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Teoria da História
Social e Cultural
1ª EDIÇÃO ATUALIZADA
2014
Proibida a reprodução total ou parcial.
Os infratores serão processados na forma da lei.
EDITORA UNIMONTES
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro
s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG)
Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089
Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214
Ministro da Educação Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS/
José Henrique Paim Fernandes Unimontes
Maria das Mercês Borem Correa Machado
Presidente Geral da CAPES
Jorge Almeida Guimarães Diretor do Centro de Ciências Humanas - CCH/Unimontes
Antônio Wagner Veloso Rocha
Diretor de Educação a Distância da CAPES
João Carlos Teatini de Souza Clímaco Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA/Unimontes
Paulo Cesar Mendes Barbosa
Governador do Estado de Minas Gerais
Alberto Pinto Coelho Júnior Chefe do Departamento de Comunicação e Letras/Unimontes
Mariléia de Souza
Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
narcio Rodrigues da Silveira Chefe do Departamento de Educação/Unimontes
Andréa Lafetá de Melo Franco
Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes
João dos Reis Canela Chefe do Departamento de Educação Física/Unimontes
Rogério Othon Teixeira Alves
Vice-Reitora da Universidade Estadual de Montes Claros -
Unimontes Chefe do Departamento de Filosofia/Unimontes
Maria ivete Soares de Almeida Ângela Cristina Borges
Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Os Annales e a definição do campo da história social e cultural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
O olhar da história cultural e social: conceitos, métodos e campos temáticos . . . . . . . . . 27
2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
História - Teoria da História Social e Cultural
Apresentação
A disciplina Teoria da História Social e Cultural faz um convite a você para viajar pelos ca-
minhos trilhados por Clio. A deusa que você vê na figura é uma das representações gregas de
Clio, uma das nove deusas das Ciências e das Artes na mitologia grega. Filha de Zeus (deus dos
deuses) e de Mnemosine (deusa da memória), Clio era responsável por cuidar da História e da
Criatividade. É musa inspiradora invocada pelos primeiros escritores e artistas gregos para dar
início ao seu trabalho. Nessa representação de Clio, observamos instrumentos que brindam o co-
nhecimento, a música e a fama.
Esse convite traz consigo um desafio, que é também o objetivo desse estudo: buscar com-
preender o campo, os objetos e as abordagens presentes nos trabalhos de História Social e Cul-
tural, visando verificar como a produção historiográfica mais recente tem incorporado novos te-
mas, novos métodos, novas linguagens no campo da História Social e Cultural.
Você, estudante, aprendiz do ofício de professor e pesquisador dos domínios de Clio, per-
ceberá que muitas mudanças têm ocorrido nessas paragens. A História Cultural e Social corres-
ponde a uma das maiores facetas de Clio! Mundo esse envolvente e desafiador, repleto de teias
e redes intricadas de relações, de discordâncias, de construções, de desconstruções, de múltiplas
significações e pluralidade no trato da arte de viver em sociedade.
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UAB/Unimontes - 3º Período
Dessa forma, estruturamos para você este caderno de Teoria da História Social e Cultural,
domínio de Clio, que adquire hoje grande importância e fama entre os historiadores, em duas
grandes unidades assim divididas:
Na primeira unidade, cujo título é “Os Annales e a definição do Campo da História Social e
Cultural”, procuramos abordar o nascedouro da abordagem social e cultural em História, bem
como os caminhos trilhados por ambas e os campos e objetos dessas áreas de conhecimento da
História.
A segunda unidade, intitulada “O olhar da História Cultural e Social: conceitos, métodos e
campos temáticos”, constitue o mote desse estudo no sentido de entendermos a cor, o sabor e o
tom do olhar da História Social e Cultural. Ou seja, iremos entender conceitos fundamentais que
fundam essa especialidade da História, os métodos utilizados para tal e os temas mais comuns
que marcam a teia dessa área da História.
No conjunto desta disciplina, você perceberá que será de fundamental importância para o
seu processo de formação como professor/pesquisador que você se inquiete com os rumos da
vida, da sociedade e das instituições. A viagem pelo domínio de Clio contribuirá para o ensino de
História, pois o campo da cultura abre frestas para melhor compreensão da multiplicidade das
culturas e de suas diferenças.
Com a intenção de contribuir para a educação de nosso olhar e a certeza de uma viagem
prazerosa, estruturamos o texto inserindo sugestões para visitar sites, assistir a filmes, debater
com os seus colegas, tutores e professor formador. Procure ao máximo exercitar a crítica, a refle-
xão sobre os processos, a análise dos exemplos e figuras disponíveis neste caderno, bem como a
interpretação dos fenômenos históricos, sociais, culturais e antropológicos que o cercam no seu
dia a dia. Não deixe de esclarecer as dúvidas com o seu professor formador e, sempre que possí-
vel, socialize o que você aprendeu com seus colegas.
10
História - Teoria da História Social e Cultural
Unidade 1
Os Annales e a definição do
campo da história social e cultural
Dayse Lúcide Silva Santos
1.1 Introdução
Esta primeira unidade de estudo visa apresentar-lhe o mundo da História Social e Cultural.
Assim, entender seus processos, crises, escolhas e dificuldades em se firmar como um campo de
especialidade da disciplina História.
Dividimos esta unidade em três grandes tópicos que nortearão nosso estudo. No primeiro
deles, “A Escola dos Annales e a História-problema”, a nossa intenção é lembrar a você as carac-
terísticas da Escola Histórica dos Annales e as suas proposições essenciais, bem como discutir a
crise de “modelos de explicação da realidade” que atingiu as Ciências Humanas e Sociais, enfati-
zando as implicações disso para a História.
Nas segunda e terceira partes, respectivamente intituladas: “Caminho da História Social” e
“Caminho da História Cultural”, nossa intenção foi esclarecer a trajetória dessas áreas de conheci-
mento da História, bem como demonstrar os seus objetos de estudo.
Grande é o significado desta disciplina para você que já está se preocupando em definir o
seu objeto de pesquisa monográfica, pois abordaremos os objetos de estudo da área de História
Social e Cultural, bem como refletiremos sobre alguns termos que usualmente são aplicados no
dia a dia, mas que carecem de aprofundamentos.
Aproveite ao máximo esta disciplina! Ela será de fundamental importância para a sua for-
mação! Não deixe de esclarecer as dúvidas com o seu professor formador e com a equipe de
tutores deste curso. Tenha certeza que todos nós desejamos contribuir e continuar a ver o seu
crescimento.
11
UAB/Unimontes - 3º Período
utilizou uma publicação em revista para veicular – em grande parte – ideias, atitudes, papéis,
questionamentos e os rumos da produção de História merece ser mais bem estudado aqui.
Vamos lá.
A revista Les Annales (Os Anais) foi fundada em 1929, na França, e revolucionou o trabalho e
o universo do “fazer história” dominante até então.
Segundo Guy Bourdé e Hervé Martin, essa escola histórica apresenta os seguintes postula-
dos gerais:
12
História - Teoria da História Social e Cultural
BOX1
Ideias veiculadas pela Nova História
1º: Interessa-se por toda a atividade humana, tudo tem uma história que pode ser re-
construída e relacionada ao restante do passado; a ideia básica é a de que “a realidade é social
ou culturalmente construída”;
2º: Entendimento da História de maneira a enfatizar a análise das estruturas;
3º: A história passa a ser vista de baixo, ou seja, passa a expressar visões e opiniões de
pessoas comuns; DICA
4º: Houve grande ampliação para o que podemos considerar como documento para a Marc Bloch (1886-1944):
História: não mais os documentos escritos, mas todos os vestígios da ação humana, sendo as- Antes de ser fuzilado
sim, “cacos”, vestimenta, fotografias, diários, registros civis, entre tantos outros passaram a fre- pelos nazistas, em 1944,
Bloch participou da
quentar as fontes arroladas num trabalho historiográfico; Primeira Guerra Mundial
5º: Os questionamentos elaborados pelos historiadores não mais se baseiam em causas entre 1914 e 1918.
imediatas, mas em movimentos contextualizados, preocupados com os movimentos coletivos
e individuais da sociedade;
6º: O historiador está consciente de que no seu trabalho haverá pontos de vista diferen-
tes, por vezes opostos, e isso é que é o cerne da questão, pois acreditam que a sociedade é
complexa e não deve ser analisada com simplificações. Para tanto, a atitude interdisciplinar é
fundamental.
Fonte: Adaptado de BURKE, Peter. A Escrita da História: novas perspectivas. São Paulo: Unesp, 1992, p. 9-19.
Você observou que até o momento chamamos a sua atenção para o impacto da aproxima-
ção entre a História e as outras áreas de conhecimento.
13
UAB/Unimontes - 3º Período
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História - Teoria da História Social e Cultural
Quadro 1
História Social e Cultural: dimensões, domínios e abordagens
DIMENSÕES DOMÍNIOS ABORDAGENS
Significado: Implica em um Significado: corresponde Significado: Implica em um
tipo de enfoque ou um modo a uma escolha mais especí- modo de fazer a História a
de ver (ou em algo que se pre- fica, orientada em relação partir dos materiais com os
tende ver em primeiro plano a determinados sujeitos ou quais deve trabalhar o his-
na sua observação de uma so- objetos para os quais será di- toriador (determinadas fon-
ciedade historicamente locali- rigida a atenção do historia- tes, determinados métodos
zada). dor (campos temáticos como e determinados campos de
a História das Mulheres, por observação).
exemplo).
Exemplos de DIMENSÕES Exemplos de DOMÍNIOS Exemplos de ABORDAGENS
História da Cultura Material Com relação aos ambientes Com relação ao tipo ou tra-
História Social sociais ou objetos: tamento das fontes:
História Demográfica História da Religião Arqueologia
Geo-História História das Ideias História Oral
História Política História do Direito História do Discurso
História Cultural História da Sexualidade História Imediata
História Antropológica História da Arte História Quantitativa
Étno-História História das Representações História Serial
História das Mentalidades História Rural
Psico-História História Urbana Com relação ao campo de
História do Imaginário História da Vida Privada observação:
História Local
Com relação aos agentes História Regional
históricos: Micro-história
História das Mulheres
História dos Marginais
História das Massas
Biografia
Fonte: Adaptado de BARROS, José D’Assunção. Os campos da História: uma introdução às especialidades da História.
Petrópolis: Vozes, 2004.
15
UAB/Unimontes - 3º Período
Antes de enveredarmos nos caminhos da História Cultural e Social, vale destacar aproxima-
ções e crises dos modelos Marxista e Braudeliano.
A História não ficará imune às mudanças advindas do modo de pensar das Ciências Huma-
nas e Sociais. Entre os anos 1960 e 1970, observamos que tanto a Nova História Social de ten-
dência neomarxista (desenvolvida principalmente na Inglaterra) quanto a História dos Annales
(desenvolvi- da principalmente na França) irão se aproximar ao máximo, especialmente porque a
concepção de cultura vai perpassar essas duas vertentes. Vejamos:
Quadro 2
Nova História Social e Nova História nos anos 1960 e 1970
dica NOVA HISTÓRIA SOCIAL NOVA HISTÓRIA
Marx discute-se o desti- Tendência neomarxista Tendência dos Annales
no do sujeito, transfor-
mando-o em um objeto Principal representante: Edward Thompson Principais representantes: Marc Bloch, Lucien
de um novo saber. Febvre e Fernand Braudel
Tem-se o chamado
materialismo histórico Ideia básica: Ideia básica:
em que as análises Rompimento com a clássica ideia marxista Há preocupação maior com o domínio do sim-
sociais são permeadas -leninista. Propõe ao historiador entender as bólico e com as atitudes mentais, como tam-
principalmente pelas mudanças de hábitos, costumes. Com isso, bém com a noção de tempo longo, quase imó-
análises econômicas. a pesquisa em arquivos (buscando novas vel.
As condições de vida fontes) e o desenvolvimento da empiria fo- A ideia de mentalidade era imprecisa, mas pode
material são a estrutura ram fundamentais. Ele acredita que não há ser definida como um conjunto de valores par-
dentro da qual a cons-
predeterminação de um nível sobre o outro tilhados não conscientes e não racionais. De-
ciência circula e pela
qual é condicionada. (estrutura e superestrutura, por exemplo). monstravam tendência totalizante de história,
falavam de permanências e sentimentos que
perpetuavam na sociedade.
A História Social Inglesa aproxima-se das Os Annales caminham para a reorientação te-
noções de cultura e conceitos trabalhados mática para o âmbito da cultura, o que chamou
pela História Cultural, especialmente os tra- de História Cultural, a partir dos anos 1980.
balhos de E. P. Thompson. Tem em Carlo Ginzburg, Roger Chartier e E. P.
Thompson a marca que a distingue da história
das mentalidades.
Fonte: Adaptado do texto de PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & História Cultural. 2ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2004,
132p (Coleções História & Reflexões, 5).
Dica
Vamos refletir um pouco mais para me-
Você sabe o que é uma lhor entendimento do quadro 2. A partir dos
abordagem marxista
anos 1970 e 1980, assistiremos a uma crise no
-leninista?
paradigma Marxista e no Braudeliano. A isso é
comum denominarmos a crise das concepções
Figura 6: Karl Marx ► estruturalistas e totalizantes na História, ten-
Fonte: Disponível em dência que buscava explicar o mundo a partir
http://www.klepsidra.net/ de modelos preestabelecidos.
klepsidra16/Annales.htm O que significa dizer que existe uma crise
acesso em 09 jul. 2009.
desses paradigmas. Veja, se um determinado
modelo não mais fornece base para interpretar
a realidade, dissemos que ele entrou em crise
ou que não é mais suficiente para explicar a
pluralidade da sociedade na qual iremos aplicá
-lo. Vejamos o exemplo do modelo Marxista-le-
ninista.
Karl Marx (1818 – 1883) viveu num mo-
mento em que a Europa passava por um de-
senvolvimento industrial e acreditava larga-
mente no progresso e no desenvolvimento
científico. Ele criará uma teoria de análise crí-
tica à sociedade capitalista que afirmava que
16
História - Teoria da História Social e Cultural
existiam diversos modos de produção social. O “motor” de tal produção seriam as engrenagens
econômicas.
Isso significa dizer que, na análise da totalidade das relações de produção, a estrutura eco-
nômica é o fundamento básico da sociedade. Sobre essa estrutura, haveria a superestrutura (jurí-
dica, política, religião) que era vista por Marx como incapaz de produzir a vida material tal qual as
engrenagens da economia. Marx afirmava ainda que cada sociedade tinha seu modo de produ-
ção da vida material e este condicionava a vivência num dado grupo social.
Essa é uma visão estrutural da sociedade, determinista e materialista, em que a via de mu-
dança é a revolucionária. Essa ideia clássica leninista-marxista foi questionada. Pensemos! O que
realmente é mais importante e produz a vida em sociedade? São os desejos, as ideias, a cultura
ou a produção material? Ou ambos são importantes? Na visão de Thompson, todos são impor-
tantes.
Muitos historiadores, entre eles Thompson, não concordam mais com essa tese marxista na
íntegra, por isso dissemos que ele é neomarxista. Assim, a crítica a essa concepção de história
não aceitará mais modelos para encaixarmos a sociedade neles. Nas palavras de Thompson:
GLOSSÁRIO
Se recuso tanto a analogia da base e superestrutura quanto a prioridade inter-
Estruturalismo:
pretativa atribuída ao econômico, em que sentido me insiro na tradição mar-
Tendência de várias
xista? Somente, eu temo, no sentido em que Karl Marx, em si, inseria-se. Pois
Ciências Humanas
não há dificuldade em demonstrar quanto as versões reducionistas e economi-
visando definir um fato
cistas estão distantes do pensamento de Marx. “Sem produção não há História,
humano em função de
insistiu R.S. Sharma oportunamente. Mas, devemos dizer também: sem cultura
um conjunto organi-
não há produção (grifo nosso). (THOMPSON, 2001, p. 258)
zado e prestar contas
desse com a ajuda de
Todavia, não é apenas o modelo marxista que está em crise. Também a proposição braude- modelos invariantes
liana, traduzida na História das Mentalidades, é criticada principalmente nos anos 1980 e 1990. (estruturas sociais, tem-
De acordo com esse modelo, as estruturas mudam tão lentamente ao longo do tempo que até porais, espaciais).
Paradigma: Noção
poderíamos dizer que elas são praticamente imóveis. Também, no estudo clássico de Fernand ou modelo teórico
Braudel, podemos dizer que há a pretensão de construir uma história total e a valorização do que organiza o campo
mental. Todavia, os questionamentos apareceram afirmando que não precisam do conceito de da reflexão de uma
mentalidades (papel das ideias e dos sentimentos na conservação e/ou criação dos mundos so- disciplina das ciências
ciais) e que era impossível fazer uma história total. humanas.
Anos 1980 - Reação ao
A crítica e a crise advêm também da fragmentação dos temas da História. Há dificuldade em Estruturalismo: Essa
responder como as elaborações mentais, produto da cultura, se relacionam com o mundo social e a tendência tem sido
vida cotidiana. A História Cultural e Social não trabalham com essa concepção. Após os anos 1980, criticada por favore-
a História Cultural ganhou terreno diante dos trabalhos historiográficos, rechaçou a concepção am- cer forças estruturais
bígua de mentalidade e passou a problematizar tudo, sem a intenção de fazer história total. determinísticas em de-
trimento dos esforços
Você já observou que todas as vezes que temos crises (de qualquer natureza) somos força- pessoais dos indivíduos
dos a pensar sobre elas e buscar respostas? Com relação ao debate sobre a crise dos paradigmas em atuar e modificar a
nas Ciências Sociais e Humanas, principalmente na História, não tem sido diferente. Vejamos en- sociedade.
tão um fragmento de texto que analisa a sociedade de Bali/Indonésia, do antropólogo norue-
guês Fredrik Barth (2000).
Barth estudou a sociedade de Bali (sociedade complexa) e formulou a seguinte pergunta:
qual é a melhor maneira de estudar uma sociedade, superando esquemas desacreditados (es-
quemas estruturalistas, por exemplo) e articulando as características do que é observado? Antes
de tudo, vamos entender qual é a realidade que o antropólogo se propõe a analisar. Em suas
palavras:
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UAB/Unimontes - 3º Período
A primeira advertência de Barth (2000) é: em vez de tentarmos fazer com que nossas teorias
GLOSSARIO deem conta do que efetivamente encontramos, somos levados a escolher algum padrão claro e
delimitado em meio a esse cenário confuso. A segunda advertência é considerar melhor o con-
Ambíguo: Que se pode
tomar em mais de um
texto histórico vivido e a práxis, considerando que a sociedade está em constante mudança. En-
sentido, indeterminado, fim, há também a questão do mundo material ser moldado pela magia, pela virtude, mas igual-
impreciso, incerto. mente pelo trabalho, o que explica a tradição e as mudanças convivendo num mesmo espaço.
Positivismo: Enfoque Feita essa consideração, podemos então compreender os caminhos da História Social e Cul-
filosófico ou científico tual, que é o mote central de nossa disciplina.
que reduz o conhe-
cimento do universo
unicamente aos
A escolha pelo caminho interdisciplinar foi uma atitude imprescindível aos historiadores do
social e do cultural. Tal preceito serviu para que novos problemas, métodos e abordagens de pes-
quisa histórica pudessem fazer parte de uma História que lida com a complexidade da sociedade.
O termo social, de significação vaga e extensa, desde os anos 1970, ocupou a maioria dos
títulos dos trabalhos historiográficos. A sua definição não é tarefa fácil. Entretanto, encontramos
uma definição, proposta por Georges Duby, mais aceita entre os historiadores. Para ele, o homem
em sociedade é o objeto da pesquisa histórica. Mas essa é uma afirmação ambígua, pois se assim
for, tudo é história social.
A historiadora Hebe Castro (1997) nos informa que há pelo menos três significados diferen-
tes (identificados por Eric Hobsbawm) para o termo social, que acompanha a História. Vejamos:
1º: o termo História Social aparecia vinculado a uma abordagem culturalista, enfatizando cos-
tumes e tradições nacionais; 2º: o termo foi usado, principalmente na Inglaterra, para designar
estudos ligados às ideias socialistas e ao mundo do trabalho, comumente chamada de História
Social do Trabalho e do movimento socialista. A ação política era o mote principal desse tipo de
abordagem; 3º: o termo foi usado para uma prática historiográfica que insistia em priorizar fenô-
menos coletivos sobre os individuais.
Partindo do que já foi dito até o momento, falta-nos compreender melhor qual foi a confor-
mação que a História Social teve no seu período áureo, qual seja, os anos 1960 a 1980. Você já
ouviu falar em quantificação e análises seriais? Você sabia que a História trabalhou e ainda traba-
lha com esse método?
A História Social fez uso da quantificação e de análises seriais, lançando mão de abordagens
mais estruturais, como a marxista ou mesmo a braudeliana. Na França e na Inglaterra, as altera-
ções não foram pequenas. Vejamos.
Na Inglaterra, a História Social desenvolveu-se como um campo específico da disciplina His-
tória. Os franceses, adeptos da História Social, como Ernest Labrousse, reivindicaram o reconheci-
mento dessa área como especialidade da História, dotada de problema e metodologia próprios.
Segundo Hebe Castro,
18
História - Teoria da História Social e Cultural
19
UAB/Unimontes - 3º Período
Glossário
4, o que é? Uma ideia
ou um conceito: O
algarismo 4 é um con-
ceito que representa
uma ideia, qual seja
a do número quatro
(tudo é número, diz
Pitágoras), que pode
ser representado por
inúmeras formas = IV,
IIII etc. Deduzimos que
conceito “são meca- A intenção é tipificar a maneira inglesa de namorar, assim como aparece aos olhos dos fran-
nismos mentais que
permitem ao homem ceses e alemães. A cena é o mercado de Smithfield: à direita, “o Excelentíssimo Sr. Brown” (filho
empreender, externa- mais velho do prefeito) está fazendo, à maneira fria e formal de seus compatriotas, uma declara-
mente, a luta com os ção de seus sentimentos a uma jovem senhorita filha de um duque. À esquerda “pode-se perce-
desafios específicos da ber um dignitário da Igreja, num acesso de mau humor, vendendo a esposa por dinheiro vivo, a
natureza externa e da um bacharel de campo – resultado triste mas bastante frequente, de nossa insular incompatibili-
realidade social”.
Os conceitos são utili- dade de gênios”.
zados como ferramen- A figura 8 faz parte do estudo de Thompson sobre os costumes na Inglaterra do século XVIII.
tas mentais que tornam Ele analisa a figura e também identifica uma série de anúncios em jornais ingleses de esposas
possível o conheci- sendo vendidas no mercado público.
mento por parte do O perfil profissional dos que ofereciam suas mulheres eram operários, jardineiros, padeiros,
intelecto, bem como a
operacionalização da carroceiros, cocheiros, negociantes, vendedores ambulantes e barqueiros, não se configurando
ciência em tela. Todo como ocupações de luxo para a época.
conceito tem atrás de O ritual era composto de anúncio público no jornal. A venda era feita em espaço público e a
si, animando-o, uma ou mulher era levada ao mercado presa por uma corda (em geral em volta do pescoço – ato que ela
várias ideias. concordava e que simbolicamente a humilhava). Havia o consentimento da mulher e no momen-
Fonte: Disponível em
http://www.mundo- to da entrega dessa mulher ao outro homem era feita numa cerimônia semelhante ao casamen-
dosfilosofos.com.br/ to. Situação intrigante e reveladora.
guilherme2.htm Acesso A interpretação desse historiador para tal prática cultural existente na Inglaterra do século
em 09 jul. 2009. XVIII é que este ritual da cultura plebleia – a venda de esposas – não pode ser comparado a uma
venda brutal de gado. Mas, para ele, é mais uma maneira dos casais se separarem e estabelece-
rem novos vínculos.
O autor informa ainda que tudo é arranjado anteriormente, logo, essa prática podia indicar
também um artifício usado pelas mulheres para anular o seu casamento.
Após a segunda metade do século XIX, a venda de esposas modificou como prática social.
No máximo, as pessoas passaram a assinar um contrato de separação, geralmente em um bar.
Para o historiador, essa prática só tem lugar numa sociedade em que as instituições colocam a
mulher numa posição inferior ou impotente. Entretanto, não advoga que as mulheres tenham
sido vitimadas (apesar de admitir que algumas foram vítimas), mas para ele é mais provável que
a venda de esposa possa significar a busca da independência e a demonstração de vitalidade se-
xual (THOMPSON, 1998, p.305-42).
Esse estudo levou o historiador a perceber que, para dar voz às pessoas comuns, ele preci-
sava modificar as fontes e os métodos para explorá-la. A técnica da história oral, os ritos, as ima-
gens, os documentos de inquisição, os processos judiciais e os inquéritos policiais foram utiliza-
20
História - Teoria da História Social e Cultural
dos como fontes para a História Social. O objetivo era conhecer o cotidiano e os costumes das
pessoas comuns. Isso evidencia o resultado do intenso intercâmbio com a Antropologia, para a
História Social.
Diante do exposto, até meados dos anos 1980, os franceses dos Annales e os neomarxistas
ingleses trabalharam com uma “história social que caminhava para os domínios do cultural, bus-
cando ver como as práticas e experiências, sobretudo dos homens comuns” se processaram na
vivência social (PESAVENTO, 2004, p. 32).
Diante da multiplicação de objetos, fontes e abordagens para a História, a denominação de
História Social como uma especialidade da disciplina História cai por terra. Entretanto, dizer que
um trabalho possui uma faceta social é o mesmo que afirmar que ele “prioriza a experiência hu-
mana e os processos de diferenciação e individuação dos comportamentos e identidades coleti-
vas na explicação histórica” (CASTRO, 1997. p. 54). Nesse sentido, podemos afirmar que o “Social”
tende a ser uma categoria de análise abrangente e permeia todas as abordagens em História.
Assinalamos apenas que existem historiadores que defendem a História Social como uma espe-
cialidade da História.
Assim sendo, podemos enfim afirmar que a História Social caminhou para uma História So-
cial do Cultural. Segundo Lara (1997), Peter Burke aponta uma questão importante: não é possí-
vel pensar em História Social e História Cultural caminhando estanques, ou uma se sobrepondo à
outra. Na verdade, os objetos e os problemas dos estudos em história necessitam compreender a
dimensão social e cultural, e vice-versa. Afirma, ainda, que “a associação entre as duas nos permi-
te fugir à fragmentação, à despolitização e ao diletantismo” (LARA, 1997, p. 30).
Todavia, é preciso esclarecer que os bons trabalhos de história têm se situado na interseção
de uma modalidade e outra, sem contar ainda que a compartimentação do saber e a especializa-
ção deste têm causado dificuldades entre os historiadores, pois nem sempre um entende o que
o outro fala. Há que se considerar ainda que não exista fatos que sejam exclusivamente econômi-
cos, políticos ou culturais. Todas as dimensões da realidade social interagem ou, rigorosamente,
sequer existem como dimensões separadas (BARROS, 2005). Sendo assim, optamos em estudar
essas duas dimensões da história (social e cultural) integradas.
Vamos pensar aqui algumas possíveis razões que motivaram você a se tornar um profissio-
nal da área de História. Entre tantas razões, você pode dizer que sempre ficou sensibilizado pelos
acontecimentos que ocorriam em sua cidade, ou que teve um professor de História que o mo-
tivou muito, que as indagações que você fazia sobre as coisas do mundo eram esclarecidas, em
parte, pelo movimento do pensamento histórico etc. Certamente, você elaborará muitas outras
razões que justifiquem a sua escolha para ingressar no Curso de História da Unimontes. Entretan-
to, um aspecto parece estar presente nessas escolhas de modo geral: a sensibilidade pela área de
História, certo?
Essa percepção na História motivou e modificou os caminhos de Clio. Iniciemos então por
Jules Michelet.
No século XIX, num momento em que a produção historiográfica estava majoritariamente
ligada a uma História Metódica (ou corriqueiramente chamada de positivista), raras foram as es-
colhas de historiadores que se sensibilizaram com outra maneira de fazer História.
Referimo-nos aos historiadores que não queriam falar de heróis, de grandes homens e seus
feitos, de se prenderem exclusivamente a documentos escritos e a fazerem uma história factual.
Como você um dia decidiu que queria estudar História e buscar essa “lente” para leitura do
mundo, historiadores como Jules Michelet e Jakob Burckhardt (1818 - 1897) questionaram a sua
época e viram o mundo ao seu redor diferentemente dos positivistas. Eles também queriam a
lente da história para ler o mundo. O historiador e filósofo suíço Jakob Burckhardt quebrou com
a sequenciação temporal da história factual. Já o francês Jules Michelet (1798 -1874), por exem-
plo, escolheu como objeto de seu estudo o povo, as massas, entendendo-as como principais
agentes de mudança social (o que para a época não era nada comum).
21
UAB/Unimontes - 3º Período
Figura 9: Jules ►
Michelet. Destacamos
as seguintes obras do
autor.
Fonte: Disponível em
http://dic.academic.ru/
pictures/wiki/files/74/Ju-
les_Michelet.jpg. Acesso
em 09 jul. 2009.
Na figura 9, observe a postura do historiador e pense sobre a função e circulação dos livros,
os quais ganham destaque nos planos dessa pintura, além do personagem. Esses livros podem
indicar a valorização da leitura, da escrita e do conhecimento, valores caros para a sociedade do
século XIX.
Como falamos de novas maneiras de ler o mundo, podemos ainda identificar outras influên-
cias para a História advindas de outras áreas de conhecimento. Vejamos.
Para saber mais quem O movimento de questionar o real não vai se restringir à História. Até então, esse real (mun-
foi Jacques Lacan, as-
sista ao filme que você do vivido principalmente no século XIX) era visto como factual, progressivo e com verdades ab-
mesmo poderá baixar solutas.
do youtube: http:// Destacamos alguns desses personagens que atuaram em diferentes áreas para que você
www.youtube.com/ possa ter ideia do que essas pessoas questionavam ao seu tempo. Vejamos:
watch?v=o4l3LzKsHJg Antropologia: Marcel Mauss (1872-1950). Defendeu que os homens elaboram formas cifra-
&hl=pt-BR Jorge Forbes
fala sobre a revolução das (imagens, representação) de representar o mundo.
que Jacques Lacan pro- Filosofia, Ciência Política e Crítica Literária:
moveu na psicanálise Walter Benjamin (1892-1940). Parte do conceito marxista de mercadoria para apresentá-la
ao retomar e avançar as como fantasmagórica: imagens de desejo, ilusórias. Trabalhou com o imaginário social e suas re-
descobertas de Freud. presentações.
Acesso em 09 jul. 2009.
Psicologia: Sigmund Freud (1856-1939) e Carl G. Jung (1875-1961). Seus trabalhos abrem ca-
minho para estudos sobre o simbólico e o inconsciente.
Sociologia: Émile Durkheim (1858-1917). Falava de um processo de construção mental da
realidade, produtor de coesão social e de legitimação de uma ordem instituída por meio de
ideias, de imagens e práticas dotadas de significado. Sintetizou a ideia de que o progresso consti-
tui uma ameaça às estruturas éticas e sociais (anomia).
Você observou o que há em comum no pensamento desses personagens que questionaram
a maneira de ler o mundo na virada do século XIX para o XX?
22
História - Teoria da História Social e Cultural
É preciso ter em mente que todo e qualquer objeto produzido pelos homens e mulheres,
de qualquer segmento social, classe, etnia e cor são objetos culturais. Para sermos mais exatos:
a vida cotidiana está entranhada no mundo da cultura. Se assim é verdade, todo indivíduo, sozi-
nho ou em comunidade, produz cultura tanto quanto um artista, um artesão ou um intelectual.
Quando nos comunicamos, escrevemos um livro ou um material como esse que você lê agora, a
própria leitura, a comunicação oral, escrita ou imagética... Tudo isso é produção de CULTURA!
Cultura é então um conjunto de significados partilhados e construídos pelos homens para
explicar o mundo. A cultura é ainda uma forma de expressão e tradução da realidade que se faz
de forma simbólica, ou seja, admite-se que os sentidos conferidos às palavras, às coisas, às ações
e aos atores sociais se apresentam de forma cifrada, portanto já um significado e uma apreciação
valorativa (PESAVENTO, 2004, p. 15).
Feito esse esclarecimento do significado do termo cultura, ainda nos falta compreender o
sentido do termo quando o mesmo aparece na expressão “História Cultural”. Não se trata aqui
de entender pura e simplesmente uma questão de terminologia, mas essencialmente os mo-
dos como formulamos problemas e abordamos a documentação na atividade histórica ligada às
tradições historiográficas distintas (LARA, 1997). Sendo assim, vamos buscar esclarecimento em
Georges Duby (1990), que irá explicitar essa acepção de maneira mais aceita pelos historiadores:
“Este campo historiográfico estudaria dentro de um contexto social os mecanismos de produção
(e recepção) dos objetos culturais” (DUBY, G. apud BARROS, 2005, p. 4).
Você já percebeu que pessoas costumam rotular algumas sociedades como “altas culturas”?
Um exemplo claro disso é afirmar que Incas, Maias e Astecas eram altas culturas na América an-
tes da chegada de Colombo. Todavia, você já se perguntou sobre as outras culturas contemporâ-
23
UAB/Unimontes - 3º Período
ATIVIDADE neas a esses povos (como, por exemplo, a cultura Moche, os povos Tlaxcaltecas e outros)? Como
Pelo conceito de cultu- é que os classificaríamos então? Será que é correto designá-los de culturas menores ou baixas?
ra que você estudou, Isso não parece fazer sentido, concorda?
analise a figura mexica- Na verdade, a partir da influência dos estudos antropológicos, os historiadores aprenderam
na. São registros ricos que as culturas não devem ser hierarquizadas e qualificadas como uma sendo melhor que a ou-
do imaginário coletivo tra, pois cada sociedade em sua vivência cotidiana elege a sua maneira de ver o mundo e escolhe
sobre a vida e a morte,
e documentos precio- os modos de vivência na comunidade. Desta forma, não cabe juízo de valor quanto a essas esco-
sos para a compreen- lhas, mas sim o entendimento do modo como essas escolhas foram feitas pelos grupos sociais e
são das representações os seus significados para uma dada comunidade.
do universo religioso. Todavia, é fundamental o aprofundamento do conhecimento das características marcan-
tes da História Cultural de acordo com os destaques sugeridos pelo professor Ronaldo Vainfas
(1997). Vejamos:
1ª: recusa do conceito vago de mentalidade (influência estruturalista);
2º: preocupação com o popular;
3º: valorização das estratificações e dos conflitos socioculturais como objeto de investigação;
Sendo assim, a História Cultural é aquela a que podemos atribuir:
24
História - Teoria da História Social e Cultural
fotografias, pinturas, entrevistas e análise do discurso, veiculados por revistas e jornais para com-
preender os símbolos e os signos culturais.
No eixo dos sujeitos tidos como objetos da História Cultural, identificamos aqueles que pro-
duzem e difundem uma dada cultura, quer seja no âmbito institucional (sistemas de comunica-
ção, indústria cultural, sistemas educativos, organizações religiosas e socioculturais) ou não ins-
titucionalizado. Aqui podem ser concentrados trabalhos que estudam, por exemplo, o papel da
Igreja, da escola, das associações, jornais, TV na sociedade em determinado tempo e lugar, entre
outros.
O eixo das práticas e dos processos culturais concentra os estudos que preocupam com o
meio de produção e recepção da cultura. As práticas podem ser entendidas como a construção
de um livro, a leitura, modalidades de ensino, técnicas artísticas, os modos que os homens e mu-
lheres falam e se calam, comem, bebem, dormem, conversam, discutem, morrem, vivem etc. Os
processos, por sua vez, são os movimentos históricos que levam ao entendimento da maneira
como uma dada situação ocorreu e/ou ainda ocorre, segundo normas, métodos e técnicas. A
constante indeterminação do social faz com que os homens se definam ao “caminhar”; os regis-
tros e as evidências da vivência dos sujeitos permitem entender o processo histórico por meio
das mediações e mediadores culturais.
O eixo dos padrões pode ser entendido como aquele objeto da História Cultural preocupa-
do com as diferentes “visões de mundo, os sistemas normativos, os modos de vida relacionados
aos vários grupos sociais, as concepções relativas a estes grupos, as ideias disseminadas através
de correntes e movimentos de diversos tipos” (BARROS, 2006, p.6) e os modos de pensar e sentir
coletivamente. O fragmento do texto de Fredrick Barth é um dos vários exemplos que podería-
mos inserir nesse eixo a título de exemplo. Também, vamos destacar o trabalho de Libby e Paiva
(2000) ao estudarem a escravidão no Brasil: relações sociais, acordos e conflitos.
Agora, veja bem, a definição do objeto de estudo parece ficar “manco” se não tiver próximo
a si a explicação/compreensão dos campos temáticos, conceitos e métodos da História Cultural.
Essa questão fará parte da Unidade II, e certamente você irá dialogar e relacionar essas unidades
o tempo inteiro; volte na leitura sempre que as dúvidas aparecerem, discutindo com o tutor e o
professor formador do seu curso.
Referências
BARROS, José D’ Assunção. A História Cultural Francesa: caminhos de interpretação. Fenix: Re-
vista de História e Estudos Culturais, v.2, ano II, nº 4, Out/Nov/dez/2005. Disponível em: www.
revistafenix.pro.br
BARTH, Fredrik. O guru, o iniciador e outras variações antropológicas. Rio de Janeiro: Contra
Capa Livraria, 2000.
BOTO, Carlota. Nova História e seus velhos dilemas. Revista USP. Dossiê Nova História, nº 23,
set-Nov/1994. Acesso em 05/06/2009
BOURDÉ, Guy & MARTIN, Hervé. As Escolas Históricas. Portugal: Publicações Europa-América\
Fórum da História, 2003, 220p.
BOURDÉ, Guy e MARTIN, Hervé.As Escolas Históricas. Lisboa: Publicações Europa-. América,
1983. cap. VII, p.119-135.
BURKE, Peter (org). A escrita da História: novas perspectivas. São Paulo: Editora Unesp, 1992,
355p.
CASTRO, Hebe. História Social. In: CARDOSO, Ciro Flamarion& VAINFAS, Ronaldo (orgs). Domínios
da História: Ensaios de Teoria e Metodologia. Rio de Janeiro: Elsevier, 1997, p.45-60.
DOSSE, François. A História em migalhas: dos Annales à nova história. São Paulo: Edusc, 2003,
393 p.
25
UAB/Unimontes - 3º Período
LARA, Silvia Hunold. História Cultural e História Social. Revista Diálogos, vol. 1, nº 1, 1997.
http://www.dialogos.uem.br/viewissue.php Acesso em 05 jun.2009.
LE GOFF, Jacques; LADURIE, Le Roy; DUBY, Georges at alli. A Nova História. Rio de Janeiro, Lugar
da História/Edições 70, 1991, 89p.
LIBBY, Douglas Cole & PAIVA, Eduardo França. A escravidão no Brasil: relações sociais, acordos e
conflitos. São Paulo: Moderna, 2000, 80p. (Coleção Polêmica)
LUNA, Francisco Vidal e COSTA, Iraci Del Nero da. Minas Colonial: Economia e Sociedade. São
Paulo: Estudos Econômicos/FIPE/FRONTEIRA, 1982.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & História Cultural. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2004,
132p (Coleções História & Reflexões, 5)
REIS, José Carlos. A Escola dos Annales: a inovação em História. São Paulo: Paz e Terra, 2000,
200p.
Revista Annales, História, Ciências Sociais. 58. ed., nº 01, jan/fev/2003. Paris, Armand Colin, 2003.
THOMPSON, E. P. As peculiaridades dos Ingleses e outros artigos. São Paulo: Unicamp, 2001.
THOMPSON, E. P. Costumes em Comum: Estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo:
Cia das Letras, 1998.
VAINFAS, Ronaldo. História das Mentalidades e História Cultural. In: CARDOSO, Ciro Flamarion &
VAINFAS, Ronaldo (orgs). Domínios da História: Ensaios de Teoria e Metodologia. Rio de Janeiro:
Elsevier, 1997, p. 127-163.
26
História - Teoria da História Social e Cultural
Unidade 2
O olhar da história cultural e social:
conceitos, métodos e campos
temáticos
Dayse Lúcide Silva Santos
2.1 Introdução
Esta segunda unidade da disciplina visa aprofundar o estudo da atual faceta de Clio. Tal face
revelará mais detalhes sobre a História Social e Cultural. Veremos alguns conceitos, métodos e
campos temáticos de modo a requerer o seu lugar como um campo de especialidade da História.
Optamos em dividir o assunto dessa unidade em três grades tópicos. A primeira parte versa-
rá sobre os “Conceitos e delimitações”, cujo objetivo é delinear alguns conceitos importantes na
área de História Social e Cultural.
A segunda parte desse estudo abarcará o item 02 e tem como título “A metodologia da His-
tória Social e Cultural: como fazer História?”. Esse momento é muito importante para você, es-
tudante de História, pois assim conhecerá os métodos utilizados pela História para construir a
interpretação histórica.
Por fim, e não menos importante, o último item dessa unidade versará sobre “Campos temá-
ticos da História Social e Cultural”. Nesse item é importante delimitar os temas que frequentam
essas duas áreas de especialidade da História. Ressaltamos desde já que existe atualmente gran-
de aproximação entre as duas áreas de especialidade da História.
Reforçamos novamente que o significado desta disciplina para você, que já está se preocu-
pando em definir o seu projeto de pesquisa, poderá contar com ferramentas indispensáveis dis-
cutidas nessa disciplina.
Esclareça todas as suas dúvidas com o seu professor formador e com a equipe de tutores
deste curso. Tenha certeza que todos nós desejamos contribuir e continuar a ver o seu cresci-
mento.
27
UAB/Unimontes - 3º Período
Você pode escolher se relacionar com mais frequência com as pessoas que você pensa que
o têm em alto conceito, ou seja, aqueles que, num certo ponto de vista, viu em você mais atri-
GLOSSÁRIO butos que permitiram compreendê-lo e classificá-lo como “bom”, fazendo uma ideia positiva de
Epistemologia: Do você. Esse é um exemplo simples que denota um dos usos no senso comum do termo conceito.
grego epistêmê que Na ciência, tal termo é utilizado como ferramenta mental que torna possível o conhecimen-
significa ciência. Estu- to por parte do intelecto, bem como a operacionalização da ciência histórica. Sendo assim, con-
do da Ciência, de seus ceitos são referências, são conjuntos de ferramentas que nos permitem conhecer e analisar uma
métodos e princípios
à luz de um enfoque realidade social por parte de operações de nosso intelecto.
científico e filosófico. Você pode estar a se perguntar: qual é a função de um conceito? Ora, se o conceito é um
Reflexão sobre o valor conjunto de ferramentas que me permite conhecer, aí está a sua importância: o conhecimento.
da ciência. Utilizamos os conceitos para nos referenciar, conhecer e ir além, aplicando/criando novos concei-
Dialética: Na Grécia tos sempre que a complexidade do social e nossas operações intelectuais assim exigirem.
Antiga, a arte do diálo-
go, da contraposição e Na unidade I já falamos dos domínios, das dimensões e objetos de Clio. Interessa-nos nesse
contradição de ideias momento entender melhor a classificação dentro das Áreas de História Cultural e História Social.
que leva a outras ideias Sendo assim, optamos em demonstrar uma das delimitações possíveis, abordando as linhas
(Platão). Arte da discus- de pesquisa definidas na Unicamp. Ressaltamos que em outras universidades a classificação é di-
são e da argumentação ferente, e cada universidade justifica as escolhas de suas linhas de pesquisa. Todavia, essas deli-
visando sintetizar
progressivamente teses mitações servem para melhor estudar a História, que, como já dissemos anteriormente, é resul-
e antíteses num único tado da fragmentação e abertura da História para diversas searas do conhecimento. Vejamos a
discurso (Hegel, XIX). delimitação da Unicamp:
Quadro 3
Área de especialidade: história cultural
Esta área de concentração investiga a produção do conhecimento histórico em múltiplas temá-
ticas. Embora abrigue diferentes abordagens, a História Cultural assume alguns pontos funda-
mentais: considera a cultura como dimensão constitutiva do social, mais do que determinada
por este; entende que o historiador constrói uma leitura do passado, marcada por sua subjetivi-
dade, a partir das interpretações contidas nos documentos-monumentos; assume a importân-
cia da narratividade na historicização dos acontecimentos.
1. Sociabilidade e Cultura na Améri- Esta linha de pesquisa dedica-se a reflexões sobre a
ca Luso-Espanhola história e a historiografia dos impérios coloniais da
época moderna. Em termos metodológicos, os es-
tudos concentram-se nas representações e práticas
culturais das sociedades das Américas portuguesa e
hispânica, e os trabalhos e pesquisas incidem atual-
mente sobre temas ligados à cartografia e navegação,
religião e religiosidade, história da leitura, e alimenta-
ção, além de temáticas que envolvem as especificida-
des e intercâmbios político-culturais entre as metró-
poles e suas respectivas colônias.
28
História - Teoria da História Social e Cultural
Você deve ter observado que, ao delimitar as linhas de pesquisa, alguns conceitos são tam-
bém aplicáveis. Destacaremos aqui alguns, como: sensibilidade, cultura, prática, representação,
gênero, identidades, subjetividades, símbolos, etc. Ao analisar o quadro que compõe a História
Social, você perceberá a interpenetração do uso dos conceitos nessas áreas. Vejamos.
Quadro 4
Área de especialidade: história social
Esta área dedica-se ao estudo das relações sociais e seus significados para os diversos sujeitos
históricos. A ênfase das pesquisas recai sobre as práticas dos grupos subalternos, suas relações
horizontais e verticais de confronto e solidariedade, bem como sobre os processos de constru-
ção de identidades e diferenças. Interessam também aos pesquisadores dessa área as maneiras
pelas quais tais grupos foram vistos e representados por intelectuais, autoridades, empresários
e outros agentes com os quais se defrontam em diferentes situações de sua experiência coti-
diana.
1. História Social da Esta linha de pesquisa desenvolve uma reflexão política, historiográ-
Cultura fica e metodológica sobre o universo da cultura centrada nos sujeitos
históricos e em sua diversidade, enfocando os confrontos culturais
presentes em diferentes espaços e práticas sociais. Três grandes eixos
articulam o conjunto de trabalhos em andamento: um dedica-se a ve-
rificar os limites e possibilidades das abordagens apoiadas em critérios
étnicos e raciais, enfatizando a experiência de negros, africanos e seus
descendentes. Outro se volta especificamente para os intelectuais, em
especial os literatos e folcloristas, que pensaram, tematizaram e inves-
tigaram aquilo que definiam como “o popular”. O terceiro toma como
objeto justamente a abstração que foi colocada no lugar destes diver-
sos sujeitos, ou seja, “a Nação” ou “o Povo” em suas tradições festivas
e coletivas das ruas, procurando múltiplos significados em situações
que a bibliografia elegeu como expressões da identidade brasileira.
29
UAB/Unimontes - 3º Período
2. História Social do Esta linha tem como tema principal o mundo do trabalho, sem que
Trabalho isto signifique uma delimitação rígida dos objetos de pesquisa. Inte-
ressam tanto participações individuais quanto coletivas que, de al-
gum modo, apresentem vínculos históricos com as experiências do
trabalho. A linha contempla estudos dos movimentos sociais, dos pro-
cessos produtivos, da técnica, das instituições, da cultura, do lazer, da
saúde etc., relacionados com a história dos trabalhadores urbanos e
rurais. São também objeto de análise, os diferentes projetos políticos,
os movimentos formais e informais, os valores e concepções que in-
formam as relações de classe.
Observamos também o uso dos conceitos em História Social. Podemos destacar do quadro
os conceitos de cultura popular, identidade, cotidiano, prática, diferença e muitos outros suben-
tendidos na descrição.
Sabemos que o novo mundo de Clio é um universo sem fronteiras e verdades absolutas.
Sabemos que ele é constituído de verdades hoje e de inverdades amanhã, ou melhor, verdades
construídas agora e desconstruídas depois. Todavia, os resultados são os mais próximos do que
possa ter acontecido no passado.
Optamos em trabalhar alguns conceitos utilizados na história Social e Cultural, bem como
destacando estudos acadêmicos que os aplicam. Os próximos itens discutem tais conceitos.
30
História - Teoria da História Social e Cultural
31
UAB/Unimontes - 3º Período
A figura de nosso exemplo é uma pintura do final do século XIX e representa um episódio
que ocorreu em Minas Gerais, no século XVIII – o enforcamento de Tiradentes. Para aplicarmos o
conceito de representação a essa pintura, vejamos no Box 2 o que teríamos que entender:
BOX 2
Dica • Essa pintura não é a realidade, não é uma cópia, não é um reflexo. É uma representação
Bronislaw Baczko: construída por uma dada sociedade;
Entende que o ima- • O pintor pode ser visto ou entendido como um filtro cultural (assim como os fotógrafos)
ginário é histórico e
datado, por isso cada que percebeu atributos, configurações de uma época passada (século XVIII) e a sua pró-
época constrói as suas pria época (XIX) para construir o seu quadro representativo do enforcamento de Tiraden-
representações para tes;
dar sentido ao mundo • Ao observamos a figura, vemos que ela “apresenta algo de novo”, que recoloca uma au-
vivido, podendo ser sência (que é o movimento da Inconfidência e o enforcamento de Tiradentes), tornando
expresso por imagens,
sons, palavras, discur- -a uma sensível presença sob o olhar dos homens do século XIX.
sos, crenças, mitos, • Observamos ainda que há associação, identificação e reconhecimento do que é repre-
ritos, práticas etc. sentado nessa figura não apenas com o movimento de Inconfidência Mineira e o Tiraden-
Cornélius Castoriadis: tes, mas com atributos considerados importantes pela sociedade do século XIX. Destaca-
O filósofo entende que mos, por exemplo, o forte apelo à tragédia ocorrida com a de Jesus Cristo.
o imaginário é uma
invenção do ser huma- • Entendemos, então, que as representações são portadoras de simbologismos. Ou seja, di-
no como habilidade zem mais do que aquilo que mostram e anunciam
criadora e recriadora
do real. Fonte: (PESAVENTO, 2004, p. 41).
Fonte: PESAVENTO, S.
J. História & História
Cultural. 2. ed. Belo As representações não possuem valor por serem verdade, mas o seu valor é estabelecido
Horizonte: Autêntica, por evocar o real, por representar, ou melhor, por serem verossímeis (semelhante, parece, pro-
2004, p. 43-4. vável). Segundo Sandra Jatahy Pesavento, podemos resumir o conceito de representação para
a História Cultural como sendo um modo de “decifrar a realidade do passado por meio das suas
representações, tentando chegar àquelas formas discursivas e imagéticas, pelas quais os homens
expressam a si próprios e o mundo” (PESAVENTO, 2004, p. 42). Vejamos um exemplo:
32
História - Teoria da História Social e Cultural
(pintores, fotógrafos, escritores etc.) pelos que produziram os indícios com os quais os historiado-
res trabalharão (as fontes). Todavia, essa concepção vem a calhar na aplicação de trabalhos mo-
nográficos que forem produzidos no campo da História Cultural.
33
UAB/Unimontes - 3º Período
Na realidade, a pintura de Pedro Américo nos remete ao imaginário cristão por apresentar
algumas pistas, tais como: a semelhança do Tiradentes pintado no quadro de Pedro Américo
(construído) com a imagem de Cristo; relacionamos a dor da crucificação com a dor do enfor-
camento, por exemplo. Tudo isso nos permitiu fazer algumas dessas aproximações e entender
sobre o que pensavam os homens do século XIX (do que o século XVIII), assim como aproximar o
quadro pintado de Tiradentes e a imagem de Cristo, podemos dizer que são os arquétipos imagi-
nários. Analisemos ainda uma pintura recente sobre a Inconfidência Mineira, de 1986.
Observamos que novos arquétipos foram inseridos, tais como a ideia da liberdade, repre-
sentada pela lamparina. O corpo de Tiradentes, embora esquartejado, deixa mais nítida a ideia.
Dica
O que expressa o mito
que produzimos nos
dias de hoje como,
por exemplo, Michael
Jackson, a respeito do
imaginário do homem
do século XXI?
▲ ▲
Figura 17: Pintura Tiradentes esquartejado (1893) Óleo Figura 18: Pintura de João Câmara da Silva, Mural
sobre tela de Pedro Américo 262 x 162 cm. da Inconfidência mineira de 1981/1986. Acrílico
Fonte: Museu Mariano Procópio, Juiz de Fora/ MG. Disponí- sobre tela, 400x700 cm.
vel em http://4.bp.blogspot.com/_CfuGnoP_wVw/ShfkQzF- Fonte: Panteão da Pátria – Tancredo Neves/Brasília.
vxNI/AAAAAAAAG3Y/0Q8ovWeT8PU/s1600-h/2005tiraden- Disponível em http://www.sc.df.gov.br/cgi-sys/suspen-
tes_esquartejado_151738.jpg. Acesso em 30 nov. 2010. dedpage.cgi Acesso em 09 jul.2009.
34
História - Teoria da História Social e Cultural
35
UAB/Unimontes - 3º Período
O que importa acentuar é que essa diferença, além de ser produzida histori-
camente no plano das condições sociais de existência, é também construída,
forjada na percepção de quem vê e enuncia o outro, descrito e avaliado pelo
discurso, figurado e representado por imagens. Há uma produção imaginária
deste ouro, que afirma a alteridade e a diferença, no tempo e no espaço. (PESA-
VENTO, 2004, p. 60).
36
História - Teoria da História Social e Cultural
Interessa-nos destacar aqui para vocês que a Europa enxergou o ritual da antropofagia
como horrendo, coisas de um povo atrasado e tantos outros atributos pejorativos. Quando pen- DICA
samos no conceito de alteridade, essas opiniões caem por terra. Apesar disso, essa figura repre- “Por milênios, o homem
senta um determinado modo de ver o novo mundo pelos olhos europeus, num dado momento foi caçador. Durante
de sua história. inúmeras persegui-
ções, ele aprendeu a
Considerando que o outro (o indígena) foi visto de uma dada maneira pelo viajante, neces- reconstruir as formas e
sariamente precisamos utilizar o conceito de alteridade para não cairmos em armadilhas inter- movimentos das presas
pretativas. Vejamos que o viajante que demonstrou medo e “covardia” não foi devorado no ritual invisíveis pelas pegadas
antropofágico, como podemos perceber na figura 21. Qual teria sido o motivo? Exatamente por- na lama, ramos quebra-
que demonstrou medo e sua carne não seria digna de ser devorada por um valente Tupinambá. dos, bolotas de esterco,
tufos de pêlos, plumas
O ritual de antropofagia não se justifica pela “fome” orgânica, mas sim por expressar um ritual em emaranhadas, odores
que os indígenas se apropriam da força e da coragem do “ser” que será devorado. estagnados.
Nesse sentido, precisamos parar para refletir sobre o significado das expressões culturais Aprendeu a farejar,
dos diferentes entre nós. Agindo dessa maneira, perceberemos a complexidade da sociedade registrar, interpretar e
que estudamos. Todo historiador que se preza não utiliza sua mundivisão para interpretar a visão classificar pistas infini-
tesimais como fios de
do outro. Dessa maneira, a produção de identidade é sempre dada com relação a uma alteridade barba. Aprendeu a fa-
com a qual se estabelece a relação. zer operações mentais
complexas com rapidez
fulminante, no interior
◄ Figura 22: A de um denso bosque
foto expressa a ou numa clareira cheia
desigualdade em de ciladas (GINZBURG,
nosso país. p. 151).
Fonte: Disponível em “Se a realidade é opaca,
http://www.diaadia. existem zonas privile-
pr.gov.br/tvpendrive/ giadas – sinais, indícios
modules/mylinks/visit.
– que permitem
php?cid=17&lid=3718.
Acesso em 09 jul. 2009. decifrá-la” (GINZBURG,
p. 177).
Fonte: GINZBURG,
Carlo. Mitos, Emblemas
e Sinais. São Paulo: Cia
das Letras, 1989.
37
UAB/Unimontes - 3º Período
Para Mary Del Priore (1997, p. 274), a história do cotidiano é a história dos pequenos prazeres,
dos detalhes quase invisíveis, dos dramas abafados, do banal, do insignificante, das coisas deixa-
das de lado. Entretanto, a aparente miudeza esconde a imensidão e a complexidade da vida.
Assim, cotidiano é também aquilo que se repete, rotineiramente, e que é quase imperceptível.
Atividade
Observe a figura 25 e
discuta, no ambiente
web Virtualmontes, as
características observa-
das na imagem que ca-
racterizam o cotidiano.
Caso você queira desenvolver o seu estudo de monografia utilizando o cotidiano como con-
ceito, deverá se questionar sobre os aspectos mais comuns e rotineiros da vida das pessoas, tais
como as práticas e rituais que caracterizam o dia a dia das pessoas comuns. São temas interes-
santes para investigação aqueles que interrogam sobre como os indivíduos viviam, namoravam,
noivavam e casavam, moravam, se divertiam, eram educados, nasciam e morriam.
38
História - Teoria da História Social e Cultural
Quadro 5
Métodos de fazer história
Não basta descrevermos os métodos. É preciso aprofundar um pouco mais. Vale lembrar os
detalhes a que Ginzburg se refere. Vejamos:
Assim, a proposta é que o Historiador haja tendo em vista a observação dos detalhes
aparentemente sem importância em detrimento do que é visível. O método do paradigma
39
UAB/Unimontes - 3º Período
indiciário chama a atenção exatamente sobre as regras mudas, aquelas que não são ditas nem
formalizadas, mas que atuam e influenciam normalmente a vida cotidiana.
Outro método que destacamos no quadro foi o de montagem. Walter Benjamin, citado por
Pesavento (2004), adverte-nos que, para dar algum significado à montagem feita através dos cru-
zamentos dos cacos da história, é preciso montar, combinar, compor, cruzar e revelar o detalhe.
Dessa maneira, a História usa o método em tela para dar relevância ao secundário, visando atin-
gir os sentidos partilhados pelos homens e mulheres que vivenciaram outro tempo (PESAVENTO,
2004, p. 64-5). O procedimento do historiador deve ser o de deslocar do texto ao extratexto, ou
seja: analisar profundamente a fonte (chamada de texto, mas podendo ser imagens, indícios, ca-
cos) e compreendê-la num contexto, exigindo do historiador erudição, bagagem de leitura e co-
nhecimento (extratexto é usado no sentido do que se relaciona com o texto, mas é externo a ele).
Por fim, destacamos também o método de descrição densa, cujo representante é o antro-
pólogo Clifford Geertz. Segundo a interpretação do método de descrição densa apresentado por
Pesavento (2004), a História pode ser uma ficção controlada, pois:
1º Indícios: o documento se converte em prova na argumentação do historiador e é a partir
de tais provas que se encaminha a demonstração explicativa da História;
2º Comprovação: a História se presta à testagem, à comprovação. O leitor pode fazer o ca-
minho do historiador ao confirmar “as coisas” num arquivo e a seguir as suas deduções;
3º Extratexto: esse recurso permite estabelecer analogias, contrastar, superpor e estabele-
cer nexos a partir da bagagem que o historiador possui para definir estratégias, realizar cruza-
mentos para compor a sua análise.
Frederik Barth, antropólogo, questiona o método de Geertz (2008) e deixa uma grande
contribuição para os historiadores pensarem o uso da “descrição densa” em seus trabalhos. Ini-
cialmente, ele nos adverte que temos que cuidar para não construirmos análises em colchas de
retalhos. Ou seja, análises parciais da sociedade sem dar conta de sua real complexidade, pois
para ele o objeto não pode ser fragmentado. Ainda, segundo Barth (2000), a análise de uma so-
ciedade devia contar com o uso da sociologia do conhecimento em seu sentido mais amplo, de
modo que evidencie as tradições e suas partes são construídas ao estudarmos os processos que
as geram. Por fim, ele adverte ainda que a cultura jamais deve ser pensada como homogênea,
mas sim no todo, pois alguns valores, crenças e modos de ver podem ser compartilhados por uns
e por outros não. Nesse sentido, o que não é compartilhado também é expressão de uma cultura
(BARTH, 2000).
Além dos três métodos ditos até aqui, podemos destacar para a área de História Social pelo
menos três importantes estratégias de fazer história, a saber: a História Quantitativa, a História
Serial e a História Oral.
Quadro 6
Estratégias de fazer história
HISTÓRIA DEMOGRÁFICA MÉTODO QUANTITATIVO
A demografia histórica deu característica Surgiu na década de 1950. Essa tendência
inusitada à História de família. O método de de analisar as fontes históricas buscando
reconstituição de famílias a partir de regis- sua inserção, classificação e análise histórica
tros paroquiais (Louis Henry) e a análise de a partir de fontes eleitorais, fiscais, demo-
composição das unidades domésticas (Peter gráficas, cartoriais e judiciais (contratos de
Laslett) trouxeram as massas para a história, casamentos, testamentos e inventários) fez
pois trabalhavam com dados agregados, mas proliferar os estudos sobre estratificação
tenderam a retirar-lhes a face humana. socioprofissional, estratégias matrimoniais,
alianças sociais, mobilidade geográfica e
social.
Principais representantes: Louis Henry e Peter Principal Representante: Ernest Labrousse
Laslett.
Fonte: Adaptado de CASTRO, Hebe. História Social. In: CARDOSO, Ciro Flamarion & VAINFAS, Ronaldo (orgs). Domínios da
História: Ensaios de Teoria e Metodologia. Rio de Janeiro: Elsevier, 1997, p. 45-60.
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História - Teoria da História Social e Cultural
Você deve estar se perguntando como é feito um trabalho na área de História Demográfica.
Antes de destacarmos um exemplo para você, saiba que a originalidade da demografia reside no
fato de não ter estatísticas e as fontes utilizadas pelos historiadores não possuir objetivos pura-
mente demográficos. Ana Volpi Scott e Dario Scottno artigo Cruzamento Nominativo de Fontes
afirmam:
Agora que você leu atentamente o modo pelo qual podemos reconstituir os dados a res-
peito das famílias que atuaram no passado, o historiador passa a compreender as suas inter-re-
lações, a sua atuação e o contexto em que viveram. Temas como a história da família, da criança
e da mulher, a análise das estruturas do parentesco, da sociabilidade, do patrimônio familiar, da
composição da força de trabalho com ênfase na mão de obra escrava e da imigração são domi-
nantes nos estudos de História demográfica no Brasil.
Entretanto, vale destacar que os métodos quantitativo e demográfico em História Social têm
encontrado algumas dificuldades. Tais dificuldades podem ser observadas ao identificar as infor-
mações quantificáveis de épocas passadas, podendo levar a análises pouco confiáveis. Todavia,
muitos estudos no Brasil têm sido relevantes e as questões que se colocam geralmente são:
Destacamos, ainda, que a metodologia da História Oral tem produzido grande avanço na
interpretação dos problemas levantados pela História Social e Cultural. A História Oral entendi-
da como metodologia não possui objeto de pesquisa, é interdisciplinar, é uma ferramenta para
conhecer a sociedade. Pode ser utilizada como método e como técnica de pesquisa qualitativa.
Como técnica, a História Oral é subjacente a outras metodologias que a utilizam como um recur-
so a mais. Já como método, que é o nosso interesse nesse estudo,
Quantas vezes você já não ouviu histórias e casos que teve vontade de escrever sobre eles?
Casos como aqueles que explicam a fundação de uma cidade ou as escolhas políticas num dado
lugar. Encontramos muitos memorialistas em diversas cidades do norte de Minas que registram
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UAB/Unimontes - 3º Período
casos semelhantes. Todavia, os historiadores vêm desenvolvendo o método da história oral que
requer alguns procedimentos indispensáveis à sua utilização. Vejamos.
Você acredita que quem sai por aí entrevistando as pessoas está fazendo Historia oral? Caso
sua resposta seja positiva, você se enganou. O simples fato de entrevistar alguém não lhe dá o di-
reito de afirmar que faz História oral. Todavia, o entrevistador, o entrevistado e a aparelhagem de
gravação são fundamentais para realizar História oral. Também, ela possui tempos próprios, por
exemplo: o tempo de escrita do projeto, o tempo da gravação e da confecção do documento es-
crito (transcrição) e o tempo da análise e sistematização da interpretação dada pelo historiador.
Vejamos a definição dada pelo CPDOC:
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História - Teoria da História Social e Cultural
Você já leu uma entrevista? Você sabia que as entrevistas são tomadas como fontes para a
História? Esses documentos nos permitem entender a maneira pela qual os indivíduos vivencia-
ram e interpretaram as mais diversas situações e modos de vida de um grupo social. Para o CP- DICA
DOC, o entendimento é que “isso torna o estudo da história mais concreto e próximo, facilitando
a apreensão do passado pelas gerações futuras e a compreensão das experiências vividas por Vale destacar que
a História Oral vem
outros.” ganhando espaço em
diversas universida-
des que atualmente
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UAB/Unimontes - 3º Período
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História - Teoria da História Social e Cultural
mos citar os estudos dos movimentos sindicais e a relação com Estado, o controle nas fábricas
e fora dele. Por exemplo, vejamos o estudo de Maria Auxiliadora Guzzo Decca, A vida fora das
fábricas: cotidiano operário em São Paulo de 1920 a 1934.
Nesse estudo, a autora estuda o redimensionamento e a racionalização das condições do
trabalho urbano, os agentes sociais que buscaram definir um padrão de vida para os operários,
objetivando reordenar o projeto de dominação burguesa na cidade de São Paulo. Entretanto,
ressalta a autora que apesar das investidas da burgue-
sia, o operariado construirá um modo próprio de se re-
lacionar com essa sociedade e seus reveses. ◄ Figura 30: Livro “A vida
fora das fábricas”
Fonte: Disponível em
2.4.3 História social do Brasil colonial e http://sindicalismo.
pessoal.bridge.com.br/
da escravidão DECA,%20Maria%20
A%20G.htm. Acesso em 09
jul. 2009.
BOX 3
Comentário de livros
O Diabo e a Terra de Santa Cruz, de Laura de Mello e Souza (Ed. Cia das Letras). Aproxi-
ma-se e ao mesmo tempo distancia-se do livro de Sérgio Buarque de Holanda, “Visão do Paraí-
so”. Fundamental para o conhecimento da religiosidade popular e das chamadas práticas de Dica
feitiçaria no Brasil colonial. É um belo ensaio de
Visões da Liberdade, de Sidney Chalhoub (Ed. Companhia das Letras). É a corte da História Social e para
saber um pouco mais,
perspectiva do escravo. Mostra como ele construiu a derrocada da escravidão no dia a dia, acesse uma resenha fei-
avançando suas próprias visões de liberdade, finamente elucidadas pelo historiador. Análise ta por Magali Gouveia
de classe com classe. Engel disponível em
Homens Livres na Ordem Escravocrata, de Maria Sylvia de Carvalho Franco (Ed. Unesp). http://www.historia.
Monografia clássica, concentrada na região do Vale do Paraíba (SP), explorando temas impor- uff.br/tempo/resenhas/
res2-2.pd.
tantes como a violência no meio rural e as relações de compadrio.
Em Costas Negras, de Manolo Florentino (Ed. Companhia das Letras). Lança uma nova
interpretação da sociedade colonial, enfatizando a acumulação gerada pelo tráfico de escra-
vos, a partir do Rio de Janeiro, e a formação de um poderoso setor social repre- sentado pelos
traficantes.
Rebelião Escrava no Brasil, de João José Reis (Ed. Companhia das Letras). Monografia
por um especialista na história social dos escravos, versando sobre o levante dos malês, movi-
mento de escravos islâmicos, que ocorreu em Salvador, em 1835.
Rebelião Escrava no Brasil (1986), de João José Reis (Companhia das Letras). Notável
espelho de quão complexas eram as relações entre os escravos, no cativeiro e em meio às ten-
tativas de superá-lo. Importante resgate da força que o Islã negro teve entre nós.
Bahia, Século 19, de Kátia M. de Queirós Mattoso (Ed. Nova Fronteira). É o Império visto
da periferia, nesta radiografia bem documentada da província baiana. Geografia, demografia,
economia, família, escravidão, riqueza, pobreza, governo, religião - esforço exemplar em dire-
ção à inalcançável história totalizante.
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UAB/Unimontes - 3º Período
Para falarmos de campos temáticos em História Cultural, vamos estabelecer aqui alguns
caminhos, pois sabemos que esse campo é muito vasto. Sendo assim, Ronaldo Vainfas (1997)
esclarece inicialmente três pensadores que determinaram caminhos na História Cultural. Veja-
mos:Prática de História Cultural, segundo o italiano Carlo Ginzburg. Influencia em seu conceito
de circularidade cultural presentes em seus estudos teóricos ou sobre religiosidade, feitiçaria e
heresia na Europa.
• Prática de História Cultural, segundo o francês Roger Chartier. Trabalha os conceitos de re-
presentação e apropriação expostos em seus estudos sobre leitura e leitores na França.
• Prática de História Cultural, segundo o inglês E. P. Thompson. Trata de movimentos sociais
na Inglaterra e o cotidiano das classes populares do século XVIII.
Os conceitos trabalhados por esses autores já foram falados nesta unidade II, como você já
notou. Apenas reafirmamos esses caminhos aqui para você ir relacionando a prática da História
Cultural e da Social e ir percebendo suas aproximações.
As correntes da História Cultural nos levam a compreender seus campos temáticos. A His-
tória Cultural, herdeira da Nova História, só teve influência no Brasil a partir dos anos 1980, pro-
movendo uma releitura de textos como os de Gilberto Freyre (Casa Grande & Senzala, 1933) e
Sérgio Buarque de Holanda (Raízes do Brasil, 1936; Visão do Paraíso, 1956). Não pense que a ra-
zão para esse atraso aqui no Brasil se deve ao fato de sermos de 3º mundo. Ora, você se lembra
que vivíamos sob a égide do governo militar e que a universidade foi um reduto de resistência a
esse regime? As leituras que se fazia em sua maioria eram leituras marxistas, que serviram bem à
crítica àquele regime. Somente após os anos 1980 é que diversas traduções da Nova História fo-
ram feitas e os cursos de pós-graduação no Brasil, à exceção da USP, ganhavam corpo, tendo uma
produção que ainda caminhava rumo ao que temos hoje. A trilogia “novas abordagens, novos
objetos e novos problemas” só foi traduzida no Brasil em 1976.
Antes de falarmos das nossas experiências em História Cultural, vamos retomar a uma classi-
ficação feita pela historiadora Sandra Jatahy Pesavento, que esclarecerá as correntes e os campos
da História Cultural. Vejamos as correntes da História Cultural:
Essas correntes se expressam em campos temáticos, que por sua vez são o mote desse item
de estudo. Sendo assim, podemos falar dos seguintes temas em História Cultural:
Tema História e Cidades: aqui a cidade é pensada como objeto de reflexão, e não apenas
como um lugar ou palco onde as coisas ocorrem. As representações que ocorrem sobre e na ci-
dade são objetos dos quais se ocupa o estudo dos historiadores culturais, assim como o imaginá-
rio urbano.
Tema da História e Literatura: a história ao se aproximar da literatura abre o debate sobre
a noção de verdade e ficção, pois afirma atuar com o verossímil, com as representações; entre-
tanto, acredita-se que a História pode até ser ficção, mas é controlada pelo método e pelas fon-
tes. Fora esse debate, o historiador utiliza a literatura como uma fonte, como um traço do passa-
do que chega ao historiador através das representações que chegam até ele pelas construções
literárias, sintonia fina com os medos, os desejos, os valores que guiaram o homem e a mulher
através da construção literária. O tempo da escrita literária é que conta para o historiador, ou
seja, o autor e sua época.
Tema História e Imagens: as imagens são múltiplas (pintura, desenho, fotografia, escultura,
croqui etc.) e constituem ricos cacos, traços, vestígios que aproximam o historiador de uma dada
época; ou melhor, as imagens se referem a um real, mas não é esse real, pois que não é mimeses.
A imagem possui códigos ou símbolos ou ícones de um tempo que remetem ao significado de
uma época. A imagem e a literatura são registros de uma época, mas também o que importa
para o historiador não é a temporalidade de seu conteúdo, mas o testemunho de época.
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História - Teoria da História Social e Cultural
Tema História e Identidades: a identidade é uma construção simbólica de sentido que tra-
balha com a concepção de pertencimento. A identidade tem a ver com coesão social e permite
a identificação da parte com o todo, “o que é importante considerar não é a constatação da dife-
rença (...) maneira pela qual se constrói pelo imaginário a diferença” (PESAVENTO, 2004, p.90). As
identidades são múltiplas e “são ficções criativas que situam o indivíduo no espaço, no tempo, no
social, mesmo no mundo” (PESAVENTO, 2004, p.91).
Tema História do Tempo Presente: nessa perspectiva, o historiador é contemporâneo aos
acontecimentos os quais toma como objeto para dirigir seus questionamentos. A história ainda
está em curso e o historiador já se dispõe a estudá-la utilizando as ferramentas da História Cultu-
ral. Há que se falar da posição de alguns historiadores que pensam que a história não deve se ocu-
par do tempo presente, pois ele precisa se distanciar temporalmente de seu objeto para dele falar.
Tema História e Memória: a capacidade humana da rememoração com- porta mediações.
O indivíduo que rememora um dado ocorrido há algum tempo não é mais aquele que viveu esse
dado momento, pois ao rememorar, ele amadureceu, modificou, reelaborou, refletiu, revisou
esse dado para então pronunciar a respeito dele. A memória individual se mescla com uma me-
mória social. Tão importante quanto a lembrança é o esquecimento, pois revela medos, desejos,
escolhas feitas individualmente ou por grupos sociais. A memória não é História, mas é algo que
pode ser estudado pelo historiador e por meio das representações, imaginários e outros, pode-
mos aproximar do real com o compromisso da busca da verdade.
Referências
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UAB/Unimontes - 3º Período
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48
História - Teoria da História Social e Cultural
Resumo
Chegamos ao final de nossa viagem pelo mundo de Clio. O nosso desejo é que você tenha
clareza sobre as duas grandes unidades da disciplina Teoria da História Social e Cultural e que
tenha se apropriado dos conceitos, dos métodos e das novas abordagens nessa área da História.
Destacamos para você que o mundo de Clio hoje é, em grande parte, História Social e Cul-
tural.
Durante a primeira unidade, cujo título é “Os Annales e a definição do Campo da História
Social e Cultural” e a segunda unidade “O olhar da História Cultural e Social: conceitos, métodos e
campos temáticos” procuramos apresentar-lhe os fundamentos da História Social e Cultural.
É importante frisar certamente os debates, a visita aos sites e os filmes que se apresentaram
desafiadores para você. Como dissemos no início desse material, voltamos a afirmar: não são
as respostas que movem o mundo, são as perguntas! As indagações geram novos e novos
problemas, requerem novos objetos e abordagens, ressignificando a nossa maneira de lidar e ler
o mundo.
Vale destacar aqui alguns apontamentos a guisa de conclusão que, a nosso ver, se fazem
necessários:
A História hoje tem predileção pelas manifestações das massas anônimas sem, no entanto,
rechaçar os segmentos letrados;
É fundamental discutir a forma como os critérios culturais têm influência sobre os processos
sociais;
O estreitamento dos laços entre as disciplinas História, Antropologia e Teoria Literária e Lin-
guística provocou alterações em todas essas áreas do saber, advindas de tal ação interdisciplinar;
A História hoje busca na Antropologia conceitos e método. Destacamos o conceito de cul-
tura baseado na contribuição do antropólogo Clifford Geertz sem, no entanto, se limitar à sua
definição. Oferece a ela a visão para o particular, articulado ao contexto e a exclusão da homoge-
neidade nas análises dos estudiosos de ambos os campos do saber.
Observa-se a criação de novas categorias de análise, bem como a revisão de algumas delas.
Alguns exemplos podem esclarecer melhor: a categoria Cultura Política surge no bojo do retorno
da História Política; a categoria Cultura Visual surge da aproximação da História das Imagens e
da História da Arte. Já conceitos como classe, modo de produção e superestrutura/base devem
ser revistos segundo indicação de Thompson para dar conta da complexidade da sociedade, da
não hierarquização de diferentes dimensões do social e da compreensão de que a História é uma
disciplina do contexto.
Observamos, ainda, duas tendências atuais da História Cultural. A primeira é que a ela é rei-
vindicada novos objetos, novos problemas e novas abordagens surgidas no campo da História
Social e das Mentalidades. A segunda tendência é que há a necessidade de superar os limites
da História das Mentalidades para inserir no contexto mais abrangente da História Cultural as
práticas e representações, sem perder de vista o cultural e o social, e ambos articulados com a
linguagem.
Enfim, é importante frisar que os debates, a visita aos sites e os filmes se apresentaram de-
safiadores para você. Como dissemos no início desse material, voltamos a afirmar: não são as res-
postas que movem o mundo, são as perguntas! As indagações geram novos e novos problemas,
requerem novos objetos e abordagens, ressignificando a nossa maneira de lidar e ler o mundo.
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História - Teoria da História Social e Cultural
Referências
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Suplementares
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52
História - Teoria da História Social e Cultural
Ao chegar ao Brasil, Deus encontra Taoca (Wagner Moura) e Madá (Paloma Duarte), que pas-
sam a acompanhá-lo em suas andanças atrás do tal candidato a santo brasileiro. Taoca desde o
princípio descobre estar diante do todo-poderoso e procura, a todo instante, alcançar sua graça
para obter benefícios pessoais (o personagem encarna o típico brasileiro esperto, capaz de resol-
ver as situações com o tal “jeitinho brasileiro”). Madá sente uma irresistível atração pelo “profes-
sor” (modo pelo qual passam a chamar Deus), não sabendo explicar exatamente porque isso está
acontecendo (já que desconhece sua origem divina), já que esse estranho ‘homem’ é muito mais
velho do que ela.
Esse desconcertante e um tanto quanto estranho trio cruza o Brasil e passa por diferentes
regiões e localidades, desvendando as belezas marcantes das diferentes paisagens e as dificul-
dades do povo brasileiro. Apresenta-nos um país de contrastes e de uma notável fé; e ainda mais
importante, nos leva a refletir a respeito de nossas origens e identidade...
Ao assistir o filme, reflita sobre os conceitos que trabalhamos na unidade II e discuta com os
tutores, colegas e professor formador quais deles podem ser exemplificados nesse filme.
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UAB/Unimontes - 3º Período
Filme: Matrix
Título Original: The Matrix
Gênero: Ficção Científica
Tempo de Duração: 136 minutos
Figura 34: Matrix ►
Ano de Lançamento (EUA): 1999
Fonte: Disponível em Fon-
te: http://www.adoroci- Site Oficial: www.whatisthematrix.com
nema.com/filmes/matrix/ Direção: Andy Wachowski e Larry Wachowski
matrix05.jpg Elenco: Keanu Reeves, Laurence Fishburne e Carrie-An-
Acesso em 09 jul. 2009.
ne Moss.
Ideia central: o mundo modificou e nada é o que pa-
rece ser. A matrix é a invenção da inteligência artificial que
passou a dominar o ser humano. Somente o escolhido tem
condição de “acordar” as pessoas desse “aparente pesadelo”.
A relação do homem com a natureza, a criação da in-
teligência artificial, traição, controle, dominação, liberdade,
mundo digital, entre tantos outros, são aspectos observá-
veis no filme Matrix. O mundo vivido é caótico. Entretanto,
a Matrix cria outro mundo irreal, mas que corresponde ao
desejo dos homens e mulheres tais como os desejos que
apresentamos no século XX.
Figura 35: Cenas Matrix ► A sinopse de Matrix afirma que: em um futuro próxi-
Fonte: Disponível em Fon-
te: http://www.adoroci-
mo, Thomas Anderson (Keanu Reeves) é um jovem progra-
nema.com/filmes/matrix/ mador de computador que mora em um cubículo escuro,
matrix05.jpg é atormentado por estranhos pesadelos nos quais se en-
Acesso em 09 jul. 2009.
contra conectado por cabos e contra sua vontade, em um
imenso sistema de computadores do futuro. Em todas es-
sas ocasiões, acorda gritando no exato momento em que
os eletrodos estão para penetrar em seu cérebro.
À medida que o sonho se repete, Anderson começa a
ter dúvidas sobre a realidade. Por meio do encontro com os
misteriosos Morpheus (Laurence Fishburne) e Trinity (Car-
rie-Anne Moss), Thomas descobre que é, assim como outras
pessoas, vítima do Matrix, um sistema inteligente e artificial
que manipula a mente das pessoas, criando a ilusão de um
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História - Teoria da História Social e Cultural
mundo real enquanto usa os cérebros e corpos dos indivíduos para produzir energia. Morpheus,
entretanto, está convencido de que Thomas é Neo, o aguardado messias capaz de enfrentar o
Matrix e conduzir as pessoas de volta à realidade e à liberdade.
Ao assistirem ao filme A Matrix você será transportado a outro mundo cinematográfico. Dis-
cuta com seus colegas, tutores e professor formador: como os indivíduos da sociedade atual se
veem através do filme Matrix? Ou melhor, como expressamos no cinema as nossas inquietações
com o mundo no qual vivemos? Discuta sobre a produção cinematográfica e a produção histo-
riográfica a partir da leitura de mundo proporcionada pela História Cultural e Social.
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UAB/Unimontes - 3º Período
Sinopse: Rio de Janeiro, 1886. A diva francesa Sarah Bernhardt (Maria de Medeiros) pela pri-
meira vez se apresenta no Brasil, deixando a elite do país ainda mais interessada na cultura fran-
cesa. O público se curva perante o talento de Sarah, incluindo o imperador D. Pedro II (Cláudio
Marzo), que lhe conta um segredo: um valioso violino Stradivarius, um presente seu à baronesa
Maria Luíza (Cláudia Abreu), desaparecera misteriosamente. Sarah então sugere que o imperador
convite o famoso detetive Sherlock Holmes (Joaquim de Almeida) para investigar o caso, suges-
tão esta prontamente seguida. Enquanto isso, um assassinato choca a cidade e deixa em pânico
o delegado Mello Pimenta (Marco Nanini). Uma prostituta fora assassinada e teve suas orelhas
decepadas e uma corda de violino estrategicamente colocada em seu corpo pelo assassino. En-
quanto o delegado busca pistas para capturar o perigoso assassino, que passa a cometer crimes
seguidamente, Holmes e seu fiel parceiro Watson (Anthony O’Donnell) desembarcam no Rio de
Janeiro sem imaginar os perigos que os esperam: feijoadas, vatapás, pais de santo e o poder de
sedução das mulatas locais.
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História - Teoria da História Social e Cultural
Atividades de
Aprendizagem - AA
1) Dissemos sobre um tipo de produção de História no século XIX que se diferencia da produzida
a partir de 1929, na França. A primeira, denominada “escola metódica ou positivista”, a segunda,
denominada “Escola dos Annales”.
Agora, construa um quadro explicativo, demonstrando a diferença entre essas duas “escolas”.
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UAB/Unimontes - 3º Período
5) A crise de modelos a que nos referimos nesse estudo pode ser melhor expressa na alternativa:
a. ( ) A crise das concepções bipolares da História, que buscam explicar o mundo por meio da
linearidade de suas proposições.
b. ( ) A crise das concepções antropológicas levou à confirmação de uma visão determinista e
materialista, onde a via de mudança é a revolucionária.
c. ( ) A crise das concepções estruturalistas e totalizantes da História que buscavam explicar a
realidade a partir de modelos preestabelecidos.
d. ( ) A crise das concepções estruturalistas advém de uma visão e prática pouco fracionadas
da História no seu fazer pelos historiadores.
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História - Teoria da História Social e Cultural
10) Com relação ao método de descrição densa, cujo principal representante é o antropólogo
Clifford Geertz, e o seu uso pelos historiadores, podemos dizer que a História é uma ficção, mas
uma ficção controlada.
Entre as alternativas, assinale a que NÃO permite ao historiador “controlar” essa ficção.
a. ( ) O documento se converte em prova na argumentação do historiador e é a partir de tais
provas que se encaminha a demonstração explicativa da História.
b. ( ) A História se presta e se aproxima de tal modo da literatura, que o imbricamento entre
ambas torna-as indissociáveis.
c. ( ) O estabelecimento de analogias, de contrastar, de superpor e de estabelecer nexos a
partir da bagagem do historiador, construindo assim condições para realizar cruzamentos e
compor a sua análise.
d. ( ) A História se presta à testagem, à comprovação, o leitor pode fazer o caminho do histo-
riador ao confirmar “as coisas” num arquivo e a seguir as suas deduções.
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