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Curso preparatório para ingresso em cursos de Pós-Graduação em Artes Visuais- 2013


Ministrante: Maria Helena Bernardes (texto 01)

Revisão de ARTE CONTEMPORÂNEA: UMA INTRODUÇÃO1, de Anne Cauquelin

PRIMEIRA PARTE: “OS REGIMES DA ARTE”

Cap. I: A Arte Moderna ou o Regime do Consumo


Baudelaire associou ‘moderno’ e ‘modernidade’ a ‘transitório’ e ‘contingente’, acentuando o alcance estético de
um olhar ‘modal’ de um olhar no presente que tem origem nas modificações impostas pelas condições sociais ao artista e
ao pensador. [p. 26] “Mergulhar no desconhecido para encontrar o novo” (Baudelaire). O ‘novo’ ou ‘a modernidade’, essa
é, a partir de agora, a palavra de ordem da estética. [p 27]
Para Greenberg, ‘Modernismo’ é a radicalização da ‘arte moderna’, [p. 24] que implica em ‘pureza’ e ‘autonomia’
da pintura e em uma tendência evolutiva ao ‘puramente ótico’. Seu apogeu é a pintura abstrata. Assim, ‘modernidade’ é
um estado associado a essa idéia de autonomização e auto-referenciamento da arte [p.24]. Portanto, a implicação
cronológica do termo ‘moderno’, - como idéia de uma temporalidade sempre renovada [p. 26] – opõe-se ao Modernismo e
à Modernidade greenbergianos. Tal separação, entre termos tão vizinhos, escapa à maior parte do público não
especializado. [p. 24]
Anne Cauquelin: nós nos serviremos do termo ‘moderno’ para qualificar certa forma de arte que conquista seu
lugar (...) por volta de 1860 e se prolonga até a intervenção do que chamaremos ‘arte contemporânea’, implicando na
recusa do passado qualificado de acadêmico, na ambivalência de uma arte ao mesmo tempo ‘da moda’ (efêmera) e
substancial (a eternidade). Assim definida, a arte moderna é característica de um período econômico bem definido, o da
era industrial, de seu desenvolvimento, de seu resultado extremo em sociedade de consumo. [p. 27]
Regime de consumo: consome-se o produto sob a forma de espetáculo, consomem-se os signos espetaculares
como se fossem produtos e os produtos como signo do produto de consumo. Em suma consome-se. Por quê? (...) Porque é
preciso que a mercadoria circule, que ela escoe [da mesma forma que] o dinheiro ‘corre’ (...) o movimento de consumo que
se generaliza provém da tensão entre o mesmo e o diferente [p. 29]. O esquema tripartite do consumo: produção-
distribuição-consumo (...) esquema que diz respeito não somente aos bens materiais mas também aos bens simbólicos.
[p.31] Os agentes do regime de consumo são: o produtor, o intermediário e o consumidor.
O produtor: o artista. Cauquelin vê o surgimento da vanguarda como produto lógico da sociedade de consumo: um
produto único atrai menos consumidores do que uma constelação de produtos da mesma marca. (...) O termo ‘escola’ é
substituído por um nome que agrupa pintores que trabalham de uma determinada maneira, apoiados pelos mesmos
críticos e vendidos pelos mesmos marchands. [p. 47]
O intermediário: é o agente que torna o produto desejável, estimulando a necessidade de consumo. Bens
materiais e bens simbólicos são signos de sucesso material e no campo dos bens simbólicos é o intermediário que institui a
regra, fornece critérios. Os intermediários (atuantes entre artista e público) são:

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São Paulo: Martins Fontes, 2005.
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 O marchand: surge a partir de 1860, em Paris, com o declínio da Academia, obsoleta frente às
novas necessidades e à multiplicação de artistas e consumidores. É o personagem central da arte na nova
sociedade liberal burguesa; no plano da economia, torna-se o motor da produção e do consumo. [p. 43]
 O crítico: agente especializado, segue de perto o trabalho do artista, freqüentando ateliês, promovendo-o
em jornais e revistas, lançando rótulos e movimentos. Agente indispensável na mediação entre público e
uma arte a cujos códigos esse último não tem acesso.
 O crítico vanguardista: é o projetor das vanguardas, incumbido de assegurar-lhes um futuro na história. O
crítico vanguardista alimenta uma ‘vanguarda’ decididamente orientada na direção do moderno. São
representantes dessa categoria Apollinaire e o próprio Greenberg.
O consumidor: o colecionador, o diletante e o público.
 O colecionador: é uma reprodução do grande burguês ou do aristocrata esclarecido (...) como ele está ‘em
evidência’, torna-se por si mesmo a melhor propaganda para os pintores que adquire. [p. 49] Busca a
própria glória e o desejo de enriquecer o patrimônio público com uma obra, a sua própria, monumento
insigne que levará seu nome.
 O diletante, ou o turista apreciador [p. 50]: é caracterizado pelo gosto pelo risco e pelo prazer de ter ‘olho
clínico’, de participar de um mundo à parte, justamente o dos colecionadores; são também os amigos de
artistas ou, ainda, os próprios artistas que trocam e consomem as obras uns dos outros como um
organismo que se nutre a si mesmo.
 O público: que consome pelo olhar, (...) diante da vitrine, exercendo um papel passivo, mas importante, (...)
o de sustentar a totalidade do mecanismo.

Cap. II: O Regime da Comunicação ou a Arte Contemporânea


A Rede: a rede é o desenho da sociedade de comunicação, que sobreveio à sociedade de consumo. No novo
modelo social, a aquisição de produtos cede lugar para a aquisição de informação, a interação na rede é definidora
de legitimação social. A importância não é concedida a um centro, a uma origem da informação em circulação,
mas ao movimento que permite a conexão. A noção de sujeito comunicante apaga-se em favor de uma produção
global de comunicações. (...) A autoria é da metarrede. [p. 60-61] Integram a rede as características do bloqueio;
da redundância e saturação; da nominação e da construção da realidade.
 Bloqueio: é próprio da rede não se poder sair dela; sistema de infinito alargamento e de êxodo impossível.
Assim, a rede é tautológica, fala de si mesma, remete a si mesma e a nenhum campo fora de si,
reproduzindo sempre a mesma mensagem: ‘Há uma rede e você está exatamente dentro dela’. [p. 61]
 Redundância e saturação: a redundância é condição inerente à rede, assegurando sua manutenção, e, por
outro lado, condenando-a ao desgaste e saturação. [p. 61]
 Nominação: para dissimular essa dificuldade, recorre-se então às nominações. [p. 61] Por um lado, a
nominação permite o recambiamento entre parte e todo e, por outro, escapar à idéia muito desagradável
de não ser senão um ponto sem consistência dentro de uma rede cuja totalidade escapa a qualquer
apreensão. [p. 62]
 Construção da realidade: na rede, modelo da sociedade de comunicação, o acesso à realidade é dado pela
linguagem, a realidade imediata perde importância na aferição do que é real. Apaga-se, pouco a pouco, a
presença positivada de uma realidade dada pelos sentidos (...) em favor da construção de uma realidade
de segundo grau, até mesmo de realidades, no plural, da qual [sic] a verdade ou falsidade não são mais
marcas distintivas. [p. 63] O desenvolvimento de linguagens artificiais e o uso cada vez mais generalizado
delas alteram nossa visão de realidade. Constroem, pouco a pouco, outro mundo. [p. 64]
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 As obras não são mais divididas entre academismo e vanguarda. Elas estão ou não incluídas no
circuito. [p. 83]

Os profissionais da rede: produtores. críticos, marchands, curadores de grandes museus e diretores de fundações
internacionais. Ocupam uma posição privilegiada, (acesso direto à informação), sendo transmissores e autores da
informação [p. 67] Antes de tudo, são produtores de valor (econômico, social, simbólico).
Auxiliares da produção: profissionais que difundem a informação gerada pelos produtores: jornalistas e ensaístas
especializados, museógrafos, produtores, administradores culturais e críticos. Aqui, os papéis não são individuais:
um curador de museu (...) pode também escrever (...) e desempenhar o papel de curador (...) O crítico, por sua vez,
pode não escrever, mas apresentar obras a galerias ou a colecionadores de sua rede. Pode atuar como curador ou
como ‘expert’, junto a um museu.
Os artistas-criadores: Enquanto as vanguardas se organizaram contra o mercado oficial para preservar a
autonomia da arte, no caso da arte contemporânea, pretende-se uma absorção da autonomia pela comunicação.
[p. 76] Quanto ao artista, seu papel também é móvel (o que o protege do desgaste e da saturação de exposição):
ele será curador ou crítico.
A arte contemporânea é a sua imagem. A realidade da arte contemporânea se constrói fora das qualidades
próprias da obra, na imagem que ela suscita dentro dos circuitos de comunicação.

SEGUNDA PARTE: OS MODOS DE SER DA ARTE CONTEMPORÂNEA


Os Embreantes
São atores da modernidade cuja ação se articula com a sociedade da comunicação, operando a passagem do
‘estético’ (o gosto, o belo, o único - p. 120) para o ‘artístico’ (o conteúdo é o próprio continente). São eles:
Duchamp: sua singularidade foi de ter posto a nu um funcionamento, ter esvaziado do artista e da obra seu
conteúdo intencional, emocional. [p. 100]. Com Duchamp, o domínio da arte já não é mais o da retirada e do
desentendimento, do conflito com a sociedade, mas de um aclaramento dos mecanismos que a animam. [p. 105].
Como precursor da sociedade da comunicação, contribuiu:
 Para a passagem da mensagem intencional, com emissor e receptor, ao signo produzido pela rede e
dentro da rede e suscetível de nela circular;
 Para o desaparecimento do autor como sujeito;
 Para a importância e exibição da linguagem, não como portadora do pensamento, mas como seu fundo
radical;
 Para o desaparecimento das vanguardas e sua mensagem sócio-política.

Warhol: distingue-se dos demais artistas pop pela forma com que vê de que modo a arte se articula à sociedade e,
em particular, ao mundo dos negócios, (...) articulação que nos leva a considerar Warhol como parte da arte
contemporânea, (...) embreante da sociedade de comunicação, operando alguns princípios da arte em regime de
comunicação, como, por ex.: [p. 109]
 Abandono da estética (utilização de duplicatas, simulacros, readymades, a despersonalização hiper
personalizada);
 A rede de comunicação (utilização dos meios e ideologia da publicidade; autoria substituída pela marca
(marca = um rosto + um nome);
 A repetição ou esvaziamento do conteúdo subjetivo através da exposição daquilo que já é superexposto
na sociedade de comunicação, o produto banal;
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 O paradoxo: Warhol é tanto o produtor de uma autoimagem de astro, dedicando-se a fazê-la
circular pelas cadeias de comunicação, e o astro em si, que ele produz como obra e que é simplesmente
ele mesmo. Essa tautologia é própria do bloqueio que caracteriza a rede.

Castelli: marchand de Rauschenberg, Jasper Johns, Frank Stella, Warhol, Lichtenstein, compreendeu a lição das
redes: (...) as redes mundanas têm tanta importância quanto as redes midiáticas e estas são, definitivamente,
redes comerciais. [p. 125] Cedo se deu conta do partido a tirar das redes de comunicação [p.122], operando
nas seguintes frentes:
 A informação: manter-se informado é ver os artistas, mas é também saber documentar.
 O consenso: produzir consenso em torno dos artistas que representa;
 O bloqueio: seu prestígio assegura o sucesso de um artista e o sucesso de um artista alimenta seu
prestígio;
 A internacionalização: projeção de ‘seus artistas’ em galerias internacionais
Curso preparatório para ingresso em cursos de Pós-Graduação em Artes Visuais- 2013
Ministrante: Maria Helena Bernardes (texto 02)

Revisão de APÓS O FIM DA ARTE: ARTE CONTEMPORÂNEA E OS LIMITES DA HISTÓRIA, Arthur Danto

Danto destaca três aspectos fundamentais da arte contemporânea:


•Impureza: o trabalho do pintor e instalador norte-americano David Reed (ilustração de capa) exemplifica a prática
artística contemporânea, como um dos pintores que não hesitam em usar (...) mídias completamente diferentes –
escultura, vídeo, instalação e assemelhados [XV]. A indiferença de Reed para com os imperativos modernistas sublinha (...)
o desaparecimento do puro. Na obra citada, ‘Scott’s Room’, a estética da pureza não se aplica (...) pois o trabalho de Reed
difere, (...) de uma pintura expressionista abstrata [mesmo] sendo as de Reed (...) descendentes refinadas delas.
•Pluralismo: o momento atual , talvez único, é de profundo pluralismo e total tolerância. Nada está excluído. [XVI]
•Fim das narrativas históricas: o fim da arte é um meio (...) de declarar que as narrativas mestras que definiram a
arte tradicional e (...) a arte modernista, não só chegaram a um fim, mas que a arte contemporânea não mais permite ser
representada por narrativas mestras de modo algum. [XVI]. Esse livro [questiona] como a arte de David Reed se torna
historicamente possível e como poderá ser pensada criticamente. [XVII]

Moderno x Pós-Moderno e Contemporâneo:

•Moderno: cita Greenberg (o grande narrador do Modernismo) quando este se refere a Kant como o ‘primeiro
modernista’, destacando a ‘autocrítica’ como principal característica da arte moderna. Para Greenberg, Manet se tornou o
Kant da pintura modernista ‘em virtude da franqueza com que mostrava as superfícies planas’. [p. 10]

•Pós-moderno: situado dentro da contemporaneidade, define um estilo específico [p. 15] ligado ao
apropriacionismo.

•Contemporâneo: é a produção após o fim do modernismo, caracterizada pela falta de unidade estilística (...)
consequentemente, não há possibilidade de um direcionamento narrativo. A arte contemporânea é designada como ‘arte
pós-histórica’: situada para além do domínio da história e da própria arte.

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