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O que é isso que chamamos de Antropologia Brasileira?

Quando me confrontei com o texto escrito pelo Roberto Cardoso de Oliveira intitulado “O que
é isso que chamamos de Antropologia Brasileira?”negr

Quem chamamos? Essa pergunta é facilmente respondida quando ele traz os autores de
referência. Eles chamam. E como chamam? A partir de um olhar colonialista!

Antropologia  UNIVERSALIZAÇÃO próprio da modernidade e é do antro, do metiê dessa


dominação colonial, a partir da qual é possível se efetivar o processo contínuo de colonização,
seja do viver, mas também do saber. Esse paradigma de uma ciência universal e
universalizante, traz implicitamente justamente as finalidades do processo civilizador tratado
por Elias, por exemplo. Esse processo é violento, tanto do ponto de vista real, material, mas
também simbólico e epistêmico. Nesse sentido, falamos que a antropologia brasileira sofre
epistemicídio. Ou seja, buscou um universalismo que é baseado primeiro na universalização do
eurocentrismo e depois de uma incorporação do modo de viver, estar e pensar, decorrentes
de uma conduta imperialista norte-americana em relação aos demais países do mundo,
sobretudo os periféricos, nas palavras de Milton Santos. Esses nomes tidos como universais
traduzem na prática esse processo de colonização do saber, feito de maneira universalizante.

Essas antropologias que se pretende tratar como central ou periférico, tem a acepção trazida
claramente pela visão de uma globalização perversa, nas palavras de Milton Santos. E não
devemos nada a eles. E nós não somos cegos! Nós vemos, só reproduzimos a centralidade do
saber a partir do colonialismo.

Lélia Gonzalez, Kabenguele Munanga, Abdias do nascimento, Frantz Fanon

1) Um esforço inicial grande de embaralhar as palavras (fruto de uma Antropologia


Institucional – Darcy Ribeiro e o Serviço de Proteção ao Índio depois Museu Nacional).
Essa estratégia de retomar uma conceituação/categorização realizada numa
conferência anterior me pareceu pouco atrativa pro leitor. Até porque, eu não estive e
nem li essa palestra proferida por ele. Então quando o autor nos apresenta esse início
pouco convidativo, transfere um esforço cognitivo gigante pra quem tá lendo. Essa é
uma crítica pessoal sobre a forma da escrita. Há quem pense o contrário e valorize o
rebuscamento da escrita como forma de erudição, essa reflexão gira na orbi do campo
pessoal.
2) Quando ele se preocupa em trazer essa categorização já tão bem trabalhada em
outros textos de epistemologia, metodologia das ciências humanas, nos cansa,
inicialmente, com uma carga teórica grande, o que nos deixa meio que sem folego pra
ler com atenção o restante do trabalho.
3) Etnologia Indígena – 1ª tradição (Curt Nimuendaju - alemão)
4) Antropologia da sociedade nacional – 2ª tradição (Gilberto Freyre – família tradicional
ruralista de PE e aluno de Fraz Boas – adepto do culturalismo norte-americano)
leitura atenta de Casa Grande e Senzala, Sobrados e mucabos – traça as bases do que
entendemos como patriarcalismo aristocrático brasileiro, que povoou e povoa o nosso
imaginário e o saber científico, quando essa construção de perspectiva sobre o mundo
se difunde na nossa concepção de política, estado e sociedade. Será que também aí,
nessa formação cultural de Freire não more o germe do Imperialismo norte-
americano. Esse se apresentou na economia, na cultura, no modo de viver (american
way of life), de se vestir (calça jeans), até na forma de mascar chiclete e de conduzir os
negócios, sejam públicos ou privados. Tendo tanta abrangência, não é de se espantar
que o imperialismo norte-americano tivesse alcançado também a mentalidade dos
intelectuais brasileiros, e aí incluímos Freire, Florestan e outros
5) O aspecto perverso da colonização é essa formulação de um conjunto de ideais
próprias que irão ser difundidas e sistematizadas por um conjunto de intelectuais, que
incluem os citados por Roberto Cardoso de Oliveira mas, em certa medida, nos inclui
tb. E aí que está a perversidade. Somos capturados por isso, mesmo que tentemos
evitar. Daí por exemplo ainda nos pegamos repetindo que ler Gilberto Freyre ou Lilia
Schwartz seja importante, não sei... Realmente não consigo ainda avaliar com lucidez
se é importante ou é a sociedade e as instituições que escolhem, de modo bemmm
seletivo, o que é ou não é importante que seja lido. Reflito sobre isso.
6) O conceito de cultura utilizado por essas tradições foi importado dos EUA numa época
em que se vivia a consolidação do imperialismo norte-americano sob os países
periféricos da américa central, do sul e caribe. Era o modo de viver norte-americano.
Sem dúvidas também imprimiu um modo de pensar nos estudos de antropologia.
Crítica a esse conceito de cultura que ficou amplamente difundido no Brasil desse
período em diante, uma vez que esses antropólogos tinham força institucional. Já que
a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP foi concebida
para ser um grande centro de formação de quadros técnicos qualificados
para exercerem os altos cargos da burocracia, tal qual pensava Weber, só
que aqui estabelecida nos moldes brasileiros.
7) A mensagem é clara: quando Gilberto Freyre e Florestan são capturados pela recém
criada vanguarda do pensamento antropológico mundial, seja pelo materialismo
histórico-dialético do marxismo e do funcional-estruturalismo britânico influente na
obra de Florestan (tupinambá), culturalismo norte-americano com Freire, Darcy
Ribeiro e Curt Nimuendaju ou estruturalismo francês com o próprio roberto Cardoso
de Oliveira, esse fato, por si, já determina a posição que iremos ocupar no debate
intelectual mundial, ou seja, a de seguir a formulação intelectual produzida fora do
país, cumprindo o papel destinado aos países periféricos do sistema mundial, tal qual
alertou Milton Santos.
8) Meados dos anos 60 início dos anos 70, segundo o autor inicia-se um fecundo
momento de expansão da disciplina de antropologia no Brasil. Aí a citação que reforça
o papel da produção intelectual brasileira na periferia da intelectualidade mundial, o
que viria, posteriormente, a nos aprisionar em dois conceitos vagos e pejorativos da
representatividade da nossa identidade nacional: jeitinho brasileiro e complexo de
vira-lata. Citação: “O caráter antagônico da relação Cultura/Estrutura é substituído por
uma relação mais solidária entre os conceitos, como que refletindo o
amadurecimento da disciplina no país pelo exercício intenso da pesquisa entre nós,
pela maior vigência da reflexão teórica e pela absorção crítica de uma multiplicidade
de influências provenientes dos maiores centros de antropologia da Europa e dos
Estados Unidos, onde os limites entre os domínios da matriz disciplinar original já
tendiam a uma irreversível permeabilidade e prenunciavam uma crescente tensão
entre paradigmas". Percebam como essa citação reflete a nossa dependência
intelectual do desenvolvimentos científico dos ditos países centrais. Essa desigualdade
é marcada também internamente, quando os principais centros de pesquisa estão
situados no eixo sudeste – RJ, SP e Campinas/Brasília, historicamente dotados de
maior destaque nas ciências, por motivos diversos.

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