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13/03/2021 Existencialismo: O homem está condenado a ser livre - UOL Educação

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Existencialismo - O homem está condenado a ser livre


José Renato Salatiel, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Existencialismo é um conjunto de doutrinas filosóficas que tiveram como tema central a análise do homem
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em sua relação com o mundo, em oposição a filosofias tradicionais que idealizaram a condição
Ufficialehumana.
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É também um fenômeno cultural, que teve seu apogeu na França do pós-guerra até meados da década de
1960, e que envolvia estilo de vida, moda, artes e ativismo político. Como movimento popular, o
existencialismo iria influenciar também a música jovem a partir dos anos 1970.

Apesar de sua fama de pessimista e lúgubre, o existencialismo, na verdade, é apenas uma filosofia que não
faz concessões: coloca sobre o homem toda a responsabilidade por suas ações.

O escritor, filósofo e dramaturgo francês Jean-Paul Sartre (1905-1980), maior expoente da filosofia
existencialista, parte do seguinte princípio: a existência precede a essência. Com isso, quer dizer que o
homem primeiro existe no mundo - e depois se realiza, se define por meio de suas ações e pelo que faz
com sua vida.

Assim, os existencialistas negam que haja algo como uma natureza humana - uma essência universal que
cada indivíduo compartilhasse -, ou que esta essência fosse um atributo de Deus. Portanto, para um
existencialista, não é justo dizer "sou assim porque é da minha natureza" ou "ele é assim porque Deus quer".

Ao contrário, se a existência precede a essência, não há nenhuma natureza humana ou Deus que nos
defina como homens. Primeiro existimos, e só depois constituímos a essência por intermédio de nossas
ações no mundo. O existencialismo, desta forma, coloca no homem a total responsabilidade por aquilo que
ele é.


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Somos os responsáveis por nossa existência

Se o homem primeiro existe e depois se faz por suas ações, ele é um projeto - é aquele que se lança no
futuro, nas suas possibilidades de realização. O que isso quer dizer?

Eu não escolho nascer no Brasil ou nos EUA, pobre ou rico, branco ou preto, saudável ou doente: sou
"jogado" no mundo. Existo. Mas o que eu faço de minha vida, o significado que dou à minha existência, é
parte da liberdade da qual não posso me furtar. Posso ser escritor, poeta ou músico. No entanto, se sou
bancário, esta é minha escolha, é parte do projeto que eliminou todas as outras possibilidades (escritor,
poeta, músico) e concretizou uma única (bancário).

E, além disso, tenho total responsabilidade por aquilo que sou. Para o existencialista, não há desculpas.
Não há Deus ou natureza a quem culpar por nosso fracasso. A liberdade é incondicional e é isso que Sartre
quer dizer quando afirma que estamos condenados a sermos livres: "Condenado porque não se criou a si
próprio; e, no entanto, livre, porque uma vez lançado ao mundo, é responsável por tudo quanto fizer" (em O
existencialismo é um humanismo, 1978, p. 9).

Portanto, para um existencialista, o homem é condenado a se fazer homem, a cada instante de sua vida,
pelo conjunto das decisões que adota no dia-a-dia.

"Tive que cuidar dos filhos, por isso não pude fazer um curso universitário." "Não me casei porque não
encontrei o verdadeiro amor." "Seria um grande ator, mas nunca me deram uma oportunidade de mostrar
meu talento." Para Sartre, nada disso serve de consolo e não podemos responsabilizar ninguém pelo que
fizemos de nossa existência. O que determina quem somos são as ações realizadas, não aquilo que
poderíamos ser. A genialidade de Cazuza ou Renato Russo, por exemplo, é o que eles deixaram em suas
obras, nada além disso.

O peso e a importância da liberdade

Mas ao escolher a si próprio, a sua existência, o homem escolhe por toda a humanidade, isto é, sua
escolha tem um alcance universal. João é casado e tem três filhos: fez uma opção pela monogamia e a
família tradicional. Já seu amigo José é filiado a um partido político e vai para o trabalho de bicicleta: acha
correta a participação política e se preocupa com o meio ambiente. As escolhas de José e João têm um
valor universal. Ao fazer algo, deveríamos nos perguntar: e se todos agissem da mesma forma, o mundo
seria um lugar melhor de se viver?


E é por esta razão que o viver é sempre acompanhado de angústia. Quando escolhemos um caminho, Topo

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damos preferência a uma dentre diversas possibilidades colocadas à nossa frente. Seguimos o caminho
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que julgamos ser o melhor, para toda humanidade.

Fugir deste compromisso é disfarçar a angústia e enganar sua própria consciência. É agir de má-fé,
segundo Sartre. Neste caso, abro mão de minha responsabilidade. Digo: "Ah... nem todo mundo faz
assim!", ou então delego a responsabilidade de meus atos à sociedade, às pessoas de meu convívio
familiar e profissional ou a um momento de ira ou paixão. No entanto, para os existencialistas, esta é uma
vida inautêntica.

À primeira vista, o peso da liberdade depositado no homem pelos filósofos existencialistas pode parecer
excessivamente pessimista, fatalista, de uma solidão extrema no íntimo de nossas decisões. Mas, ao
contrário, o existencialista coloca o futuro em nossas mãos, nos dá total autonomia moral, política e
existencial, além da responsabilidade por nossos atos. Crescer não é tarefa das mais fáceis.

Outros pensadores existencialistas

Desde Sócrates (470 a.C.- 399 a.C), muitos filósofos refletiram sobre a existência humana, passando pelos
estoicos, Santo Agostinho (354-430), Blaise Pascal (1623-1662), Friedrich Nietzsche (1844-1900) e Henri
Bergson (1859-1941), mas nem por isso podem ser chamados de filósofos existencialistas.

Mesmo entre os pensadores alinhados às doutrinas da existência, encontram-se posições diversas que vão
do chamado existencialismo cristão, representado pelo dinamarquês Sören Kierkegaard (1813-1855) -
considerado o precursor do movimento -, o francês Gabriel Marcel (1889-1973) e o alemão Karl Jaspers
(1883-1969), até o existencialismo ateu, do próprio Sartre, do filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976)
e dos escritores franceses Albert Camus (1913-1960) e Simone de Beauvoir (1908-1986).

Saiba mais

Sobre existencialismo, há obras que oferecem uma visão geral das doutrinas, como O que é existencialismo
(Editora Brasiliense), de João da Penha, e História do existencialismo, de Denis Huisman (EDUSC).

A melhor introdução aos escritos de Sartre é a conferência "O existencialismo é um humanismo", publicada
na coleção Os pensadores (Abril Cultural).

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