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Interbio v.7 n.2 2013 - ISSN 1981-3775

PRODUÇÃO DE SABONETE LÍQUIDO DE ÁCIDO SALICÍLICO EMPREGANDO

HIDROXIPROPIL GUAR COMO AGENTE DE VISCOSIDADE

PRODUCTION OF LIQUID SOAP WITH SALICYLIC ACID USING

HYDROXYPROPYL GUAR GUM VISCOSITY AGENT

NARDIN, Ariley Domingas Holanda Gomes 1; CANDA, Thaís Cecília Pereira da Silva
Almeida1; TESCAROLLO, Iara Lúcia2

Resumo

Os sabonetes líquidos são produtos que estão ganhando grande valorização pelo consumidor em função da
melhor fixação do perfume, hidratação e suavidade à pele. São geralmente produtos com formulações muito
semelhantes a dos xampus, com a diferença que a quantidade de espuma, cremosidade e suavidade à pele, são
atributos valorizados. O ácido salicílico é um fármaco com propriedades queratolíticas e antimicrobianas. A
incorporação do ácido salicílico em sabonetes líquidos torna-se um desafio farmacotécnico em virtude de suas
características físico-químicas como solubilidade em meio aquoso. O hidroxipropil guar além de formar filmes
homogêneos, ser bem solúvel em água, possuir alta viscosidade apresenta-se como um biopolímero interessante
para aumentar a viscosidade de sabonetes líquidos. O objetivo do presente trabalho consistiu no desenvolvimento
de sabonete líquido de ácido salicílico a 2% espessado com hidroxipropil guar empregando-se diferentes técnicas
de preparo. Os sabonetes produzidos foram avaliados quanto à identificação do ácido salicílico, características
organolépticas (aspecto, cor e odor), pH, viscosidade, formação de espuma e teor. A formulação preparada com
ácido salicílico a 2%; álcool 6%; hidroxipropil guar 2%; LESS 16%; silicone hidrossolúvel 0,5%; Phenogard ®
0,5%; EDTA dissódico 0,1% em água destilada apresentou propriedades satisfatórias em relação aos testes
realizados, principalmente no que tange ao teor e sensação tátil. Nesse estudo ficou evidenciada a possibilidade
de formulação e produção de sabonete líquido de ácido salicílico e o hidroxipropil guar demonstrou ser um
ingrediente passível de ser empregado com sucesso como espessante.

Palavras-chave: ácido salicílico, sabonete líquido, hidroxipropil guar

Abstract

The liquid soaps are products that are gaining wide appreciation by the consumer due to the better fixation of
fragrance, skin hydration and smoothness. Products are generally very similar to formulations of shampoos,
except that the amount of foam creaminess and smoothness to skin are valued attributes. Salicylic acid is an
agent with keratolytic and antimicrobial properties. The incorporation of salicylic acid soap liquid is hampered
due their physicochem properties such as solubility in aqueous media. The addition of guar hydroxypropyl form
homogeneous films, being well soluble in water, having high viscosity is presented as a biopolymer of interest to
increase the viscosity of liquid soaps. The aim of this work was the development of liquid soap to 2 % salicylic
acid thickened with hydroxypropyl guar using different preparation techniques. The soaps produced outside
evaluated for identification of salicylic acid, sensory characteristics (appearance, color and odor), pH, viscosity,
foaming and content. The formulation prepared with the 2% salicylic acid , 6% alcohol , 2% hydroxypropyl guar
; LESS 16 %, 0.5% soluble silicone; Phenogard® 0.5 %; 0.1% disodium EDTA in distilled water showed
satisfactory properties in regarding the tests performed, especially in regard to the content and tactile sensation .
This study showed that hydroxypropyl guar is an ingredient that can be successfully employed in formulations of
liquid soap salicylic acid.

Key-words: salicylic acid, liquid soap, hydroxypropyl guar

1
Graduadas do Curso de Farmácia - Universidade São Francisco USF, Bragança Paulista, SP
2
Professor Doutor Orientador de TCC, do Curso de Farmácia da Universidade São Francisco, Bragança Paulista,
SP. e-mail: iaratescarollo@hotmail.com

NARDIN, Ariley Domingas Holanda Gomes; CANDA, Thaís Cecília Pereira da Silva Almeida; TESCAROLLO, Iara Lúcia

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Introdução
O ácido salicílico, algumas vezes
mencionado como beta-hidroxiácido é
comercializado geralmente em produtos
usados para o tratamento da pele. O fármaco
é veiculado nas formas de sabões,
detergentes, loções tônicas, emulsões fluidas
e géis, em concentrações que variam de 0,5
a 2,0%, podendo chegar a 20% dependendo
da finalidade de uso (PERES, DIAS, 2011;
BATISTUZZO, ITAYA, ETO, 2002).
Apresenta propriedades queratolíticas e
antimicrobianas, o que significa que afina a
camada espessada da pele e age evitando a
contaminação por bactérias e fungos
oportunistas (MICHALUN, MICHALUN,
2010; RIBEIRO, 2010; DRAELOS, 2005).
É empregado no tratamento de pele
hiperqueratótica em condições de
descamação como: caspa, dermatite
seborréica, ictiose e psoríase (DRAELOS,
2005; PRISTA, BAHIA, VILAR, 1995). É
caracterizado ainda por ser um regularizador
da oleosidade e anti-inflamatório potencial.
(DRAELOS, 2005; FONSECA, PRISTA,
2000).
O fármaco também tem sido
utilizado no tratamento da acne por inibir a
comedogênese, promovendo a descamação
do epitélio folicular, ocupando um lugar de
destaque dentre os vários agentes
terapêuticos com essa mesma aplicação, em
função da sua eficiência e por ser bem
tolerado pela maioria dos pacientes.
Também encontra aplicação em produtos
para pele fotoenvelhecida, clinicamente
indistinguível do envelhecimento biológico,
o foto-envelhecimento provoca alterações na
pele que levam ao ressecamento, perda de
elasticidade e formação de rugas. O
tratamento com formulações tópicas
contendo ácido salicílico produz uma
descamação e esfoliação suave da pele,
sendo considerado bastante efetivo nestes
casos. Em concentrações de 20 a 30%
incorporado a um veículo hidroalcoólico
(95% de álcool e 5% de água). O ácido
salicílico facilita a descamação ao dissolver
o cimento intercelular que une as escamas
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no extrato córneo, deixando que a queratina
se desprenda. Este efeito queratolítico pode
proporcionar uma ação antifúngica, pois ao
eliminar o extrato córneo, o crescimento de
fungos é suprimido e ajuda na penetração de
outros fármacos antifúngicos (por este
motivo, algumas vezes associa-se o ácido
salicílico às formulações de antifúngicos
tópicos). Possui, além disso, uma leve ação
antisséptica (PERES, DIAS, 2011;
MICHALUN, MICHALUN, 2010;
DRAELOS, 2005). O ácido salicílico
também entra na composição de inúmeros
produtos dermatológicos produzidos em
farmácias de manipulação, em produtos
cosméticos sua concentração não pode
ultrapassar 2% (BRASIL, 2005;
BATISTUZZO, ITAYA, ETO, 2002).
Sabonetes líquidos são produtos que
estão ganhando grande valorização pelo
consumidor em função da melhor fixação do
perfume e atributos como hidratação e
suavidade à pele. Sua formulação difere
significativamente daquela do sabão em
barra. São geralmente produtos com
formulações muito semelhantes a dos
xampus, com a diferença na quantidade de
espuma, cremosidade e suavidade à pele,
são qualidades extremamente valorizadas,
fazendo com que o teor de ativo e agentes
de condicionamento à pele seja adicionado
em maior quantidade. Dessa forma são em
sua maioria formulados a partir de bases
detergentes, agentes de condicionamento,
sobreengordurantes ou redutores da irritação
à pele que possuem função também de
incrementadores de espuma e viscosidade,
agentes modificadores do aspecto, corantes,
além dos conservantes, antioxidantes,
sequestrantes, componentes de umectação e
perfume. Podem ser direcionados para
higiene corporal, facial (principalmente para
peles oleosas ou jovens) e higiene das mãos
(SANCTIS, 2011; RIBEIRO, 2010)
Assim como em xampus, o
espessamento de sabonetes líquidos pode ser
atingido com o uso doadores de viscosidade,
já que para o consumidor, normalmente este
atributo está relacionado com a qualidade do
produto, muito embora essa relação nem
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sempre seja verdadeira. Por este motivo, é agente suspensor e estabilizante,

um dos principais parâmetros analisados,
pois o comportamento reológico da
formulação não deve permitir que o produto
escorra das mãos durante a aplicação, mas
espalhe-se com facilidade (FERREIRA,
2008).
Diante da ampla gama de
ingredientes que podem ser utilizados como
doadores de viscosidade tanto em xampus
como em sabonetes líquidos, encontra-se a
goma guar e seus derivados. A goma guar é
um polissacarídeo isolado das sementes da
leguminosa Cyamopsis tetragonolobus, um
arbusto originário da Índia. Sua molécula
consiste em uma cadeia longa linear de β–
1,4 manose com subunidades de α–1,6
galactopiranosídeos ligados, formando um
polissacarídeo altamente ramificado
(MICHALUN, MICHALUN, 2010; RISICA
et al., 2010). Devido à possibilidade de
formar filmes homogêneos, ser bem solúvel
em água, possuir alta viscosidade, ser
comestível e de baixo custo a goma guar
apresenta-se como um biopolímero
interessante para diversas aplicações. É
comumente utilizada na indústria
alimentícia como agente espessante e na
indústria farmacêutica como aglutinante,
principalmente por ser um polímero
biodegradável e que não produz resíduos
tóxicos. Na área cosmética a goma guar e
seus derivados como hidroxipropil guar,
além de espessante, tem propriedade de
formar um revestimento sobre a pele que
permite a retenção de umidade, também
apresenta propriedades espessantes
(MICHALUN, MICHALUN, 2010).
A incorporação do ácido salicílico
em preparações de uso tópico, sobretudo em
sabonetes líquidos, é dificultada, já que o
fármaco se apresenta na forma de cristais
brancos ou em forma de agulhas sendo
insolúvel em água (PERES, DIAS, 2011;
BRASIL, 2010a). Artefatos técnicos podem
acarretar em preparações com sensorial
desagradável e qualidade questionável
(PERES, DIAS, 2011). Desta forma o
presente trabalho envolveu a produção de
sabonete líquido para veiculação de ácido
salicílico espessado com hidroxipropil guar
com objetivo de obter um produto com
sensorial agradável e qualidade desejada.
Material e Métodos
Formulações-teste

Tabela 1. Descrição qualitativa e quantitativa dos componentes das formulações propostas.

Composição % (p/p)
Componentes
Fórmula 1 Fórmula 2 Fórmula 3 Fórmula Base
Ácido salicílico 2,0 % 2,0 % 2,0 % -
Álcool 96° GL - 6,0 % 6,0 % -
NaOH 40% - 0,4 % - -
Propilenoglicol 5,0 % - - -
Hidroxipropil guar - 2,0 % 2,0 % 2,0 %
Lauril éter sulfato de sódio 16,0 % 16,0 % 16,0 % 16, 0%
Cocoamidopropilbetaina 5,0 % 5,0 % 5,0 % 5,0 %
Dietanolamida* 5,0 % 5,0 % 5,0 % 5,0 %
Silicone hidrossolúvel** - 0,5% 0,5% 0,5%
Cloreto de sódio 1,0 % - - -
®
Phenoghard 0,5% 0,5% 0,5% 0,5%
EDTA Dissódico 0,1% 0,1% 0,1% 0,1%
Água q.s.p. 100% 100% 100% 100%
*ácido. graxo de coco; **(Silicone DC® 193)

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O desenvolvimento das formulações-
teste abrangeu a elaboração de 03 amostras
de sabonete líquido contendo ácido
salicílico a 2%. As formulações foram
previamente avaliadas em relação à
avaliação macroscópica, de características
organolépticas adequadas (aspecto, cor e
odor), segundo critérios do formulador,
mercadológicos e outros referendados pela
literatura (FERREIRA, 2008). A físicas e físico-químicas avaliadas nas
composição qualitativa e quantitativa (%
p/p) das formulações-teste está descrita na
Tabela 1. A Fórmula Base foi produzida
para comparação dos testes efetuados com
as amostras de sabonetes líquidos contendo
ácido salicílico.
Técnica de preparo
A Fórmula 1 foi preparada
dissolvendo-se previamente o cloreto de
sódio e o EDTA dissódico na água. A
seguir, a fase aquosa foi incorporada na
mistura preparada com o lauril éter sulfato
de sódio, cocoamidopropilbetaína,
dietanolamida de ácido graxo de coco e o
Phenogard®. Finalmente incorporou-se o
ácido salicílico disperso no propilenoglicol.
A Fórmula 2 foi preparada dissolvendo-se
previamente a hidroxipropil guar e o EDTA
dissódico na água. A seguir, a fase aquosa
foi incorporada na mistura preparada com o
lauril éter sulfato de sódio,
cocoamidopropilbetaína, dietanolamida de
ácido graxo de coco, silicone hidrossolúvel
e o Phenogard®. Finalmente incorporou-se o
ácido salicílico disperso no álcool 96°GL
previamente neutralizado com hidróxido de
sódio (NaOH 40%). A Fórmula 3 foi
preparada dissolvendo-se previamente a
hidroxipropil guar e o EDTA dissódico na
água. A seguir, a fase aquosa foi
incorporada na mistura preparada com o
lauril éter sulfato de sódio,
cocoamidopropilbetaína, dietanolamida de
ácido graxo de coco, silicone hidrossolúvel
e o Phenogard®. Finalmente incorporou-se o
ácido salicílico dissolvido no álcool sem
neutralizar. A Fórmula Base foi preparada
dispersando-se todos os ingredientes em
NARDIN, Ariley Domingas Holanda Gomes; CANDA, Thaís Cecília Pereira da Silva Almeida; TESCAROLLO, Iara Lúcia
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água, completando-se o volume, a seguir,
com o mesmo solvente. Após preparo, as
formulações foram devidamente
acondicionadas e submetidas ao estudo das
propriedades físico-químicas. O ácido
salicílico é fotossensível, portanto as
preparações foram acondicionadas em
embalagens protegidas da luz (FERREIRA,
2008). As propriedades ou características
formulações-teste, após sua produção,
foram: identificação do ácido salicílico,
características organolépticas (aspecto, cor e
odor), pH, viscosidade, formação de espuma
e teor (FERREIRA, 2008; BRASIL, 2007b).
Análise das formulações-teste
As formulações-teste apresentando
sinais de instabilidade (precipitação,
turvação) adicionalmente às propriedades
organolépticas consideradas inadequadas,
segundo critérios do formulador e também
referendadas pela literatura, como aspecto,
cor e odor subjetivamente desagradáveis,
foram rejeitadas pelo estudo do
desenvolvimento das formulações
(BRASIL, 2007).
Testes físico-químicos de qualidade
Apenas as formulações-teste apro-
vadas pelo estudo do desenvolvimento
foram submetidas aos testes físico-químicos
de qualidade. Foram empregados os testes
da avaliação das características organo-
lépticas, determinação da sensação tátil,
identificação do ácido salicílico na fórmula,
pH, viscosidade, altura da espuma e teor
(BRASIL, 2007).
Características organolépticas
As formulações-teste foram macros-
copicamente analisadas, após o período de
repouso de 24 horas necessário para a
finalização da incorporação e dissolução dos
componentes usados. Foram avaliados o
aspecto, homogeneidade, cor e odor das
formulações-teste (BRASIL, 2007).

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Determinação da Sensação Tátil
Aplicou-se cerca de 2,5 g do produto
na lavagem das mãos. Avaliaram-se
subjetivamente os resultados das
características sensoriais de acordo com a
escala: pouco agradável; agradável; muito
agradável; pegajoso; áspero.
Identificação do ácido salicílico
O teste foi efetuado adicionando-se
uma gota de cloreto férrico SR na amostra
em questão, desenvolve-se coloração roxa
que, pela adição de hidróxido de amônio, se
torna pardo-esverdeada (BRASIL, 2010a).
Determinação pH
Foi determinado nas dispersões das
amostras em água recém destilada, na
proporção 1:10 p/p, respectivamente, e à
temperatura ambiente (24 ± 2°C), em
réplicas de três, para cada amostra estudada
(BRASIL, 2010b)
Determinação do volume espuma
Verificou-se o volume de espuma de
20 mL de soluções a 10 % dos produtos
obtidos em provetas de 100 mL com
diâmetro e altura correspondentes, segundo
adaptação da técnica proposta por PRISTA,
BAHIA, VILAR (1995). As provetas foram
submetidas à agitação durante um 5
minutos, a um ritmo sincronizado.
Imediatamente após essa operação,
procedeu-se à determinação da altura da
espuma formada. O procedimento foi
repetido a intervalos regulares por duas
vezes. Os resultados foram comparados
com aqueles obtidos na avaliação da
formulação base.
Determinação da Viscosidade
Viscosidade é a expressão da
resistência de líquidos ao escoamento, ou
seja, ao deslocamento de parte de suas
moléculas sobre moléculas vizinhas. A
NARDIN, Ariley Domingas Holanda Gomes; CANDA, Thaís Cecília Pereira da Silva Almeida; TESCAROLLO, Iara Lúcia
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viscosidade dos líquidos vem do atrito
interno, ou seja, das forças de coesão entre
moléculas relativamente juntas (BRASIL,
2010b). Para este ensaio empregou-se o
viscosímetro de Brookfield, onde a
viscosidade foi medida com velocidade de
rotação de 60 rpm e eixo metálico (splindle)
número 04, imersos na amostra. (BRASIL,
2010b; FERREIRA, 2008). Para sabonetes
líquidos recomenda-se que a viscosidade
tenha pelo menos 2000cps (MARCOS,
2012; FERREIRA, 2008).
Determinação do teor do princípio ativo
A determinação do teor do princípio
ativo baseou-se na adaptação da análise
volumétrica por neutralização (BRASIL,
2010a). Transferiram-se 5 g da amostra para
erlenmeyer, adicionaram-se 25 mL de etanol
R, e 20 mL de água destilada
descarbonatada e 0,1 mL de fenolftaleína
solução indicadora. Titulou-se com
hidróxido de sódio 0,1 mol/L. Para efeito de
cálculo empregou-se o fator titulométrico:
cada mL de hidróxido de sódio 0,1 mol/L
equivale a 13,812 mg de C7H6O3 (ácido
salicílico). O procedimento foi repetido por
três vezes e o resultado expresso pela média
± desvio padrão. A especificação do teor é
de 90 a 110% de ácido salicílico no produto
acabado.
Resultados e Discussão
Para o desenvolvimento de uma
formulação, é necessária a combinação
adequada de excipientes farmacêuticos, com
a finalidade de solubilizar, diluir, estabilizar,
conservar, e possibilitar a obtenção de
formas farmacêuticas estáveis, eficazes e
atraentes. Cada formulação apresenta
características físicas, químicas, físico-
químicas e biológicas diferentes, conceito
fundamental para uma produção eficiente. É
necessário que o fármaco também seja
compatível com os componentes usados na
formulação e com a via de administração
(FERREIRA, 2008; ALLEN, POPOVICH,
ANSEL, 2007).

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Uma formulação típica de sabonete
líquido é composta por tensoativo ou agente
de limpeza, umectante, estabilizador de
espuma, corretivo de pH, quelante, corretivo
de viscosidade e aditivos. Os aditivos são
materiais que incorporados às formulações
agem como doadores de propriedades
específicas ao produto final (FERREIRA,
2008; ALLEN, POPOVICH, ANSEL,
2007). A escolha correta dos componentes é
de extrema importância para a qualidade e
efeito sensorial do produto final. Neste
trabalho foram desenvolvidas diferentes
formulações de sabonete líquido contendo
ácido salicílico e hidroxipropil guar como
espessante, a fim de se estabelecer um grau
de comparação quanto às características
físico-químicas e sensoriais dos produtos
obtidos.
O ácido salicílico é considerado um
hidroxiácido de fundamental importância
para prevenção e tratamento de certas
afecções da pele, apresenta ação
queratolítica, antimicrobiana, anti-
inflamatória e reguladora da oleosidade
(DRAELOS, 2005). Em relação à
solubilidade, o ácido salicílico é pouco
solúvel em água, muito solúvel em acetona,
facilmente solúvel em etanol e éter etílico,
ligeiramente solúvel em clorofórmio e óleos
graxos (BRASIL, 2010b). Para este trabalho
utilizou-se o propilenoglicol e o álcool para
favorecer a levigação e a dissolução do
ácido salicílico antes da sua incorporação no
sabonete líquido.
O propilenoglicol caracteriza-se por
ser um líquido inodoro, miscível em água,
álcool, ésteres, cetonas e clorofórmio em
todas as proporções. Possui propriedade
umectante e hidratante. Sua ação umectante
favorece a fixação da umidade a pele e ao
produto (MICHALUN, MICHALUN, 2010;
KIBE, 2000; PRISTA, BAHIA, VILAR,
1995). Na Fórmula 1 o propilenoglicol foi
usado como umectante e agente de
levigação do ácido salicílico. A água foi
utilizada como veículo da preparação.
Os tensoativos são os compostos que
apresentam propriedades adequadas para
preparação de sabonetes líquidos e as razões
NARDIN, Ariley Domingas Holanda Gomes; CANDA, Thaís Cecília Pereira da Silva Almeida; TESCAROLLO, Iara Lúcia
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que determinam a escolha destes são a
capacidade de produzir espuma abundante,
poder detergente, entre outros. O lauril éter
sulfato de sódio (LESS) é o tensoativo
aniônico de maior importância, pois é
empregado em uma gama de formulações
cosméticas e farmacêuticas. Escolheu-se o
LESS como tensoativo primário para
produção das formulações do sabonete de
ácido salicílico por possuir alto poder de
limpeza, característica essencial a uma
formulação para pele. Além disso, a
literatura destaca que o LESS apresenta
maior solubilidade e menor agressividade e
poder irritante tanto para pele como para os
cabelos, possui alta capacidade espumógena,
característica esta que é associada pelo
consumidor a maior eficácia do produto
(FERREIRA, 2008). A capacidade
espumógena do tensoativo primário pode ser
diminuída com a adição de substâncias
graxas ou solventes usados na formulação
do sabonete líquido, portanto há necessidade
da utilização de um tensoativo secundário,
que aumente e estabilize o volume de
espuma formada pelo tensoativo primário.
Para as formulações propostas empregou-se
a dietanolamida de ácido graxo de coco com
objetivo de intensificar a produção de
espuma e atuar também como sobre-
engordurante, conferindo suavidade à pele
após a lavagem (FERREIRA, 2008). Além
de melhorar o sensorial da espuma, também
doa viscosidade ao sistema. Apresenta alta
compatibilidade com a pele com
características suaves e baixa irritabilidade.
A necessidade de um conservante
microbiológico em preparações cosméticas
deve-se a possibilidade de contaminação por
fungos e bactérias durante o processo de
produção, armazenamento ou pelo próprio
consumidor. Uma contaminação
microbiológica pode alterar características
dos componentes e causar degradação da
fórmula, proporcionando risco para o
consumidor. O conservante escolhido para
as formulações propostas foi o Phenogard®
que é composto por um mistura
isotiazolinona (10%) e fenoxietanol (90%) o
que dá a ele amplo espectro de ação,

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atuando contra os mais diversos tipos de
micro-organismos. Possui baixo potencial
de irritação e toxicidade, ser seguro nas
concentrações de uso e não possuir
incompatibilidades com os componentes da
fórmula (FERREIRA, 2008)
Além da contaminação microbiana,
existem outros fatores que podem alterar a
fórmula ou diminuir sua eficácia frente ao
consumidor. A presença de metais na água
de lavagem é um desses fatores, pois os
metais podem complexar componentes do
sabonete líquido, reduzindo sua eficácia.
Para evitar esse processo, usam-se agentes
quelantes, como é o caso do ácido
etilenodiaminotetracético (EDTA) e seus
sais. O EDTA complexa os metais
existentes na água, eliminando a ação
prejudicial para o desempenho do sabonete.
Sua concentração usualmente empregada
está entre 0,005 e 0,1% (FERREIRA, 2008).
Levando em consideração todas as
características indispensáveis a boa
aceitação do sabonete líquido no mercado, a
viscosidade também deve ser adequada. A
viscosidade do sabonete líquido influencia
diretamente a aplicação do mesmo, portanto
deve ser ideal para uma boa utilização. Para
ajustar a viscosidade são propostas inúmeras
substancias como as alcanolamidas de
ácidos graxos, eletrólitos, gomas e seus
derivados, ésteres graxos de glicóis ou
polióis, derivados da celulose e polímeros
carboxílicos (FERREIRA, 2008). Eletrólitos
como cloreto de sódio são efetivos para
espessamento de soluções aquosas de
tensoativos aniônicos, mas não para não
iônicos. Para a Formulação 1 foi utilizada
solução de cloreto de sódio com o propósito
de alterar a característica iônica da
formulação e aumentar a viscosidade
(FERREIRA, 2008). Para as Formulações 2,
3 e Formulação Base foi proposta a
utilização do hidroxipropil guar como
espessante. O hidroxipropil guar, por sua
vez, é obtido da reação da goma guar com
óxido de propileno. Trata-se de um doador
de viscosidade não iônico, efetivo em baixas
concentrações espacialmente na formulação
de produtos transparentes. É compatível
NARDIN, Ariley Domingas Holanda Gomes; CANDA, Thaís Cecília Pereira da Silva Almeida; TESCAROLLO, Iara Lúcia
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com tensoativos catiônicos, eletrólitos e é
estável em ampla faixa de pH (JAGUAR HP
105, 2011).
Para melhorar as características
sensoriais do sabonete proposto foi
empregado o silicone hidrossolúvel
comercialmente conhecido como Silicone
DC® 193 (PEG-12 Dimethicone). A
literatura técnica destaca uso de 0,5 a 3,0%
em preparações cosméticas. O silicone
hidrossolúvel apresenta característica
bipolar, motivo pelo qual é usado como
emulsificante em alguns tipos de
formulação. Por conta dessa característica,
também é usado como aditivo em
formulações de xampus destinados ao uso
diário, com leve efeito condicionante.
Quando usado em emulsões para a pele
(facial e corporal), proporciona sensação de
maciez, melhora o espalhamento e reduz a
pegajosidade, além de ser não-oclusivo. Em
desodorantes, ajuda a reduzir a pegajosidade
dos ativos, a criar produtos que não
mancham a roupa e a diminuir a irritação.
Em preparações para os cabelos, ajuda a
estabilizar a espuma dos xampus,
proporciona leveza e maleabilidade, além de
agir como umectante; nos modeladores,
melhora a plasticidade de algumas resinas
(NARDI, 2008).
A fim de se obter um produto com
características aceitáveis, as formulações
propostas neste trabalho foram analisadas
previamente em relação ao aspecto,
homogeneidade, odor, avaliação tátil, pH e
teor do princípio ativo. Apenas as
Formulações 2 e 3 foram avaliadas e
comparadas com a Formulação Base visto
que a Formulação 1 apresentou sinais
precipitação e turvação, propriedades
organolépticas inadequadas, logo foi
rejeitada pelo estudo do desenvolvimento
das formulações (Figura 1). As Formulações
2 e 3 foram submetidas aos testes da
avaliação das características organolépticas,
identificação do ácido salicílico na fórmula,
pH, viscosidade, altura da espuma e teor
(BRASIL, 2007). Os resultados encontram
na Tabela 2.
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Figura 1 - Aspecto das Formulações 1, 2 e 3 de sabonete líquido contendo ácido salicílico a 2%.

De acordo com a Tabela 2, observa-se levigação, tipo de sistema solvente

que as formulações 2 e 3 propostas neste
trabalho, apresentaram-se homogêneas
frente às condições empregadas no teste. Na
preparação 1 foi possível observar a
presença de pequenos cristais de ácido
salicílico prejudicando a qualidade final do
produto. Este fator pode estar relacionado
com a técnica proposta para a incorporação
do ácido salicílico, influência da trituração e
empregado na produção do sabonete líquido.
O odor foi comparado ao do padrão de
ácido salicílico, já que se optou por não
utilizar essências odoríferas nas fórmulas
propostas. O odor foi mensurado
diretamente através do olfato, um parâmetro
subjetivo, mas aceito e preconizado pelo
Guia de Estabilidade de Produtos
Cosméticos (BRASIL, 2007).

Tabela 2: Resultados obtidos na avaliação das características das formulações de sabonete

líquido de ácido salicílico a 2%.
Parâmetros Formulações
2 3 Base
Aspecto LVT* LVT* LVT*
Sensação tátil Agradável Agradável Agradável
Homogeneidade Homogêneo Homogêneo Homogêneo
Odor Acético Acético Característico
Identidade Positivo Positivo Positivo
Avaliação tátil Agradável Agradável Agradável
pH (solução 10%) 3,9 3,1 5,9
Altura da espuma 40 cm 40 cm 80 cm
Teor (%) 72,3 ± 1,5 99,9 ± 0,5 -
*LVT - Líquido viscoso transparente

De acordo com os resultados obtidos maior atividade no tratamento de doenças de

na determinação potenciométrica de pH foi
possível avaliar que as formulações se
apresentaram na faixa de 3,9 (Formulação 2)
e 3,1 (Formulação 3) enquanto que a
Formulação Base apresentou pH 5,9. A
diferença do pH entre as formulações
contendo ácido salicílico não foi
considerada significativa. Dados apontam
que em pH 3-4 o ácido salicílico exibe
pele porém, seu uso frequentemente está
associado à irritação, queimação e ardência
(REHIN et al, 2004). PERES e DIAS (2011)
destacam que o uso de produtos a base de
ácido salicílico, por serem relativamente
mais ácidos que a pele, deverá seguir
rigorosos critérios de indicação.
A determinação do volume de
espuma teve como objetivo, medir a

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quantidade de espuma que a formulação foi
capaz de formar, analisando se a presença
do ácido salicílico interfere na quantidade de
espuma formada. De acordo com o resultado
obtido, verificou-se que a Formulação Base
teve maior eficiência na formação de
espuma, este fato pressupõe que tanto o
ácido salicílico como o etanol utilizado para
sua solubilização interferem no poder de
formação de espuma.
A determinação da viscosidade teve
como objetivo, avaliar a capacidade de
espessamento do hidroxipropil guar
Tabela 3 - Avaliação da viscosidade das formulações de sabonete líquido de ácido salicílico a
2%.
Amostra Parâmetros de análise
(Spindle 04 x Fator de correção 60 RPM)
Formulação 2
Formulação 3
Formulação Base
Para a determinação do teor, optou-
se em utilizar a análise volumétrica em
função de sua praticidade (PERES, DIAS,
2011). De acordo com os resultados obtidos,
foi possível observar que Formulação 2
manteve-se fora dos parâmetros
especificados, fato este justificado pela
incorporação prévia de hidróxido de sódio
para neutralização do etanol usado na
solubilização do ativo. Provavelmente a
quantidade requerida de hidróxido de sódio
foi suficiente também para neutralizar parte
do ácido salicílico incorporado na
formulação, reduzindo-se assim seu teor
pela formação do sal salicilato de sódio. A
Formulação 3 manteve-se dentro dos limites
para o teor, ou seja, os resultados
mantiveram-se entre 90 a 110% de ácido
salicílico, conforme especificado (BRASIL,
2010b). Para a Formulação 3, cabe enfatizar
que o etanol utilizado para a solubilização
do ácido salicílico não foi previamente
neutralizado com hidróxido de sódio a
exemplo da Formulação 2.
Conclusão
NARDIN, Ariley Domingas Holanda Gomes; CANDA, Thaís Cecília Pereira da Silva Almeida; TESCAROLLO, Iara Lúcia
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avaliando se a presença do ácido salicílico
interferiu ou não na viscosidade do produto
final. Os resultados da determinação da
viscosidade encontram-se na Tabela 3. De
acordo com observado a presença de ácido
salicílico promove redução da viscosidade
quando comparado com a Formulação Base,
mesmo assim, a viscosidade das amostras
analisadas mantiveram-se dentro dos limites
especificados para sabonetes líquidos, ou
seja, maior que 2000 cps, entretanto
viscosidades entre 3000 e 5000 cps também
são recomendadas (FERREIRA, 2002).
Viscosidade
(centipoise)
48,5 x 100 4850cps
48,9 x 100 4890cps
96,0 x 100 9600cps
Nas condições experimentais do
presente trabalho foi possível concluir que o
objetivo proposto foi atingido; foi possível
desenvolver formulações de sabonete
líquido contendo ácido salicílico a 2%
espessado com hidroxipropil guar. A técnica
de preparo influenciou na obtenção do
produto final e qualidade do sabonete; os
testes realizados foram importantes para
avaliar a melhor opção para o preparo das
amostras propostas. A formulação preparada
com ácido salicílico a 2%; álcool 6%;
hidroxipropil guar 2%; LESS 16%; silicone
hidrossolúvel 0,5%; Phenogard® 0,5%;
EDTA dissódico 0,1% em água destilada
apresentou propriedades satisfatórias em
relação aos testes realizados, principalmente
no que tange ao teor e sensação tátil.
Embora os ensaios efetuados tenham
evidenciado possibilidade de formulação de
sabonete líquido de ácido salicílico
espessado com hidroxipropil guar, a
produção em escala e comercialização do
produto requer avaliações adicionais para
assegurar a qualidade, eficácia, segurança
das preparações; como por exemplo, análise
do controle microbiológico, toxicidade,
irritação dérmica, e estabilidade frente a

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diferentes condições de armazenamento.
Nesse estudo ficou evidenciado que
hidroxipropil guar é um ingrediente passível
de ser empregado com sucesso em
formulações de sabonete líquido de ácido
salicílico.
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