal, eis que é locus privilegiado de “Esta leitura do Estado como con-
efetivação de uma participação calcada dições e possibilidades de governos
no espírito cívico, visto que o sentimento regidos pelos termos da Lei, portanto,
de identidade coletiva é muito maior do não é suficiente quando se pretende
que nos demais entes federativos, além de enfrentar os conteúdos reais da exis-
possibilitar um diálogo mais dinâmico em tência de sociedades dominadas pelas
face das próprias características do espaço contradições econômicas e culturais
local que congrega um número menor de e das cidadanias esfaceladas em sua
cidadãos do que os Estados e a União. consciência política. Em outras pa-
Desse modo, neste artigo, buscaremos lavras, a Democracia Liberal, ao de-
(a) estabelecer um quadro panorâmico das signar um único e verdadeiro padrão
diversas possibilidades conceituais da de- de organização institucional baseado
mocracia radicalizada, isto é, de democracia na liberdade tutelada pela lei, na
participativa em oposição à tradicional igualdade formal, na certeza jurídi-
concepção liberal de soberania restrita ao ca, no equilíbrio entre os poderes do
voto, para, (b) visualizando os pressupostos Estado, abre caminho à conquista
normativos (internos) e empíricos (exter- da unanimidade de um conjunto de
nos) à participação social no município, (c) atitudes, hábitos e procedimentos,
perquirir sobre os limites e possibilidades os quais, geralmente, refletem a re-
da deliberação democrática municipal em produção do status quo identificado
torno de políticas públicas de proteção do com projetos de sociedade mais
patrimônio cultural, em vista à promoção corporativos do que comunitários.
do desenvolvimento. Em tal quadro, compete ao Estado de
Direito tão-somente regular as formas
1. Da democracia representativa à de convivência social e garantir sua
democracia participativa conservação; a economia se converte
numa questão eminentemente privada e
Não é novo o fato de que há muito vem o direito, por sua vez, torna-se predomi-
perdendo força o liberalismo clássico e seu nantemente direito civil, consagrando
modelo representativo de democracia polí- aos princípios jurídicos fundamentais
tica. O paradigma liberal-burguês de admi- ao desenvolvimento capitalista, como
nistração pública e exercício da soberania os da autonomia da vontade, da livre
popular na escolha de representantes está disposição contratual e o da pacta sun
em franco declínio. A ideia elitista schum- servanda.”
peteriana (Cf. SCHUMPETER, 1967) de As formas tradicionais de democracia
democracia como método, e não como fim têm, portanto, se modificado em função do
em si mesma1, que dominou o pensamento declínio da ideologia liberal e do renasci-
mento do republicanismo:
1
A redução da abrangência da soberania permite
a Schumpeter limitar o papel do povo ao de produtor
“[...] na Itália renascentista, Maquia-
de governos, isto é, aquela instância de escolha da- vel (Niccolò Machiavelli) e vários
quele grupo particular entre as elites que seria o mais contemporâneos seus concluíram que
qualificado para governar. Através dessa operação, o
povo permanece como fundamento em última instân- a saber, na condição de árbitro das disputas entre as
cia da política democrática em apenas uma condição, elites. (AVRITZER, 2002, p. 566)

246 Revista de Informação Legislativa


o êxito ou o fracasso das instituições reunião dos representantes do povo,
livres dependia do caráter dos cida- quando então a decisão seria pública
dãos, ou seja, de sua ‘virtude cívica’. apenas para estes e não para todo o
Segundo uma interpretação consa- povo, as reuniões da assembléia de-
grada do pensamento político anglo- vem ser abertas ao público de modo a
americano, essa escola ‘republicana’ que qualquer cidadão a elas possa ter
de humanistas cívicos foi posterior- acesso.” (BOBBIO, 2000, p. 30)
mente superada por Hobbes, Locke e Rousseau é um dos nomes destaca-
seus sucessores liberais. Enquanto os dos do republicanismo (que remonta a
republicanos enfatizavam a comuni- Aristóteles). O autor francês é contrário
dade e as obrigações dos cidadãos, os a associações secundárias de indivíduos,
liberais ressaltavam o individualismo ou seja, opõe-se à democracia de grupos,
e os direitos individuais. [...] temendo o sectarismo, que pode advir de
Nos últimos anos, porém, uma onda uniões parciais (não totais, como no Estado:
revisionista varreu a filosofia política volonté générale) de indivíduos que pensam
anglo-americana. [...] Segundo os da mesma forma:
revisionistas, existe uma importante “Rousseau mostra como a existência
tradição republicana ou comunitária de ‘associações parciais’ prejudica a
que vem desde os gregos e Maquiavel, vontade geral. Ele diz que ‘tal deli-
passando pela Inglaterra do século beração pode ser vantajosa para uma
XVII, até os constituintes americanos. pequena comunidade, mas muito
Em vez de exaltarem o individualis- prejudicial para a grande comuni-
mo, os novos republicanos evocam dade’. O termo deliberação tomado
a eloqüente exortação comunitária.” nesse sentido particular aparece
(PUTNAM, 2000, p. 101) precisamente naquelas passagens
A República pressupõe ampla divulga- em que Rousseau condena aqueles
ção e abertura da administração ao controle grupos que normalmente constituem
da cidadania, que deve fazer-se ouvir seja o eixo principal da discussão política:
na assembleia de cidadãos (democracia os grupos ou as partes que se enfren-
direta, como na Grécia Clássica), seja por tam numa troca de argumentos.”
meio de representantes (democracia re- (MANIN, 2007, p. 24)
presentativa): Essa concepção trará sérias consequên-
“Enquanto o principado, no sentido cias no que se refere à deliberação política
clássico da palavra, a monarquia de e à formação democrática da opinião e da
direito divino, as várias formas de vontade. Rousseau encara a deliberação
despotismo, exigem a invisibilidade pública (entendida como processo de
do poder e de diversos modos a jus- formação da opinião e da vontade) como
tificam, a república democrática – res perigosa. Como explica o professor do
publica não apenas no sentido próprio Departamento de Política da Universida-
da palavra, mas também no sentido de de Nova York, Bernard Manin (2007,
de exposta ao público – exige que o p. 25): “Para Rousseau, os indivíduos já
poder seja visível: o lugar onde se sabem o que querem quando vão a uma
exerce o poder em toda forma de re- assembléia pública para decidir algo em
pública é a assembléia dos cidadãos comum, porém qualquer ato de persuasão
(democracia direta), na qual o pro- empreendido pelos outros pode corromper
cesso de decisão é in re ipsa público, sua vontade e oprimi-la.”
como ocorria na ágora dos gregos; Ou seja, Rousseau pregava que o indi-
nos casos em que a assembléia é a víduo que precisa tomar uma decisão (no

Brasília a. 46 n. 182 abr./jun. 2009 247


âmbito da esfera pública) já sabe antes o os dois paradigmas prevalecentes na
que quer. Em outros termos, a vontade ge- teoria do Estado constitucional de-
ral é prévia à discussão pública dos temas mocrático [...]. Se for somado a essas
que afetam a vida comunitária, sendo esta duas alternativas o conceito proces-
desnecessária e mesmo perigosa. sual de democracia desenvolvido
Veja-se, portanto, que o liberalismo por Habermas, há duas abordagens
clássico e o comunitarismo exacerbado radicais que estão tentando, de pon-
são dois vertentes ideológicos antagônicos tos de vista contrários, defender uma
que – para melhor operação do princípio idéia normativa mais substantiva de
democrático e da cidadania ativa – devem formação democrática da vontade
encontrar um ponto de equilíbrio. conjunta vis-à-vis a perspectiva liberal
“Acredito que seja indiscutível a de política. Tais conceitos padroniza-
preocupação liberal com o efeito dos – liberalismo, republicanismo,
corrosivo que a política majoritária procedimentalismo – sempre correm
desenfreada pode ter sobre as liber- o risco de serem simplificações exage-
dades civis e políticas. No entanto, o radas. Pode-se facilmente perder de
modelo deliberativo de democracia vista as diferenciações e as restrições
pode fornecer certos conceitos, bem com que as várias posições tentam
como soluções institucionais, para evitar estereótipos precipitados. 2”
mitigar e, talvez, transcender a velha (HONNETH, 2001, p. 63)
dicotomia entre a ênfase liberal nas liber- No plano normativo, o modelo sintético
dades e direitos individuais e a ênfase da de Estado/Sociedade/Direito é o novel
teoria democrática na deliberação coletiva paradigma do Estado Democrático de Di-
e na formação da vontade.” (BENHA- reito, que desponta do final dos anos 1970,
BIB, 2007, p. 64, grifo nosso) assim conceituado por Bolzan de Morais
É dizer: tanto o liberalismo quanto o (1996, p. 74-75):
republicanismo (ou comunitarismo, em “O Estado Democrático de Direito
sua vertente contemporânea) apresentam tem um conteúdo transformador
falhas que devem ser resolvidas por meio da realidade, não se restringindo,
de uma síntese superior que concretize efe- como o Estado Social de Direito, a
tivamente os pressupostos democráticos. uma adaptação melhorada das con-
Como explica o representante da ter- dições sociais de existência. Assim,
ceira geração da Escola de Frankfurt, Axel o seu conteúdo ultrapassa o aspecto
Honneth (2001), a distinção fundamental material de concretização de uma
entre paradigmas de Estados democráticos vida digna ao homem e passa a agir
contemporâneos é entre os modelos liberal simbolicamente como fomentador da
e republicano, somando-se, hoje, o paradig- participação pública quando o demo-
ma intermediário de Habermas, qual seja, crático qualifica o Estado, o que irradia os
a democracia procedimental, a qual pres- valores da democracia sobre todos os seus
supõe deliberação e participação efetiva da elementos constitutivos e, pois, também
cidadania. Contudo, essa distinção é mais sobre a ordem jurídica. E mais, a idéia
didática e simplificadora do que o quadro
efetivo, haja vista que vários autores não se 2
O próprio Habermas explica a sua posição inter-
filiam a qualquer dessas correntes: mediária da seguinte maneira: “A teoria do discurso,
“Com essa posição estou unindo-me, que atribuiu ao processo democrático maiores conota-
ções normativas do que o modelo liberal, as quais, no
até certo ponto, ao diagnóstico de entanto, são mais fracas do que as do modelo republica-
Habermas, no qual liberalismo e re- no, assume elementos de ambas as partes, compondo-
publicanismo são apresentados como os de modo novo.” (HABERMAS, 2003b, p. 21)

248 Revista de Informação Legislativa


de democracia contém e implica, ne- em contraposição ao de uma democracia
cessariamente, a questão da solução tida de interesses, destaca:
do problema das condições materiais “O modelo de democracia delibera-
de existência.” tiva, ao contrário, concebe a demo-
Assim, os elementos centrais do novo cracia como processo que cria um
paradigma informador do Direito e da so- público, isto é, cidadãos unindo-se
ciedade podem ser resumidos, grosso modo: para tratar de objetivos, ideais, ações
(a) na radicalização da democracia, mor- e problemas coletivos. Os processos
mente a participativa, tendo o cidadão am- democráticos são orientados em
plo acesso às estruturas estatais, o que per- torno da discussão do bem público,
mitiu o crescimento das demandas sociais ao invés da competição pelo bem
por políticas públicas, além de possibilitar privado de cada um.”
uma saudável função fiscalizadora; e (b) a Ademais, nesta, por ser compreendida
realização ótima dos direitos fundamentais como mais igualitária e potencialmente
(de todas as gerações ou dimensões), por mais inclusiva, entende-se que ninguém
intermédio da positivação e imutabilidade pode estar em posição que permita ameaçar
(cláusulas pétreas e cláusula da “proibição ou coagir outros a aceitar ou rejeitar deter-
de retrocesso social”) de conquistas sociais, minada proposta, pois, segundo Young
ora plasmadas no Texto Magno. (2001, p. 369), a finalidade da deliberação é
Essa inversão da lógica democrática na atingir o consenso; ainda que não haja este
contemporaneidade advém do fato de que e que os participantes tenham de recorrer
não mais se valorizam os fins, mas os meios, ao voto, o resultado será um julgamento co-
ou seja, a legitimidade da decisão reside letivo e não uma agregação de preferências
não tanto na decisão em si (como soma de privadas, como o ideário de democracia de
vontades individuais pré-determinadas), interesses.
mas no processo de formação da decisão: “De acordo com o modelo delibera-
na deliberação. tivo de democracia, para alcançar a
“Diante disso, é necessário alterar legitimidade e a racionalidade nos
radicalmente a perspectiva comum processos de tomada de decisões co-
a ambas teorias e ao pensamento letiva em uma comunidade política, a
democrático: a fonte da legitimidade condição necessária é que as institui-
não é a vontade predeterminada dos ções estejam de tal forma arranjadas,
indivíduos, mas antes o processo de de modo que o que é considerado
sua formação, ou seja, deliberação. do interesse comum de todos resulte
Precisamos, assim, modificar a con- dos processos de deliberação coleti-
clusão fundamental de Rousseau, va conduzidos de modo racional e
Sieyés, e Rawls: uma decisão legítima eqüitativo entre os indivíduos livres
não representa a vontade de todos, mas re- e iguais.” (BENHABIB, 2007, p. 50)
sulta da deliberação de todos. O processo Céli Jardim Pinto (2004, p. 97) entende
deliberativo é tanto individualista que tanto a democracia representativa
como democrático: individualista quanto a democracia participativa são
porque cada um participa da deli- interligadas a ponto de ser possível criar
beração, e democrático por que a uma arena privilegiada à expansão das po-
decisão tomada pode ser considerada tencialidades do ser humano e até mesmo
como emanando do povo.” (YOUNG, assevera que a democracia participativa
2001, p. 365, grifo nosso) chega a ser um antídoto para a crise atual
Iris Marion Young (2001, p. 369), ao tra- da democracia representativa, pois assim
tar da definição de democracia deliberativa observa a seguinte realidade:

Brasília a. 46 n. 182 abr./jun. 2009 249


“[...] os princípios de participação imprescindível a instituição de mecanismos
e representação nas atuais teoria e participativos3, a criação de instrumentos
prática democráticas, que entendem de participação na gestão urbanística, de
o regime como potencialmente capaz meios de informação de forma a possibi-
de gerar justiça e inclusão social. É litar um diálogo entre a administração e
consenso entre um número signifi- os cidadãos para a ordenação e gestão do
cativo de autores que a democracia espaço municipal.
representativa tal como se consolidou Na linguagem habermasiana, o direito
no século XX não tem sido capaz (e, por consequência, as políticas públicas)
de dar conta dos sérios problemas somente adquire legitimidade quando
sociais e culturais que o mundo existe um procedimento democrático de
contemporâneo apresenta. [...] As legislação, o qual permite a participação de
potencialidades de radicalização dos todos os possíveis atingidos pela norma/
princípios da democracia decorrem política:
da combinação entre representação “Os direitos de participação política
e participação, em que a participação remetem à institucionalização jurí-
deve estar ao mesmo tempo suficien- dica de uma formação pública da
temente independente do campo da opinião e da vontade, a qual culmina
política institucional, para estabelecer em resoluções sobre leis e políticas.
com ela uma relação calcada na auto- Ela deve realizar-se em formas de
nomia e não caudatária de interesses comunicação nas quais é importante
construídos no seu interior, e inserida o princípio do discurso, em dois as-
o bastante nesse campo para que não pectos: o princípio do discurso tem
ocorra uma espécie de divisão de tra- inicialmente o sentido cognitivo de fil-
balho entre sociedade civil e a esfera trar contribuições e temas, argumen-
propriamente política.” tos e informações, de tal modo que os
Assim sendo, a autora não prescinde da resultados obtidos por este caminho
realidade de exclusão socioeconômica que têm a seu favor a suposição da acei-
gravita em torno da maioria dos países e tabilidade racional: o procedimento
que, primacialmente, tende a gerar efeitos democrático deve fundamentar a
negativos para o exercício da cidadania, legitimidade do direito.” (HABER-
pois que, segundo ela, não se pode deixar MAS, 2003a, p. 190-191)
de levar em conta o fato de que os governos A noção de democracia procedimental,
(municipais, estaduais ou federais) atuam no marco da teoria do discurso, exige, to-
em cenários de grande escassez de recursos davia, certos pressupostos:
e de carência de serviços básicos em favor “A institucionalização (de uma rede)
dos setores marginalizados da população de discursos (e negociações) tem
(PINTO, 2004, p. 101). Ora, é pontual que a de se orientar em primeira linha de
inclusão socioeconômica dessa população, acordo com o objetivo de cumprir
no sentido de tomarem decisão sobre as da maneira mais ampla possível os
formas de aplicação dos recursos, contribui pressupostos pragmáticos comuns
para a legitimação das políticas públicas de argumentos em geral (acesso uni-
tendentes a levar a cabo as demandas elei- versal, participação sob igualdade
tas pela comunidade. de direitos e igualdade de chances
Segundo Dias (2008, p. 218), a partici- para todas as contribuições, orien-
pação da sociedade não pode ser limitada tação dos participantes em direção
a previsões legais, cuja existência se dá
apenas no plano formal. Para a autora, é 3
Sobre o tema, conferir: LEAL; STEIN, 2008.

250 Revista de Informação Legislativa


ao entendimento mútuo e incoerção 2. Pressupostos da participação
estrutural). A instituição dos discur- no município
sos, portanto, deve assegurar, tanto
quanto possível, sob as restrições O município adquire importância ímpar
temporais, sociais e objetivas dos no pacto federativo brasileiro, formulado
respectivos processos decisórios, o na Constituição Federal de 1988, passando,
livre trânsito de sugestões, temas e ao lado da União, dos Estados e do Dis-
contribuições, informações e razões, trito Federal, a ser ente federativo, a teor
de maneira que possa entrar em ação do artigo art. 1o, que versa: “A República
a força racionalmente motivadora do Federativa do Brasil, formada pela união
melhor argumento (da contribuição indissolúvel dos Estados e Municípios e do
convincente ao tema relevante).” Distrito Federal, constitui-se em Estado
(HABERMAS, 2002, p. 330) Democrático de Direito”. Além disso, o
Veja-se, portanto, que não se trata de artigo 18 reforça a federação de Estados e
deixar tudo ao arbítrio dos atores sociais municípios que é o Brasil ao preceituar que:
que vão decidir de qualquer modo sobre “A organização político-administrativa da
qualquer assunto. Nenhum autor revisio- República Federativa do Brasil compreende
nista da democracia tradicional (represen- a União, os Estados, o Distrito Federal e os
tativa) nega que existam determinados Municípios, todos autônomos, nos termos
pressupostos que devam ser satisfeitos desta Constituição.”
para que a deliberação na esfera pública A autonomia conferida aos municípios
seja efetiva. Ou seja, o Estado Democráti- no pacto constituinte de 1988 é importante
co de Direito carrega consigo o princípio indicativo da adoção do princípio da sub-
democrático, mas esse não se subsume sidiariedade pelo Texto Magno. Ou seja, o
ao princípio da maioria, contendo em si, ente mais próximo do cidadão, no caso o
também, o princípio da constitucionali- município, deve ter prioridade na execução
zação (calcado no respeito aos direitos das políticas públicas. Como explica Bara-
fundamentais). cho (1996, p. 89), a ligação entre federalismo
Além desses princípios que integram e subsidiariedade é íntima:
o sistema jurídico (pressuposto interno), “A idéia de subsidiariedade está in-
existem outros pressupostos (externos tensamente ligada à de federação. A
ao ordenamento), que são as condições aplicação da idéia de subsidiariedade
materiais (empíricas) que possibilitem leva à conciliação entre as diversi-
uma participação consciente e que levem dades mais variadas, sem negar a
os cidadãos a pensarem nos interesses solidariedade do Estado. Sua idéia
comuns, e não meramente na defesa de está assentada na concepção de uma
seus interesses privados. São eles: o capital sociedade plural, dotada de sentido
social, o espírito cívico e o sentimento de mais amplo do que aquele proposto
pertencimento. Nesse sentido, a efetivação pela democracia, pois visa não so-
desses pressupostos externos (materiais) mente à diversidade de opiniões, mas
guarda íntima relação com o espaço local, à variedade de capacidade e atuação,
visto que a deliberação ocorre de forma com efetivação dos fins individuais
mais fluida em espaços menores e, prin- e sociais.”
cipalmente, porque o pertencimento ao O princípio da subsidiariedade passa
município/comunidade é mais destacado a ser, portanto, princípio constitucional
do que em relação ao Estado, ou União Fe- implícito de distribuição de competências
deral, mormente em países de dimensões entre os entes federados, privilegiando,
continentais, como o Brasil. repise-se, o município:

Brasília a. 46 n. 182 abr./jun. 2009 251


“A subsidiariedade funcionará como mente desde os escritos seminais de Robert
critério de distribuição de poderes Putnam, nos quais analisa a relação entre
entre o Estado e os outros entes terri- desenvolvimento regional e comunidade
toriais sempre que a Constituição não cívica, primeiramente na Itália4 (PUTNAM,
disponha ela própria directamente ou 2000) e posteriormente nos Estados Unidos5
remetendo para outros critérios ou (PUTNAM, 2002). Nesse sentido, ganham
princípios jurídicos acerca das atri- força conceitos de participação, espírito cí-
buições e competências dos referidos vico, redes, confiança, cultura política, con-
entes territoriais. Assim, a subsidia- texto cultural, história republicana, etc.
riedade funcionará plenamente como Veja-se que se privilegia a historicidade
critério principal de repartição de e a sociedade civil em detrimento de uma
exercício de poderes, dirigido ao le- postura estatista e impositiva. As relações
gislador cujo espaço de conformação horizontais são destacadas, a solidariedade
fica assim mais reduzido, ou não fun- e sentido de pertencimento à comunidade
cionará como critério de repartição de ganham importância:
exercício de poderes. Admitir que o “A par do que sustentamos até agora,
princípio da subsidiariedade é um ser cidadão, no âmbito principalmen-
mero critério supletivo ou é um prin- te da Constituição brasileira de 1988,
cípio puramente hermenêutico impli- não tem a ver fundamentalmente
ca a não aceitação da subsidiariedade com os direitos reconhecidos pelos
como princípio constitucional reitor aparelhos estatais, pelo fato de que
da organização e funcionamento do esta cidadania localiza-se em territó-
Estado.” (MARTINS, 2001, p. 755) rio determinado, mas, notadamente,
Ademais, o município é realçado como com as práticas sociais e culturais que
ente federado privilegiado na concretização dão sentido de pertencimento desta
democrática e participativa das políticas cidadania com o seu espaço e tempo,
sociais tendentes a efetivar as promessas e fazem que se sintam diferentes, os
constitucionais, em especial os direitos que possuem uma mesma língua,
fundamentais. O cidadão vive, pois, no formas semelhantes de organização
município, e não no Estado ou na União e de satisfação das necessidades.”
Federal: (LEAL, 2006, p. 50)
“A subsidiariedade concretiza-se no Schmidt (2006, p. 1.760) conceitua capi-
Município, desde que o indivíduo tal social como um “conjunto de redes, re-
não é um ser abstrato, mas concreto, lações e normas que facilitam ações coorde-
onde aparece como cidadão, usuário, nadas na resolução de problemas coletivos
vizinho, contribuinte, consorciado e que proporcionam recursos que habilitam
e participante direto na condução e os participantes a acessarem bens, serviços
fiscalização das atividades do corpo e outras formas de capital”.
político, administrativo e prestacio- D’Araújo (2003, p. 45) traz um conceito
nal.” (MARTINS, 2001, p. 755) de capital social mais vinculado à confiança
Outro fator importante, além do princí- entre os diversos atores sociais: “[...] as re-
pio da subsidiariedade (e de sua implicação lações informais e de confiança que fazem
na repartição de competências federativas), com que as pessoas ajam conjuntamente
agora de ordem externa (isto é, alheio ao
sistema jurídico constitucional), é o chama- 4
Originalmente publicado em 1993 com o título
Making democracy work: civic traditions in modern
do capital social. Italy.
Os temas da democracia e do capital 5
Originalmente publicado com o título Bowling
social estão estreitamente vinculados, mor- alone.

252 Revista de Informação Legislativa


em busca de um bem comum são funda- processo, o modelo pode ser mal
mentais para que novas e velhas organiza- interpretado, mal empregado e mal
ções da sociedade civil possam prosperar usado. O modelo discursivo adota
e dar oportunidade de participação aos algumas precauções contra seus pró-
que ainda carecem de engajamento ou de prios abusos e maus usos, pois que
proteção.” a condição de reflexidade embutida
Destarte, a confiança mútua e o sentido no modelo possibilita que os abusos
de pertencimento são mais propícios em e maus usos no primeiro nível sejam
espaços menores no qual a identidade se confrontados num segundo, o meta-
forma; é a chamada comunidade cívica que nível do discurso. Do mesmo modo,
se caracteriza “[...] pela existência de fortes a chance igual de todos os implicados
obrigações dos cidadãos com a comuni- iniciarem tal discurso de deliberação
dade, expressas em intensa participação, sugere que nenhum resultado é prima
em mecanismos de igualdade política, em facie fixado, mas pode ser revisado e
sentimentos de solidariedade, de confiança sujeito a uma reavaliação.” (BENHA-
e de tolerância e em densas redes de asso- BIB, 2006, p. 55)
ciações. O compromisso cívico se expressa Para evitar isso, imperioso o respeito aos
no empenho dos cidadãos em prol de bens ditames constitucionais como forma de ga-
públicos.” (SCHMIDT, 2003, p. 436) rantir uma formação da vontade municipal
A participação social na gestão dos não-coatada6:
interesses locais é condicionada a esses “[...] o espaço local deve se traduzir
elementos, sendo indispensável que se em um contexto de efetivação das
estabeleçam mecanismos capazes de ga- garantias constitucionais, não sendo
rantir formas de inclusão democráticas no suficiente a simples abertura dos
município, locus privilegiado dessa nova espaços decisórios à sociedade, em
articulação entre Estado e Sociedade. função dos riscos representados
“De fato, nas esferas mais determi- pela eventual ausência de requisitos
nadas, de menor extensão, é possível substanciais mínimos. É essa perspec-
uma efetiva participação dos atores tiva que deve ser considerada para
sociais considerados excluídos, ou a viabilização de um direito social
incapazes de fazer frente ao pro- condensado como espécie de direito
cesso complexo de articulação nos social que compatibilize a atuação
espaços nacional e, especialmente, dos atores sociais, potencializada na
transnacional. Esta redefinição do esfera local, com referenciais institu-
centro de debate acerca dos locais de cionais mínimos representados pela
poder pode contribuir para retornar a Constituição.” (HERMANY, 2007,
centralidade ao cidadão, atualmente p. 255)
ofuscado pelo complexo conjunto de
inter-relações da economia globaliza- 6
“Habermas, lembrando Hannah Arendt, refere
da.” (HERMANY, 2007, p. 251) que o fenômeno do poder moderno não se caracteriza
Não se quer dizer que a deliberação como a chance de impor, no âmbito de uma relação
social, a sua própria vontade contra vontades opos-
dos cidadãos no município seja livre de tas, mas, sim, o potencial de uma vontade comum
qualquer condicionante, ou seja, o debate formada numa comunicação não coatada, isto porque
público pode ser desvirtuado: o poder nasce da capacidade humana de agir ou de
“Um modelo deliberativo de demo- fazer algo, associando-se com outros e entendendo-se
com eles. Todavia, isto só ocorre em espaços próprios
cracia propõe uma condição necessá- em que possam se desenvolver estruturas de inter-
ria, mas não suficiente, de racionali- subjetividade formadas a partir de interlocuções não
dade prática, pois, como em qualquer deformadas.” (LEAL, 2006, p. 19-20)

Brasília a. 46 n. 182 abr./jun. 2009 253


Conclui-se pela existência de deter- de superação do paradigma eleitoralista
minados pressupostos jurídico-positivos liberal de democracia meramente represen-
para que a participação seja efetiva, e não tativa, passamos a avaliar um tema pontual,
meramente formal ou dirigida (seja pelo qual seja, a defesa e controle social sobre o
Estado ou por outros atores sociais). Ou patrimônio cultural no âmbito municipal.
seja, devem existir diretivas normativas
cogentes que são guias das decisões esta- 3. A participação popular nas
tais. Em outras palavras, não existe plena
políticas públicas de defesa da cultura
autonomia social na definição das políticas
públicas que deverão ser levadas a cabo no âmbito municipal
pelo Estado, eis que existem parâmetros A necessidade de controle social acerca
normativo-constitucionais previamente do patrimônio cultural é primordial, por-
definidos – pela própria sociedade ex- que tende a ofertar mecanismos próprios
pressa no Poder Constituinte, e não por de bem-estar social, de vez que faculta à
algum ente metafísico ou religioso – como comunidade local os instrumentos propi-
condição prévia de possibilidade ao jogo ciadores do direito fundamental ao desen-
democrático: volvimento humano. Por isso é importante
“O Estado de que estamos falando, uma sistemática de atuação, principalmente
pois, não se confunde com a institui- do Poder Público, para que a educação
ção jurídica que toma corpo em seus formal seja realmente reformada e aberta
poderes institucionais, mas é espaço para incluir as pessoas, conscientizando-as
de comunicação e explicitação de um de suas responsabilidades, em detrimento
mundo da vida ordenado por marcos das desigualdades sociais.
normativos fundantes, vetores axio- Os desafios acerca da destruição e da
lógicos positivos que estabelecem as conservação do patrimônio cultural no
regras do jogo democrático, a partir do Brasil são, certamente, pouco conhecidos
qual se tem, tão-somente, um mínimo do público acadêmico  brasileiro. Outros-
existencial assegurado, um plexo de sim, é curial destacar  que são variados
prerrogativas e garantias que se pos- os sentidos no que tange ao conceito de
tam como conquista histórica da hu- patrimônio cultural.
manidade em seu envolver. No mais, Conforme Funari, as línguas de origem
tudo pode e precisa ser construído, românica adotam os termos frutos do latim
dependendo da capacidade criativa patrimonium para se referir à “propriedade
que temos de superar nossas próprias herdada do pai ou dos antepassados, uma
limitações, categorias restritivas das herança”. Também segundo o referido au-
possibilidades existenciais intersubje- tor, os alemães usam o termo Denkmalpflege,
tivas que nos prometeu a racionalida- “o cuidado dos monumentos, daquilo que
de moderna.” (LEAL, 2006, p. 53) nos faz pensar”, enquanto o inglês adota
Os direitos fundamentais e os princí- a terminologia heritage, confinado “àquilo
pios constitucionais desempenham papel que foi ou pode ser herdado”, mas que,
primordial nesse sentido. Ademais, impor- pelo mesmo processo de generalização
tante não descurar do fato de que a lógica que afetou as línguas românicas e seu uso
da democracia participativa jamais pode ser dos derivados de patrimonium, também
substitutiva da sua forma institucionaliza- passou a ser usado como uma referência
da (representação parlamentar). aos monumentos herdados das gerações
Vistos os pressupostos teóricos de uma anteriores (FUNARI, 2001, p. 24).
democracia contemporânea no sentido Dessa maneira, pode-se concluir que
participativo e procedimental como forma essas terminologias têm, em regra,  refe-

254 Revista de Informação Legislativa


rência à lembrança, isto é, moneo (do latim cos no Brasil, na medida em que buscam
“levar a pensar”, presente tanto em patri- incorporar o discurso segundo o qual o
monium como em monumentum), Denkmal enriquecimento intelectual e material delas
(em alemão, denken significa “pensar”) e decorrentes são potenciais. Assim sendo, o
aos antepassados,  que são embutidos  na Estado, em todas suas esferas, tem tarefa
herança. (Idem, p. 25) imprescindível na gestão cultural, por
Concomitantemente a mencionados intermédio especialmente do poder local
termos subjetivos e/ou afetivos, pelos quais (espaço municipal), já que mais próximo
são ligados às pessoas, ou seja, ainda aos da realidade e dos interesses específicos de
seus possíveis precursores, é curial destacar determinada comunidade, assumindo um
uma definição mais econômica, bem como papel relevante na valorização e na preser-
mais jurídica, qual seja a propriedade cul- vação da cultura e, de modo particular, do
tural, que,  nas palavras de Funari (2001, patrimônio cultural.
p. 25), é comum nas línguas românicas (e Destaque-se que, em verdade, o direito
no italiano, beni culturali), “o que implica à cultura liga-se às potencialidades do ser
um liame menos pessoal entre o monumen- humano quando confere a possibilidade de
to e a sociedade, de tal forma que pode ser desenvolvimento da sua intelectualidade,
considerada uma ‘propriedade’”. da valorização da sua condição humana, na
No mais, visualiza-se  na Constituição medida em que se asseguram condições de
brasileira vigente a importância de proteção engajamento do capital social nas políticas
do patrimônio cultural nacional, apontan- desenvolvimentistas, sem paternalismos.
do a obrigação do Estado em assegurar o Chauí (1995, p. 82-83) destaca direitos
pleno exercício dos direitos culturais, bem pelos quais se possa identificar uma nova
como garantir o acesso às fontes da cultura cultura política e, consequentemente, for-
nacional. Daí se denota um aspecto  im- talecer a política cultural do Estado. Nesse
portante no resguardo constitucional ao contexto, observa-se o direito de acesso e de
referido patrimônio: o fato da participação usufruto dos bens e serviços culturais pelos
da comunidade, juntamente com o Poder serviços públicos de cultura, em especial o
Público, no desempenho das formas legais direito à informação, em prol da democra-
de proteção e de preservação. cia; o direito à criação cultural, enfatizando
Ante o disposto no artigo 216,  § 1o, a pessoa humana e que grupos sociais sejam
da CF/1988, compreende-se que o Poder reconhecidos como sujeitos culturais; e o
Público levará em conta o entendimento direito à participação nas políticas públicas
comunitário do que seja importante para ligadas à cultura, por intermédio de órgãos
a preservação do patrimônio cultural. O representativos ou movimentos sociais,
referido dispositivo destaca que a política de modo a garantir uma política cultural
de preservação, no que tange a esse patri- distanciada dos padrões do clientelismo
mônio, deve ser democrática, participativa e da tutela.
e aberta a todos os setores sociais; daí se Por isso, é pertinente lembrar a necessi-
identificando o princípio constitucional dade de efetivar a cidadania cultural que,
cultural da participação popular, consis- conforme Chauí (1995, p. 84):
tente na possibilidade de os cidadãos po- “[...] teve em seu centro a desmonta-
derem opinar e deliberar, de forma direta, gem crítica da mitologia e da ideolo-
acerca da política cultural a ser encetada. gia: tomar a cultura como um direito
(CUNHA FILHO, 2003, p. 107) foi criar condições para tornar visível
Nesse sentido, a temática da política a diferença entre carência, privilégio
cultural bem como da gestão cultural e direito, a dissimulação das formas
ganham relevância nos debates acadêmi- da violência, a manipulação efetua-

Brasília a. 46 n. 182 abr./jun. 2009 255


da pela mass midia e o paternalismo formas de opressão e de dominação pelas
populista; foi a possibilidade de quais ganham status institucionalizado, de
tornar visível um novo sujeito social modo que o Estado (por seus representan-
e político que se reconheça como tes, obviamente) cria certos embaraços para
sujeito cultural. Mas foi, sobretudo, um desenvolvimento humano e a própria
a tentativa para romper com a passi- expansão das formas de atuação da demo-
vidade perante a cultura – o consumo cracia, ideia essa compartilhada por Pinto
de bens culturais – e a resignação ao (2004, p. 102), da forma seguinte:
estabelecido, pois essa passividade e “[...] poder-se-ia argumentar que a
essa resignação bloqueiam a busca da participação é conseqüência de uma
democracia [...]” sociedade organizada, em que os indi-
Depreende-se, de fato, que o desenvol- víduos possuem melhores condições
vimento envolve fatores econômicos, so- sociais, econômicas e educacionais,
ciais, culturais, políticos e ecológicos. Em se o que, por sua vez, os leva a votar
tratando do desenvolvimento local, implica em partidos mais identificados com
dizer que este engloba uma perspectiva causas sociais e com questões concer-
integrada do desenvolvimento que vai nentes à participação democrática. Se
além do referencial econômico, reunindo os a democracia participativa necessita
aspectos humanos e sociais. Sob esse ponto dessas condições para se desenvol-
de vista, é considerada de extrema impor- ver, como pensar na alteração dessas
tância a participação da comunidade como condições em países ou regiões de
condição à legitimidade e sustentabilidade extrema pobreza e onde dominam
do desenvolvimento. partidos oligárquicos, responsáveis
Conforme Silva (2004, p. 128), à gestão por políticas excludentes.”
pública local competirá implementar as Outrossim, vige, hodiernamente, na
políticas de desenvolvimento mediante a maioria das cidades brasileiras, um senti-
utilização de instrumentos jurídicos insti- mento de alienação, resultando uma consci-
tucionais disponíveis, tal como a realização ência no sentido de que sua própria cultura
do planejamento, votação orçamentária não é algo de relevante valor ou digno de
com participação popular e atos normati- atenção e de sua permanente cobrança
vos específicos de realização concreta dos perante os poderes constituídos.
comandos na esfera administrativa, pelos  É comum se minimizar ou mesmo negar
órgãos competentes incumbidos de sua a importância da participação popular nos
implantação. Para Albuquerque Júnior destinos da coisa pública, em particular no
(2007, p. 77): que diz respeito aos grupos subordinados,
“A gestão democrática da cultura pois persiste um grau de separação entre os
passa [...] pelo reconhecimento de que setores superiores e inferiores da sociedade,
deva haver a gestação pública da cul- oportunidade em que protela o desenvolvi-
tura, que esta deva contemplar a plu- mento socioeconômico e humano.
ralidade das manifestações culturais Nesse contexto, é natural o fato de as
e abrir o espaço para a multiplicidade pessoas, apesar de um senso de cidadania
de seus agentes, que os conflitos que e de democracia que adquirem, não darem
atravessam o social devam se explici- a devida atenção à proteção e à conservação
tar nas próprias atividades culturais do patrimônio cultural, posto que o enten-
que são apoiadas e contempladas dem, na maior parte das vezes, como  se
pelas políticas públicas.” fora coisa estranha ao desenvolvimento
Ademais, a exclusão socioeconômica dos direitos humanos ou até mesmo coisa
tem uma força decisiva para manter as do estrangeiro. 

256 Revista de Informação Legislativa


Ademais, no Brasil, há um ditado popu- Essa experiência permite que esse ci-
lar que vai ao encontro dessa realidade, o dadão se torne um agente fundamen-
que vem a conferir mais certeza a essa alie- tal da preservação do patrimônio em
nação das classes: “eles, que são brancos, toda sua dimensão. O conhecimento
que se entendam”. Inclusive, vale ressaltar, adquirido e a apropriação dos bens
esta frase é bem usada igualmente pelos di- culturais por parte da comunidade
tos brancos para se referirem às autoridades constituem fatores indispensáveis no
no sentido geral. (FUNARI, 2001, p. 27) processo de conservação integral ou
Sendo assim, com o entendimento no preservação sustentável do patrimô-
sentido de que “o problema é deles, não nio, pois fortalece os sentimentos de
nosso”, fica restrita a concepção de povo identidade e pertencimento da popu-
e de res publica para conferir uma ordem lação residente, e, ainda, estimula a
econômica que promova a busca da justi- luta pelos seus direitos, bem como o
ça social e, de modo particular, reduza as próprio exercício da cidadania.”
desigualdades sociais e regionais, na forma Logo, é forçoso compreender que a apa-
que se depreende do Texto Constitucional tia da pessoa humana ou dos grupos sociais
brasileiro. em cobrar medidas eficazes dos poderes
Para Nabais (2004, p. 28), o patrimônio constituídos redunda, na maior parte das
cultural é tido como domínio aberto ao vezes, na destruição ou descaracterização
envolvimento e empenho da comunidade. do patrimônio cultural, mesmo sob a alega-
Assim, denota-se a corresponsabilização ção de haver políticas culturais pela busca
de cada um e de todos os membros da da modernidade às cidades.
sociedade civil: “[...] ao lado das idéias de No que se refere aos atos de proteção ao
‘estadualidade’ e de ‘publicidade’, revela patrimônio cultural, conforme exposto por
também e cada vez mais a idéia de ‘civilida- Rodrigues (2002), a participação social pode
de’”. Isso, contudo, ainda consoante Nabais ocorrer por duas formas: a primeira, pela
(2004, p. 28), não afasta o fato indiscutível participação da comunidade organizada
de que “[...] são o Estado e os demais en- nos conselhos de cultura e nos organis-
tes públicos territoriais os primeiros e os mos que decidem os objetos material ou
principais responsáveis pela tutela do pa- imaterial a serem preservados; a segunda
trimônio cultural, tanto na sua vertente de é traduzida pela utilização de mecanismos
conservação, como sobretudo na vertente legais, tal como a ação popular para coibir
da sua valorização [...]”. os atos políticos que ponham em riscos os
Por outro lado, destacam-se variados valores de importância cultural definido
fatores os quais inibem um engajamento pela coletividade.
participativo no que se refere à gestão do Dessa maneira, ao se falar em planeja-
patrimônio cultural. Em primeiro lugar, há mento urbano, conota-se, desde logo, a dis-
falta de informação e de educação formal cussão sobre a qualidade de vida coligada
acerca do tema da cultura como motor do no espaço cultural. Ademais, a qualidade de
desenvolvimento humano. Destarte, mister vida só é propícia a partir do intercâmbio de
também a defesa do patrimônio cultural informações e de diálogo aberto, da partici-
por meio do controle da sociedade, por- pação democrática, do dever do Estado em
que, como destacado por Pelegrini (2006, promover e prover os direitos fundamentais
p. 127): que os cidadãos clamam, após a pondera-
“À medida que o cidadão se percebe ção dos inúmeros e complexos interesses
como parte integrante do seu entor- existentes. (DIAS, 2008, p. 219)
no, tende a elevar sua auto-estima e A Agenda 21 constitui-se num docu-
a valorizar a sua identidade cultural. mento internacional que encarta o modelo

Brasília a. 46 n. 182 abr./jun. 2009 257


de desenvolvimento econômico em que culturais dispersos em tão imenso
se efetive a consideração da democracia território tem implicado a adoção de
econômica, social e ambiental de forma ações pontuais no campo das políti-
integrada e por ele resta assegurada a cas públicas devotadas à defesa do
necessidade do envolvimento de todos no patrimônio e do turismo. Estas têm
processo decisório democrático para reso- sido respaldadas pela implantação
lução dos problemas mundiais, regionais e de cursos de Educação Patrimonial e
locais (DIAS, 2008, p. 220). Educação Ambiental, tomadas como
Em especial, a Declaração de Amsterdã instrumentos para a construção da
(1975) introduziu algumas orientações para cidadania, do progresso econômico
tornar viável o implemento de políticas e da preservação dos bens culturais
para conservação integrada do patrimônio e sócio-ambientais.”
cultural, inaugurando uma abordagem Daí por que os grupos que conseguem
pautada pela noção de integração do espaço em algum tipo de inclusão são
patrimônio à vida social. Dessa maneira, capazes de se organizar como diferenças;
conferiu ao poder público municipal a mas, em sociedades que apresentam altas
responsabilidade de elaborar programas de desigualdades socioeconômicas, existe um
conservação e aplicar os recursos financei- significativo setor da população incapaz
ros obtidos para esses fins. O mencionado de se constituir como diferença na esfera
documento orientou ainda o envolvimento pública, devido a condições de pobreza ex-
da população nos processos preservacionis- trema, isolamento social e falta de recursos
tas [...] para assegurar maior observância providos pela educação formal (PINTO,
dos valores ligados à identidade microlocal 2004, p. 105). A partir das observações
e a evitar a evasão das pessoas humanas em de Pelegrini (2006, p. 125-126), impende
virtude da especulação. (FUNARI; PELE- consignar que:
GRINI, 2006, p. 33) “Se for verdade que as identidades
Logo, fica evidente que o desenvol- latino-americanas podem ser con-
vimento urbano está relacionado com o servadas por meio da preservação
direito ao desenvolvimento humano e, a de seu patrimônio, a educação patri-
um só tempo, a participação popular é in- monial e ambiental pode contribuir
dispensável para a consecução das políticas para avivar a consciência do valor
urbanas. Acresce dizer que a participação cultural e simbólico de distintos
popular tem ligação com a efetivação bens. A educação nesse campo deve
do direito à igualdade quando propicia iniciar-se pela percepção direta de
a oportunidade de usufruir e gozar dos que o patrimônio não se restringe
benefícios advindos das políticas públicas somente aos bens culturais móveis e
em áreas urbanas, pressupondo, assim, a imóveis representativos da memória
igualdade de condições políticas a parti- nacional, como monumentos, igrejas
cipar no processo de tomada de decisões ou edifícios públicos. Pelo contrário,
sobre interesses da coletividade. o conceito de patrimônio cultural é
À participação da sociedade civil, faz-se muito mais amplo, não se circunscre-
necessária a efetivação de ações políticas ve aos bens materiais ou às produções
que privilegiem o direito à informação, humanas, ele abarca o meio ambiente
especificamente a educação patrimonial, e a natureza, e ainda se faz presente
porque, segundo observado por Pelegrini em inúmeras formas de manifesta-
(2006, p. 121-122): ções culturais intangíveis.”
“[...] a complexidade da proteção Parte-se do raciocínio de que o direito
de uma coleção tão extensa de bens ao patrimônio cultural é consentâneo com

258 Revista de Informação Legislativa


a promoção dos direitos humanos, em indiferentes à cultura, pois é mais urgente
particular com a ampliação das liberdades ter saneamento básico, saúde de qualidade,
da pessoa humana e, também, dos grupos direito à alimentação adequada, entre ou-
sociais, quando, a par da dicção das normas tras necessidades mais prementes.
internacionais e constitucionais, almeja-se No Estado interventor, afinal, há neces-
integrar as ações prestacionais do Poder sidade de induzir ações e planejar políticas
Público ao entendimento da comunidade de modo a alterar a realidade cruel. Isso
diretamente interessada. combinado com um modo de fazer os inte-
Desta feita, deve haver uma simbiose do ressados participarem, sem paternalismos.
direito ao desenvolvimento com os ideais O desenvolvimento socioeconômico inclusivo,
de participação social, ao tempo em que se participativo e democrático não é promovido só
compreende um determinado bem cultural de cima, ou só de baixo, mas resulta da articula-
com valor econômico e social, à conta da ção inteligente de diversos tipos de aportes.
efetividade do princípio constitucional da O conceito e o problema a discutir é este
ordem econômica brasileira: reduzir as mesmo, das desigualdades. Mas tem-se que
desigualdades sociais e regionais. Ademais, não chega a nada apenas apontando que
concretiza-se também o princípio funda- ele existe. É preciso aprofundar a discussão
mental da cidadania, esculpido no art. 1o, sobre uma aproximação entre educação
II, da Carta Magna. formal e cultura e sobre saúde e acesso às
As cidades cuja preservação e valori- estruturas de lazer e esporte, numa revisão
zação do patrimônio cultural são metas das políticas atomizadas que trabalham
prioritárias tornam-se mais atraentes aos sem levar em conta que as questões podem
investimentos privados – fortalecendo as ser associadas na condução de uma política
políticas de incentivo ao turismo, o que, pública.
evidentemente, é de interesse de todos e Assim sendo, o direito pode formular
confere autossustentabilidade aos bens que diretrizes ou os decretos podem espelhar
o integram, propiciando maior circulação essa nova perspectiva, não apenas garantir
de riquezas e efetivando o direito ao desen- o básico. Em que pese termos secretarias
volvimento econômico e, consequentemen- municipais que reúnam mais de uma rubri-
te, a geração de bem-estar social. ca, como a educação, esporte e turismo, ou
O enfoque de desenvolvimento econô- educação, cultura e esportes, e outras ver-
mico de determinadas cidades ou regiões sões e variações, as políticas empreendidas
tem muito que ver com as formas de ainda não espelham essa possibilidade de
desenvolvimento humano, ao tornar a de- conceito integrado e gestão idem.
mocracia como algo próximo da realidade
brasileira, por, essencialmente, afastar as
4. Considerações finais
formas de manobras ímprobas nos gover-
nos, em todas as esferas, e que desgastam O desenvolvimento socioeconômico
os incipientes processos de participação municipal perpassa a efetivação do direito
política, malferindo diuturnamente a res à cultura, ao passo que a defesa do patrimô-
publica. nio cultural no espaço local constitui campo
Resta saber se os direitos culturais, como privilegiado de avaliação da efetividade do
forma de impulsionar o desenvolvimento princípio constitucional da cidadania e da
socioeconômico nos Estados, e a necessida- consectária participação popular.
de de uma democracia deliberativa para a As políticas públicas, para serem legíti-
sua condução, seriam viáveis num contexto mas, devem estar impregnadas da vontade
social tão excludente, uma vez que, prima fa- social. Contudo, concluímos que existem
cie, as pessoas em situação de miséria ficam determinados pressupostos de ordem

Brasília a. 46 n. 182 abr./jun. 2009 259


interna (jurídicos) e externa (empíricos) como reivindicar dos poderes constituídos
à participação social na definição dessas medidas aptas a interagir com o primado
políticas. Entre eles, destacam-se o respeito do desenvolvimento humano.
aos ditames constitucionais, a construção A cultura é um direito e um motor para
do capital social, a noção de pertencimento o desenvolvimento humano, e, a partir
e de bem comum e a consagração/efetivi- dela, podem-se propiciar oportunidades de
dade do princípio da subsidiariedade, que inserção social para comunidades margina-
está fortemente impregnado na estrutura lizadas social e economicamente, necessi-
do federalismo brasileiro pós-1988. tando, contudo, de planejamento político
Como pano de fundo teórico, visualiza- dentro do qual a comunidade tenha direito
mos que o modelo clássico de democracia de participação. Outrossim, faz-se curial a
meramente representativa encontra-se em participação da cidadania na condução e
crise e que os autores vinculados a novas implementação de planos, ações e projetos
formas democráticas (revisionistas) se de política cultural, porque é interesse co-
aglutinam em dois grupos (que se contra- letivo a democratização da cultura, como
põem ao modelo liberal, restrito ao voto): forma de inclusão social.
o republicanismo e o procedimentalismo. Os elementos para a formação da po-
Nesse sentido, a democracia passa a ser lítica cultural levam em conta os aspectos
entendida como deliberação, surgindo os e as vocações culturais de determinado
conceitos de democracia participativa e lugar, pois, assim, podem-se propiciar
deliberativa, em que o cidadão é instado a consequências positivas da execução de
se responsabilizar pelos destinos da res pu- ações e de programas a ela relacionadas.
blica, por meio de variados mecanismos que Dessa maneira, é essencial o tratamento da
congreguem uma formação não-coatada da cultura como direito e como componente
opinião e da vontade. indispensável nas agendas do desenvol-
Nesse diapasão, deve-se compreender a vimento socioeconômico, aperfeiçoando,
cultura e, de modo particular, o patrimônio justamente, o envolvimento da sociedade
cultural como bens a serviço da sociedade civil na condução das políticas públicas,
e não como bens ou serviços fúteis, dos em especial nos espaços menores, como o
quais necessariamente não se possa atribuir município.
um valor econômico. Assim, por exemplo, Indiscutível, portanto, a vocação do
há importância para os empreendimentos poder local para dar a devida proteção
turísticos e a consequente geração de em- do patrimônio cultural, em particular sob
prego e renda, inclusive com a valorização a ótica da gestão dos seus bens patrimo-
da urbanização, a partir de uma política. niais de caráter ambiental, cultural ou
A cultura, em particular sob a óptica paisagístico. De fato, importa consolidar
de seu valor econômico, não é algo para os investimentos com a plena participação
ser apenas apreciado por quem tem po- social, como fatores indispensáveis para o
der aquisitivo para usufruí-la. O sentido desenvolvimento socioeconômico.
vai bem mais adiante: a cultura desponta
como mecanismo pelo qual se pode criar
uma arena privilegiada para mudanças Referências
sociais e a inclusão social e econômica de
certos povos. ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. Gestão
Diante disso, importa destacar que as ou gestação pública da cultura: algumas reflexões
sobre o papel do Estado na produção cultural con-
pessoas devem ter a consciência da cultura temporânea. In: RUBIM, Antonio Albino Canelas;
(patrimônio cultural) como direito funda- BARBALHO, Alexandre (Org.). Políticas culturais no
mental, para definir a accountability, bem Brasil. Salvador: EDUFBA, 2007.

260 Revista de Informação Legislativa


AVRITZER, Leonardo. Modelos de deliberação de- LEAL, Rogério Gesta; STEIN, Leandro Konzen. Esfera
mocrática: uma análise do orçamento participativo pública e participação social: possíveis dimensões
no Brasil. In: SANTOS, Boaventura de Souza (Org.). jurídico-políticas dos direitos fundamentais civis de
Democratizar a democracia: os caminhos da democracia participação social no âmbito da gestão dos interes-
participativa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. ses públicos no Brasil. Encontro Preparatório para o
Congresso do CONPEDI, 17. Anais... Salvador, Bahia,
BARACHO, José Alfredo de Oliveira. O princípio de
2008, no prelo.
subsidiariedade: conceito e evolução. Rio de Janeiro:
Forense, 1996. ______. Estado, administração pública e sociedade: novos
paradigmas. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
BENHABIB, Seyla. Sobre um modelo deliberativo de
2006.
legitimidade democrática. In: WERLE, Denilson Luis;
MELO, Rúrion Soares. A democracia deliberativa. São MANIN, Bernard. Legitimidade e deliberação política.
Paulo: Editora Singular, Esfera Pública, 2007. In: WERLE, Denilson Luis; MELO, Rúrion Soares. A
democracia deliberativa. São Paulo: Editora Singular,
BOBBIO, Norberto. Estado, governo e sociedade: para
Esfera Pública, 2007.
uma teoria geral da política. 8 ed. São Paulo: Paz e
Terra, 2000. MARTINS, Margarida Salema D´Oliveira. O princípio
da subsidiariedade em perspectiva jurídico-política.
CUNHA FILHO, Francisco Humberto. Os princípios
Tese de doutorado. Lisboa: Universidade de Lisboa,
constitucionais culturais. In: LEITÃO, Cláudia (Org.).
2001.
Gestão cultural: significados e dilemas na contempora-
neidade. Fortaleza: BNB, 2003. MORAIS, José Luis Bolzan de. Do direito social aos
interesses transindividuais: o estado e o direito na
CHAUÍ, Marilena. Cultura política e política cul-
ordem contemporânea. Porto Alegre: Livraria do
tural. Estudos avançados. v. 9, n. 23. São Paulo, jan./
Advogado, 1996.
abr. 1995.
NABAIS, José Casalta. Introdução ao direito do patrimó-
D’ARAÚJO, Maria Celina Soares. Capital social. Rio de
nio cultural. Coimbra: Almedina, 2004.
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003.
PELEGRINI, Sandra C. A. Cultura e natureza: os
DIAS, Daniella S. O princípio da soberania como
desafios das práticas preservacionistas na esfera do
expressão da participação popular e da democracia
patrimônio cultural e ambiental. Revista brasileira de
no planejamento urbano. In: COSTA, Paulo Sérgio
história. São Paulo, v. 26, n. 51, jan./jun. 2006.
Weyl A. (Org.). Direitos humanos em concreto. Curitiba:
Juruá, 2008. PINTO, Céli Regina Jardim. Espaços deliberativos e a
questão da representação. Revista brasileira de ciências
FUNARI, Pedro Paulo. Os desafios da destruição e
sociais, v. 19, n. 54, fev. 2004.
conservação do património cultural no Brasil. Traba-
lhos de antropologia e etnologia, Porto, 41, ½, 2001. PUTNAM, Robert. Comunidade e democracia: a expe-
riência da Itália moderna. 2 ed. Rio de Janeiro: FGV,
______; PELEGRINI, Sandra C. A. Patrimônio histórico
2000.
e cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
______. Solo en la bolera: colapso y resurgimiento de
HABERMAS, Jürgen. A inclusão do outro: estudos de
la comunidad norteamericana Barcelona: Galaxia
teoria política. São Paulo: Loyola, 2002.
Gutemberg, 2002.
______. Direito e democracia: entre facticidade e va-
RODRIGUES, Francisco Luciano Lima. A proteção
lidade. 2 ed, v. 1. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,
do patrimônio cultural. Competências constitucionais
2003a.
municipais e o direito de construir regulado pela Lei
______. Direito e democracia: entre facticidade e va- no 10.257/01 (Estatuto da Cidade). Jus Navigandi. Te-
lidade. 2 ed, v. 2. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, resina, ano 6, n. 58, ago. 2002. Disponível em: <http://
2003b. jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3160>. Acesso
em: 05 jan. 2008.
HERMANY, Ricardo. (Re)discutindo o espaço local: uma
abordagem a partir do direito social de Gurvitch. Santa SCHMIDT, João Pedro. Capital Social e políticas
Cruz do Sul: UNISC/IPR, 2007. públicas. In: REIS, Jorge Renato dos; LEAL, Rogério
Gesta. (Org.). Direitos sociais e políticas públicas: de-
HONNETH, Axel. Democracia como cooperação safios contemporâneos. Tomo 3. Santa Cruz do Sul:
reflexiva. John Dewey e a teoria democrática hoje. In: Edunisc, 2003.
SOUZA, Jessé. Democracia hoje: novos desafios para a
teoria democrática contemporânea. Brasília: Editora ______. Exclusão, inclusão e capital social: o capital
UnB, 2001. social nas ações de inclusão. In: REIS, Jorge Renato

Brasília a. 46 n. 182 abr./jun. 2009 261


dos; LEAL, Rogério Gesta. (Org.). Direitos sociais e SILVA, Guilherme Amorim Campos da. Direito ao
políticas públicas: desafios contemporâneos. Tomo 6. desenvolvimento. São Paulo: Método, 2004.
Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2006.
YOUNG, Iris Marion. Comunicação e outro: além da
SCHUMPETER, Joseph A. Capitalismo, socialismo e democracia deliberativa. In: SOUZA, Jessé. Democracia
democracia. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961. hoje: novos desafios para a teoria democrática contem-
porânea. Brasília: Editora UnB, 2001.

262 Revista de Informação Legislativa

Você também pode gostar