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ALFA REDE DE ENSINO

MATERIAL COMPLEMENTAR EDUCAÇÃO FÍSICA 2ª SÉRIE - E.M

ESPORTE

Falar sobre o esporte, enquanto manifestação da Cultura Corporal, significa discutir o que este Conteúdo
Estruturante foi, desde sua origem histórica até a atualidade. Esta abordagem permitirá reflexões sobre as
possibilidades de recriar o conceito de esporte, por meio de uma intervenção consciente.

No início do século XIX, o desenvolvimento da sociedade capitalista tornava cada vez mais profunda a
divisão do trabalho – funções braçais, ligadas ao esforço físico e atividades intelectuais, ligadas ao
intelecto.

Essa divisão separava as pessoas em classes sociais, ou seja, classe dirigente/elite e trabalhadores.

Configurou-se um quadro em que a separação entre elite (econômica, política e intelectual) e


trabalhadores se refletia nos costumes e formas de viver de ambas as classes. As classes sociais
realizavam atividades que as distinguiam entre si, e uma dessas atividades era o esporte.

Os objetivos e significados da prática esportiva eram diferentes para cada classe social. Para a elite, o
esporte distraía seus filhos, que ocupavam o tempo somente com o estudo. Para a classe trabalhadora,
os chamados jogos populares estavam ligados às suas raízes culturais. A elite considerava vulgar o
esporte realizado pelos trabalhadores, por essa razão, impôs outra forma de prática esportiva mais
adequada aos costumes criados e valorizados pela elite.

Você pode se imaginar vivendo naquela época? Tudo ainda era novo, as grandes indústrias estavam
crescendo virtuosamente, e com tal crescimento havia também uma maior evidência das desigualdades
que se instauravam. Essas desigualdades se evidenciavam e eram, potencialmente, fontes de revoltas,
resistências e manifestações político-econômicas, ou seja, fontes de desestabilização da ordem vigente.

A padronização das práticas esportivas e o estabelecimento de suas regras de maneira rígida, sem
possibilidades de qualquer contestação e/ou reflexão, contribuíam para a desmobilização de resistências,
para o desenvolvimento da idéia de que questionar e quebrar regras são atitudes que impedem a
organização e estabilidade social. Utilizou-se o esporte como estratégia educativa para o ocultamento
e/ou mascaramento das lutas sociais.

“A difusão mundial da prática desportiva, porém, não foi imediata. A dimensão social alcançada pelo
esporte, atualmente, contou com importantes fatores, tais como: o surgimento de novas escolas para a
classe média e redução da jornada de trabalho; formação de clubes esportivos; esporte como fator de
contenção da classe trabalhadora; os jogos olímpicos como expressão máxima do fenômeno
esportivo”.(ASSIS, 2001).

Diante desta breve abordagem histórica, pode-se questionar: será que o esporte atual ainda está
vinculado aos interesses da classe que o constituiu? Como identificar os vínculos políticos e sociais da
prática esportiva na sua escola ou na sua comunidade? Essas perguntas não possuem respostas
imediatas e serão debatidas ao longo deste livro.

Certamente você já deve ter assistido, na televisão, a uma partida de qualquer modalidade esportiva. O
que está contido nessa forma de lazer, além da sua diversão? Se analisarmos o contexto social em que
vivemos e seus meios de comunicação, não será difícil observarmos que o esporte se transformou em
mercadoria, sendo divulgado por meio da espetacularização. Mas, que objetivo tem a espetacularização
esportiva?

Evolução do Esporte até a Profissionalização:

“O esporte que conhecemos hoje é fruto de profundas transformações sociais ocorridas com o advento da
chamada Revolução Industrial na Europa dos séculos XVIII e XIX, com origens, sobretudo,
inglesas.”(BETTI, 2004, p.17)

Para entender o processo histórico em que surgiu o esporte, tão apreciado pela sociedade
contemporânea, é necessário compreender algumas das transformações sociais que ocorreram naquele
contexto.
Entre os séculos XVI e XVIII, a sociedade européia era organizada em estamentos, ou seja, a posição
dos sujeitos na hierarquia social era definida pelo seu nascimento. As pessoas que descendiam da
nobreza tinham direitos e privilégios sociais muito maiores que o povo.

Mesmo a burguesia, grupo social que se desenvolveu aos poucos, ao longo daquele período até
conquistar o poder econômico, não gozava dos mesmos direitos que os nobres.Educação Física

Essa situação passou a ser questionada mais intensamente, no século XVIII, pelos filósofos franceses do
movimento iluminista. Estes filósofos opunham-se ao poder absolutista do rei, à intervenção deste na
economia, aos privilégios do clero e da nobreza e defendiam a igualdade jurídica, a separação dos
poderes e a liberdade econômica. As idéias desses pensadores influenciaram as revoluções que levaram
a burguesia a conquistar o poder político, como a Revolução Francesa, ao final do século XVIII, e a
organização política contemporânea. Veja o que Jean-Jacques Rousseau pensava a respeito da
desigualdade entre os homens:

“Concebo na espécie humana duas espécies de desigualdade: uma que chamo de natural ou física,
porque é estabelecida pela natureza, e que consiste na diferença das idades, da saúde, das forças do
corpo e das qualidades do espírito, ou da alma; a outra, que se pode chamar de desigualdade moral ou
política, porque depende de uma espécie de convenção, e que é estabelecida ou, pelo menos, autorizada
pelo consentimento dos homens. Consiste esta nos diferentes privilégios de que gozam alguns com
prejuízo dos outros, como ser mais ricos, mais honrados, mais poderosos do que os outros, ou mesmo
fazerem-se obedecer por eles. Não se pode perguntar qual é a fonte da desigualdade natural, porque a
resposta se encontraria enunciada na simples definição da palavra. Ainda menos se pode procurar se
haveria alguma ligação essencial entre as duas desigualdades, pois isso equivaleria a perguntar, por
outras palavras, se aqueles que mandam valem necessariamente mais do que os que obedecem, e se a
força do corpo e do espírito, a sabedoria ou a virtude, se encontram sempre nos mesmos indivíduos em
proporção do poder ou da riqueza: questão talvez boa para ser agitada entre escravos ouvidos por seus
senhores, mas que não convém a homens razoáveis e livres, que buscam a verdade”. (ROUSSEAU, J-J.
Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade, 1775, p.12-13.)

A burguesia, classe que passou a ter forte influência sobre as demais, utilizava-se da pratica esportiva
como forma de normatizar e disciplinar seus próprios filhos, a fim de prepará-los para saber controlar as
tensões sociais. Ao mesmo tempo em que essa classe social buscava conquistar o poder político,
consolidava-se seu poder econômico por meio da Revolução Industrial.

No século XIX, com as reivindicações da classe operária para redução das jornadas de trabalho, os
trabalhadores obtiveram acesso a um tempo destinado ao lazer. Mas o que fazer nas horas vagas? Junto
a isso, intensificou-se o processo de urbanização que criava espaços públicos.

Mas como utilizar esses espaços de forma correta?

A classe trabalhadora conquistou, após inúmeros enfrentamentos, a redução da jornada de trabalho e


alguns direitos como o sufrágio universal.

Estas conquistas preocuparam a burguesia em relação à forma como os trabalhadores poderiam


aproveitar o tempo de folga. Isso seria uma poderosa arma a ser utilizada contra ela mesma (burguesia),
uma vez que com esse tempo de folga e com os espaços públicos disponíveis para os momentos de
lazer, seria fácil a criação de movimentos sociais contra a classe dirigente.

Nesse sentido, surgiu a importância de incentivar a classe trabalhadora a aderir à prática esportiva, como
forma de ocupação do tempo livre, diminuindo as possibilidades de tensões sociais.

“No entanto, o significado dessa prática para essas classes sociais era outro, o corpo foi o meio,
caracterizando-se uma prática mais viril”. (RODRIGUES, 2004).

Dentro dessa perspectiva, o esporte assumiu diferentes papéis e um deles foi de elemento de
socialização (para a elite), tendendo a uma prática amadora. Já para a classe trabalhadora, o esporte era
praticado de uma forma mais combativa, aproximando-se do que viria a ser, mais tarde, o esporte
“profissional”. Você está entendendo como o esporte originou-se?

Esportes: consideram-se esportes as práticas que adotam regras de caráter oficial e competitivo, ou
seja, envolvem disputa entre equipes e indivíduos, tendo como critério de julgamento os pontos, dentro de
uma prática social que institucionaliza temas lúdicos da cultura corporal. De uma maneira geral, na
Educação Física, o esporte subdivide-se em coletivo ou individual de acordo com a atividade aplicada.

Esportes Coletivos: são atividades essencialmente de ataque e defesa que se estruturam na disputa
entre duas equipes, com enfoque no grupo, dentro de uma organização tática e técnica.
Esportes Individuais: são atividades que se estruturam na disputa entre jogadores com um mesmo
objetivo e simultaneamente competem contra uma variável externa (tempo e distância). Têm enfoque no
indivíduo dentro de uma organização tática e técnica.

Socialização

A prática esportiva possibilita uma socialização da garotada de mesma idade, o que é essencial na
formação e no desenvolvimento da personalidade do indivíduo.

“A participação em atividades físicas proporciona contatos sociais, e as crianças e os adolescentes


aprendem que entre eles e o mundo existem outras pessoas, que na convivência social há regras e
determinados comportamentos, aprendem a aceitar vitórias e derrotas, a vencer por meio do esforço
pessoal, desenvolvem a independência e a confiança em si mesmos e o sentido de responsabilidade”,
escrevem Alex Antonio Florindo, doutor em Saúde Pública pela USP, e a professora de Educação Física
Evelyn Helena Corgosinho Ribeiro no livro Esporte e Atividade Física na Infância e na Adolescência
(Artmed, 2009), organizado pelo professor livre-docente pela Escola de Educação Física e Esporte da
USP Dante de Rose Jr.

Quando a criança está inserida numa prática esportiva, ela interage com outras pessoas, mesmo nas
modalidades individuais, e cria laços de amizade. Além disso, aprende outras formas de brincar, o que
auxilia no processo de socialização. “Muitas vezes na brincadeira é preciso pensar, deduzir e analisar
situações, então é um estímulo para o desenvolvimento cognitivo também”, explica o médico Antonio
Carlos Silva.

A escola e os professores de educação física desempenham papel fundamental para que meninos e
meninas se sintam bem durante a realização da prática esportiva. “É primordial cuidar da autoestima das
crianças, para que possam se sentir competentes realizando as atividades”, explica Paula Korsakas.

Para isso, é necessário respeitar o ritmo de cada uma e valorizar o esforço e cada pequeno aprendizado
delas. “Assim, elas vão identificar o contexto da atividade física e do esporte como um ambiente bacana,
positivo, em que se sentem seguras e valorizadas. Acho que esse é um ponto essencial para que elas
gostem e queiram voltar.”

Ainda de acordo com Paula, “qualquer ação pedagógica está diretamente ligada aos princípios e valores
daquele que a executa. Nesse sentido, o educador explicita seus objetivos em relação à prática esportiva
pela forma que organiza as atividades, como agrupa as crianças, quais os critérios que utiliza para a
avaliação, e pela maneira como se relaciona com elas, podendo estimular determinada orientação
motivacional, moldando a estrutura do contexto esportivo e, consequentemente, definindo um clima
motivacional que expressa metas específicas para as crianças”.

Em casa, os pais servem como “espelho”. Caso pratiquem atividade física e se alimentem de maneira
saudável, é mais fácil que a criança siga o exemplo. É importante também que estabeleçam limites em
relação à TV e ao videogame, por exemplo. “Tem de equacionar isso para que elas possam efetivamente
ter tempo para praticar atividade física”, declara o pediatra Ricardo Barros.

A prática de esportes também auxilia no desenvolvimento fisiológico. “Do ponto de vista biológico, além
de ajudar a controlar o peso, melhora o desempenho motor, a resistência física, a força muscular, a
flexibilidade e a densidade óssea da criança”, diz o médico Antonio Carlos da Silva. “O que é lamentável
no Brasil é que a Educação Física está recebendo menos atenção do que deveria receber no ensino.
Porque seria aí que se introduziria esse hábito, para gradualmente ir desenvolvendo o gosto pela
atividade física.”

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