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1
Jana Paula da Silva. Especialista em Nutrição Estética e Esportiva pelo Claretiano – Centro Universitário. Bacharel em Nutrição pelo Claretiano –
Centro Universitário. E-mail: <janapaulasilva@hotmail.com>.
2
Luciane Bento Cantarim. Bacharelanda em Nutrição pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <lucantarim@gmail.com>.
3
Erika da Silva Bronzi. Doutora em Nutrição pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus Araraquara (SP). Mestra em Saúde na
Comunidade pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), campus Ribeirão Preto (SP). Bacharel em Nutrição pela Universidade
Federal de Ouro Preto (MG). Professora do curso de Nutrição do Claretiano – Centro Universitário de Batatais e do curso Técnico em Nutrição e
Dietética do Centro Paula Souza em Ribeirão Preto (SP). E-mail: <esbronzi@yahoo.com.br>.
4
Fabiola Rainato Gabriel de Melo. Doutora e Mestra em Investigação Biomédica pela Universidade de São Paulo (USP), campus Ribeirão Preto
(SP). Bacharel em Nutrição pela Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP). Coordenadora e Docente do Curso de Nutrição no Claretiano – Centro
Universitário. E-mail: <nutrição@claretiano.edu.br>.
1. INTRODUÇÃO
A Nutrição Esportiva é uma área de estudos que compreende a aplicação de princípios nutri-
cionais para aperfeiçoar o desempenho esportivo (WILLIAMS, 2002).
O desempenho do esportista de recreação e/ou competição sempre será influenciado pelo
que se come e pelo que se bebe. A Nutrição pode ajudar a prevenir lesões, intensificar a recupe-
ração do exercício, auxiliar na manutenção do peso corporal e melhorar a saúde de modo geral.
Assim sendo, obtendo conselhos nutricionais esportivos seguros e saudáveis de um nutricionista
esportivo qualificado, os atletas ou praticantes de atividade física podem maximizar seu potencial
atlético (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2005).
Entre as várias formas de prática de exercícios, temos as artes marciais, que incluem a ca-
poeira. Segundo Brennecke, Amadio e Serrão (2005), ela é uma luta que não se limita a sua ca-
racterística de exercício físico, pois possui uma história, sendo considerado o único esporte ge-
nuinamente brasileiro e também a rainha de nosso folclore. Os autores ainda colocam que, como
exercício físico, é considerado um dos mais completos, por exigir e provocar adaptações nos sis-
temas muscular, cardiovascular, respiratório, entre outros.
De acordo com Maughan e Burke (2004), a avaliação do estado nutricional dos praticantes
de atividade física é importantíssima para compreender a associação entre nutrição, saúde e de-
sempenho esportivo. Os autores afirmam, ainda, que a avaliação nutricional completa deve abran-
ger avaliação da dieta, exames bioquímicos, testes antropométricos para avaliar a composição
corporal e avaliação clínica da aparência e do bem-estar.
Segundo Martins (2008), a avaliação do estado nutricional é um processo de identificação
da condição nutricional de indivíduos e populações. Constitui um processo contínuo e dinâmico
que envolve não somente a coleta inicial de dados, mas também reavaliações periódicas. Define,
também, que o estado nutricional constitui o equilíbrio entre a ingestão e a necessidade de nu-
trientes. Esse equilíbrio depende de diversos fatores: a ingestão de nutrientes depende de fatores
físicos, emocionais, econômicos, sociais e culturais; já a necessidade de nutrientes depende de
fatores como manutenção das necessidades corporais, desenvolvimento e crescimento, além de
condições especiais (doenças).Nery et al. (2013), em seu trabalho, também deixam clara a escassez
de trabalhos científicos que abordam variáveis da composição corporal específica para praticantes
de capoeira.
Levando isso em consideração, o objetivo deste artigo foi descrever os parâmetros utilizados
na avaliação nutricional de praticantes de capoeira, a partir de uma revisão da literatura pertinente.
2. METODOLOGIA
Este artigo foi elaborado a partir de uma revisão da literatura, referenciando os parâmetros
utilizados pelos autores para avaliação nutricional de seus atletas praticantes de capoeira.
Foram analisados artigos científicos das bases de dados SciELO, revistas eletrônicas bra-
sileiras e internacionais, livros digitais e impressos. Os artigos pesquisados foram publicados no
período de 2000 a 2013.
3. DISCUSSÃO
História da capoeira
A capoeira nasceu no Brasil no final do século XV e início do século XVI, na época em que
os navios negreiros saíam de várias partes da África em direção à Bahia, e os negros que consegui-
ram sobreviver à travessia desenvolveram especialidades de trabalho e influenciaram a expansão
desse símbolo nacional por toda a concavidade baiana (SANTOS, 2002).
Como não podiam nem dispunham de armas para se defender dos inimigos, os negros utili-
zavam os seus próprios corpos para defesa pessoal. Demonstrando habilidade, força, flexibilidade,
agilidade, destreza, o negro reagiu à escravidão, desenvolvendo a capoeira (CAPOEIRA, 2000).
Os costumes dos negros – danças, religião, jogos – eram proibidos, mas, mesmo assim, eles
os praticavam às escondidas. Apenas com o código penal de 1934, Getulio Vargas extinguiu o
decreto-lei que proíbia a capoeira e a prática de cultos afro-brasileiros. A capoeira então passa a
ser liberada e dividida em dois estilos: capoeira angola e regional (OLIVEIRA; LUIZ, 2009). A
diferença entre a capoeira angola e a regional é o fato de que, na angola, os movimentos são mais
cadenciados, mais lentos e harmoniosos, e são usados mais os membros superiores, diferentemente
da regional, na qual o jogo é mais rápido, com movimento mais explosivos (PEREIRA; BRITO,
2011).
A Capoeira é hoje praticada por muitos, no Brasil e no exterior, num ambiente ordeiro,
disciplinar e saudável. Seus praticantes combinam uma excelente forma física a um ótimo estado
mental. É um exercício completo: une agilidade, força, flexibilidade e equilíbrio, num jogo que é
quase uma dança, excetuando os golpes desferidos pelos capoeiristas, o que reforça a importância
para que seja realizado um acompanhamento nutricional minucioso, proporcionando ao capoeiris-
ta performance no jogo (PORTO, 2010).
Segundo Nery et al. (2013), em seu estudo sobre o perfil antropométrico de praticantes de
capoeira, a prática de capoeira como atividade física parece ser eficaz por trazer a seus praticantes
benefícios tais como redução da massa gorda e aumento da massa magra, além de parecer impor-
tante para a manutenção do baixo risco de desenvolver doenças cardiovasculares.
Vale ressaltar, ainda, que a prática de capoeira deve ser considerada uma atividade completa,
pois pode trazer benefícios significativos no desenvolvimento das capacidades físicas, podendo
ainda ser um grande aliado na promoção da qualidade de vida dos seus praticantes (COSTA; BOR-
GES, 2010).
Estudos como o de Hirschbruch e Carvalho (2008) fazem referência à escassez de trabalhos
sobre avaliação nutricional específica para atletas de artes marciais. Pesquisas com avaliação nu-
tricional desses indivíduos são importantes para avaliar o seu desempenho físico e atlético e seu
rendimento, sendo as medidas mais utilizadas: peso, altura, dobras cutâneas, circunferências cor-
porais e, recentemente, bioimpedância.
Para verificar o perfil antropométrico dos praticantes de capoeira em seu trabalho, Nery et
al. (2013) utilizaram os seguintes dados antropométricos: medições de peso, estatura e dobras
cutâneas, obtendo os cálculos de Índice de Massa Corporal – IMC; relação entre circunferência da
cintura e circunferência do quadril – RCQ; e percentual (%) de gordura.
Santos (2011), em seu estudo com praticantes de capoeira, para determinar as adaptações
antropométricas e fisiológicas dos atletas, realizou a seguinte coleta de dados: peso, altura, circun-
ferências e pregas cutâneas, bem como realizou análise do consumo dietético com protocolo, ava-
liação de performances e perfil anaeróbico. Para calcular as necessidades nutricionais, verificou a
Taxa de Metabolismo Basal – TMB, de acordo com FAO/OMS/ONU (FAO; WHO; UNU, 1985).
Quadro 1 Tabela de equações de taxa metabólica basal.
FAIXA ETÁRIA HOMENS MULHERES
00-03 9 xP - 54 61xP - 51
03-10 22,7xP + 495 22,5xP + 499
10-18 17,5xP + 651 12,2xP + 746
18-30 15,3xP + 679 14,7xP + 469
30-60 11,6xP + 879 8,7xP + 829
> 60 13,5xP + 487 10,5xP + 569
A TMR/TMB também pode ser obtida por meio da fórmula estabelecida pela FAO/OMS/
WHO (FAO; WHO; UNU, 1985) e a partir a obtenção do Gasto Energético Total – GET pelo em-
prego do método fatorial, multiplicando o valor de gasto energético basal pelo fator equivalente à
atividade física: GEB x FA. Esta é uma das fórmulas mais utilizadas nos EUA e provavelmente no
mundo. Para o cálculo do GET, é fundamental uma descrição detalhada das atividades físicas exe-
cutadas pelos atletas, pois, na maioria dos casos avaliados pelos autores, os atletas costumam aliar
ao treinamento técnico de sua modalidade a atividades de fortalecimento muscular (musculação)
e condicionamento cardiovascular (corrida, natação, bicicleta), que contribuem para o aumento do
GET.
Importância da avaliação
Nas atividades que incluem competições em seus cronogramas e que envolvem categorias,
normalmente, existe uma pesagem antes das competições. Em modalidades como boxe, karatê e
judô, muitas vezes os atletas se inscrevem em categorias abaixo do seu peso para tirar vantagens
técnicas, porém, para chegar a esse peso desejado, o atleta é obrigado a reduzir o seu peso corporal
em questão de horas, como citam Hirschbruch e Carvalho (2008). É necessário, então, conscienti-
zar os atletas no tocante a equilíbrio nutricional e perda de peso gradual quando necessário. Esta é
uma preocupação também encontrada entre os praticantes de capoeira.
Quando o objetivo é a perda de peso, pode-se promover uma redução de 10 a 20% da inges-
tão de energia total, o que permite a alteração da composição corporal sem induzir à fome ou à
fadiga. Segundo a Diretriz da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte ([s.d.] apud HERNAN-
DEZ; NAHAS, 2009), a necessidade calórica dietética é influenciada por hereditariedade, sexo,
idade, peso corporal, composição corporal, condicionamento físico e fase de treinamento. Devem
ser levadas em consideração frequência, intensidade e duração das sessões de exercícios físicos.
As necessidades nutricionais, em termos calóricos, estão entre 1,5 e 1,7 vez a energia produzida, o
que, em geral, corresponde a um consumo que se situa entre 37 e 41 kcal/kg de peso por dia. De-
pendendo dos objetivos, a taxa calórica pode apresentar variações mais amplas, com teor calórico
da dieta situando-se entre 30 e 50 kcal/kg/dia.
A partir do presente estudo, pode-se verificar que os parâmetros utilizados pelos autores
são muito semelhantes no que tange às medidas antropométricas utilizadas para avaliar atletas
em geral, sendo mais comum utilizar medidas de peso, altura, circunferências, pregas cutâneas e,
mais recentemente, bioimpedância. Hábito alimentar, ingestão de nutrientes pela anamnese, regis-
tro alimentar de três dias e registro de 24 horas são os parâmetros mais utilizados pelos autores.
Ressalta-se que foi encontrada uma escassa oferta de trabalhos específicos com praticantes de
capoeira, sendo necessário o interesse de mais profissionais qualificados para garantir melhores
ofertas de atendimento, principalmente nutricional, para essa população de atletas, que necessita
de orientações e acompanhamento como qualquer outra modalidade esportiva.
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