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LI ·VROS

BENJAMIN ABDALA J UNIOR

Angola como nação formadora do Brasil


Horizontes comunitários sobre o sistema econômico e social angolano

Mamma Angola:

A
mundialização da nômica brasileira fez-se sen-
Sociedade
economia capitalis- tir nesse país até os finais do
e Economia de um
ta divide o mundo País Nascente século 19, atrelada ao tráfi-
nos incluídos em suas re- Sol ival Me nezes
co de escravos. Houve mani-
des de articulação e nos festações das elites angolanas
Edusp/ Fapesp
excluídos. Nem sempre 409 páginas para fazer uma confederação
essa territorialização é per- R$ 25,00 com o império brasileiro.
feitamente configurada e Do ponto de vista sim-
ocorrem periferias no ter- bólico, Mamma Angola é
ritório dos países do cen- uma expressão da identida-
tro e de centros pontuais de de Angola, uma identi-
nas áreas dos Estados peri- dade feminina, associada à
féricos. O fluxo da rede vai terra-mãe, contrariamente
de quem possui a hegemonia para os subalternos. ao poder paterno que a dominou, vinculado à re-
O efeito é perverso: ou se aceita a hegemonia ou presentação política colonial. Nesse nível simbó-
se é excluído. Para entrar na rede, formas de poder lico pode-se dizer que os escritores angolanos vi-
são descartadas, inclusive a soberania nacional. ram na literatura brasileira manifestações de uma
Ao enfraquecer soberanias nacionais, as novas fratria comunitária. Para o autor de Mamma An-
redes do capitalismo informacional têm favoreci- gola, do lado de cá do Atlântico, Angola não deve
do articulações de ordem comunitária. Observa-se ser vista apenas como um país irmão, mas como
do lado hegemônico o crescimento do poder das "pátria-mãe", ao lado dos portugueses.
corporações que têm seus pés em determinados Salival Menezes apresenta nesse livro uma vi-
territórios sob a égide imperial norte-americana; são sistêmica da dependência política, econômica
do lado subalterno, os movimentos comunitários e social de Angola, desde os tempos coloniais até
supranacionais procuram contrapor-se a essa lógi- às novas formas de dependência da atualidade,
ca corporativa do poder imperial. É assim que os após os impasses do período da independência
brasileiros podem relevar duas formas de articula- em 1975. Angola- um dos países mais ricos da
ções: aquela que aponta para os países da América África por suas riquezas minerais (extração de pe-
Latina e a que se articula com o sentido de publi- tróleo e de diamantes), a par de seu solo propício
cação de Mamma Angola: Sociedade e Economia de para a agricultura (foi grande produtor de café)-
um País Nascente, de Salival Menezes - a comu- tinha tudo para construir um Estado nacional
nidade dos países de língua portuguesa. São arti- forte após a independência. Acabou vítima da
culações que se respaldam politicamente em dois guerra fria que exacerbou rivalidades étnicas,
organismos ainda pouco operantes: a Comunida- dando origem a uma guerra civil que desestrutu-
de dos Países de Língua Portuguesa e as chamadas rou toda a economia- situação que se quer rever-
Cimeiras Ibero-Americanas onde os países africa- ter com problemáticos acordos de paz sob media-
nos de língua portuguesa são observadores. ção da ONU, necessária para que se supere a
Esse livro é uma boa oportunidade para que os perversidade do estado de guerra e da destinação
brasileiros conheçam a história econômica e so- militar da maior parte do PIB angolano.
cial de Angola, que mantém simetrias com oBra-
sil. Dessa maneira, um olhar sobre Angola signi-
fica descobrir um Brasil que lá está. Poucos sabem BENJAMIN ABDALA ]UNIOR é professor de Estudos
que Angola foi praticamente colonizada pelo Brasil Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa da
até sua independência em 1822. A influência eco- Universidade de São Paulo.

80 • DEZEMBRO DE 2000 · PESQUISA FAPESP


LANÇAMENTOS REVISTAS

Comunicação no Mercado Crítica Marxista


de Consumo Transnacional 2000 - número li
Annablume A conhecida revista resistiu
Mi riam de Aguiar Barbosa
ao fim do socialismo por causa
140 páginas I R$ 15,00
da excelente qualidade de seus
A publicitária Míriam Aguiar artigos, que se propõe a
disseca as estratégias de marketing entender, com o instrumental
e publicidade da célebre cadeia marxista, as grandes questões
americana de fast food da historiografia e da teoria
McDonald's, num mercado política modernas. O tema,
de hábitos culinários e alimentares aliás, do ensaio de Muniz
dos mais conservadores: Minas Gerais. A autora mostra Ferreira, que disseca as grandes concepções clássicas
como a multinacional consegue inserir-se, sem usar de Estado, nação e sociedade civil, formuladas a partir
de grandes ousadias mercadológicas e recursos da Revolução Francesa. Ainda neste número: dossiê
da mídia, em qualquer canto do planeta, com sua Marxismo e Feminismo, um exame dos estudos
comida de gosto uniforme que quase nenhuma de gênero pela ótica marxista.
concessão faz ao estilo alimentar local.
Investigação
A Ciência dos Sonhos: Ano 2 - número 3
Um Século de Neste volume recente
Interpretação Freudiana da Revista Científica
Uni marco da Universidade de Franca,
Fani Hisgail desenvolvida pelo Pesau
292 páginas I R$ 23,00
(Núcleo de Pesquisa em Saúde,
No ano em que se celebra Desenvolvimento Humano e
o centenário da publicação Qualidade de Vida) e apoiada
da obra seminal de Freud, pela Fundação de Amparo
A Interpretação dos Sonhos, chega à Pesquisa do Estado de São
este cuidadoso conjunto Paulo (FAPESP), temos os seguintes artigos: Efetividade
de ensaios, fruto de um seminário promovido sobre das Placas Interoclusais no Tratamento das Desordens
o tema, em 1999, no Centro de Estudos em Semiótica e Temporomandibulares, de Renato Uetanabara e Marcelo
Psicanálise da PUC-SP, CesPUC. Entre os vários ensaios: Oliveira Mazzetto; Gengivite Ulcerativa Necrosante
O Sonho como Revelação, Doenças dos Sonhos, Sonhos Aguda (Guna), de Adriana Helena Vinholis e Ana Paula
e Publicidade, O Aparelho Psíquico, entre outros. Torres; Conduto Auditivo Estreito e Surdez Progressiva
Tardia: Estenose ou Atresia?, de Joseane Santos.
O Projeto Genoma
Humano A Revista no Brasil
Publifolha Editora Abril 2000
Mônica Teixeira
Uma revista sobre revistas,
93 páginas I R$ 9,90
deliciosamente ilustrada. Fruto
Mais um bom lançamento da de dois anos de pesquisa que
coleção Folha Explica, este livro, movimentou especialistas de
escrito pela jornalista Mônica várias áreas, A Revista no Brasil
Teixeira, é uma valiosa compilação surgiu como uma forma de
de dados e fontes que explicam festejar os 50 anos da Editora
um complexo conceito científico Abril, mas acabou abarcando
que vem ocupando há algum tempo as páginas dos a história dos 200 anos de
jornais e a imaginação de leigos e especialistas. A obra histórias das publicações no país. Um epopéia iniciada
explica como foi compreender a conformação genética pouco antes da Independência e que continua, cada vez
do homem e o que poderá ser feito, a curto prazo, para mais forte, até o presente. Segundo os organizadores,
descobrir como é possível manipular a hereditariedade a obra retrata, do ponto de vista da atuação das revistas,
e a carga dos genes, de forma a curar doenças "a defesa de nossa independência e a busca de uma
e prolongar a vida, com vantagens e perigos. identidade nacional". Imperdível.

PESQUISA FAPESP · DEZEMBRO DE 2000 • 8 1

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