Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Edição
Ministério da Justiça e Segurança Pública
Secretaria Nacional do Consumidor
Escola Nacional de Defesa do Consumidor
Autoria
Este curso tem como subsídio a obra “Crimes contra as relações de Consumo”, de Marco Antonio Zanellato e Edgar
Moreira da Silva.O texto foi revisado por José Augusto Peres.
Dado a relevância do tema, os autores cederam o texto da obra para este curso. O texto foi adaptado para a
educação a distância.
Coordenação
Andiara Maria Braga Maranhão
Supervisão
Ana Cláudia Sant’Ana Menezes
Marcus Iahn de Souza
Apresentação do Módulo 3
Olá! Animado(a) para continuar nosso percurso de aprendizagem?
Vamos lá?
Lembre-se de que esse curso diz respeito à tutela penal do consumidor, por
isso não faremos a análise de todos os crimes definidos na Lei n. 8.137/90.
Nos limitaremos a examinar aqueles que foram construídos a partir de
dispositivos da Lei n. 1.521, de 26 de dezembro de 1951 (que tratou e
crimes contra a Economia Popular) e outros que, embora não tenham
derivado diretamente de tal diploma, violam, direta ou indiretamente, as
relações de consumo.
Vamos juntos?
3
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 3
Fique atento!
Instruções de navegação do módulo 3:
Saiba mais
A infração, do exemplo acima, lesa o fisco e gera uma situação de perigo à economia popular ou aos
consumidores, coletiva ou individualmente considerados, pela probabilidade de dano potencial a
seus interesses patrimoniais.
4
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 3
Vamos juntos?
Saiba mais
Esse tipo penal preencheu uma lacuna da Lei n.º 4279, de 14.07.65, que, embora disciplinando os
crimes de sonegação fiscal, não pune a conduta daquele que nega ou deixa de fornecer nota fiscal
ou documento equivalente, relativa à venda ou prestação de serviço.
Fique atento!
O elemento material do crime em exame coincide com o seu momento
consumativo: é a omissão (“deixar”) ou a ação (“negar...”). É uma infração
que lesa o fisco e gera uma situação de perigo à economia popular
ou aos consumidores coletiva ou individualmente considerados, pela
probabilidade de dano potencial a seus interesses patrimoniais.
5
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 3
Saiba mais
Acesse o link a seguir para ter acesso ao documento sobre venda casada:
https://www.anatel.gov.br/Portal/verificaDocumentos/documento.asp?numeroPublicacao=34803
7&filtro=1&documentoPath=348037.pdf
6
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 3
Dica!
Fique atento ao calendário da ENDC e faça o curso “Práticas abusivas”.
Acesse o nosso site e veja o calendário dos cursos ofertados
pela ENDC: https://www.defesadoconsumidor.gov.br/escola
nacional/cursos/cursos-endc
7
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 3
Fique atento!
O dispositivo penal em estudo é um caso típico das chamadas leis penais
em branco, uma vez que, para a sua execução, depende das tabelas oficiais
de preços, ou dos preços fixados por órgão ou entidade governamental,
por exemplo.
Veja que esse dispositivo identifica-se com a norma do art. 2º, inciso II, da
Lei n. 1.521/51:
8
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 3
Dica!
O art. 2º, inciso II, da Lei n. 1.521/51 é mais um dispositivo da Lei de Economia Popular que foi
revogado pela Lei 8.137/90.
9
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 3
O inciso III pune não o ‘fabrico’ fraudulento, mas o ato de vender ou expor à venda a
mercadoria que houver sido fraudada. A fraude de fabricação será apenada de acordo
com a legislação comum, conforme o caso. Se, todavia, o fraudador for o próprio autor
da venda ou da exposição à venda, o seu crime contra a economia popular não muda de
tipicidade, nem o exime de responder, em concurso material de delitos, pela infração de
fabrico fraudulento de substância alimentícia, ou como estiver previsto no direito penal
comum.
OLIVEIRA, Elias de. Crimes contra a economia popular e o juri tradicional. Rio de Janeiro: Freitas Bastos,
1951, p. 56
Saiba mais
A fraude de fabricação encontra tipificação penal no artigo 7º, IV, letra “a”, da Lei n. 8.137/90, ou
no artigo 2º, inciso IX, da Lei n. 1.521/51, à medida que pode tal fraude ser entendida como um
processo fraudulento desenvolvido com a finalidade de obtenção de ganhos ilícitos, em detrimento
de indeterminado número de pessoas, como ocorre, por exemplo, com as máquinas de vídeo-poker
fraudadas.
10
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 3
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - Artigo 7º, II, da Lei 8137/90 - Falta de especificação
em embalagem de produto pronto para consumo.
Ementa: Não sendo caso de produtos previamente embalados pelo fabricante, e colocados à venda
pelo comerciante, mas sim de produtos para pronto, exatamente como uma refeição oferecida por
qualquer restaurante ou estabelecimento especializado no preparo de refeições ligeiras, a falta
de especificações em sua embalagem, que é utilizada pelo comerciante apenas como um modo
de servir o produto para pronto consumo não caracteriza o crime descrito pelo artigo 7, II, da Lei
8137/90. Ademais, os produtos e mercadorias que foram e são reacondicionados pelo comerciante
não apresentam em si qualquer índice de risco ao consumidor. Na exposição de o conteúdo do
reacondicionamento apresentar risco ou perigo, aí sim, haveria a obrigação de informar corretamente
o consumidor acerca dessa circunstância.
RT 739/628 - maio/1997
Ementa: Para fins de tipificação do delito previsto no artigo 7º, II, da Lei 8137/90, é irrelevante o
fato de a carne moída apreendida e periciada apresentar-se própria para o consumo, pois a punição
refere-se ao local de exposição da carne e não a sua qualidade.
Crime contra relação de consumo – Art. 7º, II, da Lei 8.137/90 – Agente que expõe à venda material
de informática sem informações em português – Atipicidade da conduta pelo fato do tipo não
poder ser incluído no rol do art. 61 da Lei 8.078/90 – Inocorrência – Trancamento da ação penal por
inexistência de justa causa – Impossibilidade.
11
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 3
Ementa: Impossível o trancamento, por inexistência de justa causa, de ação penal instaurada contra
Comerciante que expõe à venda material de informática sem informações em português, sob
a alegação de ser atípica referida conduta por não poder ser incluído o tipo do art. 7º, II, da Lei
8.137/90 entre os previstos pelo art. 61, da Lei 8.078/90, uma vez que esta norma inclui entre os
crimes contra as relações de consumo os delitos previstos no Código Penal e nas Leis Especiais, como
no caso em exame.
Ac. da 15ª Câm. do TACRIM-SP, HC 303.680/7, rel. Fernando Matallo, j. 17.04.1997, v.u., apud
RJTACrim, SP, nº 35, julho, agosto, setembro de 1997, pág. 360.
3.6. Você sabia que constitui crime fraudar preços por meio de
alterações no produto?
Artigo 7º, inciso IV, letra a, da Lei n. 8.137/90: alteração, sem modificação essencial ou de qualidade,
de elementos tais como denominação, sinal externo, marca, embalagem, especificação técnica,
descrição, volume, peso, pintura ou acabamento de bem ou serviço.
12
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 3
Saiba mais
Essa figura criminal foi criada para punir a chamada “maquiagem” de produtos, feita com o objetivo
de burlar o congelamento de preços. Ocorreu largamente na vigência de planos econômicos que,
no passado, foram implantados com o objetivo de estancar a inflação e estabilizar a economia. Veja
agora a portaria da Senacon, de 2002, que tratou da alteração quantitativa de produtos embalados
e a informação para o consumidor.
Veja o exemplo!
Veja só!
Dica!
O momento consumativo dessa infração coincide com o ato inicial da
alteração fraudulenta do produto. É um crime de perigo de dano efetivo
à economia popular ou aos consumidores difusamente considerados. O
sujeito ativo dessa infração é, normalmente, o fornecedor-produtor.
13
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 3
A materialidade desse delito consiste em sonegar ou recusar a venda de insumos ou bens, ou retê-los.
Vamos entender o que significa cada um destes conceitos? Veja nas cartas, a seguir.
Dizer que a coisa não existe em poder do sonegador ou não está a seu
alcance ou disponibilidade.
Elias de Oliveira
Elias de Oliveira
14
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 3
Ementa: Incorre nas sanções do artigo 7º, VI, da Lei 8137/90 o agente que, na qualidade de
proprietário, gerente ou preposto de um posto de gasolina, recusa-se a vender combustível a uma
ou mais pessoas que pretendem adquiri-lo, à vista de iminente aumento de preços de combustíveis,
visando a interrupção de vendas naquele instante a obtenção de maiores ganhos ou menores
prejuízos.
15
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 3
Fique alerta!
Saiba mais
• Esse tipo penal pune o agente que, na oferta não-publicitária ou na publicitária, divulgada em
meios de comunicação de massa, chamados de veículos ou suporte, induz o consumidor a erro,
mediante a afirmação falsa ou enganosa sobre a natureza, qualidade de bem (produto) ou serviço.
• Trata-se de crime material ou de resultado de dano efetivo, que se verifica com a indução do
consumidor a erro.
16
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 3
Isso mesmo, Maria! Vejo que está super antenada com o assunto! Esse
ilícito pode ser denominado crime de indução, cujo objetivo é induzir
o consumidor a erro em oferta (publicitária ou não-publicitária) de
produtos e serviços.
Fique atento!
Dica!
Quer saber mais sobre oferta e publicidade no CDC? Fique atento ao
calendário da ENDC e faça o curso Oferta e Publicidade!
17
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 3
Esse é um caso típico das chamadas “leis penais em branco”, uma vez
que estabelece uma proibição genérica que se completa por definição
de outra lei: proíbe que se venda, ou que se tenha em depósito para
vender ou expor à venda, ou que se entregue de qualquer modo, matéria-
prima ou mercadoria em condições impróprias ao consumo, sem definir
o que são essas condições impróprias. Todavia, há um completivo desse
dispositivo. Vamos conhecer?
Já na modalidade de ter em depósito para vender ou expor a venda, é delito formal (ou
de perigo abstrato), pela probabilidade de dano efetivo ou perigo de dano a número
indeterminado de pessoas (consumidores difusamente considerados).
Saiba mais
Para fechar a análise das figuras criminais da Lei n.8.137/90, importante dizer que os fatos tipificados
nos incisos II, II e IX do artigo 7°, também são punidos a título de culpa, com a pena privativa de
liberdade reduzida de um terça, e a de multa à quinta parte, conforme parágrafo único deste artigo.
18
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 3
Ac. da 13° Câmara do TACrimSP – m.v. – HC 303.764/2 – Rel. Juiz Roberto Mortari – j 29.04.97 – DJ
SP II 29.07.97, p.09 – ementa IOB, por transcrição parcial – apud Boletim do IOB 3-13518, setembro
de 1997, p.331
Ementa: Alimento impróprio ao uso e consumo. O simples fato de um produto encontrar-se com
o prazo de validade vencido, ainda que apresente seus caracteres físico-químico e organoléptico
normais, por si só, já o enquadra como impróprio ao uso e consumo, como está previsto no art. 18,
19
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 3
Ac. un. da 4ª Câm. do TACr RJ – Ac. 51.441 – Rel. Juíz Flávio Nunes Magalhães – j. 10.08.94 – ementa
oficial - apud Boletim do IOB, JULHO DE 1995, 3-11021, P. 219.
Ementa: Pratica o delito contra o consumidor o fornecedor que se omite em explicar natureza,
característica e qualidade do produto. Essa conduta formal tipifica o crime omissivo puro e de ação
múltipla do caput do artigo 66 da Lei 8.078, de 11.9.1990. É crime vender mercadoria em condições
impróprias ao consumo, a teor do disposto no inc. IX do artigo 7° da Lei 8.137, de 27.12.1990. Não
escusa o agente a circunstância de não ele haver fabricado o produto. O que o inciso pune não
é a fabricação fraudulenta, mas o ato de vender ou expor à venda mercadoria que houver sido
fraudada em sua embalagem, tipo, especificação, peso ou composição (Alberto Silva Franco, “Leis
Penais Especiais e sua Interpretação Jurisprudencial”). A punição do fraudador atende também à
necessidade de reforçar a cidadania, pois, ‘as questões relativas à responsabilidade por vício atingem
a todos indistintamente; aos mais pobres, em especial’ (Paulo Luiz Netto Lobo, “Responsabilidade
pelo vício do produto e do serviço”).
Ac. un. da 11ª Câm. do TACr SP – Ac. 1.047.641-6 – Rel. Juiz Renato Nalini – j. 31.03.97, p27 – apud
IOB, maio de 1997, 3-13173 p.176.
Ementa: Venda de mercadoria em condições impróprias ao consumo - delito do art. 7º, inc. IX da Lei
8.137, de 27.12.1990 - Prazo de validade vencido - Circunstâncias que, por si só, basta à configuração
do crime, dispensável perícia para comprovar a efetiva nocividade do produto - Condenação
mantida. O art. 7º, inc. IX, da Lei 8.137, de 27.12.1990, ao contrário do que ocorria como art. 279
do CP, expressamente revogado pelo art.23 da mesma Lei, define um crime formal e consubstancia
norma penal em branco no que toca à definição das “condições impróprias ao consumo”. E, nessa
condição, é complementado pelo art. 18, § 6º, inc. I, da Lei 8.078, de 11.09.1990 (Código de Defesa
do Consumidor), no ponto que expressamente considera “impróprios ao uso e consumo”:
Ac, da 2ª Câm. do TACrimSP – Ap. 986.761-2 – rel. Juíz Érix Ferreira – j. 30.11.1995 – v.u. - apud
Revista de Direito do Consumidor n.19 - julho/setembro - 1996 - p. 272.
Ementa: O delito do artigo 7º, IX, da Lei 8137/90, é formal e de mero perigo presumido, sem a
necessidade de constatação da existência de perigo concreto, bastando à sua configuração, a
comprovação de vender ou expor à venda, ou, de qualquer forma, entregar a matéria prima ou
20
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 3
CRIME CONTRA O CONSUMIDOR - Produto exposto à venda com prazo de validade vencido - Violação
do artigo 7º, IX, da Lei 8137/90, c/c o artigo 18, parágrafo 6, I, da Lei 8078/90 - Não comprovação da
impropriedade material ou real da mercadoria - Irrelevância - crime de perigo abstrato.
Ementa: A conduta do comerciante que expõe à venda produto com o prazo de validade vencido
é suficiente para a caracterização do crime previsto no artigo 7, IX, da Lei 8137/90, c/c o artigo 18,
parágrafo 6, I, da Lei 8078/90, sendo irrelevante que após a apreensão da mercadoria se constate,
através de análise laboratorial, que a mesma ainda era própria para o consumo, visto que o delito em
apreço é de perigo abstrato, aperfeiçoando-se com a mera transgressão da norma incriminadora,
independente de comprovação da impropriedade material ou real do produto.
RT 730/566 - agosto/1996
Ementa Oficial do Voto Vencido: Para a atribuição de responsabilidade penal pela prática do
crime contra as relações de consumo previsto no artigo 7, IX, da Lei 8137/90, é indispensável que
os medicamentos apreendidos sejam submetidos a exame pericial, para a contestação de serem
impróprios ao consumo e que se comprove sua distinção comercial.
RT 731/630 - setembro/96
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - Comerciante que expõe à venda produto com prazo
de validade vencido - Violação do artigo 7º, IX, da Lei 8137/90 c/c o artigo 18, parágrafo 6, da Lei
8078/90 - Caracterização - Não comprovação da impropriedade material ou real da mercadoria -
Irrelevância:
Ementa: A conduta do comerciante que expõe à venda produto com prazo de validade vencido é
suficiente para a caracterização do crime previsto no artigo 7, IX, da Lei 8137/90, c/c o artigo 18,
parágrafo 6, I, da Lei 8078/90, sendo irrelevante que após a apreensão da mercadoria se constate,
através de análise laboratorial, que a mesma ainda era própria para o consumo, visto que o delito
em apreço é de perigo abstrato, aperfeiçoando-se com a mera transgressão da norma incriminadora,
independentemente de comprovação da impropriedade material ou real do produto.
21
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 3
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - Agente que vende determinada droga em lugar
de outra, transferindo o líquido de um frasco para outro - Caracterização - Exercício ilegal da arte
farmacêutica - Inocorrência:
Ementa: Incorre nas sanções do artigo 7º, IX, da Lei 8137/90, o agente que, no interior de uma
drogaria, vende determinado remédio em lugar de outro, impróprio para o consumo, transferindo
o líquido de um frasco para o outro, não se podendo falar em prática do artigo 282 do C.P., pois a
venda de medicamentos nos balcões de farmácias não corresponde ao exercício de ato privativo de
farmacêutico, tendo-se presente a industrialização dos produtos do gênero.
• AGENTE QUE ADMITE VÍNCULO COM ESTABELECIMENTO COMERCIAL ONDE OCORRA O DELITO
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - Agente que admite vínculo com estabelecimento
comercial onde ocorra o delito - Legitimação para figurar no pólo passivo - Ocorrência.
Ementa: Conhecimento do fornecimento irregular de mercadoria sem providências para sua correção
- Configuração - Ausência do réu no estabelecimento no momento do recebimento - Irrelevância:
O agente que admite vínculo com estabelecimento comercial, onde ocorra delito previsto na Lei
8137/90, é pessoa legítima para figurar no pólo passivo de ação penal, sendo irrelevante o fato de
não ser sócio ou empregado do mesmo.
Incorre nas penas do artigo 7º da Lei 8137/90, o agente que, sabendo do fornecimento irregular de
mercadoria sem data de fabricação e validade, não providencia a sua correção, sendo irrelevante
a ausência do réu no estabelecimento no momento de recebimento ou mesmo da colocação dos
produtos nos locais próprios à venda, máxime se é encarregado do comércio quando da apreensão.
22
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 3
“A essa abstração jurídica – que se não compõe de bens materiais corporificados, mas
de ideais interesses econômicos coletivos que a quase todos pertencem, como membros
da coletividade social –, o Estado moderno dá foros de personalidade sui generis, como
sujeito passivo de infrações, e concede proteção legal, punindo penalmente os que a
lesam”.
OLIVEIRA, Elias de. Crimes contra a economia popular e o juri tradicional. Rio de Janeiro: Freitas Bastos,
1951, p. 9
Veja só o que diz o artigo 2º, inciso IX, da Lei n. 1.521/51: obter ou tentar
obter ganhos ilícitos em detrimento do povo ou de número indeterminado
de pessoas mediante especulações ou processos fraudulentos (“bola de
neve”, “cadeias”, “pichardismo” e quaisquer outros equivalentes).
23
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 3
O crime previsto no art. 2º, inciso IX, da Lei n. 1.521/51 pune, as “burlas
contra a bolsa do povo para ganhos ilícitos” (Elias de Oliveira). De acordo
com Elias de Oliveira, a referida infração é uma modalidade de crime de
estelionato, previsto no art. 171 do Código Penal.
Dica!
A especulação como meio de obtenção de ganhos ilícitos deve ser entendida
como aquela praticada com o emprego de manobras fraudulentas. É a
chamada especulação ilícita, fraudulenta, que se destina à captação do
dinheiro do povo, de sorte a ofender a economia popular. As especulações
previstas nesse crime, por se prestarem à obtenção de ganhos ilícitos, são,
sempre, de natureza fraudulenta, razão por que são punidas penalmente.
ROBERTO LYRA. Crimes contra a economia popular. Rio de Janeiro: Livraria Jacinto, 1940,
pp. 100-101.
24
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 3
Já ouviu falar em Pirâmide Financeira? Clique no vídeo ao lado e conheça mais um crime contra a
economia popular.
Sua navegação será por meio de um vídeo interativo. Sempre que precisar pausar, execute o
comando solicitado. A respeito disso, veja o que o doutrinador Elias Oliveira ensina:
Vídeo
Acesse as telas interativas do curso e confira o vídeo.
25
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 3
Crime contra a economia popular - Agente que desempenha a atividade de cambista - Compra de
entradas para espetáculo musical e revenda por preço bem superior do valor da aquisição - Crime
caracterizado - Condenação mantida - Inteligência do artigo 2º, IX, da Lei 1521/51.
Ementa: - Pratica crime contra a economia popular o cambista que vende entradas para determinado
espetáculo por preço superior ao real, pouco importando que as vítimas diretas tenham ciência
do verdadeiro valor dos ingressos, vez que nos crimes contra a economia popular, a proteção
legal não é dada a um ou alguns indivíduos, eventualmente considerados sujeitos passivos, mas a
todos os membros de uma coletividade, igualmente expostos ao dano ou ao perigo de sofrerem as
consequências da ação do criminoso.
RT - 726/693 - abril/1996.
Crime contra a economia popular - Agente que condiciona a admissão de vendedores de plano de
saúde à venda de produtos, sem contratá-los. Conduta que tipifica, em tese, o delito do artigo 2º,
IX, da Lei 1521/51.
Ementa: Tipifica, em tese, o crime do artigo 2º, IX, da Lei 1521/51 a conduta de alguém que na
condição de sócio de empresa da assistência médica, publica em jornal anúncio de empregos de
“assistente”, que, na realidade, desempenharia atribuições de vendedor de títulos ou planos de
saúde, sendo que, quando os candidatos se aposentassem, condicionava-lhes a contratação a uma
venda de planos e, quando a exigência era cumprida, exigia que novos planos fossem vendidos sem
efetuar a contratação dos empregados.
26
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 3
3. A jurisprudência desta Corte tem se orientado no sentido de que compete à Justiça Comum
Estadual julgar os crimes contra a economia popular, na esteira do enunciado da Sumula n. 498 da
Suprema Corte, que dispõe: “Compete à Justiça dos Estados, em ambas as instâncias, o processo e
o julgamento dos crimes contra a economia popular”.
Precedentes.
4. O delito conhecido como “lavagem de dinheiro” e tipificado no art. 1º da Lei 9.613/1998, somente
será da competência federal quando praticado contra o sistema financeiro e a ordem econômico-
financeira, ou em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas (art. 2º, III, “a”, da Lei 9.613/1998) ou quando a infração penal
antecedente for de competência da Justiça Federal (art. 2º, III, “b”, da Lei 9.613/1998).
5. Não tendo sido coletados, até o momento, dados que sinalizem que a suposta “lavagem de
dinheiro” foi praticada em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, ou mesmo que o
delito seja conexo com qualquer outro crime de competência da Justiça Federal, é de se reconhecer
a competência da Justiça Estadual para dar continuidade às investigações.
7. Conflito conhecido, para declarar a competência do Juízo de Direito do Foro Central Criminal
Barra Funda - DIPO 4 - São Paulo/SP, o suscitado.
(CC 146.153/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
11/05/2016, DJe 17/05/2016)
27
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 3
1. A criação de site na internet por quadrilha, sob o falso pretexto de vender mercadorias, mas sem
a intenção de entregá-las, amolda-se mais ao crime contra a economia popular, previsto no art.
2º, inciso IX, da Lei n. 1.521/1951, do que ao estelionato (art. 171, caput, CP), dado que a conduta
não tem por objetivo enganar vítima(s) determinada(s), mas, sim, um número indeterminado de
pessoas, vendendo para qualquer um que acesse o site.
2. Nos termos do art. 2º, IX, da Lei n. 1.521/1951, constitui crime contra a economia popular
“obter ou tentar obter ganhos ilícitos em detrimento do povo ou de número indeterminado de
pessoas mediante especulações ou processos fraudulentos (“bola de neve’, ‘cadeias’, ‘pichardismo’
e quaisquer outros equivalentes)”.
3. Verificada estreita conexão teleológica (art. 76, II, CPP) e probatória (art. 76, III, CPP) entre a
associação criminosa e o crime contra a economia popular, no caso concreto, a definição da
competência segue a regra posta no art. 78, II, “a”, do CPP (local da infração à qual foi cominada a
pena mais grave).
4. Dado que o crime de associação criminosa possui pena mais grave (reclusão de 1 a 3 anos) do
que a atribuída ao crime contra a economia popular (detenção de 6 meses a 2 anos e multa) e a
associação criminosa consumou-se em Goiânia, pois seis dos sete investigados residiam naquela
cidade, é forçoso reconhecer a competência do Juízo estadual de Goiânia para conduzir o inquérito
policial.
(CC 133.534/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
28/10/2015, DJe 06/11/2015)
Vejamos o que diz o artigo 2º, inciso XI, da Lei n. 1.521/51: fraudar pesos
ou medidas padronizados em lei ou regulamentos; possuí-los ou detê-
los, para efeitos de comércio, sabendo estarem fraudados.
28
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 3
Consuma-se com o ato fraudulento de alterar, por meio de falsidade material, aparelhos
ou instrumentos de pesar e medir. A fraude pode assumir, no âmbito jurídico-penal, formas
variadas no sentido de modificar a capacidade legal das medidas e pesos padronizados,
constituindo a falsidade uma probabilidade concreta de dano à economia popular pelas
lesões a que fica sujeita.
Tem seu momento consumativo no ato ou fato da posse ou detenção para efeitos de
comércio.
Fique atento!
Pode haver uma confusão na conduta ilícita do comerciante que pesa ou
mede mercadorias de forma fraudulenta, enganando o comprador, com o
crime enquadrável no art. 171 do Código Penal.
A lei, quando fala em fraudar pesos padronizados, está se referindo ao peso adotado legalmente
como unidade de medida a que se referiu a Conferência Internacional do Metro (20 de maio de
1875), e não ao “peso” de expressão popular usada para designar a resultante da operação de pesar.
Por exemplo , o comerciante que coloca pedaço de ferro sob o prato da balança, com o fim de
fraudar os pesos das mercadorias.
Lembre-se de que fraudar pesos e medidas não se confunde com o ato, também fraudulento, de
pesar a menos com o intuito de ganho determinado e ilícito, caso em que os pesos e medidas estão
de acordo com os padrões legais.
29
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 3
Jurisprudências
Acesse as telas interativas do curso e confira todas
as jurisprudências apresentadas no curso!
Saiba mais
Quer saber mais sobre Pirâmides Financeiras? Clique no link abaixo e
acesse o Boletim de Proteção do Consumidor/Investidor CVM/Senacon:
Marketing Multinível e Pirâmides Financeiras.
Acesse: https://www.defesadoconsumidor.gov.br/images/Boletim_Prote%C
3%A7%C3%A3o_ao_Consumidor-investidor/Boletim_CVM_06.pdf
30
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 3
Para relembrar
Encerramos aqui o terceiro módulo do curso e esperamos que você tenha conseguido identificar
os crimes contra as relações de consumo da Lei n. 8.137/90, bem como reconhecer os tipos
penais que não foram revogados pela Lei n. 8.137/90 que tratam dos crimes contra a economia
popular.
Você concluiu o conteúdo do curso! Parabéns! Se quiser retomar os conteúdos para estudos,
fique à vontade!
Avaliação de Aprendizagem
Acesse às telas interativas do curso para realizar a avaliação de aprendizagem.
31
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 3
Bibliografia
ANDRADE, Manoel da Costa. A nova lei dos crimes contra a economia à luz do conceito de bem
jurídico, in Ciclo de Estudos e Direito Penal Econômico. Coimbra: Garcia e Carvalho Ltda., 1985.
ARAÚJO JR., João Marcelo de. Dos crimes contra a ordem econômica. São Paulo: Ed. Revista dos
Tribunais, 1995.
BRUNO, Aníbal. Direito penal. Rio de Janeiro: Forense, 1967, tomo 2, pp. 73-74.
BUSTOS RAMÍREZ, Juan. Manual de derecho penal, Parte general. Madrid: Ariel, 1989.
CÁNOVES, Antonio Moreno e MARCO, Francisco Ruiz. Delito socioeconómicos. Comentários a los
arts. 262, 270 a 310 del nuevo Código penal, concordados y com jurisprudencia. Zaragoza: Editorial
EDIJUS, 1996.
COSTA JR., Paulo José da. Comentários ao código de proteção do consumidor. Coordenador Juarez
de Oliveira. São Paulo: Saraiva, 1991.
DE LUCCA, Newton. Direito do consumidor: aspectos práticos, perguntas e respostas. 2ª ed. – Bauru,
SP: EDIPRO, 2000.
FARIA COSTA, José Francisco de. O perigo em direito penal. Coimbra: Coimbra Editora, 1992.
FIGUEIREDO DIAS, Jorge. Sobre o estado actual da doutrina do crime – 1ª parte – Sobre os fundamentos
da doutrina e construção do tipo-de-ilícito, publicado originalmente in Revista Portuguesa de Ciência
Criminal, ano I, nº 1, 1991, e, posteriormente, in Revista Brasileira de Ciências Criminais, nº 25. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999, pp. 23-52.
32
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 3
FILOMENO, José Geraldo Brito. Manual de direitos do consumidor. 3ª ed. – São Paulo: Editora Atlas,
1999.
HASSEMER, Wilfried. Perspectivas de uma moderna política criminal, in Revista Brasileira de Ciências
Criminais, nº 8. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1994.
HUNGRIA, Nelson. Dos crimes contra a economia popular. Rio de Janeiro: Livraria Jacintho, 1939.
JESUS, Damásio E. de. A natureza jurídica dos crimes contra o consumidor, in Tribuna do Direito, São
Paulo, maio de 1993, p. 13.
––––––––– A natureza jurídica dos crimes contra as relações de consumo, in Ciência Penal. Coletânea
de Estudos em Homenagem a Alcides Munhoz Netto. Curitiba: JM EDITORA, 1999
––––––––– Culpa deve ser expressa, in jornal O Estado de S. Paulo, ed. de 06.06.1992, p. 6.
LEDUC, Robert. Propaganda: uma força a serviço da empresa. Tradução de Sílvia B. Câmara. São
Paulo: Atlas, 1986.
LYRA, Roberto. Crimes contra a economia popular. Rio de Janeiro: Livraria Jacintho, 1940.
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. 14ª ed. São Paulo: Atlas, 1998.
OLIVEIRA, Elias de. Crimes contra a economia popular e o juri tradicional. Rio de Janeiro: Freitas
Bastos, 1951.
PIMENTEL, Manoel Pedro. Aspectos penais do código de defesa do consumidor, in Revista dos
Tribunais nº 661, p. 249 et seq.
––––––––– Crimes de mera conduta. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 1998.
RODRIGAÑEZ, Maria Paz Arena. Protección penal de la salud publica y fraude alimentárias. Madrid:
Edersa, 1992.
SALOMÃO, Heloisa Estellita. Tipicidade no direito penal econômico in Revista dos Tribunais, vol. 725,
março de 1996, pp. 407-423.
SIMONI, João de. Promoção de vendas. São Paulo: Makron Books, 1997.
TOMASETTI JR., Alcides. O objetivo de transparência e o regime jurídico dos deveres e riscos de
33
CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 2
informação nas declarações negociais para consumo, in Revista Direito do Consumidor, nº 4 (número
especial – O Controle da Publicidade). São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1992, pp. 53-90.
ZANELLATO, Marco Antonio et al. O Ministério Público e a exegese da expressão “deveria saber” do
art. 67 da Lei nº 8.078/90, in Revista de Direito do Consumidor, nº 14. São Paulo: Ed. Revista dos
Tribunais, abr./jun. 1995, pp. 67-71.
––––––––– O sancionamento penal da violação do dever de informar no código de defesa do
consumidor, in Revista de Direito do consumidor, nº 8. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, out./
dez. 1993, pp. 92-100.
34