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Formação histórica, econômica

e social da Amazônia
Profa. Dra. Eliza Lacerda
Compreender a história da Amazônia permitirá
acessar a base dos conflitos existentes na região.
Os conflitos sociais na Amazônia tem como foco
seus recursos naturais, seus territórios produtivos, a
força de trabalho de suas populações e seus bens
ambientais.
• A Amazônia brasileira compreende 60% do território nacional.
• A bacia Amazônica abrange um território de aproximadamente 5
milhões de km2.
• Um terço das florestas tropicais úmidas.
• 50% da diversidade biológica do planeta.
• A Amazônia Continental constitui um “complexo ecológico
transnacional.
• Contiguidade da floresta.
• Amplo sistema fluvial amazônico.
• Unifica vários subsistemas ecológicos.
• Distribuídos pela Guiana Francesa, Suriname, Guiana, Venezuela,
Colômbia, Equador, Peru e Bolívia.
Uma das últimas fronteiras de ocupação pelo
mundo moderno
A magnitude e diversidade das riquezas naturais estratégicas são
uma característica particular da Amazônia.
As referências às riquezas são comuns, com diferentes
magnitudes, a todos os países que compartilham o território
amazônico.
Esta região do planeta tem uma inserção em dinâmicas mundiais
de ocupação humana desde tempos ancestrais.
Ocupação colonial europeia
• Determinou o tipo de inserção global.
• Marcada por ciclos regulares de fornecimento de matérias-
primas no modelo primário-exportador, que presenciamos
ainda hoje em atividades como a mineração, por exemplo.
• A referência a uma terra com abundância de riquezas tem no
relato do missionário Cristóbal de Acuña (1994, p. 68) farta
descrição das riquezas e conselhos de estratégia militar para
que a Espanha pudesse vir a dominar a bacia do rio
Amazonas, o território e os povos indígenas que o habitavam.
Conflito ideológico entre os próprios
colonizadores
Os relatos citam os vastos territórios povoados por indígenas como uma riqueza que, à
medida que a conquista colonial lograsse a conversão religiosa, as “almas salvas da morte”
se converteriam em força de trabalho na obra colonizadora.

A subordinação da mão-de-obra indígena está no centro desta questão.

A força de trabalho indígena no projeto missionário jesuíta era voltada para o


desenvolvimento endógeno, em benefício também dos índios, ao contrário do projeto da
metrópole, que era instrumental à acumulação externa.
O Estado como ator e seus interesses
• O Estado se manifestou como ator na Amazônia fez parte de um projeto do
determinante nas conjunturas mais que se reconhece como embrião do Estado
relevantes. moderno liderado pelos países ibéricos
• Constituindo-se menos como mediador e (Espanha e Portugal), em sua expansão de
mais como tutor de um campo de domínios coloniais.
interesses.
• O Estado administra limites territoriais,
mas “as fronteiras são do domínio dos
povos” e ressalta a relevância dos circuitos
de ilegalidade nos novos apossamentos.
• Em seus primórdios, a ocupação europeia
O Estado como ator e seus interesses

Os limites territoriais foram ampliados pela política de ocupação e povoamento promovida


pelos colonizadores e pelas dinâmicas internas de resistência das populações autóctones.

Também se destacam os movimentos de resistência dos escravos de origem africana que


também se territorializaram na Amazônia em inúmeros quilombos, onde ainda
permanecem seus descendentes.

A presença do Estado moderno ditando a ocupação territorial dos espaços da fronteira é um


fator estrutural intrínseco à colonização em suas fases exploratória, mercantil.
Estado de transição
• O Estado moderno (monárquico e absolutista) • Seu papel de unificador do espaço econômico
praticado na Península Ibérica foi Feudal e • Sua defesa em fase de ameaças exteriores
capitalista. • Implementação dos meios políticos e militares
• A conquista colonial espanhola e portuguesa traz que consolidam a conquista dos impérios
coloniais
as características de classe, valores, visão de
mundo do feudalismo e elementos capitalistas • Seu amparo, protegendo e ajudando a muitas
identificados pelo: das empresas encetadas pela burguesia, no
comércio e na indústria.
Característica dúbia
Essa característica dúbia em que convivem aspectos medievais e já capitalistas na
obra da conquista territorial europeia na Amazônia são definidores históricos.

Principalmente no que se refere à:


• lógica de acumulação de terras
• Herança medieval europeia que permeia suas descendências
• Descendência que ainda pressionam a fronteira em busca de uma extensão territorial de suas atividades
rurais em um constante movimento migratório.
• Um Estado que tutora as empresas, subsidiando-as em sua missão de “desbravamento” de uma
economia de elevados custos operacionais.
Racionalidade do Estado e dos povos
• As racionalidades do Estado e dos povos na ocupação
de novos territórios na América do Sul combinaram-se.
• Instalaram lugares de comunicação, nos pontos
estratégicos, para que sociedades que migram
construam novas territorialidades.
• Lugares que cumpriam esse papel no período colonial e
mercantil assumem essa condição sobre bases
modernas de produção.
Racionalidade do Estado e dos povos

Assim como em várias regiões da


Ciclos econômicos como o da Amazônia, a extração mineral
borracha abriram suas próprias (garimpos) ainda forma suas
fronteiras, independentes do Estado, próprias redes de comunicação,
formando redes de repovoamento povoamento e despovoamento,
estruturadas em torno dos estoques muitas vezes sem que alguma forma
naturais da Hevea brasiliensis. de Estado se faça presente em
qualquer fase do ciclo.
Conflitos sociais presentes
• Na empresa colonial em sua brutal caça pela mão-de-obra indígena para
a escravidão.
• Pela subjugação da mão-de-obra nordestina utilizada na exploração da
borracha.
• Pela utilização da força de trabalho de excedentes de mão-de-obra
nordestina no século passado nos garimpos e nas construções dos
grandes projetos de infraestrutura.
• Conviveram e convivem conflitos oriundos de políticas de Estado e
aqueles que resultam da fronteira aberta pelos povos
“Circuitos de ilegalidade” e ambiente
institucional
A Amazônia ainda é A economia
marcada, no início amazônica
do presente século, assentou-se
pela característica historicamente
de uma fronteira sobre os recursos
aberta, periférica em naturais (matriz
relação às regiões primário-
em que o exportadora), com
capitalismo está grande parte dos
estabelecido sobre lucros auferidos
relações contratuais com a
sólidas. informalidade.
Políticas de ocupação

• Após Vargas e sua legendária Marcha para o Oeste, o Estado passou a ditar políticas e planos de ocupação
direcionados.
• As forças de mercado do capitalismo e da urbanização do Centro-Sul do país ampliavam a demanda por novos
territórios produtivos.
• As fronteiras amazônicas boliviana e peruana também passaram, e simultaneamente, pelos mesmos fenômenos
de ocupação que a brasileira.
Ciclos extrativistas
As oligarquias que dominaram e
Os ciclos extrativistas minerais, da
ainda dominam os monopólios
borracha, seguidos da incorporação
também são similares em
de espaços para a agricultura em
conservadorismo e busca pela
monocultivos, foram comuns a
dominialidade de grandes
esses países.
territórios.
Antes do período Vargas
• Antes do período Vargas, a ocupação da região deu-se mais pelas forças
de expansão de domínio de atividades econômicas periféricas, como o
extrativismo de produtos da floresta, uma pecuária rústica e terras para
expansão inercial dessas atividades.
• O Estado foi partícipe, representando os interesses de setores
dominantes na economia, na cultura e na política.
• A forma como se deu a estruturação de uma rede de cidades na região
também tem associação com os processos econômicos relacionados à
expansão das economias, antes colonial, depois interna, que também foi
plena de conflitos.
Urbanização na Amazônia

A coleta de produtos da floresta, os garimpos, a exploração madeireira, a


pecuária, as colonizações etc. empurraram populações indígenas para as
matas interiores e superpuseramse a populações ribeirinhas, passando a
preponderar outras culturas.

Desta forma, a migração de força-de-trabalho para grandes obras de


infraestrutura reconfigurou os perfis de cidades como Belém, que recebeu a
maior parte dos trabalhadores maranhenses da Usina Hidrelétrica (UHE) de
Tucuruí após a obra.
Urbanização na Amazônia
• As matrizes explicativas do processo de urbanização na Amazônia convergem para
abordagens multidisciplinares que consideram fatores geopolíticos, macroecômicos
(nacionais e globais), macropolíticos e determinações emanadas das sociedades
locais.
Quatro fases da história da urbanização na
Amazônia
ii) mercantil, no
período pombalino,
da Companhia do
Grão-Pará e
iv) urbanização
Maranhão, quando a
iii) boom da contemporânea
metrópole
i) colonial, tendo borracha, quando como integrante do
portuguesa imprimiu
Belém como centro novas nucleações sistema nacional de
uma estratégia de
administrativo da urbanas são criadas cidades, a partir do
ocupação
metrópole europeia, ou se fortalecem a acesso às terras
econômica,
articuladora de uma partir dos rios, firmes,
inaugurando novos
sub-hierarquia de conectando as proporcionado pelas
entrepostos
vilas missionárias; florestas ao mercado rodovias federais
comerciais de
internacional. construídas nas
recursos naturais e
décadas de 60/70.
produtos originados
das primeiras
plantations na
região;
Teoria da Urbanização Desarticulada
• Propõem uma Teoria da Urbanização Desarticulada, contrariando outras
concepções de urbanização de fronteiras que concebem processos
lineares de formação de redes de cidades, tendo na extensão da economia
extrativa, uma lógica de ligação.
• As dinâmicas de urbanização na Amazônia não apresentam uniformidade
regional.
• Há processos históricos sub-regionais com identidade própria e
características diferenciadas de interligação externa.
• As novas conformações de ocupação socioespacial apresentam os centros
urbanos como arenas nas quais diversos grupos sociais travam disputas
econômicas e de poder político.
Programas
Eixos de transportes e redes de infraestrutura estão sendo implantados na Amazônia, obedecendo
a comandos setoriais externos, tendo como marco o Programa Avança Brasil e seus
desdobramentos no atual Programa de Aceleração do Crescimento – PAC.

Na verdade, a grande logística de transporte que o PAC está concluindo nada mais é do que a
rede de conectividades inter-regional planejada pelos PINs – Programas de Integração Nacional
dos governos militares.

Desta forma, a integração da Amazônia no contexto nacional e internacional – no caso a América


do Sul, obedece a um planejamento de Estado que remonta à segunda metade do século XX e
perpassa governos de matizes autoritárias e democráticas, seguindo a mesma diretriz
desenvolvimentista.
• A Amazônia atual só pode ter sua
ocupação e inserção nacional e global
melhor planejada e melhor pactuada
entre agentes externos e internos
através de um ambiente democrático
mais desenvolvido, sociedade
organizada e instrumentos legais e de
gestão avançados, universalização da
informação e da educação.

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