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DE DEPOIMENTOS
UFRJ/PUC Minas
2001
A VIVÊNCIA EM GRUPOS DE ENCONTRO:
um estudo fenomenológico de depoimentos
ORIENTADOR:
Prof. Dr. Franco Lo Presti Seminério
UFRJ/PUC Minas
2001
COMISSÃO EXAMINADORA
______________________________
Dr. Franco Lo Presti Seminério
Orientador
____________________________________
Dra. Ana Maria Lopez Calvo de Feijoo
Membro
___________________________
Dra. Élida Sigelmann
Membro
Rio de Janeiro
2001
FICHA CATALOGRÁFICA
CDU: 615.851.6
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
Na paisagem da memória ficam aqueles que contribuíram para que a experiência de ser
humano pudesse ser mais compreendida, transformando as vivências e lembranças em
afetos duradouros.
Ao Professor Dr. Franco Lo Presti Seminério, pela orientação firme, serena e flexível.
À Dra. Ana Maria Lopez Calvo de Feijoo e à Dra. Élida Sigelmann, pelas contribuições
durante o exame de qualificação.
À Gislaine, pelos afetos vividos.
À Maria Luíza (Loló), pela amizade e angústias e incertezas compartilhadas nos últimos
anos.
Ao Escípio e à Bernardete, companheiros de sonhos e projetos, pelas conversas e
sugestões.
À Dra. Vera Engler Cury, pelo acolhimento dos pedidos de “socorro”.
À Daniella Kangussu da Cunha, aluna do Curso de Psicologia da PUC Minas, pela
colaboração durante a realização da pesquisa.
Àqueles que se dispuseram a participar da realização deste estudo com seus
depoimentos.
À PUC Minas, especialmente ao Instituto de Psicologia, pela possibilidade e apoio a
este estudo.
E, principalmente, àqueles que enriqueceram os Grupos de Encontro com suas
presenças, facilitando o crescimento de todos os participantes.
RESUMO
ABSTRACT
The aim of this research has been the phenomenological comprehension of the
Encounter Group experience- which is an specific activity of the Person-Centered
Approach- and its possible ranges, for participants who had experienced it in Belo
Horizonte, in the period between 1986 and 2000. This study has been done with
participants whose reports were collected in an individual interview on their experience
in Encounter Groups. The quantitative analysis of the reports, under the
phenomenological approach has followed the methodology of the four steps proposed
by Amedeo Giorgi. After the analysis of the results it has been possible to observe that
the Encounter Group allows meaningful changes for the participants. The analysis of the
lived elements extracted from the reports has revealed the enlargement of the
participants’ perception. It has been also possible to conclude that through the
identification among members of the group, the participants develop therapeutic skills,
what reveals the range that the experience of Encounter Group allows.
SUMÁRIO
Dedicatória………………………………………………………………………………
………………………..v
Agradecimentos…………………………………………………………………………
………………………vi
Resumo……………………………………………………………………………………
………………………vii
Abstract……………………………………………………………………………………
……………………. viii
Introdução…………………………………………………………………………………
……………………..01
Capítulo 5:
RESULTADOS………………………………………………………………….103
5.1: Discussão dos resultados…………………………………………………..103
5.2: Conclusão……………………………………………………………………….109
Referências
Bibliográficas……………………………………………………………………………
…113
Anexo……………………………………………………………………………………
……………………….117
INTRODUÇÃO
A designação Abordagem Centrada na Pessoa (A. C. P.), proposta por Rogers na década
de 1970, denomina, segundo Boainain Jr (1999), “as contribuições teóricas e
metodológicas ao campo da psicologia e das ciências afins, originadas e identificadas
com a linha de pensamento e as propostas de atuação desenvolvidas por ele, seus
colaboradores e seguidores (…)” (p. 77). Essa denominação substitui as antigas, tais
como orientação não-diretiva e terapia centrada no cliente.
Wood et al (1994) dizem que “Rogers considerou a Abordagem Centrada na Pessoa
como uma forma singular de abordagem, organizadora da experiência bem sucedida em
diversas atividades. A Terapia Centrada no Cliente foi apenas a primeira dessas
aplicações e consistiu na facilitação do crescimento pessoal e saúde psicológica de
indivíduos numa psicoterapia pessoa-a-pessoa” (p. II e III).
A partir do momento em que Rogers vai desenvolvendo o seu método psicoterápico,
simultaneamente os princípios da abordagem também se configuravam. Wood et al
(1994) afirmam que “aquilo que no final, foi chamado de Terapia Centrada no Cliente,
evoluiu juntamente com os princípios que o estavam organizando. Terapia Centrada no
Cliente tornou-se um sistema de mudança na personalidade. Embora relacionada com
esse sistema, a abordagem, que veio a ser chamada Abordagem Centrada na Pessoa, é
uma categoria distinta” (p. V).
O princípio norteador da A. C. P. é a crença na capacidade do indivíduo, traduzido pelo
conceito formativo que é a Tendência à Atualização, como vimos anteriormente.
Veremos, então, que a Abordagem Centrada na Pessoa é mais ampla em suas aplicações
e que a teoria da Terapia Centrada no Cliente é um dos aspectos desta aplicação. Rogers
(1946) coloca que “embora a Abordagem Centrada no Cliente tenha suas origens
puramente dentro dos limites da clínica psicológica, está provando ter implicações,
freqüentemente de natureza bastante espantosa, em diferentes campos de atividades” (p.
421) tais como: grupos de encontro, psicoterapia de grupos, facilitação de
aprendizagens, grandes grupos, resoluções de conflitos, etc.
Deduz-se disso duas proposições: 1º) que a A. C. P. não tem uma teoria e, muito menos,
um método. Wood et al (1994) corroboram esta afirmação indagando: Que teoria
poderia ter uma abordagem? (p. V); 2º) que a Terapia Centrada no Cliente tem um
corpo teórico consistente, advindo da pesquisa exaustiva que Rogers e colaboradores
empreenderam, cujas hipóteses puderam ser testadas empiricamente.
Wood et al (1994) nos dizem ainda que “ao longo de sessenta anos (…) a abordagem
nunca mudou. Nos primeiros trinta anos, durante a fase intensiva do desenvolvimento
da Terapia Centrada no Cliente, era freqüentemente chamada de Abordagem Centrada
no Cliente. Nos trinta anos seguintes, quando foi aplicada (…) em outras atividades tem
sido chamada de Abordagem Centrada na Pessoa” (p. VI e VII).
O quadro abaixo, proposto por Wood et al (1994) ajudar-nos-á a entender melhor a
história da abordagem e suas aplicações:
Sendo que:
I. Atitudes do terapeuta. Caracterizada pelo livro de Rogers, Aconselhamento e
Psicoterapia, publicado em 1942.
II. Método de terapia. Identificada pelo livro Terapia Centrada no Cliente, publicado em
1951.
III. Experiência em processos internos. Corresponde à publicação (1961 a) do best-
seller Tornar-se Pessoa.
IV. Facilitação do aprendizado. Liberdade para Aprender (1969).
V. Relacionamentos interpessoais. Grupos de Encontro (1970).
VI. Processos sociais, formação e transformação da cultura. Sobre o Poder Pessoal
(1977) e Um Jeito de Ser (1980) (p. VIII).
De uma maneira didática, a evolução histórica da A. C. P. foi dividida, inicialmente, em
três fases que delineiam a sua atuação dentro do processo terapêutico. Porém, alguns
autores (por exemplo, Moreira, 1990 e Holanda, 1998) têm proposto novas fases;
Boainain Jr (1999), além de manter as três fases iniciais (Fase da terapia não-diretiva,
Fase da terapia centrada no cliente e Fase da terapia experiencial), propõe mais duas
fases: a Fase dos grupos de encontro e a fase dos grandes grupos. Para facilitar a
compreensão histórica da Abordagem, trabalharemos a seguir com a proposta de
Boainain Jr.
A primeira fase, Terapia Não-Diretiva, acontece historicamente em meados da década
de 30, em Nova York, na cidade de Rochester, onde Rogers inicia sua prática
psicológica, através de uma abordagem psicanalítica no uso do diagnóstico e
aconselhamento. Neste período Rogers participou de um seminário de Otto Rank, que
propunha uma terapia relacional, foi contratado por um centro de tratamento com
formação rankiana e também passou a realizar intercâmbio com a escola de Assistentes
Sociais da Pensilvânia. Devido a suas vivências, desde então Rogers passa a pensar em
um processo terapêutico a partir de uma escuta compreensiva e empática na qual o
cliente direciona a terapia. Em 1940, é convidado a trabalhar como professor da
Universidade de Ohio. Neste período, através de sua atuação como professor,
conferencista e supervisor, passa a explicitar e embasar suas propostas, o que lhe traz
um estado de conscientização de sua teoria que retira a direção da análise do terapeuta,
que passa a ser um elemento facilitador do processo de crescimento e transformação do
cliente. Sua abordagem passou a ser melhor aceita e reconhecida, principalmente a
partir de 1942 com a publicação do seu livro Psicoterapia e consulta psicológica
(Boainain Jr, 1999).
A segunda fase, chamada de terapia centrada no cliente, é desenvolvida em Chicago, a
partir da década de 40 e 50, quando Rogers assume a direção do centro de
aconselhamento vinculado à Universidade de Chicago. Este período é referido como o
mais importante e produtivo da construção da Abordagem Centrada, quando Rogers e
seus colaboradores dão maior fundamentação, definição e estruturação para a base
teórica que vinha sendo construída. Passa-se a buscar um embasamento empírico para a
terapia, através de novas e revolucionárias técnicas de pesquisa e investigação
terapêutica, como o uso da gravação de entrevistas e da técnica Q. Nesta fase, destacam-
se três atitudes essenciais para que o terapeuta pudesse ser um facilitador, que são a
consideração positiva incondicional, compreensão empática e congruência. Ao buscar
organizar as formulações de hipóteses empiricamente testáveis sobre a personalidade, o
desenvolvimento, a mudança e o relacionamento humano, acaba escrevendo, em 1956,
o livro Teoria da terapia, personalidade e relacionamento interpessoal. Ainda nesta fase,
destaca-se a aplicação da Abordagem em outros campos como na psicoterapia de grupo,
educação, ludoterapia, treinamento de conselheiros e liderança participativa (Holanda,
1998 e Boainain Jr, 1999).
A terceira fase é denominada de terapia experiencial. Em 1957, Rogers assume um
cargo na Universidade de Wisconsin, onde teria a oportunidade de trabalhar em
associação com o departamento de psiquiatria. Começa a pesquisar a aplicação de sua
abordagem a pacientes psiquiátricos, que apesar de resultados não precisos, faz com que
Rogers se aproxime mais do referencial existencial-fenomenológico e adote uma
postura mais humanizadora para o terapeuta. A princípio pensou em um terapeuta que
ao invés de apresentar um padrão de resposta reflexo ao que o cliente dizia, seria mais
humano que ele aceitasse, compreendesse e refletisse. Mas depois, com a prática
terapêutica principalmente com esquizofrênicos, que mantinham uma postura apática e
não tomavam iniciativa verbal para o começo da relação, Rogers revoluciona o campo
terapêutico, chamada agora de “bipolar” ou bicentrada, ou seja, centrada no mundo e
nas dificuldades de duas subjetividades autenticamente envolvidas na relação. Nesta
terceira fase, Gendlin contribui metodologica e teoricamente com a Abordagem ao
introduzir o conceito de “experienciar”, estabelecendo o verdadeiro foco orientador do
centrar-se do terapeuta, que viverá essencialmente o que é falado e sentido pelo outro
plenamente, focalizando a relação cliente-terapeuta. O experienciar do fluxo é vivido
pelos participantes da relação. Nesta época Rogers se posiciona como opositor da
corrente behaviorista, de Skinner. Em 1961, através de seu livro Tornar-se Pessoa,
Rogers se torna uma importante figura da “Terceira Força” em psicologia (Holanda,
1998 e Boainain Jr, 1999).
Em 1963, Rogers se muda para a Califórnia, em La Jolla, vilarejo de San Diego, a
convite de Richard Farson para se juntar à equipe do Western Behavior Sciences
Institute (WBSI), onde explora as potencialidades do comportamento em diversas áreas
como na educação, administração, governo, negócios. Em 1968, abandona a WBSI e
funda o Centro de Estudo da Pessoa, aonde começa a se dedicar ao trabalho de
conferencista, escritor e facilitador de grupos. Esta é a chamada quarta fase (dos grupos
de encontro) quando o trabalho se focaliza especialmente nas potencialidades
transformadoras do trabalho grupal e o pesquisador examina as transformações
socioculturais para sua análise científica e filosófica. A década de 60 é marcada pelo
Movimento do Potencial Humano, na Califórnia. Rogers contribui para a formação do
grupo mais não-diretivo e menos técnico, com clima psicológico caloroso e permissivo,
possibilitando o movimento de abertura experiencial e comunicativa e enfatiza uma
reestruturação da personalidade e crescimento pessoal. O encontro do grupo é
caracterizado pela presença de condições facilitadoras (verdadeiro agente transformador
e curativo apontado pela Abordagem) realizadas pelo facilitador designado, pelo cliente
ou pelos participantes do grupo (Boainain Jr, 1999).
É aqui, nesta fase, que pretendemos desenvolver o nosso trabalho: um estudo das
vivências subjetivas dos participantes dos grupos de encontro.
A quinta fase, caracterizada pelo aprendizado com os grandes grupos, acontece nas
décadas de 70 e 80. Em 1974, o Centro de Estudos da Pessoa resolve aplicar a teoria da
Abordagem em grupos maiores, chamados Workshops, buscando a construção de uma
mini-sociedade ou comunidade sem liderança formal, baseando-se apenas nas
possibilidades abertas pelo poder pessoal de cada participante para exercer a
autodeterminação. Apesar da descrença em tal trabalho, os resultados foram
extraordinários, descortinando interesses, possibilidades, aplicações de temas
vislumbrados nos encontros. A segunda contribuição desta fase se dá através da
conscientização política, que mostra ao organismo o seu poder, retirando-o das fontes
externas e de manipulação. Com isto a Abordagem passa a vislumbrar uma “revolução
silenciosa” aonde as pessoas cientes de seu poder pudessem solucionar problemas de
classe sociais e interculturais, promovendo a emergência da democracia e da paz
mundial.
Naturalmente, a evolução da Terapia Centrada no Cliente à Abordagem Centrada na
Pessoa mostra o seu dinamismo teórico e a sua aplicação nos mais variados campos de
atividades, tais como: grupos de encontro, psicoterapia de grupo, facilitação de
aprendizagens, grandes grupos, resolução de conflitos, etc.
Segundo Rogers (Rogers & Kinget, 1977, v.1) “o ser humano é, em seu cerne, um
organismo em que se pode confiar” e a Abordagem consiste em “prover certas
condições psicológicas que facilitam a liberação deste fluxo subjacente para realização
construtiva das complexas possibilidades da pessoa” (p. 112).
A Abordagem Centrada na Pessoa (A. C. P.) rendeu contribuições nos campos teóricos
e metodológicos às ciências afins e à psicologia. Esta abordagem, de acordo com a
evolução do pensamento rogeriano, recebeu diversas denominações durante seu
percurso histórico, tais como: Orientação Não-Diretiva, Terapia Centrada no Cliente,
Ensino Centrado no Aluno, Liderança Centrada no Grupo, que ainda são empregadas,
levando-se em conta a realidade conceitual que essas designações trazem em suas
teorias.
Em 1970, Rogers propôs a denominação Abordagem Centrada na Pessoa, que abrangia
a atuação do psicólogo em vários campos como na educação, na facilitação de grupos,
na resolução de conflitos. Um outro conceito foi criado a partir desta década,
designando o trabalho na clínica, que recebeu o nome de Abordagem Centrada no
Cliente. Rogers foi o primeiro a gravar e filmar uma sessão psicoterápica e a usar o
termo “cliente”, mostrando a não passividade da pessoa no processo terapêutico, mas
aquele que direciona e dá sentido à terapia.
A Abordagem Centrada na Pessoa, escola teórico-prática, apesar de ser marcada por
flexibilidade, não dogmatismo e grande desenvolvimento dinâmico, através de
reformulações conceituais e ampliação do campo de interesse e atuação, apresenta uma
base de princípios fundamentais que sustenta sua teoria expressa nos seguintes
constructos:
A – Tendência à Atualização
Todo organismo é movido por uma tendência inerente para desenvolver todas as suas
potencialidades e para desenvolvê-las de maneira a favorecer sua conservação e
enriquecimento (Rogers & Kinget, 1977). A Tendência à Atualização ou Realização é o
pilar da teoria da Abordagem e propõe que em cada organismo, não importando sua
complexidade, existe um fluxo interno que movimenta o ser em direção à construção de
suas potencialidades, desenvolvendo-as de maneira a conservar-se e enriquecer-se. No
ser humano esta tendência não visa apenas a subsistência de necessidades básicas, como
respirar, alimentar e desenvolvimento dos órgãos, mas também ao aprendizado
intelectual, social e prolongamento da vida através da reprodução. Além disto, abrange
a noção de motivação, que se relaciona com a redução de tensões, necessidades e
impulsos. Seu movimento leva o organismo a se reconhecer com autônomo, único.
B – Noção de “Eu”
É uma estrutura perceptual, isto é, um conjunto organizado e mutável de percepções
relativas ao próprio indivíduo. Como exemplo dessas percepções podemos citar: as
características, atributos, qualidades e defeitos, capacidades e limites, valores e relações
que o indivíduo reconhece como descritivos de si mesmo e que percebe como
constituindo sua identidade (Rogers & Kinget, 1977, v.1).
Coppe (1999) afirma que “o primeiro constructo é o postulado fundamental da
abordagem, ele é o pilar da teoria da terapia, ao passo que o segundo é a base da teoria
da personalidade, deduzida da teoria da terapia” (p. 09).
A conjugação destes dois fatores é que determina o comportamento, pois segundo
Rogers (Rogers & Kinget, 1977, v.1) “o primeiro representa o fator dinâmico, o
segundo representa o fator regulador. Um fornece energia; outro a direção” (p. 44).
C – Experiência
Esta noção, segundo Rogers e Kinget (1977), “se refere a tudo que passa no organismo
em qualquer momento e que está potencialmente disponível à consciência; em outras
palavras, tudo que é suscetível de ser apreendido pela consciência. A noção de
experiência engloba, pois, tanto os acontecimentos de que o indivíduo é consciente
quanto os fenômenos de que é inconsciente” (p. 161, v.1).
D – Avaliação Organísmica
Pagés (1976) diz que “o indivíduo possui um sistema de avaliação da experiência e que
as experiências percebidas como atualizadoras do organismo são valorizadas
positivamente, e são valorizadas negativamente no caso inverso” (p. 43). Mas Rogers
(Rogers & Kinget, 1977, v.1) diz, mais precisamente, que “a experiência é avaliada
levando-se em conta as necessidades de conservação e de valorização, tanto do
‘organismo’ quanto do ‘eu’, no presente imediato e no futuro”. (p.178)
Segundo Coppe (1999), “o desenvolvimento teórico possibilitou ao longo dos anos, o
desenvolvimento de noções sistemáticas e precisas. Apresentaremos abaixo uma lista
numerada das noções, que é dividida em 11 grupos, sendo que cada grupo está
organizado em torno de uma noção-chave” (p. 09). Os conceitos das noções-chave se
baseiam no capítulo VIII do livro Psicoterapia e Relações Humanas, v. 1, de Rogers &
Kinget, 1977:
I – Tendência atualizante
Apesar de já tratada no item A acima, é mister esclarecer que esta tendência pode,
segundo Rogers (1983), “ser frustrada ou desvirtuada, mas não pode ser destruída sem
que se destrua também o organismo ” (p. 40). Ela é uma característica dos seres vivos.
II – Experiência
Experiência é tudo aquilo que ocorre consciente ou inconscientemente ao organismo. É
uma noção psicológica e não fisiológica, ou seja, não abrange a noção de descargas
bioquímicas ou fisiológicas, já que estas não ocorrem a nível consciente. A Experiência
se restringe a fatos imediatos da consciência e não a acumulações de acontecimentos
passados com o organismo.
Experimentar é vivenciar de forma ativa e mutável os acontecimentos internos e
sensoriais que atingem o organismo. Segundo Rogers & Kinget (1997), “Experimentar
conscientemente significa simbolizar corretamente uma dada experiência” (p. 162, v. 1).
Experimentar um sentimento abrange ao mesmo tempo a noção cognitiva e afetiva da
experiência vivida. Ao experimentar um sentimento entra-se em contato com a
manifestação de um fenômeno que será apreendido ou não, de forma consciente ou
inconsciente da experiência.
Carl Ranson Rogers nasceu em 8 de janeiro de 1902, em Oak Park, Illinois (EUA), e
faleceu em 5 de fevereiro de 1987, em La Jolla, Califórnia (EUA). Era o quarto de seis
filhos, sendo apenas uma mulher. Walter Rogers, seu pai, graduou-se em Agronomia na
Universidade de Wisconsin. Júlia, sua mãe, freqüentara a faculdade por dois anos.
Segundo Rogers (1975), sua família era unida e tinha como ideologia básica a religião
fundamentalista. Preocupavam-se com a formação moral e o culto do valor ao trabalho.
Suas relações eram afetuosas, passando tempos agradáveis juntos. Acreditavam ser
diferentes das outras famílias e, por conseqüência, tinham comportamentos singulares,
como a abstinência do álcool, da dança, dos jogos de cartas e de espetáculos já que eram
os “eleitos” de Deus. Quando criança, Rogers não tinha a saúde muito boa e por isso era
considerado frágil pela família (Gobbi & Missel, 1998). Devido a este fator, algumas
crianças usavam de brincadeiras provocativas, beirando a crueldade. Isso fazia com que
Carl encontrasse dificuldades em fazer amigos fora da família, fato agravado, segundo
Belém (2000), pela necessidade de mudar de escola três vezes. Como era uma criança
mais introvertida, encontrava nos livros um companheiro, que de certa forma o
distanciou dos colegas quando ingressou na escola, já que lia em um padrão mais
avançado. Era um garoto com ávidos questionamentos científicos, mas vivia em
isolamento social.
Em 1914, aos doze anos, Rogers muda-se com a família para uma chácara distante trinta
milhas, a oeste de Chicago. Seu pai havia ascendido como homem de negócios e
procurava um lugar que propiciasse entretenimento. Além disto, Carl acreditava que
seus pais queriam afastar sua família das “tentações” da cidade. Neste lugar começa a se
interessar pela vida das borboletas noturnas, como a bela Luna, Polyphemus, Cecrópia,
e outros lepidópteros. Estudando-as pelos livros e criando-as em cativeiro, tornou-se
autoridade nessas criaturas e aprendeu através da observação da natureza, as delícias e
as frustrações que se tem em fazer ciência. E como seu pai organizou a chácara em uma
base científica, adquirindo vários exemplares sobre a agricultura racional, incentivando
seus filhos à procurarem conhecimento para suas independências através da lida com
galinhas, porcos, carneiros e vacas. Este contato incentivou Carl, aos 14 anos, a
pesquisar a obra de Morrison, Feeds and Feeding (alimentos e alimentação), sobre a
agricultura científica. Aprendeu a importância do ‘grupo experimental’, ‘grupo de
controle’, ‘procedimentos aleatórios’, o que lhe era importante saber para influenciar
corretamente a alimentação dos animais alterando respectivamente a produção de carne
e leite. Rogers (1975) afirma, a partir dessas experiências, que “aprendi como é difícil
verificar uma hipótese. Adquiri deste modo o conhecimento e o respeito pelos métodos
científicos através do trabalho prático”. Esses interesses o influenciaram no seu
trabalho.
Sua educação foi ministrada no liceu de Wisconsin no campo da agricultura, já que
nesta fase queria poder administrar a chácara de forma mais moderna e científica. No
seu primeiro ano tornou-se membro de um grupo de estudantes conduzido por George
Humpley. Esse grupo trazia duas idéias que foram muito importantes tanto para a
formação pessoal quanto para a construção da teoria da Abordagem Centrada na Pessoa,
de Carl Rogers: a não adoração convencional do líder e a procura de se tomar suas
próprias decisões (Gobbi & Missel, 1998).
A vocação profissional de Rogers foi alterada nos dois primeiros anos de colégio
quando desiste da agricultura em favor do sacerdócio devido às reuniões que
freqüentara a respeito de religião. Passou, então, ao estudo da História, graduando-se em
1924 (Rogers, 1975). No primeiro ano de colégio, 1922, foi escolhido entre estudantes
americanos para uma viagem a Pequim, na China, afim de participar de um Congresso
Internacional Mundial dos Estudantes Cristãos, que durou mais de seis meses. Nesse
período, além da novidade de viajar para um outro país, ele conviveu com um grupo de
colegas muito inteligentes e criativos. E quando observou a diferença entre estudantes
franceses e alemães pode compreender como é que pessoas sinceras e honestas
poderiam ter doutrinas diferentes. E então emancipa-se pela primeira vez dos
pensamentos paternos , tornando-se uma pessoa independente (Rogers, 1975). Durante a
viagem correspondia com seus pais e com Helen Elliot, sua namorada. Neste momento
parecia estar compelido a ser honesto consigo mesmo, e não se sentir culpado e nem
mesmo perceber o efeito que este seu novo modo de ser poderia estar causando aos seus
pais, que eram tão tradicionais em suas doutrinas. A vivência em grupo possibilitou-lhe
entender e valorizar as diferenças individuais, além da aceitação que encontrou no
grupo e da segurança no relacionamento com Helen, que ajudaram-no a manter a
autenticidade na fuga da estreita visão familiar da realidade.
A viagem à China debilitou Rogers através de uma úlcera duodenal. Quando se
recuperou foi trabalhar em um depósito de antigüidades e nessa época teve o seu
primeiro contato com a Psicologia, através de um curso por correspondência de
Introdução à Psicologia, cujos textos eram de William James. Durante sua recuperação
aprofundou seus laços com Helen, uma estudante de artes. Noivaram e dois meses
depois da formatura de Carl em História, na Universidade de Wisconsin, casaram-se,
apesar de os pais de ambos acreditarem que fosse melhor esperarem depois que já
estivessem firmes em suas carreiras (Gobbi & Missel, 1998).
Em 1924, entra no colégio mais liberal do país, o Union Theological Seminary, em
Nova Iorque, do qual participa, durante dois anos, com o objetivo de se preparar para a
missão religiosa. Encontra professores excepcionais, como o Dr. A. C. McGiffert, que
acreditava e apoiava a liberdade de investigação e a busca da verdade (Rogers, 1975).
Seu grupo de estudos acreditava que o “Union” transmitia-lhes pensamentos já prontos
e desejavam pensar por si próprios. Então pediram à administração um espaço para
realizarem seminários sem diretores, onde poderiam questionar seus próprios
pensamentos. Foi neste espaço que Rogers desistiu da missão do sacerdócio, por
considerar a doutrina religiosa fechada em pensamentos lineares, o que não condizia
com sua nova forma de pensar, quando já não queria mais acreditar em uma única linha
de pensamento. Apesar de não mais desejar o sacerdócio, continuava envolvido pelo
sentido da vida e a possibilidade em poder melhorar a qualidade de vida dos seres
humanos; então como já havia tido contato com a psicologia e a psiquiatria, através de
cursos e conferências que havia assistido no “Union”, interessa-se em começar a seguir
cursos sobre psicologia clinica, na Escola Normal da Universidade de Colúmbia, o
Teachers College, que ficava exatamente em frente ao Union Seminary. Começa a
trabalhar em filosofia da educação com Willian Heardt Kilpatrick, veterano de John
Dewey, que lhe mostra a importância da educação progressista. Inicia seus trabalhos
práticos sob a orientação de Leta Hollingworth, que lhe propicia o primeiro contato com
crianças com distúrbios (Rogers, 1975).
Em 1926, ano em que começa a estudar na Universidade de Colúmbia, seu filho David
nasce em março tendo sua educação baseada no comportamentalismo watseniano.
Pouco a pouco começou a se dedicar ao estudo da psicopedagogia e a pensar em se
tornar psicólogo consultor. Como estava envolto em uma atmosfera de vigorosa
abordagem científica aliada a uma objetiva metodologia, houve facilidade na construção
de um teste para medir o ajustamento da personalidade da criança de 9 a 11 anos, que
foi o seu trabalho de doutorado. Durante essa época recebeu uma bolsa de estudos e
entrou no internato do Instituto para Orientação da Criança. Mergulhou nas perspectivas
dinâmicas de Freud, que lhe pareceram confusas e abstratas em relação ao cientifícismo
encontrado em sua escola anterior. Ao terminar seu teste de personalidade, este foi
considerado útil como instrumento clínico no Instituto. Provocou imensa popularidade e
vendia muito até os anos 70 (Gobbi & Missel, 1998).
Próximo ao fim do internato, 1928, procurou um lugar para trabalhar, no qual pudesse
encontrar remuneração e diminuísse os gastos familiares. Encontrou seu primeiro
emprego em Rochester, Nova Iorque, no Child Study Department, na Associação de
Proteção à Infância, onde recebia um salário insuficiente e tinha pouca perspectiva de
carreira, mas que lhe agradava, por estar trabalhando naquilo que gostava (Rogers,
1975). Durante os doze anos que passou em Rochester, oito se dedicou ao estudo do
processo psicodiagnóstico e planejamento de casos de crianças delinqüentes e
desprovidas de tudo. Foi um período de isolamento profissional em que se preocupou
em aprender com seus acertos e erros e a questionar se os métodos que eram utilizados
no tratamento seriam realmente eficientes. Desiludiu-se com três pontos, ao fazer sua
retrospectiva: com uma autoridade, com o material e consigo mesmo (Rogers, 1975).
Em relação à autoridade, estudou com o Dr. William Healy, que dizia que a
delinqüência muitas vezes devia-se a uma causa sexual e que ao constatá-la cessaria.
Acreditou com veemência nesta teoria e ao aplicá-la a um jovem piromaníaco do qual
descobriu o problema sexual, deu-lhe liberdade condicional e o jovem continuou com os
problemas. Outro acontecimento foi em relação ao material. Rogers (1975), ao ministrar
uma palestra sobre “os métodos da entrevista psicológica ilustrando-a com um caso de
uma entrevista que havia encontrado de uma mãe sendo entrevistada por um assistente
social perspicaz, penetrante e hábil, capaz de conduzir rapidamente a entrevista para o
centro da dificuldade” (p. 22). Anos mais tarde, ao reler este caso, considerou-o
próximo de um interrogatório; que bem sabia ser este um método superficial e que não
levava em consideração a subjetividade da pessoa entrevistada.
O fato que mais lhe marcou foi um erro que ele próprio produziu, como relata neste
comentário escrito em seu livro Tornar-se Pessoa (1975), anos mais tarde, quando já
havia aprendido a
“ser mais delicado e paciente na interpretação dada a um paciente do seu
comportamento, aguardando uma oportunidade em que a pudesse aceitar sem
perturbação.
Falava com uma mãe extremamente inteligente, cujo filho era um verdadeiro diabo. O
problema era evidentemente a sua rejeição do rapaz desde cedo, mas, apesar de muitas
entrevistas, não conseguia fazê-la ver isso. Fi-la falar, procurei delicadamente salientar
os dados evidentes que me tinha fornecido, tentando ajudá-la a ver a situação. O
resultado era nulo. Acabei por desistir. Disse-lhe que havíamos feito o melhor que
podíamos, mas que tínhamos falhado e que assim os nossos contatos deviam terminar.
Ela concordou. Acabamos assim a entrevista, apertamos a mão e ela dirigiu-se para a
porta do meu gabinete quando se voltou para mim e perguntou: “Também aconselha
adultos aqui?” Tendo-lhe respondido afirmativamente, disse-me: “Pois bem, gostaria
que me ajudasse”. Voltou para a cadeira donde se havia levantado e começou a dar
largas ao seu desespero sobre o matrimônio, sobre suas relações perturbadas com o
marido, o seu sentimento de fracasso e confusão, tudo isso muito diferente da estéril
‘história de um caso’ que antes me tinha fornecido. Iniciou-se então uma real terapia
que acabou por ser bem sucedida.” (p. 23)
Rogers (1975) disse que “este fato o fez pensar que é o próprio paciente que sabe aquilo
de que sofre, em que direção deve ir, quais os problemas que são cruciais, que
experiências foram profundamente recalcadas. Comecei a compreender que, para fazer
algo mais do que demonstrar a minha própria clarividência e a minha sabedoria, o
melhor era deixar ao paciente a direção do movimento no processo terapêutico” (p. 23).
Neste momento o processo de psicoterapia progride de uma abordagem formal e
diretiva para a que Rogers chamará mais tarde de Abordagem Centrada na Pessoa.
Ao longo deste período começou a duvidar se era um psicólogo. A Universidade de
Rochester disse-lhe que ele não fazia psicologia e não mais quis seus serviços. Assistiu
às reuniões da Associação Americana de Psicologia, que tratavam do tema do
aprendizado através de ratos e experiências de laboratório, e realmente não pareciam
com o trabalho que vinha desempenhando. Identificou-se com os assistentes de
psiquiatria social e retornou suas atividades como psicólogo nesta área. Começou a dar
cursos de como se tratar e compreender crianças difíceis, na Universidade, dentro do
Instituto de Sociologia. Logo depois o Instituto de Pedagogia também incluía suas
lições. Segundo Rogers, passar por tudo isso foi uma caminhada ao próprio rumo,
independente de estar com conceitos diferentes ou iguais de seus colegas (Rogers,
1975).
Em 1939, foi convidado a ser professor efetivo na Universidade Estadual de Ohio, tendo
certeza de ter sido convocado por causa da divulgação de sua obra The Clinical
Treatment of the Problem Child (O Tratamento Clínico da Criança Problema), livro que
pretendeu dar uma visão geral do campo de orientação da criança. Ministrava
conferências e publicava numerosos artigos, participando de muitos comitês e
estabelecendo práticas na terapia supervisionada, em seu primeiro ano em Ohio.
O dia 11 de dezembro de 1940 é considerado a data de aniversário da Terapia Centrada
no Cliente, já que neste dia Rogers proferiu uma conferência sobre os “Novos Conceitos
em Psicoterapia”, na qual critica os velhos métodos de terapia e descreve as “novas
práticas”, reconhecendo as influências de Otton Rank, Jessie Taft, Frederick Allen,
fazendo referência ao trabalho de Karen Horney (Gobbi & Missel, 1998).
Ao ensinar o que aprendera sobre o tratamento, percebeu que suas idéias tinham
perspectivas pessoais a partir de suas práticas, gerando críticas que o levou a se
questionar, escrevendo então em 1942 o livro Couseling and Psicotherapy (Psicoterapia
e Consulta Psicológica), onde aparece pela primeira vez o termo “cliente” e o relato
completo de uma consulta terapêutica (Gobbi & Missel, 1998). Descrevia o que lhe
parecia ser uma orientação mais eficaz da terapia. Este livro vendeu muito mais do que
se esperava.
Durante sua vida procurou estar sozinho em alguns momentos. E quando viajava com
sua esposa para o México, Caraíbas ou qualquer outro lugar aonde não fosse
reconhecido como psicólogo, ocupava-se em pintar, nadar, pescar, fotografar. Estes
eram os períodos de sua vida em que ele mais produzia intelectualmente, apesar de só se
dedicar ao estudo umas quatro horas diárias durante seus passeios.
Permaneceu apenas quatro anos em Ohio, período em que sua reputação foi realçada e
adorado pelos estudantes, aos quais dava muita atenção. Em 1945 muda-se para a
Universidade de Chicago, onde foi requisitado a estabelecer um Centro de
Aconselhamento.
Rogers passou 12 anos em Chicago, o período mais criativo de sua vida. O Centro de
Aconselhamento passou a ser formado por um grupo de colegas e pós-graduandos, com
o qual se estabeleceu um clima democrático, sem uma autoridade formal, privilegiando
e acreditando na capacidade do grupo que recebia estudantes e pessoas da comunidade.
Acontecia muita pesquisa e inovações clínicas.
Em 1951, escreve o livro Client-Centered Therapy (Terapia Centrada no Cliente), em
que já usa o método fenomenológico.
Em 1956, recebeu pela Associação Americana de Psicologia, o prêmio de “Destacada
Contribuição Científica” devido à publicação do livro Psicoterapia e Mudança da
Personalidade, publicado em 1954, em parceria com Rosalind Dymond. Anos mais
tarde, Rogers comenta que este prêmio foi para ele o mais importante (Gobbi e Missel,
1998).
Voltou para a Universidade de Wisconsin, em 1957, aonde pensava ser possível a união
de pensamentos das áreas de Psicologia e Psiquiatria. Este desejo não foi satisfeito e
Rogers entrou em atrito com alguns colegas. Como houve muitos conflitos, Carl se
demitiu, mas continuou a trabalhar no departamento de Psiquiatria. Em 1967, publicou
o livro The Therapeutic Relationship and it is Impact: A study of Phycotherapy with
schizophrenics, resultado do seu trabalho com esquizofrênicos, em Stanford (Gobbi &
Missel, 1998 e Belém, 2000).
Quando publicou o livro On Becoming a Person (Tornar-se Pessoa), em 1961, não
esperava que fosse ser tão bem aceito pelos profissionais da área de educação,
terapeutas, filósofos, e outros, conferindo-lhe influência e reconhecimento pelos
intelectuais, sendo um dos seus livros mais traduzido.
Em 1963, Richard Farson, um de seus antigos estudantes, convida-o a entrar no recente
Western Behavior Sciences Institute (WBSI), em La Jolla, Califórnia, organização sem
fins lucrativos e que se preocupava com a pesquisa Humanística em prol às relações
interpessoais. Neste momento, Rogers passa a acreditar tanto no processo terapêutico
grupal quanto ao que acontece entre cliente e terapeuta. Richard Farson sai da WBSI,
em 1968, ocasionando mudanças administrativas. Rogers então se retira e forma junto
com outros colegas o “Centro de Estudos da Pessoa”, onde permanece como
“colaborador presidente” até sua morte. Logo o Centro tinha quarenta membros que
vieram de diferentes disciplinas, que tinham a liberdade de desenvolver seus próprios
interesses. Nos seus últimos anos na Califórnia, Rogers teve a liberdade de trabalhar,
pesquisar e testar suas idéias sobre grupos de encontro, sem a influência restritiva de
instituições sociais ou acadêmicas (Gobbi & Missel, 1998).
Segundo Coppe (1999), “a partir da década de 70, Rogers se interessa profundamente
pelos aspectos sociais e políticos da sua teoria”. Publica Carl Rogers on encounter
groups (Grupos de Encontro), tendo facilitado, em 1972, na Irlanda, um grupo de
encontro entre católicos e protestantes. Em 1974, com a ajuda de Natalie, sua filha,
acontece o primeiro workshop de grandes grupos (Person Centeral Workshops).
Preocupado com a paz no mundo e a possibilidade de atravessar fronteiras culturais e
raciais, na última década de sua vida passa a viajar pelo mundo. Visita o México, o
Brasil (em 1977, 1978 e 1985), a Austrália, o Japão, vários países da Europa
(principalmente nas áreas de tensão como a Irlanda do Norte, Rússia, Polônia) e África
do Sul, tentando divulgar suas idéias e participando ativamente de workshops (Gobbi &
Missel, 1998 e Coppe, 1999).
Sua esposa Helen morre em 1979. No ano seguinte, Rogers publica o livro A Way of
Being (Um Jeito de Ser), com novos prismas sobre a ciência e o conhecimento.
Próximo ao ano de 1985, Rogers reúne um grupo de dezessete grandes países em uma
Conferência na Áustria, no “Central American Challenge”, preocupado com o confronto
nuclear e a preservação da paz mundial (Gobbi & Missel, 1998); no ano da sua morte,
em 1987, tinha agendado para março um encontro com o ex-presidente Jimmy Carter
sobre a paz mundial e, também neste ano, foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz.
2.1: Histórico
O Grupo de Encontro tem importância tanto para a prática psicoterapêutica, como para a
Abordagem Centrada na Pessoa (A. C. P.) enquanto um referencial teórico. Portanto, é
necessário situá-lo historicamente no seio da A. C. P., inclusive para compreender
melhor o seu percurso e a proposta desta pesquisa. Ele é específico da prática rogeriana.
É importante frisar que a palavra grupo aqui empregada refere-se a uma experiência
planejada e intensiva dentro de um contexto psicológico.
Os grupos de encontro, segundo Fadiman e Frager (1979), originaram-se em 1946 em
Connecticut, EUA, com um programa de treinamento para líderes comunitários. A
proposta consistia em encontros, à noite, entre treinadores e observadores para discutir
os eventos diurnos. Esta experiência mostrou que ao darem um feedback aos
participantes, isto intensificava o vínculo entre eles.
Rogers (1970) coloca que anterior a 1947, Kurt Lewin e sua equipe do Massachussets
Institute of Technology desenvolveram a idéia de que o treino das capacidades em
relações humanas era um importante mas esquecido tipo de educação na sociedade
moderna. Em 1947, pouco depois da morte de Lewin, foi realizado o primeiro, então
chamado T-group (‘training groups’: grupos de treino), em Bethel, Maine, EUA.
Alguns dos treinadores dos grupos de Connecticut se juntaram aos outros e fundaram os
‘National Training Laboratories’ (NTL), que funcionaram, aproximadamente até 1960.
Os NTL, inicialmente, foram planejados para a indústria, em função do suporte
financeiro dela. Naturalmente, a participação das pessoas nos T-group possibilitou-lhes
uma compreensão mais clara a respeito do seu próprio funcionamento e isto levava a
uma mudança significativa de personalidade.
Simultaneamente a este movimento, Carl Rogers e seus colaboradores no Centro de
Aconselhamento da Universidade de Chicago desenvolveram grupos de treinamento
para conselheiros pessoais para a Administração dos Veteranos; o objetivo era preparar
as pessoas para serem conselheiros eficazes no tratamento de problemas dos regressados
da guerra. A equipe percebeu que a melhor maneira de preparar os conselheiros era
através de grupos intensivos, onde eles tinham percepção maior de si mesmo e, a partir
desta consciência, desenvolverem um clima psicológico seguro para facilitar uma ajuda
efetiva para os regressados. Esta proposição evidencia a idéia básica da A. C. P., cuja
tese é a capacidade de a pessoa se desenvolver e crescer em harmonia consigo e com o
seu ambiente (Coppe, 1998).
A experiência tem demonstrado, qualitativamente, que mesmo ocorrendo, ainda que
minimamente, alguns efeitos negativos, a maioria dos participantes relata efeitos
altamente positivos em suas vidas. Isto confirma que a vivência intensiva de grupo é
poderosa e geradora de mudanças significativas.
As teorias que inicialmente deram suporte ao movimento de grupo foram o pensamento
de Kurt Lewin, a Psicologia da Gestalt e a Abordagem Centrada na Pessoa. A A. C. P.,
além de dar a sua contribuição para a terapia, cria esse modelo de Grupos de Encontro,
que é terapêutico, embora não tenha a estrutura de um grupo de terapia. Veremos que à
medida que o interesse pelos grupos se disseminou e proliferou, várias modalidades se
desenvolveram. Rogers (1970) aponta algumas dessas modalidades: T-Groups, Grupos
de Encontro (ou grupo de encontro básico, cujo foco é o crescimento pessoal através de
um processo experiencial), Grupo de treinamento de sensibilidade, Grupo centrado na
tarefa, Grupos de percepção sensorial – de percepção corporal – de movimento corporal,
Grupos de criatividade, Grupo de desenvolvimento organizacional, Grupo de formação
de equipe, Grupo Gestáltico, entre outros.
Capítulo 3: FUNDAMENTAÇÃO
Nos últimos anos tem havido um crescimento do interesse pela pesquisa qualitativa,
tanto que Henwood (1998) afirma que “os psicólogos estão tomando consciência de que
a coleta e a análise de dados qualitativos é, não somente uma característica inevitável da
prática profissional (por exemplo, em entrevistas clínicas ou de aconselhamento), mas
também, constitui uma das competências necessárias à condução de pesquisa”. (p.232)
Gomes (1989) também partilha do crescimento deste interesse, dizendo que a pesquisa
qualitativa traz entusiasmo, uma vez que se evidencia uma perspectiva de um
refinamento metodológico em que são consideradas as manifestações ou expressões
humanas e sociais antes inacessíveis para estudo sistemático. Esse movimento,
naturalmente, se opõe ao positivismo lógico e à quantificação. E, segundo Gomes
(1989), “também, porque a pesquisa qualitativa em suas formas mais refinadas, pretende
levar adiante um projeto proposto pela própria psicologia humanista, que é, o
desenvolvimento de um critério empírico, operacional, rigoroso e humano de ciência”
(p. 99).
Para pensar a pesquisa qualitativa em Psicologia é necessário, de acordo com Bicudo &
Martins (1994), esclarecer “os significados de fato e de fenômeno, uma vez que a
pesquisa quantitativa trabalha com fatos e a qualitativa, com fenômenos” (p. 21).
Conforme o Positivismo Lógico, fato é tudo aquilo que pode se tornar objetivo e
rigorosamente estudado enquanto objeto da Ciência, sendo que ele, após a sua
definição, é controlado. Ao passo que fenômeno, conforme visão existencial-
fenomenológica, vai significar aquilo que se mostra a si mesmo, o manifesto. Nesse
sentido, Bicudo & Martins (1994) afirmam que “o fenômeno mostra-se a si mesmo,
situando-se”. (p. 22)
Em função da sua característica de focalizar (situar) o individual, o específico, o
peculiar, a pesquisa qualitativa tem por objetivo compreender a particularidade daquilo
que estuda e não a explicação. Ela introduz um rigor metodológico que não o da
precisão numérica, ao estudar os fenômenos como amor, raiva, angústia, tristeza, etc;
uma vez que, segundo Bicudo & Martins (1994), “esses fenômenos apresentam
dimensões pessoais e podem ser mais apropriadamente pesquisados na abordagem
qualitativa. Os estudos assim realizados apresentam significados mais relevantes tanto
para os sujeitos envolvidos como para o campo da pesquisa ao qual os estudos desses
fenômenos pertence” (p. 27).
Nesse sentido, a modalidade metodológica da pesquisa qualitativa que melhor se
enquadra à pesquisa aqui proposta é o enfoque fenomenológico, cujo objetivo geral é
descrever os fenômenos estudados. Vejamos, então, a pesquisa fenomenológica.
3.2.1. A fenomenologia
4.1. Objetivos
4.3. Instrumentos
Sabe-se que para ter acesso ao sentido da vivência, ou seja, para se tornar passível de
análise o fenômeno investigado, faz-se necessário um instrumento que possibilite ao
sujeito um contato com a experiência vivida. Na pesquisa fenomenológica empírica o
instrumento mais viável para a coleta de depoimentos é a entrevista. Este estudo,
pretendendo ser fiel ao método fenomenológico da investigação, vai utilizar como
recurso de coleta de dados (obtenção de depoimentos) a técnica da entrevista gravada.
Como diz Amatuzzi (1989), “ao falar sempre falo de algo. Mas também falo a alguém,
com uma intenção, e o defino nesse ato em relação a mim. E ainda, ao falar eu me falo”
(p. 19).
4.4. Procedimentos
É, para a gente falar de uma experiência mais marcante tem que fazer um pouquinho de
esforço porque acho que todas as experiências que tive foram muito marcantes.
Relembrar minhas experiências com grupo é sempre muito bom porque posso
vislumbrar uma longa caminhada…
Cíntia considera todas as experiências marcantes, daí o esforço para se lembrar de uma.
Isso a faz rever sua caminhada.
Foi quando eu fui participar de um grupo de encontro e eu realmente não sabia como é
que era e a idéia que eu tinha era muito vaga. Não só a respeito do grupo de encontro
como também a respeito do ser humano, né? Estava passando por momentos muito
difíceis comigo mesma e nas minhas relações pessoais. Cíntia não tinha idéia do que era
um grupo de encontro e do ser humano devido às dificuldades pessoais e interpessoais
Aos poucos fui descobrindo que eu sou digna de confiança, sou humana, sou realmente
imperfeita, fui aprendendo a me aceitar e aceitar mais as outras pessoas também. A me
respeitar e a respeitar o outro, a ter um pouco mais de paciência ou a me permitir não ter
paciência para certas coisas ou pessoas.
Cíntia passa a aceitar mais a si mesma e aos outros, sentindo-se mais flexível.
No grupo eu pude ver claramente o que é a sabedoria organísmica e também como isso
funciona a nível de coletivo.
Já pude ver, mais de uma vez, que o grupo sabe a hora de começar, de aprofundar e de
parar. Por exemplo: já houve momentos em que o grupo trabalhou intensamente
questões pesadas para muitos e para o grupo e na hora de retornar, simplesmente
ninguém “permitiu” prosseguir.
Creio que a partir daí eu comecei a confiar mais em meu organismo e no organismo dos
outros, eu passei a deixar mais que cada um tomasse conta de si, eu passei a enfrentar
meus problemas com mais confiança em mim mesma e, a propósito do que eu disse
antes, de ter medo de dirigir, hoje eu amo dirigir, confio em minha direção.
Através dessa experiência, Cíntia passa a confiar mais em si e nos outros, resolvendo a
partir daí o seu medo de dirigir.
Com certeza absoluta a participação nos grupos me ajudou imensamente na minha vida
pessoal e profissional. Continuo sendo imperfeita, graças a Deus, mas muito melhor
comigo mesma.
Não, eu acho que… eu diria que… todos estes grupos que eu participei, é… realmente
não existe nenhum grupo igual, cada um é um e que todos eles me acrescentaram muita
coisa durante a minha vida pessoal e profissional.
O que mais me marcou nesta experiência toda foi o fato do grupo mostrar, revelar
muitas coisas a respeito de mim mesma e do ser humano.
A experiência mais marcante foi o grupo possibilitar-lhe revelar-se a si mesma e,
também, o ser humano.
Olha, foi o meu terceiro grupo, já foi em 92, né? Eu fiz uma vivência para trabalhar
raiva. Foi uma técnica que utilizava uma toalha retorcida para que eu mordesse, né? E a
partir da catarse que eu tive lá veio muita coisa interessante para elaborar. Para mim foi
um marco porque… é… sei lá, parece que eu reeduquei a minha agressividade a partir
daí, sabe? Comecei a canalizar de uma forma mais construtiva a minha agressividade,
esse foi o mais marcante.
Roberto considera o seu terceiro grupo o mais marcante por ter conseguido lidar
satisfatoriamente com a sua agressividade.
Olha, no começo houve um temor muito grande em me colocar, sabe? Eu estava com
um medo, né?, um da exposição ao outro, do pessoal que estava lá e também de eu não
dar conta daquele turbilhão que estava lá dentro, que não tinha nome, não tinha cara,
nenhuma definição, só uma emoção fortíssima; então, o que me passou foi isso, né?,
num primeiro momento, né?, eu ia me colocar, me continha; ia me colocar, me
continha. Chegou uma hora que, se não me engano, foi viajando numa vivência de um
colega de grupo que surgiu alguma afinidade e aí quando eu vi já estava acontecendo,
me foi proposta a vivência, e eu topei. E foi interessante porque eu fechei os olhos e me
esqueci de tudo que estava em torno, né?, foi uma entrega aos sentimentos mesmo, fluiu
a emoção de uma maneira muito pesada, e não me preocupei muito com elaborar, sabe?
Falar, falar, deixa, deixa falar, algum movimento acontecer, foi interessante, foi bom,
né? me senti mais leve depois e foi interessante porque é depois de ter saído do grupo, lá
pra diante, às vezes até algumas semanas depois, eu me via, né?, comportando de
determinada forma diferente de que até então tinha sido, sabe? Eu parava e dizia: O que
aconteceu? Humm! Deve ser efeito lá de trás, porque eu estou me comportando de tal
forma e não segui o meu padrão o que pode ter ajudado ocasionando esta mudança e me
lembrava então da vivência que, em geral, eu deixo o que é do grupo no grupo, não fico
assim preocupado em me lembrar, pô, aconteceu isso, aconteceu aquilo, deixo que as
coisas fluam, né?, então ( ) se queira ser feliz com analista, no analista, eu não me
preocupava com isso, mas eu vi várias reações, várias condutas, ué? não era assim que
fazia e, de repente, era daquele jeito que eu estava fazendo e estava melhor.
A expressão deste sentimento o faz sentir-se mais aliviado. Reconhece, fora do grupo,
que esta experiência provocou-lhe uma mudança de percepção e de comportamento, e
que isso o fazia sentir-se melhor como pessoa.
Em relação à vivência da raiva e, é claro, nós estamos falando dela, né?, mas em outros
aspectos da minha vida é vivência de grupo sempre tiveram estes efeitos, né?, no lá
adiante eu parava e falava, uai! Por que estou agindo assim, né?, por que está diferente?
Ah!!! Já sei, deve ser um efeito da vivência, ponto. Tá bom? tá bom, tá ótimo!
Roberto demonstra os efeitos das vivências grupais, não só em relação à raiva, mas
também em outros aspectos de sua pessoa, e da satisfação dessas mudanças.
Sem medo, né?, eu penso que o que pesava muito, né?, era assim o potencial destrutivo
da raiva, né?, era esse não saber, não é bem saber, eu não ter uma vivência de entrar
nesse sentimento de uma forma construtiva; minha raiva era raiva do grito, era raiva da
porrada, era raiva da agressão. Então havia um medo muito grande, né?, meu Deus, o
que eu posso fazer se essa raiva aflorar, né?, comigo e com o outro, né? O principal era
o medo de me entregar a ela e ver o que vinha depois com muito medo.
O significativo da vivência da raiva foi vivê-la sem medo, pois a fantasia ao expressá-la
era a destrutividade que ela poderia encerrar.
Sim, mas não como uma conclusão lógica, entende? Foi acontecendo, pôxa vida, de
repente eu me vi, por exemplo, em situações que eu já partiria para agressão verbal, para
o descontrole, e eu me vi ponderando, sabe? Usando aquela energia, então pera aí não é
bem assim, senta aí, vamos conversar, sabe, e escutando o outro, né?, é uma coisa que
eu não fazia. Ah! Me incomodou, eu não quero nem escutar o que você tem a me dizer,
eu vou te falar do incômodo e da maneira que eu sei. Huuua! E de repente eu comecei a
me perceber com essa postura, né?, que vem de dentro, sabe alguém por algum motivo
em alguma situação, né?, que me enfezava eu não saía quebrando nada, não, espera aí,
vamos parlamentar. Não é que não houvesse raiva, ela estava ali, mas estava circulando
de uma outra forma, né?, mais positiva ou menos destrutiva. Vivendo a raiva de outra
forma.
Descobriu no grupo que a expressão da raiva pode ser boa e que não precisava mais
atuar. Aprendeu a aceitá-la em si e no outro, mudando a sua atitude frente a ela. Percebe
essas mudanças na relação com o outro e passa a vivê-la de maneira mais construtiva.
E não sei se eu posso colocar isso: num outro grupo, muito tempo depois, aliás, neste
grupo deram um apelido para essa personagem que aflorou chamada de Fred Kruger,
aquele personagem dos filmes de horror, e no grupo, alguns grupos depois aconteceu
uma situação de grande antagonismo com uma outra pessoa que estava lá. Um
incômodo, a gente se desentendeu e foi muito legal, sabe? Eu estava numa berlinda,
frente a frente com esta pessoa, o facilitador colocou a gente lá, e foi uma experiência
dentro do grupo onde tive esta consciência, né?, de virar para a pessoa e falar: você está
demandando ser agredida, você está demandando tomar bolacha, mas eu não vou fazer
isso, né?, não vou cair na sua armadilha, né?, nesse jogo perverso e também porque não
é a minha praia mais, já foi, então eu vou te falar sobre o incômodo. Foi fortíssima, né?,
uma experiência plena disso. Nossa, a mudança está aí, aconteceu. Então, tanto na vida
lá fora quanto aqui no grupo pude vivenciar, foi muito bom, ter vencido.
Roberto considera, em mais de vinte grupos, o terceiro, em 1992, como o mais marcante
em função do seu aprendizado ao lidar com a sua agressividade de maneira construtiva.
Ele tinha medo dela devido à fantasia de que poderia destruir-se a si e ao outro, e que a
expressão deste sentimento no grupo possibilitou-lhe uma mudança na percepção de si e
no seu comportamento, sentindo-se satisfeito com isso.
Roberto coloca a importância de ter vivido essa experiência no grupo, demonstrando os
seus efeitos também em outros aspectos da sua pessoa, percebendo essas mudanças na
relação com o outro e a alegria por lidar com a raiva positivamente.
Ah! Foram várias, mas a que eu poderia destacar foi, é, tentar crescer com as
experiências alheias, que mostram muito mesmo, mesmo que eu não esteja vivenciando
determinado problema que foram citados, mas isso eu creio que vai me ajudar se algum
dia eu tiver que me deparar com eles, mas não foi só isso. Me descobri também, sobre
como me relacionar, mudar, crescer, ser mais autêntico, eu acho que é isso.
Rogério destaca a importância da aprendizagem com a experiência do outro e do fato de
ter descoberto como relacionar, crescer, mudar e ser mais autêntico.
É. Saber ser mais… é não ser hipócrita nas relações, saber dizer não, não me magoar,
mas ao mesmo tempo procurar respeitar os limites dos outros. Enfim, ser mais
transparente, acho que é o máximo que eu poderia definir e também é muito confuso,
né?
Ele coloca que a experiência mais marcante foi a de ser autêntico e de saber pôr os
limites para si e para o outro.
Achar uma definição precisa para este turbilhão de sentimentos que eu atravessei e que
me ajuda muito fora daqui. Na minha profissão, eu lido com pessoas, e ajuda a
identificar a sinceridade das pessoas, é isso.
Rogério não consegue uma definição melhor que autenticidade para o que viveu, mas
realça a importância dos sentimentos vividos no grupo para o exercício da sua profissão.
Sim, sobre a diferença que é a vivência dentro de um grupo e fora dele, né?, na nossa
vida “normal”. Na prática, acho difícil, porque no grupo a gente consegue uma relação
mais transparente, mais verdadeira, e fora dele, nem sempre, não. Mas muitos tópicos,
como este de transparência, de percepção dos outros, perspicácia, são o que me ajuda a
enfrentar os problemas de fora.
Ele aponta a diferença e a dificuldade da vivência dentro e fora do grupo. Enfatiza que o
vivido em grupo o ajuda a lidar com problemas lá de fora.
Mais me marcou? Ai, difícil falar isso. A que mais me marcou foi mesmo o trabalho que
é feito. Você quer alguma coisa que ouvi lá?
Flávia valoriza o trabalho grupal como um todo.
O primeiro grupo que eu fiz, em 97, o segundo até que não, mas o primeiro que eu fiz
foi mais de adulto, né?, mais da minha idade mesmo, mais casais inclusive. E foi muito
bom ver que não foi eu, não era só eu que tinha problema do tipo que eu vi lá, certo?
Então me ajudou, não a resolver não, mas a ver melhor o que eu passava e foi isso, foi
ver que as pessoas lá também tinham liberdade, né?, quer dizer, podia falar, sei lá, é
uma cumplicidade boa lá, né? que… Ah! Não sei, foi isso mesmo. Foi o primeiro grupo
que eu fiz e eram mais adultos, gente da minha idade mesmo.
Ela refere-se ao primeiro grupo de que participou como o mais marcante devido à
identificação com os problemas que os participantes expunham e, também, da liberdade
de expressão vivida no grupo e da melhora da percepção de si.
Mesma situação que eu, né?, porque geralmente a gente acha que o problema é só
nosso, e que o nosso é maior, né?, não é bem porque é só da gente não, é que o nosso
tem uma dimensão maior, né?, é, cheguei lá e vi que todo mundo passa também por
dificuldades, e que ali foi bom de pensar, repensar a vida, e pensar… Me senti
confortada. Conforto demais, é… É o que eu falei: repensar mesmo aquilo tudo, né?,
repensar a minha vida e ver que não era tão difícil sair daquilo que eu estava passando.
Sente-se confortável ao perceber que não é a única a ter dificuldades.
Aponta o grupo como um lugar de reflexão da vida e vendo possibilidades de mudança.
Agora já o segundo grupo foi mais de adolescente, foi importante também, eu não sei se
foi pela primeira vez que eu fui a um grupo, que eu já tinha feito a terapia individual, aí
eu fui fazer o grupo, e eu não sei se eu estava tão necessitada também e foi mais
marcante para mim, agora no segundo foi mais com adolescente, foi válido também,
porque eu também tenho dois filhos, né?, tenho um neto que mora comigo, foi válido
para mim ver a minha discrepância, né, de que às vezes a gente age, né. Agora o
primeiro foi excelente, não faço mais porque não tenho muita oportunidade de fazer
mais grupo, né?
Flávia acredita que se as pessoas vivessem um grupo a convivência seria melhor entre
elas.
Depois de participar do primeiro grupo em… 1989, percebi o quanto eu tinha uma visão
distorcida da vida, das pessoas e do mundo.
A partir daí notei que estava havendo alguma transformação na minha pessoa, pois
estava me identificando com uma nova personalidade, onde conseguia compreender
melhor os outros, a comunidade e o meio em que vivo. Já sabia que o meu “mundo” não
era mais o mesmo, aprendendo a ver com os meus próprios olhos, dar ouvidos ao
correto, falar o que era preciso.
Apesar de ter participado de mais de dez grupos, Emerson faz referência ao primeiro e
às mudanças ocorridas a partir dele.
Ele passa a compreender melhor o outro e a si reconhecer como uma nova pessoa.
Mas experiência mais marcante foi o reconhecimento de mim como uma pessoa
colocada dentro deste mundo de vida. Me enxergar como alguém de importância, e
verificar como um ser que sentia menosprezado, deixado e dependente principalmente,
e agora com mais tranqüilidade, mais habilidade. Sabendo que você só sobreviveria a
isso que está aí, que eu poderia dizer aqui é um grupo e sobrevivi ao que está lá fora,
dentro das normas, dos paradigmas que a sociedade nos impõe. Até então poderia te
dizer: saí daquele machismo, sabe? Daquela pessoa que se achava dono do mundo,
mandão, bonachão, e consegui enxergar um pouco das minhas fraquezas, sabe? E
consegui equilibrar uma série de coisas na vida e, principalmente, a relação interpessoal.
Emerson enfatiza o reconhecimento de si, valorizando-se, ou seja, com a auto-estima
aumentada. Tem uma percepção clara das áreas onde ocorreram as mudanças,
apontando, principalmente, a relação interpessoal.
Olha, na realidade, antes eu tinha temor das pessoas e eu enxergava as pessoas com uma
certa arrogância, sabe? Uma certa ignorância e eu não enxergava sentimentos, sabe? E
eu me lembro que eu fumava, e eu fumava três cigarros praticamente para conversar
com uma pessoa, o meu nervosismo, e agora eu vejo a minha tranqüilidade. Eu lido com
pessoas, e quando eu recebo um cliente, eu não vejo mais o dinheiro na frente, eu vejo o
lado humano, eu gosto de conversar com as pessoas olhando nos olhos dela porque
assim eu vejo uma coisa mais interna. Poderia dizer um pouco de alegria, um pouco de
tristeza, um pouco de demonstração do que as pessoas vêem. Eu não vejo ele mais como
um cliente produtivo para mim, mas eu vejo ele como um ser humano e, às vezes, não
me é simplesmente suficiente receber o cliente como uma pessoa que veio me trazer o
trabalho, me trazer o dinheiro, eu quero conversar com essa pessoa. Eu quero que ela
diga um pouco dela. Quero que ela fale um pouco da sua vida se assim ela quiser, se
assim ela permitir. Mas hoje eu procuro ter um contato com meu cliente, contato
humano, sabe? Não é simplesmente uma pessoa que vem e pronto, eu lembro dele só do
semblante não, mas é que eu saiba um pouco da história dele.
Emerson consegue se ver antes e depois do grupo. Como lidava e lida com os
sentimentos e como interagir e interage com seus clientes.
Hoje demonstra um interesse maior e genuíno pelo outro.
Interagir, exatamente, então isso. Para mim é importante conhecer um pouco mais o
meu cliente, me ensina também a forma de agradá-lo e com eu estando o agradando, ele
é um cliente importante, ele vai voltar. São os valores que ele percebeu na minha
percepção e dentro disso eu acredito que ele é um cliente que sempre vai se achar bem
quisto, ele volta e até indica mais clientes para mim. Eu tenho lucrado muito com isso.
Ele aponta os benefícios dessa nova maneira de se relacionar com seus clientes.
Com certeza, a minha relação lá fora tem melhorado demais, com meus amigos, com
minha família, com meus filhos e também aprendi a separar o que é amigo e o que é
colega, sabe? Isso nos ensina. A gente aprende a discernir quem é que está querendo a
gente como amigo, quem é que está nos explorando, quem é que está fazendo troca com
a gente, sabe? Isso eu aprendi muito, e aprendi com a terapia e com essa lindíssima
psicologia. Essa área humanista ela é lindíssima, ela me agrada demais. Essa área
humanista ela é lindíssima, ela me agrada demais.
Emerson percebe a melhora na sua relação com seus filhos, amigos e família,
distinguindo amigo de colega.
Reconhece a contribuição da Psicologia e do grupo na sua melhora.
dentro da minha casa, debaixo do meu teto, sem ter uma companheira para cuidar deles,
sem ter a Mãe deles perto de mim. Isso vem de grupo.
Emerson compara-se à entrevistadora, dizendo da mudança radical que a Psicologia lhe
proporcionou.
Refere-se às mudanças na auto-estima e na relação com os filhos, mesmo estando só.
Reconhece que essas mudanças provêm do grupo.
Resumindo: assumi minha identidade, me vejo diferente deste velho mundo, como já
falei: moro com meus três filhos e os amo muito, dificuldades é a gente que inventa,
para tudo tem solução, basta pensar e ser perseverante. Existem saídas. Devemos ter
paciência para encontrá-las, pois achava que não daria conta de cuidar deles e muitas
outras coisas. Já consigo deslanchar com muita tranqüilidade e sair do labirinto.
Emerson se assume na identidade, demonstrando uma motivação para os problemas que
possam surgir.
Descobri que não se pode corrigir qualquer pessoa, pois é preciso saber compreendê-las,
ouvi-las, sentir a sua dor, ouvir a respeito e nem sempre emitir opiniões, às vezes até
omitir. Fiz e faço muitos amigos com a grande sinceridade que o grupo me ensinou.
Emerson passa a aceitar mais os outros, sendo mais compreensivo com eles.
Realça mais uma vez os ensinamentos adquiridos no grupo.
Emerson, após onze anos, faz referência ao primeiro grupo de que participou e das
mudanças oriundas dele.
Reconhece as mudanças que ocorreram em sua auto-estima, percebendo-se como uma
nova pessoa e compreendendo melhor o outro, seja ele um cliente, a família ou os
filhos.
Tem uma percepção das áreas da sua pessoa onde se deram as mudanças, realçando o
relacionamento interpessoal.
Ele demonstra uma motivação maior para lidar com problemas futuros, passando a
aceitar-se mais a si mesmo e aos outros; sente-se mais compreensível.
Emerson credita ao grupo as mudanças operadas em sua pessoa.
Da minha vida pessoal mesmo, então em cada grupo que eu participava, era como se
fosse um encontro comigo mesma. Então, dependendo do grupo, era uma coisa que
manifestava, era um sentimento, era um reencontro mesmo.
Rosa não especifica um grupo como mais marcante, ela diz que cada grupo era um
reencontro consigo.
Assim, detalhes é muito difícil, porque o grupo é uma coisa única. Então, assim, às
vezes, é uma coisa que a pessoa fala. Às vezes, é um sentimento que você sente, que o
outro está transmitindo para você, que não é expresso por palavras. Às vezes, é uma
vivência de alguma coisa que foi colocada para a gente lá na hora, né? Eu fiz uma
vivência de Pai e Mãe no meu primeiro grupo que fez eu pensar muito: por que que eu
estava lá, do porquê eu tinha ido procurar este reencontro comigo mesma? Nos outros
grupos teve coisas muito marcantes. Então fica muito difícil de eu te detalhar um, ficaria
muito pobre também eu te falar um momento específico, né? Eu acho que cada grupo
foi muito bom, foi muito proveitoso, é, foi de muito valor especificamente e
individualmente para cada grupo que eu participei.
Rosa coloca a importância de todos os grupos de que participou, achando difícil detalhar
um. Mas realça a contribuição do primeiro no reencontro.
É, o grupo ajudou, as pessoas, os relatos, tudo. Foi me reencontrar nestes grupos o que
mais marcou. Eu poder falar do que eu sentia, do quê que era importante para mim e me
entender onde pessoas lá me ajudaram a me entender. Coisas que… as coisas que eu não
entendia ou mesmo as coisas que eu queria. A vida era muito… muito sem sentido,
muito apagada, muito sem cor. E, de repente, eu fui descobrindo que era muito colorida
e eu é que não sabia. Então esse encontro comigo mesma é que foi muito bom, né?
Rosa, mais uma vez, realça o seu reencontro através do grupo e da maneira como ele
contribuiu para isso. Diz que o grupo ajudou a colorir a sua vida que estava sem cor.
E poder também, acho que o grupo é muito rico, não é só isso. É poder ajudar as outras
pessoas que estão lá, ajudar como elas estão te ajudando, não é um ato de caridade não.
É ajudar mesmo, é uma troca, exatamente. Essa troca é muito enriquecedora e quando
as pessoas sintonizam com você é que você consegue fazer essa troca, assim vale muito
este encontro com o outro mesmo, né? De resgatar, de fazer amizades, de resgatar
mesmo. É a questão de envolvimento, de amizade, de humanismo mesmo, que, às
vezes, no dia-a-dia, a gente acaba perdendo. Então isso foi muito intenso. Muito
proveitoso.
Rosa vislumbra o potencial terapêutico do grupo, distinguindo a ajuda recebida da dada,
ou seja, a troca entre os participantes. É o encontro com o outro.
Rosa valoriza muito sua participação nos grupos devido ao encontro consigo mesma.
Aponta a sua reorganização interna (mudança na noção de eu) como contribuição do
grupo, inclusive, dando um sentido, que antes não havia, a sua vida.
Ela tem consciência do potencial terapêutico do grupo e da troca de experiências entre
os participantes, facilitando um encontro com o outro.
E para mim o grupo de encontro foi, como posso dizer, foi um encontro mesmo. Eu
descobri coisas que… que me deram força para tocar a vida, aí essa vida louca que a
gente leva de trabalho e de convívio, né?, com as pessoas e a gente descobre o que a
gente é mesmo, tá?
Ele afirma que o grupo possibilitou um encontro consigo mesmo, motivando-o a lidar
com a sua vida.
Eu descobri foi no… foi no primeiro encontro, tá? numa vivência que nós fizemos que
tinha… tinha que é que se que colocar como se fosse um bicho, um animal, esse animal
eu me encontrei, tá? Nesse animal. E é interessante que não só comigo, né?, a gente viu
depois a experiência dos outros que é relatada, que a gente tem abertura para falar sobre
isso no grupo e a gente vê que não acontece… não aconteceu só comigo. As pessoas
que estavam ali buscando se encontrar mesmo, se encontraram. Tiveram a oportunidade
de se conhecer melhor, tá?
Alberto aponta o primeiro grupo como o mais marcante, relatando a experiência do seu
encontro consigo mesmo. Fala da abertura entre os participantes e da identificação entre
eles, e que quem quis se encontrar, conseguiu.
É um tempo pequeno, são três dias, né?, nos que eu fiz e tinha, tinha a ajuda dos
facilitadores, não sei se você conhece. E são pessoas que eu acho que a filosofia deles é
muito legal, que não é imposto nada, você tem o seu tempo… você tem… você tem a
sua hora…. você… isso é muito respeitado. E isso é bem interessante que te deixa bem
à vontade para você descobrir essas coisas. É isso, o grupo de encontro para mim foi
uma forma de eu me encontrar, tá? Não tenho feito, por falta de tempo. Os grupos são
na sexta e voltam no domingo e é isso. Eu acho que foi válido para mim, tenho vontade
de fazer mais, tenho recebido alguns convites para fazer mais, mas eu acho legal, eu
tendo oportunidade eu vou voltar a fazer.
Alberto pondera sobre o funcionamento do grupo, das atitudes dos facilitadores, da
consideração que experimentou e que o grupo foi uma forma de se encontrar. Ele
expressa o desejo de participar de grupos futuros.
A experiência mais marcante foi o encontro consigo mesmo, perceber o que ele é.
Aponta a contribuição do grupo para isso e da segurança que ele proporciona. Ressalta o
potencial terapêutico que o grupo desenvolve, incluindo aí a estrutura formal dele e de
aspectos que propiciam o crescimento.
Não… não. Eu recomendo, tá? Eu recomendo, eu acho que terapia é muito bom, a gente
precisa… eu fiz a terapia e foi muito bom, um ano e meio. Depois fiz uma terapia de
casal que demorou mais uns oito meses a dez meses. E todas elas, é isso aí, é um
aprimoramento da pessoa que a gente é, a gente se conhece mais, aprende a respeitar
mais os outros, aprende a ver os limites, dá limite, acho que é bem interessante. Eu
recomendo.
Alberto comenta sobre as suas experiências terapêuticas, dizendo que todas levam a um
aprimoramento da pessoa, se conhecendo mais, aprendendo a respeitar os limites e os
outros; recomenda o grupo para outras pessoas.
Alberto afirma que a experiência grupal mais significativa, que se deu no primeiro
grupo, foi o encontro consigo mesmo, descobrindo quem era.
Ele comenta o funcionamento e a estrutura do grupo, ressaltando a confiança
desenvolvida entre os seus membros e as atitudes dos facilitadores, destacando o
potencial terapêutico dos participantes e a identificação que ocorreu entre si e os
demais.
Alberto reconhece a contribuição de outros processos terapêuticos, enfatizando que o
grupo é uma forma de se encontrar, de crescer.
Ele expressa o desejo de participar de grupos futuros, recomendando-o a outras pessoas.
Data da entrevista:10/01/2001
Sexo: Feminino
Idade: 27 anos Profissão: Massoterapia (massagista)
Já fez ou faz terapia? Faço.
Individual ou de grupo? Individual.
Já participou de algum grupo de encontro? Já.
Qual o último ano? Foi em… setembro… acho que foi setembro de 2000.
Já participou de mais algum? Não.
UNIDADES DE SIGNIFICADO COMPREENSÃO PSICOLÓGICA
Viver o grupo de encontro é muito intenso. O que mais me marcou foi ver que o que é
mais específico em mim, é o mais comum no grupo todo. Então quando uma pessoa se
coloca de uma maneira assim totalmente particular, é encantador como o grupo
responde de uma maneira assim é… acolhedora, né, aquela vivência. Comigo aconteceu
isso várias vezes no período que a gente ficou em grupo, né, tanto quando eu ouvia o
outro, quando eu me colocava para o grupo… quando eu colocava uma dificuldade
minha, e aí algumas pessoas do grupo não conseguia ouvir que era minha dificuldade, aí
abraçava como se fosse a dela, se identificavam: “Não, não pode ser assim, que não sei
quê…” E aí, na hora, eu sei lá, me deu
um clique, eu falei: “Peraí, não é de mim, não da minha experiência que ela está
fazendo interferência, né, é da vivência dela.”, né, e até assim, consegui ter esse
respeito, né? Então, nesse dia, eu vi que naquele momento eu, que me achava muito
carente pra tá me expondo, mas eu vi que tava contribuindo de outro jeito, que não era
da minha… minha vivência, mas era a de ouvir a do outro, né.
Íris coloca a intensidade da experiência grupal, principalmente devido à percepção tida
de que o mais específico é o mais comum. Ela fala da aceitação do grupo e da
participação dele quando colocava uma dificuldade sua.
Percebe que contribuiu com o grupo quando ouvia a vivência do outro, sem precisar
falar de si.
Isso me marcou muito. Muito, achei muito intenso o fato de eu poder, é, me colocar
assim brava, era uma coisa que há muito eu tava trabalhando na terapia, né, eu me senti
totalmente à vontade pra me colocar pras pessoas desconhecidas o que eu tava sentindo,
isso para mim foi ilimitado, né, é… e me senti acolhida inclusive nesse momento,
porque eu achava que eu ia ter que brigar muito pra ser ouvida, né, foi bem legal.
Íris aponta como experiência mais marcante o fato de ela se sentir aceita ao expressar
um sentimento de raiva no grupo.
Hoje tem um significado muito concreto, é… em todos os grupos que eu transito na
vida, né, hoje eu tenho mais alma pra ouvir e também mais certeza pra me colocar. Foi a
primeira experiência terapêutica em grupo que eu vivi, mas que eu consegui de certa
maneira estender para o meu cotidiano e conquistar esse espaço mesmo no grupo, né:
“Eu penso é isso mesmo, e até compreendo que você não me entenda ou que não
consiga me compreender neste ponto de vista.” Então, é… como eu já havia colocado o
que me marca muito hoje também é de perceber que o que é mais específico pra mim,
mais particular, mais secreto é o mais comum quando você está em grupo, isso me
marcou muito.
Após a experiência grupal, ela sente-se mais segura para ouvir e se colocar em outros
grupos.
Ela conseguiu estender para o cotidiano o que viveu no grupo. Realça a percepção de
que o mais específico é o mais comum, ou seja, uma certa identificação com os
membros do grupo
A vivência me ajudou muito a tá conquistando isso agora, né, porque acaba que antes eu
ficava justificando assim: “Mas não eram pessoas significativas.” Então, assim, o medo
de perder a aceitação, o acolhimento não era assim tão valioso, né, seria no grupo de
pessoas que eu amo, né? Hoje eu me sinto mais fortalecida e segura ao me colocar… a
me impor nesses grupos onde eu ainda morro de medo de, de repente, falar assim: “ah,
você não faz mais parte disso aqui”, né, com a vivência que eu passei lá. Isso
certamente .
Íris sente-se mais segura para se colocar para o outro e atribui essa conquista à vivência
grupal.
Íris aponta a intimidade da vivência em grupo como a mais marcante em dois aspectos:
1º) quando percebe que o que há de mais específico em si é que há de mais comum no
outro, ou seja, ele se identifica com os membros do grupo, e 2º) quando se assume mais
ao reconhecer os limites (“o não dar conta”).
Ela percebe que ouvir é uma forma de ajudar, ou seja, percebe o potencial terapêutico
do grupo.
Íris estende para o seu cotidiano a segurança diante do outro, que o grupo lhe
proporcionou, perdendo o medo de “perder a aceitação”.
Ressalta a importância da aceitação do grupo diante das experiências vividas, sentindo-
se mais segura para ouvir e para se expressar diante do outro.
Ela atribui ao grupo essas mudanças.
Tem que descrever uma experiência, então? Foram tantas, pode ser uma só, né? Bom,
eu acho que a que mais me marcou foi uma que aconteceu comigo mesma, né? É que foi
o primeiro grupo que eu fiz, que era o grupo que eu era aluna do Coppe na época, né?
Então eu fui pro grupo através dele e, é, era um grupo que o Coppe e o Escípio eram os
facilitadores. E foi uma experiência assim, muito forte, muito diferente de tudo que eu
já tinha visto e pensado até então. É, e eu senti o grupo muito, é, pesado mesmo assim
as experiências, o que tava acontecendo ali, tava tudo muito pesado para mim. E eu
comecei a ficar muito angustiada e muito, é, sem entender o que tava acontecendo e
muito presa com a situação que tava assim não, não
conseguindo me expressar mesmo. É, mas tava achando bom também, tava né?, assim
gostando também.
Viviane expressa a intensidade da experiência grupal, achando-a muito pesada, sente-se
angustiada diante do que o grupo vivia, não entendendo o que se passava consigo e com
dificuldade para expressar essa angústia; acha bom estar no grupo.
Então, é, num dos momentos lá do grupo, eu consegui falar que eu tava muito
angustiada, que eu tava presa, que eu tava sentindo sei lá o quê e, é, aí o Escípio, é,
chegou perto de mim, pediu pra mim levantar, pediu pra mim ir pro meio do grupo,
assim, agachar no chão e fazer força pra levantar, pra pular como se fosse um sapo e
que era pra fazer força, né?, pra tentar pular! Aí, à medida que eu ia, é, tentar pular,
fazer força, ele apertava pro chão e não me deixava sair. É aí, né, ele continuou falando
pra eu fazer força, tentar pular, e eu ia pulando e ele ia apertando. E aí eu abri a boca a
chorar e consegui assim sentir e viver na… na… na pele mesmo assim, uma coisa
muito, que é o que eu acho que acontece com o psicodrama em si, né, e senti na pele
essa sensação de querer me expressar, de tentar me expressar e realmente de uma
pressão, né, impedindo isso, uma opressão mesmo, né?, impedindo isso, seja o que for,
seja choro, seja alegria, seja tristeza, seja raiva, mas era o impedimento mesmo, né? Aí
eu chorei muito, muito… muito… muito, e assim eu acho que daí pra frente o meu
processo… é, com as terapias que eu fiz, andou mais e melhor. O processo terapêutico
mesmo eu acho assim que esse foi um… um momento marcante mesmo, tanto do grupo
em si como do meu processo terapêutico daí pra frente, né. Essa experiência é muito
presente até hoje. E tiveram várias outras que tiveram e também foram muito marcantes.
Desse grupo, de outros assim, são experiências muito fortes né?, muito…
Ela consegue colocar para o grupo que se sentia angustiada, presa…
Sendo-lhe proposto uma técnica à qual ela aceitou experienciar, ela entrou em contato
com uma opressão que a impedia de expressar os seus sentimentos.
Ela se sente livre, desimpedida para expressar o que quisesse e isso a ajudou no seu
processo individual.
Foi muito dolorido, muito… Mas foi uma coisa que me trouxe uma consciência muito
grande de como que eu tava, né?, como que eu tava realmente oprimida, sem, é… sem
conseguir expressar o que quê eu tava sentindo… sem conseguir entender o que eu tava
sentindo. Então, assim, você sente isso na pele, é diferente de você entender, né?, assim,
que você está em depressão, que você está oprimido, que você está bloqueado, que você
não consegue se expressar, é muito diferente você entender isso do que sentir isso na
carne mesmo, né?, então e ao mesmo tempo que eu sentia toda essa dor… toda mesmo.
Viviane diz que essa experiência lhe trouxe uma consciência de si (da sua opressão)
naquele momento, apesar da dor que sentiu.
Ela percebe a diferença entre sentir e conhecer.
Viviane sente-se angustiada e sem entender o que ocorre consigo diante da intensidade
da experiência grupal e, também, uma dificuldade para expressar esses sentimentos no
grupo.
Ela consegue colocar essas dificuldades para o grupo; diante disso lhe é proposta uma
técnica em que ela vivencia a opressão que a impedia de expressar seus sentimentos.
Aponta essa experiência como geradora de uma consciência maior de si (mudança da
noção de eu) e como facilitadora do seu processo individual.
Viviane percebe a diferença entre sentir e conhecer e sente-se livre, desimpedida para
expressar o que sente.
Outra contribuição que o grupo trouxe foi a aceitação incondicional de mim e do outro.
Mesmo com todos os meus defeitos, o grupo me aceitava exatamente como eu estava
ali, naquele momento, você sentir que é aceita verdadeiramente, abre as portas para que
você queira aceitar também verdadeiramente o outro.
Exemplo: qualquer sentimento que eu estivesse vivenciando naquele momento era
aceito pelo grupo, não importando qual fosse esse sentimento. Podia sentir muita raiva,
com toda raiva do mundo e falar dela. Eu não era rejeitada por isso.
E tem mais: aprendi a dizer não. Pude dizer não várias vezes durante os grupos e isso
me ensinou (possibilitou) dizer não para as outras pessoas na minha vida diária e, o mais
importante, a dizer sim para mim.
Lívia aponta outras contribuições do grupo, destacando a aceitação de si e do outro, e a
sua aprendizagem no sentido de dizer não para o outro e sim para si.
Lívia, apesar de muitas participações nos grupos de encontro, relata as suas experiências
como um todo, não destacando um grupo em si.
Ela marca a contribuição do grupo para a sua terapia individual e a sua identificação
com os demais participantes e, também, para a aceitação de si e do outro, aprendendo a
dizer não para o ouro e sim para si.
Lívia reconhece a contribuição para o seu crescimento profissional e para a melhoria da
percepção e aceitação dos seus sentimentos.
Ela aponta mudanças no relacionamento consigo mesma, resultando em uma maior
aceitação de si.
Reconhece que as relações interpessoais, hoje, são mais autênticas e maduras e que
cresceu pessoalmente.
A CONTRIBUIÇÃO DO GRUPO
A análise dos dez depoimentos mostrou que a vivência em grupos de encontro produz
alguns alcances significativos.
As categorizações das sínteses demonstram especificamente, de acordo com o objetivo
proposto, os alcances das vivências experienciadas pelos participantes (estrutura
específica da vivência) no grupo de encontro e as suas conseqüências.
Apesar da profundidade de esses alcances variarem de pessoa para pessoa, o que se
deduz da experiência grupal é que os participantes mostram uma mudança no sentido de
se tornarem pessoas mais conscientes, pessoas funcionando mais plenamente de acordo
com a sua realidade.
A vivência em grupo de encontro revela que mesmo, às vezes, sendo uma experiência
dolorosa, ela é gratificante, possibilitando ao participante uma identificação com os
demais (a confirmação da existência) e entrar em contato com vários aspectos da sua
pessoa e, a partir daí, mudar de acordo com o que vive.
É observado como que alguns participantes desenvolvem a sua capacidade terapêutica
durante o grupo e como que este, também, sensibiliza para uma busca mais profunda de
si mesmo através de um processo psicoterápico individual.
Diante do exposto, estabelecemos que no conjunto total dos depoimentos, a estrutura
descritiva geral do alcance da vivência em grupo de encontro pelo participante pode ser
delineada da seguinte forma:
o participante experimenta um processo de crescimento pessoal, decorrente de um
autoconhecimento (percepção de si) sobre suas capacidades e limites, sentimentos e
emoções, problemas e/ou conflitos, mudando, principalmente, no modo de se relacionar
consigo mesmo e/ou com o outro.
Capítulo 5: RESULTADOS
5.2. Conclusão
Mais uma vez, é importante ressaltar a falta de estudos sobre o tema proposto aqui,
sendo a sua evidência corroborada por Tassinari & Portela (1996) e, principalmente, por
Wood (1983) ao afirmar que “estudos de grupos centrados na pessoa têm sido,
desafortunadamente, dificultados pelo lento desenvolvimento de métodos apropriados
para pesquisar os grupos em seus termos naturais” (p. 70). E também por Fonseca
(1988) ao dizer que “a teorização sobre grupos vivenciais tem sido muito limitada e
escassa” (p. 15) e “que pela ausência de uma explicitação teórica mais efetiva, a
proposta do grupo vivencial tem tendido de um modo geral a estagnar-se” (p. 45). Pode-
se estabelecer uma primeira conclusão, ao dizer que essa ausência de marcos teóricos
mais precisos e a dificuldade de acesso a um conhecimento sobre grupos de encontro
têm dificultado a formação adequada de facilitadores.
Conforme colocado na introdução deste estudo, espera-se que ele, em maior ou menor
grau, contribua para o fortalecimento teórico da Abordagem e de uma metodologia que
possa verificar as experiências vividas no seio dela.
A estrutura geral do vivido, apontada por este estudo, mostra como que o participante vê
o grupo e não como ele é; isso, provavelmente, se deu em função do estudo não
focalizar diretamente o que é o grupo, mas de uma compreensão indireta do que é o
grupo, a partir do depoimento. Nesse sentido, a partir dos depoimentos dos participantes
ao exporem como que é o grupo de encontro para eles, creio ter sido possível atingir o
objetivo deste estudo.
De uma maneira geral, este estudo permite concluir que o Grupo de Encontro é uma
atividade terapêutica coerente com as postulações teóricas da Abordagem Centrada na
Pessoa e que o alcance mais significativo dele é o crescimento pessoal do participante, o
que está de acordo com o seu objetivo.
Dos resultados obtidos pelos depoimentos dos participantes, é possível uma conclusão a
respeito dos alcances do grupo em si, e outra sobre a validade da pesquisa
fenomenológica.
Sobre a vivência em grupos, é possível concluir que:
. a participação em um grupo de encontro pode trazer mudanças significativas para os
participantes, tais como:
. mudança no conceito de eu, ampliando a consciência de si;
. contato maior com os sentimentos;
. expressão fluída dos sentimentos;
. melhoria na comunicação com o outro;
. compreensão da relação interpessoal;
. autenticidade nas relações pessoais e profissionais;
. confiança naquilo que sente;
. abertura à experiência imediata, menos defensivo;
. aceitação de si e do outro;
. potencialização do processo psicoterápico individual;
. desenvolvimento da capacidade terapêutica;
. identificação com os membros de grupo, confirmando a existência.
. as mudanças são duradouras, independem do ano da participação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANEXO
Anexo 1
Depoimentos
Nome: Cíntia
Data da entrevista: 01/08/00
Sexo: Feminino
Idade: 38 anos Profissão: Psicóloga
Já fez ou faz terapia? Já fiz e faço terapia
Individual ou de grupo? Individual
Já participou de algum grupo de encontro? Já participei de vários grupo de encontro.
Quantos? Perdi a conta. Eu comecei a participar quando eu estava na faculdade, em
1990 e nunca mais parei. Então deve ser mais ou menos uns 17 a 20, por aí.
Qual o ano do último grupo de que você participou? Eu não tenho esta data.
Aproximadamente? Aproximadamente, deve ter sido em 1997, acho.
Nome: Roberto
Data da entrevista: 28/08/00
Sexo: Masculino
Idade: 35 anos Profissão: Magistrado
Já fez ou faz terapia? Faço
Individual ou de grupo? Individual e quando ocorrem os grupos de grupo, aqui em BH e
com o meu terapeuta individual.
Já participou de algum grupo de encontro? Muitos.
Quantos? Mais de vinte, mas eu já perdi a conta.
Qual o ano do último grupo de que você participou? 2000
E você acha, então, que o que te marcou foi ter vivenciado a raiva de uma forma
espontânea, sem culpa, sem culpa não…
Sem medo, né?, eu penso que o que pesava muito, né?, era assim o potencial destrutivo
da raiva, né?, era esse não saber, não é bem saber, eu não ter uma vivência de entrar
nesse sentimento de uma forma construtiva; minha raiva era raiva do grito, era raiva da
porrada, era raiva da agressão. Então havia um medo muito grande, né?, meu Deus, o
que eu posso fazer se essa raiva aflorar, né?, comigo e com o outro, né?. O principal era
o medo de me entregar a ela e ver o que vinha depois com muito medo.
Nome: Rogério
Data da entrevista: 23/09/00
Sexo: Masculino
Idade: 38 anos Profissão: Advogado
Já fez ou faz terapia? Nunca fiz, além dessas três experiências, contando com esta de
grupo.
Já participou de algum grupo de encontro? Sim.
Quantos? Três com esta
Qual o ano do último grupo de que você participou? 2000
A autenticidade foi o que mais te marcou então? Fale um pouco dela dentro do que você
viveu, como que você viveu?
É. Saber ser mais… é não ser hipócrita nas relações, saber dizer não, não me magoar,
mas ao mesmo tempo procurar respeitar os limites dos outros. Enfim, ser mais
transparente, acho que é o máximo que eu poderia definir e também é muito confuso,
né?
Confuso como?
Achar uma definição precisa para este turbilhão de sentimentos que eu atravessei e que
me ajuda muito fora daqui. Na minha profissão, eu lido com pessoas, e ajuda a
identificar a sinceridade das pessoas, é isso.
Tem mais alguma coisa que você queira falar?
Sim, sobre a diferença que é a vivência dentro de um grupo e fora dele, né?, na nossa
vida “normal”. Na prática, acho difícil, porque no grupo a gente consegue uma relação
mais transparente, mais verdadeira, e fora dele, nem sempre, não. Mas muitos tópicos,
como este de transparência, de percepção dos outros, perspicácia, são o que me ajuda a
enfrentar os problemas de fora.
Nome: Flávia
Data da entrevista: 18/10/00
Sexo: feminino. Idade: 48 anos Profissão: Professora (aposentada)
Já fez ou faz terapia? Já fiz
Individual ou de grupo? Todas duas.
Já participou de algum grupo de encontro? Já
Quantos? 02
Qual o ano do último grupo de que você participou? 1998
Então o que te marcou foi ver que tinha outras pessoas passando pela mesma situação
que você?
Mesma situação que eu, né?, porque geralmente a gente acha que o problema é só
nosso, e que o nosso é maior, né?, não é bem porque é só da gente não, é que o nosso
tem uma dimensão maior, né?, é, cheguei lá e vi que todo mundo passa também por
dificuldades, e que ali foi bom de pensar, repensar a vida, e pensar… Me senti
confortada. Conforto demais, é… É o que eu falei: repensar mesmo aquilo tudo, né?,
repensar a minha vida e ver que não era tão difícil sair daquilo que eu estava passando.
Agora já o segundo grupo foi mais de adolescente, foi importante também, eu não sei se
foi pela primeira vez que eu fui a um grupo, que eu já tinha feito a terapia individual, aí
eu fui fazer o grupo, e eu não sei se eu estava tão necessitada também e foi mais
marcante para mim, agora no segundo foi mais com adolescente, foi válido também,
porque eu também tenho dois filhos, né?, tenho um neto que mora comigo foi válido
para mim ver a minha discrepância, né, de que às vezes a gente age, né. Agora o
primeiro foi excelente, não faço mais porque não tenho muita oportunidade de fazer
mais grupo, né?
Nome: Emerson
Data da entrevista: 23/09/00
Sexo: Masculino
Idade: 42 anos Profissão: Despachante e Corretor de Seguros
Já fez ou faz terapia? Já fiz terapia, e comecei novamente e dei um intervalo.
Individual ou de grupo? Individual e constantemente tenho feito o grupo.
Já participou de algum grupo de encontro? Vários grupos de encontro.
Quantos? Inúmeros, não sei quantificar.
Nenhum número? Humm… Diria que são mais ou menos10 grupos.
Qual o ano do último grupo de que você participou? 2000
Interagir?
Interagir, exatamente, então isso. Para mim é importante conhecer um pouco mais o
meu cliente, me ensina também a forma de agradá-lo e com eu estando o agradando,ele
é um cliente importante, ele vai voltar. São os valores que ele percebeu na minha
percepção e dentro disso eu acredito que ele é um cliente que sempre vai se achar bem
quisto, ele volta e até indica mais clientes para mim. Eu tenho lucrado muito com isso.
Sexto período.
Sexto período? Logicamente, alguma coisa já deve ter transformado demais para você,
muita coisa, né? Eu imagino o engrandecimento que isso deve te trazer. Porque para
mim uma mudança poderia te dizer bem radical, sabe? Eu pude trabalhar muitas coisas,
a minha auto-estima, a criança abandonada. Me ensinou a ser Pãe, porque eu sou Pai e
mãe, me ensinou a aceitar os meus filhos, que são meus filhos, sabe? E eu tive uma
certa dificuldade de aceitar. Me ensinou a saber viver o Emerson, em saber viver o Pai e
a Mãe que eu estou sendo hoje, também estar com meus filhos juntos comigo dentro da
minha casa debaixo do meu teto, sem ter uma companheira para cuidar deles, sem ter a
Mãe deles perto de mim. Isso vem de grupo,
Resumindo: assumi minha identidade, me vejo diferente deste velho mundo, como já
falei: moro com meus três filhos e os amo muito, dificuldades é a gente que inventa,
para tudo tem solução, basta pensar e ser perseverante. Existem saídas. Devemos ter
paciência para encontrá-las, pois achava que não daria conta de cuidar deles e muitas
outras coisas. Já consigo deslanchar com muita tranqüilidade e sair do labirinto.
Descobri que não se pode corrigir qualquer pessoa, pois é preciso saber compreendê-las,
ouvi-las, sentir a sua dor, ouvir a respeito e nem sempre emitir opiniões, às vezes até
omitir. Fiz e faço muitos amigos com a grande sinceridade que o grupo me ensinou.
Nome: Rosa
Data da entrevista: 05/10/00
Sexo: Feminino
Idade: 34 Profissão: Médica
Já fez ou faz terapia? Já fiz.
Individual ou de grupo? Individual e de grupo.
Já participou de algum grupo de encontro? Já, vários.
Quantos? Acho que foram uns cinco ou seis.
Qual o ano do último grupo de que você participou? Novembro de 1997.
E o primeiro? Foi em 1996.
Então, pelo que você falou, o que mais te marcou foi o fato de ter se reencontrado?
É, o grupo ajudou, as pessoas, os relatos, tudo. Foi me reencontrar nestes grupos o que
mais marcou. Eu poder falar do que eu sentia, do quê que era importante para mim e me
entender onde pessoas lá me ajudaram a me entender. Coisas que… as coisas que eu não
entendia ou mesmo as coisas que eu queria. A vida era muito… muito sem sentido,
muito apagada, muito sem cor. E, de repente, eu fui descobrindo que era muito colorida
e eu é que não sabia. Então esse encontro comigo mesma é que foi muito bom, né? E
poder também, acho que o grupo é muito rico, não é só isso. É poder ajudar as outras
pessoas que estão lá, ajudar como elas estão te ajudando, não é um ato de caridade não.
É ajudar mesmo, é uma troca, exatamente. Essa troca é muito enriquecedora e quando
as pessoas sintonizam com você é que você consegue fazer essa troca, assim vale muito
este encontro com o outro mesmo, né? De resgatar, de fazer amizades, de resgatar
mesmo. É a questão de envolvimento, de amizade, de humanismo mesmo, que às vezes
no dia-a-dia, a gente acaba perdendo. Então isso foi muito intenso. Muito proveitoso.
Nome: Alberto
Data da entrevista: 24/10/00
Sexo: Masculino
Idade: 33 Profissão: Engenheiro Civil
Já fez ou faz terapia? Já fiz.
Individual ou de grupo? Já fiz individual e de casal, em grupo também.
Já participou de algum grupo de encontro? Já.
Quantos? Três.
Qual o ano do último grupo de que você participou? 1997
Não… não. Eu recomendo, tá? Eu recomendo, eu acho que terapia é muito bom, a gente
precisa… eu fiz a terapia e foi muito bom, um ano e meio. Depois fiz uma terapia de
casal que demorou mais uns oito meses a dez meses. E todas elas, é isso aí, é um
aprimoramento da pessoa que a gente é, a gente se conhece mais, aprende a respeitar
mais os outros, aprende a ver os limites, dá limite, acho que é bem interessante. Eu
recomendo.
Nome: Íris
Data da entrevista: 07/11/00
Sexo: Feminino
Idade: 27 anos Profissão: Massoterapia (massagista)
Já fez ou faz terapia? Faço.
Individual ou de grupo? Individual.
Já participou de algum grupo de encontro? Já.
Qual o último ano? Foi em… setembro… acho que foi setembro de 2000.
Já participou de mais algum? Não.
Então você acha que foi isso que mais te marcou, esse olhar diferenciado?
Isso me marcou muito. Muito, achei muito intenso o fato de eu poder, é, me colocar
assim brava era uma coisa que há muito eu tava trabalhando na terapia, né, eu me senti
totalmente à vontade pra me colocar pras pessoas desconhecidas o que eu tava sentindo,
isso para mim foi ilimitado, né, é… e me senti acolhida inclusive nesse momento,
porque eu achava que eu ia ter que brigar muito pra ser ouvida, né, foi bem legal.
E…, então, você acha que a experiência lá te proporcionou se impor de forma segura
aqui nos seus grupos de convívio?
A vivência me ajudou muito a tá conquistando isso agora, né, porque acaba que antes eu
ficava justificando assim: “Mas não eram pessoas significativas.” Então, assim, o medo
de perder a aceitação, o acolhimento não era assim tão valioso, né, seria no grupo de
pessoas que eu amo, né? Hoje eu me sinto mais fortalecida e segura ao me colocar… a
me impôr nesses grupos onde eu ainda morro de medo de, de repente, falar assim: “ah!,
você não faz mais parte disso aqui”, né, com a vivência que eu passei lá. Isso
certamente .
Tem mais alguma coisa que você queira falar? Da sua experiência?
Não, não, já acabei. É… você diz na vivência do grupo de encontro?
É.
Na vivência do grupo de encontro, na ocasião me marcou muito, de repente, vê que a
pessoa se propõe, e eu já vivi isso um monte de vezes na minha vida, se propõem a
viver uma coisa e chega na hora e não dá conta de viver e poucas pessoas têm a
coragem de falar assim: “não dou conta.” E nessa época eu tive oportunidade de viver
com pessoas que assumiram: “olha, eu não tou dando conta de viver isso aqui né, tchau
pro cês, eu vou viver outras coisas”. E aí pessoas que em um primeiro olhar assim eu
achei super fragilizada e depois eu vi que eram muito mais fortes, que conseguiam dar
conta de falar que não davam conta, né, então eu achei muito marcante.
Obrigada.
Nome: Viviane
Data da entrevista: 25/11/00
Sexo: Feminino. Idade: 28
Profissão: Psicóloga
Já fez ou faz terapia? Faço, atualmente faço.
Individual ou de grupo? Individual
Já participou de algum grupo de encontro? Já.
Sabe quantos? Eu já participei de um em 1993, na época eu era aluna do 4º período. E já
fiz outros grupos que eram de finais de semana que eram grupos de encontro.
Qual o ano do último grupo de que você participou? O último foi é nessa… nessa…
1993, 1994 também, nessa época.
E viver a opressão…
Foi muito dolorido, muito… Mas foi uma coisa que me trouxe uma consciência muito
grande de como que eu tava, né?, como que eu tava realmente oprimida, sem, é… sem
conseguir expressar o que quê eu tava sentindo… sem conseguir entender o que eu tava
sentindo. Então, assim, você sente isso na pele, é diferente de você entender, né?, assim,
que você está em depressão, que você está oprimido, que você está bloqueado, que você
não consegue se expressar, é muito diferente você entender isso do que sentir isso na
carne mesmo, né?, então e ao mesmo tempo que eu sentia toda essa dor… toda mesmo.
Nome: Lívia
Data da entrevista: 22/12/00
Sexo: Feminino
Idade: 40 anos Profissão: Comunicação Social e psicóloga
Já fez ou faz terapia? Já fiz, no momento não.
Individual ou de grupo? Individual
Já participou de algum grupo de encontro? Já participei de uns 12
Qual o ano do último grupo de que você participou? 1998
E do primeiro? Acredito ser em 92