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Não é a toa que o Planeta Terra é chamado de “o Plane ta Azul” - dois terços de sua superfície são
cobertos pela água de mares e oceanos (Figura 1.1). Na realidade, existe água em praticamente todo
lugar: sobre a superfície terrestre, na forma de rios, lagos, mares e oceanos; sob a superfície
terrestre, na forma de água subterrânea e umidade do solo e na atmosfera, na forma de vapor
d’água. A água, em certos locais, pode ocorrer de forma quase ilimitada, como nos oceanos, ou em
quantidades praticamente nulas, como nos desertos.
Apesar da maior parte da água do Planeta, em qualquer momento, estar contida nos oceanos, a
mesma está em contínuo movimento, em um ciclo cuja fonte principal de energia é o sol e cuja
principal força atuante é a gravidade. A esta transferência ininterrupta da água do oceano para o
continente e do continente para o oceano (Figura 1.2), dá-se o nome de Ciclo Hidrológico.
OCEANOS CONTINENTE
CICLO HIDROLÓGICO
A palavra HIDROLOGIA é originada das palavras gregas HYDOR, que significa “água” e LOGOS, que
significa “ciência”. Hidrologia é, pois, a ciência que estuda a água.
Definição 1: Hidrologia é a ciência que trata da água na Terra, sua ocorrência, circulação e
distribuição, suas propriedades físicas e químicas, e sua reação com o meio ambiente, incluindo
sua relação com as formas vivas relacionada com toda a água da Terra, sua ocorrência,
distribuição e circulação, suas propriedades físicas e químicas, seu efeito sobre o meio ambiente
e sobre todas as formas da vida. (Definição proposta pelo US Federal Council for Sciences and
Technology (Chow, 1959)).
Por ser muito ampla, é difícil pensar numa ciência que não esteja incluída nesta definição. A Botânica,
ao estudar o transporte de água através dos vegetais ou a Medicina, ao estudar a água no corpo
humano, fariam parte da Hidrologia. Na prática, a definição de Hidrologia é:
2. CICLO HIDROLÓGICO
A água diferencia-se dos demais recursos naturais pela notável propriedade de renovar-se
continuamente, graças ao ciclo hidrológico. Embora o movimento cíclico da água não tenha princípio
nem fim, costuma-se iniciar seu estudo descritivo pela evaporação da água dos oceanos, seguida de
sua precipitação sobre a superfície que, coletada pelos cursos d’ água, retorna ao local de partida.
A descrição acima simplifica sobremaneira o processo que realmente ocorre (Figura 1.3), uma vez que
não estão computadas as eventuais interrupções que podem ocorrer em vários estágios (Ex.
precipitação sobre o oceano) e a íntima dependência das intensidade e freqüência do ciclo hidrológico
com a geografia e o clima local.
1. O sol constitui-se na fonte de energia para a realização do ciclo. O calor por ele liberado
atua sobre a superfície dos oceanos, rios e lagos estimulando a conversão da água do
estado líquido para gasoso.
2. A ascensão do vapor d’ água conduz à formação de nuvens, que podem se deslocar, sob a
ação do vento, para regiões continentais.
3. Sob condições favoráveis a água condensada nas nuvens precipita (sob forma de neve,
granizo ou chuva)(1) podendo ser dispersada de várias formas:
(1) Quando a precipitação se dá sob forma de neve ou granizo, a retenção no solo é mais demorada, até que ali se processe a
fusão.
8. A evaporação acompanha o ciclo hidrológico em quase todas as suas fases, seja durante a
precipitação, seja durante o escoamento superficial.
Dotado de certa aleatoriedade temporal e espacial, o ciclo hidrológico configura processos bem mais
complexos que os acima descritos. Uma vez que as etapas precedentes à precipitação estão dentro do
escopo da meteorologia, compete ao hidrólogo conhecer principalmente as fases do ciclo que se
processam sobre a superfície terrestre, quais sejam, precipitação, evaporação e transpiração,
escoamento superficial e escoamento subterrâneo.
Os mais antigos trabalhos de drenagem e irrigação em larga escala são atribuídos ao Faraó Menés,
fundador da primeira dinastia egípcia, que barrou o rio Nilo próximo a Mênphis, com uma barragem
de 15m e extensão de aproximadamente 500 metros, para alimentar o canal de irrigação.
inundar e fertilizar as terras agricultáveis. Nota-se que, a os egípcios, pouco importava o estudo da
Hidrologia como ciência e sim. A sua utilização.
O astrônomo inglês Halley, em 1693, provou que a evaporação da água do mar era suficiente para
responder por todas as nascentes e fluxos d’água. Mariotte, 1em 1686, mediu a velocidade do rio
Sena. Estes primeiros conhecimentos de Hidrologia permitiram inúmros avanços no Século XVIII,
incluindo o teorema de Bernoulli, o Tubo P itot e a Fórmula de Chèzy, que formam a base da Hidráulica
e da Mecânica dos Fluidos.
Durante o Século XIX, foram feitos significantes avanços na teoria da água subterrânea, incluindo a
Lei de Darcy. No que se refere à Hidrologia de águas superficiais, muitas fórmulas e instrumentos de
medição foram criados.
Chow (1954) chamou o período compreendido entre 1900 e 1930 ficou conhecido como o Período do
Empirismo. O período de 1930 a 1950 seria o Período da Racionalização. Datam desta época o
Hidrograma Uni tário de Sherman (1932) e a Teoria da Infiltração de Horton (1933). Entre 1940 a 1950
foram feitos significantes avanços no entendimento do processo de evaporação. Em 1958, Gumbel
llança as bases da moderna hidrologia estocástica. A partir da década de 70, a Hidrologia passa a
contar com o avanços computacionais, o que levaram ao desenvolvime nto de muitos modelos de
simulação
Segundo Lvovich (apud Raudikivi, 1979), a ordem de grandeza e a distribuição das disponibilidades
hídricas no mundo são as mostradas na Tabela 1.1.
Deste total, cerca de 94% é de água salgada e apenas 6%, de água doce. De sconsiderando a
quantidade de água doce sob forma de geleiras, águas subterrâneas e umidade atmosférica, ínfimos
0,0161% do total da água do Planeta estão disponíveis em rios e lagos (Figura 1.4), os quais não se
encontram eqüitativamente distribuídos sobre todo o Planeta.
Para se dar uma pequena idéia da má distribuição espacial da água, cita-se o exemplo do Brasil, que
possui cerca de 12% das reservas hídricas superficiais do mundo, mas com aproximadamente 65%
destes recursos concentrados na Amazônia.
Questões a se pensar:
1. Por que se preocupar com as várias fases do ciclo hidrológico?
2. Se o estudo da Hidrologia não era importante há 30- 40 anos atrás, por que o deveria
ser hoje?
3. Se essa quantidade de água doce nunca foi motivo de grandes preocupações, por que o
seria agora?
5. A ÁGUA E O DESENVOLVIMENTO
Hoje, o cenário é outro. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o consumo mundial de
água doce dobrou nos últimos 50 anos e corresponde, atualmente, à metade de todos os recursos
hídricos acessíveis. Explorar tais recursos foi o motor do desenvolvimento econômico de muitos países,
sobretudo na agricultura, abastecimento humano e animal, geração de energia, indústria e transporte.
Porém a competição por água entre tais setores vem degradando as fontes naturais, das quais o
mundo depende. O ciclo natural da água tem sido interrompido ou alterado em regiões muito
artificializadas, como as megacidades.
É consenso geral que a gestão das águas é uma necessidade. E assim, a Hidrologia ressurge, hoje,
como ferramenta indispensável para tal fim, uma vez é a ciência que trata do entendimento dos
processos naturais que dão base aos projetos de suprimento de água. Só ela pode avaliar como e
quanto o ciclo hidrológico pode ser modificado pelas atividades humanas.
A Figura 1.6 mostra um problema de drenagem urbana característicos das grandes cidades, no caso,
Fortaleza, Ce.
A Hidrologia não é uma ciência pura, uma vez que o objeto de estudo é usualmente dirigido para
aplicações práticas, sendo assim, o termo “Hidrologia Aplicada” é freqüentemente utilizado. Eis
algumas das aplicações da hidrologia:
A Bacia do rio Capibaribe, Pernambuco, tem sua história intimamente ligada a episódios de cheias
catastróficas, notadamente na Região Metropolitana de Recife. Entretanto, nos últimos anos, a cidade
vem sendo atingida por uma grave crise no abastecimento d’água, sendo obrigatório o uso extensivo
de carros-pipa. Os quatro maiores açudes da bacia – Jucazinho, Carpina, Goitá e Tapacurá,
representam cerca de 91% do total acumulado nos açudes mais importantes da bacia e são utilizados
tanto para controle de cheias como para o abastecimento. A operação de reservatórios com múltiplas
finalidades é feita tradicionalmente com a divisão do volume total armazenável em zonas para o
atendimento de seus diferentes objetivos. Na prática, a divisão consiste em se alocar volumes de
reserva para as respectivas finalidades. Objetivos diametralmente conflitantes, como controle de
cheias – que requer que a parte do volume destinada a este fim permaneça seca para que a cheia
possa assim ser contida – e conservação – que precisa que a água seja efetivamente armazenada
para usos futuros em irrigação e abastecimento municipal e industrial – não são fáceis de conciliar.
As figuras 1.7 e 1.8 mostram, respectivamente, um esquema da bacia hidrográfica do rio Capibaribe
com seus barramentos constru ídos ao longo de seu leito, e Recife em um episódio de inundação.
Devido a natureza complexa do ciclo hidrológico e suas relações com os padrões climáticos, tipos de
solos, topografia e geologia, as fronteiras entre a hidrologia e as outras ciências da terra, tais como
meteorologia, geologia, ecologia e oceanografia não são muito distintas. Na realidade, tais ciências
também podem ser consideradas ramos da hidrologia:
Sendo assim, poucos problemas hidrológicos podem ficar limitados a apenas um desses ramos.
Freqüentemente, devido a grande inter-relações do fenômeno, a solução do problema só pode ser
dada através de uma discussão interdisciplinar com profissionais de um ou mais desses ramos. Muitas
outras ciências podem ainda ser utilizadas na Hidrologia, tais como física, química, geologia, geografia,
mecânica dos fluidos, estatística, economia, computação, direito, etc.