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RESUMO
1. O CERRADO E OS RAIZEIROS
Entender a ocupação dos Cerrados significa conhecer parte das histórias dos
raizeiros que hoje são encontrados na metrópole. Pois grande parte deles foram
expropriados de suas terras sendo obrigados a procurarem uma forma de sobrevivência
na cidade.
Presentes nos estados do Maranhão, Piauí e Bahia no Nordeste; Roraima,
Amapá, Pará e Tocantins no Norte; Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito
Federal no Centro-Oeste; Minas Gerais e São Paulo no Sudeste; e Paraná na região Sul,
o Cerrado sofre, desde a década de 1960 uma intensa destruíção de sua diversidade,
biológica e cultural. Este período (1960) é quando os Cerrados tornam-se alvo da
política de ocupação do Brasil central, objeto de estudo da EMBRAPA e outros projetos
como prodecer e polocentro.
Pelas entrevistas foi evidênciado que dos 17 raizeiros apenas três não
passaram parte da vida em contato direto com o Cerrado, em fazendas, locais afastados
de cidades. Estes que se viram obrigados a procurar a cidade grande para sobreviver
deixavam para traz suas famílias, relações, o seu lugar. Em alguns casos deixaram tudo.
Situações como inundação das terras por causa da construção de barragens, grilagem de
terras, falta de políticas e financiamentos para pequenos produtores e a competitividade
do mercado acabam levando grande número de pessoas para as cidades, onde algumas
delas também não encontram emprego o que as leva para informalidade. Dentre estes
encontram-se as pessoas que fazem se seus saberes uma forma de sustento, sendo
reconhecidos como raizeiros e denominados neste como raizeiros mercadores.
O Cerrado porta uma biodiversidade riquíssima, porém, ainda desconhecida
em grande parte. Ela é de extrema importância para as populações tradicionais, pois é
por meio desta que seus conhecimentos e culturas são apreendidos e passados para
futuras gerações. Uma vez que para essas populações tradicionais, a natureza, o humano
e o espiritual não se separam, tanto que, Almeida (2003) relata que a visão de
biodiversidade para essas populações é um produto de uma cultura particular na
apropriação, conhecimento e conservação do seu espaço. Assim destaca-se a
importancia do Cerrado para as pessoas que vivem e viveram em contato direto com ele.
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pode ter se afastado tanto da natureza que esqueceu até que sua alimentação e remédios
vêm da natureza. Segundo Tourinho (2000 p 35 apud Albuquerque, 1997) tudo
começou com a natureza,
O homem na antiguidade, usava as plantas como alimento e como remédio;
ao longo dos séculos teve as alegrias do sucesso e as dores do fracasso nas
suas experiências com plantas que muitas vezes curavam e outras vezes
matavam por produzirem efeitos colaterais por demais desastrosos.
Foi assim, em contato direto com natureza, que os primeiros ser humanos
começaram a adquirir conhecimento sobre a natureza e o seu uso. A partir dessas
experiências o saber torna-se importante e valorizado entre as famílias e gerações. E é
ainda hoje pelas populações que tem a natureza como parceira e cúmplice.
Muitos desses conhecimentos passados oralmente de geração a geração têm
se perdido. Tanto pelo desinteresse dos jovens, quanto pela desvalorização que muitas
vezes o urbano e científico provoca – até mesmo nesses jovens.
Mas esse quadro vem mudando mesmo que lentamente. A ciência já tem
procurado se voltar para estas questões, tem tentado resgatar o grande conhecimento de
pessoas e populações que ainda habitam a natureza como seus avós e bisavós viveram
há muito tempo, em outro tempo, como no caso da Etnobotânica.
A Etnobotânica, preocupada com as inter-relações entre povos primitivos e
plantas, nasce em 1895, quando o termo surge pela primeira vez nos Estados Unidos,
publicado no artigo The purposes of ethno-botany de J.W. Harshberger. Daí em diante o
conceito se aperfeiçoou, e segundo Albuquerque (2002 p 17),
A partir de meado do século XX, passou a ser compreendida como o estudo
das inter-relações entre povos primitivos plantas, acrescentando-se uma
componente cultural e sua interpretação pelo engajamento cada vez maior de
Antropólogos.
Desde 1895 a etnobotânica desenvolve estudos nessa área, porém, é uma
“disciplina” ainda pouco difundida próprio meio acadêmico, segundo o professor José
Geraldo W. Marques, da Universidade Estadual de Feira de Santana, no prefácio do
livro de Albuquerque (2002). Mas isso não tem impedido sua propagação. Numa
consulta ao sítio eletrônico do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico – CNPq do Ministério de Ciência e Tecnologia, a partir das palavras
“etnobotânica” e “etnoconservação” foi possível localizar para a primeira 832 pessoas e
para a segunda palavra a busca resultou em 45 pesquisadores cadastrados no sistema,
entre doutores, mestres, graduandos e técnicos, de todas as áreas, que já fizeram alguma
publicação sobre o termo. Isso demonstra o interesse por esta temática, que já reúne um
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3. OS RAIZEIROS DE GOIÂNIA
Para este estudos definiu-se como raizeiro qualquer pessoa que tenha
conhecimentos e/ou faça uso de plantas medicinais. Também passa-se a comprender que
a pessoa que comercializa as plantas é um raizeiros mercador.
No Setor Central de Goiânia encontra-se número significante de raizeiros,
totalizando até então 17. As principais concentrações estão no Mercado Central de
Goiânia, no Mercado Aberto de Goiânia, na Região do cruzamento das avenidas Goiás e
Paranaíba e na Feira Hippie. Porém, constatou-se dois destaques, uma raizeira isolada
na esquina da rua sete com a avenida Anhangüera, sem qualquer outro raizeiro por
perto; o outro é a grande loja “Casa da Raiz”, na avenida Goiás.
Mercado Central
Localizado entre a rua três e a Avenida Anhanguera no centro, mas como
entrada principal pela rua três o Mercado Central de Goiânia, abriga um comércio
variado, desde bancas que vendem artigos para cama, mesa e banho, utensílios variados,
vestuário e calçados, oferece também serviços de assistência técnica, alimentação,
souvenir‘s e raízes. Nesse mercado localizam-se oito barracas de raízes, das quais
encontram-se cinco raizeiras e três raizeiros
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Feira Hippie
Esta acontece aos domingos pela manhã. Sua localização ao lado da
Rodoviária facilita para muitos clientes de outras cidades chegarem a feira aumentando
o número de clientes. Dos raizeiros encontrados na Feira Hippie dois se caracterizam
por bancas montadas em carrinhos e uma raizeira pela barraquinha de feira. Todos os
três possuem barracas fixas e cadastradas no Mercado Aberto de Goiânia.
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4. OLHARES E REPRESENTAÇÕES
Os raizeiros de Goiânia são encontrados em diversos locais da cidade. O essa
pesquisa se restringiu a trabalhar com os raizeiros do centro de Goiânia, com os quais
fizemos as entrevistas com objetivo de “capturar”, através do exercício de seu ofício, os
saberes e os olhasres que estes tem do Cerrado.
Ao realizar as entrevistar foi possível constatar que, de acordo com os seus
conhecimentos sobre o Cerrado, é possível identificar raizeiros que conseguem
descrever o Cerrado, como a dona Adalgisa que diz, é aquele mato rasteiro que olha até
longe e tem algumas árvores (28/10/2005).
Esta fala dela consegue remontar uma paisagem típica do Cerrado.
Lembrando as fisionomias de Campo limpo e Campo Sujo.. Consegue capturar aspectos
peculiares do bioma. Isso evidencia que alguns raizeiros como a dona Adalgisa, viveram
em zonas rurais pelo menos durante um período se sua vida. E esta vivência é expressa
não somente aos responder a entrevista afirmando que já passou parte da vida em áreas
de Cerrado com é ratificado em suas outras colocações como a supracitada. A forma
como ela descreve, o cuidado e a segurança são de quem fala com propriedade.
Mas nem todos conseguem dizer o que é o Cerrado. Pelas falas a seguir
notamos que parte dos raizeiros não consegue dizer exatamente o que é o Cerrado.
Fazem algumas confusões com outros biomas, outros empregam definições que são um
tanto quanto vagas ou simplistas, como os exemplos a seguir:
“É... cinqüenta por cento das plantas é cerrado (João Queiroz, 50 anos -
05/11/2005)”.
“Pra mim? Nunca pensei. Ë um lugar bom pra se viver. Eu gosto dessas
coisas, rio, mato” (Liliane Dias, 25 anos - 20/11/2005).
“Tem que ter a consciência [para usar], mas tem que deixar umas áreas”.
(Deroci Guimarães, 55 anos - 04/11/2005).
“Desse jeito vai ser destruído, acabar. Tem que preservar”. (Venceslau, 50
anos - 04/11/2005).
discussão muito polêmica e que ainda não tem comprovação científica nem afavor , nem
contra o fogo no Cerrado. O que já se sabe é que aglumas espécies tem a dormência das
sementes quebradas pelo fogo.
Sobre as histórias relacionadas ao cerrado muitos deles não fazem referência
ou não se lembram. Um personagem que apareceu em três entrevista foi o “Pai do
mato”. Que segundo eles é um homem que vive no mato para proteger a mata.
Descontraídos, os raizeiros se esforçaram para demonstrar o conhecimento sobre o
cerrado, com lembranças de alguma música relacionada ao cerrado. Apareceram as
seguintes:
“Já ouvi aquela música das frutas, de cajuzinho. E piadas do Nilton Pinto e
Tom Carvalho” (João Queiroz, 50 anos - 05/11/2005).
Cerrado vão continuar a existir. Não podemos cair no erro de desconsiderar seus
conhecimentos como de pouca contribuição para o desenvolvimento da ciência. E mais,
cabe à ciência que procura entender seus tipos de relacionamentos e usos do Cerrado
entender o papel que o raizeiro tem em até auxiliar na conservação do Cerrado e na
descoberta do uso de plantas posteriormente.
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, U.P. Introdução à etnobotânica.Recife: Bagaço, 2002