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qxp 8/7/2008 11:45 Page 5

As rodovias de integração – a Belém–Brasília, a

Geografia Transamazônica, a Brasília–Acre e a Cuiabá- San-


tarém – destinavam-se a orientar os fluxos migra-
Professor Paulo BRITO tórios para a “terra sem homens”.
Instalações do Exército brasileiro foram implanta-
das em lauaretê (AM), na faixa de fronteira com a
Colômbia, em 1991. Nas “fronteiras mortas”, as
Aula 104 bases militares funcionam como signos essen-
ciais da soberania nacional.
A Amazônia – Projetos de Na condição de fronteira do capital, o Grande
integração Norte deveria atrair volumosos investimentos
transnacionais e nacionais voltados para a agro-
O ecossistema da floresta equatorial – associado
pecuária, a mineração e a indústria. Sob a coor-
aos climas quentes e úmidos e assentado, na sua 01. (UFPA) A definição das fronteiras internas no Bra-
denação da Sudam, a Amazônia Legal transfor-
maior parte, no interior da bacia fluvial amazônica sil esteve associada à expansão do povoamento,
mou-se em vasto cenário de investimentos incen-
– permite delimitar uma região natural. Essa re-
tivados por recursos públicos. Os projetos priva- ao controle da terra e/ou do acesso de recursos
gião é a Amazônia Internacional, que abrange
dos viabilizavam-se por meio de mecanismos de ou, ainda, a estratégias geopolíticas de ocupa-
cerca de 6,5 milhões de quilômetros quadrados
renúncia tributária e concessão de empréstimos ção e organização territorial. Na Amazônia, em
em terras de nove países.
subsidiados. particular, a definição dos limites político-admi-
Do ponto de vista do Estado contemporâneo, o
Os projetos minerais e industriais concentraram- nistrativos estaduais teve, certamente, várias mo-
exercício da soberania exige a apropriação nacio-
se em Belém e seus arredores e na Zona Franca
nal do território. As áreas pouco povoadas e ca- tivações. A criação dos territórios federais do
de Manaus (ZFM). Os projetos florestais e agro-
racterizadas pelo predomínio de paisagens natu- Amapá, Roraima e Rondônia em 1944:
pecuários, mais numerosos, concentraram se no
rais, especialmente quando adjacentes às frontei- a) foi motivada por preceitos geopolíticos de
Mato Grosso e sobre o eixo da Belém- Brasília,
ras políticas, são consideradas espaços de sobe-
abrangendo o Tocantins, o sul do Pará e o oeste ocupação e controle territorial das áreas de
rania formal, mas não efetiva. A consolidação do
do Maranhão. Os incentivos totalizavam, em ge- fronteiras da Região Norte do Brasil;
poder de Estado sobre tais espaços solicita a sua
ral, metade dos recursos necessários para os b) foi motivada por movimentos separatistas que
“conquista”: povoamento, crescimento econômi-
projetos agropecuários. O desmatamento e a for- tiveram como base a estruturação e a organi-
co, desenvolvimento de uma rede urbana, im-
mação de pastagens extensivas era classificado zação da(s) sociedade(s) local(is);
plantação de redes de transportes e de comuni-
como benfeitoria, assegurando o direito aos in-
cações. O empreendimento de “conquista” en- c) foi motivada por conflitos entre diferentes gru-
centivos.
volve, portanto, um conjunto de políticas territo- pos sociais, pelo controle da terra e pelo
Em meados da década de 1970, a Sudarn pas-
riais. acesso aos recursos naturais e florestais exis-
sou a aprovar somente megaprojetos, em glebas
No Brasil, o estabelecimento de políticas territo- tentes nesses territórios;
gigantes. Sob essa política de incentivos, multi-
riais coerentes associou-se à centralização políti-
plicaram-se os latifúndios com áreas superiores a d) foi motivada por conflitos entre os governos
ca iniciada com a Revolução de 1930 e desenvol-
300 mil hectares. Até 1985, mais de 900 projetos estaduais do Amazonas e do Pará e o gover-
veu-se no quadro da industrialização acelerada
foram aprovados pela Sudam. A legislação vigen- no federal pela apropriação do excedente
do pós-guerra. O planejamento regional na Ama-
te nesse período determinava que a devolução econômico gerado pela exploração extrativis-
zônia foi deflagrado em 1953, com a criação da
dos recursos públicos recebidos por projetos
Superintendência do Plano de Valorização Eco- ta da borracha;
cancelados não envolveria juros ou correção mo-
nômica da Amazônia (SPVEA). e) foi motivada por conflitos fronteiriços entre o
netária.
Com o SPVEA, surgiu a Amazônia Brasileira, Brasil e os países vizinhos, Guiana Francesa
Desse modo, em ambiente econômico inflacioná-
que correspondia, grosso modo, à porção da (Amapá), Venezuela (Roraima) e Bolívia (Ron-
rio, abandonar projetos incentivados tornou-se
Amazônia Internacional, localizada em território
negócio altamente lucrativo! dônia).
brasileiro. Não era, contudo, uma região natural,
As políticas que orientaram a “conquista da Ama-
mas uma região de planejamento, pois a sua 02. (Fuvest–SP) Entre as últimas alterações da
zônia” geraram um conflito entre dois tipos de
delimitação decorria de um ato de vontade políti- divisão regional oficial do Brasil, podem-se
ocupação do espaço geográfico. O povoamento
ca do Estado. As regiões naturais são limitadas
tradicional, gerado pelo extrativismo, consistia destacar:
por fronteiras zonais, ou seja, por faixas de tran-
numa ocupação linear e ribeirinha, assentada na a) a extinção dos territórios federais e a criação
sição entre ecossistemas contíguos. As regiões
circulação fluvial e na rede natural de rios e igara- do Distrito Federal;
de planejamento, ao contrário, são delimitadas
pés. O novo povoamento consistia numa ocupa- b) a criação de Fernando de Noronha e a do ter-
por fronteiras lineares, que definem rigorosamen-
ção areolar, polarizada pelos núcleos urbanos ritório federal de Roraima;
te a área de exercício das competências adminis-
em formação e pelos projetos florestais, agrope-
trativas. c) a extinção do Distrito Federal e a criação do
cuários e minerais.
O planejamento regional para a Amazônia ga- território federal de Tocantins;
Esse conflito expressou-se, de um lado, como
nhou novo impulso após a transferência da capi- d) a extinção do território de Roraima e a criação
tensão social envolvendo índios, posseiros e gri-
tal federal e a construção da Rodovia Belém-Bra- do território de Rondônia;
leiros. Desde a década de 1970, as disputas pela
sília. Em 1966, o SPVEA era extinto e, no seu
terra configuraram um “arco de violência” nas e) a extinção dos territórios e a criação do Esta-
lugar, criava-se a Superintendência para o De-
franjas orientais e meridionais da Amazônia. do de Tocantins.
senvolvimento da Amazônia. (Sudam). A lei
De outro lado, o conflito expressou-se pela de-
que criou a Sudam redefiniu a Amazônia Brasilei- 03. (Fuvest–SP) Considerando o desenvolvi-
gradação progressiva dos ecossistemas naturais.
ra, que passava a se denominar Amazônia Le-
Um “arco da devastação”, que apresenta notá- mento econômico da Amazônia, nos últi-
gal. A região de planejamento perfaz superfície
de 5,2 milhões de quilômetros quadrados, ou
veis sobreposições com o “arco de violência”, as- mos trinta anos, assinale a afirmação corre-
sinala os vetores da ocupação recente do Gran- ta:
cerca de 61% do território nacional.
de Norte. Nos Estados de Tocantins, do Pará e do a) A integração da Amazônia à economia nacio-
A “conquista” da Amazônia Maranhão, a devastação antrópica atinge forma- nal baseou-se nas atividades agrícolas e mi-
As políticas territoriais para a Amazônia, sob o re- ções de cerrados, da Floresta Amazônica e da
nerais que promoveram o desenvolvimento
gime militar, concebiam a região como espaço de Mata dos Cocais. No Mato Grosso e em Rondô-
fronteira, num triplo sentido. nia, manifesta-se com intensidade nos cerrados, sustentável da Região.
na Floresta Amazônica e nas largas faixas de b) O desenvolvimento das atividades minerado-
Na condição de fronteira política, o Grande Nor-
transição entre esses domínios, onde se descor- ras esteve relacionado às empresas estran-
te abrangia largas faixas pouco povoadas adja-
centes aos limites do Brasil com sete países vizi- tinam manchas de florestas com babaçu. geiras com alta capacidade de investimentos.
nhos. Essas faixas configuravam “fronteiras mor- O planejamento em ação c) As atividades econômicas desenvolveram-se
tas”, ou seja, áreas de soberania formal, mas não Carajás e Manaus sem exigência de vultosos investimentos.
efetivas do Estado brasileiro. O empreendimento A Amazônia Oriental é constituída pelos Estados d) A abundância de água não foi aproveitada,
da “conquista da Amazônia” tinha a finalidade de do Pará, Amapá, Mato Grosso, Tocantins e pelo como recurso energético, devido às baixas al-
construir as bases para o exercício do poder na- oeste do Maranhão. Ela abrange as mais exten-
titudes regionais.
cional nas faixas de fronteiras. sas áreas de modificação antrópica das paisa-
gens naturais. Essas áreas concentram-se, prin- e) A inexistência de institutos de pesquisa na re-
Na condição de fronteira demográfica, o Gran- gião comprometeu a exploração de seus re-
cipalmente, no Estado de Mato Grosso e em tor-
de Norte deveria ser povoado por excedentes po- no do eixo de transportes formado pela Belém- cursos minerais.
pulacionais gerados no Nordeste e no Centro- Brasília e pela E.F. Carajás.
Sul. No fim da década de 1950, a transnacional norte-

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