Teoria Política II ofertado no Programa de Pós-Graduação em Ciências Políticas, Setor Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná.
Professores: Renato Perissinotto.
Curitiba, 2012 O NEOINSTITUCIONALISMO
O neoinstitucionalismo é um movimento teórico recente que tem como seu
enfoque principal o estudo das instituições enquanto atores políticos. No artigo Neo-institucionalismo: Fatores organizacionais na vida política, os autores James G. March e Johan P. Olsen colocam três fatores que definem a perspectiva epistemológica para compreender o neoinstituicionalismo. O primeiro trata da posição causal das instituições políticas, os neoinstitucionalistas não negam a importância do contexto social da política e as motivações dos atores individuais, entretanto, insistem que se tenha um papel mais autônomo para as instituições políticas. As instituições políticas são uma coleção de procedimentos e estruturas de operação- padrão que definem e defendem seus próprios interesses, elas são atores políticos em si. Este argumento, de que as instituições podem ser tratadas enquanto atores políticos, se baseia no pressuposto da coerência e de autonomia institucional. O pressuposto da coerência coloca as instituições como tomadoras de decisão. Já o pressuposto da autonomia institucional retrata que as instituições são mais que simples espelhos de forças sociais, uma vez que, as observações empíricas parecem indicar que os processos internos das instituições políticas interferem no fluxo da história. (March e Olsen, 2008, pp 126 - 128). O segundo aborda a complexidade causal da história política. Os estudiosos das instituições propõe o uso da suposição de uma estrutura política com o objetivo de apresentar uma abordagem teórica mais simples para entender os sistemas políticos complexos. Esta estrutura política se define como conjunto de instituições, regras de comportamento, normas, papéis, entre outros. Pela dificuldade de entender os comportamentos políticos guiados pelas regras, esses estudiosos passaram a combinar a suposição de estrutura política com eficiência histórica, pois se o comportamento do individuo no interior de uma estrutura política é guiado pelas regras, então é possível imaginar que a experiência histórica acumula-se ao longo de gerações de experiências individuais. A experiência se encontra nas regras institucionais. (March e Olsen, 2008, pp 129 - 130). Por último, expõe a política como uma interpretação da vida. Os pesquisadores das instituições partem da ideia de que a política cria e confirma interpretações da vida. Para os instituicionalistas através da política, os indivíduos desenvolvem-se, como também as suas comunidades e o bem público. A política é tratada como educação, um espaço para descobrir, elaborar e expressar significados. (March e Olsen, 2008, pp 130 - 131). A partir dessas três ordens epistemológicas, pode-se compreender que os institucionalistas estão interessados em fenômenos políticos em que os atores respondem a um conjunto de regras que então circunscritas nas instituições. Estas, condicionam, adaptam ou induzem os atores a agirem e decidirem de determinada maneira e acabam explicando grande parte do que ocorre no jogo político.
O INSTITUCIONALISMO HISTORICO E ESCOLHA RACONAL
Em seu texto Historical Institutionalism in Comparative Politics, Kathleen
Thelen realiza um debate sobre o “institucionalismo histórico” e “escolha racional”, ambas pertencentes ao chamado “neoinstitucionalismo”. Apesar de esta separação existir, e isso diz respeito aos diferentes caminhos teórico-metodológicos, os limites entre essas perspectivas são muitas vezes tênues. Como a autora aborda, teóricos da “escolha racional”, que parte do pressuposto da racionalidade dos atores na relação meios e fins, têm trabalhado com elementos contextuais aproximando-se da análise histórica das instituições, chamadas de “narrativas analíticas” que incluem elementos dedutivos e indutivos (Thelen, 1999, p. 370). Thelen coloca as principais distinções entre o “institucionalismo histórico” e o da “escolha racional”. A autora expõe características que supostamente seriam as principais distinções metodológicas entre o “institucionalismo histórico” do da “escolha racional”. A primeira questão seria sobre o fato de uma corrente ser mais “teórica” e outra mais “empírica”. No caso do enfoque da “escolha racional” estaria mais voltado para uma construção teórica, podendo “sacrificar detalhes para uma generalização”. O “institucionalismo histórico” voltaria-se para o processo histórico construídos com dados empíricos, podendo acabar somente “relatando histórias”. Como ela afirma “essa dicotomia é exagerada, e em meu ponto de vista é fora de lugar, porque um melhor trabalho em ambas as perspectivas envolve gerar hipóteses trazidas para sustentar-se sobre um fenômeno empírico”. Para a autora não se podem reduzir as diferenças entre “escolha racional” e “institucionalismo histórico” pela questão da teoria versus empirismo, pois o objetivo de ambos é “testar proposições teóricas contrastando com a observação de fenômenos, para não só explicar os casos, mas também para refinar a teoria” (Thelen, 1999, pp 372 - 373). Uma segunda distinção seria na questão da formação da formação das Preferências, sendo no o processo de formação exógeno no caso da “escolha racional”, na qual as regras do “jogo” são externas aos jogadores, e endógeno, sendo parte do processo, no “institucionalismo histórico” (Thelen, 1999, p.375). A terceira questão típica para diferenciar essas duas correntes seria a distinção entre análises com base na lógica micro-fundacional (micro-foundation) e análises macro-históricas (macro-historical), que segundo Thelen também seria uma “falsa dicotomia” (Thelen, 1999, p.377). Uma quarta seria entre a visão funcionalista, utilizada pelo enfoque da “escolha racional”, e a visão histórica das instituições. A explicação que distinguiria essas duas correntes seria a feita por Zysman o qual resume que “institucionalistas da escolha racional iniciam com indivíduos e perguntam de onde vêm as instituições enquanto que os institucionalistas históricos começam com as instituições e se questionam como elas afetam o comportamento dos indivíduos” (Zysman apud Thelen, 1999,, p.379). A questão é que muitos teóricos da “escolha racional” utilizam-se de metodologias não funcionalistas e mais históricas para explicar os fenômenos (Thelen, 1999, p. 379). Thelen questiona “Poderíamos concluir a partir do que foi citado que tem havido uma mistura dessas diferentes abordagens?” e afirma que não. Para a autora as diferenças existem e não devemos simplesmente realizar uma síntese. Ao invés disso, devemos buscar criativas combinações que reconheçam as capacidades de cada estratégia. A autora cita dois teóricos que se propuseram a realizar isso: Zysman, do “institucionalismo histórico” e Scharpf da “escolha racional” (Thelen, 1999,p.380). A última distinção apresentada pela autora seria a questão da “relativa centralidade” do pressuposto do “equilíbrio” no enfoque da “escolha racional” e do “processo histórico” utilizado pelo “institucionalismo histórico”. Thelen afirma que o pressuposto do “equilíbrio” não implica na existência de um único resultado de equilíbrio, e nem no desinteresse dos teóricos da escolha racional nas mudanças políticas. “Onde teóricos da escolha racional tende a ver instituições em termos das suas funções, institucionalistas históricos as vêem como legado de processos históricos concretos” Nesse sentido institucionalistas históricos dão importância para a variável tempo na análise dos fenômenos políticos, sem que deixar de se preocupar com as regularidades e continuidades (Thelen, 1999, p 381 - 382). REFERÊNCIAS
THELEN, Kathleen e STEINMO, Sven. “Historical Institutionalism and Comparative
Politics”. In: S. STEINMO, K. THELEN e F. LONGSTRETH (eds.). Structuring Politics: Historical Institutionalism in Comparative Analysis. Cambridge: Cambridge University Press, 1994. p. 1-32. MARCH, James G and OLSEN, Johan P “Neo-institucionalismo: fatores organizacionais na vida política”. Rev. Sociol. Polit., Nov 2008, vol.16, no.31, p.121- 142. ISSN 0104-4478