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Dissertação Filosófica
Âmbito da disciplina de filosofia 10º ano
INTRODUÇÃO
Eutanásia – Dissertação Filosófica
EUTANÁSIA
Para a discussão moral acerca deste ato é necessário distinguir as formas e os tipos de
eutanásia. Existem dois tipos de eutanásia: a voluntária quando esta é decidida pelo próprio doente
com total responsabilidade pelos seus atos ou involuntária sempre que ela não dependa da vontade
do doente, mas sim da vontade de outros. Importa ainda referir que à luz do que GALVÃO (2015)
afirma a eutanásia involuntária não é aceitável por nenhuma pessoa razoável, e incorre na violação
do direito moral à vida, autonomia e preferência por viver, sendo por isso mesmo uma questão que
ficará fora de debate nesta dissertação.
Quanto à sua forma a eutanásia pode ser ativa ou passiva. A primeira abrange medidas que
causem a morte e a passiva consiste em reprimir-se de usar os meios e oportunidades que impedem a
morte. “Ainda que de um modo geral matar seja pior que deixar morrer. Nada indica que a
diferença entre atos e omissões tenha relevância ética (…)” (GALVÃO, 2015, p.50.), pois seja qual
for a forma, o agente tem sempre a intenção de que o paciente morra.
É relevante também distinguir eutanásia de "suicídio assistido", na medida em que a eutanásia
é praticada por uma terceira pessoa que a executa enquanto que o suicídio é o próprio doente que
provoca a sua morte, ainda que para isso disponha da ajuda de terceiros.
O argumento principal desta posição defendida pelos críticos da eutanásia, e por mim, emana
da importância colossal da vida humana, sendo impensável conferir-se a alguém o direito de matar
seja por piedade ou por seu pedido. Não se pode justificar um respeito maior pelo princípio da
autonomia do que pela vida, pois, com a morte, destrói-se a autonomia.
Além disso o direito da autodeterminação individual não pode ser soberano, tem sempre de se
harmonizar com outros direitos e valores, porque apesar de deixar de viver ser o interesse do
paciente este interesse segundo GHINS (2018) recai diretamente na liberdade de consciência do
profissional de saúde, que é obrigado a cometer o ato. Aos profissionais de saúde cabe o dever de
assistir os pacientes no seu fim de vida, com o recurso a medidas e práticas paliativas, que muitas
vezes levam secundariamente a uma morte mais rápida, com dignidade e sem dor, mas que não
implicam matar ou deixar morrer intencionalmente. “Por mais tentadora que possa ser a ideia de a
lei acomodar a “morte por misericórdia” em circunstâncias extremas, ceder à tentação
subverteria a proteção da lei a todos” (Keown, 2002.p.120).
Acerca de legalização desta prática, VELLEMAN (2002), exprime outra preocupação com as
consequências deste ato. Um paciente terminal, pode julgar que vale a pena viver o pouco tempo que
lhe resta. Mas como lhe é dada a opção de morrer, ele vê-se obrigado a justificar a sua escolha
perante os outros. Numa cultura hostil a dependência não será surpreendente, que mesmo aqueles
que são próximos ao doente, entendam a sua escolha como um fardo e o coloquem na posição de ter
de fundamentar o seu direito à vida e aos cuidados de saúde paliativos. Deste modo, Velleman afirma
que o simples fato de uma pessoa dispor dessa opção prejudica os seus interesses e beneficia os mais
“fortes”. Instituir a sua legalização “seria como estabelecer o direito ao duelo numa cultura
obcecada com a honra” (Glavão, 2015, p56).
Para finalizar, há que aludir às razões de natureza religiosa e nesta perspetiva prevê-se que retirar a
vida a alguém é uma função que só pertence a Deus. A Declaração sobre a Eutanásia, decretada pelo
Papa João Paulo II assevera que “a morte voluntária ou suicídio, portanto, é tão inaceitável como o
homicídio: porque tal acto da parte do homem constitui uma recusa da soberania de Deus e do
seu desígnio de amor.”
CONCLUSÃO
Embora os argumentos éticos a favor da prática da eutanásia sejam notáveis, há ainda que
determinar qual o real significado de uma vida que vale a pena ser vivida e a quem deve ser dada a
prerrogativa de decidir sobre tal significação. Os defensores entendam a sua prática como o modo de
contornar a crueldade, que obriga um ser humano a viver contra a sua vontade num estado físico
degradante, que não tem em consideração a qualidade de vida nem o bem-estar físico ou emocional
deste, a sua prática viola um valor supremo que é o direito à vida.
A morte digna ou respeito pela autonomia de cada um não se pode sobrepor ao valor da vida nem
colidir com a liberdade de quem pratica a eutanásia. Morrer com dignidade passa por
proporcionar às pessoas medidas e práticas médicas que não prolonguem o seu sofrimento, ainda
que levem a uma morte prematura, mas sem a intenção de a provocar: “doutrina de duplo efeito”
em que só é permissível dar origem a um mau efeito de modo a obter um bom efeito maior.
BIBLIOGRAFIA
Galvão, P. (2015). Ética com Razões. Fundação Francisco Manuel dos Santos. Relógio D’Água Editores.
Lisboa.
Inácio, A. M. (2018. Maio. 18). Michel Ghins: "Um Estado que legaliza a eutanásia passa um recado terrível".
Consultado a 24 de novembro 2020. Disponível em: www.dn.pt/portugal/miguel-ghins-um-estado-que-legaliza-a-
eutanasia-passa-um-recado-terrivel-9352878.html.
Kenown, J. (2002). Euthanasia, ethics and public policy - an argument against legalisation. 4ª Edição,
Cambridge University Press. Cambridge.
Velleman, J.D. (2002), “Against the Right to Die”, in H. LaFollete, Ehitcs in Practice, 2ª ed., Blackwell,
Malden, pp. 32-39.