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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS POLÍTICAS

FELIPE ALEJANDRO GUERRERO ROJAS

TRABALHO SOBRE O NEO-INSTITUICIONALISMO

Trabalho apresentado na disciplina de


Teoria Política II ofertado no Programa
de Pós-Graduação em Ciências Políticas,
Setor Ciências Humanas, Letras e Artes
da Universidade Federal do Paraná.

Professores: Renato Perissinotto.

Curitiba, 2012
O NEOINSTITUCIONALISMO

O neoinstitucionalismo é um movimento teórico recente que tem como seu


enfoque principal o estudo das instituições enquanto atores políticos.
No artigo Neo-institucionalismo: Fatores organizacionais na vida política, os
autores James G. March e Johan P. Olsen colocam três fatores que definem a
perspectiva epistemológica para compreender o neoinstituicionalismo. O primeiro trata
da posição causal das instituições políticas, os neoinstitucionalistas não negam a
importância do contexto social da política e as motivações dos atores individuais,
entretanto, insistem que se tenha um papel mais autônomo para as instituições políticas.
As instituições políticas são uma coleção de procedimentos e estruturas de operação-
padrão que definem e defendem seus próprios interesses, elas são atores políticos em si.
Este argumento, de que as instituições podem ser tratadas enquanto atores políticos, se
baseia no pressuposto da coerência e de autonomia institucional. O pressuposto da
coerência coloca as instituições como tomadoras de decisão. Já o pressuposto da
autonomia institucional retrata que as instituições são mais que simples espelhos de
forças sociais, uma vez que, as observações empíricas parecem indicar que os processos
internos das instituições políticas interferem no fluxo da história. (March e Olsen, 2008,
pp 126 - 128).
O segundo aborda a complexidade causal da história política. Os estudiosos das
instituições propõe o uso da suposição de uma estrutura política com o objetivo de
apresentar uma abordagem teórica mais simples para entender os sistemas políticos
complexos. Esta estrutura política se define como conjunto de instituições, regras de
comportamento, normas, papéis, entre outros. Pela dificuldade de entender os
comportamentos políticos guiados pelas regras, esses estudiosos passaram a combinar a
suposição de estrutura política com eficiência histórica, pois se o comportamento do
individuo no interior de uma estrutura política é guiado pelas regras, então é possível
imaginar que a experiência histórica acumula-se ao longo de gerações de experiências
individuais. A experiência se encontra nas regras institucionais. (March e Olsen, 2008,
pp 129 - 130).
Por último, expõe a política como uma interpretação da vida. Os pesquisadores
das instituições partem da ideia de que a política cria e confirma interpretações da vida.
Para os instituicionalistas através da política, os indivíduos desenvolvem-se, como
também as suas comunidades e o bem público. A política é tratada como educação, um
espaço para descobrir, elaborar e expressar significados. (March e Olsen, 2008, pp 130 -
131).
A partir dessas três ordens epistemológicas, pode-se compreender que os
institucionalistas estão interessados em fenômenos políticos em que os atores
respondem a um conjunto de regras que então circunscritas nas instituições. Estas,
condicionam, adaptam ou induzem os atores a agirem e decidirem de determinada
maneira e acabam explicando grande parte do que ocorre no jogo político.

O INSTITUCIONALISMO HISTORICO E ESCOLHA RACONAL

Em seu texto Historical Institutionalism in Comparative Politics, Kathleen


Thelen realiza um debate sobre o “institucionalismo histórico” e “escolha racional”,
ambas pertencentes ao chamado “neoinstitucionalismo”.
Apesar de esta separação existir, e isso diz respeito aos diferentes caminhos
teórico-metodológicos, os limites entre essas perspectivas são muitas vezes tênues.
Como a autora aborda, teóricos da “escolha racional”, que parte do pressuposto da
racionalidade dos atores na relação meios e fins, têm trabalhado com elementos
contextuais aproximando-se da análise histórica das instituições, chamadas de
“narrativas analíticas” que incluem elementos dedutivos e indutivos (Thelen, 1999, p.
370).
Thelen coloca as principais distinções entre o “institucionalismo histórico” e o
da “escolha racional”. A autora expõe características que supostamente seriam as
principais distinções metodológicas entre o “institucionalismo histórico” do da “escolha
racional”.
A primeira questão seria sobre o fato de uma corrente ser mais “teórica” e outra
mais “empírica”. No caso do enfoque da “escolha racional” estaria mais voltado para
uma construção teórica, podendo “sacrificar detalhes para uma generalização”. O
“institucionalismo histórico” voltaria-se para o processo histórico construídos com
dados empíricos, podendo acabar somente “relatando histórias”. Como ela afirma “essa
dicotomia é exagerada, e em meu ponto de vista é fora de lugar, porque um melhor
trabalho em ambas as perspectivas envolve gerar hipóteses trazidas para sustentar-se
sobre um fenômeno empírico”. Para a autora não se podem reduzir as diferenças entre
“escolha racional” e “institucionalismo histórico” pela questão da teoria versus
empirismo, pois o objetivo de ambos é “testar proposições teóricas contrastando com a
observação de fenômenos, para não só explicar os casos, mas também para refinar a
teoria” (Thelen, 1999, pp 372 - 373).
Uma segunda distinção seria na questão da formação da formação das
Preferências, sendo no o processo de formação exógeno no caso da “escolha racional”,
na qual as regras do “jogo” são externas aos jogadores, e endógeno, sendo parte do
processo, no “institucionalismo histórico” (Thelen, 1999, p.375).
A terceira questão típica para diferenciar essas duas correntes seria a distinção
entre análises com base na lógica micro-fundacional (micro-foundation) e análises
macro-históricas (macro-historical), que segundo Thelen também seria uma “falsa
dicotomia” (Thelen, 1999, p.377).
Uma quarta seria entre a visão funcionalista, utilizada pelo enfoque da “escolha
racional”, e a visão histórica das instituições. A explicação que distinguiria essas duas
correntes seria a feita por Zysman o qual resume que “institucionalistas da escolha
racional iniciam com indivíduos e perguntam de onde vêm as instituições enquanto que
os institucionalistas históricos começam com as instituições e se questionam como elas
afetam o comportamento dos indivíduos” (Zysman apud Thelen, 1999,, p.379). A
questão é que muitos teóricos da “escolha racional” utilizam-se de metodologias não
funcionalistas e mais históricas para explicar os fenômenos (Thelen, 1999, p. 379).
Thelen questiona “Poderíamos concluir a partir do que foi citado que tem havido
uma mistura dessas diferentes abordagens?” e afirma que não. Para a autora as
diferenças existem e não devemos simplesmente realizar uma síntese. Ao invés disso,
devemos buscar criativas combinações que reconheçam as capacidades de cada
estratégia. A autora cita dois teóricos que se propuseram a realizar isso: Zysman, do
“institucionalismo histórico” e Scharpf da “escolha racional” (Thelen, 1999,p.380).
A última distinção apresentada pela autora seria a questão da “relativa
centralidade” do pressuposto do “equilíbrio” no enfoque da “escolha racional” e do
“processo histórico” utilizado pelo “institucionalismo histórico”. Thelen afirma que o
pressuposto do “equilíbrio” não implica na existência de um único resultado de
equilíbrio, e nem no desinteresse dos teóricos da escolha racional nas mudanças
políticas. “Onde teóricos da escolha racional tende a ver instituições em termos das suas
funções, institucionalistas históricos as vêem como legado de processos históricos
concretos” Nesse sentido institucionalistas históricos dão importância para a variável
tempo na análise dos fenômenos políticos, sem que deixar de se preocupar com as
regularidades e continuidades (Thelen, 1999, p 381 - 382).
REFERÊNCIAS

THELEN, Kathleen e STEINMO, Sven. “Historical Institutionalism and Comparative


Politics”. In: S. STEINMO, K. THELEN e F. LONGSTRETH (eds.). Structuring
Politics: Historical Institutionalism in Comparative Analysis. Cambridge:
Cambridge University Press, 1994. p. 1-32.
MARCH, James G and OLSEN, Johan P “Neo-institucionalismo: fatores
organizacionais na vida política”. Rev. Sociol. Polit., Nov 2008, vol.16, no.31, p.121-
142. ISSN 0104-4478

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