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Elaborado pelo Prof. Walter Abreu Soares Tondela

SINTESE DA MÁTERIA DE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO


DIREITO

Introdução

A presente Brochura, contêm alguns erros que se encontram


premeditadamente, para que os estudantes possam corrigi-la e melhora-la,
ao longo das vossas leituras.

O Conhecimento do Direito – isto é, as leis, os princípios, as regras e as


instituições que organizam e estruturam a sociedade – não interessa apenas a
determinadas pessoas – aos Juízes, aos advogados e aos juristas em geral. Interessa, sim,
a todas as pessoas enquanto membros da sociedade e porque, nas suas vidas, mesmo
sem terem de ir a tribunal, constantemente defrontam problemas jurídicos.

Se é importante que os alunos do segundo ciclo, além de saberem Português e


Matemática, que são disciplinas fundamentais, tenham noções básicas sobre
acontecimentos históricos ou sobre as leis da física, não é menos importante é que
adquiram um mínimo de conhecimentos de ciências sociais, sobre a moeda ou preços no
âmbito da economia, ou sobre o Estado, a Constituição ou a responsabilidade, no âmbito
do Direito.

Em nosso entender, a disciplina de Introdução ao Direito deveria, pois ser


obrigatória para todos os alunos do ensino secundário (II Ciclo) e ensino Médio, embora
o seu programa devesse ser relativamente breve (devesse salientar, sobretudo, o modo
como os factos, valores e normas se articulam), em vez de se alongar e carregar em
termos excessivos. Não é isto, porém, que infelizmente ainda se verifica entre nós.

O termo «Direito» apresenta tanto na linguagem corrente como técnica um


duplo sentido, como se evidencia no texto que a seguir se transcreve:
Por um lado, diz-se: O Direito rege os homens, os homens se acham submetidos à
disciplina do Direito. Mas, por outro lado, afirma-se eu tenho direito de fazer isto ou
aquilo, não há direito neste País. Ora reflectindo um pouco, vê-se que a palavra
direito, embora seja a mesma nas duas categorias de frases, não tem em ambas a
mesma significação. No primeiro caso, ela designa uma norma, uma regra de conduta
ou conjunto de regras, de ordens dadas aos homens; na segunda, significa o mesmo
que o poder.

Assim, distingue-se:

Direito Objectivo – norma ou conjunto de normas;


Direito Subjectivo – poder ou faculdade, conferidos ao titular de um direito objectivo,
de agir ou não de acordo com o conteúdo daquele.

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O HOMEM, UM SER EMINENTEMENTE SOCIAL

O Homem é, simultaneamente, um ser livre e um Ser sociável. Livre pela sua


própria natureza; sociável por uma inata necessidade de conviver em sociedade, porque
viver é necessariamente conviver. Até porque só pode existir bem social, isto é, realizar-
se, quando se harmoniza a interioridade e a vida social, bem próprio e bem comum,
personalidade e comunidade.

A NECESSIDADE DE EXISTÊNCIA DO DIREITO

UBI SOCIETAS, IBI JUS (Onde há sociedade há direito e não há direito sem sociedade).

O Direito está vinculado na própria ordem social. Se toda sociedade tem uma
ordem, ela tem, desde o início, uma ordem jurídica. A determinação desta pode suscitar
dificuldades, na medida em que pode concorrer com outras ordens. No entanto, é
sempre possível distinguir o que é, e não é Direito e confirmar que a vida social, só é
possível porque os homens acatam regras que visam instituir a ordem. E confirmar que
a vida social, a paz, a segurança, a justiça, e as resoluções de conflitos de interesses só é
possível havendo para regular as relações sociais.

Tais conflitos de interesses são desencadeados por diversos motivos, frequentemente


pela escassez de bens, e são vivenciados por cada um de nós, nas nossas casas, nas
escolas, nos locais de trabalho, na vida política, entre empresas, entre nações, etc..

Assim, torna-se indispensável a existência de regras que imponham condutas aos


membros da sociedade, com vista a evitar esses conflitos ou minimizar as suas
consequências.

AS ORDENS SOCIAIS NORMATIVAS DA SOCIEDADE

As ordens normativas ou normas normativas são ordens sociais compostas por


várias normas complexas, que pautam e regulam os aspectos diferentes da vida do
Homem em sociedade, das quais se diferem pela sua actuação.
Pela sua importância elas se destacam em:
Normas morais, normas religiosas, normas de trato social ou de cortesia e as normas
jurídicas.
Ordem Moral são aquelas condutas que visam o aperfeiçoamento das pessoas,
dirigindo-o para o bem, e que só reflexamente influenciam a organização social.

Frequentemente ao definir-se a norma moral é mister, estabelecer a distinção entre o


Direito e a Moral.

Para estabelecer esta distinção é necessário atendermos três a critérios:

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a) Critério do mínimo ético – segundo este critério, o direito limita-se a impor as


regras morais cuja observância é imprescindível para a subsistência da paz, da
liberdade e da justiça na vida social.

b) Critério da coercibilidade – segundo este critério as normas jurídicas são


susceptíveis, se necessário, de imposição a força, mas a ordem moral é apenas
assistida de uma coercibilidade psíquica e a sua violação dá lugar a sanções
puramente éticas.

c) Critério da exterioridade postula este critério que o direito tem origem na parte
externa da conduta humana enquanto que a Moral se reporta à parte interna dessa
mesma conduta.

A ordem religiosa

A ordem religiosa tem por função regular as condutas humanas em relação a Deus,
sendo, pois, uma ordem de transcendência ou de fé.

Ordem de trato social ou de Cortesia

Ordem de cortesia são aquelas que se destinam a permitir uma convivência mais
agradável entre as pessoas, mas não são necessárias à subsistência da vida em
sociedade.
Esta ordem exprime-se através dos usos sociais, que podem ser de diversa
natureza, como, os impostos pela cortesia ou etiqueta, hábitos de civilização, o vestuário
etc. etc...
Cumprimentar os vizinhos, ajudar as pessoas mais velhas ou dar-lhes o lugar nos
transportes, são contudo regras de cortesia.

Ordem jurídica

É aquela que é constituída pelo conjunto de normas jurídicas que regulam os


aspectos mais relevantes da vida em sociedade, ou seja, da ordem social regulada pelo
Direito.
O Direito é o domínio normativo que mais atinge a nossa esfera de interesses,
representado o poder institucional do Estado e regulando os actos mais triviais da nossa
vida quotidiana em sociedade.

Na medida em que são coercivas, isto é, susceptíveis de serem impostas pela


força. Outrossim as morais se limitam apenas a respeitar e a sujeitar-se as sanções
impostas pelas normas jurídicas. E o incumprimento das normas morais, são
desprovidas de coercibilidade material.

ORDEM JURÍDICA E ORDENAMENTO JURÍDICO

Ao direito compete uma função essencial de ordenação das relações sociais


segundo a justiça.
A ordem jurídica é assim o resultado dessa ordenação, constituindo uma parte,
ainda que muito significativa, da ordem social global, e reflecte as crenças, os valores e

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as ideologias dominantes na sociedade. Estas posições exprimem-se através de normas,
cujo conjunto forma o ordenamento jurídico que rege uma dada comunidade, num
determinado momento histórico. Mais rigorosamente, deste ordenamento fazem parte
também os princípios gerais ou fundamentais do Direito (1).

Em regra, o comportamento dos cidadãos deve ser conforme o Direito;


observando diariamente uma variedade de normas de condutas jurídicas. todavia,
quando acontecem violações das normas do ordenamento jurídico ou de seja actos
contrários ao Direito (actos ilícitos), a Ordem jurídica procura defender-se, recorrendo
aos meios de protecção ou tutela jurídica, tanto preventivos como repressivos.

Utilizando as sanções que é sempre uma consequência desfavorável que recai


sobre quem violou ou viola uma norma jurídica.

A estrutura da norma jurídica

Dentro da estrutura da norma jurídica Ela é definida como sendo,


uma regra de conduta imperativa, geral e abstracta, imposta de forma
coerciva pelo Estado.

A norma jurídica, revelada logicamente por sua preposição é o objecto principal da ciência
do direito, ou seja o seu objecto único e exclusivo, como o defendem os percussores do
positivismo jurídico. É através da norma jurídica que o jurista conhece o mundo, na medida
em que uma conduta só se torna relevante ao direito quando contida em uma norma
jurídica. Seja ela legal ou consuetudinária. Deste modo, o acto de pentear o cabelo pela
cabeça, não interessa ao direito, pois não regrado, salvo na condição de acto de livre.

Diferentemente ocorre, "exempli gratia" com a emissão de um cheque, que gera


inúmeros efeitos juridicamente relevantes. Distinguido assim os factos jurídicos e factos
não – jurídicos, ou melhor, acontecimentos dos quais o direito se ocupa e acontecimentos
dos quais o direito não se ocupa.

Assim sendo, ordem jurídica se manifesta em unidades normativas que,


simultaneamente a expressam e, em certo sentido, a concretizam,
funcionando assim como mediadora na subsunção do direito às situações
concretas da vida.

De forma doutrinal a estrutura da norma jurídica contêm um antecedente e


um consequente, ou seja, uma previsão, uma estatuição e uma sanção.

De forma restrita, a norma jurídica, se encontra estruturada pelos seguintes


elementos:

1
Os princípios gerais de Direito exprimem directrizes, critérios ou valores que traduzem exigências
fundamentais do Direito.

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a) Previsão – Segundo este elemento a norma jurídica fixa os padrões de
conduta que regulam as situações jurídicas, ou seja os casos em
concretos da vida que se espera vir a acontecer, contendo em si mesma
a representação futura, desencadeando assim consequência para o
direito.

A previsão normativa que também recebe o nome de hipótese legal, ou


ainda o tipo legal ou então “facti-species” que significa a questão de facto,
que todo modo refere-se há situações típicas da vida, ou seja, os factos ou
o conjunto de factos, cuja verificação em concreto desencadeia a
consequência jurídica fixada na estatuição.

b) Estatuição – para este elemento a norma jurídica impõe


necessariamente uma conduta a adoptar quando se verifique, em casos
concretos, a previsão da norma.

c) Sanção – é aquele elemento segundo o qual a norma jurídica dispõe


dos meios de coacção que fazem parte do ordenamento jurídico para
impor o cumprimento dos seus comandos.

Vide art. 483.º do C.c.


« n.º 1 Aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de
outrem ou qualquer disposição legal destinada a proteger interesses alheios
fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da violação.
n.º 2 Só existe obrigação de indemnizar independentemente de culpa nos
casos especificados na lei».

Previsão: Aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito
de outrem ou qualquer disposição legal destinada a proteger interesses
alheios.

Estatuição: Fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da


violação.

Sanção: Será a indemnização ou melhor o valor da indemnização.

Hipótese Prática

João é proprietário e motorista de uma viatura de marca Toyota, modelo


hiace comuter, durante a sua caminhada pelo trajecto clínica multiperfil ao
Benfica, enquanto deixava um passageiro, sofreu um empurão na parte
traseira da sua viatura por um camião da ELISAL.

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Tendo em atenção a estrutura da norma jurídica faça a sua configuração.

OS VALORES FUNDAMENTAIS DO DIREITO: A JUSTIÇA, A EQUIDADE, A


SEGURANÇA E A CERTEZA JURÍDICA

A justiça e o Direito são correlativos. O Direito é o mecanismo que é utilizado


para alcançar ou realizar a justiça.

Já Grécia antiga a justiça era a lei cósmica do homem e das coisas que lhes
fixava o lugar no Universo e os seus limites, fazendo equivaler a justiça à igualdade.

No contexto bíblico a justiça é um atributo de Deus, cuja actuação se processa de


forma justa, em harmonia com as exigências da sua natureza e de acordos fundamentais
com a sua palavra do supremo criador.

Ao analisar alguns conceitos que definem a justiça, importa agora salientar que a
justiça pode ser encarada em três modalidades fundamentais a saber: a) Justiça
comutativa; b) A justiça legal; A justiça distributiva.

A justiça é o valor ideal que constitui a razão de ser do Direito, sendo pois, uma
preocupação de todos os sistemas jurídicos alcançar e integrar este valor nos seus
ordenamentos, de acordo com a evolução que as sociedades vão sendo alvo.

Mas se a justiça é um dos valores essenciais do Direito, não é, no entanto, o


único valor ou seja o único fim que o direito serve. Existem outros a par da justiça
Como: a equidade, a segurança e a certeza jurídica.

A equidade

Destina-se pois, a suavizar os rigores da aplicação cega da lei, com vista a


humanização do Direito.

A equidade é também um critério de decisão que pode ser utilizado em certos casos em
que o julgador pode decidir segundo a sua consciência.

A equidade - são as circunstâncias factuais ou matéria de facto em que o Juiz ou


um julgador, a lei permite que se afasta da norma ou lei, atendendo às particularidades
de cada caso, se encontrando uma solução mais justa.

Todavia, é importante asseverar que o recurso à equidade, por dar lugar a um


largo campo de actuação pessoal ao julgador, poderia implicar sérios riscos de incerteza
e de insegurança, daí que os legisladores limitam por vezes a sua aplicação.

Obs. O Direito além da justiça tem como fim a segurança jurídica.

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A Segurança Jurídica

Constitui outro dos valores do direito que existe para garantir, a estabilidade das
relações sociais e é de grande importância para garantir a tarefa da realização que o
direito visa realizar.

Por fim, é importante asseverar que a segurança jurídica confere aos cidadãos a
confiança que lhes permite planificar a defesa dos seus interesses, conforme as normas
jurídicas em vigor.

A certeza jurídica

A importância deste valor se reflecte no conhecimento que os cidadãos podem e


devem ter do sistema de normas legislativas para salvaguarda dos seus interesses face
ao poder do Estado. Por este facto é que os diplomas legais (as leis) mais importantes do
Estado são: a Constituição, as leis e decretos-leis.

AS INSTITUIÇÕES

Na linguagem corrente, Instituição vem designar ao mesmo tempo a acção e o


efeito de instituir, sendo que instituir significa introduzir, fundar, ordenar, constituir ou
seja estabelecer qualquer coisa de estável e durável.

Com efeito, as Instituições desempenham funções importantes, nomeadamente


contribuindo para a divulgação de valores da sociedade, e os aspectos da vida social que
se encontram institucionalizados.

Tendo em atenção as várias áreas da vida social institucionalizadas, podemos agrupa-las


da seguinte forma, as instituições em:

a) Instituição Familiar;
b) Instituição Educativa;
c) Instituição económica;
d) Instituição Política;
e) Instituição Religiosa;
f) Instituição Cultural…

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As Fontes do Direito

Fonte é sinónimo, da palavra proveniência, origem de onde vem etc.


Esta expressam fontes do Direito pode ser entendida de diversas formas e adquirindo
diferentes sentidos.

Assim sendo, encontraremos as fontes em sentido, sociológico, fontes em sentido


material ou instrumental, fontes em sentido político e as fontes em sentido técnico
jurídico ou formal.

Neste último sentido vamos definir as fontes do direito como os modos de formação e
de revelação das normas jurídicas.

No elenco das fontes do direito tradicional vamos encontrar: A Lei, o costume, a


jurisprudência e a doutrina.

Recentemente vêem-se apontando ainda como fontes os assentos e os princípios


fundamentais de direito, a que se confere uma certa posição de primazia sobre as demais
fontes de direito, ( Os princípios gerais de Direito exprimem directrizes, critérios ou
valores que traduzem exigências fundamentais do Direito).

Dentro das fontes do Direito é mister estabelecer a distinção entre as fontes


criadoras ou formadoras do direito e as reveladoras ou manifestadoras do direito.

Fontes criadoras ou imediatas do direito são: a lei e o costume, como fontes mediatas ou
reveladoras temos a doutrina, a jurisprudência e os assentos.

A Lei – em sentido formal é o conjunto de diploma ou normas jurídicas (gerais e


abstractas), emanado por um órgão legislativo por excelência, (entre nós a assembleia
nacional), quer nesse diploma se contenham verdadeiras normas jurídicas, quer
comandos individuais concretos. Cfr. Arts 161.º a), g), k), 162.º a), c), 164.º a), d), k),
165.º. da CRA.

Já em sentido material – é o conjunto de normas jurídicas (gerais e abstractas) que


regulam os aspectos essenciais de uma sociedade.

V.g. Decretos - lei do conselho de ministros, Decretos executivos, decretos dos


governos províncias, regulamentos aprovados pelos Institutos Públicos, Empresas
públicas, Associações Públicas e Autarquias Locais, etc..

Assim sendo são leis em sentido material e formal a Constituição, as leis de revisão
constitucional, e as leis ordinários da Assembleia Nacional.
V.g. as leis que conferem autorização legislativa ao governo, autorizando-o, a realizar
empréstimos e outras operações de crédito, que aprovam os tratados, concedem
amnistias, etc.

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Costume é uma prática social constante e uniforme, acompanhada do sentimento
ou convicção da obrigatoriedade da norma que lhe corresponde.

São dois os elementos do costume enquanto fonte do direito consuetudinário: a) o


corpus, que se traduz na observância generalizada e uniforme, com a duração, de um
determinado padrão de conduta em que esta implicada;

b) O animus, isto é, a convicção de se estar a obedecer a uma regra geral e abstracta


obrigatória, caucionada pela via consuetudinária.

Jurisprudência define-se como o conjunto das decisões em que se exprime a


orientação seguida pelos tribunais ao julgar os casos concretos que lhes são
submetidos.

A jurisprudência é fonte do direito com força obrigatória geral quando é fixada por
meio de assentos que não são senão, as decisões de casos concretos e individuais
que vinculam todos os outros tribunais (de um mesmo ordenamento jurídico) de
forma a julgarem de igual modo situações idênticas.

A Doutrina é entendida e compreendida como as opiniões ou pareceres dos


jurisconsultos em que estes desenvolvem, em bases científicas ou doutrinárias, as
suas concepções sobre a interpretação ou integração do direito.

Princípios gerais do direito são exigências feitas a todo e qualquer ordenamento


jurídico, que se afigura de acordo com qualquer pretensão de legitimidade e
validade, sendo transcendentais às decisões positivadas do legislador e por isso
mesmo são válidas de per si num Estado de Direito porque representam postulações
elucidativas da própria ideia do direito.

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Conceito da Lei e os vários sentidos

A lei escrita é também designada por Direito positivo, pois vem do verbo latino
positum, que significa direito imposto pelo homem, em contra-posição à ideia de
direito natural (que vigora em todas as sociedades, em todos os tempos e em todas
épocas). Esta ideia de direito positivo é vista em duas perspectivas em sentido
formal e em sentido material.

A lei é assim definida nas duas vertentes, em sentido formal é o conjunto de normas
jurídicas (gerais e abstractas), aprovadas mediante um processo idóneo, pela
Assembleia Nacional e que tem forma ou terminologia de Lei. V.g. A Constituição.

A lei em sentido material é o conjunto de normas jurídicas (gerais e abstractas) que


regulam os aspectos essências de uma sociedade (Decretos-lei…Vid. art. 1.º n.º 2
C.C.

Hierarquia das Leis

Dentro dela em caso de conflito, as normas de hierarquia superior prevalecem


sobre as normas de hierarquia inferior. É assim que a hierarquia das normas depende
da hierarquia das fontes em que estão contidas ou que delas promanam.

Sobre esta questão, se tem levantado uma grande distinção, entre as leis
constitucionais e leis ordinárias.

Segundo à qual as normas das leis ordinárias que contrariem as leis


constitucionais padecem do vício da inconstitucionalidade, pelo que não devem ser
aplicadas pelos tribunais e por outros órgãos aplicadores do direito.

A inconstitucionalidade pode ser orgânica ou formal, se antes a constituição, do


próprio acto de que promana a norma se acha viciado nos seus pressupostos. V.g.
por incompetência do órgão em razão da matéria.

Ou por outra, se no seu processo de formação forem preteridos trâmites ou


formalidades constitucionalmente prescritas. Ex. Os limites matérias da Lei
constitucional previstos nos termos do art. 159.º da L.C. 1992.

Também se pode fazer uma distinção entre as normas constitucionais editadas pelo
legislador constituinte originário e as normas constitucionais editadas pelo poder
constituinte derivado ou ainda leis de revisão.

Importa aqui salientar que os princípios fundamentais do direito, na medida em que


são supra-estaduais e supra-constitucionais, se devem situar hierarquicamente acima
da própria constituição.

A seguir a constituição seguem-se os decretos presidenciais, v.g. como o estado de


sítio etc.art. 119.º n), o),p).

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A excepção a CONSTITUIÇÃO ocorre quando são decretados, despachos
presidências em caso de estado de sítio ou de emergência, sucedendo assim, que
durante este período prevalecem esses despachos sobre a constituição, mas
respeitando sempre os limites circunstancias art. 237.º. CRA.

Existe também uma hierarquia das leis dentro das normas jurídicas estaduais:
a) Normas jurídicas estaduais de direito universal;
b) Normas jurídicas estaduais de direito local, que são aquelas emanadas de órgãos
estaduais subalternos, regulamentos
c) Normas autónomas emanadas das autarquias institucionais dependentes da
administração do Estado. Autarquias locais.

Conflitos de Normas

Como vimos as normas de hierarquia superior prevalecem sobre as normas de


hierarquia inferior (critério da superiordade), Lex superior derogat legi inferiori.

Já no art. 7.º, no caso de conflito de leis da mesma hierarquia, lei mais recente
revoga a lei mais antiga, (critério da posteridade) lex posterior derogat legi priori, a
excepção a esta regra é a lei especial que prevalece sobre a lei geral (critério da
especialidade) Lex specialis derogat legi generali, ainda que esta lei seja posterior,
excepto se outra for a vontade inequívoca do legislador.

Aplicados estes critérios, parece, à primeira vista, que não poderiam se verificar
conflitos possíveis. Em todo o caso, vamos compaginar alguns conflitos possíveis.

Conflitos ou contradições deste tipo existirão sempre quando duas ou mais normas,
que se propõem em resolver a mesma questão de direito no domínio da mesma
legislação e dentro do mesmo contexto teleológico, estabelecem para casos idênticos
ou para casos juridicamente equiparáveis consequências jurídicas diferentes.

Portanto, a contradição poderá ser uma situação também lógica ( se, P. ex. uma
norma impõe uma certa conduta e outra a proíbe ou, em geral, se as consequências
jurídicas estatuídas por duas normas para o mesmo facto são entre si incompatíveis)
ou uma contradição teleológica ou valorativa.

Existem também conflitos de leis no tempo, quando duas ou mais normas aparecem
ao mesmo tempo, regulando sobre a mesma matéria. E se conflito no espaço quando
o facto ou situações concretas têm atiniências com dois ou mais ordenamentos
jurídicos com esferas territoriais de aplicações diferentes. Que se estuda em Direito
Internacional Privado.

Também poderá acontecer que o mesmo facto concreto apareça abrangido pelas
hipóteses legais de normas simultaneamente em vigor no ordenamento jurídico, mas
cuja aplicação simultânea é impossível por implicar certa contradição, resultando
assim verdadeiros conflitos internos de normas.

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Entrada em vigor das leis

Nos termos do art. 5.º do C.c. estabelece:


O tempo que decorre entre a publicação e a vigência da Lei chama-se vacatio legis.
Destina-se a possibilitar o conhecimento da lei pelos seus destinatários.

Termo da vigência da lei

Com modo de cessação da vigência da Lei o art. 7.º apenas prevê a caducidade e a
revogação. Deste modo podemos aquilatar que existem outras formas possíveis
seriam o desuso e o costume contrário.

A caducidade strictu sensu dá-se por superveniência de um facto (previsto pela


própria lei que se destina a vigência temporária) ou pelo desaparecimento, em
termos definitivos daquela realidade que a lei se destina a regular.

Todavia é frequente estabelecer-se numa lei que o regime nela estabelecido será
revisto dentro de certo prazo. Passado este prazo sem que se verifique a revisão, não
cessa a vigência de tal lei por caducidade: ela continua em vigor até à sua
substituição.

A revogação, essa pressupõe a entrada em vigor de uma nova lei (segundo o nosso
legislador).

Ela pode ser expressa ou tácita, total (ab-rogação) ou parcial (derrogação). É


expressa quando consta de uma declaração feita na lei posterior (fica revogado…), e
tácita quando resulta da incompatibilidade entre as disposições novas e as antigas,
ou ainda quando a nova lei regula toda a matéria da lei anterior – aquilo que é
cognominado como substituição global (art. 7.º n.º2).

Porém, nos termos do art. 7.º n.º 3, a lei geral posterior não revoga a Lei especial
anterior, salvo se “ outra for a intenção inequívoca do legislador.

Por fim, descreve o art. 7.º n.º 3 a revogação da Lei revogatória não importa de - per
- si repristinação, isto é, o renascimento da lei anteriormente revogada. Salvo se o
legislador a repõe em vigor, como já tem sucedido entre nós; admitindo esta
hipótese estaríamos perante uma verdadeira repristinação, total ou parcial.

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Hipótese prática

Vitória nasceu em Luanda, em Fevereiro de 1959 e residia na Rua Joaquim


Kapango.

No dia 3 de Novembro de 1974, Vitória desapareceu e, nunca mais nem os Pais,


Katiana e Cacildo, a viram e nem as outras pessoas com quem ela habitualmente
convivia, tiveram notícias dela.

Victória que era casada com Paulo, era proprietária de diversas fazendas de madeira
e granito, situadas no Ambriz, fazendas essas que necessitavam de uma
administração.

a) -Perante esta situação o Juiz do tribunal a quo entendeu aplicar a Lei especial em
detrimento da Lei Geral.

b) Faça a configuração das características das normas jurídicas na hipótese presente?

c) Qual seria as fontes do Direito que o juiz utilizaria para julgar esta hipótese?

d) Há avó da Vitória depois de consultar o curandeiro diz que o vizinho Pedrito foi
quem vendeu a vitória ao maiombolo, e por isso teriam que apresentar queixa-
crime a polícia.

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Caducidade da lei - A lei caduca quando deixa de vigorar por força de qualquer
circunstância diversa da publicação de nova lei. V.g. Se uma Lei tem um prazo de
vigência que se destina a um dado fim que foi já alcançado. Etc..

Revogação da Lei - é a forma de cessação da vigência da lei, que resulta de uma nova
manifestação legislativa em sentido diverso ao da anterior.

Art. 2.º n.º 1, 6.º, 174.º, 175.º, 180.º, 181.º,182.º, 183.º, 198.º

O Controlo da Legalidade

É entendido como modo de cumprimento, materialização e fiscalização do campo da


legalidade.

Dispõem os arts. 198.º e Ss. Da CRA o seguinte:

N.º 1- A administração pública prossegue, nos termos da Constituição e da Lei, o


interesse público, devendo, no exercício da sua actividade, reger-se pelos princípios da
igualdade, legalidade, justiça, proporcionalidade, imparcialidade, responsabilidade,
probidade administrativa e respeito pelo património público.

n.º 2- A prossecução do interesse público deve respeitar os direitos e interesses


legalmente protegidos dos particulares.

Desta disposição constitucional se encontra de forma expressa, o fim que visa


prosseguir a Administração pública, que é o interesse público. Mas prosseguindo este
interesse público respeitando necessariamente a Constituição e a Lei, significa dizer que
A Administração pública só obedece aquilo que a lei diz que se faça, segundo o
princípio da competência, que estabelece “Tudo aquilo que não for permitido considera-
se proibido”.

Esta submissão a lei significa uma submissão aos princípios gerais de direito, à
Constituição e as normas internacionais. Etc. Ou seja, a actuação da Administração
Pública deve e tem de se nortear - se por certos critérios cujo desrespeito gera
ilegalidades. Estes critérios são, precisamente, os limites intrínsecos do poder
discricionário da Administração Pública e constituem o corolário deste princípio da
legalidade, destacando-se os princípios da igualdade, da justiça, da proporcionalidade,
da imparcialidade, probidade administrativa e o do respeito pelo património público.

Até aqui estamos a retratar a administração pública no âmbito do controlo da legalidade,


por ser um Órgão por excelência da administração estadual, com competência de
garantir os direitos do Estado, ao contrário, da tutela judiciária prosseguida pelos
Tribunais.

Tanto é que, que ela funda-se no princípio da legalidade por ser a principal garantia das
pessoas que as protege contra a violação dos seus direitos e interesses legalmente
defendidos, quer por parte de outros particulares, quer por parte do Estado.

O princípio da legalidade estabelece que os órgãos e agentes da administração só


podem agir no exercício das suas funções com fundamento na lei e dentro dos limites

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por ela impostos ou melhor, Os órgãos da Administração Pública devem actuar em
obediência à lei e ao direito, dentro dos limites dos poderes que lhes estejam atribuídos
e em conformidade com os fins para que os mesmos poderes lhes forem conferidos.

Mas é obvio que para além da administração pública existem outros Órgãos que
garantem o controlo da legalidade como:

a) Os Tribunais 174.º; b) A Assembleia Nacional 141.º e 162.º, c) O Ministério


Público 185.º da república, d) o Provedor de justiça art. 192.º, E) O Presidente
da República 108.º e 120.º.

De todos os Órgãos que exercem o controlo da legalidade, nos vamos nos debruçar
com maior acuidade sobre os Tribunais, mormente o constitucional, nos termos e
dispostos dos arts. 180.º da CRA.

O Tribunal Constitucional é o tribunal que exerce a sua jurisdição no âmbito de todo


ordenamento jurídico de um País, competindo-lhe especificamente administrar a
justiça em matérias de natureza jurídico - constitucionais, de acordo com os
dispostos na constituição e na lei.
V.g. art. 180.º da CRA.

Apesar da nossa CRA, não especificar a posição jurídico - constitucional do


Tribunal Constitucional, ele é indiscutivelmente um tribunal soberano, com as
características de um órgão constitucional, institucional e funcionalmente autónomo.

Segundo o insigne Prof. Catedrático da escola de Coimbra Joaquim José Gomes


Canotilho assevera que “o T.C., mesmo primariamente limitado ao controlo jurídico
- constitucional das normas jurídicas, excluindo dos seus juízos e valorações
políticas ou apreciações de mérito político, não se pode furtar à tarefa de guardião
da Constituição, apreciando a constitucionalidade da política normativamente
incorporada em actos dos Órgãos de soberania”.

Princípios

Da Independência quer com isto dizer que os juízes no desempenho das suas
funções específicas apenas devem obediência à lei e à sua consciência, estando
assim isentos de qualquer tipo de dependência.

Inamovibilidade os juízes do TC são designados para um período de sete anos e


as suas funções não podem cessar antes do respectivo termo; ou seja, não podem ser
suspensos, demitidos e aposentados, salvo nos casos especialmente previstos na lei.
Imparcialidade os juízes estão impedidos de julgar causas em que possuam qualquer
tipo de interesse e estão sujeitos às incompatibilidade dos juízes dos restantes
tribunais.

Irresponsabilidade: os juízes do TC não podem serem responsabilizados pelas


decisões, salvo nos termos e limites legais.

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A ORIGEM DO ESTADO LIBERAL - HOBBES, ROUSSEAU E


LOCKE
Ter, 08 de Setembro de 2009 00:21 Rodrigo Travitzki Princípios filosóficos

Estado de Natureza, contrato social,

Estado Civil na filosofia de Hobbes, Locke e Rousseau

Marilena Chauí (profª de filosofia na USP e autora de vários livros)

(Do livro: Filosofia. Ed. Ática, São Paulo, ano 2000, pág. 220-223)

O conceito de estado de natureza tem a função de explicar a situação pré-


social na qual os indivíduos existem isoladamente. Duas foram as principais
concepções do estado de natureza:

1. A concepção de Hobbes (no século XVII),


segundo a qual, em estado de natureza, os indivíduos vivem isolados e
em luta permanente, vigorando a guerra de todos contra todos ou "o
homem lobo do homem". Nesse estado, reina o medo e, principalmente, o
grande medo: o da morte violenta. Para se protegerem uns dos outros, os
humanos inventaram as armas para protegerem-se dos inimigos Essas
duas atitudes são inúteis, pois sempre haverá alguém mais forte que
vencerá o mais fraco e ocupará as terras cercadas. A vida não tem
garantias; a posse não tem reconhecimento e, portanto, não existe; a
única lei é a força do mais forte, que pode tudo quanto tenha força para
conquistar e conservar;

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Elaborado pelo Prof. Walter Abreu Soares Tondela

2. A concepção de Rousseau (no século XVIII),


segundo a qual, em estado de natureza, os indivíduos vivem isolados
pelas florestas, sobrevivendo com o que a Natureza lhes dá,
desconhecendo lutas e comunicando-se pelo gesto, pelo grito e pelo
canto, numa língua generosa e benevolente. Esse estado de felicidade
original, no qual os humanos existem sob a forma do bom selvajeria
inocente, termina quando alguém cerca um terreno e diz: "É meu". A
divisão entre o meu e o teu, isto é, a propriedade privada, dá origem ao
estado de sociedade, que corresponde, agora, ao estado de natureza
hobbesiano da guerra de todos contra todos.

O estado de natureza de Hobbes e o estado de sociedade de Rousseau


evidenciam uma percepção do social como luta entre fracos e fortes em
vigorando assim, vigorando a lei da selva ou o poder da força. Para fazer
cessar esse estado de vida ameaçador e ameaçado, os humanos decidem
passar à sociedade civil, para um criando o poder político e as leis.

A passagem do estado de natureza à sociedade civil se dá por meio de um


contrato social, pelo qual os indivíduos renunciam à liberdade natural istó é
posse natural de bens, riquezas e armas materiais e concordam em transferir a
um terceiro, ou seja – o soberano – o poder para criar e aplicar as leis,
tornando-se autoridade política. O contrato social funda a soberania.

Como é possível dentro de um pacto o pacto social Qual sua legitimidade? Os


teóricos invocarão o Direito Romano – "Ninguém pode dar o que não tem e
ninguém pode tirar o que não deu" – e a Lei Régia romana – "O poder é
conferido ao soberano pelo povo" – para legitimar a teoria do contrato ou do
pacto social.

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Parte-se do conceito de direito natural: por natureza, todo indivíduo tem direito
á vida, ao que é necessário à sobrevivência de seu corpo, e à liberdade. Por
natureza, todos são livres, ainda que, por natureza, uns sejam mais forte e
outros mais fracos. Um contrato ou um pacto, dizia a teoria jurídica romana, só
tem validade se as partes contratantes forem livres e iguais e se voluntária e
livremente derem seu consentimento ao que está sendo pactuado.

A teoria do direito natural garante essas duas condições para validar o contato
social ou o pacto político. Se as partes contratantes possuem os mesmos
direitos naturais e são livres, possuem o direito e o poder para transferir a
liberdade a um terceiro, e se consen

tem voluntária e livremente nisso, então dão ao soberano algo que possuem,
legitimando o poder da soberania. Assim, por direito natural, os indivíduos
formam a vontade livre da sociedade, voluntariamente fazem um pacto ou
contrato e transferem ao soberano o poder para dirigi-los.

Para Hobbes, os homens reunidos numa multidão de indivíduos, pelo pacto,


passam a constituir um corpo político, uma pessoa artificial criada pela ação
humana e que se chama Estado. Para Rousseau, os indivíduos naturais são
pessoas morais, que, pelo pacto, criam a vontade geral como corpo moral
coletivo ou Estado.

A sociedade civil é o Estado propriamente dito. Trata-se da sociedade vivendo


sob o direito civil, isto é, sob as leis promulgadas e aplicadas pelo soberano.
Feito o pacto ou o contrato, os contratantes transferiram o direito natural ao
soberano e com isso o autorizam a transformá-lo em direito civil ou direito
positivo, garantindo a vida, a liberdade e a propriedade privada dos
governados. Estes transferiram ao soberano o direito exclusivo ao uso da força
e da violência, da vingança contra os crimes, da regulamentação dos contatos
econômicos, isto é, a instituição jurídica da propriedade privada, e de outros
contratos sociais (como, por exemplo, o casamento civil, a legislação sobre a
herança, etc.).

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Quem é o soberano? Hobbes e Rousseau diferem na resposta a essa
pergunta.

Para Hobbes, o soberano pode ser um rei, um grupo de aristocratas ou uma


assembléia democrática. Para Rousseau, o soberano é o povo, entendido
como vontade geral, pessoa moral coletiva, livre e corpo político de cidadãos.
Os indivíduos, pelo contrato, criaram-se a si mesmos como povo e é a este que
transferem os direitos naturais para que sejam transformados em direitos civis.
Assim sendo, o governante não é o soberano, mas o representante da
soberania popular. Os indivíduos aceitam perder a liberdade civil: aceitam
perder a posse natural para ganhar a individualidade civil, isto é, a cidadania.
Enquanto criam a soberania e nela se fazem representar, são cidadãos.
Enquanto se submetem às leis e à autoridade do governante que os representa
chamam-se súditos. São, pois, cidadãos do Estado e súditos das leis.

John Locke e a teoria liberal – No


pensamento político de Hobbes e de
Rousseau, a propriedade privada não é um
direito natural, mas civil. Filósofo inglês
Locke, no final do século XVII e início do
século XVIII.

Locke parte da definição do direito natural


como direito à vida, à liberdade e aos bens
necessários para a conservação de ambas.
Esses bens são conseguidos pelo trabalho.

Como fazer do trabalho o legitimador da


propriedade privada enquanto direito natural?

Deus, escreve Locke, é um artífice, um obreiro, arquiteto e engenheiro que fez


uma obra: o mundo. Este, como obra do trabalhador divino, a ele pertence. É
seu domínio e sua propriedade. Deus criou o homem à sua imagem e
semelhança, deu-lhe o mundo para que nele reinasse e, ao expulsá-lo do
Paraíso, não lhe retirou o domínio do mundo, mas lhe disse que o teria com o

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suor do seu rosto. Por todos esse motivos, Deus instituiu, no momento da
criação do mundo e do homem, o direito à propriedade privada como fruto
legítimo do trabalho. Por isso, de origem divina, ela é um direito natural.

O Estado existe a partir do contrato social. Tem as funções que Hobbes lhe
atribui, mas sua principal finalidade é garantir o direito natural da propriedade.

O burguês não se reconhece apenas como superior social e moralmente aos


nobres, mas também como superior aos pobres. De fato, se Deus fez todos os
homens iguais, se a todos deu a missão de trabalhar e a todos concedeu o
direito à propriedade privada, então, os pobres, isto é, os trabalhadores que
não conseguem tornar-se proprietários privados, são culpados por sua
condição inferior. São pobres, não são proprietários e são obrigados a trabalhar
para outros seja porque são perdulários, gastando o salário em vez de
acumulá-lo para adquirir propriedades, seja porque são preguiçosos e não
trabalham o suficiente para conseguir uma propriedade.

Se a função do estado não é a de criar ou instituir a propriedade privada, mas de garanti-


la e defendê-la contra a nobreza e os pobres, qual é o poder do soberano?

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Material didático

- Poderes, funções e órgãos do Estado

Objetivando promover o bem público, como sua meta final, o Estado desempenha
uma série de funções através dos órgãos que o compõe, determinando um enorme
conjunto de actos e serviços variáveis e permutuaveis, bem como deslocações de uma
localidade à para outro e de acordo com a época analisada.

Essa múltipla atividade gerou a teoria da separação dos poderes estatais. No início
concentrada numa pessoa ou coletividade de pessoas, passou a distribuir-se numa
verdadeira divisão de trabalho e atribuições, cujas funções exigem dos respectivos
órgãos, uma missão de exercê-las dentro dos limites das correspondentes pela Lei.

Esse exercício mesmo dentro da unidade estatal obedece a limitações


consagradas, que visam evitar a hipertrofia da autoridade Estadual.

Aristóteles começou a discernir as três partes do governo com as funções por elas
exercidas: A assembléia do povo formada pelos cidadãos em geral, como corpo
deliberante e verdadeiro soberano do Estado; a segunda composta de magistrados com
ordens especiais encarregados das rendas e defesa do Estado e a terceira integrada por
juízes, encarregados do julgamento e da aplicação da justiça.

John Locke já falava expressamente nos poderes citando o legislativo, executivo,


federativo do estado e a prerrogativa. Não confiante na natureza humana considerava
perigoso confiar a execução das leis àqueles que a tivessem elaborado, convindo separar
o poder legislativo do executivo. Não tratou do judiciário com especialidade e o poder
federativo por outros interpretado como confederativo, correspondia ao direito da paz e
da guerra, de formar ligas e alianças e de fazer toda espécie de negociações com as
pessoas e as comunidades estranhas ao Estado. A prerrogativa referia-se ao poder
discricionário que às vezes atingia a arbitrariedade indo de encontro ao bem público.

Foi Charles-Louis de Secondat (1689-1755)-Baron de Ia Brède et de Montesquieu que


em 1748 elaborou um verdadeiro tratado de Teoria do Estado sob o título De I'Esprit
des Lois, quando concluiu que "Tudo estaria perdido se o mesmo homem, ou o
mesmo corpo de principais, ou de nobres, ou do povo, exercessem os três poderes, o
que faz leis, o que executa as resoluções públicas e o que julga os crimes ou as
desavenças dos particulares".

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III.A Teoria da Tripartição dos Poderes

segundo Montesquieu

No Espírito das Leis Montesquieu se preocupa, essencialmente, em


explicar e distinguir, através de uma lógica inteligível, a gênese e o
desenvolvimento dos sistemas legais in abstracto através das múltiplas
diversidades desses sistemas legais e das distintas formas de governo,
conforme a época e o lugar, a partir das condições históricas,
geográficas, psicológicas, etc.

A partir de uma leitura atenta desta sua magnum opus, podemos concluir que
Montesquieu foi um dos precursores do método comparativo-indutivo atualmente
empregado tanto pela Ciência Política quanto pela História Política.

O Espírito das Leis inicia-se com uma teoria geral das leis, a qual constitui a base da
filosofia política de Montesquieu. Na seqüência, "Montesquieu, com o intuito de fazer uma
obra de ciência positiva, remodela as classificações tradicionais dos regimes políticos.
Distingue três espécies de governo: republicano, monárquico e despótico. Em cada tipo de
regime, que observa aqui ou ali pelo mundo, ele estuda sucessivamente a natureza, ou
seja, as estruturas constitutivas que nele se podem notar, e o princípio, ou seja, o
mecanismo do seu funcionamento." (8) Por fim, procura analisar os meios e fatores que,
numa perspectiva jurídica-normativista e política, eventualmente conduzem ao "bom
governo".

A Teoria da Tripartição dos Poderes do Estado não é criação de Montesquieu. John Locke,
filósofo liberal inglês, cerca de um século antes de Montesquieu já tinha formulado, ainda
que implicitamente, a teoria em questão. Entretanto, cabe a Montesquieu o inegável mérito
de colocá-la num quadro mais amplo.

A teoria ora em comento "... foi inspirada pelo sistema político constitucional, conhecido
quando de sua viagem à Inglaterra, em 1729. Ali encontrou um regime cujo objetivo
principal era a liberdade." (9)

Ressalte-se que Montesquieu não foi um liberal na acepção moderna do termo, ainda que
sua Teoria de Separação dos Poderes tenha servido como um dos alicerces para a
construção do Estado Democrático Liberal. Realmente, "Montesquieu crê na utilidade
social e moral dos corpos intermédios [da Sociedade] (sic), designadamente os
parlamentos e a nobreza." (10)

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Nesta mesma esteira de raciocínio, os professores José Américo M. Pessanha e Bolivar
Lamounier prelecionam que Montesquieu "... opta claramente pelos interesses
da nobreza, quando põe a aristocracia a salvo tanto do rei quanto da
burguesia. Do rei, quando a teoria da separação dos poderes impede o
Executivo de penetrar nas funções judiciárias; dos burgueses quando
estabelece que os nobres não podem ser julgados por magistrados
populares. (...)

(...) Por outro lado, como autêntico aristocrata, desagrada-lhe a


idéia de o povo todo possuir poder. Por isso estabeleceu a necessidade
de uma Câmara Alta no Legislativo, composta por nobres. A nobreza,
além de contrabalançar o poder da burguesia [estamento social em
rápida ascensão social e econômica na França dos séculos XVII e
XVIII], era vista por ele como capacitada, por sua superioridade
natural, a ensinar ao povo que as grandezas são respeitáveis e que
monarquia moderada é o melhor regime político." (11)

Em suma, Montesquieu, jurista oriundo da nobreza togada do Ancient Régime, reconhece


que, independentemente da espécie de governo ou regime político de um dado país, a
ordem social é, em si, heterogênea e sujeita a desigualdades sociais as mais diversas. Se,
por um lado, ele aceita, ainda que de forma implícita, uma estrutura política e social
pluralista, também é verdade que Montesquieu entende que o povo é de todo incapaz de
discernir sobre os reais problemas políticos da Nação e, portanto, não deve e nem pode
ser o titular da soberania. (12)

Dentro dessa ordem de coisas, o objectivo último da ordem política, para Montesquieu, é
assegurar a moderação do poder mediante a "cooperação harmónica" entre os Poderes do
Estado funcionalmente constituídos (legislativo, executivo e judiciário) com o escopo de
assegurar uma eficácia mínima de governo, bem como conferir uma legitimidade e
racionalidade administrativa à tais poderes estatais, eficácia e legitimidade essas que
devem e podem resultar num equilíbrio dos poderes sociais.

Os interlocutores de Montesquieu no Espírito das Leis são a Monarquia Absolutista de um


lado e a sociedade estamental da França do século XVIII d. C. de outro, sociedade essa
que, ao longo da vida de Montesquieu, já apresentava sérias cisões políticas e sociais ao
ponto de desembocar, cerca de uma geração após a morte de Montesquieu, na Revolução
Francesa (1789-1799).

Immanuel Kant, filósofo alemão nos Princípios Metafísicos da Teoria do


Direito, viu nos poderes do Estado as três proposições de um silogismo prático: a
maior que contem a lei de uma vontade; a menor , a ordem de conduzir-se de acordo
com a lei; enfim, a conclusão, a sentença, que decide o que é direito no caso de agir.
Estes três poderes são coordenados (completando-se) e subordinados (independentes).
O legislativo é irrepreensível; o executivo irresistível e o judiciário é inapelável.

Cada órgão, dentro da sua esfera de ação, exerce a totalidade do poder soberano.
Em outras palavras: cada ato de governo, manifestado por um dos três órgãos,
representa uma manifestação completa do poder.

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O Legislativo, o Executivo e o Judiciário, são poderes interdependentes no sentido
literal da palavra, já que devem ser harmônicos e coordenados entre si. São órgãos de
manifestação do poder de soberania estatal, que é, na sua essência uno e indivisível.
Cada um, na esfera da sua função específica, exerce a totalidade do poder.

O Estado manifesta a sua vontade, o seu poder através desses três órgãos que
compõem a sua unidade. Cada um dos três, isoladamente, sem a correlação e a
integração dos dois outros, não chegaria a expressar o poder do Estado.
Os três poderes só são independentes no sentido de que se organizam
mutuamente na finalidade essencial de compor os atos de manifestação da soberania
estatal, mediante um sistema de freios e contrapesos, na expressão dos
constitucionalistas norte-americanos, realizando o ideal de contenção do poder pelo
poder.

AS TRÊS FUNÇÕES BÁSICAS DO ESTADO

Não confundir as funções com as finalidades ou objetivos do Estado, que são vários e de
natureza militar, policial, econômica, previdenciária, cultural entre outras. Todavia as
funções básicas do Estado, mesmo com outras palavras ou acréscimos por parte de uns e
concentrações por outros permanecem as mesmas desde Aristóteles aos nossos dias.

O filósofo grego entendia da seguinte maneira as três funções basilares da


“polis”:
Consultiva, que se pronunciava acerca da guerra, da paz e das leis;

Administrativa, através do magistrado incumbido dos restantes assuntos


do governo.cionando as controvérsias;

Modernamente o Estado consolidou estas três funções que a partir dos


pensadores dos séculos XVII e XVIII, passaram a ser exercidas por órgãos
correspondentes de forma harmônica e interdependente:

Legislativa: estabelece normas gerais e abstratas que regem a vida em


sociedade, através de manifestação de vontade a ser feita valer toda vez que ocorre o
fato descrito na norma. Exemplo: Quem importa mercadoria paga o imposto sobre
importação. Esta é uma lei.

Executiva: traduz num ato de vontade individualizado a exteriorização abstrata


da norma. Exemplo: Cobrar do importador o tributo na quantidade prevista na lei é ato
executivo.

Judiciária: Dirime as controvérsias que podem surgir na aplicação da lei.


Exemplo: Se o importador dos exemplos acima, considera indevido o tributo cobrado
surge uma lide a ser resolvida definitivamente pela função jurisdicional.

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O Estado é uma Instituição, política, jurídica e territorial, colocada numa
determinada circunscrição geográfica, constituída por um povo que é p titular por
autoridade própria, Órgãos que elaborem as leis necessárias à vida colectiva a
respectiva execução.

As grandes linhas estruturas do sistema jurídico

A Macroestrutura: As grandes divisões do direito

O direito compreende a vida social do homem, esta função ordenadora abrange


todos os campos do domínio social.

É assim que existem inúmeras, talvez até centenas de milhares de normas, regras e
diplomas legislativos, apesar de não se legislar todo o direito.

Por isso, é que nenhum jurista consegue conhecer todas as normas jurídicas, pese
embora um bom jurista deve ter uma visão o mais compreensiva possível do direito
positivo. Pois só com ajuda deste conhecimento se pode cooperar na realização da
justiça. Sendo este desiderato o mais importante, isto é aquisição de conhecimentos
e aptidão para desenvolver um pensamento jurídico autónomo e para saber trabalhar
com as leis, incluindo as novas leis que estão a ser editadas diariamente.

Dentro deste conjunto de leis que são editadas encontraremos, as grandes divisões
do direito ou seja os ramos do Direito, onde encontraremos os princípios
fundamentais do direito.

Compaginadas que estão as grandes linhas de estruturação do sistema jurídico,


começaremos por falar sobre os direitos objectivo e subjectivo.

Não é possível falar sobre os ramos do direito sem antes abordar o Direito objectivo
e o direito subjectivo.

Direito objectivo é entendido e compreendido, como o corpo ou complexo de regras


gerais e abstractas que organizam e regulam a vida das pessoas em sociedade sob os
mais diversos aspectos.

Direito subjectivo

São aquelas posições de privilégios, faculdades ou poderes (direitos) que por


aplicação das regras de direito objectivo por parte de uma pessoa corresponde
logicamente a um dever jurídico (uma obrigação), ou pelo menos um estado de
sujeição, por parte de outra ou outras pessoas.

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Os Ramos do direito

Existem vários critérios possíveis para estabelecer, a destrinça entre os ramos de


direito público e privado. Chegado até a esmiuçarem uma centena de critérios.
Mas entre todos os critérios, os que a larga maioria da doutrina entende, serem os
mais adequados são:

a) Critérios da natureza dos interesses, b) Critério da qualidade dos sujeitos,


c)Critério da posição dos sujeitos.

a) Critério da natureza dos interesses

Segundo este critério estaremos em presença do Direito Público, quando se visa a


prossecução da resolução de interesses públicos e estaremos em presença do direito
privado sempre que se visa a prossecução de interesses privatísticos ou privados.

b) Critério da qualidade dos sujeitos

Estamos em presença do Direito público quando encontramos normas que regulam


as situações jurídicas em que o Estado, ou outra entidade pública, regula a vida
pública.

E em direito privado quando as situações jurídicas sejam apenas reguladas pelos


particulares.

c) Critério da posição dos sujeitos

Segundo este critério estaremos em presença do direito público sempre que o seja
constituído um conjunto de normas que regem a actividade do Estado e das outras
entidades públicas e privadas, enquanto sujeitos dotados de poder (ius imperium); e
é direito privado quando o estado regula as relações jurídicas em que os particulares
se encontram em posição de paridade e o estado desprovido do seu poder de
autoridade.

Por agora, daremos uma noção sumária, sobre os ramos de direito Público e os
ramos de Direito Privado, ramos estes que constituem as cadeiras curriculares
clássicas do curso de Direito.

Direito público caracteriza-se pelo facto de nas relações por ele reguladas, se
verificar o exercício de um poder de autoridade pública, assim o direito público seria
o conjunto de normas que regulam a organização e a actividade do Estado e de
outros entes públicos menores e as relações desses entes públicos entre si no
exercício dos poderes que lhe competem, bem como, as relações dos entes públicos
enquanto revestidos de poder de autoridade, com os particulares.

Direito Privado – são o conjunto de normas jurídicas que regulam as relações em


que as partes aparecem numa posição de igualdade ou paridade.

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Assim sendo os principais ramos do direito Público são:

Direito Constitucional, Direito Administrativo, Direito Penal, Direito Fiscal, Direito


Processual Penal, Civil, Trabalho, Administrativo, Direito Internacional Público.
O principal ramo do direito privado é: O Direito Civil que é o ramo privado comum
ou direito - regra cujo campo de actuação se estende potencialmente, portanto, a
todas as relações de direito privado, salvo aquelas ou os aspectos daqueles que se
tornam objecto de um direito especial. «A doutrina civilista, assevera também que é
o tronco do direito privado.

Direito constitucional ou político é o ramo do direito público que se ocupa da


organização do Estado e das grandes linhas da organização do Estado dos entes
públicos menores, dos órgãos de soberania e da repartição dos poderes entre eles.

Capitulo V Aplicação da Lei

a) A interpretação da Lei

b) Interpretação e ordenamento

c) Regras legais sobre a interpretação, o art. 9.º do C. Civil

Interpretar um texto jurídico, consiste evidentemente em retirar desse texto um


determinado sentido ou conteúdo de pensamento.

O texto jurídico é constituído por uma polissemia (isto é vários sentidos), contendo
com frequências expressões muitos ambíguas ou obscuras.

Mesmo quando aparentemente, parece compreensível à primeira leitura, a sua


aplicação aos casos concretos da vida faz muitas vezes surgir dificuldades de
interpretação imprevisíveis.

Daí justamente a necessidade da interpretação, ou seja, daquela actividade do jurista


que se destina a fixar o sentido e o alcance com que o texto deve valer. Entre os
vários sentidos de um determinado texto a que eleger um qual deles?

Dúvidas não poderão existir ao se enquadrar o sentido mais conforme ao direito que
não poderá ser um sentidos qualquer. Sendo a lei um instrumento de prática, a sua
conformação e ordenação da vida social é dirigida a uma generalidade de pessoas e
a uma série infinitividade de casos, devendo se procurar extrair dela um sentido que
valha para todas as pessoas e para todos os casos.

Deve-se, pois, fixar-se um sentido decisivo da lei que garanta um mínimo de


uniformidade para interpretação dos litígios.

Para este efeito julga-se indispensável fixar um conjunto de directivas ou critérios


que devem orientar a actividade do intérprete, por forma a evitar o casuísmo e o
arbítrio de cada julgador, incompatíveis com as necessidades da vida social, por
conseguinte serão incompatíveis, também com a segurança jurídica.

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Esse conjunto de directivas ou cânones hermenêuticos constitui a chamada
metodologia da interpretação ou hermenêutica jurídica.

A interpretação da Lei é também designada como a operação técnico-jurídica


tendente a determinar o conteúdo e o sentido das normas jurídicas.

A interpretação pode assumir, ela própria, o carácter de norma jurídica e isso


acontecerá se um ou vários preceitos de um diploma estabelecerem o sentido de
outro ou outros preceitos desse mesmo diploma, esclarecendo ainda o sentido de
outro ou outros preceitos desse mesmo diploma ou se, após a publicação de uma lei,
se publica uma outra tendente a fixar o sentido da primeira e a eliminar dúvidas que
a sua aplicação se tenham suscitado.

Em qualquer destes casos, a lei interpretativa pode provir do órgão que elaborou a
lei interpretada, tratando-se nestes casos - e segundo alguns autores, de uma
interpretação autêntica ou poderá emanar de órgão legislativo diverso.
É assim que as leis interpretativas se integram nas leis interpretadas, pelo que a sua
aplicação no tempo tem carácter retroactivo, embora com algumas limitações. (Vide
art. 13.º CC).

Mas, a maioria das vezes, não é por via legislativa que se faz a interpretação da
Lei, antes são os tribunais, os juristas, e a genericamente, das pessoas, mesmo,
muitas vezes, sem preparação jurídica. Que realizam também a interpretação da lei,
utilizando critérios e regras empíricas mais dotados de algum sentido literal.

O primeiro passo na interpretação de uma lei, consiste na interpretação literal,


isto é, na apreensão do sentido puramente gramatical ou textual da lei, uma vez
operada essa interpretação da letra da lei, e de acordo com o n.º 1 do art. 9.º do CC,
o intérprete deve recorrer a elementos extra-literais, que lhe permitam «reconstituir a
partir dos textos jurídicos o pensamento legislativo».

A doutrina apresenta dentro dos elementos extra-literais, tais elementos respeitam,


por um lado, à averiguação do fim que a lei se propõem atingir (ratio legis), isto é,
qual o objectivo que se pretendeu alcançar com determinada lei, pelo que se deverá
ter em atenção as circunstancias em que ela foi elaborada, tanto quanto aquelas em
que ela será efectivamente aplicada.

Por outro lado, tem de se ter em consideração o conjunto do sistemas jurídicos


em que a lei se integra e com a qual tem de estar em conexão (elemento
sistemático), isto é, a conexão entre o sistema jurídico e a lei que foi legislada, neste
mesmo ordenamento jurídico. E finalmente, se deve atender às circunstâncias
históricas - jurídicas em que a lei foi elaborada. Designadamente à norma que ela
substitui, ou seja, à evolução geral do sistema jurídico começando pela data da sua
elaboração, sendo esta a sua fonte inspiradora, aos trabalhos preparatórios para a
elaboração da lei (elemento histórico).

Dentro destes elementos de interpretação ou factores hermenêuticos que são os


métodos com que o interprete lança mão para desvendar o verdadeiro sentido e o
alcance dos textos legais.

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Métodos estes que se apresentam sobre duas modalidades principais, a saber:

a) - Elemento gramatical é o texto, ou melhor a letra da lei;

b) Elemento lógico, (espírito da lei) onde encontramos dentro dele o elemento


racional ou teleológico, o elemento sistemático e o elemento histórico.

É imprescindível salientar que o elemento gramatical e o elemento lógico têm sempre


que ser utilizados cumulativamente. Não podendo haver pois uma modalidade de
interpretação gramatical e uma outra lógica, pois é evidente que o enunciado linguístico
que é a letra da lei seja apenas um significante, titular de um sentido (espírito da lei),
para que nos remeta ao melhor entendimento.
Por isso quando se fala em interpretação literal quer-se apenas referir aquela modalidade
de interpretação muito cingida ao texto e que extrai das palavras o sentido que elas mais
naturalmente comportam, fazendo porventura discorrer dos outros elementos
interpretativos.

Arts. 247.º, 248.º, 249.º, 250.º, 251.º, 252.º C.Família.

Interpretação restritiva é aquela, segundo à qual o legislador usou uma formulação em


stritu sensu, restrita não abarcando todas as situações carecidas de regulação.

Interpretação extensiva, se, ao contrário, o legislador usou uma forma de expressão


extensa ou seja o legislador diz mais do que deveria ter dito.

O n.º 2 Do já citado artigo 9ª. Impõe uma limitação importante ao intérprete, ao


determinar «que não pode, porém, ser considerado (…) o pensamento legislativo que
não tenha na letra da lei um mínimo de correspondência verbal, ainda que
imperfeitamente expressa».

Finalmente, o nª.3 da mesma disposição consagra um princípio de razoabilidade que


deve presidir á interpretação, afirmando que,» na fixação do sentido e alcance da lei, o
intérprete presumirá que o legislador consagrou as soluções mais acertadas e soube
exprimir o seu pensamento em termos adequados»
O artigo 11.º CC. estabelece, quanto às normas excepcionais, embora não comportem
aplicação analógica.

Relação jurídica é entendida em sentido amplo e em sentido restrito.

Segundo o saudoso Prof. Manuel Andrade da escola de Coimbra, relação jurídica


em sentido amplo é toda a situação ou relação da vida social, juridicamente
relevante, isto é disciplinada pelo direito.
Em sentido restrito é a relação da vida social disciplinada pelo direito, mediante a
atribuição a uma pessoa de um direito subjectivo e a correspondente imposição a
outra pessoa de um dever ou uma sujeição.

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Direito subjectivo é o poder atribuído pela ordem jurídica a uma pessoa de,
livremente, pretender de outra um certo comportamento positivo (acção) ou
negativo (omissão), ou de, por um acto de sua vontade, só de per-se, ou auxiliado
por acções de uma autoridade pública, produzir determinados efeitos jurídicos que
se impõem inevitavelmente à esfera jurídica alheia.

Direito potestativo é poder jurídico de, por um acto de sua vontade, só de per - se,
ou auxiliado por acções de uma autoridade pública, produzir inevitavelmente na
esfera jurídica alheia.

Os sujeitos de direito são entes susceptíveis de serem titulares de direitos e


obrigações, de serem titulares de relações jurídicas. São sujeitos de direito as
pessoas singulares e colectivas.

A personalidade jurídica traduz-se precisamente na aptidão para ser titular autónomo


de relações jurídicas. Esta aptidão é nas pessoas singulares – nos homens - uma
exigência do direito ao respeito e da dignidade que se deve reconhecer a todos os
seres humanos.
Já nas pessoas colectivas trata-se de um processo técnico de organização das
relações jurídicas conexionadas com um dado empreendimento colectivo.

A personalidade jurídica consiste, portanto, na aptidão para ser sujeito de relações


jurídicas, ou seja é a susceptibilidade de ser titular de direitos e obrigações.

Capacidade jurídica de gozo e capacidade de exercício.

Capacidade jurídica é a aptidão de as pessoas adstritas e gozarem os seus direitos e


obrigações e os exerce - los livremente segundo a lei.

Dentro da capacidade jurídica vamos encontrar a capacidade de gozo e a capacidade


de exercícios.

Capacidade de gozo é a capacidade de todas pessoas possuírem direitos e estarem


adstritas a obrigações, mas tão somente não poderão exerce-los de per-si ou seja por
se mesmos, ou pessoalmente.

Capacidade de exercícios ou capacidade para exercer para o exercícios de direitos é


a idoneidade de actuar juridicamente, exercendo direitos ou cumprindo deveres,
adquirindo direitos e assumindo obrigações, por acto próprio e exclusivo ou
mediante um representante voluntário ou procurador, isto é, um representante
escolhido pelo próprio representado.

Ou seja é a aptidão para pôr em movimento a esfera jurídica própria, para por
actividade própria produzir consequências jurídicas no conjunto de direitos e
obrigações de que se é titular.

Esta expressão capacidade de exercício, não é, todavia, muito feliz, pois sugere
tratar-se unicamente da susceptibilidade de exercitar direitos, deixando de fora o
cumprimento de obrigações. Melhor se falaria em capacidade de agir, como aliás se
exprimem os juristas de língua germânica.

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A pessoa, dotada de capacidade de exercício de direitos, actua pessoalmente, isto é,


não carece de ser substituída, na prática dos actos põem em movimente a sua esfera
jurídica, por um representante legal (designado na lei ou em conformidade com ela)
e actua automaticamente, isto é, não carece do consentimento, anterior ou posterior
ao acto, de outra pessoa (assistente).

Pessoas singulares são todos e qualquer ser humano desde que nasça
completo e com vida.

Pessoas colectivas são organizações constituídas por uma colectividade de +pessoas


ou por uma massa de bens, dirigidos à realização de interesses comuns ou
colectivos, às quais a ordem jurídica atribui a personalidade jurídica.

Trata-se de organizações integradas essencialmente por pessoas ou essencialmente


por bens, que constituem centros autónomos mesmo em relação aos seus membros
ou às pessoas que actuam como órgãos.
Elas podem ser de três tipos…

Os elementos constitutivos das pessoas colectivas são:

O substrato e o reconhecimento.
O substrato é o conjunto de elementos da realidade extra-jurídica, elevado à
qualidade de sujeito jurídico pelo reconhecimento.

Ou seja é a realidade que no plano dos factos exteriores ou psicológicos, das coisas e
dos seres humanos, encarna a personalidade, sendo assim a realidade que dá
existência material às pessoas colectiva no mundo exterior, (é o conjunto de
realidades extra-jurídicas).

Por fim é importante aquilatar que se o reconhecimento cria o ente jurídico, o


substrato é imprescindível ou seja é a condição necessária, para a existência da
pessoa colectiva.

As incapacidades

Incapacidade – qualidade da pessoa privada pela lei do gozo ou do exercício de


certos direitos.

A incapacidade diz-se de exercícios quando a pessoa não pode exercer os seus


direitos ou cumprir os seus deveres por si só e livremente.

Incapazes de exercício são os menores, os interditos e os inabilitados.


A incapacidade diz-se de gozo quando a pessoa não pode ser titular de um ou mais
direitos ou deveres.
A capacidade de gozo das pessoas colectivas acha-se por força do art.160.º, C.C.
limitada aos direitos e obrigações necessários ou convenientes à prossecução dos
seus fins.

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Se pode falar em incapacidade judiciária (insusceptibilidade de estar por si em juízo,
art. 9.º, n.º 1, CPC).

Incapacidade acidental situação equiparável, que a torne ocasionalmente privada do


uso da razão e da vontade. V. art. 257.º CC. Ou incapacidade de facto situação de
uma pessoa na realidade inapta para exercer os seus direitos, mas que ainda não se
encontra interdita ou inabilitada.

De um modo geral são anuláveis os actos praticados por incapaz, incapacidade esta
que é suprida pela representação… art. 122.º e Ss. CC e 10.º do CPC.
Incapacidade acidental.

Incapacidade

Dir. Civil - Há autores que falam de incapacidade conjugal para significar a situação
em que o cônjuges não pode praticar, por si so e livremente, certos actos, carecendo
do consentimento do outro para tal pratica. A doutrina maioritária entende, porem, e
bem, que não se esta aqui perante uma incapacidade, mas antes perante uma
ilegitimidade.

V. Regime bens do casamento, legitimidade.

Incapacidade de facto

Dir. Civil - Situação em que se encontra as pessoas, que , não tendo a sua
capacidade juridicamente afectada, sofrem de perturbação ou anomalias que as torna
inaptas para o exercício dos seus direitos e comprimento dos seus deveres ou de
alguns deles.

Incapacidade testamentária

Dir. Civil - Determina o artigo 2189º, C. c. que são incapazes de testar menores não
emancipados os interditos por anomalia psíquica, sendo, nos ternos do termos do artigo
2190º,nulo o testamento feito por incapaz.
V. Testamento, Menor, Emancipação, Interdição, Anomalia psíquica, Nulidade…

Inabilitação
Dir. Civil Proc. – Situação jurídica de uma pessoa, que, em virtude de decisão judicial,
não pode, por si só, realizar determinados actos jurídicos, carecendo da autorização de
um tutor. Tais actos são, nomeadamente, os de disposição de bens entre vivos, podendo
ainda a administração do património do inabilitado ser entregue, no todo ou em parte,
ao curador. Podem ser inabilitados os indivíduos cuja anomalia psíquica, surdez-mudez
ou cegueira, embora de carácter permanente, não seja de tal modo.

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Hipótese prática

Ana Maria de 16 anos de idade, Empresária de nacionalidade moçambicana,


casada com o Dr. Niakitembo angolano em regime de separação de bens, (sociólogo
de profissão), estando em Angola de visita decidiu, visitar a ilha do Mussulo.

Durante a visita gostou imenso da parte do mar que se encontrava em frente a


casa do Soba Mkuvu, por ter uma vista maravilhosa.

Seguidamente, contactou o soba Mkuvu e apresentou a sua pretensão em


adquirir a aquela parte do Mar.

O soba Mkuvu explicou-lhe que a parte do mar que Ela pretendia negociar, bem
como, a casa era propriedade do neto Simulamuku de 16 anos de idade, que Ele lhe
ofereceu, e que não pode ser vendida em separado.

Mas que no entanto, como ainda se encontra em vida, concorda em celebra o


contrato de compra e venda da residência bem como da parte do mar que se
encontra em frente aquela casa.

Passados 2 anos o neto Simulamuku pretende anular o contrato celebrado, entre o


Avo e a Dona Ana Maria.

Quid. Iuris?

O objecto da relação jurídica

O objecto de uma relação jurídica é precisamente o«quid» sobre que incidem os


poderes do seu titular activo, a satisfação do interesse que corresponde ao aspecto
funcional do direito.

Esses bem que constitui o ponto de incidência do direito, está submetido aos
poderes, e a supremacia do direito, esta submetido de-per-si chegando aos poderes ,a
supremacia do titular activo da relação jurídica.
O objectivo da relação jurídica é o «quid»todo o bem sobre que podem recair direito
subjectivos.
Facilmente se distinguem, o objecto de um direito e o conteúdo do mesmo.

O objecto é aquilo sobre que recaem os poderes do titular do direito. o conteúdo do


direito de propriedade são os poderes conferidos pelo ordenamento jurídico ao
proprietário (poderes de usar, fruir, dispor).

Facto jurídico

É o evento juridicamente relevante, i é, susceptível de produzir efeitos jurídicos,


efeitos estes que se traduzem sempre na constituição, modificação e extinção de
uma posição jurídica.

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Assim sendo o facto jurídico podem ser, facto jurídico constitutivo, modificativo
extintivo…

Dentro dos factos jurídicos, vamos ainda encontrar, os puros factos jurídicos e os
actos jurídicos;

Onde dentro do puros se podem sob – encontrar, os factos exteriores, que são
aqueles que se realizam independentemente do conhecer, do querer e do agir do
homem (factos imprevisíveis) o sunami etc…

E os factos jurídicos internos são aqueles factos da vida psíquica do homem, tais
como o conhecimento de certa circunstância, a intenção etc. etc…

Os actos jurídicos são por ser turno, os modos de conduta humana dirigidos pela
vontade (actuações ou condutas) que tanto podem consistir numa acção como numa
omissão.

Os negócios jurídicos são ainda os actos jurídicos constituídos por uma ou mais
declarações de vontade, dirigidas à realização de certos efeitos práticos, com
intenção de os alcançar sob tutela do direito, determinado o ordenamento jurídico a
produção dos efeitos jurídicos conformes à intenção manifestada pelo declarante ou
declarantes.

Por fim é mister asseverar que o facto jurídico é o elemento dinâmico que produz
alterações na vida jurídica ou no mundo do direito.

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