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Sociologia da Educação nos Países da Integração

Aluna: Lindiana da Silva Oliveira

Racismo Estrutural e os desafios da Educação Libertadora na atual


conjuntura.

INTRODUÇÃO
A partir das leituras e análises dos textos disponibilizados nas aulas on-line
para a disciplina Sociologia da Educação, debatemos sobre como se manifesta o
racismo estrutural na sociedade e suas consequências para a educação atual.
Neste sentido, é fundamental uma análise em perspectiva social que tome como
ponto de partida o racismo estrutural relacionando para uma educação libertadora
na atual conjuntura política, econômica, social e educacional. Assim, a abordagem
aqui defendida partirá do ponto de vista do contexto brasileiro, uma vez que além
de brasileira, atuo na educação básica há 8 anos, sendo assim, é meu lugar de
fala e é onde consigo vislumbrar os desafios e as possibilidades para uma
“Educação Como Prática da Liberdade” (FREIRE, 1986).

Nesse contexto, torna-se importante o que Almeida (2018) reflete em seu


texto; “O que é racismo estrutural?”:

“Podemos dizer que o racismo é uma forma sistemática da discriminação


que tem a raça como fundamento, e que se manifesta por meios de
práticas conscientes ou inconscientes que culminam em desvantagens e
privilégios para indivíduos, a depender do grupo racial a que pertençam”
(ALMEIDA, 2018, p. 7).

Nesse sentido, percebemos, então, que o racismo enquanto sistema de


opressão discrimina as pessoas pela cor da pele, que neste contexto, pessoas de
pele preta, trazendo desvantagens para essas pessoas em detrimento dos
privilégios para as pessoas de pele branca. Analisando o racismo enquanto
estrutura opressora de uma sociedade, percebemos qual o lugar de fala do negro
e do branco no Brasil. Os cargos ocupados por pessoas negras e pessoas
brancas. A violência acometida ao grupo negro. A classe social que a maioria
pertence. Todas essas questões refletidas na sociedade fazem com que tenhamos
certeza do racismo como estrutura engessada, enraizada na sociedade brasileira.
Entretanto, mesmo com tantos entraves impostos podemos ultrapassar e iniciar
uma educação libertadora que refletirá na sociedade. Pois, a escola é um grande
espaço de transformação social a qual também deverá discutir essas questões
para pensarmos em ultrapassar os desafios e colocar em prática uma educação
antirracista, descolonizadora voltada para os direitos humanos. Como Freire
(1986) aponta; para uma “educação como um ato libertador, através do qual as
pessoas seriam agentes que operam e transformam o mundo”.

RACISMO COMO ESTRUTURA X DESAFIOS/POSSIBILIDADES PARA UMA


EDUCAÇÃO LIBERTADORA

O conceito de racismo defendido por Djamila Ribeiro, que o define como


sistema de opressão que nega direitos (RIBEIRO, 2019). Nesse sentido, o racismo
sendo um sistema de opressão vai negar direitos a pessoas de pele negra, direitos
básicos como saúde, educação, segurança. Ou seja, as pessoas de pele preta
vivem as margens da sociedade sem perspectiva de ascensão social, educacional
e econômica, consequentemente, estarão à mercê do estado vivendo em extrema
pobreza e constante violentação.

Assim, o caráter que define o racismo como estrutura pode ser percebido
quando observamos o acesso das pessoas negras a educação de qualidade, a
cargos de lideranças, ao ensino superior, em contrapartida observar também os
dados de encarceramentos, homicídios, feminicídios e agora também as mortes
no contexto pandêmico. Nunca morreu e matou-se tantos negros e negras como
atualmente. Por isso, Almeida (2018) reflete;
“Considerar o racismo como estrutural à sociedade brasileira significa dizer que
ele está na base da reprodução das relações de desigualdade e violência,
relações estas que ele normaliza mediante dispositivos variados de poder”
(ALMEIDA, 2018).

Por tudo isso, percebemos que o problema da desigualdade é crescente,


visto a importância que o sistema político atual dá a esse tema. Pois, um governo
que nega a existência do racismo no Brasil além de ser perverso é desumano,
uma vez que esse negacionismo favorece o racismo deixando para trás essas
pautas importantes. Sabemos que priorizar a agenda do racismo é de fundamental
importância e relevância no contexto discriminatório, racista e preconceituoso
brasileiro.

Entretanto, entendendo o racismo como estrutura que oprime, rejeita e


desfavorece pessoas negras, temos grandes desafios pela frente, uma vez que
precisaremos juntar esforços para implantar uma educação libertadora, antirracista
e descolonizadora. Sendo assim, para uma educação libertadora torna- se mais
que importante e necessária a compreensão da origem do povo brasileiro, pois
possibilita o conhecimento sobre o continente africano como nascente do mundo e
berço da civilização humana. Conhecer a origem do povo brasileiro instiga a
reconhecer um Brasil de muitas faces e multiculturalidades que direcionam para a
cultura negra como matriz importante, possibilitando valorizar a luta dos vários
movimentos negros no país. Ainda mais por sabermos que os aportes culturais de
matrizes africanas e afro-brasileiras enfrentam desafios no sistema curricular
nacional em abono de um currículo marcadamente eurocêntrico e que não
representa a maioria da população brasileira que se autodeclara como sendo
negra e parda.

Sabendo-se disso, desafios são enfrentados para implantação de uma


educação libertadora na atual conjuntura, mas também, há possibilidades através
da valorização e empoderamento dos alunos negros. Levar temáticas africanas e
afro-brasileiras para as escolas, sobretudo, contribuem para uma educação
antirracista, inclusiva, democrática, plural, representativa que vão favorecer a
cidadania e a diversidade dos educandos, consequentemente, uma educação
libertadora. No entanto, sabemos que a não identificação por parte dos alunos
com as temáticas africanas e afro-brasileiras perpassam por um olhar social
discriminatório racista e preconceituoso, resultados de anos de ensinos/práticas
educacionais equivocadas sobre essas temáticas. Por isso, para enfrentar o
desafio para inserir uma educação libertadora precisamos (re)-significar as
identidades dos alunos que em sua maioria se autodeclaram negros ou pardos,
para que possamos diminuir o racismo institucional e estrutural que mancham a
história da humanidade. À vista disso, precisa-se buscar formas de intervenção
para novas práticas educacionais de ensino, mudar sobre o que a priori pensava-
se sobre a África, mudar o entendimento sobre as histórias únicas negativas que
ouvimos sobre o Continente. Opor-se aos valores da história colonial e valorizar a
história nacionalista africana e afro-brasileira, reconhecer que muitas histórias
contadas foram histórias equivocadas para silenciar e subjugar o povo negro.
Propagar que os povos africanos e afro-brasileiros foram/são agentes de
resistência e luta contra padrões eurocêntricos e estereotipados. Enfim,
precisamos mudar as histórias negativas africanas que se interligam com a afro-
brasileira, que por muito tempo foram ensinadas nas escolas do Brasil sobre um
Continente marginalizado/inferiorizado. Por anos, aprenderam a ouvir e propagar
as histórias únicas negativas sobre o seu povo e seus ancestrais. Por muitos
anos, acreditou-se que o povo negro era desprovido da racionalidade, não tinha
humanidade, era um povo bárbaro que vivia na selvageria e no pé da escada da
civilização. Essas histórias da África ficaram conhecidas/enraizadas por
prolongado período aqui no Brasil e toda parte do mundo, favorecendo para uma
educação racista e eurocêntrica. No entanto, histórias únicas é um perigo para o
contexto social de toda a humanidade, uma vez que, desmistificar todas essas
histórias negativas é um trabalho árduo que exige muito tempo e esforço por parte
de toda a sociedade. Sem contar que, reduzem o continente a um país. Por tudo
isso, o estudo contextualizado da nacionalidade africana, a valorização da
pluralidade cultural afro-brasileira, as contribuições econômicas, políticas e sociais
sendo estudadas/propagadas de maneira descolonizadora e inclusiva no ambiente
escolar beneficiam acerca de pensarmos sobre o importante papel social do negro
no Brasil.”. Assim como, promove uma educação decolonial, libertadora e
antirracista. Como vislumbra Freire (1986);

“A escola deve ser democrática, respeitando o educando como sujeito da


história, e centrada na problemática da comunidade em que vive e atua,
propondo práticas pedagógicas capazes de provocar no aluno uma
consciência crítica fomentadora de transformações sociais” (FREIRE,
1986).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Reconhecendo o racismo como estrutura de opressão que oprime e


subjuga povos de pele preta. Observamos seus efeitos perversos na sociedade
atual como desigualdades social, econômica, política e etc. Percebemos também
a supressão de direitos básicos como saúde, educação e segurança.

Dessa forma, políticas públicas e dispositivos legais como a lei 10630/2003


que em seu artigo 26- A estabelece que: “Nos estabelecimentos de ensino
fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre
História e Cultura Afro-Brasileira” (BRASIL, 2009). Vão favorecer para uma
educação voltada para a liberdade, valorização de sujeitos negros.

Neste sentido, conhecer a história africana e afro-brasileira superando os


preconceitos, seria um caminho para oportunizar a cura da nossa ignorância, do
racismo e da intolerância. Como afirma Vanda Machado (2010). “Esperamos a
cura dos traumas e desencantos, que nas instituições educacionais fazem
crianças e jovens amargarem pela arrogância dos que regram conhecimentos
negando aspectos da cultura afro-brasileira por desconhecer a sua essência”.
Desse modo, não basta promover uma educação contra o racismo, é preciso
promover uma educação antirracista e libertadora, uma vez que entrelaçado com
o desconhecimento, perpetua todo tipo de discriminação: o racismo a pobreza e a
hierarquização da sociedade. Assim, precisamos desenvolver nas escolas práticas
pedagógicas educativas antirracistas, descolonizadoras voltadas para valorização
da diversidade, inclusão e pluralidade dos alunos afro-brasileiros e africanos.
Enfatizando as problemáticas oriundas dos processos de ensino e aprendizagem,
que por muito tempo foram bases para construção de uma educação eurocêntrica,
racista e discriminatória. Portanto, é urgente pensar em um currículo antirracista,
plural, democrático, diversificado, afrocentrado nas universidades brasileiras, ter a
obrigatoriedade de contemplar disciplinas de estudos africanos e afro-brasileiros
para que os futuros professores possam atuar de forma coerente nas escolas do
Brasil, reformular os currículos, investir em formação de professores para atuarem
na educação básica para conseguirmos ultrapassar os desafios impostos para
alcançarmos uma educação libertadora.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Silvio Luiz de. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte (MG):
Letramento, 2018.

BRASIL. República Federativa. Lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Brasília:


Congresso Nacional, 2003.

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Editora Paz e Terra. Rio de
Janeiro, 1986.

MACHADO, Vanda. Exu: o senhor dos caminhos e das alegrias. VI Enecult,


encontro de estudos multidisciplinares em culturas. Facom-UFBA – Salvador /
Bahia / Brasil. 25 a 27 de maio de 2010.

RIBEIRO, Djamila. Pequeno Manual Antirracista. São Paulo: Companhia das


Letras, 2019.

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