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Canção do Exílio às Avessas Até os lagos das carpas

Jô Soares São de água mineral.


Da janela do meu quarto
Minha Dinda tem cascatas Redescubro o Pantanal.
Onde canta o curió Também adoro as palmeiras
Não permita Deus que eu tenha Onde canta o curió.
De voltar pra Maceió. Não permita Deus que eu tenha
Minha Dinda tem coqueiros De voltar pra Maceió.
Da Ilha de Marajó
As aves, aqui, gorjeiam Finalmente, aqui na Dinda,
Não fazem cocoricó. Sou tratado a pão-de-ló.
Só faltava envolver tudo
O meu céu tem mais estrelas Numa nuvem de ouro em pó.
Minha várzea tem mais cores. E depois de ser cuidado
Este bosque reduzido Pelo PC, com xodó,
deve ter custado horrores. Não permita Deus que eu tenha
E depois de tanta planta, De acabar no xilindró.
Orquídea, fruta e cipó,
Não permita Deus que eu tenha
De voltar pra Maceió.

Minha Dinda tem piscina,


Heliporto e tem jardim
feito pela Brasil's Garden:
Não foram pagos por mim.
Em cismar sozinho à noite
sem gravata e paletó
Olho aquelas cachoeiras
Onde canta o curió.

No meio daquelas plantas


Eu jamais me sinto só.
Não permita Deus que eu tenha
De voltar pra Maceió.
Pois no meu jardim tem lagos
Onde canta o curió
E as aves que lá gorjeiam
São tão pobres que dão dó.

Minha Dinda tem primores


De floresta tropical.
Tudo ali foi transplantado,
Nem parece natural.
Olho a jabuticabeira
dos tempos da minha avó.
Não permita Deus que eu tenha
De voltar pra Maceió.

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