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OPSA

O OPSA é um espaço plu-


ralista de debate, na base
DOCUMENTO PARA REFLEXÃO SOBRE de argumentos e factos,
O CASO DA INSTITUCIONALIZAÇÃO para um desenvolvimento
justo e sustentável.
DAS AUTARQUIAS LOCAIS:
O OPSA actua pela realiza-
IMPLEMENTAÇÃO DO PODER LOCAL ção de debates, produção
EM ANGOLA de documentos de refle-
xão ou de posicionamento
para fundamentar toma-
das de decisão.
Luanda, Março 2018
Isto resulta da:
• Recolha de informação
• Tratamento de conteúdo atra-
vés de avaliação, balanço e re-

o
flexão, validando a informação
e integrando outros actores
OPSA ao apresentarem a sua opinião neste documento, pretende fo- relevantes para o tema em
mentar o debate alargado e inclusivo sobre as questões relacionadas questão
• Formulação de opiniões bus-
com a governação local e implementação das autarquias, com análises que cando consensos ou opções di-
possibilitam um maior conhecimento e uma melhor participação dos cida- ferenciadas
• Divulgação de posiciona-
dãos interessados ao longo de todo processo de preparação das condições mento de forma pública ou di-
necessárias para sua implementação. rigida a grupos específicos

Pretende também contribuir com ideias e sugestões que possam ser


uteis para todos os actores que possuem responsabilidades acrescidas du-
rante o exercício de discussão, aprovação, e execução de uma serie de ta-
refas tendentes a materializar o compromisso de implementação das autar-
quias antes do final da presente legislatura.

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IMPLEMENTAÇÃO DO PODER LOCAL EM ANGOLA

INTRODUÇÃO mais recentemente com o compromisso público do


novo Executivo com a realização de eleições autár-
O processo de criação e implementação das autar-
quicas no período desta legislatura.
quias locais e a realização de eleições autárquicas é
um processo complexo e sensível em qualquer país, É possível afirmar que de uma maneira geral a
ainda mais em Angola, dada a realidade política, grande maioria dos cidadãos são a favor da imple-
histórica, mas também a realidade económica e fi- mentação das autarquias e da realização de eleições
nanceira que atravessa actualmente. autárquicas, no entanto, ao longo do tempo, fomos
assistindo à discussão desta temática com vários ar-
Por ser um processo fundamental, quer para o apro-
gumentos, quer do Executivo e dos partidos políti-
fundamento e consolidação do Estado de Direito e
cos, quer das organizações da sociedade civil, aca-
Democrático, quer, principalmente, pelo que signi-
demia, cidadãos anónimos, etc, sem quaisquer con-
fica para o desenvolvimento do país, a prestação de
sequências práticas.
serviços básicos e ganhos em geral para a popula-
ção, o OPSA entende ser necessário prepará-lo e Com este documento, o OPSA pretende dar o seu
implementá-lo com toda a seriedade, evitando-se contributo para esta discussão, pelo que são enume-
deste modo que se criem hesitações por um lado, rados a seguir um conjunto de ideias consideradas
exageros e falsas expectativas por outro. fundamentais para que, tal como já foi dito é dito
no início do documento, este processo seja levado
A possibilidade de concretizar a institucionalização
a cabo com a devida prudência, mas sem hesitações
das Autarquias Locais e a realização de eleições au-
nem falsas expectativas.
tárquicas exige todo um trabalho preparatório, seja
do ponto de vista da reorganização da Administra- TORNAR EFECTIVA A PRESTAÇÃO DE
ção Local do Estado, elaboração de legislação es- SERVIÇOS À POPULAÇÃO VS ESTRATÉ-
pecífica, formação de quadros técnicos e políticos, GIA OU POSICIONAMENTO POLÍTICO
processos de captação bem como atribuição de
Um primeiro debate que urge realizar para se che-
meios e recursos financeiros às futuras autarquias,
gar a alguns consensos prende-se com a razão mais
entre outros.
profunda do porque é que queremos autarquias lo-
Em Angola, a possibilidade de institucionalização cais? Este aspecto fundamental deve ser tratado
das autarquias vem desde a independência, tendo- ainda antes de enumerarmos e debatermos as ques-
se aprofundado em 1992, aquando da primeira re- tões constitucionais, políticas, económicas, etc.
ferência constitucional à implementação de autar-
A questão a debater é se queremos autarquias por-
quias locais. Posteriormente, voltou à “ordem do
que esse é “posicionamento/estratégia politica” do
dia” com a aprovação da constituição em 2010 e

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IMPLEMENTAÇÃO DO PODER LOCAL EM ANGOLA

nosso partido, do grupo a que pertencemos; apro- gradual das autarquias, no contexto político e
fundar a democracia; reforçar os níveis de poder lo- constitucional Angolano, podem ter resultados
cal; ou se queremos autarquias porque sentimos perversos na medida em que pode vir a aumentar
que essa é a forma de tornar efectiva a prestação o fosso entre os municípios que passarão a autar-
de serviços à população. quias locais, numa primeira fase, e os que verão
esta pretensão adiada. Urge, portanto, discutir
Muitos podem responder que são as duas coisas,
mas devemos ter ideias claras sobre a principal ra- com algum pormenor qual o significado de “gradu-

zão, porque isso nos ajudará a entendermos melhor alismo” na governação local em Angola, sem, con-

as diferentes perspectivas e a tomar decisões, quer tudo, pôr em causa o que esta plasmado na Cons-

sejam elas legais, políticas, sociais, económicas e tituição.


até técnicas, no futuro.
Outra questão a ser clarificada em relação ao gra-
Basicamente, estudos comprovados, demonstraram dualismo prende-se com o foco do mesmo. Para
que a principal razão para a institucionalização das além do gradualismo entendido como a paulatina
autarquias locais é a eficiência e eficácia na presta- implementação das autarquias ao nível do territó-
ção de serviços públicos de qualidade. rio nacional, existe também a possibilidade deste
princípio ser interpretado como a transferência
GRADUALISMO
gradual de um conjunto de funções e competên-
Nos últimos tempos a discussão ficou muito cen- cias que o Estado-central para as autarquias locais.
trada na questão do gradualismo, que pode ser uma
não questão. Por um lado, porque trata-se de um Dai que o OPSA entenda ser relevante clarificar,

preceito que está explícito na Constituição da Re- durante as discussões sobre as autarquias, se o

pública, atestando que a implementação das autar- termo gradualismo também se refere ao processo
quias locais deverá ser feita de forma gradual. Por de transferência gradual de funções e competên-
outro lado, dada a realidade do país, parece haver cias para órgãos das autarquias locais, definindo o
fortes argumentos baseados na necessidade de pru- nível de responsabilidades, atribuições e tarefas a
dência e eficácia, que as autarquias locais sejam serem transferidas nas diferentes fases em simul-
implementadas gradualmente até estarem estabele- tâneo com a indicação dos municípios a serem
cidas em todos os municípios. abrangidos em cada uma das fases.

Em alguns círculos a expressão “gradualismo” está Devemos, no entanto, ter em atenção e discutir os
envolta em muita controvérsia porque alguns en- argumentos que têm sido utilizados pelos defenso-
tendem que as implicações decorrentes da criação res das diferentes perspectivas, sob pena de fazer-

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IMPLEMENTAÇÃO DO PODER LOCAL EM ANGOLA

se alguma coisa no sentido das autarquias, mas não CRITÉRIOS DE SELECÇÃO DOS MUNICÍ-
suficientemente profundo para alterar o fundamen- PIOS A SEREM AUTARQUIAS
tal da organização do Estado em Angola.
No caso de se optar que “gradualismo” é entrada
Por outro lado, o Executivo, apesar da guerra e de- paulatina de ascensão dos municípios à autarquia,
pois de todos estes anos, não pode usar o argu- O OPSA entende também que é fundamental que
mento de que muitos municípios não têm condições se estabeleçam rapidamente, e através de um amplo
para serem autarquias, quando é sua responsabili- debate e auscultação o mais alargado e consensual
dade criar essas condições, até porque a Constitui- possível, os critérios para a selecção dos municí-
ção foi aprovada em 2010, num ambiente de paz e pios que irão integrar a primeira fase de institucio-
distam já 8 anos. As populações não podem ser du- nalização das autarquias locais e realização de elei-
plamente penalizadas. É ainda importante debater ções autárquicas. É necessário ter em conta alguns
o que irá acontecer nos municípios que, por hipó- critérios para a escolha dos municípios que irão in-
tese, não serão autarquias locais numa primeira tegrar o primeiro grupo e os grupos seguintes,
fase, pelo que, haverá necessidade de definição de como, por exemplo:
um calendário indicativo para a sua ascensão à ca-
tegoria de autarquias locais e submete-lo à aprova-  Necessidade de incluir municípios

ção pela da Assembleia Nacional. urbanos e rurais


 Municípios onde a criação de gado
Por último, toda a sociedade, a começar pelos par- tem importância vital para a popu-
tidos políticos, devem olhar para esta questão com lação
seriedade. Que se faça um amplo debate público,  Municípios do litoral e do interior
tendo em conta o interesse do País e das populações  Municípios mais e menos populo-
e não só interesse partidário de obtenção e/ou de sos
manutenção do poder ou ainda outros interesses pa-  Municípios mais e menos vulnerá-
ralelos. veis, incluindo às mudanças climá-
ticas
O que importa preservar no âmbito desse debate é
 Municípios da malha urbana da
que se evite que, do ponto de vista político, o país
província de Luanda
caminhe a duas velocidades, com cidadãos diferen-
 Municípios localizados em zonas
temente emancipados nos seus direitos de partici-
distantes das sedes provinciais
pação, logo de cidadania.
 Municípios localizados na fronteira
com outros países

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IMPLEMENTAÇÃO DO PODER LOCAL EM ANGOLA

 Municípios que albergam no seu do compromisso político e poderá permitir uma


território importantes jazidas mine- mais eficaz monitoria de todo o processo.
rais ou outros recursos naturais
LEGISLAÇÃO
O importante é que se estabeleçam critérios que
Para levar a cabo todo este processo, é necessário a
possibilitem que os municípios selecionados sejam
existência de um pacote legislativo que inclui:
o mais heterogéneos possível nas várias fases de
implementação e que representem as diversas rea-
 Lei das autarquias locais
lidades do país. Assim conseguiremos ter alguma
 Lei eleitoral autárquica
equidade no processo e poderemos identificar pro-
 Regime jurídico das autarquias locais, tu-
blemas e encontrar soluções que serão próprias de
tela administrativa e organização dos ser-
cada realidade, porque se existem problemas trans-
viços
versais a todos os municípios, também existem ou-
 Lei de financiamento das autarquias
tros problemas que são típicos de municípios com
 Lei de atribuição de competências
determinadas características.
 Lei de enquadramento estatuto e carreiras
O OPSA recomenda que sejam feitos estudos mul- dos trabalhadores das autarquias locais
tissectoriais por forma a enquadrar a visão estraté-  Estatuto dos eleitos locais
gica de desenvolvimento inter-municipal.  Autoridades Tradicionais e relação com as
Autarquias Locais
CALENDÁRIO DE IMPLEMENTAÇÃO DAS
 Lei da toponímia (já existe mas precisa de
AUTARQUIAS
emendas)
 Outros
Tendo em conta o compromisso já assumido pelo
Presidente da República e pelo seu Executivo de
Porém, o OPSA entende que se justificam três aler-
avanço do processo autárquico e tendo em conta
tas. O primeiro é o exagero tecnocrático, ou seja,
que o mesmo irá ser feito de forma gradual, ao
que se venha a entender que todo o processo legis-
OPSA parece ser fundamental que seja discutido e
lativo autárquico é uma responsabilidade dos juris-
eventualmente estabelecido um cronograma de im-
tas e não de toda a sociedade. O segundo alerta
plementação das autarquias locais, preferencial-
prende-se com a questão da utilização exagerada
mente aprovado pela Assembleia Nacional, tal
dos modelos de outros países, não para aprender
como dissemos anteriormente. Este cronograma,
com eles, mas para fazer “copy and paste” de mo-
que poderá ser para um período de 10 a 12 anos
delos que às vezes não se adaptam às nossas múlti-
fechará eventualmente a discussão sobre a questão
plas realidades. Aqui poderá ser mais importante

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IMPLEMENTAÇÃO DO PODER LOCAL EM ANGOLA

testar alguns aspectos utilizando as Administrações os restantes membros do órgão executivo, tirando
Municipais existentes do que adoptar modelos não aqui a possibilidade de existência de órgão execu-
baseados na nossa realidade. O terceiro alerta tivo eleito pelo método de Hondt de acordo com a
prende-se com a necessidade de se investir um votação dos eleitores. Como forma de estimular a
pouco mais na informação e educação dos cidadãos discussão, fica a ideia de que esta situação poderia
por forma a garantir-se a sua plena participação em ser mitigada no âmbito da legislação autárquica a
todas as fases do processo. produzir, se esta vier a estabelecer que o Presidente
da Autarquia terá obrigatoriamente de nomear o
ORGÃOS AUTÁRQUICOS
seu executivo de forma proporcional à votação dos
eleitores, contornando-se assim uma possível in-
A Constituição da República já estabelece que irão
constitucionalidade, uma vez que a Constituição só
existir 2 órgãos autárquicos, uma Assembleia, com
define que o Presidente da Autarquia escolhe o res-
poder legislativo, um executivo colegial e um Pre-
tante executivo, não diz como nem quem.
sidente da Autarquia. Se olharmos também para o
artº 218, parece claro que o legislador está apenas
O OPSA considera também necessário discutir e
a ter em conta a futura autarquia que irá substituir
estabelecer a forma como os cidadãos poderão par-
a Administração Municipal, porque deixa em
ticipar nos órgãos a serem eleitos para que possam
aberto a possibilidade de “a Lei poder estabelecer
dar a sua opinião, levantar os seus problemas e
outros escalões infra-municipais da organização
questões, etc. Uma das hipóteses é que os órgãos
territorial da Administração Local autónoma”. É
autárquicos tenham reuniões públicas e que exista
importante que a discussão não seja monopolizada
um período reservado à intervenção dos cidadãos.
em torno da autarquia municipal e que não se es-
queça a forma de organização mais próxima dos ci- Outra questão importante é de que forma os actuais
dadãos, que são as comunas no actual ordena- espaços de auscultação dos cidadãos irão ser en-
mento. É necessário que se discuta e que se defina quadrados, ou serem tidos em conta, nas futuras au-
de que forma se vão organizar as autarquias ao ní- tarquias. Uma ideia que fica para discussão é a de
vel das actuais comunas, que órgãos terão, se serão poderem ser reformulados e passarem a ser conse-
eleitos ou indicados, que atribuições e competên- lhos municipais, por sector, onde as organizações
cias, etc. da sociedade civil (OSC) e autoridades tradicionais
teriam assento, e poderiam ser apenas órgãos con-
Deve igualmente ser tido em conta que já está esta-
sultivos ou terem também alguns poderes delibera-
belecido no texto constitucional que o Presidente
tivos.
da Autarquia será o primeiro candidato da lista
mais votada, que por sua vez escolherá e nomeará

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IMPLEMENTAÇÃO DO PODER LOCAL EM ANGOLA

DESCONCENTRAÇÃO, DESCENTRALIZA- e eficazes para que os municípios possam assumir


ÇÃO E MUNICIPALIZAÇÃO estas responsabilidades de forma eficaz.

Com a vinda para a ordem do dia da questão da FORMAÇÃO E QUADROS


efectivação das autarquias locais, o processo de
A questão dos quadros é antiga e central no nosso
desconcentração e descentralização, e também da
País com o qual se debatem empresas, ministérios,
municipalização de serviços, não deve nem pode
governos provinciais, administrações municipais e
ser abandonado ou menosprezado, bem pelo con-
comunais.
trário. O aprofundamento e concretização dos pres-
supostos da desconcentração e descentralização e
Com a implementação das autarquias locais vai ser
também da municipalização são fundamentais para
necessário dotar os municípios e as comunas de um
um bom processo de criação das autarquias, pois os
conjunto de quadros que possam apoiar os respon-
municípios e as comunas estarão melhor prepara-
sáveis políticos a tomar as decisões e a gerir as au-
dos para receber as autarquias, estarão mais habitu-
tarquias e que deem resposta às futuras competên-
adas a gerir as suas competências específicas, a ela-
cias que estas irão ter. Estamos a falar de engenhei-
borar e gerir os seus planos e orçamentos bem
ros, arquitectos, advogados, juristas, economistas,
como o seu quadro de pessoal, a pensarem nos ei-
sociólogos, antropólogos, outros técnicos superio-
xos estratégicos para o desenvolvimento dos seus
res, mas também de quadros médios e básicos para
territórios, entre outras, tudo atribuições que terão
as áreas administrativa, financeira, operacional, das
de fazer parte das futuras autarquias locais.
águas e saneamento, resíduos sólios, acção social,
etc etc. Onde iremos buscar estes quadros? Como
O OPSA acredita que se devem transferir compe-
os atrairemos para os municípios, nomeadamente
tências e poder para que os municípios possam ela-
os mais distantes e isolados? Iremos criar incenti-
borar, aprovar e executar de forma autónoma os
vos e, em caso afirmativo, de que tipo? Como e
principais programas municipais, independente-
quem lhes dará formação específica para as funções
mente de serem autarquias ou não. Uma das manei-
que irão desempenhar? Qual poderá ser o papel do
ras de resolver esta situação passaria pela aprova-
IFAL e da ENAD? Como e de que forma serão for-
ção de uma lei sobre sobre atribuições e competên-
mados os quadros políticos autárquicos que até
cias, que dotasse os municípios e as autarquias de
agora não têm experiência de tomada de decisões
maior autonomia e poder de decisão em relação à
nem de gestão? Faz sentido encontrar parcerias
identificação das necessidades, escolhas das priori-
com outros países e autarquias para que possa ha-
dades e execução. Por outro lado, que garantisse ao
ver alguma formação “in loco” de quadros técnicos
máximo a existência de recursos humanos capazes
e políticos?

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IMPLEMENTAÇÃO DO PODER LOCAL EM ANGOLA

O OPSA considera ser preciso garantir a existência compreendem as Autarquias Locais, as instituições
de um estatuto de carreira e remuneratório para os do poder tradicional e outras modalidades específi-
funcionários dos municípios e autarquias, evi- cas de participação dos cidadãos, nos termos da
tando-se assim a partidarização e a confusão de pa- lei.”.
péis e funções entre os membros eleitos e os funci-
A prioridade da discussão tem recaído sobre as Au-
onários da autarquia, garantindo-se assim estabili-
tarquias Locais, mas temos um debate a fazer sobre
dade dos quadros e o correcto funcionamento da
as outras duas formas e, ainda mais importante,
instituição, independentemente das mudanças polí-
como vai ser a moldura de inter-relacionamento en-
ticas.
tre estas três formas organizativas do poder local.
REVISÃO DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-
EXPECTATIVAS VERSUS FRUSTAÇÃO E
ADMINISTRATIVA
DESILUSÃO
Apesar deste tema não estar em discussão, a dimen-
Convém realçar que a implementação das autar-
são do País sugere que valerá a pena começar a dis-
quias locais não irá ser a solução para todos os pro-
cussão sobre uma futura revisão organização polí-
blemas dos municípios e das pessoas. Mas será se-
tica e administrativa do Estado. Talvez neste mo-
guramente um contributo importantíssimo e indis-
mento a questão não pareça fazer muito sentido,
pensável para o desenvolvimento do País e para a
mas com o desenvolvimento, o crescimento demo-
qualidade dos serviços prestados aos cidadãos, me-
gráfico, etc., esta questão irá pôr-se mais cedo do
lhorando assim a sua qualidade de vida. Contudo,
que tarde. Serão os municípios governáveis com a
urge afirmar com clareza que os problemas não irão
extensão de território que têm de administrar actu-
desaparecer por si só muito menos definitivamente,
almente? E quando esse território tiver mais 2, 3, 4
com este processo, mesmo depois das autarquias
ou 10 vezes mais população? Não seria pertinente
implementadas. Irá ser um processo longo, de con-
começar já a fazer essa discussão e a preparar o fu-
solidação e aprofundamento que irá aos poucos
turo?!
contribuir para a solução dos problemas das pes-
ÓRGÃOS AUTÓNOMOS DO PODER LOCAL soas, mas, ao mesmo tempo, novos problemas irão
surgir que necessitarão de solução. As autarquias,
O OPSA constata, com preocupação, que outra te-
mais que a solução, são o caminho para as várias
mática que tem estado arredada da discussão, mas
soluções.
que interessa pensar, prende-se com o preceito
constitucional que trata dos órgãos autónomos do Por isto, o OPSA relembra que as autarquias locais
Poder Local (artº 213) nomeadamente do ponto 2 não serão uma obra acabada em si mesmo, são um
que diz “As formas organizativas do poder local

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IMPLEMENTAÇÃO DO PODER LOCAL EM ANGOLA

processo contínuo que exige o esforço e o envolvi-


mento de todos, cidadãos, organizações da socie-
dade civil, empresas, partidos políticos, governo e
Estado.

Se este processo não for devidamente explicitado e


vivido por todos corremos o risco não só de detur-
par a sua compreensível implementação como de
criar falsas expectativas nas populações e futura-
mente criar uma profunda frustração e desilusão
que terá como consequência o afastamento das po-
pulações, matando assim um dos princípios basila-
res do Poder Local Democrático e da democracia
participativa.

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