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Quarta Aula
Quarta Aula
Foi assim que em sua viagem aos tristes trópicos – como o chamou – na
disso, sinto-me ainda mais embaraçado para falar do Rio de Janeiro, que me
desagrada, apesar de sua beleza celebrada tantas vezes. Como direi? Parece-
viajante que penetra na baía cacos perdidos nos quatro cantos de uma boca
Cole Porter exclamou:"It's delightful!". Linda Porter, sua mulher, disse: "It's
Guanabara: “The night is young, the skies are clear, / So if you want to go
a conhecera mais a amara? /Sou cego de tanto vê-la, de tanto tê-la estrela. /O
faz aparecer uma questão que se tornou premente em nosso último encontro –
uma coisa bela? Mas era ao mesmo tempo bela e banguela a Guanabara – foi
questão: o que é uma coisa bela? E para nós, para a política que queremos
defender, o que é uma coisa bela? Seria esta de fato a nossa questão?
Cuba, na China, no Camboja, no Vietnã – até chegar ao que, junto com Felix
muda seu nome para insistir nesse sentido de movimento: DZIGA - palavra
ucraniana que significa roda que gira sem cessar e VERTOV - do russo vertet
esquerda – é que Deleuze insinua colocações que não são nem um pouco
triviais. Diz ele: “Mas não existe governo de esquerda, pois a esquerda não tem
nada a ver com governo”. “E, segundo, ser de esquerda é ser, ou melhor, é
muito simples: a maioria é algo que supõe – até quando se vota, não se trata
afirma – após alguns movimentos dialógicos – que Belo é aquilo que é útil.
para o bem que se pode dizer que há o Belo. Para o mundo grego talvez fosse
sensações. Talvez por isso, até o final do século XVIII, o belo não pudesse se
gregos, o belo não tinha autonomia e não se diferenciava nem do bom nem do
verdadeiro: o belo era ético, formando com ele uma unidade essencial.
nela, Kant não se refere ao objeto, mas ao sujeito e a seu sentimento: o juízo
crítica kantiana?
pode pretender a uma validade universal, uma vez que as condições do acordo
singular, por seu encontro com o sujeito – cause prazer: um prazer estético.
revolução molecular, uma estética no devir, uma estética no plano político, uma
nosso último encontro. Talvez devamos fazer a aposta no gesto artístico como
é senão a singularização.
que a resposta à questão que conduziu a aula de hoje – o que é uma coisa
bela? – indica que uma coisa bela não é. Nossos próximos passos
vaiava: “Se vocês forem… se vocês, em política, forem como são em estética,
estamos feitos...”. Não estejamos feitos – sendo em política como em estética!
Para a pergunta “o que é o belo?” temos respostas que não nos ajudam
problema estético em sua interface com a política, entendida aqui como relativa
bela.
dela resta é o que nela não resta, o que nela não para. A obra de arte é um
nesse sentido, Kant nos deu a direção ao tomar o juízo estético nessa
atesta seu tributo a Kant (“O que são as Luzes”) fazendo o que designou de
Se a obra de arte dispara processos, não o faz senão pelo que nela
insiste como processo de sua própria produção: o seu fazer. A obra de arte é,
modo de fazer-se, isto é, seu método. Nela, então, o sentir, o pensar e o fazer
diferentemente se entrelaçam.
dois radicais que se conjugam com uma certa direção: meta, com o sentido de
subversão que constatamos nos caminhos percorridos pela arte, por exemplo,
caminhar. Assim, sem um a priori que confere ao mais além o valor de fim a ser
estético. Desloca-se a obra do objeto ao ato, de tal maneira que se cria uma
concreto – não apenas para mim, mas para os outros” (Lygia Clark,
MEC/FUNARTE, 1980).
Caminhando: Pegue uma dessas tiras de papel que envolve um livro, corte-a
em sua largura, torça e cole-a de maneira que obtenha uma fita de Moebius.
corte já feito, o que separaria a faixa em dois pedaços. Quando vc tiver dado a
volta na fita de Moebius escolha, entre cortar à direita e cortar à esquerda do
experiência reside no ato de fazê-lo. A obra é seu ato. À medida que se corta
tão estreito que não se pode mais abri-lo. É o fim do atalho.” (p.26).
que comporta uma subversão, que suporta uma e várias subversões: 1) a meta
construindo até o ponto que o fim comparece menos como causa final e mais
experimentar ele mesmo. Neste sentido, a expressão da obra que segue tal
método não se concentra em nenhum objeto, mas só se faz por uma forma de
transbordamento pelo coletivo, de tal maneira que Lygia pode dizer “pela
primeira vez descobri uma nova realidade não em mim, mas no mundo.
aos gestos de futebol da praia... agora não estou mais só. Sou aspirada pelos
também por este método a separação entre eu e outro, entre sujeito e objeto.
consigna: “Faça você mesmo um Caminhando”. Por este mesmo gesto que
espaço-temporal.
um momento a outro da história. Mas o “o que foi feito” (o know what) coexiste
com o seu “como foi feito” (o know how). A questão do “como”, do “saber fazer”
tendem a sufocar.
circuito que entrelaça nossa forma de pensar, agir e sentir. Questão de método
continente, o mundo”. Lygia não quer ser centro de sua obra, propondo sua
na sua relação com o campo das artes. É no modo de fazer, isto é, nesta
Qual é, então, a unidade de uma obra que aspira ser aspirada pelo
Se o plano político ou estético se faz nessa deriva em que sua meta não é
que nele é função de guia, como se diz de um guia de cego que não define
para onde ele vai, que não dá o sentido que é sempre a do cego, mas faz