Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
o
flexão, validando a informação
e integrando outros actores
OPSA ao apresentarem a sua opinião neste documento, pretende fo- relevantes para o tema em
mentar o debate alargado e inclusivo sobre as questões relacionadas questão
• Formulação de opiniões bus-
com a governação local e implementação das autarquias, com análises que cando consensos ou opções di-
possibilitam um maior conhecimento e uma melhor participação dos cida- ferenciadas
• Divulgação de posiciona-
dãos interessados ao longo de todo processo de preparação das condições mento de forma pública ou di-
necessárias para sua implementação. rigida a grupos específicos
1
IMPLEMENTAÇÃO DO PODER LOCAL EM ANGOLA
2
IMPLEMENTAÇÃO DO PODER LOCAL EM ANGOLA
nosso partido, do grupo a que pertencemos; apro- gradual das autarquias, no contexto político e
fundar a democracia; reforçar os níveis de poder lo- constitucional Angolano, podem ter resultados
cal; ou se queremos autarquias porque sentimos perversos na medida em que pode vir a aumentar
que essa é a forma de tornar efectiva a prestação o fosso entre os municípios que passarão a autar-
de serviços à população. quias locais, numa primeira fase, e os que verão
esta pretensão adiada. Urge, portanto, discutir
Muitos podem responder que são as duas coisas,
mas devemos ter ideias claras sobre a principal ra- com algum pormenor qual o significado de “gradu-
zão, porque isso nos ajudará a entendermos melhor alismo” na governação local em Angola, sem, con-
as diferentes perspectivas e a tomar decisões, quer tudo, pôr em causa o que esta plasmado na Cons-
preceito que está explícito na Constituição da Re- durante as discussões sobre as autarquias, se o
pública, atestando que a implementação das autar- termo gradualismo também se refere ao processo
quias locais deverá ser feita de forma gradual. Por de transferência gradual de funções e competên-
outro lado, dada a realidade do país, parece haver cias para órgãos das autarquias locais, definindo o
fortes argumentos baseados na necessidade de pru- nível de responsabilidades, atribuições e tarefas a
dência e eficácia, que as autarquias locais sejam serem transferidas nas diferentes fases em simul-
implementadas gradualmente até estarem estabele- tâneo com a indicação dos municípios a serem
cidas em todos os municípios. abrangidos em cada uma das fases.
Em alguns círculos a expressão “gradualismo” está Devemos, no entanto, ter em atenção e discutir os
envolta em muita controvérsia porque alguns en- argumentos que têm sido utilizados pelos defenso-
tendem que as implicações decorrentes da criação res das diferentes perspectivas, sob pena de fazer-
3
IMPLEMENTAÇÃO DO PODER LOCAL EM ANGOLA
se alguma coisa no sentido das autarquias, mas não CRITÉRIOS DE SELECÇÃO DOS MUNICÍ-
suficientemente profundo para alterar o fundamen- PIOS A SEREM AUTARQUIAS
tal da organização do Estado em Angola.
No caso de se optar que “gradualismo” é entrada
Por outro lado, o Executivo, apesar da guerra e de- paulatina de ascensão dos municípios à autarquia,
pois de todos estes anos, não pode usar o argu- O OPSA entende também que é fundamental que
mento de que muitos municípios não têm condições se estabeleçam rapidamente, e através de um amplo
para serem autarquias, quando é sua responsabili- debate e auscultação o mais alargado e consensual
dade criar essas condições, até porque a Constitui- possível, os critérios para a selecção dos municí-
ção foi aprovada em 2010, num ambiente de paz e pios que irão integrar a primeira fase de institucio-
distam já 8 anos. As populações não podem ser du- nalização das autarquias locais e realização de elei-
plamente penalizadas. É ainda importante debater ções autárquicas. É necessário ter em conta alguns
o que irá acontecer nos municípios que, por hipó- critérios para a escolha dos municípios que irão in-
tese, não serão autarquias locais numa primeira tegrar o primeiro grupo e os grupos seguintes,
fase, pelo que, haverá necessidade de definição de como, por exemplo:
um calendário indicativo para a sua ascensão à ca-
tegoria de autarquias locais e submete-lo à aprova- Necessidade de incluir municípios
4
IMPLEMENTAÇÃO DO PODER LOCAL EM ANGOLA
5
IMPLEMENTAÇÃO DO PODER LOCAL EM ANGOLA
testar alguns aspectos utilizando as Administrações os restantes membros do órgão executivo, tirando
Municipais existentes do que adoptar modelos não aqui a possibilidade de existência de órgão execu-
baseados na nossa realidade. O terceiro alerta tivo eleito pelo método de Hondt de acordo com a
prende-se com a necessidade de se investir um votação dos eleitores. Como forma de estimular a
pouco mais na informação e educação dos cidadãos discussão, fica a ideia de que esta situação poderia
por forma a garantir-se a sua plena participação em ser mitigada no âmbito da legislação autárquica a
todas as fases do processo. produzir, se esta vier a estabelecer que o Presidente
da Autarquia terá obrigatoriamente de nomear o
ORGÃOS AUTÁRQUICOS
seu executivo de forma proporcional à votação dos
eleitores, contornando-se assim uma possível in-
A Constituição da República já estabelece que irão
constitucionalidade, uma vez que a Constituição só
existir 2 órgãos autárquicos, uma Assembleia, com
define que o Presidente da Autarquia escolhe o res-
poder legislativo, um executivo colegial e um Pre-
tante executivo, não diz como nem quem.
sidente da Autarquia. Se olharmos também para o
artº 218, parece claro que o legislador está apenas
O OPSA considera também necessário discutir e
a ter em conta a futura autarquia que irá substituir
estabelecer a forma como os cidadãos poderão par-
a Administração Municipal, porque deixa em
ticipar nos órgãos a serem eleitos para que possam
aberto a possibilidade de “a Lei poder estabelecer
dar a sua opinião, levantar os seus problemas e
outros escalões infra-municipais da organização
questões, etc. Uma das hipóteses é que os órgãos
territorial da Administração Local autónoma”. É
autárquicos tenham reuniões públicas e que exista
importante que a discussão não seja monopolizada
um período reservado à intervenção dos cidadãos.
em torno da autarquia municipal e que não se es-
queça a forma de organização mais próxima dos ci- Outra questão importante é de que forma os actuais
dadãos, que são as comunas no actual ordena- espaços de auscultação dos cidadãos irão ser en-
mento. É necessário que se discuta e que se defina quadrados, ou serem tidos em conta, nas futuras au-
de que forma se vão organizar as autarquias ao ní- tarquias. Uma ideia que fica para discussão é a de
vel das actuais comunas, que órgãos terão, se serão poderem ser reformulados e passarem a ser conse-
eleitos ou indicados, que atribuições e competên- lhos municipais, por sector, onde as organizações
cias, etc. da sociedade civil (OSC) e autoridades tradicionais
teriam assento, e poderiam ser apenas órgãos con-
Deve igualmente ser tido em conta que já está esta-
sultivos ou terem também alguns poderes delibera-
belecido no texto constitucional que o Presidente
tivos.
da Autarquia será o primeiro candidato da lista
mais votada, que por sua vez escolherá e nomeará
6
IMPLEMENTAÇÃO DO PODER LOCAL EM ANGOLA
7
IMPLEMENTAÇÃO DO PODER LOCAL EM ANGOLA
O OPSA considera ser preciso garantir a existência compreendem as Autarquias Locais, as instituições
de um estatuto de carreira e remuneratório para os do poder tradicional e outras modalidades específi-
funcionários dos municípios e autarquias, evi- cas de participação dos cidadãos, nos termos da
tando-se assim a partidarização e a confusão de pa- lei.”.
péis e funções entre os membros eleitos e os funci-
A prioridade da discussão tem recaído sobre as Au-
onários da autarquia, garantindo-se assim estabili-
tarquias Locais, mas temos um debate a fazer sobre
dade dos quadros e o correcto funcionamento da
as outras duas formas e, ainda mais importante,
instituição, independentemente das mudanças polí-
como vai ser a moldura de inter-relacionamento en-
ticas.
tre estas três formas organizativas do poder local.
REVISÃO DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-
EXPECTATIVAS VERSUS FRUSTAÇÃO E
ADMINISTRATIVA
DESILUSÃO
Apesar deste tema não estar em discussão, a dimen-
Convém realçar que a implementação das autar-
são do País sugere que valerá a pena começar a dis-
quias locais não irá ser a solução para todos os pro-
cussão sobre uma futura revisão organização polí-
blemas dos municípios e das pessoas. Mas será se-
tica e administrativa do Estado. Talvez neste mo-
guramente um contributo importantíssimo e indis-
mento a questão não pareça fazer muito sentido,
pensável para o desenvolvimento do País e para a
mas com o desenvolvimento, o crescimento demo-
qualidade dos serviços prestados aos cidadãos, me-
gráfico, etc., esta questão irá pôr-se mais cedo do
lhorando assim a sua qualidade de vida. Contudo,
que tarde. Serão os municípios governáveis com a
urge afirmar com clareza que os problemas não irão
extensão de território que têm de administrar actu-
desaparecer por si só muito menos definitivamente,
almente? E quando esse território tiver mais 2, 3, 4
com este processo, mesmo depois das autarquias
ou 10 vezes mais população? Não seria pertinente
implementadas. Irá ser um processo longo, de con-
começar já a fazer essa discussão e a preparar o fu-
solidação e aprofundamento que irá aos poucos
turo?!
contribuir para a solução dos problemas das pes-
ÓRGÃOS AUTÓNOMOS DO PODER LOCAL soas, mas, ao mesmo tempo, novos problemas irão
surgir que necessitarão de solução. As autarquias,
O OPSA constata, com preocupação, que outra te-
mais que a solução, são o caminho para as várias
mática que tem estado arredada da discussão, mas
soluções.
que interessa pensar, prende-se com o preceito
constitucional que trata dos órgãos autónomos do Por isto, o OPSA relembra que as autarquias locais
Poder Local (artº 213) nomeadamente do ponto 2 não serão uma obra acabada em si mesmo, são um
que diz “As formas organizativas do poder local
8
IMPLEMENTAÇÃO DO PODER LOCAL EM ANGOLA