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TÍTULO

Revista de Estudos Anglo-Portugueses


Número 1 1990
ISSN: 0871-682X

DIRECTOR
Maria Leonor Machado de Sousa
SECRETÁRIO
Isabel Maria da Cruz Lousada
COMiSSÃO REDACTORIAL
Maria Leonor Machado de Sousa
Maria Laura Bettencourt Pires
Filipe Furtado e Silva Pinto Furtado

DIRECÇÃO E REDACÇÃO
Centro de Estudos Comparados de Línguas
e Literaturas Modernas - Linha de Acção N. o 1 -
da Universidade Nova de Lisboa, Faculdade
de Ciências Sociais e Humanas
Avenida de Berna N. o 24, 1000 Lisboa

EDIÇÃO
Tiragem: 1000 exemplares
Instituto Nacional de Investigação Científica

CAPA
Arranjo gráfico de Mário Vaz, a partir de selo existente
na Ratificação do Tratado de Ricardo II, Rei de Inglaterra
com D. João I - 1386 - Arq. Nacional Torre do Tombo

FOTOCOMPOSIÇÃO E IMPRESSÃO
Minigráfica - Coop. de Artes Gráficas, CRL
Rua da Alegria, 30 - 1200 Lisboa - Te!. 3464720

DISTRIBUiÇÃO
Imprensa Nacional - Casa da Moeda
R. Marquês de Sá da Bandeira, 16 - 1000 Lisboa

Depósito Legal n. o 36046/90


Revista de Estudos
Anglo-Portugueses
Número 1

lnstituto Nacional de Investigação Científica


Centro de Estudos Comparados
de Línguas e Literaturas Modernas
Lisboa
1990
SUMÁRIO

1. EDITORIAL

Maria Leonor Machado de Sousa 7

2. ESTUDOS

John Stevens. precursor da Lusofilia romântica

João Paulo Ascenso Pereira da Silva 9

Mr. de Moura , 01 Portugal

Paulo Oliveira Ramos 29

o percurso da primeira hist6ria da L iteratura Portuguesa

Isabel Oliveira Martins 37

3. RECENSÃO CRÍTICA

Sombras de homens brancos

Filipe Furtado 137

5
EDITORIAL

M aria L eonor Machado de Sousa

Quando em 1980 se criou o Centro de Estudos Comparados de Lín-


guas e Literaturas Modernas, contava-se já en tre os seus núcleos o de Es-
tudos Anglo-Portugueses, cujo projecto inicial se centrava no Dicionário
Bibliográfico Português de Inocêncio Francisco da Silva. Propunha-se
igualmente o apoio ao futuro curso de mestr ado na mesma área, que co-
meçou a funcionar em 1982 , pr opor cionando assi m um alargamento de
actividade e o desenvolvimento de novos project os de investigação. Fu n-
damentalmente procurava-se utilizar a formação anglística dos investiga-
dores, numa avaliação intercultural não só dos aspectos que representam
uma influência britânica entre nós como também da proj ecção de temas
e situações portuguesas além-Mancha. Tratava-se de um ter reno pouco ex-
plorado, que só pontualmente despertara algum interesse . Em tom o de te-
máticas mais significativas - em si próprias ou pela sua divulgação -
procurámos organizar projectos que, por uma investigação sistematizada,
permitissem apresentar um panorama tanto quanto possfvel completo e con-
clusões válidas. A visão de Portugal transmitida pelos viajantes britânicos,
o tratamento da figura de D. Sebastião na literatura inglesa, a divulgação
de Camões em Inglaterra, a importância cultural da participação britânica
na Guerra Peninsular têm sido a base de alguns desses pr oje ctos.
O primeiro trabalho publicado, cuja concepção rep resentava a filo-
sofia geral do que nos propúnhamos fazer , surgiu em 1982. Intitulou -se
Portugal visto pelos Ingleses (Lisboa, INIC), uma anto logia orga nizada
por Maria Laura Bettencourt Pires. Os text os nela inclufdos cobriam di-
ferentes áreas , na perspectiva interdisciplinar que tem presidido a todas
as actividades.
Da interacção Centro-Mestrado, outro s trabalhos surgiram já, dando
conta da evolução e dos resultados da investigação realizada : o volume
conjunto D. Sebastião na literatura inglesa (Lis boa, ICALP, 1985), Wil-
liam Beckford e Portugal. Uma visão diferente do homem e do escritor
(Lisboa, Edições 70, 1987), de Maria Laura Bettencourt Pires, William
Morgan Kinsey. Uma ilustração de Portugal (Lisboa, Edi ções 70, 1987),
de Isabel Oliveira Martins, e o P ortugal d e J ulia Pard o e (Lis boa, INIC,

7
1989), de Maria Luisa Fernandez Alves, a que brevemente se seguirão
mais alguns.
Também a participação em congressos e outras reuniões tem permi-
tido apresentar aspectos dos trabalhos em curso. Todavia, estes atingiram
um volume e uma diversificação que justificam o aparecimento desta re-
vista, que funcionará como vefculo de divulgação das actividades do que
é agora uma linha de acção e simultaneamente como incentivo para novos
estudos.
Muitos desses estudos serão mais longos do que se espera encontrar
numa publicação deste tipo, mas entendeu-se que não se devia limitar com
grande rigor a extensão dos trabalhos apresentados. O facto é que eles cor-
respondem a investigações de raiz, que muitas vezes significaram traba-
lho de alguns anos, sobre temas praticamente desconhecidos ou pelo menos
nunca tratados com a preocupação de uma análise exaustiva. Nessas con-
dições, não faria sentido reduzir a tópicos ou resultados toda a informação
obtida e o percurso que levou às conclusões agora apresentados.
Pelo interesse que nos move de dar a conhecer o maior número pos-
sível dos aspectos em que se traduziram as relações culturais entre Por-
tugal e a Inglaterra, decidimos abrir estas páginas também àqueles que,
não sendo embora investigadores da nossa linha de acção, connosco têm
colaborado no sentido de alargar o nosso campo de trabalho ou esclarecer
pormenores e situações que têm a ver com áreas mais especializadas. Pen-
samos que esta abertura vai permitir maior enriquecimento e variedade
às perspectivas dos estudos anglo-portugueses que pretendemos apresen-
tar nesta revista, a actividade que faltava ao trabalho desenvolvido no âmbito
desta linha de investigação.
Ao INIC, que sempre tem apoiado as nossas iniciativas, devemos uma
palavra de agradecimento por tornar possível a publicação desta revista.
que representa a concretização de um sonho de alguns anos.

8
JOHN STEVENS , PR ECUR SO R DA LUSOFILIA ROMÂNTICA

João Paulo Ascenso Pereira da Silva *

Foi ao longo do séc . XVI que em Inglaterra se iniciou a divulgação


consciente. embora mais ou menos acidental, de obras literárias portu-
guesas. Ap esar de as primeiras traduções datarem do século anterior, elas
não corresponderam a qualquer interesse especffico pela nossa literatura 1 .
Na verdade, os textos portugueses então conhecidos na Grã-Bretanha
prendiam-se com a grande aventura das Descobertas, transmitindo em prosa,
nem sempre muito elabo rada, a novidade que a vida entre civilizações exó-
ticas representava, bem como os mais recentes avanços científicos, nos
campos da Náutica , da Cosmografia e da Geografia.
Os raros textos traduzidos para inglês - os extractos da Diana de Jorge
de Montemor 2 , por Barnab y Googe , e as versões dos romances Amadis
d e Gaula e P almeirim d e In gla ter ra . elaboradas pelo poeta e dramaturgo
Anthony Munday 3, co njuntamente com um grupo de colaboradores. - em
nada contribuiram para a divulgação das nossas letras em Inglaterran ou
para o estabelecimento de laços culturais entre os dois pafses. O facto de
as duas obras terem sido edi ta das pela primeira vez em castelhano indu-
ziria os tradutores fr anceses e ingleses em erro, julgando tratar-se de ori-
gin ais espanhóis.
À restauração da monar quia po rtu guesa e da independência nacional,
em 1640, correspondeu o restabelec imento das relações entre Portugal

.. Assi stente do De part amen to de Línguas e Literaturas Modernas da Universidade dos


Açores . Mest re em Estud os An g lo-Po rtu gues es .
I Vid e João Paul o A . Pe re ir a da Silva, Memórias de Portugal. A Obra Lus õfila de John
Adamson , Di ssertação de M es trad o em Estudos Anglo-Portugueses apresentada à Faculdade
de Ciências Soc iais e Humanas da Universi dade Nova de Lisboa, 1986, Cap. I, pp. 8-22 (trabalho
a publ icar e m 1989, e m Ponta Delgada e Lisboa pela Editora Signo) .
2 Os d ois ex tra ctos fo ram publicados por Barnaby Googe na a ntolog ia Eclogs , Epyta-
phs and Sonnettes, em 156 3 . A primeira tradução integral da Diana data de 1598 e é da autoria
de Bartholome w Y oung.
3 A este propósito veja-se a obra de Henry Thomas, Spanish and Portuguese Romances
of Chivalry, The Reviva / of lhe Roma nce of Chivalry in the Spanish Peninsula, and its exten-
sion and influence abroad, Camb ridge , At the University Press, 1920; em especial o -Appendix
11-, pp. 310-3 15 .

9
e a Grã-Bretanha. É neste contexto histórico que surge a primeira tradução
consciente de uma obra literária portuguesa, ainda que de forma um pouco
ocasional. No decurso da importante actividade diplomática que o levou
a viver alguns anos em Madrid e Lisboa, Sir Richard Fanshawe publica
a quarta versão europeia de Os Lusíadas 4 numa lfngua modema e a pri-
meira em inglês.
Todavia, o tradutor viria a experimentar o destino de todos os pre-
cursores, pois o seu trabalho recebeu severas críticas dos contemporâneos,
não logrando alcançar qualquer sucesso fora do restrito círculo intelectual
que frequentava.
O final do século XVII marcará o início de um novo capítulo na his-
tória das relações polftico-diplomáticas entre as duas nações. A queda do
Commonwealth puritano, a restauração da dinastia Stuart e o casamento
de Carlos II com Catarina de Bragança abriram caminho a uma lenta di-
vulgação da herança histórico-cultural portuguesa s.
A descoberta da tradição literária e da história de um povo até aí con-
siderado semi-bárbaro pelos ingleses, ficaria, em grande medida, a dever-
-se à acção de diplomatas como Sir Robert Southwel1 e Edward Montagu,
entre outros. Assiste-se, ao longo deste período, a um acréscimo do in-
teresse por alguns dos episódios mais célebres da nossa história. De facto,
a maior parte das obras de tema português publicadas naquele período na
Grã-Bretanha era sobretudo histórica.
No entanto, os factores anteriormente citados não podem ser tomados
como factor determinante na escolha de temas portugueses por parte de
alguns autores. É forçoso reconhecer que a literatura da Restauração se
encontrava profundamente submetida ao gosto francês. A França passa-
ria, deste modo, a desempenhar o papel de intermediária na introdu-
ção de assuntos portugueses em Inglaterra. Deste modo, a esmagadora
maioria das obras inglesas, cuja temática se relacionava com Portugal, eram
adaptações de originais franceses ou não passavam de simples traduções.
Assim, enquanto John Dryden irá redescobrir D. Sebastião, figura an -
teriormente tratada pelos dramaturgos isabelinos e carolinos, dedicando-
-lhe a tragédia Don Sebastian 6, uma outra personagem histórica irá
suplantar o rei português como tema de textos dramáticos ingleses - Inês
de Castro. Contudo, até aos fins do século XVIII essas tragédias foram
sempre traduções ou adaptações de obras literárias francesas.
Outro episódio que impressionou particularmente o público inglês da
época foi a deposição de Afonso VI e o seu divórcio, que serviram de tema
a diversos relatos históricos, nos finais do séc. XVII. Entre os trabalhos
consagrados a este assunto destacam-se Portugal History 7, da autoria
de S. P. (que alguns autores pretendem identificar com Samuel Pepys)

4 lhe Lusiad, or Portugals Historicall Poem : Writtell ill the Portingall language by Luis
de Camo ens , and flOW newly put into English by Richard Fanshawe Esq .: London, Humphrey
Moseley, 1655 .
S Vid e Félix W alt er, La Litt érature Portugaise en Angleterre a L 'Epoque Romantique ,
Paris, Librairie Ancienne Hon oré Champion, 1927 , cap. I, p. 19 .
6 Don Sebastian , King of Portugal: a Trag edy , in five acts , and ill prose and verse ,
Lond on, 1690.
7 Portu gal Hist ory: or a Relation of the Troubles that Happened in the Court of Por-
tugal iII the Years 1667 and 1668, London , 1677.

10
e a obra de Robert SouthweIl The History of the Revolutions of Por-
tugal 8.
Tendo a presença de Catarina de Bragança em Inglaterra desenca-
deado um processo de intensificação das relações políticas e económicas '
entre Portugal e a Inglaterra, poderia esperar-se que outro tanto tivesse
ocorrido em termos literários e intelectuais. Porém, a estada de Catarina
na Grã-Bretanha em nada contribuiu para estimular os escritores britânicos
a uma exploração em maior escala de temas portugueses. Destas cir-
cunstâncias resultariam obras meramente ocasionais, laudatórias ou satí-
ricas, mas sem mérito literário.
De confissão católica, a rainha jamais conseguiu conquistar a sim-
patia dos súbditos ingleses, que entreviam na sua presença e na aliança
com o nosso país a ameaça de restauração da Igreja Romana. Mas foi jus-
tamente a religião que, na mesma época, levou uma outra personagem
britânica a concentrar a sua actividade literária em Portugal. Trata-se do
Capitão John Stevens, militar de origem irlandesa, católico, que, para além
de ter participado nas campanhas de James II na Irlanda 9, prestou inú-
meros serviços à Coroa Inglesa.
Embora tenha escapado incólume a quaisquer perseguições, após a
queda do monarca, em 1688, é muito provável que o novo quadro político-
-institucional, decorrente da Glorious Revolution, tenha motivado o seu
afastamento «voluntãrio- da Grã-Bretanha por alguns anos . A sua confis-
são religiosa e a estreita colaboração prestada ao monarca James II (que
jamais dissimulara as suas pretensões absolutistas e o desejo de um res-
tabelecimento do catolicismo como religião oficial de Inglaterra) levaram-
-no a escolher como local de exílio Espanha e Portugal, países que não
haviam sido afectados pela Reforma. A este propósito importa registar
aquilo que nos diz o Dictionary of National Biography:

«STEVENS or STEPHENS, John (d. 1726), Spanish scho-


lar and translator, was a roman catholic, and probably an Irish-
mano He is said to have accompanied James II in his Irish
campaigns, and to have been employed in other services by him.
He is probably to be identified with the Lieutenant John Stephens
mentioned by D'Alton (King James's Irish Anny List, p. 485).
He was not attaínted, and before 1695 had settled in London. From
that time till his death he was ousily engaged in translations and
historical and antiquarian compilations. He says nothing of him-
self in any of his numerous works, which are almost always ins-
cribed 'Captain Stevens'. The intimate knowledge of Portuguese

8 The History of the Revoluüons of Portugal , from the Foundation of that Kingdom to
the year MDCLXVll with Letters of Sir Rob ert Southwell to the Duke of Ormond; Giving a
particular Account of the deposing of Alfonso, and p/acing Don Pedro on the Throne, Lon-
doa, 1740.
9 John Stevens deixou-nos um testemunho pessoal do conflito e da sua participação nas
campanhas da Irlanda através do seu diário, intitulado lhe Journa/ ofJohn Stevens. containing
a briefaccount ofthe war in Ireland, 1689-1691. ed. by the Rev. H. Murray [ oo .] Oxford,
The Clarendon Press, 1912.

11
and of the Sp anish Language d isplat ed in hi s prefaces points to
a residence in Spain or Portugal .» o.

Apesar de a estada de Stev ens em Portugal ser co locada como me ra


hipótese pelo articulista do Dictionary of Nationai B io grap hy , ela é con-
firmada textualmen te pel o autor na dedicatória a Lewis of Feversham que
antecede a sua descrição de Portugal , Th e A ncient and Present S ta te of
Portugal (179 1):

«ln ü bed ienc e I forbear that Subj ect , and Present Your Lord-
ship with th is sh ort Description of P ortuga l ; a Kin gdom small
in it self, yet once Famou s for its Di scov eries and Conqu ests.
The De scription is short yet such as the Country will bear, no-
thing Material be ing omitted , and as for the T ruth, tak:en fro m
such Authors as have given the best Accounts of it, bes ides
wh at little Knowledge Three Year s Residen ce there co uld
ac quire me.» 11

De re sto, o grande número de obras portuguesas e espanholas por ele


traduzidas é desde log o prova irrefutável de um profundo conhecimento
dos dois idiomas, que implicou necessariamente um a longa permanência
na Penfnsul a Ibérica .
Sobre a sua origem e a su a história de vida pouco ou quase nada se
sabe. Para além da informação disponfvel no Dicti ona ry ofNational B io-
graphy, os restantes dicionários biográficos, ou obras de referência bi-
bliográfica e enciclopédica britânicas e portuguesas, simples me nte o
igno ram 12 . As bibliografias sobre literatura de viagen s são neste aspecto
tão lacóni ca s e inconclusivas co mo as anteriores, fazendo me ra referência
às suas ob ras mais co nhec idas e às respe ct ivas datas de pu blicação 13

10 Ger ald le G ry s Norgate , «Stevens or Stephe ns John (d , 1726),., in lhe Compact Edi -
tion of the Dlctionary of Na tional Biography . Complete Text R ep roduc ed Mi crographycally,
Ox ford, etc . , Oxfo rd Un ive rsity Press , 1975 , vol. II , p. 1999 .
11 «Th e Ep istle Dedicatory», in The An cient and Presem State of Portuga l Containing
the Descrip tion of that Kin gdom , its Fo rmer an d Pres em D ivision , the Manner of the Cortes
or Parliam ent [. . .] Also a Curious A ccount of the Inquisition , mui of ali the Towns and Ri vers
in the Kingdom , besides so me of the Chiefest on th e Front iers of Spain [.. .] By a Gentleman
who Resided so m e years in tha t Country , Lond on, Printed and So ld by J . Nutt, 1706 .
12 Entre as obras e os autores consultad os apenas Inoc ênc io Francisco da Silva se refere
ao nosso au tor, ma is especificame nte no arti go d o D iccion ario Bibliographico Portugue; de-
di cado a M anue l d e F ari a e So usa (Tomo V , Li sboa , Im prensa Nacional , 1860, p . 417) . O
nome de Steve ns é mencion ad o a propósit o d a sua ve rsã o in glesa da Asia Portugu esa.
13 São as segu intes as bibliografias sobre literatu ra de v iag ens que contê m referências
a Stevens: M anocl Bernardes Bra nco , Portugal e os Estrangeiros . Vol. II , Lisboa , Livraria
de A . M. Pere ira , 1879 , pp . 239, 556 , 557 , (entradas n .'" 237, 449 e 453 ); Segunda Parte,
Vol. 111 , entrada n. o 1314;
Edward God frey Cox , A Reference Guide to tire Litera tu re of Tra vei . Including Voyages .
Geographical Descriptions , Adventure s and Exp editions, Vo l l, «The Old World», Seattle, Un i-
ver sity of W ash ingt on , 1935 , pp . 117 , 118 , 122 ;
Arturo Fa rin ell l , Viajes for Espana y Portuga l . De sde la Edad Media Hasta el Siglo XX.
Divaga cio nes Bibl iográfi cas. Vol. I, M adrid , J un ta pa ra Ampliaci6n d e Estudios y lnvesti-
gacio nes Cie ntíficas, Centro de Estud ios Hist6ricos, 1920 , pp . 230 , 239 ; Vol. II, Suplemento
ai Volumen de las Divagaciones Bibliog ráfi cas . M ad rid , 1930 , p . 191.

12
Os numerosos trabalhos de Stevens em nada contribuem para um co-
nhecimento mais profundo da sua personalidade e para a reconstrução da
sua biografia. Sobre ele mesmo nada diz e nem mesmo as dedicatórias
aos patronos ou protectores, a quem oferecia as suas traduções, deixam
transparecer quaisquer dados relevantes.
A importância da intervenção de Stevens no âmbito literário e do seu
contributo para a divulgação da nossa literatura em Inglaterra reside na
originalidade revelada pela escolha das obras que verteu para inglês. Na
selecção de géneros e de autores Stevens denota, simultaneamente, uma
orientação temática de contornos bem definidos e um conhecimento pro-
fundo das letras portuguesas de seiscentos e das literaturas ibéricas em ge-
ral. Notável é, igualmente, a sua consciência do valor específico dos
escritores que traduziu, no contexto de uma época literária.
Após o seu regresso a Inglaterra, que provavelmente terá ocorrido an-
tes de 1695, estabeleceu-se em Londres, onde traduziu até 1699 algumas
obras fundamentais da historiografia peninsular.
A sua primeira rublicação foi uma versão resumida da Asia Portu-
guesa (1666-1675) 1 de Manuel de Faria e Sousa, editada em três volu-
mes sob o título de Portuguese Asia 1.5. O trabalho foi dedicado a Catarina
de Bragança a quem o autor se dirige na epístola-dedicatória que abre o
primeiro tomo. O interesse deste texto reside no facto de Stevens se re-
velar devedor de favores à Rainha, naquele tempo seu patrono literário.
Este dado poderá em certa medida justificar a exclusiva dedicação de-
monstrada pelo nosso autor, na primeira fase da sua carreira literária, à
tradução de textos portugueses. Passaremos, a título de curiosidade, a ci-
tar um trecho da dedicatória:

«To Her Most Sacred Majesty


Catherine, Queen Dowager of England, etc.

Madam, It is not the sense of the mighty Favours I stand in-


debted for, that moves me to presume to dedicate this work to
Your Majesty; for Debts to Sovereigns are above all acknowled-
gement. Nor is it Protection I sue for under so August a Patro-
ness; the Subject carries its own defence along with it, though
perhap6s the Stile be not Proportionable to such Glorious Mat-
ter.» .

Seguiu-se em 1698 uma versão do Epitome de las Historias Por-


tuguesas (1628) 17 de Manuel de Faria e Sousa, intitulada The History

14 Asia Portuguesa [00.1 de Manuel de Faria y Sousa [...] Dedicada por su hijo el Ca-
pitan P. de Faria y Sousa ai Rey Don Alfonso VI, 3 vols., Lisboa, 1666-74-75.
I~ É este o título completo da versão inglesa: The Portugues Asia: or, 'lhe history 01
the discovery and conquest of India by the Portugues; containing all their discoveries from
the coast 01 Africk, to the farthest Parts 01 China and Japan [00'] ln Three Tomes [00.] Trans-
lated into English by Capto John Stevens. London, Printed for C. Brome, 1695; (Reeditado
em 1971 por Gregg lntemational Publishers Limited, Westmead, Farnborough, Hants, England).
16 ["Dedicat6ril\JO], in lbidem, Tome the First, London, C . Brome, 1695, [p. III].
17 Epitome de las Historias Portuguesas. Dividido en dos partes. Por Manuel de Faria
y Sousa [. 00 ], Madrid, Francisco Martinez, 1628.

13
ofPortugal 18, incluindo um apêndice relatando os factos históricos ocor-
ridos a partir de 1640. Ainda no âmbito da narrativa histórica, publicaria
em 1699 uma tradução da obra do espanhol Juan de Mariana Historia Ge-
neral de Espana (1601) 19 . O Dictionary ofNational Biography 20 atribui
igualmente a Stevens um grande número de versões de originais da his-
toriografia castelhana e de relatos de viagem espanhóis .
Acresce dizer que a sua carreira abrangeu igualmente o plano lite-
rário, sendo numerosas as suas traduções de poetas peninsulares do sé-
culo XVII, que parecem ter ocupado o autor a partir de 1697. Nesse mesmo
ano surge a versão de um dos mais conhecidos exemplares de prosa di-
dáctica do séc. XVII, a Carta de Guia de Casados (1651) de D. Francisco
Manuel de Melo, intitulada The Government of a Wife 21, dedicada pelo
tradutor a D. Luís da Cunha, magistrado e diplomata português que, em
1697, seguiu para Londres como Enviado Extraordinário de Portugal. Ste-
vens, por certo, considerou que esta obra de carácter moralizador se re-
vestia da maior utilidade para a época dissoluta que foi a Inglaterra da
Restauração. Exactamente por esse motivo o tradutor não se limitaria a
verter o texto para inglês, procurando adaptar pontualmente o conteúdo
à realidade social e cultural da Inglaterra de então. É igualmente neste sen-
tido que se pronuncia o lusófilo Edgar Prestage, numa passagem do en -
saio biográfico Dom Francisco Manuel de M ello, His Life and Writings
(1905):

«Here and there he omits pages of the original because of


the differing customs of Portugal and England, and substitutes
what he considers more appropriate matter of his own.» 22

Esta obra, que foi desenvolvida, passando a intitular-se Europa Portuguesa (167 8-80) ,
não deixou de ser reeditada e acrescentada. Logo em 1726 foi autorizada em Madrid a sua
publicação como História dei Reyno de Portugal, título que os censores continuaram a referir.
Pelo contrário, a licença concedida em 1726, para a edição de Antuérpia de 1730, refere como
título Epitome de las Historias Portuguesas, que se mantém em todas as páginas mas não no
frontispício (que continua a ser o de Historia dei Reyno de Portugal) .
Qualquer que tenha sido a edição utilizada, a tradução de Stevens é e xtrema me nte liv re .
É provável que, neste caso, o tradutor se tenha servido de uma edição recen te do Ep itome ,
que corresponde melhor, em extensão , à versão inglesa, não atingindo (tal como esta) a d i-
mensão e o pormenor da Europa Portuguesa.
18 The History of Portugal, From the first Ages of the World, to the late great Revo-
lution, under King John IV in the year MDCXL. Written in Spanish by Emanuel de Fa ria e
Sousa [. . .] Translated and continued down to this presem year 1698, by Capto John Stevens,
London, W. Rogers , 1698.
19 Obra publicada pela primeira vez em latim (1592) e, somente em 1601, em caste-
lhano. O título da versão inglesa é o seguinte: The General History of Spain [.. .] The whol«
translated from the Spanish by Capto John Stevens, London, printed for Richard Sare, 1699.
20 Op. cii . , VoI. II, p . 1999.
21 Apresentada como 'lhe Government ofa Wife ; Or Wholsom and Pleasant Advice for
Married Men : ln a letter to a Friend. Written in Portuguese , By Don Fran cisco Manuel , With
some Additions ofthe Translator. There is also Added, A letter upon the same Subject , wriuen
in Spanish by Don Antonio de Guevara , Bishop ofMondoõedo; Preacher and Historiographer
to Emperour Charles V. Translated into English, By Capt oJohn Stevens, London, Printed for
Jacob Tonson, 1697; (titulo original: Carta de Guia de Casados , para que pelo caminho da
prudência se acerte com a casa do descanso. A um amigo, Lisboa, 1651).
22 Dom Francisco Manoel de Mel/o , His life and Writings with Extracts From lhe 'Letter
of Guidance to Married Men ', Manchester, Sherrat and Hughes, 1905, p . 26 .

14
Para além de ter traduzido dois dos mais célebres nomes da literatura
portuguesa do Período Barroco, Stevens verteu igualmente para inglês um
texto do poeta e viajante judeu Pedro Teixeira, nascido em Portugal em
meados do séc. XVI e morto em Antuérpia cerca de 1610. A obra em causa,
esc ri ta em castelhano, simultaneamente urna narrativa histórica e um re-
lato da viagem realizada pelo próprio Teixeira, intitula-se Relaciones dei
Orig en , D escenden ci a y Succession de los Reys de Persia y de Hormuz,
y de un Viaje Hecho desde la lndia Oriental hasta ltalia por Tierra
(161 0) 23. Porém , Stevens preferiu não traduzir toda a obra de um só fô-
lego e num único volume, publicando primeiramente a parte da relação,
correspondente ao relato da viagem da índia a Itália. Esta versão surgiu,
pela primeira vez, integrada na sua compilação A N ew Collection 01 Voya-
ges and Traveis, editada em fascículos mensais entre 1708 e 1710 24. A
tradução do restante texto de Pedro Teixeira sairia em 1715, sob o título
de History 01 Pe rsia , versão resumida e alterada, na qual o nosso autor
incl uiu comentários ocasionais 2~. .
A prova inequívoca de que Stevens não foi um mero tradutor, mas
um autêntico literato e erudito, foram as sucessivas versões que produziu
de poetas espanhóis do séc. XVII, entre os quais se destaca o nome de
Francisco de Quevedo. Igualmente neste domínio é sabido ~ue reeditou,
em 1706, a versão inglesa de Don Quixote de la Mancha 2 de Thomas
Shelton , que corrigiu e alterou, voltando a traduzir algumas passagens do
original de Cervantes. Este interesse pelo tema tinha-se manifestado ante-

23 Anvers, en casa de Hieronymo Vendussen, 1610. Não se trata, porém, de um tra-


balho integralmente original . Tendo passado uma parte considerável da sua vida em Ormuz,
Pedro Teixeira adquiriu um domínio da língua persa que lhe permitiu incluir na sua relação
traduções de textos de historiadores daquele país. Assim, as partes do trabalho dedicadas à
história da Pérsia e de Ormuz resultam, em grande medida, de uma tradução da volumosa His-
toria da Pérsia de Mir Khwãnd (Muhãmmad ibn Khãvand Shãh), 1433-1498, e da Cr6nica
dos Reis de OT7TlU<. de Türan-Shãh.
Veja-se a este propósito o prefacio à nova tradução inglesa da obra de Pedro Teixeira
da autoria de W illiam F . Sinclair e Donal d Ferguson: «Inrroduction», in lhe Traveis ofPedro
Teixeira , with his «King s of HaT7TlU<.», and Extracts from his «Kings of Persia», Translated
and Annotated by William F . Sinclair [. .. ] With further Notes and an Introduction by Donald
Ferguson, Too Hakluyt Society , 1902 , pp . XC-CVII.
24 «Too traveis of Peter T e ixe ira from India to Italy by Land», in A new collection of
voyages and traveis: wilh histori cal accounts ofdiscoveries and conquests in all paris of the
world. None of them ever befo re p rinted in English; being now first translated from lhe Spa-
nish, Italian , French , Dutch , Portuguese and oth er languages [... ], London, J. Knapton, 1708-
- 17 10, (vide Vol. II, Parte II , 1710).
Esta compilação de relatos de v iag em foi reeditada no ano seguinte sob o título de A new
collection ofvoya ges and tra veis , in to several paris ofthe world, none ofthem everbefore prin-
ted in English [. . . l , London, J. Knapton, 17 11. Nesta edição o texto de Pedro Teixeira figura
no se~o tomo.
5 lhe History of Persia. Conta ining , lhe lives and memorable action ofits Kings from
lhe first erecting of that monarchy to this tim e; an exact description of all its dominions; a
curious account of India [...] . To which is adde d an ab ridgement of the lives of the Kings of
Harmuz, or OT7TlU<.. lhe Persian history written in Arabick, by Mirkond, a [amoas Eastern
author; that ofOT7TlU<. , by Torunxa , a king ofthat is land, both ofthem translated into Spanish ,
by Antony Teixeira , who liv 'd severa l years in Persia and India; and now render íd into En-
glish , London, J . Bro wn , 17 15 .
26 lhe histo ry of the most ingenious Knight Don Quixote de la Mancha. Formerly made
English by Thomas Sh elton , now revised, corrected, and partly new translated from lhe ori-
ginal, byJohn Stevens [... ] This 2dfarlher revised and amended, London, Printed for R. Chis-
well , 1706.

15
rio rmente em Stevens, quando traduzira em 1705 a continuação de D. Qui-
xote, da autoria do espanhol Alonzo Fernandez de Avellaneda 27.
Um estudo atento de toda a sua obra revela uma evidente tendência
para a especialização, que o toma um verdadeiro precursor dos hispanis-
tas do séc. XIX:

«Miscellaneous as Steven's work was, he deserves special


recognition as a predecessor of Southey , Stirling-Maxwell, and
Ticknor in the exploration of the rich mine of Spanish literature,
and his translations of Quevedo and of the historians Mariana and
Sandoval are of real value.» 28

Se a actividade desenvolvida por John Stevens , enquanto divulgador


da literatu ra espanhola, certamente nos su rp reende pela quantidade e va-
riedade das obras traduzidas e pela importânci a dos autores que escolheu,
a sua intervenção no campo das letras portugue sas, embora mais limitada ,
não pode ser menosprezada, revestindo-se afinal de particular importância .
D issemos a este propósito que Stevens seleccionou conscientemente
autores e obras de primeira grandeza no âmbito da nos sa literatura. Mas,
para além disso, é forçoso destacar que até aí nenhum outro autor britânico
havia demonstrado um interesse tão particular e profundo pel o nosso país,
pela sua história e pelos seus escritores. Considerando o real valor das
suas traduções e o aspecto inovador do trabalho realizado , não nos parece
de modo algum excessivo que alguns autores o tenham de signado precur-
sor de Robert Southey e de John Adamson , os primeiros lus ófilos in-
gleses .
Efectuada a apresentação do autor e a apreciação ge ral da sua carreira
literária, passaremos em seguida a analisar aquel e que poderemos con-
siderar o mais inovador e original dos seus tr abalhos de temática portu-
guesa. Mais interessantes do que qualquer das tradu~ões anteriormente
refer idas, The Ancient and Present State of P ortugal 9, texto publicado
em 1701, surge como obra de divulgação, fruto das inúmeras leituras que
havia efectudo sobre o nosso país e das ex periências adqu iridas no con-
tacto directo com a realidade portuguesa.
Assumindo de novo um papel precursor, Steve ns co loca-nos, com
quase um século de antecipação, perante o tipo de trabalho que se iria vul -
garizar nos finais de setecentos, quando o afluxo de viaj antes a Portugal
levou à publicação de inúmeros relatos de viagem e de obras descritivas
sobre a cultura e o modo de viver dos seus habitantes.
Segundo o Dictionary ofNational B iography 30, a primeira edição de
lhe Ancient and Present State of Po rtugal terá surgido em 1701. Con-
tudo, o General Catalogue of Printed Books do Brit ish Museum e o

27 A continuation 01 lhe comical history 01 the most ingenioas kni ght, Don Quixote de
la Mancha . by lhe licenciate Alonzo Fernandez de Avellane da. Being a third volume; never
before printed in English. lllustrated with several curious copper cuts. Translated by John Ste-
vens . London, Printed for J. Wale and J . Senex, 1705.
21 Dictionary 01 National Biog raphy, vol. II, p. 1999 .
29 Vide supra , nota 11.
30 Op. cit. , Vol. II , p . 1999.

16
National Union Ca talogue da Biblioteca do Congresso 31 indicam, como
data da edição mais antiga , o ano de 1705 . É provável que a primeira cor-
resp onda de facto à editio p rinceps, tratando-se as restantes (1705, 1706
e 1713) de sucessivas reed ições.
Este dado poderá reflectir o êxito então alcançado por uma obra ino-
vador a. A ausência de informação sobre o nosso país e de trabalhos que
reflectissem a realidade portug uesa de um modo tão completo terá pre-
disposto os leitores ingleses par a uma leitura atenta do nosso viajante.
A descrição de Stevens peca todavia pela ausência de elaboração for-
mal e estilística patenteada pela maior parte do texto. Apesar de grande
parte da sua obra resulta r da transcrição ou síntese de alguns dos mais fa-
mosos textos da historiografi a peninsular do séc XVII, não estamos ainda
perante o relato de viagem de valor e contornos declaradamente literários.
As suas paráfrases reflectem mu ito fugazmente a qualidade do original e
as suas versões resumidas de passagens das obras consultadas não pas-
sam, em muitos casos , de listas de tóp icos, desprovidas de encadeamento
lógico.
Porém. John Steven s não pretendeu elaborar um texto literário ori-
ginal. Não se trata ainda de um trabalho individual, através do qual o au-
tor procura expôr a sua visão do país que encontrou .
Aliás , vimo s já que o nosso viajante nunca foi um autor original, tendo-
-se afirmado ao longo de toda a sua carreira literária como tradutor e com-
pilador e não como criador . Na verdade, Stevens não reclama para o seu
trabalho qualquer estatuto de originalidade. No prefácio manifesta-se, desde
logo . particularm ente escrupuloso ao revelar todas as fontes de que se ser-
viu na elabor ação da sua obra .
Deste mod o , prefere apresentar The Ancient and Present State ofPor-
tug al co mo um a compilaç ão de textos de historiografia e geografia ou de
obras sobre religião , que procurou, no fundamental , resumir e sintetizar
na versão inglesa. Stevens evita sempre a tradução literal do material bi-
bliográfico col hido , limitand o-se a produzir versões livres de alguns tre-
chos. a resumir ou tros em forma de tópicos, ou simplesmente a colher
dados fact uais e estatísticos que insere no seu texto .
Com alguma regularidade. intercala no seio do texto traduzido ou de
elementos transcritos das fontes consultadas algumas observações pes-
soais. Noutros ca sos inte rrompe as transcrições, procurando confrontar
os dados citados com a informação colhida através da observação directa,
durante a sua estad a em Portugal. Sempre que tal acontece Stevens pro-
cura deliber adamente sub lin har a sua perspectiva individual, passando de
imediato a narrativa para a primeira pessoa. Consegue deste modo colo-
car em relevo os seus comentários, destacando-os do restante corpus tex-
tual , simpl es tradução .
A única excepção ao quadro que acabámos de traçar é o capítulo cor-
respondente à descrição de Lisboa, o único de que Stevens assume e re-
clama completa auto ria.

]) Vide : B ritish Museum General Catalogue of Printed Books, Photolitographic edition


to 1955 , London , T he Trustees oflhc British Museum, 1964 , Vol. 229 (ST E B-ST E VE NSON),
pp. 911-9 13; The N ational Union Calatogue, Pre -19561mprints , London, Manscll 1978, V ol.
568, pp . 454-457 .

17
Embora lhe Ancient and Present Sta te of P ortugal seja simplesmente
uma relação sobre um país estrangeiro, não podemos deixar de a en-
qu adrar no âmbito do género que é a Literatu ra de Via gens. Não se trata
do habitual relato ou narrativa de um périplo por um ou mais países. O
texto de Stevens assemelha-se muito mais ao tra vel notebook (ou colectânea
de apontam entos de viagem), tão vul gar entre os viajantes ingleses dos
séculos XVII e XVIII que atravessavam o Continente no seu Grand Tour.
Os objectivos pretendidos com a el aboração do travel no teb ook eram
de ordem muito diversa e dependiam no ge ral das circun stâncias que
determ inavam a viagem. Através dele o viajante poderia registar infor-
mação obtida no contacto pessoal com a realidad e estrangeira e confro ntá-
-la posteriormente com os dados colhidos através de uma bibliografia
específica sobre as nações visitadas. Toda essa informação seria particular-
mente útil aos jovens da aristocracia inglesa que , na sua grande maioria,
viriam a ocupar cargos diplomáticos, militares ou governativos .
Noutros casos os factos ou episódios ano tados limi tavam-se simples-
mente a servir de tema de conversa de salão el egan te , onde o rel ato de
episódios curiosos e costumes exóticos de países distantes causava agrado
ge ral entre os convivas.
Já os viajantes dotados de maior talento literário utilizavam os ele-
mentos colhidos no contacto directo com culturas estrang eiras ou os apon-
tamentos de leituras efectuadas e sintetizadas no notebook,como ponto de
partida para a elaboração de um relato de viagem ou descrição de um ou
vár ios países. Na maioria dos casos a redacção da narrativa era iniciada
meses ou anos após o regresso à Grã-Bretanha.
Esta última hipótese poderá permitir-nos explicar a génese da obra
de Stevens. Será lhe Ancient and Present State ofPortugal a primeira versão
de um projectado relato de viagem, parcialmente de ixado sob a forma de
tóp icos ou de apontamentos? Neste caso , por que moti vo terá des istido
do seu objectivo original?
Talvez a resposta se encontre na ausência de um autêntico pendor cria-
tivo e de talento literário ou, pura e simplesmente, na inc apacidade de en-
cadear os dados coligidos, alguns anos depois de ter deix ado Portugal. Neste
ca so o autor teria decidido limitar-se a tr adu zir e resumir os textos con-
sultados para inglês, acrescentando-lhe alguns trechos já red igidos da obra
que planeava publicar.
A este propósito o prefácio de Stevens poderá ser bastante revelador.
Nel e o autor procurou apresentar o seu trabalho com a ma ior honestidade,
fazendo justiça aos autores que utilizou . Assim , o viajante refere todos
os títulos consultados e traduzidos e os capítulos da sua obra em que fo-
ram vertidos ou adaptados para o inglês :

«Two motives induce me to prefix these few lines by Way


of Preface. The one, that it is generally expec ted, and a book
seems to come naked into the World wi tho ut it [. . .]. The other ,
that I may do right to those I am obli g'd to for this Account of
Portugal, being no way desirous to ap propriate to my self ano-
ther Man's Due; and as this is no bare Translation, I could not
give every one his own in the Title.» 32

32 «To lhe Readers, in lhe Ancient and Pr esem State of Portugal , p . VI (v. supra,
nota 11).

18
Os doze primeiros cap ítulos são quase por completo fruto de uma pa-
ráfrase da Europa Portuguesa 33 de Manuel de Faria e Sousa, autor que
Stevens bem conhecia e havia traduzido anteriormente. Um terço do seu
trabalho é afinal uma tradução ou adaptação de passagens daquela obra.
O capítulo XIII , ded icad o à descrição da orgânica interna do Tribunal
do Sa nto O fíc io e da inqu isição portuguesa, resulta de uma síntese de um
original em língua latina, do ec lesiástico italiano Caesar Carena, intitu-
lado Tractatus de O.fficio sanctissimae inquisitionis et modo procedendi
in causis fidei (1641) 34. Acerca deste autor Stevens acrescenta ter sido
uma das figuras cimeiras na hierarquia da inquisição italiana.
Embora o original de Carena seja em parte um tratado dedicado à ins-
trução de inquisidores em «iníci o de carreira- e descreva de um modo ge-
ral a orgânica interna do Tribun al do Santo Ofício e as suas funções, sem
abordar especificamente a in qu isiçã o portuguesa, Stevens estava consciente
de que aquela instituição actuava em Portugal segundo métodos semelhan-
tes aos vigentes nos restantes países católicos, não obstante diferenças pon-
tuais a nível hierárquico ou de orgânica interna. Nessa medida procurou
extrai r do original de Carena a informação geral que lhe permitiria es-
clarecer os leitores sobre a Inqu isição , organismo que tanta controvérsia
gerara no seu país mas prat icamente desconhecido pela ma ioria dos seus
compatriotas.
Nos restantes capítulos , de cariz fundamentalmente histórico e geo-
gráfico , que incluem uma descrição muito sintética de todas as cidades
e vilas portuguesas 3S e uma listagem de todos os rios do país, Stevens
recorreu a um número muito variado de textos portugueses e castelhanos.
O viajante destaca, entre os autores consultados, Rodrigo Mendez Sylva,
Faria e Sousa, Juan de M ariana e Estevan de Garibay y Camalloa 36.
O nosso autor procura apresentar-se como um acérrimo defensor do
rigor nas afirmações efectuadas , acrescentando não se ter limitado a se-
guir literalmente os autores c itados. Assim, afirma ter procurado con-
firmar toda a informação por el es fornecida através de uma análise atenta
das melhores cartas geográficas da época, o que lhe permitiu indicar com
a maio r precisão po ssível a posição exacta de cada localidade mencionada
no seu texto , bem como a sua d istânc ia relativa da capital.
Este interesse ce rtamente se prendia com a formação militar do au-
tor , que durante anos dese mpenhou importantes funções no exército de

33 3 vols. , Lisboa, Anton io G raesbeeck de Melo, 1678-1680.


).4 Cremon ae , Apud Marc Antonium Belpierum, 1641.
3S Vide The Ancient and Presem State of Portugal , pp. 193-210, 211 -285, 302-310 .
36 Para além da Europa Portugu esa de Manuel de Faria e Sousa e da Historia General
de Espana de Jua n de Marian a , anteriormente citadas, Stevens terá consultado os trabalhos
de Estev arn de Garibay y Carnalloa , Los Quarenta Libros dei compendio historial de las chro-
nicas de todos los Reynos de Espa na, Barcelo na , Sebastian de Cormellas, 1628 e Illustracio-
nes genealoglcas de los Catholicos Reyes de las Espanas [... l de los christianissimos de Francis ,
y de los Imperadores de Constantinop la [. .. l, Madrid, Luis Sanches, 1596.
O viaj ante teria igualmente recorrido à obra de Rodrigo Mendez Sylva, Poblacion ge -
neral de Espana . Sus trofeos, blason es , y conquistas heroycas. Descripciones agradables, gran-
dezas notables , excelencias gloriosas. y sucessos memorables. Con muchas, y curiosas noticias,
fl ores cogidas en el estimable j ardin de la preciosa antiguedad, reales genealogias, y cata-
logos de dignidades eclesiasticas , y seglares [. .. l, M adrid, D. Diaz de la Carrera, 1645 (vide
pp. 144-195 : -Desc ripcion de i reyno de Portugal»),

19
James II. Este facto poderá, todavia, conduzir-nos a equacionar de um modo
diverso os propõsitos de Stevens ao elaborar esta obra. A preocupação ex-
cessiva do autor com pormenores geográficos, econ ómico s e estatísticos
das localidades portuguesas mencionadas, em muitos casos em detrimento
de aspectos relativos à cultura, ao carácter dos habitantes e à história do
país visitado, poderão significar que a estada de Steven s em Portugal não
foi unicamente motivada pela busca de um local de exílio. Ao longo da
sua estada o viajante poderá ter obtido inúmeros dados de interesse mi-
litar, que terá fornecido ao governo inglês em troca da auto rização de re-
gressar ao seu país . É fundamental não esquecer que, na época, a Inglaterra
re atara a sua aliança político-militar com Portugal e, graças aos diverso s
tratados comerciais firmados com o nosso país, nele exerci a uma in-
fluência económica crescente.
Em plena expansão colonial e militar a Grã-Bretanha não escondia o
seu interesse estratégico em Portugal, que pretendia gr adualmente sub-
meter à sua esfera de influência.
Os dados re velados pelo autor em lhe Ancient and Present State of
Portuga l seriam neste caso uma pequena parte da informação (e natural-
mente a mais irrelevante) que colhera ao lo ngo dos três anos que vive ra
entre nós.
Considerando a obra na sua globalidade, parece-nos justo afi rmar que
uma das partes mais interessantes e reveladoras será a descrição de Li s-
boa, que corresponde ao capítulo XIV. É da seguinte for ma que Stevens
a ele se refere no prefácio:
«After thi s follows the Description of the City of Lisbon ,
which I may in a great Measure call my own, ha ving liv 'd there
a considerable Time; tho' for fear of Mistakes I co mpa r 'd it with
several Travellers that have spoke of it, and by their Help call 'd
to mind several Things that had slipp'd my Ob servation.» 3 7

A distância temporal que o separava do período de residên cia em Lis-


boa, no momento em que empreendeu a redacção do capítulo , forçou Ste-
vens a buscar descrições de Lisboa de outros viajantes, através dos qu ai s
reconstituiu pormenores e aspectos da cidade que havia entretanto esque-
cido.
O quadro de Lisboa que nos oferece é , sem dú vida , da sua autoria.
Neste trecho da obra, tal como nos episódicos comentários pessoais in-
terpolados nas paráfrases dos autores consultados , o viajante revela-nos
inteiramente as suas impressões do país e do seu povo.
Embora a sua visão de Portugal seja, no geral, positiva, Stevens assume-
-se aqui inteiramente como cidadão inglês, não esconde ndo o de sagrado
e o espanto que algumas situações de evidente atraso da sociedade por-
tuguesa lhe causaram . É disso exemplo a passagem em que denuncia as
deficientes condições higiénicas na parte baixa da cidade de Lisboa:
-Those Streets which lye along the Sides of the Hills are the
cleanest, every great Shower of Rain was hin g away the Filth that
is cast out, for it will run down like a floo d; so that whilst the

37 «To the Re ade r», in Op , cit .. pp. VIII-IX .

20
Violence of the Ra in lasts there is often no crossing a Street wi-
thout wading above mid-leg , As for the lower Streets which lye
along the Bottoms they are filthy in the highest Degree, in wet
Weather almost impassible as tloating in Mire, there bei ng no
Shores to carry off an y Water, nor Scavengers to clear the Dirt,
except some few Hor ses with Pannires that take it away but su-
perficialIy . If these Streets be bad in wet Weather, they are not
much better in dry, in regard of the stench of the Ordure that is
continualIy thrown out; for not only the Dust of the House is cas t
into the Streets , but Chamber-pots and Close-stool s; for in alI the
City there are no Houses of Office , but they make use of lo ng
Pots, which the Cleanlier People cause to be carry'd down and
empty'd upon the Shore, but Th ousands to save the Charge of
carrying it down to the River, empty alI into the Street.. , » 3 8

No entanto, a pontual crue za das palavras de Stevens ao de screver


algumas situações da realid ade lisboeta não é, de mod o algum, represen-
tativa da visão global que nos transm ite da cidade.
Em menos de vinte páginas Stevens consegue elaborar, num to m
realista e cativante, um verdadei ro documentário da capital portuguesa no
final do séc . XVII. Num es tilo corrente e com uma invulgar econo mia na r-
rativa, o viajante traça um qu ad ro autêntico da cid ade no perfodo anterior
ao Terramoto. O seu olhar fascinado percorre o espaço que se para a barra
do Tejo do centro da capital, descrevendo suces siva me nte os arredores,
as colinas e a Baixa, com os seus palácios , edifícios religiosos e praças.
A técnica descritiva utilizada por Stevens na sua rel ação da cidade de
Lisboa, organizada em sete pontos temáticos d iferentes, parte sempre da
visão geral para a análise de um aspecto particular , nomeadamente um mo-
numento ou um edifício histórico . Um exemplo claro deste processo , qu e
ousarfamos reputar de «cinematográfico», está patente no seguinte trecho
da sua descrição:

«Within these Forts and Bar the River forms a vast Bay, sa fe
and deep, and the Shores on both Sides beautify 'd with Co untry
Houses , Monasteries Olive and O range Gardens and Vineyards.
Drawing still higher to the City , and the Channel of the Riv er
growing narrower, in the streightes t part of it stands another Port,
which they calI Torre d e B elen , or the tower of B etleh em .. . . It
takes the name from a large Village opposite to it on the No rth
Shore , which first receiv ' d it from a Magnificent Monastery of
Bernardins. . . . T his Mon astery was Founded by Emanuel King
of Portugal, under wh om Ind ia was first discover 'd , and is a most
Magnificent Structure. The Church is very large, Bui lt after the
Manner ofCathedrals; and tho ' Bea utiful and Rich in alI its Parts ,
as being adorn'd with excelIent carv'd Work, rich Painting, and
alI Manner of costly Ornam ents.. .» 39

38 Ibidem, cap. XIV, pp . 181-182 .


39 Ibidem , cap. XI V, pp. 17 9-180 .

21
Deixando de parte a descrição de Li sboa, passaremos em seguida a
efec tuar uma análise do conteúdo global da obra, bem como da visão que
Stevens transmite do nosso pa ís, empree ndendo , em último lugar, uma
avaliação do peso atribu ído pelo autor às diferentes matérias abordadas
na descrição .
Através da sua obra, o viajante parece ter pretendido oferecer aos lei-
to res ingleses uma relação, o mais co mpleta possfvel, da realidade por-
tuguesa. De modo relativamente sintético , Stevens consegue abordar neste
trabalho todos os aspectos mais pertinentes da sociedade e da cultura de
um país que, em 170 I, era ainda desconhecido pela maioria dos seus com-
patriotas.
Contudo, ao preferir traduzir e parafrasea r autores portugueses e cas-
telhanos, sem se preocupar, na maioria dos casos, em os comentar ou jul-
gar, Stevens acaba em muitos casos por se tornar acrftico . Na verdade,
o maior defeito da sua obra reside, porventura, no facto de, em certos mo-
mentos, citar e transcrever opiniões de outros esc ritores , de um modo pas-
sivo, abstendo-se de as avaliar.
Esta deficiência não deve ser, todavia, generalizada, pois, ainda que
esporadicamente, o viajante insere nal gumas transcrições comentários pes-
soais, através dos quais critica asperamente os portugueses , denunciando
aquilo que considera serem os seus defeitos e a inoperância das suas ins -
tituições.
Logo no segundo cap ítulo, intitulado -Of the Kingdom of Portugal
as it is at this Present- 40, baseado em grande medida em material colhido
na Europa Portuguesa de Faria e Sou sa , Stevens denuncia a crescente de-
cadência do pafs em contraste com os momentos áureos do seu passado.
O nosso autor refere-se neste caso ao cresc ente de spovoamento das seis
provfncias em que se dividia o Reino , procurando apontar as causas do
acentuado decréscimo populacional e do evidente estado de abandono a
que se encontravam votadas largas zonas de Portugal:

«The whole Kingdom is divided into Six Regions or Provin-


ces, alI of them formerly abound ing in Multitudes of People, so
much decreas'd of latter T imes , that at present vast Plains lye
waste for want of Hands to Till them. The Cause of this extra-
ordinary Decrease of People wa s principally their vast Conquest
abroad , which drein'd the Ki ngdo m , as also their Natural Lazi-
ness, which draws them Abroad in hop es of living more at Ease,
rather than to gain their Bread wi th Labour at home. The Uni-
versities have contributed no less towards depopulating the
Country, drawing thence great Numbers with the hope of Pre-
ferement, or desire of a more eas ie Life.» 41

Alguns capftulos mais adiante Stev en s alarga o âmbito das suas crí-
ticas às instituições portuguesas, de nunciando as situações de corrupção

40 lbidem , cap . II, pp. 7-20.


41 lbidem , cap. II, p . 9 .

22
que minavam o sistema judicial po rtuguês e tecendo contundentes críticas
ao exercício da justiça em Portugal:

-It is very strange, that the Coun trey being nothing Enlarg'd,
nor the people Multiply 'd, but rather so Diminish'd that much
Land lyes waste for want of T illers, yet the Courts and Number
of Officers for Admini st ration of Justice shou'd be so vast1y
Increas 'd, with a des ign that there might be an equal distribution
of it; and no less strange, that by how much more Officers there
are, by so much the less Ju stice is to be found [...]. What can
be more extravagant than to see in every Village that has scarce
half a Score Inhabitants, one of them, and sometimes one half
of them, empower'd as officers and Ministers of Justice? What
can these have to live upon , unless being in Power they are the
Authors of Villanies to make their own Advantage of them?» 42

Importa todavia afirmar que , apesar da aparente dureza de algumas


das críticas formuladas e do tom acutilante das suas denúncias, a visão
que nos transmite do Portugal de seiscen tos é bastante equilibrada e fa -
vorável ao nosso país. Em confronto com os viajantes do final de sete-
centos e de oitocentos, Stevens co nseguiu, sem dúvida, manter um maior
grau de di stanciamento e de imparcialidade na apreciação da sociedade
portuguesa. Embora a justeza de alguns dos seus juízos possa facilmente
ser posta em causa, deles estão au sen tes certos sintomas de etnocentrismo
e chauvinismo que impregnavam a maior parte dos relatos de viagem in-
gleses.
Stevens conhecia os portugueses e, acima de tudo, encontrara no seu
país um local de refúgio no momento em que se tornarapersona non grata
em Inglaterra . Deste modo, embora destaque claramente aquilo que con-
sidera serem defeitos, não deixa, no en tanto , de apreciar nos portugueses
as suas qualidades, procurando quase sem pre julgá-los com moderação e
rel atividade .

«They are easily porvoked and , when anger'd become Cruel.


ln boasting of the Nobility, a Fault natu ral to alI Men, they ex-
ceed most Nations. But it is a needless and ungrateful Task to
describe the tempers ofNations whom to ex tollooks too like Flat-
tery, and to decry has the Air of Prejudice,» 43

Mas o aspecto mais fascinante da visão que nos transmite de Portugal


reside no facto de o autor ser um católico , traço que inevitavelmente marca
toda a sua descrição do país e pe sou de modo decisivo no destaque atri-
buído à temática re ligiosa . Por consequência Stevens assume uma posição
radicalmente co ntrária à da maioria dos viaj antes ingleses contemporâneos
e posterior es, qu ase sempre anglicanos ou protestan tes, exaltando nos por-
tugue ses o seu fervor religioso e a sua devoção, traços de carácter ha-
bitualmente qualificados de superstição e fanatismo. Deste modo, aquilo

. 2 Ibidem , cap. VII, pp . 66-67 .


•3 Ibidem , cap. II, p. 9 .

23
que, em geral, os autores britânicos consideravam ser um dos motivos do
profundo atraso que distanciara Portugal e Espanha das restantes nações
europeias, é olhado por Stevens como motivo de exalatação:

«ln this particular the Portuguezes give place to no Nation .


Even before the coming of Christ, when Idolatry had over-
shadow'd the Universe, then were they most zealous in that Su-
perstition. After the Redemption of Man, upon the coming of the
Apostle St . James, they readly left the Worship of Satan, in which
they had been missed so many Ages, and paid their Adoration
to the great God in Heaven. Since then they have ever been found
most Zealous Assertors of Christianity at Home, and Fervent Pre-
achers ofit Abroad, a sufficient Testimony oftheir Piety and De-
votion, is the Multitude ofRich Churches and Stately Monasteries
that Adorn the Kingdom, whereof as far as my intended Brevity
will allow I shall here give a short Account.» 44

Tendo em consideração a origem irlandesa do autor e a sua confis-


são religiosa católica, não pode causar qualquer espanto o facto de o via-
jante dedicar todo um capftulo da obra à Inquisição, sem proferir qual-
quer libelo condenatório da acção repressiva e persecutória daquela
instituição. Deste modo, limita-se a citar trechos da obra de Caesar Ca-
rena, corroborando e completando a informação fornecida naquele texto
com dados obtidos noutras fontes. Dos comentários que efectua à obra do
inquisidor italiano não transparece, naturalmente, qualquer vontade de con-
testação ou denúncia dos crimes do Santo Offcio.
Na verdade, é muito provável que Stevens, cidadão de um pafs onde
o anglicanismo triunfara definitivamente em 1688 e onde os católicos, em
posição claramente minoritária, eram tolerados, mas cautelosamente vi-
giados e afastados das esferas do poder, desejasse secretamente a restau-
ração da Igreja Romana e o estabelecimento da Inquisição na Grã-Bretanha,
apesar da sua estratégica aceitação do novo status quo,
Para Stevens, Portugal, país onde passara parte do seu tempo de exí-
lio, era ainda um sfmbolo da resistência contra a Reforma e a «heresia pro-
testante» , funcionando como baluarte do catolicismo e garante da
propagação da fé cristã pelo mundo. Esse era claramente um dos motivos
da sua admiração pelo povo português, que o levava a atribuir um peso
excessivo a matérias religiosas, em detrimento de aspectos a que a ma-
ioria dos viajantes dedicava particular atenção - a história, a herança
literária e intelectual, os costumes e o carácter do nosso povo.
Stevens, pelo contrário, preferiu dedicar uma parte considerável da
sua obra à relação pormenorizada das instituições monásticas e das prin-
cipais obras religiosas, comprazendo-se em efectuar exaustivas listagens
de todos os santos e homens devotos venerados pelo nosso povo. Não fal-
tam igualmente referências a todos os milagres por eles praticados, aos
locais onde as suas relíquias se encontravam guardadas, bem como a to-
dos os santuários que então lhes eram dedicados em Portugal.

44 Ibidem , cap . VI , p . 48 .

24
A excessiva dedicação do autor à temática religiosa certamente ge-
ra rá, numa primeira leitura, uma natural estranheza. Ela poderá afigurar-
-se -nos parad ox al e até ridfcula, por provir de um cidadão britânico, no
in íci o do séc. XVIII, em pleno Iluminismo. Contudo, importa entender
que a insistênc ia de Stevens na abordagem destes assuntos se reveste de
um particu lar significado. Ela reflecte, de modo implfcito, uma clara
consciênci a da importância que a rel igião assumia no quotidiano dos por-
tugueses e um evidente entendimento da sua religiosidade, em todas as
suas formas e manifestações. Finalmente, o nosso autor demonstra ainda
conhecer o pod er real da Igreja em Portugal, enquanto instituição, e a sua
dec isiva influência nas esferas política, económica e social.
A complexidade da obra de Stevens, o variado espectro de temas nela
ab ordados, bem como a diversidade das fontes a que o autor recorre u na
sua elaboração , j ustificariam uma análise exaustiva e atenta que, todavia,
ex cede por completo os objectivos deste estudo. Mas, não obstante o ca-
rácter limitad o e parcelar da nossa abordagem, os dados que a partir dela
obtive mos permitem-nos afirmar que The Ancient and Present State ofPor-
tugal con st itu i um autêntico marco na história da literatura de viagens so-
bre Portugal, reve stindo-se simultaneamente de elevado interesse enquanto
documento de uma época da nossa história.
Tendo em co nta os dados fornecidos ao longo da nossa análise, será
l ícito concluir qu e St eve ns transmite, através da sua obra, uma visão di-
ferente do país visitado, que em tudo se distancia do tradicional olhar in-
glês sob re Portugal. Esta diferença pressupõe da parte do autor uma invulgar
abertura e re ce ptividade face à sociedade portuguesa.
De fac to, a sua clara sensibilidade a facetas e aspectos da realidade
nacional , habitualmente rejeitados pela maioria dos seus compatriotas,
permitem-lhe apreciar com relativa coerência e equilíbrio o universo cul-
tural português.
Contudo , O seu posicionamento de abertura e simpatia em relação ao
país que conheceu não é generalizada. Não devemos esquecer que Ste-
vens era, aci ma de tudo , um estrangeiro, cuja perspectiva da realidade por-
tuguesa era necessariamente distanciada. Ao olhar «de fora- o país, o
viajante mantinh a a lucidez e a racionalidade que lhe pe rmitiam re pudiar
ou cla ssificar de ne gativos certos traços da mentalidade nacional. De ste
modo , denuncia sucessivamente o desinteresse dos portugueses em relação
ao seu próprio país e o abandono a que votavam a metrópole, com as suas
inexploradas riquezas e potencialidades, para buscarem u ma promessa de
ilusório enriquecimento nas colónias. O governo português não escapa
igualmente às suas críticas, sendo indirectamente acusado de inoperânc ia,
pela manifesta incapaci dade de promover a exploração das riq uezas do sub-
solo, pela situ ação de abandono dos campos, num país cujas potenc iali -
dades agrícolas eram largamente reconhecidas, bem como pela ausência
de incentivos ao desenvolvimento do comércio e à criação de novas ma-
nufacturas .
É igualmente notório o poder de observação do autor, ate nto a por-
menores do carácter nacional que eficazmente enumera na sua caracte-
rização do homem português. Contudo, Stevens, apesar dos seus propósitos
de imparci alidade e rigor, confere um claro destaque aos traços mais

25
negativos, atribuindo às suas naturais qualidades um carácter lendário e
referindo-as como mero dado histórico, sobre o qual prefere não tecer con-
siderações:
«As to their Garb, the Portugueze Commonalty of the better
Sort are plain, but well enough habited, but the meanest Sort for
the most part bare-footed and bare-legged , They have former1y
been Famous for Martial Affairs, Learning, Zeal towards Reli-
gion, and Lave to their Native Princes, besides other notable
Qualities their Authors assign them, which we shall pass by in
silence.» 45
No entanto, Stevens redime-se, ao longo da sua obra , desta apreciação
notoriamente preconceituosa, acabando por reconhecer nos portugueses
todas as qualidades acima citadas , para além de outras que implicitamente
lhes atribui - a devoção religiosa, a destreza e valor militar, o orgulho
nacional e a estima pel os seus rei s, ou ainda o espfrito de aventura que
lhes permitira erguer um império.
Atento a pormenores e traços de carácter menos lisongeiros, Stevens
refere-se pontualmente à sua indolência natural, à inércia e à generalizada
corrupção , que impedia a normal aplicação da justiça e grassava nas vá-
rias instâncias governativas .
Part icularm ente interessantes são os co mentários que tece acerca das
relações entre os sexos e da situação da mulher em Portugal. A este pro-
pósi to manifesta abertamente o espanto e o repúdio que lhe causavam os
sentimentos de ciúme que dominavam, de um modo geral , elementos de
ambos os sexos, assim como a situação de gritante submissão e completa
ausência de liberdade a que a mulher se encontrava sujeita .
-Both Men and Women are jealous even to ex travagancy, and
this is so frequent that it may pass for an Epidemical Distemper.
And doubtless the great confining ofWomen proceeds rather from
this Cause than , as some will have it, from their own Modesty.
It is true oflate Years the Female has gain'd some more Liberty
than was formerly allow'd them, which makes good my Asser-
tion, for they struggle hard many Years to gain a little, and Cus-
tom scarce prevails upon the Men to allow of ir, but with very
great regret.» 46

Embora a sua análise do carácter nacional sej a nalguns pontos coe-


rente e j usta, em muitos aspectos, Stevens, pretendendo ser o mais rea-
lista e justo possível, acaba por se tomar sarcástico e ag ressivo, verbe-
ran do vio lentas crfticas aos portugueses. Tais comentários, sendo em mui-
tos asp ectos semelhantes àqueles que viajantes dos sécs. XVIII e XIX
reg ista ram nos seus relatos , não resultam porém de um evidente precon-
ce ito em relação a um pafs considerado bárbaro e atrasado, mas à neces-
sidade sentida pelo autor em manter um certo distanciamento crftico em
relação aos textos portugueses citados ou traduzidos.

45 Ibidem, cap . II, p . 9 .


46 Ibldem , cap . IX, p . 87 .

26
Fo i já largamente referido neste trabalho o profundo interesse de que
se reveste a obra de Jo hn Stevens, pela variedade .dos seus interesses li-
terários e pelo ecletismo de mo nstrado na selecção dos autores e da s obras
que traduziu. As sua s versõe s em 1fngua inglesa abrangem textos literá-
rios portuguese s e esp anhóis e um número importante de trabalhos de his-
toriografia , de origem peninsular e francesa. Paralelamente a este tipo de
actividade, o D ict iona ry of National Biography atribui-lhe igualmente di-
versas traduções de um texto sobre a história das instituições monásticas
da Grã-Bretanha 4 7 , assim como dois trabalhos da sua autoria, versando
a me sma temática 4 8 , qu e preten d iam ser uma continuação da obra tra-
duzida. Mais importan te do que os dados anteriores é a not fcia veicu lada
pela mesma fonte, que atribui a Stevens a primeira versão em 1fngua in-
glesa da Historia Eccles iastica Gent is Anglorum 49, do monge latinista Rede.
Ao longo de ste trabalh o foi nosso objectivo exclusivo apresentar no
geral as traduçõe s de obras portuguesas de Stevens e efectuar uma análise
sumária do trabalho ded icado ao nosso país , Th e Ancien t and Pres ent S tate
ofPortugal. Inte ressou-nos, no fundamental provar que o nosso au tor fo i,
no final do século X VII, um precursor dos lus ófil os e que a sua obra cons-
tituiu , afinal, um a antecipação do trabalho por eles iniciado um séc ulo
mais tarde .
Um es tudo exclusivo da sua obra dedicada a Portugal, que não tenha
em conta os trabalhos realizados no domínio da literatura espanhola , torna-
-se nece ssariamen te insatisfatório. Na verdade os seus tra balhos ded ica-
dos às literaturas pen insulares não podem ser estudados independentemente.
Em primeiro lugar, tod os os autores que Stevens traduziu situam-se, a ní-
vel cronológico, na primei ra metade de seiscentos, época em que Portu-
gal e Espanha se en con travam unidos sob a égide da casa real espanhola,
situação que conduziria a um intenso intercâmbio cultural e literário entre
as dua s naçõe s . Por ou tro lado , os escritores portugueses que escolheu
- D. Franci sco Man uel de Melo e Faria e Sousa - não só produziram
text os em ambas as línguas pe ninsular es, como residiram por largos anos
em Espanha , onde ce rtame nte mantiveram contactos co m os auto res cas -
telhanos traduzidos por Stevens.

47 Mon asticon ang licanum: or, lhe history of the ancient abbies , monasteri es , hospi-
tais , cath edrals an d colleg iate churches , with their dependen cies , in England and Wale s : also
of ali such Scotch, Irish , and French monas teries , as did in any manner relate to those in En-
gland I...J First publish 'd in Latin by Sir William Dugdale [. . oJ To whi cb are no w added , exact
catalogues ofthe bishops of the severa/ dioceses , to the y ear 17170 lhe whole cor rected, and
supplied with many useful additions by an eminent hand, Lon don, Printcd by R . Har bin fo r
Do Browne an d J. Smith, 1718.
48 lhe history of the ancient abbeys, monasteries, hospitais, cath edrals and co lleg iate
churches. Bein g two additio nal volumes to Sir William Dugdale 's Monasticon anglicanum: con-
taining the ori ginal and first estab llshme nt of ali lhe religious orders that ever we re in Great
Britain [' . .J, By J ohn Stev ens I...J, 2 vols., London , Printed f or J , Smith , 1 722-23 . Monas-
ticon hibernicum . ar, lh e monastical history of Irel and, London, Wo Mears, 172 2 , (ve rsão
alargada e alterada da Histoire Monastique d 'lrlande de Alemandy .
49 lhe ecc!esias tical history of lhe English nation , from the coming of Julius Caesa r
into this island, in the 60th year before the incarnation of Ch rist, till the y ear of Ou r Lord
731. Written in La tin by Venerab /e Bede , and now translated into Eng lish from Dr. Smith ':s
edition . To which is added, lhe life of the auth or, London, Printed fo r J Batl ey a nd T . Mei g -
o

ham, 1723.

27
Uma análise coerente da sua obra implicará igualmente uma análise
exaustiva das suas traduções, versões livres e adaptações, que deverão ser
pormenorizadamente cotejadas com os originais. Como se sabe, John Ste-
vens excede, nalguns casos, largamente as funções do tradutor, assumindo,
de modo mais ou menos declarado, o estatuto do autor. Assim, obteve
versões de tal modo livres, que resultariam em autênticas obras autóno-
mas, independentes dos originais.
Através deste ensaio pensamos ter contribuído de algum modo para
a redescoberta de John Stevens e da sua obra, oferecendo algumas pistas
para análise de um dos seu trabalhos e sugestões para uma abordagem glo-
bal das suas traduções e textos originais.
Não obstante o vasto número das suas contribuições para a divulgação
das literaturas peninsulares na Grã-Bretanha , ele é hoje em dia pratica-
mente ignorado. Toma-se por isso urgente recuperar a sua obra e apro-
fundar o seu estudo, processo que previamente implicará a redescoberta
do próprio autor, personagem multifacetada, cujas origens e história de
vida permanecem desde há muito mergulhadas no esquecimento. .

28
MR. DE MOURA, OF PORTUGAL

Paulo Oliveira Ramos *

Em finais do 1. o quartel de Setecentos, a arrabaldina zona de Belém


é marcada pela compra por D. João V de seis quintas, entre as quais a
dos condes de S. Lourenço, que se passou então a designar por Quinta
Real da Praia 1.
Terá sido perto desta quinta real e do seu palácio - este feito edificar
sobre os areais da praia por volta do segundo quartel do século XVI por
D. Manuel de Portugal e, há pouco, posto a descoberto após uma inter-
venção arqueológica - , que teve lugar o acontecimento noticiado pela
Gazeta de Lisboa de 6 de Fevereiro de 1742:

PORTUGAL
Lisboa, 6 de Fevereiro.

A Rainha nossa Senhora com os Principes, e o Senhor infante D. Pedro foram


a huma das Cazas Reaes de Campo do sitio de Belem , a que chamam da praya , e
alli viram as operaçoens de 2. máquinas, as quaes por meyo do pezo do ar, e da força
do vapor, levantavam agua ; dando o frio ocasiam, a que o pezo do ar podesse tomar
a reduzir em agua os vapores, em que o calor a tinha transformado. El Rey nosso
Senhor com o Principe, e o Senhor Infante D. Antonio tinham já visto a operaçam
destas maquinas, que sam as que os Inglezes chamam simples, as quaes em terras
abundantes de lenha sam de grandissima utilidade. Deve-se a sua primeira origem
ao Marquez de Worcester, e o invento da sua pratica ao Capitam Severi, ambos de
Naçam Ingleza, e o moverem-se por si mesmas com mais algumas circunstancias aten-
diveis ao Doutor Bento de Moura Portugal, Superintendente, e Conservador das fa-
bricas Reaes da fundiçarn da artelharia da Comarca de Thomar, Socio da Real
Sociedade de Londres, que assistiu ás mesmas operaçoens, e fez armar as maquinas .

.. Assistente est agiário na Universidade Aberta .


I Sobre a «Quinta Real da Praia» e a zona de Belém ver a evocação hist órica Restello,
a - par - de - Lisboa . colectânea de textos de José M attoso, Paulo Oliveira Ramos, Walter
Rossa e Clementino Amaro, in Concurso para o Projecto do Centro Cultural de Belém , Lis -
boa, Instituto Português do Património Cultural, 1989. pp . 112-134.

29
Seja-me permitido um breve discurso: os anos anterio r e posterior a
1742 são de capital importância para a biografia de Bento de Moura Por-
tugal (1702-1776). Em 1741, em 5 de Fevereiro, havia- se to m ado o 11. o
português membro da Royal Society de Londres , e , daí, aparecerem as
in iciais F .R .S . , que significam Fello w 01 the Royal Soci ety, à frente do
seu nome , como se verá adiante . Em 174 3, po r ou tro lad o , haveria de ser
denunciado à Inquisição, que o manteria so b vigilânc ia até 1748, ano em
que se retratou.
Pressionado, talvez, pelo fa ntasma da Inquisição, Bento de Moura faz
en tretanto chegar à Royal Soci ety uma mi ssiva, dat ada de 30 de Dezem-
bro de 1751, em que dá conta do se u «inventio novi motüs machinae
simplicis sese sine externa potentia moventis ad aquam ope ignis ele-
vandam- 2 .
Se rá a partir dessa carta que John Smeaton (1724-1792) , ele também
um F.R.S., lerá na sessão da R oya l Society de 9 de Novembro de 1752
uma memória, publicada po steriormente no volume 47 das Philosophical
Transactions sob a epígrafe «LXXII An engine for raising W ater by Fire;
being an Improvement of Savery's Construction , to render it ca pable of
wo rking itself, invented by M r. de Mour a of Portugal , F .R.S. de scribed
by Mr. J. Smeaton-, e que mais à frente reproduzim os. Seg undo cremos.é
a primeira vez que esta memória é impressa na íntegra (texto + de senho)
numa publicação portuguesa.
Em Ju lho de 1760, dez anos depoi s de ter sido nomeado fidalgo ca-
valeiro da Casa Real, Bento de Moura Po rt ugal fo i preso e metido no se-
gredo do forte da Junqueira. às ordens de Po mbal . es te. curiosame nte .
também um F .R.S. 3 . Aí, Be nto de Moura virá a redigir vário s text os ,
escritos «em papel pardo. com penna feita de ossinho de gallinha, e tinta
de ferrugem, e do fumo da cândea [.. .] se mpre da mei a noite por diante,
temendo que se escrevesse a outra hora, o não viessem acha r escrevendo;
porque era este. segundo elle diz, o ma ior crime, que dentro daquellas
paredes se podia cornrnetter- 4.
Coligidos por António Ribeiro Sarai va e ed itados pela Imprensa da
Universidade de Coimbra em 182 1, com o títul o In ven tos e Varios Planos
de melhoramento para este rein o , escritos nas prisões d a Junqu eira, aí
se poderá encontrar, numa das cartas que deixou ao Conde de S . Lou-
renço - preso como ele no forte da Junqueira - uma listagem da s suas
princi pais descobert as. Depois de referir , entre out ros in ventos, a «barca
de Sacav ém- ou o p rocesso de encana me nto do rio Tej o por alturas da
Vila Ve lha , Bento de Moura escreveu com modéstia : «Fora disto também

2 Referida p or Alberto Telles de U tra Machado, Bento de Mou ra Portugal . M emó ria
apresentada à A cademia Real das Scien cias de Lisboa , in «Memórias da Acade m ia Real das
Sciencias de Lisboa . Classe de Sciencias M oraes , Politicas e Bellas - Le ttras», Nova série,
tomo VI , parte II , Lisb oa, Typographia da Academia, 1892 , p. 14.
3 Enviad o extraordinário a Londres em 1738, foi eleito F .R .S ., segura me nte não por
razões cien tífi cas, e m 15 de Maio de 1740. Tendo sido o 10. o po rtu guês membro da Royal
So ciety - segundo a listagem de Rómulo de Carvalho - posiciono u-se , ass im, imediatamente
antes d o Dr. Bento de M oura Portugal.
• Antóni o Ri beiro Saraiva, Notícias preliminares sobre B. M. Portugal, in «Inventos e
Varias Planos de Melhoramento para este Reino ; escriptos nas prisões d a Junqueira» , Coim-
bra, Imprensa d a Universidade, 182 1, pp. XXIII-XXI V.

30
julgo ser attendível algum credito. que resulta á Nação Portuguesa do Mo-
vimento da Maquina Simples de Fogo. que inventei em Inglaterra; como
se póde ver nas Transacções da Academia Real das Sciencias de Lon-
dres» 5.
Apesar da sua relevância. o invento de Bento de Moura - felizmente
registado nas páginas das Philosophical Transactions e que ora relembra-
mos -. caiu no olvido, tal como. já escrevia em 1892 Alberto Telles de
Utra Machado nas Memórias da Academia Real das Sciencias de Lisboa,
havia acontec ido co m o seu autor: «Estimado egualmente por dois sobe-
ranos. D. João V e D. José I. bem visto da rainha D. Mariana Victoria
de Bourbon, e venerado dos contemporaneos illustres, assim no reino
como fóra d'elle, está hoje quasi de todo esquecido Bento de Moura
Portu gal- 6.
Vale a pena desde já - e. concretamente. quando estamos a menos
de dois anos e meio do seu 250. o aniversário - chamar a atenção para
a máquina a vapor pioneira de Bento de Moura Portugal ; que é. sem som-
bra de dúvida, um marco a assinalar no panorama cultural do nosso sé-
culo XVIII. sobretudo no campo da Técnica.
E. diga-se de passagem. que a «Maquina Simples de Fogo- do Dr.
Bento de Moura não é um oásis no nosso quadro técnico setecentista. Com
efe ito. outros casos - como as experiências aerostáticas de Bartolomeu
de Gusmão . os engenhos da Moeda devidos a António Martins de Al-
meida ou. ainda. mais para o final do século. as tentativs do tenente-eoronel
do Real Co rpo de Engenheiros Francisco António Rapozo para construir
-h üa máquina de vapor em grande», como escreveu José Acúrsio das Ne-
ves -. colocaram o Portugal de então a par da revolução que fez o ho-
mem saltar de um estádio que tinha por base o trabalho manual e o uso
das energias animal. eó lica e hidráulica a um estádio que teria como base
a máqu ina e o vapor como principal fonte de energia.

S Bento de Moura Portugal , In ventos e Varias Plan os de Melhoramento para este R eino;
escriptos nas prisões da Junqueira, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1821, pp. XLII-XLIII.
6 Albe rt o Telles de Utra M achad o, op . cit o p . 1.

31
LXXII. An Engine for roifing Water by Fire;
lJeing an Improvement of Savery'r Conftruc-
tion, to render it capable of working i/fe'f,
inuented by M1". De Mou ra of Portugal,
F. R. S. deJe1"ibed by Al1". J. Smeaton.
Read N ov . 9, THIS engine confiíls of a receivcr, a
J 75a. . fieam and an iujeétion-cock , a
fuétion and a forcing-pipe, each furniíhed with a
valve; together with a boiler, which, on account of
its bulk and weight, is not fent with the refi; but,
as it may be of the common globular íhape, and
having nothing part icular in its conílruétion, a de-
fcription of it will not be neceífary, as alfo the
refi of thefe parts already ment ioned bcing eífential
to every machine of this kind, a further account
of them may be difpenfed with, What is pe-
culiar to this engine is a fIoat within the receiver,
compofed of a light ball of copper, which is not
100fe therein, but fafiened to the end of an arm,
which is made to rife and fall by the float, while thc
other end of the arm is faílen'd to an axis j and, con-
fequently, as the float moves up and down, the axis
is turned round one way, or the other. This axis is
made conical, and paííes th rough a conical focket;
which lafi is folder'd to the lide ofthe receiver. Upon
one of the ends of the axis, which projeéts beyond
the focker, is .6.tted a fecond arm, which is alfo moved
backward and forwa rd by the axis, as the fIoat rifes
or falls, By thefe means, the rifing or falli-ig of the
furface of the water within the receiver communicates
a correfpondent motion to the outfide, in order to
give

32
P/II/OS . Ií·ans. VoI .XLVIl. TAB .X1X. 1' . 437 '
G G

33
[ 431 ]
gi.ve propu motions to the refi: of the geer, whieh
regulates the opening and íhutting of the fream
and injeétion-cocks j and ferves the fame purpofe as
the plug -frame, &c. in Newcomen's engine. The
particular conflruétion, and relation of mofe pieces,
will better appcar by the figure and references, than
can be done by a general defcription,

A B ao arm, which is fafiened to


a b, a conieal axis, whieh goes through a conical
focket in
C, a triangular piece folder 'd to the receiver. This
piece has this íhape, to give liberty to the arm to
riíe and falI, that carries the float ou the iníide.
,DE is a fmaU cifrem, folder 'd to the reeeiver j which,
being kept fuU of water, keeps the axis and focket
air-tight. This ciítern is confiantly kept fuU of
water, by means of a fmaIl leakage through the
wooden peg c, whicb folIows the packthread c d
to the ciítern,
e, is a fmall weight to counterpoife the float within,
{, is a ílider , whic.h being fet nearer to, or farther
from, the axis, will rife, or fall, a greater or
leííer fpace, as may bc required j and is fafiened
by rhe ícrew g. This ílider is furniíh'd with ~
turn-a.b~, h i, whieh is allO faftened by a fcrew
and nut at the end i, and ferves to adjufi: me
length of
'FG G fi, a chain, which gives motion, by means of
. the íhorter chain k I, to
lKL, the balance, which opens and Ihuts the cocks ,
andmoves upon the fmall axis L .
G G are two pullies, fupported by two arms, that are
faftcn'd to the fide of the receiver, and give the
chain,

34
[ 43 8 ]
chain a proper direétion in order to move the ba-
lance.
MN is the fieam-cock; the end N heing fuppofed
to be detached from a pipe, that gives it com-
munication with the boiler,
O is the iojeétion-cock, whofe key is turned by the
arm Om.
P ${, is the injeétion-plpe, communicating between
the forcing-pipe above the valve, and the top of
the receiver.
R S is the arm, by which the key of the fieam-cock
is worked,
I K two rollers annexed to the balance, which, by
ftriking upon the arm RS, open and íhut the
fteam-cock, as the balance is moved backward and
forward.
R n o is the fream-eock's key-tail, which is furniíhed
with two fmaIl rollers, fJ,O, which open and íhut
the injeétion-cock, by aéting upon the arm O m in
fuch a manner, that, when the fieam-cock is
opened, the injeétion is fhut, and 'Viu -uerfa,
T is a bell of advice, which, moving along with the
balance, continues to ring as long as the engine is
at work.
V is a cock, which ferves to difcharge the air from
the receiver, and is open'd by hand, when nece1fary.
W is a weight fufficient to raife the balance to a per-
pendicular poíture, when it is inclined to the right,
and alfo to overcome the friétion of the float, axis,
pullies, chain, &e.

To put the engine fi motion, prefs down the arm


AB, which will bring the balance over to the right
Cide, and in its motion will open the fleam-ccck, and
íbut

35
íhut the injection j
r *43 8 ]
fet open the cock at P, tbat the
air may be difcharged by the entrance of the ficam
into the receiver• . This heing done, fhut that cock,
and let go the arm , the weight W will bring over the
balance to the lefr, and in its motion Ihut the fteam-
cock, and open the injeétion ; this prefently condenfing
the fleam into water, in a great meafure leaves a
»acuum in the receiver. Things remain in this fitu-
ation, till the preífure of the atmofphere has caufed
the water to mount thro' the fucrion-pipe into the re-
ceiver, where, as its furface rifes, it caufes the float to
afcend ; and, depreffing the arm A B, raifes the ba-
lance, till it has paífed the perpendicular; and, in its
defcent, which is done by its own gravity, the roller K
lays hold of the arm RS, again opens the íteam-cock,
and íhuts the injection. The receiver being now ai-
mail: filled wit h water, the balance cannot return, till
the furface of the water therein fubfides, and fuffers
the float to deícend. This is performed by the elaíli-
city of the fieam; which, at the fame time that it fil1s
lhe receiver, drives out the water thro' the foreing-
pipe; and when the furface is defcended fo low, as to
fuffer theweight W to bring the balance beyond the
perpendicular towards the left; it then falIs of its own
accord, and, in falling, the roller Ilays hold of the arm
RS, íhuts th e fteam-cock, and opens the injection, as
before,
When the engine is defired to be ílopp'd, obferve,
when the balance lies to the right, to turn round the
arrn O m of the injection-cock, fo that the tail of the
fieam-cock may mifs it in the next motion j fo that, at
the fame time th at the receiver is fill'd with ficam, and
the fieam· cock fhur, the injection not being opened,
tne motion will ílop for want thereof. r,

LXXIII.

36
o PERCURSO DA PRIMEIRA HISTÓRIA DA LITERATURA PORTUGUESA

Isabel Oliveira Martins *

ABREVIATU RAS

Neste artigo, designaremos da seguinte forma os três textos mais


citados:

1. - Bcsquejo da história da poesia e língua portuguesa -Bosquejo-


2. -Esqu ísse d'une histoire littéraire du Portugal- -Esquisse-
3. -Brief Review of the Literary History of Portugal- «Brief Rev íew-

Em relação às mesmas obras , optámos por referir as páginas no pr ó-


prio corpo do texto . As do «Bosquejo- são da edição de 1826, enquanto
que as de -Esquísse- e de «Brief Rev iew- correspondem à paginação que
lhes foi dada neste trabalho.

.. Assistente na Faculdade de Ciê nc ias Sociais e Humanas.

37
o estudo das relações anglo-portuguesas, nomeadamente no âmbito
dos relatos de viagens de ingleses sobre Portugal, tem-se revelado um campo
de trabalho profícuo na descoberta de informações sobre assuntos de im-
portância relevante para a história da cultura portuguesa.
No caso presente a análise da obra de William Morgan Kinsey, Portugal
Illustrated 1, mais especificamente da 2. a edição, confrontou-nos com uma
-Second Suplemmentary Letter-, intitulada -Brief Review of the Literary
History of Portugal- 2 , que não tinha sido publicada na 1. a edição. Bas-
tante extensa , versava , tal como o título indica, a história da literatura
portu guesa. Facto estranho, desde logo, pois Kinsey não sabia uma pa -
lavr a de português, mas o autor apressava-se a explicar no prefácio:

«The information supllied to the author on the literature of


Portugal by severalleamed Portuguese, and more especially by
his accomplished friend, the Chevalier de Almeida Garrett, [.. .],. 3

Na realidade , a ajuda prestada por Almeida Garrett fora bastante su-


perior àquela que esta afirmação deixava antever. Através da investigação
efectuada, verificou-se ser a carta acima referida uma tradução quase di-
recta de um manuscrito de Almeida Garrett 4.
Escrito propositadamente para o autor inglês ~, nunca chegaria a ser
publicado a não ser na «versão inglesa». Assim, o nome de Garrett não
apare cia como autor e, por essa razão, muitos enganou 6. Um deles foi,
por exem plo , Fidelino de Figueiredo, que, supondo ter sido Kinsey o au-

I W illi am Morgan Kinsey, Po rtu gal Illustrated, London, 1828 . A 2 . a edição é de 1829 .
O estudo desta obra foi feito pela autora des te artigo e encontra-se publicado sob o título, Wil-
liam Morgan Kinsey: Uma Ilustração de Portugal, Lisboa , 1987. A partir daqui, salvo in-
dicação em contrário, a edição da obra de Kinsey referida será sempre a segunda.
2 lbidem , pp. 525-564.

3 Ibidem , pp. xi-xii. .


4 Trata-se do manuscrito 82 do Inventá rio do Esp6lio Literário de Garrett de Henrique
de Campos Ferreira Lima, Coimbra, 1948, p. 19 . Intitula-se «Esquisse d ' u ne histoire Iitt éraire
du Portugal». Ferreira Lima, ao inventariar o manuscrito 82, refere-o como sendo uma t ra -
. dução do m an usc ri to 80, ou seja, do «Ensaio sobre a historia da Lingua e da Poesia P ortu-
guezas título que Garrett tinha atribuído incia1mente ao «Bosquejo da História da Poesia e Lingua
Portuguesa» , pu blicad o in Parnaso Lusitano [. .. l, tomo I , Paris , 1826, pp . v-Lxvij.
5 Esta certeza baseia-se nas notas em inglês que aparecem no manuscrito de Garrett (ver
por ex. , pp. 64 e 76) .
En con tram -se escritas a lápis, segundo informação da Prof. Doutura Ofélia Paiva Mon-
teiro, que consul tou o m anuscrito original , pois, hoje em dia, a Biblioteca Geral da Univer-
sidade de Coimb ra apenas faculta fotocópia . Existe ainda no espólio de Garrett uma carta do
próprio Kinsey em que este agradece ao autor português: .[ .. .l to say that 1 have availed my-
self of your very val uable suggestions for lhe concotion and completion of the li terary essay
[... ] you have my cordial acknowledgement of obligation for lhe great labour and kind inte-
rest, whi ch yo u have taken in my work by rendering me this most important assistance! [. .. l»,
manuscrito 18 d o Espólio Literá rio de Garrett.
6 Félix Walte r , La litter âtu re portugaise en Angleterre à l 'epoque romantique , Paris.
1927, p. 109, diz ser «Brief Review» uma adaptação pura e simples de «Bosquejo». Ofélia Paiva
Monteiro, A Fo rmação de Almeida Garrett - Experiência e Criação, 2 vols., Coimbra, 1971.
vol . II, pp . 56 , 134-135 e 149 estabeleceu finalmente a ligação correcta entre os três tex tos:

39
tor de -Brief Review.., se refere à crítica que es te faz ao po ema Camões ,
nos seguintes termos:

«E o curioso é que, logo em 1829, um viajante inglês em Por-


tugal, Kinsey, achava no poema o que êle, inglês instruído nas
correntes do tempo, trazia no próprio es pírito , Shakespeare, By-
ron e Scott..7 •

Conhecendo-se agora quem é, de facto, o verdadei ro auto r de -Brief


Review.. e do texto que lhe deu origem, não é irrelevante acentuar a im-
portância tanto do manuscrito como da sua versão inglesa. Esta, inserida
num dos mais completos relatos de viagem sobre Portugal , constitui a pri-
meira resenha demonstrando um conhecimento significativo da literatura
portuguesa. A análise constrativa dos dois trabalhos com o único texto do
género anteriormente escrito por Garrett (- Bosquej o..) permite ainda cons-
tatar a importância dada por este autor à divulgação das letr as portuguesas
e o cuidado tido em modificar o seu discurso adequand o-o aos vários pú-
blicos a que cada texto se destinava - o portu guês (<<Bos quejo..) e o inglês
(<<Esquis se.. - Brief Review..).
Estabelecida a identidade dos dois textos, a qual poderá ser fac ilmente
verificada com o cotejo dos mesmos nas páginas S6 a 133 deste artigo ,
tentaremos localizar temporalmente a elaboração do manuscrito que agora
é pu blicado pela primeira vez.
No dito manuscrito, Garrett afirma o segui nte :

["0] «imprimé à la tete du Pamaso Lusitano [...] publié l 'anné


derniêre à Paris.. [...] (Segundo itálico nosso), (p, 60) .

o autor referia-se ao «Bosquejo.., publicado em 1826, em Paris , o que


remeteria para 1827 a composição de -Esquisse.. (ou manuscrito 82). Kin-
sey esteve em Portugal pelo menos desde Ag osto até Novembro de 1827.
Nesta altura, Garrett também está no país. Os dois poderão te r- se encon-
trado e o autor português ter acedido a um eventual pedido de ajuda . No
entanto, «Brief Review.. só sai em 1829, data da 2. a ed ição de Portugal
Illustrated. Por que razão não foi publicada em Julho de 182 8 , aquando
da 1. a edição? Resposta plausível será a de Garrett não ter acabado o texto
até Novembro de 1827, a tempo de o entregar em mão a Kinsey , e só po -
der enviar o manuscrito muito mais tarde. Como se sabe, Garrett é preso

7 Fidelino de Figueiredo, «Shakespeare e Garrett.. in Sep arata da Revista da Uni ver -


sidade de Silo Paulo. n.? I, São Paulo, 1950, p. 31. Certamente es te au to r foi na esteira de
Francisco Gomes de Amorim, Garrett, Memorias biograp hicas , Lisboa, to mo I, p . 496 , nota
I , que também afirmava: «Kinsey, no Portugal illustrado [00 .1 considera o Catão muito di-
versamente do que o teem julgado em Portugal alguns criticos modernos, d os que tudo s abem .
Para essa obra remetto o leitor curioso e desapa ixonado... Aliás, todos de ve m ter seguido a
pista deixada pelo narcisismo do próprio Garrett que, no prefácio à 2.· edição de Catão , Lo n-
dres, 1830, declarava: «Um moderno viajante inglez 3 disse da tra gedia portugueza [ 00 .] .
3 Mr. Kinsey's Portugal lllustrated [.. .] . Ver Obras Completas de Almeida Garrett.
Grande edição popular, illustrada, Prefaciada, Re vista C oordenada e Dirigida por Theophilo
Braga, voI. I, Lisboa, 1904, p . 525 b .

40
em Setembro de sse mesmo ano, pelo que não teria tido oportunidade de
acabar o trabalho . De facto , a carta de agradecimento de Kinsey está da-
tada de 15 de Janeiro de 182 9 8 , o que implicaria ter Kinsey recebido o
manuscrito entre Julho e Dezembro de 1828, contribuindo para a plau-
sibilidade desta hipótese, o facto de Garrett ter partido novamente exilado
para Inglaterra em Junho desse mesmo ano.
Por outro lad o, a opinião que Garrett emite sobre a figura do padre
José Agostinho de Macedo , em - Esquísse- , sendo extremamente violenta,
leva-nos a admitir só poder ter sido escrita precisamente numa altura em
que Garrett tive sse razões de queixa daquele autor. Aliás, Francisco Go-
mes de Amorim ap onta uma situação semelhante:

«Garrett cita com elogio, no bosquejo da historia litteraria,


a M editação, de José Agostinh o de Macedo. Se dois annos de-
po is o tratou cru elmente , no prefacio da 1. a edição da Lyrica,
deve advertir-se qu e acabava então de estar tres meses na cadeia,
tendo visto a for ca em perspectiva; julgara-se perseguido por José
Ag ostinho; e fôra fo rçado a emigrar pela terceira vez, achando-
-se no ac to em que escrevia o citado prefácio, sem pão para si
e para sua mulher [... l> 9

Desta forma, é lícito afirmar que muito provavelmente Garrett ini-


ciou -Esquisse- em 1827 , só a podendo acabar (ou entregar) depois de
Julho de 1828. '
As dat as de publicação e/ou redacção dos três textos seriam assim:
-Bosquejo- - 1826, -Esquisse- - 1828 e -Brief Review- - (1829).
Estabelecida a datação dos três textos , resta analisá-los, tendo sempre
em conta que o que chegou ao público não foi - E squisse- , mas -Brief
Review-,
Em -B osquej o-, Garrett chamava a atenção para o facto de ter tido
que -encetar materia nova, que portuguez nenhum d'ella escreveu, e os
dous estrangeiros Bouterweck e Sismond i incorrectissimamente e de tal
modo que mais confundem do que aju dam a conceber e ajuizar da historia
litteraria de Portugal- (pp. v-vj).
Como já ficou demonstrado 10, apesar de a modéstia de Garrett ser
pouca, na realidade, «Bosquejo- era a primeira tentativa portuguesa de sis-
tematização histórica da nossa literatur a , assim como -Esquisse-, publi-
cada como -Brief Review-, era o resumo mais completo da história literária
portuguesa que j á aparecera em relatos de viagens inglesas. 11
Foram elabo rados com objectivos diferentes: -Bosquejo- destinou-se
a servir de introdução a uma colectânea de poemas de autores portugue-

B Esta carta é, co m o j á foi re fe rido na nota 5, o manuscrito 18 de ..Cartas de Estran-


geiros» in In ventá rio do Esp6lio Literário de Garrett e encontra-se erradamente datada de
15-1-1839.
9 Francisco Gomes de Am orim, Op. cit .• tomo I, p . 390 .
10 Isabel Oliveira M artins , q,. cit. • p . 123 .
II Ibidem , pp. 114-118. A abordagem deste assunto foi ainda feita pela mesma autora
em comunicação ao II Congresso In terna cional de Sintra sobre o Romantismo, em 2519/ 1987,
sob o título ..A literatura portugue sa : u ma breve notícia em 1829» , que aguarda publicação.

41
ses, com a assinatura de Garrett (para ser lida por portugueses) e -Esquísse-
a ser publicada numa obra inglesa, tendo como aliciante que '0 autor' se-
ria Kinsey e não Garrett.
Os dois textos são assim substancialmente diferentes. «Bosquejo- con-
tinha ideias que iam «apenas tocadas, porque não havia espaço em obra
de taes limites para lhe dar o necessario desenvolvimento- (p. vj), referia-
-se exclusivamente à literatura portuguesa (com ênfase na poesia), não men-
cionava (como é lógico) a figura de Garrett, e a sua apresentação estava
subordinada a uma divisão por épocas literárias e a um ponto de vista do-
minado pela relação originalidade = nacionalidade.
-Esquisse», apesar de mais longo, era igualmente limitado em espaço,
abarcava de forma ligeira outros campos artfsticos e científicos: a pintura,
a historiografia, etc . . . , sendo talvez o aspecto mais interessante o facto
de a Garrett, caber um papel ' proe m inente ' nas letras portuguesas. Além
disto, apesar de a apresentação e o ponto de vista serem mais ou menos
os mesmos, já se encontravam modificados, em alguns aspectos, pela vi-
vência polftica de Garrett e pelo facto de saber que o seu nome não apa-
receria como autor.
A versão final de «Esquisse-, ou seja, -Brief Review-, é o resultado
da tradução e da adaptação de Kinsey ao que este pensava serem as ver-
dadeiras necessidades do público leitor inglês. Daí a supressão de algu-
mas partes do discurso de Garrett que poderiam ser consideradas mais
violentas, ou da adição de outras coisas que poderiam ter interesse, corno,
por exemplo, a vida de Camões (v. pp. 77, 79, 81, 83), seguindo, aliás,
a sugestão de Garrett.
Os três textos começam por se referir à 1fngua portuguesa. Em
-Bosquejo-, Almeida Garrett alerta imediatamente para o erro comum
(mesmo para os nacionais) que é o de «pensar que a lfngua portugueza
é um dialecto da castelhana ou hespanhola- (p. vij), fazendo depois con-
siderações de carácter geral, das quais se pode obter como súmula a afir-
mação de que a origem das duas lfnguas é a mesma, mas a respectiva
evolução muito diferente.
Em «Esquisse-, Garrett concretiza a razão principal da diferença:

«La langue du Portugal, comme celle de la Castille s'est formé


du Latin du Celtique et un peu de l'Arabe; mais l'Occident de
la Peninsule a plus retenu des formes et du genie de la langue
des Romaines, et à moins prise dans celles des árabes tant pour
la construction et le genie de la langue que pour la prononciation
et les formes exterieures de lidiome- (v. p. 60).

Em -Brief Review-, Kinsey apresenta a opinião de Garrett sem


qualquer modificação (v. p. 61), acrescentando dois outrosjufzos - o de
Ferdinand Denis e o de Robert Southey, contrastantes no facto de Southey
achar pouco satisfatória a explicação para a diferença residir no pouco con-
tacto da 1fngua portuguesa com o árabe (v. pp. 59, 61).
A apreciação de Garrett é, entretanto, veiculada como sendo a prova
final: «The difference between the Castilian and Portuguese language is
clearly proved in a short but very interesting [... ]» (v. p. 61).

42
Terminado o t6pico da origem da lfngua portuguesa, Garrett divide
«Bosquejo- segundo épocas lite rárias; 1. a - dos fins do século XIII até
aos princípios do século XVI ; 2. a - dos pr incípios do século XVI até
aos do século XVII; 3. a - século XVII ; 4. a - até meados do séc ulo XVIII;
5. a - meio do século XVIII até ao fim; 6 . a - fins do século XVIII a
princípios do século XIX .
Em -Esquísse» , Garrett centra a sua ap resentação em grandes perío-
dos e géneros, apoiando-a no desenvolvim ento da lín gua, sendo seguido
quase ipsis verbis por Kinsey em «Bri ef Review-. As considerações sobre
a antiguidade dos vestígios literários e poéticos portugueses levam-no a
referenciar os «romances- ou -chacras- , nomeadamente «le romance de
Egas Moniz [. . .] et la ch anson rapo rté par le celebre chronique Fr. Ber-
nardo de Brito qui date du te m s des prem iers rois de Oviedo, ~uelques
siecles avant la formati on de la mon archie portugaise- (p. 62). 1 Mostra
assim o resultado do trabalho de rec olha entretanto inici ado e tocado s6
de leve em -Bosquejo- por razõe s 6bvias: G arr ett afirma que fora en-
quanto estivera preso - 1827 - que se tinha voltado para o estudo dos
romances populares . 13
Dominado pela ideia que viria , aliás, a defender noutras ocasiões, de
que qualquer obra para se r origina l tem que ser nacional, mesmo popular,
em -Bosquejo-, Garrett subordina a a nálise da primeira época literária
quase exclusivamente a es te tema :
[.. .] porém ra ro se ve de sc r ip ção que recorde algum d'esses
sitio s que j a vimos, qu e nos lembre os costumes, as usanças , os
preconceitos mesmos popu lares; que d 'ahi vem á poesia o as -
pectos e feições nacionaes , que são sua maior belleza.» (p. xij).
Bemardim Ribeiro é «or ig inal em sua simplicidade», e o seu contem-
porâneo - Gil Vicente - é apresentado como o fundador do teatro mo-
derno , ideia que , de certa forma , também defen de em -Esquisse»:
«Gil Vicente [.. .] co mposait [. .. ] ses drames , ou on ne trouve
pas à la verité les formes antiques et classiques des dram atiques
sudemes oú des anci ens G re cs, ni les beautes males et energi-
ques, qu oique moins regulieres de notre Sh akespe are , mais qui
sont cependant des p ro diges pour le te ms ou ils sont contés.»
(pp . 66 e 68) .

12 o «romance_ de Egas Moniz seria um poema já referenciado na tradução inglesa de


Bouterwec k saída em 182 3 , e a «chanson» re produzida por Fr. Be rnard o de Bri to seria a ini-
ciada por «No figueiral figueiredo . . .- , al iás, um apócrifo , pois o seu autor foi, com toda a
probabilidade, o p róprio Bernardo de Brito . V . Isabel Oliveira Martins, Op. cit . • p. 128,
notas 81 e 83 . O pr 6prio Garrett levantava suspeitas na Carta ao Sr . Duarte Lessa de 14 de
Agost o de 1828, que servira de prefácio à 1. . edição de Londres da Adozinda : «restam-nos
ainda specimens das Canções que não se rão tal vez de Gonçalo He nnigues de Egas Moniz [. . . 1
vol. I. p. 333 a, de Obras Completas de Almeida Garrett.
13 Na mesma carta ci tada na nota 12, Ga rr et t afirma o seguinte: ..Lançado n'uma prisão
pela maior e mais patente inj ustiça que j amais se ouviu, voltei me, para occupar minha solid ão
e dist rahi r as amarguras do espirito , aos meus ro mances po pulares, que se mpre commigo têm
andad o , [... l , vol. I, p. 334 b.

43
Kinsey, por seu turno, como se pode verificar na página 69, acres-
centa alguns pormenores sobre a raridade das obras de Gil Vicente.
Em «Esquisse», Garrett aproveita ainda para mencionar alguns
-hístoriadores-, como Azurara, Resende e Barros, esquecendo-se incom-
preensivelmente de Fernão Lopes, que Kinsey, aliás, não deixa de referir
(p. 67). Aponta ainda Garrett, em -Esquisse-, o progressso das ciências
(Pedro Nunes, Fernão de Magalhães e o Infante O. Henrique), assim como
regista grandes progressos na pintura (p. 68).
O reinado de O. João III surge como uma época de ouro para as letras
portuguesas. Sabendo que o seu trabalho iria ser lido por ingleses, Garrett
não se coíbe de as engrandecer:
«Mais c'est dans le regne de Joan III [...] que les belles let-
tres ont vraiment fIeuri en Portugal, [... ] on cultiva les langues
savants, et l'etude de la litterature classique donna un charactere,
moins naturel et moins national, iI est vrai, à la poesie portu-
gaise, mais aussi polli beaucoup la langue, l'enrichi, la forma com-
pletement et lui donna cette majesté et cette solemnité qu'on
observe dans les Lusiades [... l- (pp. 68 e 70).

A crítica à dependência de modelos estrangeiros é bastante mais fraca


do que a exposta em «Bosquejo»:

«Aperfeiçoou-se a língua, enriqueceu-se, adquiriu então aquela


solemnidade classica que a distingue de todas as outras vivas [.. .].
Com ellas todas medrou e cresceu a poesia na delicadeza, na har-
monia, no gõsto; porêm desmereceu muito, demasiado na ori-
ginalidade, no caracter proprío, que perdeu quasi todo, em a
nacionalidade, que por mui pouco se lhe ia, [...] (pp. xiv-xv) .

É afinal a continuação mais veemente do que já dissera antes, e a aná-


lise da obra de Sá de Miranda e de António Ferreira permite-lhe tecer
considerações sobre a contribuição destes dois autores para o futuro do
teatro nacional:

«As comedias de Sá de Miranda sem caracter nacional, mui


classicas de mais [. .. ] e o mesmo succedeu à de Ferreira [... ].
O effeito d'estas composições, aliás preciosas, foi funesto: os
litteratos enjoaram-se [... ] do theatro nacional [... ] o público
preferia (e com razão tambem) o com que fõra creado, o que
interessava, o que o divertia [... ]. Se houveram Sá de Miranda
e Ferreira escolhido assumptos portuguezes, se houveram pintado
os costumes nacionais [.. .] fico em que houveram reformado o
theatro em vez de lhe empecer [... ), (pp. xvij-xviij)

Vai ainda mais longe na crítica a Sá de Miranda, por este usar a lín-
gua espanhola:

«Não posso deixar de querer mal a tam illustre portuguez polo


muito que escreveu n'essa lingua estranha [... ] exemplo funesto
44
que nos cerceou a literatura [... ] e ao cabo ia perdendo a lingua,
(p. xix)

Em -Esquísse-, Garrett não comenta a obra de Sá de Miranda, pois


temia com certeza que, se o fizesse, o tipo de críticas anteriormente re-
ferido denegrisse o panorama engrandecedor que tecia aos olhos dos in-
gleses . Imputa-lhe, juntamente com António Ferreira, a introdução do
género clássico em Portugal, graças ao qual, «le genie et 1e charactere de
la nation percait cependant quelquefois, et on peut dire presque toujours-
[ . .. ]
(v. p. 72) .
Não deixa, no entanto, de aludir a -des morceaux du plus beau ro-
mantique- (v. p. 72) na obra do mesmo.
E, nesta linha de engrandecimento segundo a qual Portugal fora o berço
do romance (com Vasco de Lobeira) e da epopeia moderna (com Camões),
valoriza a Castro de António Ferreira como sendo também responsável
pela primazia no campo do renascimento da tragédia, não pondo de lado,
apesar de tudo, a questão da prioridade em relação a Sofonisba de Tris-
sino (v. pp. 70 e 72). Assim como também não deixa de afirmar que
«Ferreira a aussi composé des comedies qui sont vraiment trop italienes
ou trop dans le gout de Terence, et par consequent tres peu nationales-
(v. p. 72), no seguimento do que já dissera em -Bosquejo-:
«Cegou-se todavia o nosso bom Ferreira na imitação dos an-
tigos; copiou-os, não os imitou; [... ] (p. xx).
Aliás, em «Bosquejo», ao aludir ainda a outros autores da mesma época,
como Jerónimo Corte-Real, Pero de Andrade Caminha, Diogo Bernar-
des, Luís Pereira Brandão e Fernão Álvares do Oriente, Garrett faz ale-
gações mais directas:
«De todos esses poetas que então floreceram é na minha opi-
nião o menos poeta esse Pero d' Andrade Caminha, a quem da
amisade e celebridade de Ferreira e Bernardes vem talvez o ma-
ior renome- (p. xxvj) [... ]
sendo a crítica atenuada em -Esquisse-:
«Caminha, ,[ ] est l'auteur de quelques odes tres classiques
mais tres froides [ ] Les Portugais l'estiment beaucoup pour la
pureté du language [... ] (v. pp. 74 e 76).
Ainda em «Esquis se- e sobre esta época, Garrett deixa para último
lugar Camões, a quem atribui um papel destacado na literatura portuguesa,
e dá indicação a Kinsey par!! este incluir um breve resumo da vida e obra 14

14 Para tratar deste assunto, Kin.sey tinha, na altura, à sua disposição o que W. J .
Mick1e dissera na sua tradução de Os Lustadas, assim como a obra de John Adamson, Me-
moirs on lhe Life and Writings 01 Luiz de Camoens, Londres, 1820. John Adamson, aliás,
correspondeu-se com Garrett e poderia conhecer o próprio Kin.sey.

45
do conhecido poeta (v. p. 76). O conselho é seguido pelo autor inglês,
que dedica ao assunto cerca de três páginas de -Brief Review- (v. pp. 77,
79, 81 e 83) . Garrett dá assim a entender que a glória literária portuguesa
desta altura fenece com Camões e com a perda da independência.
Em -Bosquejo-, reporta-se à terceira época literária (séc. XVII) alu-
dindo aos «symptomas do Gongorismo e Marinismo» (p . xxviij) que já do-
minavam quase toda a poesia, com alguma excepção para Vasco Mouzinho
de Quevedo, cujo poema épico Affonso Africano lhe merece uma com-
paração que acabará mais à frente por, de certa forma, atenuar:
«Mas que bellezas tem esse tam mal avaliado Afonso Afri-
cano, a que a cegueira e o mau gôsto tem querido preferir a qui-
xotica e sesquipedal Ulyssea [de Gabriel Pereira de Castro], a
hyperborea e campanuda Malaca!- [de Francisco de Sá de Me-
neses] (p. xxix).
A «quixotica e sesquipedal Ulyssea- tem a seu favor «a concepção,
bem distribuídas as partes, regularissimo o todo, regular e bella a acção,
bem intendidos os episodios- (p. xxxij) e a -hyperborea e campanuda Ma-
laca é «bem regular, bem concebido e a espaços se lhe encontram grandes
rasgos de gentileza poética- (p. xxxiiij).
Os atributos negativos quase que fazem, no entanto, esquecer estas
pequenas qualidades enquanto que, em -Esquisse- a análise, com alguns
apontamentos desfavoráveis, termina praticamente em consagração:
«[... ] le discour de Lucifer dans le Pandemonium fait penser
à celle de Milton et la rivalise quelque fois, et à certains egards
la surpasse. C'est um morceau qui devrait etre traduit par une
main habile dans la langue du Paradise Lost, pour illustration de
la litterature anglaise- (v. p. 84).
Sem deixar de o apontar como um dos traidores que escreveram nou-
tra língua, chega a referir Jorge de Montemayor e a sua «Diana- como
tendo servido de modelo à Estelle de Jean-Pierre Claris de Florian. Afirma
mesmo que
«aux beautes du style, pres tout ou presque tout ce qu'il y
a de beau dans le romancier francais est emprunté à l'auteur por-
tugais (v. p. 86).
Por seu turno, Kinsey resolve suprimir esta última declaração, pro-
vavelmente porque não tinha meios para avaliar da sua veracidade
(v. p. 87).
Em -Esquisse-, Garrett menciona ainda Fr. Bernardo de Brito e a obra
- Monarchia Lusitana, assim como Fr. Luís de Sousa (Manuel de Sousa Cou-
tinho) e a sua biografia do Arcebispo de Braga (Vida de D. Fr. Bartolo-
meu dos Mártires) da qual aconselha a leitura.
Totalmente esquecido em -Bosquejo-, alude ainda a um género de que
se sentiu obrigado a falar, dado saber onde iria ser publicado o seu ma-
nuscrito: a narrativa de viagens. Mais uma vez, Portugal tem a primazia:
«Les Portugais ont abbonde à cette epoque dans un genre que
ce sont eux surement qui I'ont introduit dans la litterature mo-

46
derne ou iI occupe aujourd 'hui une si grande place et si ho-
nou rable . Le genre ce sont les voyages ou recits des voyageurs.»
(v. p. pp. 86 e 88).

Dá como exemplo Fernão Mendes Pinto e notícia das traduções em


inglês e fra ncês e também da Hist6ria trágico-marttima. Kinsey omite es-
tas últimas informações (v. p. 89) , talvez receoso da possfvel concor-
rência . ..
Em «Bosquej o», Garrett considera como quarta época literária, o pe-
rfodo que decorre dos fins do séc. XVII até princfpios do séc. XVIII. Apo-
da-a de «idade de ferro ; aniquila-se a literatura, corrompe-se inteiramente
a língua- (p. xxxiij). Para modificar este panorama desolador nem a in-
dependência chegou (p. xxxiv). A situação negativa é acentuada pela con-
tribuição de do is escritores a quem, apesar de tudo, não pode deixar de
admirar - o Padre António Vieira e Jacinto Freire de Andrade:

«[...] sabiam, escreviam perfeitamente a lingua, tinham grande


credito na c ôrte, tractavam grandes assumptos, animava-os o
nobre e sincero enthusiasmo da glória e liberdade nacional: tudo
foi após elles; imitaram -lhes vícios e virtudes; como não dintin-
guiam em Vieira o grande orador, o grande phiIosofo do gon-
gorista afectado (quando o era) não estremavam em Jacinto Freire
o historiado r , o panegyrista do academico vão; [.. .] (p . xxxv) .

Esta di visão entre admirar os dois literatos e considerá-los repons ã-


veis pel a derradeira ruína do bom gosto leva-o a fazer algo extremamente
curioso em - Esquisse- . Considera a independência como infcio de uma
-troisiême époque-, plena de agitação geral em que todos participam, so-
bretudo Vieira , a quem não se coíbe de elogiar:

«[... ] un des plus grands hommes du siccle XVII. Dans ses


serm ons on trouve les defauts du siecle, I'exageration et le
co ncetti; mais quelles beautes, quel style, quel feu, quell es im-
mages! [... ] c'est la force et l'impetuosite de Demosthene [.. .]
(v . p. 88) .

E, narci sisticam ente , 'cita-se', sabendo que seria Kinsey a publicar


as suas pal avras:

-Le Chevalier d' Almeida Garrett, que nous sommes fo rcés


de citer puisque iI est le seul qui entre ses compatriotes ait ecrit
quelque chose su r l'histoire de Ia litterature portugaise, - attri-
bue a Vieira e a un par de ses contemporains Jacinto Freire de
And rada Ia derniere ruine du bon gout dans Ia litterature. II croit
que le mauvais gout de ses antitheses de ses phrases ernpoullées
a prevalu protege par le grand nom de ses auteurs, que tout le
monde vouIlait irniter.» (v . pp. 88 e 90)

47
Para a posteridade ficaria como sendo de Garrett esta afi rm ação, mas
talvez levado já por um ponto de vista diferente, permite que surja 'outra
opinião' como se não fosse dele:

-Je ne suis pas de l'opinion du modeme litterateur, j e pe nse


au contraire que le gout etait deja corrompu, et que Vieira et An-
drada ont plutot eté entrainés par le torrent, qu'ils ne 1'o nt pas
entrainé eux memes.» (v. p. 90)

Kinsey, obedientemente, assume este papel e reproduz de forma fie l


as palavras de Garrett, (v. p. 91) sem deixar de cortar um pouco a ve r-
borreia narcisista deste, ao referir as «Memorias da Litteratura- publica-
das pela Academia Real das Ciências, como excepção à primazia do autor
português na elaboração de um trabalho sobre a literatura portuguesa. IS
Em -Esquisse-, a terceira época literária, datada, como já dissemos,
a partir da independência, é salva ainda pela acção expurgadora do Mar-
quês de Pombal:

<l... ] sous ce rrurnstre eccIairé on vit alors les Jesuites


eccrasés, I"inquisition contenue, la puissance papale menacée, et
.. necessaire consequence de tout ceei .. les sciences et les lettres
refluissant et brilIant dans nouvel eclat.» (v . pp. 90 e 92 [... ]

Em -Bosquejo-, a restauração das letras em Portugal, iniciada pelo


dito ministro, é sobretudo gerada por influência das Luzes e corresponde
à quinta época.
Restringindo-se ao campo da poesia, Garrett menciona Correia Gar ção,
cuja Cantata de Dido é «uma das mais sublimes concepções do ingenho
humano- (p. xxxix), bem como O Hissope de António da Cruz e Silva,
que é o «mais perfeito heroicomico do seu genero que ainda se compoz
em lingua nenhuma- (pp. xl-xlj). Não esquece Domingos dos Reis Quita,
que considera o «melhor bucol íco-, contra a opinião generalizada (pp. xlij-
-xliij) . Refere depois outros poetas como Cláudio Manuel da Costa, Fr.
José de Santa Rita Durão, José Basílio da Gama e Tomás António Gon-
zaga. Ao analisar a obra deste, Marília de Dirceu, aproveita para, mais
uma vez, referir a questão da nacionalidade = originalidade:

«[... ] quizera eu que em vez de nos debuxar no Braz il scenas


da Arcadia, quadros inteiramente europeus, pintasse os seus pai-
neis com as côres do paiz onde os situou- (p. xlvj).

Acaba por terminar esta época (quinta), falando de António José da


Silva, cuja obra As guerras de Alecrim e Mang erona é a única que lhe
merece um comentário favorável (p. xlviij).

is Para fazer isto, Kinsey utilizou, aliás, uma informação que o pró pri o Garrett lhe for-
nece mais à frente (v . pp. 89,108 e 110) .

48
Os autores referidos em -Esquisse- são alg uns dos atrás menciona-
dos, como Correia Garç ão, que lhe merece igualmen te elogios (v. p. 92),
António Diniz da Cruz e Silva de quem, apesar de ter considerado de forma
favorável O Hissope, disse ra ser o «todo de suas odes [... ] em demasia
ornamentado [. ..],. e «pecam am iud o de mon oto nias e repetições-
(<<Bosquejo,., p. xl), refere ago ra :

«[.. .] auteur des Odes pindaricas ou le style lyrique de Pin-


dare a été pour la premiere foi s heuresement employé dans les
langues modernes.» (v. p . 94).

Por outro lado, Domingos dos Reis Qui ta é tr atado rapidamente


(v. p. 94), assim como Tomás António Gonzag a , a quem apenas alude
dizendo que é -le bresilien auteur de la Marília d e Dirceu , petite collec-
tion anacreontique qui vient d 'etre traduite en France et a été publiée à
Paris en 182 6." (v. p. 96) . Não men ciona os outros au tores referidos an-
teriormente e prefere dar notícia de Francisco José Freire, cuja obra em
geral contém «bon gout et la pureté du sty le, et une connaissance vaste
de la litterature ancienne et m oderne- (v . p . 92). Alude ainda ao Padre
António Pereira de Figueiredo para, no fundo, atacar a classe sacerdotal
(v. p. 92).
Dos escritores gerados na A rcádia , aponta dois - Gornes-. Um deles
é, pela descrição da obra - «a laissé de s critiques sur les bons ecrivains
portugais qui sont tres estimées- (v. p . 94) - Franci sco Dias Gomes 16.
O outro -Gomes-. «un dramatique de beaucoup de me rit qui a laissé un
theatre en 12 volumes- (v. p. 94 ) parece estar enganado no apelido, pois
estaria a referir-se, com toda a prob abilidad e , a Manuel de Figueiredo 17.
O início do reinado de D . Mari a I e a criaçã o da Academia Real das
Ciências marcam uma época de florescimento na literatura portuguesa:
recolhiam-se os frutros lançados por Pombal. O direito português tem hon-
ras de notícia com a referência a Pascoal José de Melo [Freire dos Reis]
e à sua obra sobre a história do mesmo , assim co mo a António Ribeiro
dos Santos , nas facetas de jurisconsulto e poeta (v. pp. 96 e 98).
Curioso é ver que Garrett considera o Padre Teodoro de Almeida como
um dos resultados positivos da acção de Pombal , quando afinal aquele ti-
vera que se exilar na altura da s perseguiçõe s contra os oratorianos. Além
de mencionar «un roman dans le gem e du Thelem aque de Fenelon- (v.
p, 98), do qual não refere o título , 18 dá ain da conhecimento da Re-

16 Francisco D ias Gomes (17 45-95 ) foi de fac to autor de «Análise e Combinações Fi -
losóficas sobre a elocução e estilo , de Sá de Mirand a, Ferreira, Ber na rd es , Caminha e Camões
[...1-, inserida nas Memorias de Litteratu ra Portugueza , pu blicad as pela Academia Real das
Ciências de Lisboa, tomo IV , Lisb oa. Of. da mesm a Acad emi a , 1793, pp . 26-305.
17 A referência a u m teat ro em 12 vol um es só poderi a ser em relação a Manuel de Fi-
gueiredo, de facto , um fértil aut o r de peç as teatr ais originais ou traduzidas que foram editadas
postumamente pel o seu irmão, com o títul o Teatro (Lisboa, 1804- 18 15). João Baptista Go mes
Júnior , cujo apelido se adequava ao referid o po r Garrett, foi de facto autor de diversas obras
dramáticas não se encontrando es tas, todavia , reunidas num «theatro em 12 vol umes•.
18 Trata-se de O Feliz Independente do Mundo e da Fortuna, de 1779.

49
creação Filosófica, que classifica como «un des plus re marcables qu e le
P ortugal a produit- (v. p . 98).
No campo da medicina, António Ribeiro Sanches é aludido como exem-
plo de um homem europeu com um «savoir immense et [. . .] talent ex-
trao rdinaire - (v. p. 98) . E mais um exemplo aproveitado por G arrett para
abominar a classe sacerdotal que, aliás, é também «carrasco» de José Anas-
tácio da Cunha:

<l...] quoiqu'il ait echapé au bucher, iI n'a pas echapé aux


tourmens à un long imprisonoment aux hu miliations de tou t ge me
[...t- (v. p. 98).

El ogi a a sua contribuição no campo da matemática e , das suas po-


esias l íricas , a crítica é neutra, aliás, idê ntica à que tinh a feito no «Bosquej o»
(p. lxi v) . Luís Caetano de Campos, autor de Viagens de A ltina, merece
ainda a atenção de Garrett, que diz ser ele um méd ico interessado em
-restaurer le geme des Romans et nouvelles - (v. p. 1(0). Nã o pareceria
j us tificável a referência a este autor (por menor grau de impo rtância) e,
no enta nto, Garrett menciona ainda Fr. José do Co ração de Jesu s e
D. Alexan d re da Sagrada Família.
O primeiro tinha uma certa lógica e já a ele alud ira em «Bosquej o»
(pp. lxij -Ixiiij ) . Tratava-se de um ãrcade (<<Almeno») e o que diz so b re el e
é curto e neutro. Já quanto ao segundo, D. Fr. A lexand re da Sagrada Fa-
míl ia, também ele ãrcade («Silvio-), não se justificariam quase duas pá-
ginas do manuscrito (v. pp. 102 e 104) se, por 'mero acaso', este ilu stre
prelado não fosse seu tio e mestre. As palavras que lhe dedica são apo -
lo géticas chegando mesmo a compará-lo com Johnso n e V ieira . Kinsey
transcreve integralmente o texto de Garrett inclusive o pormenor do pa-
rentesco com o autor português. Em «Bosquejo», a sua figura não aparece
co mo é, apesar de tudo, lógico.
Antes de falar dos escritores vivos e contempo râneos, no resumo que
prep ar ou para Kinsey, Garrett ainda faz considerações so bre o Padre An-
tónio Pereira de Sousa Caldas, Domingos Maximiano Torres, Nic olau T o-
lentino, F ranci sco Manuel de Melo e Bocage.
Sob re os quatro primeiros, as observações são positivas, (v . pp. 104
e 106) aliás, de acordo com o que fizera no «Bosquejo» (pp . lix-Ixj, lxiij
e lxiv) . Neste, chegara mesmo ao máximo do elogio, no qu e respeita a
Nicol au Tolentino:

«Co nfesso que de todos os poetas que meu triste miste r de


crítico me tem obrigado a analysar, unico é es te em cuja cau sa
me dou por suspeito: tanto é a pai xão , a cegueira que tenho pelo
mais verdadeiro, mais engraçado, mais bom homem de todos os
nossos escriptores.» (p. lxiij) .

Quanto a Bocage, a comparação é feita com D . Francisco Manuel de


Melo , e dela sai em posição desfavorável. Garrett considera-o s -les plus

50
fameux de la litterature modern e portugaise- (v. p. 106), mas aq uele úl-
timo tem obviamente a sua prefe rên cia :

«[. .. ] c 'est le genre lyrique qu 'Immortalise son nom. [... ] D ans


le geme heroique et sub lime iI n'a imité personne c'est une
creation nouvelle, ce so nt des pensées , des beautés neuves et dont
on n'a pas d 'idée dan s auc une autre langue- (v. p. 108) .

.A Bocage , por outro lado, não pode negar um -talent extraordinaire-


(v . p. 106) , todavia o julgamento final é quase vexatório:

«II a outré la nature et les passions: on l' a applaudi dans le


premier etonernent, on I' ou blier ã aprcz.» (v. p. 106)

Não ficam aqui claras as razões de Garrett, que já as explicara me-


lhor no - Bosquejo- . Admira o poeta , mas não é cego aos seus defeitos
- a metrificação é, para ele , a sua pior qualidade e, sobretudo, pensa que
se pe rdeu no entusiasm o qu e suscitava nos outros:

«fina témpera d ' esse ingenho que a aura popular estragou [... ]
(p. Iv) .

Os seus seguidores (os «elmanistas») -tyrannizavarn a poesia e estra-


gavam o gôsto- (p. lix), sendo excepção João Baptista Gomes Júnior, au-
tor da tragédia Nova Castro que, embora também desvairado pelo
elmanismo , tinha qualidades que poderiam vir a fazer dele o melhor trá-
gico português, se a morte não o tivesse impedido (p. lviij).
E, em -Bosquejo-, para além dos rasg ados elogios que tece a F ran-
cisco Manuel de Melo; ,

-so per si Francisco M anuel val eu uma academi a, e fez mai s


que ella [... ] (p. lxj),

continua na exploração da ideia (já e xposta) de que a literatura da [6. a]


époc a (que corresp onderia a fin s do século X V III até p rincfpios do século
XIX) se encontrava numa seg unda fase de decadênc ia . Esta seria provo-
cada pe lo que apoda de «gallo-man ia- :

-phrases barbaras repugn antes à indole do idioma, te rmos hy-


bridos, locuções arrastadas, sem elegância, formaram a algara-
via da moda [. . .] (p. xlix).

Aos galici smos , juntou-se a lep ra das traduções:

«Mas de traducções es tamos nós gafos e com traducções le-


vou o último golpe a litteratura portugueza ; [... ] (p . lvj ),

levando esta mania de traduzir a qu e :


«a poesia, a litteratura nacional reduziu-se a monoto nos so-
netos, a trovinhas damores, a insipidas enfiadas [...] (p . lvij) .

51
Ejuntando a isto os referidos -elman ísta s-. Garrett parece desesperar
peran te o panorama literário português . Não deixa, no entanto, de apon-
tar as excepções já referidas, assim como Domingos Torres, António Ri-
beiro dos Santos, Fr. José do Coração de Jesus, José Anastácio da Cunha,
José Maria da Costa e Silva e mesmo José Agostinho de Macedo.
A obra deste autor, A M edita ção, merece-lhe o seguinte comentário:
«Não sei eu se ella tem defeitos; é obra humana, e de certo
lhes não escapou: ma s sublim idade , cópia de doctrina, phrase por-
tugueza, e grandes ideias so lh ' o negará a cegueira ou a paixão.»
(pp . lxv-lxvj).

Em -Esquisse», a pena imparcial já fora substituída pela «paixão». Ao


referir-se a José A. de Macedo, G arrett é violento:

«Le padre José Agustinho de Macedo est un libelliste infame


qui dans tou t autre pais se rait co ndamne au pilocy . On ne concoit
pas I'hardiesse et l'effronterie de ce charlatan effronté. II monte
en chaire et debite d'un ton emphatique et dans un style bour-
sauftlé les mirac1es de Notre Dame du Buraco; et la cannaille et
la petraille d'applaud ir [... ] . La natio n le deteste en general [. . .]
il a [. .. ] un gout faux et depravé qui lui fait entreprendre et pu-
blier les choses les plus ridicules et les plus absurders, [.. .]
(p . 120).

As razões para este ata que já foram apresentadas no início deste es-
tudo. 19 Kinsey, como se pode verificar, omite diplomaticamente todas
as referências ao aspecto religioso e político (v. p. 121).
Até chegar à figura deste prelado, Garrett traçara o panorama do iní-
cio do séc. XIX. As referências a autores são em grande número e abar-
cam vários ramos do saber não mencion ado s em «Bosquejo», o que reflecte
a diferença de interesses de Garrett nos dois textos. Distinguia o trabalho
da Academia Real das Ciências, patente em publicações sobre assuntos
da mais variada ordem (v. pp. 108 e 110). Realçara os estudos matemá-
ticos de Francisco de Borj a Garção Stockler e os botânicos de Avelar Bro-
tero (a quem faz um longo elogi o).
Como botânico e literato, o grande louvor fora, no entanto, para o
Abade Correia da Serra. Garrett apres enta-o como um perseguido cujo
talento nunca fora rec onhecid o pelas autoridades e traça dele uma mini-
-biografia .

19 Francisco Gomes de Amorim, co mo já dissemos, e xp lica essa s raz ões (v . pp . 41 e


42 ). De fact o , se José Ag ostinho de M aced o nã o contri buira di rectame nte para a prisão de
Garret t , também não é menos verdade que tinha sido um crítico fer oz d o jornal O PoT1UglUZ
d irig ido por aquele. N a Carta 1. a de J . A. D . M . a seu amigoJ. J . P. L ., Lisboa, Impressão
Rég ia , 182 7, afirma o se guinte : ..Mas em fim, meu velho amigo, quem me obrigaria com furor
a apartar-me do nosso partido silenciario? Quem teria este poder? o Tom Sultanico, e a Diar-
ré a palavrosa de hum Periodico, ou Lençol de tre s Ramos, chamado em Lecras gordas, e
qu adradas - o Portuguez. [ oo .]>" E ficara bastan te ..feliz» com o fim do mesmo: ..Morreo o
Portuguez ? Deos lhe perdoe, bons Burros doo por cá ao dizimo! Esbravejarão á sua vontade,
até que lhes chegou, como merecião, o seu S. M artinho . [ oo .]» , Carta 26. a de José Agostinho
de Macedo a seu amigo J. J . P. L ., Lisboa, Impressão Régia, 1827 .

52
No campo da s Ciências, F rancisco Solan o Constâncio fora alvo da
sua atenção, e Kinsey, às in fo rmações de G arrett , avançara o tftulo do
periódico 20 que aquele publicara em Edimburgo - «The Ghost- -
(v . p. 115).
A inda Lufs da Silva Mouzinho de Albuque rque 21 merecera o seu re-
paro na área da Qufmica, Silvestre Pi nheiro Ferre ira 22 na Psicologia e
José Joaqu im Ferreira de M oura 2 3 na j u risp ru dênci a , mencionando tam-
bém o facto de atribuirem a este autor a obra a nónima Cartas de Americus
(v. pp. 114, 115 e pp. 116, 117).
A Marquesa de Aloma (O. Le on o r de Al meida) foram apontadas qu-
alidades literárias e uma cultura requintad a e Garrett não deixara de aludir
às perseguições políticas de que esta dama fo ra alvo para, mais uma vez,
deneg rir o . Miguel. Kinsey , novamente , o mi te (v. pp. 116 e 117) .
Dos «autores portugueses v ivos- na altura , para além da já mencio-
nada d iatribe contra José Agost inh o de M aced o , tecera as considerações
sobre O . Fr. Francisco de São Luís, 24 mais um pro scrito por O. Miguel,
e António Feliciano de Castilho, que lhe merec e ra alguns comentários me-
nos favoráveis em relação ao pou co que havia dito em «Bosquejo- 25:

«En general il manque d 'origina lité et de verité de pinceau:


se s vers tres bien tournés quoique monotones; [... ] (v. p. 120).

o mesmo fizera em rel ação a J . M. da Costa e Silva e ao seu poema


-O Passeio- 26

20 Kinsey poderia saber este pormenor através da primeira obra que a mencionou , Es-
sai Statistique sur le Royaum e de Portu gal et d 'Algarve l ...J et suivi d 'un Coup d 'oeil sur
l 'etat actue i des sciences et des beaux arts parmi les portugais de s de ux h émisph êres , de Adrien
Balbi, 2 vols., Paris, Re yet Gravier, 1822 , voI. II, p . cxxxix.
21 Luís da Silva M ouzinho de Al buquerque foi au tor de um Curso Elementar de Phisica
e Chimica , Lisboa , 1824: que foi a prime ira obr a que apa rec eu neste campo. A sua faceta de
poeta s6 é referida por Garrett no «Bosquejo.. (p. Ixvj ) qu e menciona as - Gcorgicas... Em Pa-
ris, 1820, M ouzinho publicara Georgicas Portu guesas , dedicadas a sua mulher D . Anna Mas-
carenhas de Ataide.
22 Silvestre Pinheir o Ferreira pu blicara e fectivamente em Paris a obra, Essai sur la Psy -
cho logie, comprenent la th éorie du raisonnement et du lan gage , l 'On tologie, l 'Esth étique et
la dioc éosyne, lmp. de Bethun e , 1826.
23 José Joaquim Ferreira de M ou r a foi autor de Reflex ões criticas sobre a administração
da justiça em Inglaterra , tanto no civel como no crime. em uma serie de cartas a um amigo,
Lisboa, Impressã o Régia, 1827. Quanto às Cartas Politicas de Am e ricus , foram publicadas,
pela prim e ira vez , em O Padre Amaro, ou so vella pol itica . um j ornal impresso em Londres,
talvez a partir de 1820. Delas se fe z ainda u ma edição especial, de Lo ndres, em 1825 e a au-
toria é atribuída por alguns a Mi guel Calmo n Dupin e Almeida (Marquês de Abrantes) .
24 D . Fr. Francisco de São Luís fora, de facto, autor de uma vasta obra sobre os mais
variados assuntos; publicara o Ensaio sobre algun s synonymos da lingua portugueza, Aca-
demia Real das Sciencias, Parte I , Lisboa , Typ. da mesma Academia, 1821, Parte II, Lisboa,
ib., 1828 .
B Em «Bosquejo.., Garrett obs ervara : «Cit a-se com e logio o nome de J. F. de Castilho,
joven poeta que se despica d a injúria da so rte que o privou da vista , com m uita luz de in genh o
poético.. (p . Ixvj) .
26 Em «Bosquej o.., o poema d e Costa e Silva só prec isa va de «alguns retoques» (p. Ixv)
e na «Esquisse .., Garre tt remete mais uma vez para o «Bosquejo.. acrescentando «il y a dans
ce poeme de grands defauts et de grandes beautés; [ oo .] (p . 122) .

53
Em «Bosquejo", antes de falar dos poetas seus con temporâneo s, Gar-
rett avisara:
«Aqui me cai a penna da mãos; o estadio livre para a crítica
imparcial acabou. Nem posso continuar a exercê-la sem temor,
nem o faria assim, pois não quizera ver revogadas minhas pre-
sumidas sentenças pela severa posteridade, quasi sempre annul-
ladora de juizos contemporãos- (p. lxv).

Talvez por esta razão, os autores que ainda aborda 27, são alvo de uma
análise breve e cautelosamente elogiosa. Terminava com um apontament o
adequado à posição de crftico imparcial:
«A litteratura portugueza não mostra present emente grandes
symptomas de vigor; mas há muita fôrça latente sob essa appa-
rencia; o menor sôpro animador que da administr ação lhe venha,
ateará muitos luzeiros com que de novo bri lhe e se engrandeça-
(p . lxvij).

Em -Esquisse-, Garrett não estava sujeito a estes requ intes dipl omá-
ticos, pelo que, além das crfticas conterem alguns aspec tos negativos
(sobretudo no caso de J. A. de Macedo), aproveitou para fazer o auto-
-elogio. A -penna- continuou nas suas mãos, e a impa rci alidade desapa-
receu ~ase totalmente. São nove (!) páginas dedicadas à sua própria vida
e obra 8, em que Garrett deseja que lhe seja reconhecido o valor literá-
rio, mas também a integridade das suas posições polft icas e os serv iços
que prestou ao pafs. Kinsey omite algumas partes deste discurso , no-
meadamente quando os elogios são talvez demasiado empolados ou as cr í-
ticas ao regime deveras violentas (p. ex. v. pp. 125 e 129).
Importante é registar que a primeira biografia inglesa de Garrett sur ge
nesta obra. permitindo-nos ver a evolução crftica do me smo autor e da
historiografia literária portuguesa.
Garrett não se cansa de insistir no facto de «Bosquej o- ser a primeira
tentativa portuguesa de historiar a nossa literatu ra. E este um ponto que
não deve ser esquecido, pois, apesar de alguns erros e co ndicionalismos
era, de facto, a primeira. 29
Em -Esquisse-, como se pode verificar, aproveitav a muito do que já
fizera em -Bosquejo-, acrescentava alguns autores (deve ter- se em conta
que «Bosquejo- serviu de introdução a uma colectânea de poemas portu-
gueses e, portanto, o seu campo era mais limitado) e, de ce rta forma, era
um documento que responsabilizava menos o seu auto r, pois Garrett es-
taria a salvo de possfveis crfticas.

27 Como já dissemos, fala de A. F . de C:astilho, Costa e Silva, Jo~ Ag~tinho?e Ma-


ced o , Luís da S. Mouzinho de Albuquerque e ainda de Curvo Semedo, Joao Vicente Pimentel
Maldonado e João Evangelista de Morais.
28 Para a análise deste assunto, vidé Isabel Oliveira Martins, Op. cit. , pp. 122- 23.
29 Nas Memorias da Liueratura Portugueza, publicadas pela Acade mi a Real d as Ciên-
cias de Lisboa, os trabalhos versaram os mais diversos assuntos, desde os de teor econó mi c o
até aos literários , mas nenhum fazia a história da literatura.

54
A divisão da literatura em épocas não é totalmente semelhante . E m
- Bos quejo- a grande «auro ra das letras- de Portugal co rresponde ao tempo
de D . João I, acompanhada também de um desenv ol vimento económico
e científico, mantendo-se este estado de graça até à morte de D. Ma-
nuel I. D epois disso, apesar de todos o s ex emplos de excelentes autores,
Garrett só elogia a acção de D . João III no sentido de incentivar o cultivo
das línguas clássicas e a do Marquês de P ombal que, pela expulsão dos
Jesuítas, logrou livrar as letras portuguesas de uma classe que as opri m ia.
Em -Esquisse - , talvez porque pretendia. não obs ta nte as suas co nvicç ões
pessoais, ap resentar um qu adro grandioso de uma literatura que e le sabi a
ser mal conhecida ou mesmo totalmente ignorada em Inglaterra , o resul-
tado global é mais positivo . Isto não significa qu e tivesse pe rd ido o sen-
tido crítico patenteado em -Bosquejo- , mas fora mod ificad o pe lo aspecto
atrás referido e até por razões de o rdem pe ssoal.
Da crítica aberta à disfarçada, Garrett não de ixou de fazer o possível
para divulgar a nossa literatura e, embora o manu sc ri to ago ra publ icado
não pudesse fazer éscola enquanto obra de Garrett, perm itiu qu e uma ou-
tra visão aparecesse sob a forma de -Brief Re view- , que co ntr ibuiu para
um a peq uena abertura no panorama da igno rânc ia so bre Portugal.

55
ESO UI SSE de L' HISTO IR f LIJT~R A I R E duPORTUGAL
p.l La l i tte rat ure po rt ug ai se est t re z peu connue et tres mal
app reci ée des etrangers. A I 'excêpt ion du seul Camoens dont le no~
et les üuvrages sont aujour d ' hui assez repandue s en Euro pe les autres
poetes et . prosateurs ( et i i y en a de tres distingués I sont a peu
pres ignorés , et ceux qu i ne le sont pas , t rez mal connus .
Encore . on t onfond genera lement en Europe la litterature por-
tuga ise av rc ce l le d' Espag ne: ce qu i est parf aitement absurde. les
caracteres, le gA nie. I 'e spr it (si on peut le direI en etant copl~
divers et on ne peut pas plus separe et di st i nct .
Arri vant en Po rt ugal et avant d' avo ir fait un plus mOr e xam~ i
sur cet suje t . j 'eta i s prejugé par ces opinions generales. et le seul
chantre des Lusiades excepté j e ne cr oia i s pas même qu'il y eut une
litterat ure que lconque en Portuga l. Les ouvrages de Mr. Simonde de
5ismondi . dt Mr . Bouterweck e de Mr. Denis m'ont tiré d'erreur ; et
la commicat ion avec quelque s l itterate urs distingués du Portugal, en
suppleant et rectifi ant même les f aut es et meprises de ces auteurs
et rangers ont entierement changé mes opini ons à cet egard.
p.2 La langue portugaise n'est pas meme un dialecte de la langue
cast illane comme on le croi t genêralement .
BRI EF RE VIEW of t he LITER ARY HISTO RY of PORTUGAL

p.525 The Portuguese language i s not, as i s gener ally and very


erroneously supposed, a cor rupt ed dia lect of the cest t t en.tnoucn
í

thei r or ig ina l aff inity may have left many traces of resembl ance
between them. The t wo languages had i n f act near ly the same ar ig i n,
namely ,that of the Roman conquerors of t he Peninsula ; but , whi le
lhe Span ish combi ned the Lat i n with the dia lects of th2 Visigoths,
and with the Arabic introduced by t he Moors . whence the gut tural
pronunc: ati on of many of it s words, the Port uguese fo rmed an union
with t he idi oms of t he Suev i , and in the el eventh century, as is
remarked by the revie wer of Mr . Deni s ' s conci se and well- arra nged
~o lume , feit t he inf luence of the French, under Count Hen ry of

Burgundy , the indicat ion of these new e lement s eng raf ted on the
pr imitive Galic ian being dis coverab le in the nasa l into nation of
the Ianguage. lhe i nvasion of the Romans exerci sed , i n the opinior

57
of Mr. Denis, a perma~ inf luence on t he languagc of Lus ita nia , t he
Lat in bei ng almost everywhere adopted, and the Roman alteration
remaining nearly I p.· 526 I unchanged by the conquests of t he Goths .
and the subsequent intrusion of t he Moors . Thus t he Latin cont i nued
the mode l of the Portuguese language, and though passing through
some modof i cat ions , so firm ly has it maintained its ground, that
many paragraphs might be cited, which would equally stand for La t i n
or Portuguese. The Latin corrupted by the no rthern i nvaders, and at
a subsequent period by the Moors, who , to the eternal glory of Por -
tugal we re ear ly expelled from the country, and who the re fore had
not ti me to introduce into it the guttural of ~he Arab ic , became
th e language of Ga l ici a and Portugal . This appears to be th e di s -
tinctive char acter of the two languages, considered as proceeding
from one common Roman origin , and undergoing in t he process of t ime
sundry modi f i cat ions .
A ra the r di f ferent oplnlon, however , appears to be e ntert a i ~
on thi s subject by a class ic writer on Portuguese l ite r atu re i n th e
Qua rterly Revi ew of 1809, and as his acquaintance with the language
appears bot h profound and accurate. we must in strict impart iality
quote hi s own wo rds , le aving it t o you to effect a reconcil ia tion
bet ween t hese discordant j udgeme nts .
" Like t he Att ic and Ionic branches of the Greek, t he Portu -
guese and Cast ili an dia lect s are two boug hs of equal extent and
beauty , proceedi ng f rom one trunk. It was said by a man of genius.
that Span is h i s just such a l anguage as he should have expected to
hear spoken by a Roman slave. sulky from the bastinado. The native s
af Port uga l . in a more compliment ary similitude . love to speak of
their langu age as the eldest daughter of the Latin :this daughte r
af Rome has been the servant of the Goths and of the Moors;still,
hawever , t he mother t ongue predomin ates more in Portugal than {in
any ot her part of t he wo r ld . the Portugue se has about the sarne
nrooart ion af Ar abi c as thá Castilian: hut it has escaDed ali

59
p.2
C'est ce qui a evidentment prouvé I 'estimable auteur du resummé de
I ' hist oi re de la langue et de la poesie portugaise. imprimé à la tete
du Parnaso Lusitano , ou choix de poesies des auteurs portugais ~iens
et modernes publié I 'anné derniere à Paris. et qui merite des plus
grands eloges.

La langue du Portugal , comme ceile de la Castille s'est


formé du Latin du Celtique et un peu de I ' Arabe ; mais I 'occident de
la Peninsule a plus retenu des formes et du genie de la langue des
Romains, et à moins prise dans celles des Arabes tant pour la cons-
truction et le genie de la langue que pour la prononciation et les
formes exterieures de I 'idiome.

(Garrett acrescenta o texto que se segue em jeito de nota de rodapé


às páginas 2,3 e 4)
• . L'auteur de court mais interessant essai est le Chevalier de AI-
guttural sounds : how these have been introduced into the /p .527/
Castilian would form a curious inquiry , for they certainly did
not exis t in the first age of Spani sh literatu re . The longer and
mo re intimate connect ion between t he Casti l ians and Moors , i s a
cause more obvious than satisfacto ry ; for though the Portuguese
clea red their country of the Moors at an earl y per iod, yet thei r
after intercourse with them in Afri ca and i n the east was very
extensive , and they enriched their vocabula ry without injur i ng
the euphony of their speech. There is nothing in t heir language
which is in the slightest degree unpleasant to t he Engl is h ear ,
except a nasal sound, less strongly marked , and f ar less di s-
agreeable, than that which so frequently recuri i n Fren c h ~ .
lhe difference between the Castilian and Portuguese lan-
guages i s clearly proved in d short but very interesti ng es say ,
entitled , a Review of the History of the Portuguese Language
and Poetry, prefixed to the Pa rnaso Lu sitano, whi ch was publi sh-
ed in 1826 , at Paris.This work conta ins "a se lec tion of poems by
Portuguese writers , both ancient and modern ,arranged by the edi -
tor , Mr . Aillaud ; and the essay is high ly creditab le to the tas te
and judgement of its learned author, the Chevalier de Almeida
Garrett.
The language of Portug~l , observes this accomplished scholar ,
like that of its rival Castile, is formed partly from the Celt ic ,
and partly from the Latin, and in some small degree from the Ara-
bic ; but the western portion of the pen insu la has retained more
of the genius and peculiarities of the Roman tongue, and hasbor-
rowed less from the Arabian, both in t he const ructi on and i n the
character of its language, as well as in the pronunc iation and
the exterior forms of its idio m.
Aussi bien que la langue , la poesie portugaise est plus naturelle ,
plus naive plus douce que la Castillane. Le poete espagnol est plus
outré , plus enthous iaste, ii sent moins , pei nt moi ns et ave des cou-
leurs plus exagerés , pl us f acti ces. Le portugais, au contraire plus
prof6nd et plus ref lexi, a une teinte de sensibilité, de longueur et
de verité qu i charme plus , quoiq ue i i soit moi ns eblouissant e que I I

Espagnol .

II n'y a pas de langue en Europe qui conserve des vestiges


li tter aires et poetiques d'une si gr ande anc ieneté . On conserve encore
des fragmens Iyriques du commencement méme de la premiere enfance de la
mona rchie portugaise , et de plus anciens encore ./p.4 / Tel est le ro-
mance de Egas Moniz compagnon et ami d'Alphonse I , et la chanson ra-
porté par le celebre chroniqueur Fr. Bernardo de Brito qui date du bffi5
des premiers rois de Ov iedo , quelques siecles avant la formation de la
monarchie po rtugaise .
Out re ces rronurens cur ieux de la ~e!.u~t~ de la poesie portu-

meida Garret , jeune litterateu r tres estimé qui a publié divers ouvra·
ges tout en prose qu'en vers , qui a longtems voyagé en Angleterre et
en France dont i i possede les l angues et les litteratu res et qui con-
nai t notre/p.3/ S1ackes~are et notre Byron comme i I connai t son Camoens.
II vient de publie r à Londres sous le t it re d'Adozinda un roman poeti -
que dans le genre des romans poetiques de Sir Wa lter Scott. Nous aurrn~
I 'occasion de parler de cet ouv rage et de I ' i ntroducti on tres curieuse
qui le précéde en parlant de I 'a ntique poesie portuguaise et de ses
fameux troubadours ou menestrels (minstrels) qu'il a revivé et imité.
Connaisant/p. 4/ personnellement cet honorable portugais je me piais à
. lui rendre hommage dans cet ecriLC 'es t une des victimes de la fidelité
CJ.Ii cnt crercilé un asyle dans notre ille rospítal íere. II etait cref de tureeu au mínís

62
Like its language , the poet ry of Po rtugal i s more natu ra l , si mpl e,
and has -a grea ter softness , than t he Casti li an. The Spani sh poet s
may be mo re wild and ent hus iastic. but stil l t he i r powers of per -
ception are inferior ; they ar e les s th e artis ts after nature , and
Ip . 528 I they employ colours , which are at once more artific ia l
and glari ng.The Po rtuguese , on the cont rary , possess grea te r depth
of reflexion, a higher degree of sensibility , a more gentle tore of feelirg, and
more of tre t ruth of nature , -- nalttíes, lJlich, t.hcxJjh less dazzlirg than trose
by vtIich tre ~niards are distirguished, have nevertheless tre greate r poe r to
chann and cEI ight tre reader.
No language , perhaps , in Europe can tr ace to an ea r li er date
vestiges of its poetry and general literature, than tte Fbrtuguese. FragTelts of
Iyric posns , coeval with tte infancy of tre monarchy and of st i II reroter date,
are preserved ,and regarded with peculiar interest. 5uch , for instance, are trose
by Egas MJniz, tte carpanion and friend of AI prosoI. ; and tre SOO;) preserved by
the celebrated chronicler, Fr. &:!mardo cE Brito , .tte date of lJlich nay te refer-
red to tre t ínes if tre first kirgs of CNie<b .sare centuríes prev íeis to tre es-
tabl ishrEnt of Portuguese irdep:ndence. ln ad:lition to trese interestirg ITOOU-

63
9c31 se, II Y a
oeutres Q..e la tred ít ím seule a conserve. et Qui prouvent une
ancieneté, tout au moins, aussi grande. Ce sont les chansons populai-
res , ou romances Qui d'un tems immemorial sont chantés par le peuple,
dont le langage, QuoiQue corrompu, et les romances eux meme tres mu-
tilés / p. 5 / par I 'ignorance d'une tradition barbare, prouvent c~
dant une ancieneté dont on ne peut pas retracer I 'origine.
Je crois Qu'on me saura gré de transcrire ici une de ces interes-
santes romances, Que - le peuple en Portugal appe l le du nom bisarre de
Chacras telle Que I 'a restitué le Chevalier de Almei~a Garrett dans
I 'ouvrage Que je viens de citer.

ltere is tre place for ínsertírq


this OJriCXJs piece wich I"wi II
sent YCXJ t:.cx}rther with a fre1ch
litteral trensletím.or.If I can, with
an Erg I ish ale.
les trOOacb.Jrs de la Provence re soot pas certairarent plus anciens, et durarent 00
re troove pas d'aussi belles rorences dans leurs recuei1s. Il n'y a que les poesies gae-
~ de nos rrootaglards ecossais (HigJlanders) /p.6 / qui lXJisent dísprter I'anciereté
ave<: les vieux ITErestrels <ii Pol"1:ugal.

tere de I' interieur (h:rre departnart:) à Lislxrre. et .la persecutím doot I'h:moré D. Mi-
~l provient de ce <Jl'il etait etait le principal ecrivain du Por1:l.lJ.,JeZ, ce joomal <Jli
a fait tant d'honneur au Portugal et Qui a tant merité de la cause de
la liberté legitime.

64
rrents of entim í ty . trere are otrers haró2d d:w1 by tred í t ím mly, cn::l ....nich
claim to te of a ~rioo eQJally rarote . W:? ai Ilrt: to tre D+'Jlar sooqs ar ro-
rmnces, lJlich frrm tirre irmarorial have teen current ~ tte loer oroers of
tre pecole, tte I~ of lJlidl. tro..gl cornnted, ard e.'a1 the rcnnt íc 001 -
1005 trerselves lTLd1 nutilated by berta r isn ard ig-nr,n:e, evírce clearly their
hiÇ/1 errtínnty: of lJlich it xuld te díff ícult , if rot intosstble , to fix the
exact date. One of these interesting r omance s. known t o the comnon
)eople of Portugal under the fan tas t i c appel ation of chacras.has
oeen restored by the O1evalier' de Almeida G3rrett. nJ has teen recently pJ:r
Iished by him in the íntroactí m to his elegant poen of kbzirda.lhis traditirnary
ronance is entitled Bernal and Violante, and possessirq, astt cb:!s, all the ~-
c~l iar features vtlich distirgJish the poet ícal eff usiOlS of the traJbachJrs and
feu:lal min- /p.~ / trels, Ialld certai nly meet with a favourable receptím in
Ergland, v.ere it versified by sare magic hand , like that of Sir Walter Scott.
t..early all the primitive rrmrrents of ~r1:lJ}.ese literature, "as the
foreign revie-.er states 1/, cnsí st of love-sorqs and ballads ín the Gllician
dialecto

lhe trobaOOurs of Provence cerrot toast of greater ent íni it y, ror are these to
00 foord ln theirfollectiOlS rurances of equ~l teauty and sirrplicity with the
d1acras, or xacras, of the Ftlrtl.g..ese. With the exceotíco of the traditiooary
~s of the rortn, and the spirit-stirring effusions of the Scalds, v.e l<rotI of
ro other poetícal pieces vtlich might dispute priority of date with those of the

65
QJoi~ rB.J forné encore la largue tortiqaise carrrencait cepeodent Ô2S les preniers
reg,es a essayer Ô2S '101 plus hauts et plus lcoqs. Le f'areux l ítterateo Laharpe (dens
soo Lycée ou cour Ô2 Litterature) avoue que c'est aux R:Jrt:.tJgais que naus devons le pre-
mier runan ou ranan Ô2 chevalrie qui ait été ecrit dans aucune Ô2S largues 'Iivantes.
C'est le célebre Amadiz de Gaulle, traduit dans presque toutes les lan-
gues de I 'Europe .

QJi aurait cru que ce soit un portugais Vasco de Lobeira


que nous devions le progeniteur de tous nos romans et que c'est lui
qui a le premier fraié cette route ou brille l'auteur/p.7 / Ô2 Warverley
et tants d' autres ! . La Iangue portiqaíse ma rchait à pas rapides vers Ia
perfection.
Elle avait deja ses menestrels, ces chroniquers et des romanciers;
bientot sous le regne d'Emanuel au XV siecle elle eu des historiens et
des poetes, -- et qui plus est, des poetes dramatiques.Gomes d'Azurara
Rezende, et enfim Barros, surnomé le lite -t ve portugais qui a ecrit
í

I 'histoire des conquetes des Portugais aux Indes Orientales par deca-
des, parurent I'un aprez I 'autre. Plusiers autres historiens se firent
remarquer à cette epoque; nous ne signalons que les plus remarcables.

8e~rdimRibeiro à la fin du XV siecle, outre un roman sous le


titre de Menina e môça / p. 8 / (lhe young and youthful ) a laissé des
idiles et des poesies pastorales d'une grande et simple beauté.
Gil Vicente â cette meme epoque composait pour la court d'Emanuel

66
3ncient minstrels at Fbrtugal, seve , perneps , sare of tre W?Ish poers , and sare
early fragments af Irish poet ry.
Thaugh hrt as yet Iitt le moulded into form, tre Fbrtlx;)uese Ianguage rever-
theless carrrenced, even in tre first ages of tre rronarchy, to assure a vi9JUr ot
character , and to give early evidence of its future capabilities. La f-larpe , in
his "Cours de Litteérature" aff irms , that tre first chivalrous ranance v.tlich was
ever pubI ished in any of tre li ving Ianguages of Europ:=, is decidedly of F1:lrtl.gt.ese
origin; narely, that of tre celebrated fm:1dis de G3uI, by Vasca de lcoeira, v.tlich
\as l:€en translated in every country of Euror;e, and Iately into Erglish by Mr.
S::x.rt:hey.

l.td:!r tre fastering care ot tre sovereigns of FbrtugaI, the Ianguage rcw made
rapid stirdes to perfectím ; already enurerating its minstreIs, its chrmiclers ,
and writers af ranance , until at lerçtll, in tre fifteenth century, ciJring the
reign of 8rrranLEI , it possessed its regular hístoriens and poets, and, v.tlat is
more , its drarat íc poets. GJTes d' Azurara, FemcJJ1 tooes, lezeró:!, and afterwards
Barros, sumélTEd the Li vy af F1:lrtuga1, and v.tlo wrote tre history of the P'Jrtu-
guese CCll"qJests in the East , successively chall m.:Jed pLblic attention.POOut the
SéITE time also many otrer historical and poeticaI writers / p. 530 / floorished,
of vim it wi II be sufficient to mention tre most rararl<able. Azurara was en-
played by Alptmso V., ....no was the f irst to ardain a history of Fbrtugal in
tat ín, in callecting materiaIs in Africa for perfect írç its chrmicles; L.qx:!s,
....mse writings are exact and p1i laSOj)1ical, oftei, too, clW!aling to the heart,
is considered the fatber of FbrtlJ]uese history. lezeró:! and Barros have toth
their CMI1 pecul íer merits.
8emardim Ribeiro , v.tlo wrote towards tbe end of the fifteentll century, in
addition to his rarance , ent itled " ttenina e M:x;a " or The Yoong aro Yootl1ful,
PJblished idyIs and pastoral pieces, distingu ished for their beauty and sim-
plicity.POOut the SéfIE t ime, Gil Vicente corcosec for the court of 8rrrallJel

67
ses drames, ou on ne trouve pas à la verité les for mes antiques et
cl assiques des dramatique s sudernes oú des anciens Grecs , ni les bGau-
t es males et ener giques, quoique moins regulieres de notre Shake spe are
mais qui sont cependant des prodiges pou r le tems ou il s sont contés .
II a la iss é des comedies, des autos (myst erys ), des far ces.

Les Portuga is alor s eta i nt plus avancés dans les sciences que t out
autre peu ple en Eu rope . Le grand mathematicien Pedro Nunes , inventeur
de "I ' i nst rument qu i aujourd 'hui encore conserve le nom de/p.9/flbnits (la-
t ini zé de cel ui de son invent eur ) les decouvertes de Magalhães (qu'on
nome gene ra Iement Magell an ) la celebre academie et I ' observat oi re de
I 'infant D. Henrique à Sagres, qui date du commencement du XV siec le ,
en font preuve.
La pe inture encore ava it fait de grands progres; on admire encore
à PaImelIa dans I ' eglise des Chevaliers de St. Jacques ( San '-Tiago )
et à Thomar dans celle de I 'ordre militaire du Christ et qui etait an-
ciennement le chef de ce ll e des TempIiers , les tableaux de Gran 'Vasco
( Vasco Le Grand )dont le peinceau est rude , ou i I y a peu de perspective
comme dans tous les peint res de cette epoque la, mais d'un dessin tres
riche . Ces monument s de l a peinture portugaise font de ce qu'il y a de
pIus ancien en Europe .
Mais c' est dans le regne de Jean III le f ils e le successeur d'
Emanuel que les bel les let t res ont vraiment / p. 10 / fleuri en Portugal.L'unj
versité de Coímbre bri lla alors dans toute sa splendeur, on cultiva
les langues savants , et l 'etude de la litterature classique donna un

68
some drarat ic pieces , in v.tlich, t1"oJ;Jh,to say the truth the ercíert aro classic
foms of the drara are rot folloed, ror are the energetic ard nen ly beeuty of
the Gt:ek draratists , ror the richress am variety of cor Onfl SlaksJ:Bare to be
foum, yet are they to ~ ccosioered as narve l lcus pn::xiJctions for the períod at
v.tl ich they v.ere written. Ihis SéJTe author gave the 'f,()rJd caredies, 1ikewise autos,
mysteries, or representations of scriptural subjects , am also sare farces.CqJies
)f this author 's 'f,()rks are extrarely scarce, The late Kirg 'of f~:Jr1:t.l9al is said to
have possessed C1'e. ConsicErirg the great inporterce of his writirgs, am particu-
lar ly to the history of the RJrl:t.l9.Jese ard Spanish stage, it is to ~ rcoed that
a reoI edition of Gil Vicente will te urdertaken by sare C1'e carpetent to the ta sk.
fb...ever i ll-ecorecíated for want of ~irg rrore g:nera\lYkro.fl, ~r1:u}Jese
literature and science nay be at the present day , it is irdisprteble that the
RJrt.Lguese nation , at the epoch of v.tlich v.e have been speekírq, had macE greater
progress in the sciences than al l the othercount ries of Eu~. The natreretícal
I<ro.oIled;Je of Pedro NJnes, the narrtíne discoveries of f-1agalhães, krwl1 g:nera11y
by the nare of fv'age11an, the celebrated kadany , ard the OJservatory/ p. 531 /
erectecl by the Infante O. I-ffiriquez on the rock of .5agres ,are 50 many proofs to
the truth of this assertion.ConsicErable advances v.ere 1ikewise macE in the art
of paintirg, specirrens of v.tlich sti 11 ranain to cha11erge adni ration in the church
of the knights of the orrer St. Jifres at Palrrella , as li kewise at llunar , in that
of the military oroer of Olrist, v.tlich was fonrerly the chief possessím of the
RJrtl.I:]Lese Knights Tarplers; again, the paintirgs by G"an 'Vasco , or Vasco the
Q"eat, Ioi1ose style is rude, erd v.tlose I<r'n/led;Je , with that of a11 his coteno-
raries, of . perspective, is limited ard ínperfect , ooy yet claim the rrerit of rich
and fel icitoas cEsigl. These early specirrens ,of the art of paintirg in ~rtugal
have the adjitional interest attached to tren of higher antiqJity than can ~
asserted of any other sdcol in Eut\)\:e, exceptirg that of Sienna.
M ít was durirg the reiÇ1l of J:ti1 III., the son ard successor of Brma-
nal , tnat the belles lettres ooy ~ siad to have f loori shed rrore particularly
in RJrtl.I:]al. At that tirre the university of Coirrbra, fcxró:.>d ard cherished by
Kirg !:alis, was in al l its splenmr: the leamed larguages v.ere cultivated by

69
~ractere. moins naturel et moins nat io na l . ii est vrai. à
la poesie portuga ise, mais aussi pol li bea ucoup l a l angue .
1'enrichi, la forma completement et lu i donna cette ma jesté
et cette solemnité qu'on observe dan s les Lus i ades et qu i
frapà d'admiration toute I ' Eur ope quand on la vi t ch anter
sur la Iyre d'Homere des chants qu ' on c r oi ai t ne pouvoir
apartenir au modernes langages de nos peup le s à demi -ba r ba -
res.
II faut remarquer que le Cam oens pre ceda de bea ucoup
Ie Tasse, et pour que le pere de I 'epo pée mo der ne I ' Home r e
des langues nouveles / p. 11 / le Camo ens enf in eut put
enterprendre et reussir de sa nouve l le car r i ere. i I fau t
que s a Iangue fu bien perfecti oné et bien bel le.
On connait assez en Angleterre ce gr and poete non se ul
ement par la belle traduction de Mickle. mai s par Ie s ~vants
memo ires de Mr . Adamson qui font autant d'h onne ur au cha ntff
portugais qu'à son illustre biograp he.
Contemporains du Camoens iI y eu pl us i e r s poet es qu i
me ritent d'etre Ius. quelques uns qui devr a ie nt et r e e~ies ,
et qui occupent dans I 'histoire des Iitt era tur es mode rne s
une place trs em ine nte . Le Portugal a non seu l ement eté Ie
berceau du roman et de I 'epopée . mais iI I 'a aussi eté de
la traged ie . Que lques savants philolog ues port ugais pret en-
dent / p. 12 / que la Sophonisbe du Trissime ne so it pas
plus ancienne que la Castro de Antonio Ferreira. Ils s ont
au moins contempora ins. Mais ce qui es t hor s de t out e doute
c'est que la traged ie portugaise de Ferr ei r a es t aussi su -
perieure à 1 'italiene de I ' e ve que Trissim o, comme Ie s Lu s i ~
des le sont à son faible poeme de l ' Italia l ib era ta.
Je donnerai une esquisse r api de de cett e tr agedi e ou
tre Portuguese youth; am thJugh pemeps tre influence of classical literature
texed to make tre ír character less natural am less national, it sti 11 happi ly
conduced to tre tolisn am refinerent of W vemacular toogue, enriched it with
a vast acquisition of reN terms, am at lergth tenninated by perfectírq its form,
and irrpartirg to it that dignified solamity observable in tre cantos of tre Lu-
siad, and which excited tre adniration of all EuI"()Çe, W'a't it was perceived that
teroens had seized tre lyre of I-trrer, am that reroíc subjects, hitrerto cons ícer-
ed tre sacred am exclusive property of tre ancient -orlo, could be herdleo success
fully by a mxem poet, am éJTOllQ a pecole regarded as not yet carpletely civilised.
he IT1Jst not anit to ranark rere that Ca1oens, in po ínt Ip. 532 I of tirre,very
IT1JCh preceded tre Ital ian poet Tasso; am that for tre ccrplete soccess of this
Fawr of mxern epic poetry in his reN career, it was necessary that tre lar'9Jaçe
in which be wrote should have aiready attained to a high degree af perfection.Tt'€
Droductions of this irmortal poet have been naoe sufficiently l<ncw1 to tre í iterati
of EIlgland, not only by tre classical translations of 11". Mickle, 11". Musgrave,am
Lord Strangford, but by tre irrterestírç lTBTOi rs lately given to tre public by 11".
Jldanson, which are not rrore h:>nourable to tre fare of tre Portuguese poet than
tbey are to tre biograr;ter himself.
There are many writers nearly coteroorary with CaToo1s, vrose p:B11S a!nJnd
,Jith beauties which oeserve tre attention af persons of taste, erd vtlich íroeed
Ieservedly occupy a praninent station in tre history of mxern literature. Portu-
gal boasts not only of havirg been tre birth-place am cradle of ranance, erd tre
fontain-read of tbe epic poetry of tre mxems, but justly claims likewise tre
invention of rrrxEm tragedy, -- a pretension,ro...ever, rejected by sare writers.
Tt'€ ~isba of Trissino, am tre castro of flntonio Ferreira, appeared nearly
rt tre serre tirre; erd cne thirf9 may be fairly asserted, that tre Fbrtuguese tra-
gedy of Ferreira is as superior to tre Italian af Tríssíro, as tre Lusiad is to
his poan of "Ital ia Liberata".Tt'€re ére certainly many oefects to be discovered
in tre tragedy of Castr, but trere are Iikewise beauties in sufficient nnter,
and of character, to excite tre interest of tre EIlglish literati, v.m, less

71
iI y a de gr ands defauts comme de grandes beautés . et je suis sur d i n·
teresser nos I itterati anglais qui (nn íns vains et rroins selfis h que. oos voisins
oe I' autre coté de la rrer) airrent a t rouver le rreri te et à I' applaudir partout ou i I est
t». 13 I !'bus laisserms cep:roant aux Iitterateurs Portugais et Ital iens à discu-
ter entr'eux la questioo de priorité. II n'y ei aura pas surarent quant aux aux beautés
ímest íooaoles qJi brillent dans la Castro de Ferreira.C' est I'ancienne -tragedie grec-
qJe dans toote sa porete.dens toote sa simplicité come dans tous ses eX:!fauts d'act ion .

Miis les chouers sont d'ure beeuté, d'ure elegance que je re crois point eçalé, pas
rrêle par ceux si rermés oe l'Athalie de Racine.

Ferreira a aussi corcosé des caredies qui sont vra iment t rop it al ienes ou
trop dans le gout de Terence. et pa r consequent tres peu nationales ;il
y a cependant la comedie du Jal oux ( o Cioso ) que est un chef
d'~vre dans le genre clas sique: l e s ch ar act er e s en son t

emminemment bien dessinés e t pa r fa itement soutenues , et I I


intrigue en est simple, vrai e t res b ien nouée et tre s heur~
sement denouée.
I p • 14 I Ferreira et sa de Mi randa,son c on t emp or a n , on t i n-
í

troduit le genre classique dan s l e Portugal , se sont mis à


la te te de la nouvelle ecoll e , Que meme apres leurs mort ils
ont par leurs ecrits g:memé ~t oes siecles.
L'~, la satyre. I'epitre,l'eclogue ont sous leur infl uence, pr is
possession de la poesie portuguaise, QUi de s lors a a ba ndonné I'
ancien romantiQue des men estr el s pour ne sui vre que le classique
eles Vates grecs et Ibreins. Le genie et le charac tere de la nat ion percait
cependant QuelQuefois, et on peut d ire presQue tou jours.On
lit dans Sa de Miranda mem e de s morceaux du plus beau ro-
mantiQue; le Camoens I ' a eté da ns se s ini mi t a b l e s Canções
( Chanson -- ode romantiQu e ), e t be auc oup d 'a ut res .

72
selfish ard vai n tnen the Frerch crtucs, deI íg'lt in U'€ discovery as in tre ap-
pleose of nerit . ....rerever it OCCUJ"S . Leavirq to the I;b~se ard tre Ital íens
tre task of decidirg tre ~stioo of priori ty I:'et~ trese t'nO treçedies , >ne
will ventJ.Jre to affinn that tre re cen D2 Jb (J.Rst ioo as to tre ir carparat ive
beart íes. n-e Castro of Ferreira pertekes of U1e anc ient t ragedy of tre G-eek.s
in ali its p.Jrity ard sinulicity. as lIOSt certainly in/ D.533 / al I it s oefects.
The choruses, however , possess an e legan ce and a chanm
which cannot be equalled, pe rhaps even by tho s e c el-
ebrated 1 i nes i n the " Athal ie " of Rac ine.JlrI ~ li shtrenslat ím
of this tragedy, with a rreroir of' its exce11ent and 'nOrthy author , was plbliSal
in 1825, by tor. M.Jsgrave.
JlrItooio Ferreira has likewise conosed t-o coredíes.wuch in truth are per-
haps too rruch after the style of Terence; the consequence of v.tl ich ís .that .ful ly
asserting the exce11ence of the Ibren cmedian, they do not possess the character
of naticnality.fb...ever. his caredy , entitled " OCioso " . or n-e ~lous Mm, is
coosidered a ct'ef di CB.JVre for the period at v.tl ich. it appeared. The characters
are pointedly drélW1 and fairly sustaíred: the plot is sínple , agreeable to truth,
and hawily coo:eived; and the develüplEllt is quite natural. ln short , Ferreira,
and Sa de Miranda. Iffln re ca11ed his naster, introduced into F\)rtugal a clas sical
taste, and so crnpletely established thEmselves at the head of the new school,that
the influence of their exemle «ntíned to rule the p.blic for ages after thei r
deaths.The eclogue, the satire, the ode, and the epistle, Ot'IilY:J to their exerticns ,
took possess ím, as it I'.ere, of the F\)rtuguese poetry, v.tlich thenceforward aban-
dcned the narru,.,t track rrarked out by its andent minstrels, to fo11Ot'l the broader
and rrore cl assic route aá:lpted by the poets of the Q-eeks and the Ibnans. M
notwithstandilY:J this alteraticn Df teste and ch~ of style, the spírtt , the
genius, and the pecul iar character of the naticn I'.ere sti 11 to be discovered
forcing their siIY:JU1arities throujl the rew disguise of classic perfecticn. ln
the v.orks Df Sa de Miranda, the rrost decidedly beeutiful specirrens of the fonrer
style of YU1'I3nCe freqJe1tly OCCOr. The sare nay be asserted of eatrens in his

73
~is le classique a toujour predo /p. 15 / miné.

Jeronimo Corte-Real contemporain de ces deu x grands


poétes-litterateurs etait. un brave soldat et gentilhome de
ces temps chevaleresques, qui quoique contemporain du ~s
a composé deu x epopees avant que le chantre des Lusiades w
publié la sienne.
L'action d'un de ces poemes est le fameux siege de lliu
( ou Dio ) soutenu par les Portugais contre toute la PJissero
othomane sous le commandement de Masc~renhas et puis sou
celui du celébre Jean de Castro viceroi des Indes. Ce poeme
composé en vers blancs n'a rien que de tres prosaique, ex-
ceptée la description des quatre parties du monde qui riva-
lise peutetre avec celle du Camoens. et la peinture d'une
ville incendiée et savagée por I 'enemi. qui est frapaute.
/p.16 / L'autre poeme est la narration tres fastidieuse des ~rs
et oes maltaJrs oe Leonor re Sepulveda et re son mari qui ont fait naufrage sur la côte
d'Afri~. Le nerveílleux oe ce poore est le plus ridicule dont je sache; il y a cepen-

ctantresreautessimplesetvraisdans quelques scenes de la nature.


qui decouvrent une sensibilité tres esquise sous la rudesse
et les faux ornements du vieux poete-soldat du XV siecle.
Diogo Bernardes. surnomé le Theocrite et le Sarinagare
portugais, a composé nombre d' idiles et de eclogues dont
le principal merite est la fluidité et I 'elegance du style.
II y a de belles peintures, de belles scenes: c'est un poete
tres digne d'etre connu.
Caminha. dont les ouvrages n'ont/ p. 17 / eté publiés
que tres recemment par I 'academie des sciences de Lisbonne,
est l'auteur de que l que s odes tres classiques mais tres froíoes,

74
II Carções ," or rcrent íc sorgs. as \\ell as witil respect to many others. M still,
mtwitilstandirg these awarent strlJÇflles for existence by the olden and natiooal
/ p. 534 / style , the new and classical rrOO: fi nally prevai led ín ali the CC1IpJ-
sitions of Portuguese writers .
.l:!ronirro Cortereal , the coteroorary of Caroens , was a brave soldier and a
gentleman. possessirg ali the chivalroos feel irgs of the warlike pericx:l in v.t1ich
he lived. Before the eutror of the Lusiad had given his irnrortal poen to the
I'tOrld • .l:ronirro had carposed 00 epic JXX311S . n-e subject of cre of these j:OOJlS
is the celeorated s íeçe of Diu. maintained by the l1:>rt:Lguese Ul"dar the cCJ11T1énl
of tv'ascarertlas. and afterwards Ul"dar tnat of the distirgu ished viceroy of Irdía ,
J::m de Castro. against the w-ole \\eight of the Ottaren ~r . Witil the excep-
tion of his descriptioo of the four quartersof the I'tOrld . 'tAlich mig,t enter into
carparison wíth that of Caroens , and the magnif icent picture of a city delivered
to the f'lares, \'tlich is v.orderfully efective . this p:an. corcosed in blank verse.
is upon the ....mIe rather prosaic and uninterest irg. n-e subject of the other poen
is the tedíoos relatioo ofthe attachTEnt and mísfcrtures of Leoror de ~l veda
and her busberd , w-o \\ere both ship.o.recked on the coast of Africa. Ilere is sore-
tilirg exceedirgly rid iculoos in the intrcx:luctioo and managerent of the narvellcos
in th íos cntostt íco : hrt sti li it camat be denied that there are stríkírq bear-
ties to ~ discovered in sare of the sceres, \'tlich are s ímle , accordant witil the
truth of nature. and v.t1ich exhibit an exquisite degree of sensibi lity •coocealed
under the roojl exterior and the fal se omarents etployed by th ís old mil itary
poet of the fi fteenth century.
Diop Bemardes. sumared the l1:>rt:Lguese Theocritus . is the eutror of ru-
nerrus idyls and ecíoaes , the prírc ípal nar it of v.t1ich ccos ísts in the flCJilirY;J.
easy, and elegant character of their díctím , rot to anit sare beartíful descrip-
tícos , and sare instances of channirg scerery, v.t1ich deserve to te kronn and ap-
preciated.
/ p. 535 / Canírna, w-ose works have onl y been recently publish-
ed by the Academy of Sciences at Lisbo n . has written some odes in
the classical s ty le , but they a re dr y and unim passioned;

75
de nombre d 'epig rammes dont ii y a quelques un s tres bons ,
quelques epi tres vraimen t tournée s dan s l e plus be au gen re
no r a t i e n . et quelques i di le s as s e z bea ux . Les Po r t uga i s I '
estiment beauc oup oour la pureté du l angag e : ii s ' e n fa ut
de beau coup qu 'j I so it de moitié S I inte re s s ant pour t e l e
cteur et ranger que tout autre poét e po rtu ga i s des mo i ns e s
timés.
Nous arrivons a I'epoque ou la litte ratu re p o r t uq e s e í

par 1 'effort d'un seul et puissant genie s' est ele vée au
dessus de t out e s les litteratures des langu e s nouvel les . Le
Tr i 5 5 i mo e t I Ar i os t é a vai e nt te nt é I e po pe e , I e Oant e avan~
I I

eux avait essa)é le merveilleux moderne dans sont toere uiiue :


mais aucun Ip. 18 I n'avait pas encore monté as sez haut ~r
donnerau langues et au peuples modernes une epopee a eux, un poeme n~
tiona l. Le Camoens paru, et ses Lusiade ont etoné I ' Europe: ce n' est
Qu'alors Qu'on a reconnu que hors de la langue d'Homere et de ce l le de
Virgile ii pouvait aussi avoir de salut pour des poetes epiques :

( Finished here I 24 )
( Ihís is the proper place for your
sketch of the carrens 1ife
& wriçtltings --

76
-- numerous epigrams likewise, many of which are excellent
as well as epistles, in the best manner of Horace; and
lastly, some idyls, which are not witlurtrreriL H: is much
esteemed by the Portuguese for the purity of his I anguage. After
alI, however, he will be found much more interesting to a native
af Portugal than to a foreigner.
Wc have rYJ,oI arrived at that naroreble epoch 'ftffi1, by the effort or cre granei
and poerful genius, the Iiterature of Fbrt:.u:]al was elevated above that of every
country in the WJrld. Trissiro and Ariosto had previously atteTpted the style of
epic poetry: and Dante, before tha:n, had erploya:J in his símrler and adnirable
posn, the rn:rl:m ccnception of the marvellous and grand; :lJJt reitrer of tha:n
had soared se high as to dare the ardoous task of givirrg to the rn:rl:m irtlabit-
ants of EuT"CJP=, and in coe of the livirq languag!s, a strictly national epic posn,
To achieve this was reserved for Caroens , ....to at orce astonished and captivated
Eurol): by the rovelty of his design, and the bri lliancy of his verse;cnl vh:> tren
proved to the adnirirrg literati of the tirre,thqt if fbrer and Virgil Ir.ere the
just pride of the classic ag!s, the spirit of epic poetry was rot extímnsred,
hrt had only shntered, to revive at a later períod in the epic poet of ~I.

It was natural, íroeed, to ~ that the bold spirit of adventure Ittlich


had urged the Port.l.guese to umertake I):rilous enterprises, and attaTpt distant
«mests, 't.OUld awaken the spirit of heroic poetry in the nation, and prcdJce
for G:Jre his Hner, Jlnimated by an ardent patríotisn, and full of enthusiastic
adniration of the valour and constancy by 'vtlich the Port.l.g.Jese had c:a-qJered
their country fran the MxJrs; had fOlJJ"O:d a rrooard1y. and SlJW)rted its ime-
~ against / p. 536 / the seperíor forces of castille; with Ittlich. after
havirrg confinred itself at ture, it passed into Africa to fix barriers to the

77
Mxlrish poer: ard at last traversed rew seas, ard established a rragnificent arpire
in tre East; -- Luiz de Caroens conceived the design of erecting a lTOll.JTEllt to his
cointry's féJ1E, vilich , transmitting these heroic deeds to posterity, should perpetu-
ate the glary of Portugal, am attest that no ather natim had ever acquired an
equal degree of reroM1.1re plan of this JX811 he had concei ved at a very early pericd
of life, and a portím of it was cntosed previously to his departure for lndia in
1553, v.nere it was finis~ in 1570. lt is naterial to rennter trese dates.teceuse
they establ ish for the poet nost carpletely the glarious title af priarity in the
ccrcosítion, in rrodem tines, of a regular and justly esteaTEd epic JX811.
1re discavery of lndia, achieved by the eXp?dition af Vasco da GIra , is the
only and carplete actian of the JX811, the plan of vilich is; canducted accarding to
the classical regJlarity laid cb.oK1 by the ancients. 1re fable is perfectly dis-
tinct. ln the OÇB1ing stanzas the poet explains his subject, invokes the nyrrphs
of the Tagus, addresses himself to the youthful sovereign 5ebastian in arder to
obtain his protectím, and then enters at once upon the middle of the actioo.&tb-
seqJently, he intrcdJces into the narrative, as appropriate episodes, those events
in tre history of Portugal vilich prepared the nation for 50 grand an undertaking,
and for the foundation af their vast arpire in the East, and ultirrately led,through
the di rect OÇB1ing of tre navigatioo and canrerce of Asia to tre ci vi lízat ím and
l íberty of Eul'"Op?, and to the exteisím of her krKMledge and riches.
1re Lusiad has been the subject af frequent criticisms; ard M:x1sieur Millé,
and our o,.,n Mickle ard Musgrave, have all cbre justice to the ariginal JX811 in
their severaI trenslatícos.tadere de Stael has euloçísed and poínted out the
beauties / p. 537 / of the first arorg the epíc poets of the rrodems , and Laner-
cier has not withheld his rreed of adniratioo. Caroens.trerefore , has been suf-
ficiently avenged for the harsh criticisms af Rapin, the severe strictures of
Mrien Baillet, ard the unjust censures of Valtaire and La Hal"j:'e. O1ateaubriand
and Prores have «rcurred in assigning to the author of the Lusiad a high rank
ffiD;1l poets, ard have asserted his claims to priarity over the rrodems in resto-
ring the heroic verse af the ancients; but arong those l'hJ have published thei r
coíníms rn the rmn of Caroens, Marrei de Faria e SJJza, D:n ..tJzé Maria de Souza,

79
w. JldcIllSbn , em W. GJrrett , are the nnst entitled to claim attaltion.
Like Cervantes , Alonzo d'Ercilla, ard GJrcilas50 de la Vega ,of wm the
~niards make a boast, the poet l't1o undertook to celebrate the first ca'Q1..Jerors
of lrdia was li kewi se a warrior , ard passed his life in «ntets or in distant
expeditkns of dang=r. Previoosly to his departure for lrdia, Caroens core anns
ina a naval engagarent off Ceuta with the t'oors, in I'llich a splinter deprived him
of his ri ç1lt eye. This was duri rg the reign of J:lão III. At length, in 1553, t-e
sailed for Irdia, ard arr ived at G:>a , in the Sept:aTb:!r of that year,to seek a
lívírq I't1ere his father had already fourd a grave. ln lrdia his life was checquered
with vícissitues. ard clcuJed by misfortunes; ard his latter years \'lere arbit tered
by the cuel neglect of his sovereím ard by actual want. At fo1acoo a grotto is still
shot.n, I't1erein t radit ion reports that Can:::ens spent the greater part of his tine
in the carpletion of his p;m. After varíous chang=s of fortune, t-e ertlarked for
Eurq:e, in order to lay the Lusiad before the yc:x.o;j kirg, üm SEDastian. 1l"e tine
of his arr ival was nost unpropitioos , for his native city was ossolated by the
plagt.e, ení li ttle attention therefore could be expected for the poet, After a
períod of 00 years, arployed in the revision of hís poen, the Lusiad was first
pnl ísred in 1572, ard dedicated to [bn SEDastian, ...ro conferred on the bard an
errual pen- / p. 513 / sion not exceedirg t\\enty pxms, accordirg to the present
value of mrey, ln 1578 SEDastian invaded Africa. 1l"e fata l issue of the mnor-
able battle or Alcaçar Kebir is \'lell I<rn.fl , in I'llich the flOner of the Portuguese
nation perísred, ard the glory of Port:u;)al was extirgJished. ln a letter writtal
by him, W1e1 expirirg on a wretched bed , ard at a tine W1e1 the sceptre of Por-
tuJal was waverirg in the imbeci le hard of the Cardinal o. I-alry, the poet pres-
~ the ctWrrall of his contry, -- "At last I shall fin ish my lífe, ard ali
shall see that I loved my oxntry 50 nuch , that not only was I contented to die .
in it, but aI50 to die with it." 1l"e m:n.rrent erected to his narory .in the church
of Santa Proa at Lisbon, with a Latin ard Portuguese inscription, disepceared at
tt-e t íre of the last dreadful earthquake; but poste r ity has cbre amle justice to
tt-e patriot ard the poet, erd , uninfluenced by the írqrat ítios of his oxntry 01'
tre reqlectof the co-.erful, has rescued his nare frem oblivion, ard given it ím-

81
La prosper it é du Portugal declinait visiblement. O. Sebastien a eté
s'ensevelir avec sa nation et sa gloire dans les sables d'Afrique:1 'in-
~uisitio~;t les moines couvraient le' Portugal "d as I'.e htave ~bfore rara r1<ed
e ses ene res, l, usur
pat ion des Phillipes d'Espagne, acheva de ruiner le paiz . Les arts et
les sci ences devi nrent peu a peu / p. 19 / silentieuses: la poesie a
Quelques fois essaye de monter sa Iyre, mais les cordes en detonaient
visi blement, I 'histoire a voulu reprendre son burin; mais la tyrannie
etait la JX).Jr la forcer au rren~ et a I' adulatioo. L'usurpatioo de I'etranger s'eten-
dit jUSqJ'à la larq..e, qui, 00 supplante par celle des tyrans, 00 entachée de barbaris-
rres, n'etait plus, llBTE quand 00 s'en servait , cette langue si bel le, si pure, si sanare
:qui dans les vers du CéIroo'ls, dans les períooes de Barros avait chamé l'Eu~ et sur-
passé tootes les langues vivantes.
Ce pendant des poetes brillants, des prosateurs disting~s
parure nt encor e . Vasco Mousinho de Quebedo /p. 20 / a chanté
dans une epopée sous le titre de Aff onso, Africano ( AlfonsE
l' Afri cain) la conquete de la Maurítanee par ce prince ,AI -
.fonse V. II y a des grandes beautés dans ce poeme: quelques
·t abl eaux magnifiques, quelques morceaux descreptifs d'une
rare beauté, un style orné, facile et grand; des vers on ne
peu t pas plus harmonieux. II manque cependant d'originalité :
on sent t r op limitation du Tasse qui etait alors tres à la
mode.
La Malaca conquistada de Menezes, chef d'une des plus
illustrés familles de Portugal et de toute la peninsule, ert
aussi une imitation de la Gerusaleme Liberata, dont le style
est quelques fois Qo~r~ofl~, et generalement peu naturel, / p. 21 / et
infecté deja des antitheses du Marinisme et Gongorisme; mais ou ii y a
cependant quelques morceaux excellents. La scene de I 'enfer, au commen-

82
IIDrtality; v.tlilst his lyre, rrore durable than a tablet of store, will cootíne to
~ hean:J with deI ight thrcxJ]hout the habitable -orto.

lre prosperity of ~rtugal rn.' contined visibly to decl ire; the mnastíc
systen, anel the poers possessed by the Irquisition, v.ere oevelcoírq the contry
in the depths of rroral degradation and dar1<ress; anel at ler'9th the ususpation of
the throre by the Casti li n Ali Iips empleted the annihi lation of Lusitanian glory.
1te arts ard the sciences v.ere gradually neglected; the ITUseS v.ere discouraged;and
every effort of the poet anel historian was repressed by the chill hand of oespotísn ,
ar perverted by tyranny to falsetro:l and base adulation. 1te intrusion o f t he
Spanian:J extmJed its injuries even to the largJage of ~rtugal.

Notwi thstand i ng, however, the darkness of this intellectuaI


night in Portugal, poets and other writers did, like meteors, occa-
sionally flash across the gloon. Vasco MJusinro de Q..ebeOO celebrated, in an epic
poem,entitled " Affonso Africano," I p. 539 lor Alphonso the African
the corquest of MJuritania by the prince AIJh:xlso V. It certainly possesses COI1-
siderable beeutíes, sore pa íntírq and cEscriptive sares of unusual excellence,and
the style is at once omarertal , easy , and often diglified; v.tlile nothing can be
rrore narmn ícus than ~ fl()ol of the netre, 5ti l l , Q..ebeOO is deficient in orig-
inality, erc his imitation of Tasso, ....00, at the tirre he wrote, was in gereral
esteen, is too eviclent.
1te " MJlaca Cco:juistada " of /t'erezes, a ITBl'OOr of one of the most i llus-
trious families in Portugal , is also an imitation of the Jerusalem
De I i ver e d , It s s t YI e i s f r e que nt I y i nf I a t e et , a nd no t often
Mwrel,and besides, i~ occasionally infected with extra-
vagant antitheses; but still it has some beautie; for
instance, the picture of hell at the commencement , and

83
cement , et l e di scour de Luc i f er dans l e Pandemonium fait
pense r à celle de Milt on et la r i va l i se quelques f o s , et ã
í

ce rta ins ega rds la sur pas se . C'est un morceau qui devrait
etre tr aduit par une main habil e da ns la langue du Paradise
Los t, pour illustration de la litte rature anglaise.
Une aut re epi que remarcable est le Dr. Gabr iel Pereira da Costa ma·
gistrat int egre, juri scon sulte transcendant qui a ecrit le traité De
Manu Reg ia tres estimé des professeu rs de la science du droit, dans le
quel iI a Ip. 22 I peutet re le premier, etablie cette ligne de demarca -
t ion ent re le pouvo ir civ il et po litique et celui de 1'eglise, sur la
que l le repose la plus important e garantie des l i ber t és publiques dans
las pa iz cathol iques. l l ne faut pas esperer d'un professeur de droit,
d'un mag istrat du XV I. s iecl e les prin cipes eclairés de l' Esprit des
Loix , ni les t heori es tran scendent al es de Bentham: mais i I est assez
pour la gloi re des lettres po rt ugaises qu'on ait entrepis un t el aNrage
et à une telle epoque.
Ce grand j uri sconsul t e au ra it été un grand poete s ' i 1 n ' eut
donné 't e t e ba i s sé da ns touts les vic.es des poetes de son
s i ec 1e : I p, 23 I l ' exa9e r at i on , 1e s c 1i quant s , 1e s concetti
ont ent ie re ment gaté un epopée qu i par son genre, le choix
du su jet, la s i mpl i c i t é du plan , l a regularité la beauté ~
l 'ord r e et de la symmetri e se r ai t, sans cela , si non la plus
orig i na l e , l a plus belle et l a mi eux f inie des epopées mo-
dernes .
11 ava i t mis da ns son poeme ce qu'il y a de plus in-
teressant dans 1 ' acti on de l' lliade et de 1 'Odyssee: le
titre en es t Ulysse a ou Li s boa edificada, Ulissée ou la
fondation de Li s bonne que les anciens historiens attribuent
en effet à Ul yss e. Ma lgré les defauts I p. 24 I qu'on vient
de c i ter, i I y a t oute f o ix une peinture de Hellene aprez

84
the d iscou rse of Luc ifer i n the Pandemonium, recall
that of Mi l ton t o t he memor y ; nay , e ven s omet i me s ~~
wi t h i t , a nd pe r ha ps i n o ne o r t wo i ns t a nc e s e ve n surpass
it .The translat ion of th i s sp lendid passage into the l anguage of
Mi 1ton v.ou ld be ....ell v.orthy the attaTpt of sere naster mird.
Another r emar kable epic poem is t hat by Dr . Gabriel Pereira
da Costa, an upright magistra te and an emi nent lawyer, who has
written likewise a long t reatise, entitled " De Manu Regia," av.ork
reld in great estimation by professors of tre legal scíeoce: in W1ich pertaps re
has been tre first to establish the 1ine of dararcat ion l:x:!Theen civil ard !XlI itical
poer, ard that arrcqated by the church , uxn W1ich oeoerds tre nost ínrortent
guarantee of IXJPUlar l íberty in a Catrol íc contry . ve rrust not, oo...ever, expect
to fird in the v.orks of a professor of law ard a naqístrate, W1ü lived in the síx-
t.eenth century, trose enlightered views of tre spirit af laws, ard trose transcen-
oental theories W1ich character íse sare mxJem writings on the subject;bJt still it
is sufficient for tre literary glary of Portugal , that such a v.ork shJuld havei
p. 540 /I:x=en l!'dertaken by cne of rer wríters, erdat such a períod in ber history.
This celeorated lawyer mig,t also have becare a distinguished poet, had be not
given in to all the errors ard bad teste for W1 ich the met rical wri~rs of his age
....ere rarerkable. PrI exaggeration ard false qlttter, with nurerous conceits of style.
have entirely destroyed tre character of an epic posn, -W1 ich, frrm its kírd, the
croíce af the subject, tre sínplicity of the plan , the regularity, the symretrical
arrangerent of the W1üle, v.ould have been, ....ere ot not for trose defects , if not
the nost original, at least the ITOst beeutíful ard nost highly fini shed of all the
epic poers plblished in mxJem times. Th2 írrterestí rq subject of thi s posn is the
füUrdation af t.ístxn, l!'der the title of " Ulyssea, " ar " LisOOa Edificada,"
" Lisban faunded by Ulysses," according to the assertian af ancient
historians. l n spite o f t he defe cts which we have pointed
a u t . i tis ne ver t he 1e s s but jus t to no t i c e h i s description
af Helen after the siege of Troy , and a wild- boar hunt,

85
la pr ise de Troi e, une ch a s se de sanglier , et quelques au-
tres morceaux ou le gen ie vra iement grand et poetique de
I ' aut e ur n 'a pas été en ti e r eme nt etouffé par les fau x or-
nements du mau va is gout de s on sie cle.
Le Po rtugais comp te nt à ce tte epoque d 'autres epiques
en gran nombres , poetes et prosa teur~ de toute espece . II
y en eu qui comme l e cele bre Faria e Souza abbandonnerent
leur belle langue pour ecri re dans le guthural castil lan.
Dans ce nombre ii faut compte r, ma lheuresement pour la l i t-
terature/ p. 25 / port uga ise ,Jorge de Montemayor , auteur du
celebre roman de Diana, que Florian a heuresement im ité
dan s son Estel le . I I faut ce pendant remarquer que aux beau -
tes du style, pre s , tout ou presque tout ce qu'il y a de
beau dans le romanc ie r f ra ncais est emprunté à I 'auteur po~
tu gai s .
Bernardo de Br ito , mo ine de S. Bernard ou de Ciste r ( withe t rí ar'
ecrivai~ a cette epoque son histo ire generale du Portugal sous le ti t re

de Monarch ia Portugueza. Les memoires du s~int et noble Archeveque de


Braga ce prela t si ecla i ré de I ' egl is e portugaise , qui au concile de
Trente soutint avec fermet é et intel l igence la necessité du mari/p.26/
mariage des pretes , c 'est a dire , de I ' aboli t ion du celibat ecclesias-
tique; ces memoires si int eressantes, qui se rapportent a la fameuse
epoque du dernier concile general , so ecrites avec elegance et pureté
sans aucun des vices de I 'epoque, et meritent beaucoup d'etre lues .~
auteur tres estimé des Portugais se nomait Fr . Luiz de Souza.
Outre beaucoup de chroniques, de poes ies de divers gen-
r e s , de t r a i t és s avan t s s ur Ie dr oi t , Ie s ma t hema ti que s , la
nautique les Portugais ont abbonde à cette epoque dans un
genre que ce sont eux surement qui I 'ont i nt r odu i t dans la
litterature moderne ou ii occ upe aulourd 'hui une si/ p.27 I
9r ande pI ace et s i nonour ab Ie . Le 9e nr e ce s ont Ie s ~

86
and to say , that there are many other detached pieces
in the poem which evince the spirit of a great poetical
genius , unshackled by the false ornaments and bad taste
of the age.
A little after this period, numerous poets and
prose-writers of every kind flourished in Portugal;~
of whom, like the celebrated Faria e Souza, abandoned
their own beautiful language for the guttural Castilian.
Among these literary traitors, as they may be ~iM~,
is to be reckoned, unluckily for the fame of Portuguese
literature , J. de Monte-Mayor, the author of the cEl-
ebrated romance entitled Diana 01 01

Bernardo de Brito, a Cistertian, or white friar,


wrote about this time his general history of Portugal
under the title o f 01 Monarchia Lusitana 01. The memoirs
of t he s a i nti y and nobI e Ar c hbis hoP of Br a9a , the Iig'lt aro
pride of the ~rtuguese church, \<h:J, at the Council of Trent, boldly aro finnly
/ p. 541 / urged the necessity of marriage for the priesth:xxl, and the etoltttcn
of the law enjoining sacercbtal celibacy, also ~ared. 1tese írrterestírq naroírs,
loAlich relate the proceedings of the last general corcü , are written with an
elegance aro a p.Jrity untinctured by the vícíous style of the age, that have se-
cured for their aut.ror,Fr. Luiz de &:luza, the utIrost degree of estimatioo éJTO'g
the ~rtuguese. ln aójitioo to nurerous chrooicles, poers of different kírds,
leamed treatises UJX)f1 law, the mathenatics, rav íçatím, ard many other subjects,
the ~rtuguese aIxJurded, aoout this tirre, ín a class of writers \<h:J, may be fair-
ly asserted, have set the examle of, ard have introduced into the rooem litera-
ture of Euro~, the taste for that style of writillJ. at once 50 h:o:lurable ard
useful , aro loAlich at present is 50 universally patrooised by ali classes in 50-

87
(li recits oes voyageurs. -- Fernam Mendes Pinto don le voyage à la
Oure et autres paiz J):U connus alors a été traduit en Anglais et en Francais; les divers
auteur ~ la col1ectioo intitulée Historia tragico-maritima, et beaucoup d' aut re s,
qJelqJes uns rrare assez coonus en Europ:! eri font preuve.
N'ecrivant pas I 'histoire de la litterature portugaise, mais voul-
lant seulement en dessiner les traits principaux, je suis force de pas·
, ser en silence une foule d'auteurs remarcables en touts 'genres qui fe-
raient I 'admiration de I 'Europe s'ils n'etaient pas ecrits dans une
langue si peu repandue.
Nous arrivons donc à ce que les Portugais apellent la troisieme
epoque / p. 28 / de leur litterature. EIle etait presque entierement
morte quand I 'esprit d'independence qui a toujour distingué la nation,
eclatá dans cette memorable revolution de 1640, qui a secoue le joug
castillan et mis la courone sur la tette de Jean IV premier roi de la
dynastie de Bragança.
Participant 3 I 'etricité generale les lettres se so~t
aussi relevee un peu de I 'assoutrissement ou les avait mis
la tyrannie. On vit alors paraitre cp. grand orateur Antonio
Vieira un des plus grands hommes du siecle XVII.Dans ses sermons on
r
trouve les defauts dusiecle, I 'exageration et le concetti; mais quelles
beautes, quel style,i quel feu, quelles immages! Ce n'est pas/ p. 29 /
l 'elegance de Ciceron, mais c'est la force et I 'impetuosite de Demos-
thene. Raynal dans son histoire de l'Amerique à fai justice a ce grand
orateur,et a cité un de ces plus beaux morceaux, le sermon preché à
Pernambuco durant le siege que les Hollandais y avaient mis.

Le Chevalier d'Álmeida Garrett, que nous sommes forcés


de citer puisque iI est le seul qui entre ses compatriotes
ait ecrit quelque chose sur I 'histoire de la litterature

88
ciety -- tbe narratives af trave11ers.

5ince a carpret'€l1sive history of tre literature af Port.t.i]al cerrot .cossíbly


te contarplated in this brief sketcn, ard as our ciesiyn is IlErely to sUJXll y tre
reali:!r »ítn a general rotion of íts principal features, ve fTUSt pass in silence
over the IléfI'ES of a crod of renarkable anrors, poets,r:t1ilosop1ers,Iél't'.yers,aro
hístoríens.wo might justly cha11erge tre adniration af F1.Jrq:e,had treír 1o.Or1<s
00en written in a larguage rrore universa11y kn<W1. Ii: have roN, then, arríved at
that períod W'lich tbe RJrtu:}Jese li:!siglate .tre third epoctr af treír literature.It
had alrrost expired, W1en tre spirit af l::J e.p:njence , W'lich has always dtsttmnsn-
ed tbe nation. burst forth in the ever rrarorable aro glorious revolution af 1640,
W'lich tore asunlÍ:!r the castilian chains , aro pleced tre Lusitanian cron Up:rl the
head af .trn IV.,the fi rst sovereign of the Braganza dynasty. Inflierced by the
general electricity af the tines, the Iiterature .o~ Fbrtugal in part recovered
frun ti'e lt:!graded cordition in W'lich the tyramy of tbe castilian usurpers had
left it.
It \'eS then that Mtonio Vieyra appeared before the plbl íc, Ip. 542 la
truly literary man, and one of the rrost poerful orators that adorned the seven-
teenth century. 1te style af his writirg is always perfect, aro in every page
tre reeoer wi11 discover irrages, beauties, aro energetic passages, \'tIich, if they
.Í)not remind him of the elegance af Cicero, wi 11 at least reca11 to his reco11ect-
ion the force aro ínpetmsity af ratosthenes.1te Pbbé Raynal,in his History af Are-
ríca.ras dre amle justice to this great Cllristian orator .ení nas noted a splerdid
passage fran a senro W'lich he preached at PeI'TlalTixJco,W'lilst the city was besiege:l
by the ll.rt.ch.
lte O1evalier li:! AlllEida Girrett. \\tose nare \'lê nust rrention again,since he
is the only Portuguese who has wri tten any work on the
literature of his country, if we except the papers
which have appeared in the " Memorias da litteratura , "

89
portugaise, -- attribue a Vieira e a un de ses contemporains
Jacinto Freire de Andrada la derniere ruine du bon gout d~~
la litterature. II croit que le mauvais gout de ses antithe-
ses de ses phrases I p. 30 I empoullées a prevalu pro tege
par le grand nom de ces auteurs, que tout le monde voullai1
imiter. Je ne suis ~1e·I'6Piriiór'l··aü·riJXle·rh·ê·TiTtê·fátêi.ir·;··Tê···
pense au contraire que le gout etait deja corrompu, et que
Vieira et Andrada ont plutot eté entrainés par le torrent~
qu'ils ne l'ont entrainé eux memes.

Cet Andrada est l'auteur d'une histoire de o. Jean de Castro, le


fameux viceroi des Indes, qui triompha à Goa comme les anciens generau>
roC'est une vanité des Portugais que leur grande vale~r d'
alors, rend pardonable. Cette biographie à quelques ex age-
rations de style pr e s , est un modelle, surtout pour la beau-
té et la pureté Ip. 31 I et la pureté de la langue.
II y eut alors beaucoup de poetes tres pronés de son
tems, meprises et entierement oubliés aujourd'hui. Nous ci-
terons le comte da Eryceira, I 'ami et le traducteur de Boi-
Ie au , dont Ie s ver s cep:rrJant re le feraient por cevirer: la Fel igieuse vtolen-
te 00 Ceo,OOnt les poesies sacrées dans un style purarent de G:n;pra ou du Ibnan de la
rose, S01t iOO2ce1tes par les tableaux voluptleux ou cette rue ard:m.e et enthusiaste
a voulu peímre les deli ces de l'éIlE erbrasée de l'éJ1'O.Jr divin!!
Tel etait le gout bisarre du tems; qui deja cedant la place dans
le reste de I 'Europe aux Ip. 32 I aux lumieres des sciences nouvelles
a toutes leurs consequences, resistait encore en Portugal par les efforts
de Jesuites touts-puissant dan ce paiz.
Un tiers apeupres du XVIII siecle etait ecoulé, Joseph premier
montant sur le throne donna toute sa confiance au celebre Marquis de
Pombal; et sous ce ministre ecclairé on vit alors las Jesuites eccrasés,

90
published by the Roy al Academy of Sc ien ces a t Lisb o n,
attríbrtes to Vieyra anel to <Te of his cotenorar íes, Jacinto Frei re oe .Ardrada,
tre fi nal ó=struction of all gcxxl t aste i n t he 1 ite rat ure of Po rtug a 1. He
i s of opini on t hat their t astele ss antithese s and in fl ated dic tion
succeeded i n establishing ttanselves urrer tre íntosírq auhtor ity of tre
. nares of tre ír auhtors , and thence that tre imitation of tre ír faulty style tecere
gereral. At tre sare tirre, v..e might venture to differ frrm this respectable literary
character, and urge, on tre contrary , that tre nat ional taste had al ready been
corrupted, anel that Vieyra anel .Ardrada v..ere ratrer involved ttanselves in ti'e tor-
rent , than trey v..ere tre/p. 543 /rreans of hurryin;) otrers alOn;) in a vicious course
of corcostt íco.
.Ardrada is the author of tre Life of O. J:Jhn ce Castro , the celebrated vi~
roy of India , vro triLlTphed at Coa li ke ti'e ancient gererals of Ibre.fu: valour
exhibited atout this per íod by tre soldiers in the East , will sufficiently accont
for tre vanity of the RJrtugJese nation. Ihís piece of biograp1y, with tbe exceptior
of sare occasional exc1ggerations , mtwithstandin;) vtlat has been said etove , rnay ~
taken as a mxel of ti'e 1a.rr;uage, botn with respect to choice of expressions and
ti'e pmty of tl'e style. ProIt the sare per ícd a galaxy of poets , W"XJ then v..ere
teld in mrn esteen, hrt vro are neglected or over looked in nooem tirres. Df this
nnter was the c:enE oe Ericeira, the friend anel the translator of Ibileau ; and
Violante d:J Ceo, a nn , a writer of sacred poers, I'terein ter enthusiastic mind
has pictured tre oelig,ts eeeríerced by a hunan soul in tre erbraces of divire
love. SE was ó=signated tre tenth mise. Such wa s the fan ta st i c and extra-
ord inary taste of those t imes i n Portuga l , a nd which
everywhere else in Europe , y ie ld i ng t o the il luminati on
of new discoveries and sciences , and th ei r bene f i c i a I infl uence,
neverthe less mainta ined t he re abst inate ly i t s groord cwin;) to the
íntrí ues anel interference of the ~suits ,vro v..ere then ,unfortLnately for the
contry, al l-poerful .
t-early coe-th írd of the eighteenth century had already passed é?tiay , 'fia'I
JJ5eIi1 I.rrwrted tre throre of rortugal, repos írq all his conf iOO1ce in the
~rquess Df R::rrbal. lten it was the tirre that ti'e nation bet'eld tre ~suits crushed

91
1'lnqulsltlon contenue , l a pu issance papale menacée, e t
necessaire consequence de tout ceci -- les scie nces et les
lettres refluissant et brillant d 'un nouve l ecla t.

11 parut a l or s le philologue / p. 33/ Freire qui ,srus


le nom supposé de Candido Lusitano publia divers ouvrages
ou le bon gout et la pureté du style, et une connaissan ce
vaste de la litterature ancienne et moderne brillent de
touts cotés. La vie de I 'infant D. Henrique -- le fameux
prince -- mathematicien au quel on doit les decouvertes de
la mer Athlantique du Cap de Bonne Esperance, et qui a été
le fondateur de la navigation moderne , -- est un morceau
d'histoire les mieux ecrits et les plus i nt e r e s s ant s qu' iI
ait dans aucune langue.
Le Pere Antonio Pereira a donné alors sa traduc tion com-
plete / p. 34 / de la Bible qui est tres estimée et r e put ée
c I a s s i que. Cet i I I ust r e champi on de I' egIi se por tu ga i se a ata-
qué vigoureusement la puissance papale qui est aussi abho~
de la partie eclairée du clerge portugais qu'elle I ' e s t en
Angleterre. Son ouvrage intitulé Tentativa theologica , qui
a ·eté traduit en Latin , en Espagnol et en ltal ien, a ~sque
excité une revolution aRome: le pape et les cardinaux etaiffi1
en alarme, et on honora le theologian portugais d'une excom-
munion qui ne fit que d 'augmenter sa renomée et donne r pl us
de relief à sa gloire.
Le charmant poete Garção, I 'Horace por tugais paru t dans
ce tems. La purete, la beauté /p. 35 / classique de ses ~s
n'est pas meme surpassée das celles d'Horace son modelle. J 'observerai
specialement que la Cantate de Didon, l'ode à la vertu, et celle du
Suicide sont d'une beauté si sublime et si vraie que je n'en connais
pas de parei Is.

92
by the enlightered minister, the authority of the Irquisition restraired, the
poer of the papal chair rrenaced, and, as the rece~sary cnseaeoces of these
íntortent events, the arts, the sciences, the belles lettres, agricu Iture, manu-
factures, ard camerce, f lnmshim with rere,.,ed viçpur. Then appeared
the philologian Freire, who, under the assumed name of
" Can-/p. 544 /dido Lusitano ," published at the time
several works eminently distinguished by treír good taste, the purity of
their style, and an extensive kro.vled]e of ancient and m:xJem literature. 1te
life of the Infante O. renriQlfl, the ceIebrated prince and mathematician,
to whose enterprising genius Europe is indebted for the
discoveries made by his navigators in the Atlantic sea, tl1e passage to the east-
em pentnsula by the Cape of Qxxj ~, and in short for ali the irrproverents in
m:xJem navigation,and for the extension of m:xJem camerce,is one of the nost
interestirç and best written pieces of bíoqrepucal history in the I~ge. Father
Antonio Pereira also then completed his translation of
the Bible,which was much esteemed for its f idelity and
classical elegance.This illustriOus chômpion of the
FbrtlJ]uese church viçproosly assaiIed i n s e ver a I pu b I i c a t i o ns t he
papal predominancy in his country. His work, entitIed " Tentativa
Theologica," which was tranlated into Latin, Spanish, and
Italian, nearly excited a revolution at fbre. Ire Pcoe erd tre
Cardinais v.ere thro.-.n into a state of the utnnst constemation; and the consequence
was, that they conferred the honour of excommunication
UJXXl the FbrtlJ]uese thoolo;)ian,l'tt'lich contril:xJted to his fare quite as rruch as it
stn.ed to the 't.OrId the foIly and the impotence of papal irdiglation.
About this time we find the poet Garção, considered as · the
Horace of the Potuguese, in the hands of everyOCdy. he purity,the classic
eIegance of his ooes, is not even surpassed by those of I:brace, \>km he chose as his
m:xJe1.1te Cantata of Dido,the Ctl=! to Virtue,and that on tre sncíoa.are charaeter-
ised by a beauty of style,v.t'lich is at the sare tirre 50 subi irre and 50 true to na-
ture,that it 't.OUld be difficult to discover any't.Orthy to be put in c~tition

93
La poesie portuga ise a été regenerée par Garção et par
la societé l it t e r a i r e qu' ii fonda sou le nom de Arcadia.C '
es t à cette soc i eté qu'on doi t le Din iz -- auteur des Odes
pi nda ricas ou le s tyle lyrique de Pindare a été pour la pre-
miere f o i s he ur e seme nt emploié dans les langues mode rnes.
Di n i z et a i t ma 9i s t r at et t r e s r e s pect é : i I a compos é lJl grard
nombr e de poes ies pa sto rales , de sonets Ip. 36 Ide pieces
anacreontiques; ma is son ouvrage celébre et qui lui donne
une place tres distingué non seulement dans la litterat ure
portugaise ,mais da ns la l i t t e r at ur e generale europeene, c'est
sal posre heroi -cmíne du ChJpi 110'1 ( OHy~ ), dans le quel disprtant les lauriers

des auteurs ciJ Lutrin , de la D.Jnciade de I-Wibras et la 5ecchia rapita,il les a egalé et
tres souvent surpassé.
Cette a cette i llustre societe que la l i tte rature portu -
ga ise do it les deu x Gomes, un dramat ique de beaucoup de me·
r i t ~i a laissé un theatre en 12 volures , ().J ii ny a pas certaineTBlt une piece par-
fait ; mais 0'1 troove des I p. 37 I caTEdies originales tres bien traces, des cha-
racte res neufs les ma nie res natio nales des moeurs portugaises tres bien
decr its , des tragedies ou i I y ades characteres emminenment dessinés ;
t out en f in ce qu ' i I f aut por un bon t h e a ~ r e excepté le s ty ·
le , · l ' har moni e des vers et l e s f or me s exterieu res que I ' au·
teur d meprisé : la consequence en es t que ses pieces ne ~1
point jouées et tr'es peu lues ; mai s i I a surement j et ér les fondemens
pour un bon theatre national portugais.
L'autre Gomes plutot litterateur que poete a la issé des critiques
sur les bons ecrivains portugais qui sont tres estimées .
Nous passerons rapidement sur Quita qui a laissé quelques trage-
dies de peu de valeur , une Ip. 38 I pastorale dans le genre du Pastor
fido et qui est bien superieure au drame i t a l i e n~ et des idiles tres
estimés dont quelques uns ont toute la grace naive et la beauté simple
des compositions de Gesner dans le me me genre. Nous ~s~roos

94
with thEm. n-e poetry of tre ~rtl.gt.ese o,.,es its reoovat ím greatly to tre inflú-
erce ard exarple of G3rção, ard to tbe l íterary society ....tlich he estab!ished UI"O:!r
tre nêITE of Arcadia. ItIp. 545 /is to this society, also, tnat ~rtl.gal is irmbt-
ed for tre DJfers of .Antonio Dinis, ....no was tre author of tre Pirdaric ~s , in
....tlich tre Iyric style of Pirdar was for tre fi rst tirre successfully erplyed in tre
dress of a m:xJem language . Dinis alleviated tre duties of the magistracy, in ....tlich
he was distinguished for t alent and prd:>ity , by cmpos írq a gret nnter of pastoral
pcers , sonnets , ard .Anacreontic pieces; brt his principal v.orl< , ard that ....tlich has
entitled him to take a high rank not mly in tre ~rtlJ;Juese scrool of !iterature,
tut in tnat of Europ:! gererally, is his heroi-canic poen entitled " O rtlsoçe," in
....tlich he contests tl'e pre-eninence wítn tre authors of ~ urtrín, the ürcied,
ard tbe Seccnie Iepíta c Th s illustrious society produced li ke-
í

wise the two Gomes ; the one a dramatic poet , who has
left us a collection of pieces in twe lve volumes ,which ,
if they cannot lay claim to ind ivid ual perfect io n ,~in
at least some comedies of a very orig inal character , and in which
the manners and habits of t he Portuguese "are admirably pourt rayed ;
and in addition to these, some tragedies , the force and spirit of
which are excellenLln short , with the exception of a correct
style, harmonious metre, and those exterior forms of the drama ,
which he held in too great contempt , he shines pre-eminently in
this walk of I terature.jut tl'e coosequence of tn ís pecul íaríty in his writ-
í

ings is, that his pieces are selebn brooght forward on tre stage,ard are brt little
read. Sti II he may be fairly regarOO:l as having laid tre furdatkn of a gxx:1 na-
t ímal treetre in Portiqal, ttoJ;jh he was not destined to raise the suerstncture.
n-e otrer G::rTEs, more tl'e literary character gererally than the poet , CCJTlX)sed sare
criticísrs 00 gxx:1 Fbrtl.guese writers,....tlich are I1lJCh esteared.Passing over üi íte,
....no wrote sare tragedies of little reputatioo; a pastoral poen in the style of tre
" Pastor Fido," ard ....tlich certainly is ver)' superior to the Ital ian draratíc piece;
and sare idyls, Iikewi se/p. 546 lpossessing ali tre beeuty ,sirrplicity ,ard grace
\<tIich characterize tre corcosttícos of G:!sner of the SêITE kird; -- we wi 1 I

95
aussi rapidement le bresilien auteur de la Marilia de Dir-
ceu, petite collection anacreontique qu -í vien d'etre tra-
duite en Francais et a été publiée à Paris en 1826.
J'approche rap idement à I 'evenement de la reine Marie
I. au throne et à la creation de I 'accademie des sciences
de Lisbonne qui a lieu vers la fin du XVIII siecle. Les
sciences et la litterature nationale Ip. 39 I ont beaucoup
profité de cet etablissement pendant une . vingtaine d'années:
dernierement ii a croupi, comme tout dans ce malhereux paiz
dans la QI~g~e generale de la monachocratia qui abrutit bxft
et purrit tnit,

Depuis les regnes de Emanuel et Jean III c'est I 'epo-


que la plus florissante du Portugal das les arts,les lettres
et les sciences. On r eco l t e les f r u t s de ce que Pombal avait
í

ensemence, et le Portugal paraissait prendre part a la civ1


lisation generale.
Le Droit portugais eut alors son Blackstone dans le fa·
meux jurisconsulte P. J. de Mello professeur de l'université
de Coimbra Ip. 40 I dont le Traité general de Droit portiçais,
I Ihistoire du meme droit, formant 6 volumes, sont pleins de
philosophie d'erudition, et des principes les plus liberaux
et les plus justes que la science et la philosophie rnxEITe
ont etabli.
Antonio Ribeiro dos Sanctos jurisconsulte du premier ordre a Iaíssé
un traité sur la peine de mort que Beccaria ni Montesquieu ne desa~­
rant pas. 11 a publié aussi trois volumes de vers tres classiques et

96
br fe fly not i ce Go nzaga , the Brasilian author of t he
" Maril ia de Di rceu ," a little collection of elegiac pieces,...tlich
has been recently translated into Frendh and published at Paris.
We now ar rive at the acces ion of the Queen Maria I. to t he
throne, and the creat ion of the Academy of Sciences at Lisbon :
events wh ich t ook place towa rds the end of the eighteenth century.
The nat ional l iterat ure , the arts, and the sciences ,rece ived from
.t hat es tab l i s hment ,d ur i ng the space of twenty yea rs ,e~ry
possíble protectím and encaJragerent; but s i nce t hat pe r i od , owi n9
to the bl ighting i nf lu e nce of the all-pervading powe r of
the friars, i n whos e t r ain barba r i sm an9 corrup t ion are
the invar iable at te ndants , and t o wh om darkness is more
profitable than the l i ght of knowledge,this use fu l i ~t i ~­
t ion has been suffered t o dec l i ne almost into a sta te of
non-ent ity.
The pe riod t o whic h we are referring,was one of t he
most f lou r ish ing in Portugal, in réspect of t he ar t s , th e
belles-Iettres ,and the sci ences , since the memorable reigns of Em-
rranuel and J:tin III. It sas 1ten that FO~a l , reaping a rich harvest fran the seed
SOf,fI by Parbal,took part in the gereral civilizat ioo of Eurq:e. lte l1:lr1:lYJt.ese law

mild 1ten boast its Blackstooe in the celebrated lawyer P. J. de Me I lo ,


professor of this faculty i n t he univer s i t y of Coimbra ,
who se General Trea tise upon th e Jurisprudence of Po r tiqal ,
compr i sed in s ix volumes, i nc l udJ ng one of the his tory
of the FOr1:lYJt.ese jurisprule1ce, is coosidered as very erudite, and contai ns
~ ri n c i p l e s the most liberal and .j ust ,and which are worthy the phi-
losophy of the modern scie nce. Antonio Ribeiro dos Sanctos,
a most distinguished lawyer of th at day . vrota a t reatise upon the pen-
alty Df death, which neither 8eccaria nor M:Jntesquieu 'f.OOld have dis-/p. r:A7/0fl'(;!j .
re published Iíked se three volures of poers ,...tlich are coosidered to te strictly

97
tres horatiens que les Portugais estiment beaucoup pourla
pureté de la langue.
Theodore d'Almeida, outre un roman dans le genre du
Thelemaque de Fenelon,a Ip. 41 I dans le genre du Thelema-
que de Fenelon, moins beau surement que son modelle, mais
qui a cependant beaucoup de merite, a ecrit sous le titre
de Recr e a ti ons phi los oPhi que s uno uvr a9e a s se z 1ong en beeu-
coup de volumes sur la physique experimentale dans un style à la po~
de tout le monde. Cet ouvrage est un des plus remarcables que le Por-
tugal a produit, l est tres estimé des Espagnols qui l'on trãdúit-dans
í

leur langue comme ils ont traduit tous les ouvrages plus estimés et
plus lu en Espagne que dans sa propre patrie.
A cette meme epoque fleurissait en Russie. premier medecin de l'
imperatrise Catherine le celébre Ribeiro Sanches, qui fruiant avec ~
genie et ses immenses connaissances son ingrate patrie ou plutot. 1'i~
quisition et le government bigot qui opprimaient à 1' envie ce mal~~
paiz a ete illustrer l'empire des Czar. Des ouvrages sur la medicine
sur l'hygiene sur divers autres onjets de sa professions tout en Fran-
cais qu'en Portugais sont temoins de son savoir immense et de son ta-
lent extraordinaire. C'est un homme europeen.(notas indecifráveis)

Moins heureux, mais plus vaste et plus grand genie 1'in


fortuné José Anastacio da Cunha a eté la victime de 1 I Inqul
si- / p. 42 / tion: quoiqu'il ait echapé au bucher, iI n'a pas echapé
aux tourmens à un long imprisonoment aux humiliations de tout genre.
Son crime impardonable etait d'etre un des premiers mathematiciens
de son siecle et un veritable et grand philosophe. l l a la s- í

sé un cour s de ma t hemati que s pur esq ui ont et é ec r i t jusqu' â


present dans meme langue. Ce livre inextimable a été trnooit
en Francais. Je recomandrais à touts ceux qui has t:een reccmrerded
s'addonnent

98
classical ao::! after the manner of I-brace, ao::! are nud1 amíred by the Portu;)Lese
f or the elegance errí tur íty of their díctím.
1te<x:bro d'Alrreida, tesíoes a romnce, in the style of the Telemchus of
:ereloo, vtl ich, th:Jo;Jh certa inly it carrot ccroete in beauty with its ~I, is
-evertheless a v.ork of consíõereble nerít, j:XJbl ished also lTder the title of
'. Rl ilosop1ical fa::reatioos; " a v.ork of some length upon exper imenta I
)hilosophy , and in a f amili ar st yl e , adapted to every orie's compre-
hens ion. Thi s work is per haps one of the most remarkab le which
has appeared in Por t uga l . It is mu ch esteemed in Spain, where it
has been t r ansl ated into the l anguage 'of the country. Indeed , the
Spaniards seem to hol d th i s author in greater estimation than the
Portuguese themse lves .
.AOOut this per iod the celebrated l11ysician, Ribeiro 5ard1es, YhJse genius ao::!
vast acquirerents Voere rewarded with the i ngrat i ~ of his ro..ntY)flErl, -- or stnJl d
Voe not rather say, with the tyrannical persecutiooof the Imnsttím errí of a bi~t
ed governrTEnt , both vying with eecn other in ccoressírç the pecole, -- saJjrt. reflJge
at the coert of the Czars, vtlere he was prcfessimal ly attached to the person of
the 8llJress Catherine. The different v.orks vtlich he j:XJblished, both in the RJrtl1p?-
se ao::! Frerd1 laJ'9.lélges ,lfOl medicine arxl rosoloqy ,attest the e.xt:ent of his I<r'oil-
~ arxl his extraordinary tal ents. I-e was, in short,a l11ilosqjler Wm any contry
of Europe might have been pmrí to have sent forth to the 'fIOrld.
L..ess fortunate than Ribeiro Sard1es , hrt possessírq a sti 11 hiçter rér9=
of intellect , a still IIDre pJt.erful genius, the lrl'IawY J::lsé Mastacio da a.ma
fell a vict im to the cnelty of the ímrístt trn: for ttoojl he escaped the fire
arxl the fagot, the humi l iatioos arxl the bodil y tonrent.s to W1ich he was exp)sed
during a lOOJ impri soorent, ~stroyed his Ip. 548 /cnstttutím erd nestered the
perícd of his oeetn. I-e left a coorse of lectures 00 mathanatics, W1ich, Voe are
informed,is cnsíoered by ~tent j~s as the IIDst perfect 'fIOrk of the kíní
wtlich has ~red in any languag: LP to the present day.lhis treatise has been
tranlated into French, arxl may te coofiOO1tly reculile"'ded,as an elarentary txxi<,

99
A cette science d'examiner 1 'ouvrage elementaire de da Cu-
nha et je suis sur qu'on ne trouvera pas mon eloge excessif.
11 a laissé aussi quelques poesies lyriques ou iI respire
une philosophie douce et tolerante. Son style poetique est
accusé cependant de peu chatié,et sa philosophie tachée de
trop libre. 11 etait grand admirateur des poetes anglais et a spe-
cialarent imité ~,soo style et soo genre,et jUSQU'à sa philosq:tlie.
/ p. 43/ Un medeci n Campos, homme de beaucoup de gen i e et
d'une erudition immense a voullu restaurer le genre des Ro-
mans et nouvelles, depuis longtems perdu pour les Portugais
qui ne faisaient 'que traduire les Romans francais,anglais,
et allemands.ll a voullu introduire dans le roman les pr n í

cipes des sciences et de la philosophie moderne, ce qui a


produit un assemblage bisarre. Ce roman, dont le titre est
Viagens de Altina (voyages d'Altina ) est une ouvrage ex-
traordinaire cependant,tres curieux et qui ne marque pas d I
interet et de merite. Quelquefois on se croit dans les pais
alegoriques de Guliver,quelfois on ?ssiste aus scenes comi-
ques de Gil Blas, une autrefois c'est le roman francais D'
Alfonse et Dalinda.C'est une chose bisarre enfin mais non
pas sans un grand merite. Les portugais ne paraisent pas
l'estimer ce qu'il vaut: l en parlent avec peu d'interet.
í

/ p. 44 / Deux ecclesiastiques viennent encore grossir


la liste des bons auteurs portugais. J'en dirais tres peu
parce qu'ils ont publié tres peu; mais s'il faut en croire
les portugais instruits, ce sont deu x des hommes les plus
remarcables de leur siecle. L'un c'est le moine Fr. Joseph
do Coração de Jesus, qui a traduit et publié les methamor-
phoses d'Ovide et un volume de poesies lyriques, touts deu x
fort estimés des Portugais pour la pureté de la langue:ses

]00
to the perusal of the mathEmatical student. ~ less a poet than IMthEmaticiiJl .be
plblisred sare pieces of lyri c poetry, renarl<ét>le for the spirit of mildress aro
toleratfm 'ntlich breathes in every li ne. The ~ral style,hJ...ever .of his poetry
is charged with bein;j incorrect,ard his rot íms oi certain subjects are said to be
a little too rruch tinctured with unrestrained f reeOO'n. t-e was a great actnirer of
the Eíl;Jlish poets.erd has rrore part icular ly imitated fll::lp?,both in his style aro in
the choice of his subjects , ard has even rr.ô1= his ri1i losccoy his mxel ,

Pr.atrer ~ysician , Canns, a persoi of rare genius aro cmsiderable erudi-


tion, attarpted the restoration in Portugal of the olden style of runances aro
novels , the Portuguese havin;j , for a very lmg tine, been caltented with transla-
t íms of such \t,()rI<s frrm the French , Eíl;Jli sh, aro Cenran l~s. t-e endeavoored,
lí ked se, to introduce into ranance-writi ng the pr incipIes of tJ:e sciences aro mod-
em ~ilosqj1y, in 'ntlich he by no reens succeeded , since the uum of fable aro truth
is íntoss íble, or can at best prcx1uce brt a very strerçe assart>lage. That ranance ,
;u,.,ever , of hís , 'ntlich is entitled " Viagens de Altina," or the TraveIs of Altina,
is certa inly a very extraordinary proactím , aro. i~ neither deficient in interest
-nr in nerit. The reader It.OUld soretínes imagine himself trensported ínto the alle-
çprical reqíms ó=picted by GJlI iver ; at others, that he was mixed up wi th the
coníc scenes of Gil Blas ; aro then again he It.OUld fancy that he was brw:jlt into
the ranantic scenery of the French novel of AI ~so aro Dalinda. With al l his
rerit ,hJ...ever , this / p. 549 / rurance is altogether a strarçe aro fanciful prcxiJc-
tí cn.tre Portuguese, hJ...ever , do not suffi cient ly estean its pretenskns, aro they
speek of it with no degree of interest.
T\t,() ecclesiastics may be incll.xJed in the list of gcxx1 Portuguese authors,tx.rt
weshall say li ttle atoot than,because they have JX,Jbl ished brt little;still,hJ...ever.
if the ~ra l opiním of learned PortLguese in their favoor is to be actnitted as
-el l fo..n:Ed,they \>tere the rrost extraordinary men of their t ínes.Oe of than was the
rrmk ,Fr. .b5e\ÍI da Coração de ~sus , who transIated ar"d JX,JbIi sred the tletarof1Íl)ses
of OJid ,aro a volure of lyric poers.both rruch esteared by the Portuguese for the
elegance aro purity of their díct ím, The literary essays of this writer .erd his

101
ses essais litteraires, ses sermons d'une morale pure, d'~
eloquence sublime , d 'un gout tres exquis , sont cependant ~s
me i I Ie ur sou vr a9e s. On Ie s conse r ve à I a bi bI i ot heque na tiQ.
nale de Lisbonne; et c 'es t domage qu' ils ne soient pas im-
primés. On dit cet auteur tres versé dans la litterature ~
glaise , ecrivant dans l e style et dans le genre de Hughes
Blaire dont iI etait grand admirateur.
Comme on compare Fr. Joseph à Bla~re Ip. 45 I on com~·
re aussi a notre Johnson ( le litterateur ) I 'eveque portu-
gais D. Alexandre da Sagrada Familia~·) qui apres avoirexercé
les fonctions episcopales à Angola, ville et colonie portu-
gaise en Afrique , est mort eveque des Açores,isles adjacent~
au Portugal en Europe. Cet homme vraiment apostolique a eu
une vie c orageuse au milieu des persecutions de tout genre
II a osé disputer sur I 'authorité du Pape, a eu des d s putes í

avec le ponce à la cour sur la confirmation des eveques, a


soutenue I' anc i enne di se i pI i ne de I' autor i té des nettrccol ítaíns
et s'est enf in montré un veritable prelat chretien.Si I'egli-
se portugaise en avait une demi-dousaine de cette trempe ell€>
ne serait pas longtems sous I ' as se r i r s seme nt de Rome, et on
la verrait bientot protester pour;son " independance.
Ce savant prelat a ecrit beaucoup: des essaies litterai-
res, des traductions, des ouvrages de droit ecclesiastique,
un essai remarcable sur le celibat des pretres,et une colle-
ction superbe de sermons, Ip. 46 I qui rivalisent avec ceux
de Vieira, et sont beaucoup dans le style de ceux de Jjm~.
Outre cela un dictionaire de la langue portugaise qu'on dit
tres riche _ in words et tres parfait. Cet homme infati-
gable a ecrit toute sa vie jusqu 'à l'age de presque 90 ans:
(_) 500 nm de féfllil1e etait <lã SIlva Gârrett:c'est l'us~ au fbrtL.gal dê le charY;Jer par
!l!Jtif de religioo. 11 etait oocle du jet.re Iitterateur de Almeida Girrett.

102
sermns, not rrore dist inguisred even for their pure rrorality than for the sublimity
of their elcqoence and the taste with I'tlich they are coroosed , are éIflTf::l1:J'e best
of his vorks . 1h2 rranuscripts are still preserved in the national li brary at Li sbcn
and it is to be larented that they stxJuld se lorg have rana ined concealed trere,
witmrt being given to the publico It is said that the Fr. JJsep, was oeeply versed
ín ErYglish l iterature. and that in his writ ings be has endeavoured to ímitete trs
style of Blair, of vt10se peculiar rranner he was a great adnirer .
&rt íf v.e are to cmpare him with Blair , st ill rrore just is ít , perneps, to
cmpare with our o,.,n mighty JJhnson the Fbrtt.guese bísrco, D. Alexandre da Sagrada
Faní l ia , vt10se faní ly nare, da Silva GJrrett , accord ing to a Fbrt.LigJese custan,was
thus changed frun a rel íqírus rrotive. fJe was the uncle of'.tre O'evalier de Alrreida
GJrrett , ....oon v.e are proud to reckon nnter of our literary frierds.lhis
émorg the
aníeble and learned prelate , after having discharged his episcopal functions at
kY;pla, a Fbrtt.guese colooy and tot.n in Africa, died bísrco of the ftr.ores. fJe was
an ecclesiastic of a truly aposto1ical character, and passed thro..JÇjl a stormy
/ p. 550 / life exposed to persecutíms of every kind. fJe had the courage, and it
is an rorour to his nare, to dispute the authortty of the Fbrx=; h= cCJl'bated 1ike-
wise the pretens íms of 1:J'e Fbrx='s nrc ío at the Fbrt.t..g.lese coert establ ished in
Rio Janeiro, with respect to 1:J'e coofinnation of bist'ops; asserted, likewise, the
ancient discipline and the authority of the netreccol íten bísreos: and,in fact,
shot.ed himself al~ther v.orthy 1:J'e character and the i~ of a O1ristian
bísrcp. Did the Fbrtuguese church possess bísrops at this day of such elevated
character, sbe v.ould speedi ly release rersel f frun the barbar izing thral<bn of
the papal court, and be no loo;Jer 1:J'e slaye of rer spiritual and tercoral despo-
tism. D. Alexandre was the author of rrany literary esseys , of sare translat ioos
of sare v.orks likewise upon the ecclesiastical law, a very ranarkable essay elso
01 the ceIibacy of the priesth:xx:1, and a collect ioo of sermns \ttl ich rray be j ustly

prt into cmparison with trose of Vieyra. Ibey are very lTlJCh in 1:J'e style o f
those publisred as Dr. JJhnson's by Sémuel Ha~s . an usrer at W:!stminster , W'x:l
\\01 for rrany years the Seatooian prize. JJhnson wrote tran , v.e rray coserve, for

his fríerd, W. Taylor.fJe was likewise the author of a dictiooary of the Fb~-

103
mais tout rest enseveli dans de mains particulieres; la ce~
su r e , l'abhominable censure n'a pas permis la publication
de ce s t resors. C'est d'un proche parent de cet grand homre
que j'ai e u ces i nf or mat i ons t res cur i e use s et tres interes
s antes.

Le pere Caldas ecclesiast ique aussi est un poete de la


fi n du dern ier siecle ; cet homme d'une religion pure et e-
c l ai r ée professa it l e s idees les plus liberales et avait
cet t e f ranch ise et cette liberté dans la pensée et dans le
style qui para issent ne devoir appa rten ir qu'aux habitans
d'un pa i s l ib r e, ad es c i t oyens. - - Aussi ses poes ies/p.47/
estim abl es n' ont été i mpri mée s ~'a Paris.Ses mode les et ses
poete s favo r i s eta ient notre Milton,l 'allemand Klopstock,et
l a Bible . Et apr e s,Mi lt on et Klopstok je crois, je suis sur
qu 'aucun poete n'a chant é dans I 'harpe de David des canti~~
aus si sublimes que ceux de Caldas.
Domingos Maximiano Torres a aussi ecrit dans le genre
bibl ique ; mais le plus estimé de ce poete ce sont les can-
zonnette dans le sty le italien du Metastazze qui vroirent ~
etonantes pour la beauté , le fini , la douceur , l t e l e anc e .
ç

Ce sont les bel les melodies de Th : Moore dans une la ngue


plus sonor e et plus pl ia nte .
Nicolau Tolentino es t à certains egards le Boileau et
l e Pope des Portugais. Ses satyres, ses epigrammes, ses poe-
s i es badine s de soc i et é s ont tres belles et d'un gout exquis.
Le por tugais les estiment beaucoup : et le chevalier de Al-
me ida Garrett, dans I ' ouvr age que nous avons cité au co~-

104
se laf9J~ , 'ftlich is ccosíoerec to te a perfect 1'.Orl< of its kím.erc to te extrerel-
-ícn in I'.Ords . Irrefet iqeble in his lebcurs for the publ ic advantag:!,he contined his
latoríoos porsu íts as author to the a~ of ninety:lxJt alas! ali his varioos prcxlu-
:tions ranain concealed in the hands Df individuals;the Censure , that atxJninable ao::J
inveterate erany of Iiterature, not allCMirg these treasures to see the light of day.
lhese interestirg particulars conrected with the life and writirgs of this enírert
lnd learned prelate,this dist irguished omarent of the Portuguese church,\-oere ccn-
unicated to us by cne of nearest reIat ives , ao::J \-oe have j uO;)ed then I'.Orthy of a
ilace in this review of the Iiterary history of Portugal.
1te Father caldas, an ecclesiast ic likewise, is a poet of the /p. 551 /ero.
of the last century . His religioos notions \-oere ture erd enlightered; he entertain-
ed and coenly professed the nost literal íoees, em always uttered his sentillEl1ts
'IIith a frankness ao::J a freedrn of expression that people are accustared to hear
.nly in contríes enjoyirg the blessírqs of a constitutional çpverment. Thus his
))ffilS,estimable as they are, \-oere ooliged to te printed at Paris. His mxels ao::J
'avoar ite poetes \-oere the Bible, cur Milton , ao::J the reman Klopstod<; ao::J \-oe v.oold
renture to affirm, upon the nost credible eutroríty. that, after Milton ao::J Klopstock
no poet has taken up the harp Df David with 50 masterly a hao::J as caldas in his ímí-
tations of the psalmist.
ümírços M1ximiano Torres has li kewise imitated the sinl illE style of the holy
writirgs; hrt the nost esteared prcx:luctions of this writer are his canzonets, 'ftlich
are written in the manner of Metastas io . The beauty, the finish, the
softness, the elegance, with wh ich they are written, give them a
very high rank on the s ca le of Po r t uguese literature. 1tey are the
beeut íful nelod íes of a MxJre ; or of a Hayres Bayly, brt clothed in a I~ still
nnre soorrus ao::J 91JX)th.
ln many respects , Nicolau Tolentino may te «ns íoered as the Boileau and the
Po~ of the Portuguese. His satires , his epigrcrns , and poens, quite social trifles,
are nevertheless very pretty, ao::J written with çpcx:l taste. He is much esteemed
by his countrymen; and our fri end t he Chevalier de Almeida Garrett ,
i n his wo rk , whic h we have already noticed at the commencement of

105
ce-/ p. 48 / ment de ce chapitre en fait une peinture ~a~
mante.
Ce dernier siecle ( le XVIII) finit pour I 'histoire
litteraire du Portugal avec deux noms tres remarcables.c~
des deux poetes les plus fameux de la litterature moderne
portugaise. Bocage et Francisco Manuel. Quoique le dernier
ne soit mort qu'en 1818 et le premier e~ 1805 ils appartieren1
cependant au si~~le dernier. et nous commencerons le siecl~
XIX avec les autheurs vivants et contemporanées.
Bocage etait un fameux et extraordinaire improvisateur
Qui ar c har-nê et etoné ses compatriotes par la facilité de
ses verso Ia cadence, la beauté, la richesse de ses rhymes.
Sont talent extraordinaire s'est toutefois perdu dans les
sonets, les poesies fugitives, et quoique ayant tenté la
tragedie, le drame et autres ouvrages de plus longue haleíre,
ii n'a jamais rien / p. 49 / fini. -- On estime beaucoup
ses traductions de .De l i l e , d'Ovide, et autres. li a aussi
traduit Gil Blas en prose, et on le .d i t tres bien. Son style
poetique cependant manque de verité, de nature: ce sont ~s
beautés factices, iI ne peignait point d'aprez nature, mai~
d'aprez les autres peintres. II a outré la nature et les pas-
sions: on l'a applaudi dans le premier etonement, on l'ou-
blierá aprez.
Sa renomée a cependant été si grande parmi les Portu-
gais qu'elle a balancé ·ce l l e du fameux lyrique Francisco~­
nuel, qui echapé au griffes des inquisiteurs de Lisbonne a
vecu à Paris jusqu'a l'age de 90 et quelques années,cultivant
toujours les muses. On a publié à Paris dans les derniers
ans de sa vie une collection complete de ses ~vres en dou~
volumes in 8vo. II a essayé pres- / p. 50 / presque tous les

106
th is sketch, has given us a capt i vat i ng descr i ptio n of hi s writings ,
and has enabled us to comprehend the i r me r i t s most full y.
The eighteenth cent ury closes the literary his to r y of Po r t uga l
w~t h t wo very remar kable names , -- t wo poet s th e most ce le bra t ed in

the modern literatu re af Portugal , . - Bocage andoFrancis co Manoel.


Thaugh the death af the l ast-menti oned too k plac e so recently as i n
1818,and that of the f irst occ ur red I p. 552 I in l005 ,both of then seen
to belClll;) to tre Iast age ;and therefore 'f.e shall camence our revia'i of tre state of
literature in Portugal ear ly in th is century,with tre ír nares.as cotenorerecos au1:hX
Bocage was a celebrated and extraordinary irrprovisatore; he ena rmed and as-
tonished his countrymen by th e soft cadence, t he beaut y ,and the ri ch-
ness of his rhymes,a nd t he f ac il i t y wi t h wh i ch he produced his ve~s .
He wasted,however ,h is extraordinary talents in writ i ng sonnets and
f ugi ti ve pieces ;and althaJ;jl he attarpted tre dramt íc st yle ard adventured urro
~rks of still higher grade in tre scale of literatUre ,he never f ínísred one of his
Iiterary attarpts. His translations , hcJ,.,ever, of ~I ~lle, of CNid, and of sare other
poettcel writers,are highly esteered,and his prose versi on of Gn Blas is líkedse
nxn praised by tre PortLgl.ese. Still ,it rrust be observed that tre style of his poetry
is deficient in tre true colouring of nature ;all his beauties are of an artificial
kind ;he is rot. ín srort.tre faithfuI ccoyíst of nature,but tre imitator of other
paínters.le has outraged nature, and all tre natural passíms.ení thuS ;ttOOj l the
astonishTEnt of his reader may at first be such as to cCJlCede hima portím of applau-
se,he will SOO1 forget him W1en that ínpressírn has 'f.Om off . N:ltwithstanding ,ro...ever,
all trese defects in tre style of his CQ1lX>siti01S, his feJXJ1:at i01 has been sufkient·
I,)' great éIIO"g tre PortLgl.ese to balance that of tre celebrated Iyrist, Francisco fob-
~I, \oh) fortunately escaped tbe blcxxJy fangs of tre Lisbon Inquisition, ard lived

st Paris to tre age of rrore than ninety years, tre constant suitor of tre MJses. A
xnplete coIlect ím of his 'f.Orks was pu b 1 i s he d a t Pa r is, i n t we 1ve
Jctavo volumes , during the Iatter years o f h i s Ii f e.Ther e
is scarcely a species of poe t ry wh i ch he has not attempt~

107
genres de poesie; mais c'est le genrelyrique qu'immortalise
son nom. Oans Ie 9e nr e mo I Ie a t. qUE f acetum. quo i que imi tant
Horace i I I ' a presque toujours surpassé. oan ~ le genre he-
r o i que et sublime ii n'a imité personne c'est une creation
nouvelle. ce sont des pensées. des beauté~ neuves et dont
on n'a Das d'idée .dans aucune autre langue.
Je renvoye
.
encore
. une autrefois le lecteur au Parnaso
lusitano du Chevalier de Alm~ida Garrett; ii y trouvera ce
Que le manque d'espace on' empeche de traiter plus au long
une analyse tres courte. mais tres complete de cet auteur
dont la renomée. quoique contemporanée. ne serait Das mains
grande que celle de Byron et d'autres poetes modernes si
son merite n'etait pas confiné dans une langue peuconnue.
Francisco Manuel etait l'ami intime du fameux poete Ip.51 I
francais De la Martine. une des meditations poetiques du
jeune barde lui est addressée.

Nou en sommes avec notre resummé de I 'histoire litte-


raire du Portugal au commencement de ce siecle XIX ou nou
vivons pour etre les temoins des plus extraordinaires mou-
vements de I 'espece humaine.
Quoique forcés par un gouvernment bigot oppressif.
cru el et demoralisé a se tenir en e r r r e des grandes no-
í ê

tions civilisées. les Portugais ont cependant lutté contre


les difficultés et les entraves qu'on leur opposaient. et
le genie entrepeneur et litteraire de lovation percait ~I­
gré tout cela.
Un g~dnd nombre de volumes des transactions ,et memoi-
res de l'Academie_Royale de lisbonne prouvent qu'elle ne

108
DA it is his success in Iyric poetry which has immortalized his~ .

ln the style or t he " molle atcue f acetum , " he im i t ate s ano a lmost
surpasses Horace. ln t he Ip . 553 I heroi c and sub li me he follows no
master , but is perfectly orig inal; he forms a new creation of his
own; the thoughts , the beauties of his style, are here alI perfect -
Iy new , and are borrowed from no other language . They are the ~ine

inspiratims of the original spirit of Portt.g..ese roesy .


'j€ lTUSt again refer tre valuable WJr1< by cur f riEnl the Oevalier de
)'OJ to
Alrreida Glrrett, the " Pamaso tus ítem," in oroer tnat )'OJ may be able to Slq)ly
tre several defects aro deficiercies ....tlich,frun cur very l ímíted space ,will te fom
to characterize cur CW1 feeble áttarpt at cmveyirg to }OJ a g:reral idea.of tre li-
terature of Fbrtl.gal. ltere }OJ wi 11 fi rd abrief , tut nost corp lete êrldl ysis of tre
WJr1<s of the auttor Wun 'toe -ere last roticirg .lte reçutatim of Frexísco ~I ,

tinJ;,tI coterp:)ran2OJs,WJUI.accordirg to tre Oeval íer .rot te inferior even to that ot


Byrm.aro that of otrer mxern poets.ned it been his \PX1 fornre to carçose in a la!
gJa]el'/lWlg:rerally J<ro,.,n in ~. Frercisco was the intimate frierd of the celebra1
ed mxern Frend1 roet , ~ la M:lrtire,aro cre of tre "Poetical I't'ditaticns" of tnís
)'OJthful bard i s crl1ressed to tre PorttJ;jl.ese poet ,

At lergth 'toe have arríved, in OJr reviE.'tl of tbe literary history of Portl..gal ,
3t the commencement of the nineteenth century ,in whi ch we are livirg ,
3rd in ....tlich 'toe have tecere tre witresses of tre ITOst extraordinary edverces made by
the ....nole nnen race in civil ízatíoo ,ard of the rapid proçress of the hunan mird
toerds perfectibi Iity.
AltinJ;,tI conalleo by a bigJted goverTTlBlt ,'at once cwressive,cn.el ,ard 00r0-
ralized, the rurtLgt.ese sees hirr.self thrcJfl1 0Jt of the rdl'k of civilized naticns,ard
sterdírq behiní then ali in the proqress to improveTERt ,he still stTU}]les against
the difficulties ard the costecles which the govemrent has thrcJfl1 in the way of his
rroral aro intel1ectual happiness. The enterprizirg genius ard the literary/p.554 /
character of the rurtLgt.ese nation sti II force trair way thra.gh tre clarís which
overtlarg it.A great nurtJer of volures of nmoirs ard p1ilosophical trensactkns,

109
resta i t Pas oi s i ve. Oe s i nve s t i 9a ti ons sur l ' ar cheo1o9 i e na-
t ionale , des essays sur une inf inité d'obje ts I itteraires
des me mo i r es / p. 52 / t res savants et t r es phi l osophique
s ur div er s par t ies du dro i t , de l a phys iques , des questioo~
Ie s p l us del icates "des mathematiques , de l a botan ique , l a
zooIog ie prouvent qu' iI y avai t des grands talffi~
et be aucoup de savo ir dans cette academie .
Mr . de Hockler ( aulourd'hui Ba r on Praya) a ecr it I '
hi stoi re des mathematiques en Portugal: son ouvrage e~tres
estimé . Tres agé et infirme , i I vit encore cependant Mr .
Rrotero, presque cen tenaire, est un botaniste du premier
ordre ; son nom est dans la liste de presque toutes Ies a -
c ademi e s deI' Eur ope. I I a pub1i é 1a FIor a Lus i t ana , un 00-
vrage el ement a ir e sur la Botanique, plusiers memo irs savants
sur Ie meme obje t , et a f a i t beaucoup de decouvertes dans
sa be l le sc ien ce,q ui sont connues de touts les p rofesseu ~
et meme de beaucoup d 'a ma teu rs . / p.53 / Ce vieil l ard r e s-
pec ta bl e vi t d' une mod iq ue pe nsion mal payée qu 'on Iui 00nre
comm e direc teur du Jard in ZooIogiq~e et des plant es du ~i
à Be lem. I I a ecrit beaucoup d 'autres ouvrages out re ceux
que j e viens de nommer : l e gouvern me nt s 'est engagé à l es
pub lier ; ma is , comme dans touts ces engagemens , l e me pr i -
zab le gouve rnmen t de ce pais n'a pas t enu sa paro l e .Out re
son grand savoir et son te lent superieur, Mr. Brotero a l e
merite d'ecrire sa langue avec une purete et une beauté de
style peu commune aux professeurs des sciences nature lles
qui pour l a plupart meprisent ces avantages exter ie ures.
Ma is le plus grand homme du Portugal est sureme nt I '
i l l ust r e Abbé Correa da Serra botaniste du premier ordre,
l itterateur dis tingué et patriote zelé. Ce grand homme a
été , comme to uts l e s talents dans ce malheureux pais , per -

110
rubli ~t'I2<1 I:ly the Ibyal kaoony of LislXX1, prove that the intellectual poers of the
.<ingd:m are rot yet quite extimnsred, ard that the taste for the useful research
still survives. 1te investigatioos of the natiooal archa:.>ology, an infinity of essays
'.JPOrI alI sorts of literary subjects, very learred rreroirs ard philosophical treatises
upon different questioos of law, the nost delicate ard abstruse questioos in the ma~

natics, botanical ard zoological v.orks, are a sufficient testirrony that the kadeny or
LislXX1 is neither deficient in imistry ,kro.vled:]e,or talentsjel l ení usefully directa
5erfur Francisco de Borja Glrçaõ, OON I<rn.fl as the Baron Praya, nas written a
history af the matlanatics in Portiçal , a v.ork held in general estimatioo by his con-
tl)11El1. re still lives to enjoy his fare, al"th:xJ;Jh oppressed by age ard nureroos in -
firmities.
5erfur Brotero, vro has attained nearly the age of a hurdred years,is coosidered
a first-rate botanist,ard his nare will be fnm incll.ded in the list of alrrost every
acaoony in Eu~. His t-o productioos,the "Flora Lusitana," ard an elerentary v.ork
:Jr) botany,are highly esteered.le is the auth:Jr .also.of many learred treatises 00 the
sare subject,ard írreed it is his glory to have made several discoveries of great
ímorterce in that beautiful ard pxular science.This respecteble Iiterary Nestor
sioststs 00 a very rroderate pensíco.erd badly paid,to \'tIich he has been roníneted by
the govemrent,as the director of the zoological garden ard of the botanical garden
of the killg at Belen.Besides those v.orks \'tIich I..e have rotíced.be has written many
others urder an engag6TEl1t given him spec íal ly by the govemrent. ln additioo to his
extensíve kro.vled:]e ení superior teíents.seror Brotero has the rrerit of havillg /p.
555 / arployed a purity of dictioo in his writillgs,ard a beauty of style, rot often
to be rret with in the productioos of the professors of natural scíerces.wn.for the
rost part,despise those exterior advantages.
1te nnst di stímií shed eutror, tn.ever, I<rn.fl at present in RJrt:lJ;Ja 1, is wi tmrt
cbJbt the celebrated ftJ:;é Correa de Serra, dístimrísted rot less for his profOJrd
'<OONled:]e as a botanist,ard his general literary acquirarent:s, than for the zeal of
his patriotismo Like alI the other great men of his coun-
try who have desired the national renovation, he has bee n
persecuted with the most inveterate cruelty. lhe various

111
secuté cruellement. Les volumes publiés par la Societélbyale
de Lis bonne sont plein des ses travaux. Refugié d'abord en
Fr ance, iI a été à Paris un des collaborateurs du celébre
jo ur nal ( Review ) intitulé Archives litteraires de I'Wn+e:
/ p. 54 / L ln st i tu t de Fr ance, ce cor ps à j ama i s ce Ie br e , I ' a
I

vec u en son sein comme membre de cette academ ie illustre .


Pl us ie rs de ses ouvrages ec rites à Paris ont été publiés
e n Fran ça is . Av ide de connaissances et d'etendre sa sphere
imm e nse de ses l umi e r e s, I 'Abbé Correa da Serra passa en
Ame r ique et vecu plusieurs anneés aux Etats-Unis. II y ~­
bl i a di ve r s de se s ouvrages sur la botanique en Anglais ,
langue qui l ui eta i t aussi t res fami liere. Apres avoir se~
pl i l e mo nde de so n nom , l fit rougir le gouvernment desa
í

pat r ie de f aut d ' i ngr ati t ude: ce fut alors que le dern ier
Ro i Jea n VI. etan t à Rio de Janeiro, le nomma son chargé
d 'Affa i res à Washington, ou iI resta quelques années.
La revolution du Portugal en 1820 rapella le savant
patrio te à son sol natal. La ville de Lisbonne rendi t hom-
mage à ses t al en t s et à ses vertus en le nomant son repre-
sentan t / p. 55 / aux Cortes. Dans un age tres avancé et
ple in d ' i nf irm ités iI soutint neamoins sa place de deputé
avec honneu r . II ne survecu pas a cette liberté ephemere
de son pais. I I est mo r t en 1823 a la ville das Ce l das Ses v

cendr e s ont été deposeés sans aucune honneur funebre au cí-


mi t t iere publ i c , comme celles du Camoens. Comme le celebre
ma llai Anton io seul ami de son maitre (Ie chantre des Lu-
s iades ), -- I ' Abbé Correa da Serra n'eut d 'autre ami por
I 'as s i ster dans ses deriners moments, ni d 'autre(~b~nJr
pour accompagner son corps à la tombe qu'un pauvre petit
sa cr i st a i n de l a paroisse du village qui s'avait epris d'
admi rat ion et de respect pour le respectable vieillard.Une

112
v.orks uol isred by tre fbya l soc íety of LisOOn are f i lled with tre result of his la-
xurs. Iekírq refuge in Frerce.he soon became a wr i ter i n th e cel ebr ated
-eví ev entitled" lhe Lite r ar y Archives of Europe. " l he Ins titu te of
rance. of wtüse distimrishi rç justice and enirent Iiberal ity of feeli rg CXJr M1
:elebrated ch}1l1ist.W. Farrady . can speek, received tre ~ as a brotrer .erd instant -
ly enrolled him a mnter of tre ír l lust r ínrs Jlcadeny. MJny of his v.orks .wr i tten
í

juring his sojourn in Pari s . were published in the Frenc h l anguage .


Jesirol)s ofextending the sphe re of his knowledge. tre ~ visited Arerica
and passeei severaI years of his life in tre lhited States. He has publ is hed a
iork on botany in the Englis h l anguage . with wh ic h he was quite fa-
~iliar.After having ma de his neme long known to the litera ri of Eu -

"ope, the government of Po r.tuga l began to blush for its i ngra ti tude
ind neglect of so illustrious a man ; and according ly . a decree of
Oon John VI .• who was then wi t h his court at Rio Ja ne i ro . appointed
him the Portuguese chargé d ' af fa i res at Washington . whe re he contr
nued to reside for some year s . lhe revolution whic h occurred in Po r -
tugal in the year 1820. was t he means of recalling t he i l l ust ri ous
and learned patriot to his own country. Tte city of LisOOn was forward to
recognize his talents ení his vírties , ard dose /p.55kJ/ him for t"er representative
in tre rewly-constituted Cortes;ard altl10uJh nearly borne dM1 with age ení infinni-
t íes.re perfomed tre duties of ~y with distinction ard trrrur. He was rot des-
tined IClIl;) to survive tre ~ral l íberty of his contry ,for t"e died at Caldas da
Rainha in tre year 1823.Like trose of tre imrorta l C<1roens.tre perísneble ranains of
tre ~ Correa da ~rra were deçosited in tre ~Iic burial-groLlJ"(j .witi'out any fu-
nereal h:JrnJrs;ard as tre i llustrírus author of tre Lusiad foond but cne frierd in
his extraníty.wose nare deserves to l ive with that of his nester , tre faithful M\-
lay, flntonio.just 50 CXJr unfortunate ~ was destitute of fr íeods in his last mo-
ments;nor had t"e cne otrer rrourner to accarpany his renains to tre toro. save the
hurble sacristan of his parish church .wtüse affection ard admiration had ~ \\00
by tre çreatressof tüs talerts. A c r o s s , rudely formed of wo o d ,

113
c ro ix rudement fo r mée de planc hes de bois ave c I inscri~im
I

Co r r e s da Serra - - e s t le se ul mo nument de ta nt d2g10ire!


Et c' e st le pe t i t sacr istain Qu i a e r igé ce monument l I !

Le doct eur Constancio resident à Paris ou iI a été le


princ ipal redócteur d'une / p. 56 / revue port ugais e int i-
tulée - - Annaes das Sciencias e das Artes -- ESt e nco re un
savan t natu ral iste et litterateur di stingué.II a reçu le
grade de doct eur à I 'universi té d'Endimburg , et outres ses
publicat i ons portuga ises , iI a i mpr i mé à Par is des tradu -
ctio ns f r anc ais e s de nos economistes poli tiques les plus
celeb res (anglais). Ces t r aducti ons son t tres es timés e n France
et Mr . Co nst ancio ecrit I 'anglais et l e franc a is comme sa
langue mate r nelle. "
La Chymie à au ssi son temple en Portugal ;et outre les
etabl issements et les chaires publiques de cette science à
l'univers ité de Coimbre,il y ades lectures publiques a~·
les à Lisbonne . Le jeune savant Mr . Mouzinho d'A lboquerque
y donne ces lectures dans lesquelles et dans d'autres ou-
vrages quil a publ ié on voit qu'on n'est pas en arriere ~
Portugal des plus sublimes mysteres de cette grande et~
/ p.5? / nouvelle science qui a changé et entierement chan-
gerâ la f ace des choses humaines. Ces lectures sont a~s
par la j e une noblesse , par tout ce qu'il y a de notable à
Lisbonne -- encore des dames, et nous y avons remarqué av~
plais ir la respectable et vie ille marquise de Alorna,plus
connue comme Contesse de Oyenhausen .

114
with the simple i nser i pti on on n , " Correa da Serra," ( verbum niI
ampl ius,) is th e only monument whieh attests t o the world the glary
of him ...ro tore that nare. It was tre last effart of tre teor secrísten to rescue
tnat nare frun col ivíoo : aro sirrple aro af fect irq as it is. it ví l l s~ak to ali IXlS-
tertty , and ....rerever CDrrea da ~rra is reverec, there will tnis ~ine tr íbote of
~ to a bei~ of suer ior oroer be rrentiCX1ed with acoleuse.

üxtor onsterc ío, who was th e pri nei paI edi tor of a Partuguese re-
view publ ished at Par i s , under the title of " Annaes das Sciencias
e das Artes ," i s sti ll much valued as a distinguished writer and
learned naturalis t. The degree of dactor was conferred upon him by
the university af Edi nburgh, whe r e he published a periodical paper
entitled " lte Ch:>st." ln aà:1itiCX1 to his publi eatiCX1s in tre FbTtugt.ese la~,he
carrnitted to the Paris press t ranslations in French of four rrost celebrated English
pol ítí cal ecomnísts , 'tilich are rruch estearEd in France. lte Fra1ch and English lan-
guages are as faniliar to lX'. CCX1stancio as tre ~Ttugt.ese.

Ip. 557 I D1enistry has li kewi se been a favourite study in Portugal.


Bes-ides the public establ i shment s and professorships of this science
in CDirrbra , publ ic lectures on tbe subject are anrually given to larg:! classes in
LisbCX1. ln the pnl ísred lectures of the yoorg professor, fot". M:xJzirro d'AI~I"llJ:!,
and in the otrer \\Orks 'tilich he has given to the \\Orld, suff icient proóf is afforOOd
of tre edverces mad:! by tre Fbrt.u;)tese in
~ myster ies of this science,which

nas produced such r evol uti ons and changes in the world. His lectures
are attended by many of the yo ung nobility, and, in fact,by
no s t of the re spe ctab le yo ut h in Lisbon,and even by many
ladies , among whom is fre que nt l y seen the aged Marchioress
Alorna, better known , per ha ps , as the Countess OyenhaUS€R.

115
Cet t e dame . chef d 'une de s p lus nobles mais ons de I I

Europ e à cultiver l es s ci en ces et l e s lettres av e c in taleot


et un gou t Qu e l 'on f a i t remarquer et hounorer d ans les
princ ipa le s cour s du Co nti nent ou el le à voyagé . EI Je a pu
blié une tr aduct i on de I ' a r t poe t ique d'Horace et une art~
de I ' E'sai sur la Cr itique de Pope Qui sont tres est imés.
EI I e ét a i t I ' ami e deI a c eI e br e Mrre á e St a e 1 et d u
ph ilosop he ·a l l emand Kan t, Qu i touts deux I 'honnora ient re~
coup . Cette dame I p . 58 I presque nonagena ire et infirme
ret ien t enco re t outs l e s charmes de I 'esprit: sa conversa-
tion e s t l a plus agr e ab l e et i nst r ucti ve . et elle la ma n-
tient dans presque toutes les langues civilisées de l 'Europe. Sans
tomber dans le r idi cule des bluestockings ou des femmes savantes,elle
ades conna is sances s i vari ées et un tact si fin et s i eXQu is Qu 'on
est for cer de I 'adm irer .
D. Mi!}1?1 n'a pas nnl de persecuter les teleots , 1'<JlO.Jr de la liberté CCllS-
í é

t íurtloelle, e la loyauté de cette veritable matl1Te portLgaise.


Mr. Si lvestre Pinheiro.diplomate portugais asse s anu.
est 1'auteur d ' un Essay sur la Psychologie dernierement p~
blié en França i s à Paris et tres bien accueilli des savant s
Cet ouvrage ava it deja paru en Portuga is.QuoiQue un peudi~
ferent de 1 'e di t i on f rancaise.
On do i t fa ire honnorable mention de Mr. Moira LL . D.
QU i a beauco up voy agé en Ang 1eterre et beaucoup etudié nos ju-

risconsultes anglais , notre Ip. 59 I procedure judiciaire . et qui a


dern ierement publ ié à Li sbonne un ouvrage t res interessant sur les toíx,
les magis trats et le s jugemen~s en Angleterre. Cet ouvrage estimable
est ecri t avec beaucoup d 'impartialité . et parait etre tre$ populaire
au Portuga1.
Do att r ibue auss i au Dr . Mo ira un ouvrage anonyme i nt\ t ulé Cártas

116
This disting uis hed female, t he head of one of the most illustrious
familie s i n Europe, has dur i ng a long l ife cult i vat ed the SClences
and the belles -Ie t t res , with a ta lent , an ardou r, and a taste,which
have procured for her honourab le , recepti on at the different courts
wh ich sne has vi si ted on the cont nent. s-e has p,bl ished a trenstetím of
í

tre Ars ~t ica of I-brace, as likewi se of Pcçe S essay m crit ícrsn, lxJth of \tIich
I

are rnx:h esteered in FQrtLgal . s-e was tre intinate frierd of Mld<rre de Stael,ard
of tre l:eman P'ti losarsr Kant ,and was hig,ly valied by toth. TIu..gl arrived at tre
age of nirety, and torre oo..n by rurerrus infirmiti es, ste still retains all tre
charm ard tre poers of her mird ; her cooverset íco is at crce brilliant, instnrtive
ard agreeable; she is able to converse in alnost all the laJ"9JaQes of civíIized
Eurq:e; ard she displays her varíeo aequirarent5 with exqJisite taste ~ tect.em
without a trace of blue -stock i ng pe dant r y .

r~r . Sivest re Pinhei ro , aPort ugue se diplomatist of con-


s i derab 1e reputati on , is t he a ut hor of an essay on Psych)l~ ,
\tIich has teen lately ~lished at Paris , ard has teen \<lell received by tre Frerd1
Iiterat i . This ~rk had aIready appeared in th e Portuguese 1anguage ,and
in a somewhat different form f rom the French edition. Honourable
mention should Ip . JJ8 Ihere likewise be made of Mr. Moira,Ll. O.•
who has travelled muchin this country, and has devoted the greate r
portion of hi s ti me in England to t he st udy of our judiciary sy~,
and the plead i ng s in our courts of l aw. He has latêly published at
Lisbon a very interest ing ~rk 01 tre state ot the law,tl'E magistracy ard le-
11<11 oeciskns i n England , wh ich is wr itten with grea t impartiality,
and promises t o become very popula r i n Port ugal . An anonymous pu-
bli cation , entitled " Ca rtas de Ame r i c us , " is also attri-

117
de Ame r i cus publié à Lond re s s ur la polit ique les loix et
la const i t ut i on britaniqu e .
Parmi les aute ur s por t ugai s vivants on doit mettre au
pr emier r ang l e savant et I ' a im a bl e éveque de Coimbra D.
Fra ncisco de St. Lew i s . II a r eçu ses grades de Docteur à
l' univ er sité de Coi mb ra t r es jeune , y a été professeur ,~is
fait ev eque, a été nom mé Rec teu r de I 'un ivers ité.Tres ze l é,
quoi que tres moderé. patr i ot e ii a pr is part aux evene me nts
de 1820. A l a reaction du despo t is me en 1823, on I ' a perse -
cu té on I' a re Iegué au fo nd d ' un conve nto I I /p . 60 / e n
,

est sorti en 1826 appell é par le peuple aux fo nct ions de ~


puté. La re gencie I 'a cho i si pour president de l a chambre
des deputés. Emploi honnor able qu 'ila exercé on ne pe u pas
plus noblement.
C'~st un homme d'une figu r e in si nuant e et qui r evi e nt,

dans la force de I 'age, d'une con ver sation at t ra iante , d' une
douceur et d'une affabili té qu i ench ant e nt . C' e st un sa va nt
et un litterateur tr e s r e s pect é , et le plus respe cté detaIts
en Portu gal; on n' en par le qu 'avec un r e s pect et un a ttac h ~
ment sin ce re et profond : on le revere par tout. II a pub l ie
un d i cti ona i r e de synoni me s de I a I an9ue Por t u9a i se . III essay
sur l es ant i qui tée s de l a celeb re abbayé de Bata lha,di vers
me moire s litter air es t res es timeés et t res utiles. on le dit
le plus pur et le plus corr ect ec r iva i n de sa la ngue. Tant
Qu'un etr anger peut en jug e r iI y a vra ie ment un charme pa~
ticulier dans s a diction.
/ p. 61 / Comme de ra ison . D. Migue l a horrofficeve~
prelat de s honneu r s de l a proscript io n.On I 'arracha de sa
pais ible ma is on à Lisb onne . et condui t entre des soldats iI
a eté ~ ele gué comme um scele rat aux mon tagnes horr ibles de
la sierra d'Ossa en Al ent e jo .

118
buted to his pe n , i n wh ich he treats of the polity and
~ o n stitu ti on of Great Br i t a i n.

Among th e mode r n l iterati of Portug al , i t i s but just that we


should place in the first r ank the lear ned and amiable bishop of 00-
imbr a , Franc i sco de St . Luis . He t ook the degree of docto r i n his unl-
versityat an early period of l ífe, and then tecere professor. 9Jbsequerttly he was
advanced to episcopal rank,and in process of tine tecere rector of the univers ity. A
zealcus , hrt yet teroerate patriot, he tox a 62cid2d part in the events of 1820.W"aJ
the re-actioo tox place in 1823,he becare the irrrrediate ebject of persecut íor.am at
1ffiJ1:h was imrured in the cell of a coovent, in vilich he was cntired a close príson-
er until the year 1826, W'len the natkn called him to perform the duties of depJty ,
and the regency élWJinted himpresident of the loer chaiter, v.t1ere the integrity cf
his principIes and the f inrress of his character excited the IXJbI ic adniratioo.1t'Ose
~ho a re pe rsonall y ac qu ain te d wi t h the l e a r ne d b is hop ~­

scribe h im as possess i ng an imposing figure,attrac ti ve


00wers of conve rsation , a mildne s s ' of t emper , and an aff.
Di I i ty o f ma nne r , wh ic h e nc ha nt al l who approach him .f'b literal')
character in Fbrt.u:lal at present is so mrn respected as himself, and his nare is
rever nentíored in the literary círcles of Li slxJn hrt with revererce and affectioo;
in fact , hE! is the iÔJI of the RJrtl.gt.ese natioo.re is the eutror of a dictiooary of
SyrO'l)111S in the Fb~se laJ"9,Jage; of an es say on the antiquities of the
:elebrated abbey of Batalha , as well as of severa I literary/p.559/
díssertatíms ,vilich are in «nsíoereble rep..rt.e. His style of writirg is said to be
quite an exarple of p.Jrity and correctness; at least, as far as a stranger may
offer an opin ion, h is dictio n appe a rs t o possess a peculie
charm. I t was natu ral to expec t tha t the learning and the
virtues of t h i s exc e lle nt pre la t e would enti tle him to
~ h e hono ur of pro sc r ipt io n at t he hands of D. Miguel ;and,

ln truth, he has 0C>en dragJ2d from his peeceeble resíoeoce and the scere of his use-
ful latnJrs in LislxJn,and coo:locted by an amed band into banishrent,like a criminal
ard placed aníd horrid fastresses in the nnnta íns of the ~rra d 'Ossa , in the Alen-
teia.

119
Parmi les poetes vi vants on r e ma r que Mr. Castilho qui
quoique aveugle presque du berceau a ce pe nda nt cultivé les
lettres. et a eté favor i des Muses. - - Ses heroides dans le
gen re d'Ovide est ce qu'il a publ i é de plus remarcable.Q..el-
ques poesies peu estimées genralement mont rent du talent dans le jeune
poete . En general i i manque d'originalité et de verité de pinceau:ses
vers sont tres bien tournés quoique monot ones ; et c 'est à 1' harmonie
de ses vers qu'il doit sa renomée.
l.e padre JJsé.A]ustirro de Mace<b est un libell iste infare qui dans Ip.õ2. I toot
autre pais serait anléJ1Te au pilocy. Cet un vrai rroine defY'CXjUé. 01 ne «rcoít pas I'
hardiesse et l'effrooterie de ce charlatan effronté . II rronte en chaire et debite d'un
too f3llÍ1ati~ et dans un style Ixlursoofflé les miracles de t'btre Dare dJ E1Iraco; et la
camaille et la petraille d'applaudir; ii crie cont re les Frananasons et les constitu-
t írrels, carpare D. Miguel à N. S. ~sus Oiríst , la vieille Jeine tlessalineà la Sainte
Vie~; et Q-Jard on devait pn ír par les verçes des profanat ions et des blasp1eTEs si

torr íbles, la faction epostolíne proclare le P'ldre A;Justirro le grard mme.le savant
et le saint du Portiqal l
La nation le deteste en general et les gens senses de toots les partis/p. 63 I le
rreprisent: mais il faut avruer Q-J'il a du ta lent et des canaissances en litterature.
mais 1Il gout faux et depravé qui lui fait entrepremre et pnl íer les choses les plus
ridiaJles et les plus absurdes .
Comment croira-t'-on que ce moine effronté a osé decrier le ~s
rier tartes les beautés des Lusiades. et lXXJr prouver que lui rrare etait plus grard poe-
te que le ~s. a pnlíé ure €J:q:ée sur le rrare sujet qu'il intitula d'abord Gala et
pui Oriente? -- Ce grand poeme monachal qui devait surpasser et ane-
antir les Lusiades . est 1'assemblag e le plus monstrueux du boursouflé
du ridicule. du bas.de 1'absurde qu'o n puisse imaginer. - - On le mepr i·
sa comme ii meritait. malgré touts les efforts du parti apostolique e~
nmachal.
Cet atribilaire ecrit tcojcors, c'est a dire griffcre <ii papier en Ip. 64 I insul-

120
Amon~ ~he living poets of Portugal may be remarked Castilho,
who, though blind from his cradle,has nevertheless incessantly
appl ied himself to the belles-Iettres and the cultivation of the MJses.His " t-e-
roides ," in the style of Ozld, is ore ~ the nost ranarkable of his WJrks. t-e
displays cons íõereble talent in SO'lE other pieces of poetry, wh i ch ,. however ,
are not generally regarded as good;in fact he is very deficient in
originality,and his nooe of colomrq is not after the truth of nature;his lines,
trough they are happily turned,perhaps,are mrotrrrus, and it is only to the har-
nony of his verses that he is irdebted for his poetical fare,

fm:n:;J the mxem writers of PortlJ;jal, It.e rrust


not forget to llBltion Padre ..bse
.Au;pstirto oe M1ceôJ; but at the sare tirre It.e shall avoid all allusion to his relig-
ícos and politicaI fanaticism. He has presumed to decry the merits
of Camoens, and to deny the beauties of the Lusiad; and
has even gone so far, as to venture to publish a rival
epic poem on the discovery of India, which he at first
entitled " Gama," and subsequently" Oriente." This lX8J1
has been representedto us as not possessing any merit,
and in fact to have been treated with almost universal
neg Iect.

121
tant tout le mroe , invectivant touts les auteurs rrorts et vivants , se disant soi rrare
~rieur à toJts en tort cplre et Atons egards. -- C'est le favori oes apostol iQ..es
et Ie ~to Iaureatus cl? l' usurpateur.
II faut d ire en honneu r de la verité Que son poeme \nt i
tulé l a Med ita tion ( A Meditação) ades morceau x t res ~a~
et Qu i paraissent d'une autre plume .
Oans I'essay de Mr . le Chevalier d'Almeida Garrett {Que rcos evcos
souvent cité } sur I 'h isto ire litteraire du Portugal iI est fait mentia
d'un petit poeme intitule la promenade ( o Passeio) dans le genre de
Sa i sons de notre Thompson et des poemes de Delile. L'auteur est Mr. da
Costa e Si lva Qui vit tres retiré. et est une espece de ph ilosophe QUi
fu it le monde . 11 y a dan s ce poeme de grands defauts et de grandes
beautés; de I ' imaginat ion et des penseés nouvelles.

/ p. 65 / Ma is I ' ecri vai n le plus remarcable et dont les ouvrages


sont calculés pour exciter plus d'interet pour nous autres etrange rs .
c'est I'auteur de cet essay sur l 'histoire litteraire du Portugal Que
je viens de citter. Mr . de Almeida Garrett . Encore etudiant à I 'unive~
síté oe Coirrbra, ou l reçu 1es degrés de Oocteur en droit { LL. D. }, il
í

a publié un poeme didatiQue sur la peinture int it ulé O Retrato de V~s


{ la portrait de Venus } accompagné d'un essay sur l 'histoire de la
peinture particulierement en Portugal. Ce petit livre a fait plus.de
bruit dans le pais Qu'aucun autre livre depuis pres de cent ans.C'etait
au commencement de la revolution et du gouvernment representatif Qu i a
duré en Portugal jusqu'a 1823. 11 Y etait parlé librement du pape et
de la cour de Rome ; on y exaltait le Chr istianisme pur et ver it able .
1I Evangile cette source sacrée de la morale et de la vertu:c'etait aprez
p:x.Jr qoo trote lá petraílle aPJstolíque cria au blas~ a l 'heresie on fit un _aE?~_'
on ecrivit OOS Iíbelles, / p. 66 / on irrprirra OOS infamies ; -- enfim on soma l 'auteur.
QUi n'avait alors ~ 20 a 21 ans,p:x.Jr caroaraitre oevent le J.Jry(qu'on avait institué
ators en Fbrtugal seularent por les críres 00 la presse ). L' accusation etait contradi-

122
He i s t he a ut ho r Of a no t he r poem . e n ti t I e ú ' A Me d i-
t ac o . :' to v h i c h , i n po int o f
ê a b i l i t y . e no t ne r c ne r e c t er
is assigned.
/p.'.:fIJ/ ln tre essay of tre O'eval ier de .Alrreida G3rrett,lolúch \0.12 have freQU.'flt-
ly QlXJted in this historica l review of tre literature of Portoqal ,\0.12 find a rotice
givirg of a Iittle p:an,entitled "O Passeio,"or tre ororeoeoe.w ttten in tre stylf
of our 11'o1w1' s 5easoos cnd SQ"TI?Io.ha t in W ;;"d."1j102r of ~ Ii IIe.Ire aut"ar of th is
I

prcdoctím is a W. ['l:l Costa e Sílva.woI íves in profa..rd reti rerent .es a tne p'1i~
loscorer laves to co.avoids tre toi I ard tre tumoi I of tre -orld. Ire p:an of ....tIicl
lo.\? are speakirq is rererkable for great cefects.a s \0.1211 as for great l:€auties ;for
splerdid displays of tre irraginat ive co-ers of tre eutrors mird,ard for novelties
of ccrceotiot.
It ro-IlYI ly rereins for US, in ccoc luslm, ~ .g i ve a br ief notice of the ';,()rks
pLblished by tre Oevalíer de Alrreida G3rrett, to wose essay 1YI tre literary his-
tory of FlJrtlJ;jal ,prefixed to tre col lecttot of specínens of FlJrtlJ;jt..ese pcetry .pr ínt-
ed at Paris in five volures.se have already allu1:d.
His didactic p:an. entitled " O I€trato de Venus ." (tre portrait of Venus. )
preceded by adis cussíci on tre ert, rrore par ticularly as practised in FlJrtlJ;jal,
gained him «nsíõerable distinction v.hilst a stioert 1YI tre tn ívers íty of Coirrbra.

It was published at tre conreocerent of tre revolution ln 1820,v.hen a representat ive


govemrent. as I>.e have seen, was establ isred in PortlJ;ja l , erd v.h ich «nt íned in
force 0Cw1 to tre year 1823 , v.hen tre sovereign resured possession of despotic eutn-
ority. 1l'e unreasured free<bn with v.hich tre yourg aceoeníc had anirredverted in his
';,()r1< 1YI tbe character of tre FIJç.e ard tre court of Ibre,excited against him the
hatred and vel'9?ance of tre apostolical party;ard accordingly, he was ci ted before
a tritxJnal,purposely established to pnish offences of tre press.to nake ens-er t o
tre «ntredlctory charges of ~isn ard Atreisn.

123
ctoire ffI elle rTeTE J)Jisqu'on I'accusait de deiste e d'athée au rTeTE tanso te grard JJr)
ffI la faiblesse de trruver IMtiere a proces ;lMis le petit jury, devant le qt.el I' auteur

fut ffI persore deferdre sa cause I'aquita ebsolurent. La defense de I'auteur est .dítm,
111 plus ~I ouvrage ql.e le poore accusé.
Le portrait de Venus courait de moins en mo ins , on se I
arrachait, on le vendait un prix enorme,le libraire profitant
de l oc ca s on , et les dames surtout ne parlait que du rouveau
t í

livre. Tel est le fruit de la persecution!


11 y a dans ce poeme des beaux vers, des pensées fortes. des tableaux
bien desinés: mais l'ensemble est bien loin de la perfection; c 'est .on
le voit bien, un ouvrage d'a Ip. 67 I apprentis. L'auteur veut faire
pompe de son eruditíon. de ses lectures; ça gate 1'ouvrage.L'idée du
poeme est heureuse ;mais iI s'en faut de beaucoup qu'elle soit bien exe-
cutée. -- Cependant c 'est un ouvrage vraiement original et qui a daYé
quelque chose à la litterature du Portugal.
En sortant de I ' uni ve r s i t é le jeune litterateur f ut em-
ployé comme Chef de bureau au Ministere de 1 'interieur(~­
thi~ like senior clerk in tre ture departarent ); et.quoi que to ut adonné a
ses hautes et importants fonctions,puiqu'on le chargea de
le direction du bureau de 1'intruction et education publiqt.e .
iI trouva du loisir pour publier sa tragedie Caton. C'est
le meme sujet que notre Adisson a traité.L'auteur avoueoons
la preface qu'il a profité de quelques endroits du poete
anglais. Mais surement la tragedie est absolutement diffe-
rente. Le plan, ( the plot ) est entierement divers;comme
da-- les belles tragedies Romaines d'Alfieri.il n'y a pas
Ip. 68 I de femmes ni d'amouretes. II n'y entre de passio~
humaines que l'amour pa t er ne l , I'amour de la pa t r e , celui í

de la gloire. 1'ambition et rien de plus. Le plan de la ~~


ce est bien tracé dans les regles d'Aristole.on voit que
1'auteur a voullu imiter le genre et la maniere d'Alfieri .

124
The consequence of this priestly persecution was, as mi~t
well be imagined, the giving a greater degree of publicity
and popularity to the " Retrato de Venus." With respect

to the poem itself, it Ip.561 Icontains without doubt some


original conceptions,some beautiful imagery,with nervous diction ~
striking representations;but still, taken as a ~hole,it has l ittle
claim to the consideration of a perfect poem,and through alI the
author's display of reading ~ gereral erudition tre faults of an írezperíerced
writer are discoverable.

Upon his remova 1 from the university,Mr. Garrett was entrusted


with a responsible situation in thé home office,and ooring
the intervals of leisure allowed from his important duties
he composed his tragedy of " Cato." ln the preface he
admits that Addison furnished him qith many of his happier
ideas; but still his plan is totally different from that
of our tragedian; and, like Alfieri in his beautiful t~­
gedies, he employs in the composition of his drama reitrer
female personages nor love-tales. The human passions~i~
he makes subservient to his design, are those of the rrore
exalted character of paternal love, patriotism, ambition
and a thirst for glory. If the au t hor may be said to have
followed in this piece the classical rules of the Greek
drama, it is equally evident that he has imitated the
style of Alfieri.Among the native Portuguese the versi-

125
Les Portuga i s vantent beaucoup la versification;c'est a eux a en juger.
L'auteur a mis en scene et en contraste les deux characteres de Caton
et de Brutus. C'est la pensée la plus heureuse de san drame : les ~
personages san bien dessineés et se soutienent bien. Le dernier acte
est faible comme dans Adisson: iI y a quelques defauts considerables ,
on tombe dans la declamation quelquefois: iI y a un personnage assez
inutile , le f il de Caton Portus qui ne fa it que debiter quelques li~
communs de t res bonne morale , i I est vrais , mais. tres fades , et tres
inut iles! Je crois cependant que c 'est la me illeure tragedie que les
Portuga is /p. 69 / possedent, et qu 'elle peut se mettre à la paire des
bonnes t ragedies qu 'il y a en Europe.
Persecuté en 1823 l 'auteur se refugia à Paris et y publia san po~
me O Camões le Camoens, do nt le sujet et le heras est le grand chantre
des Lusiades le malheureux et le nobre barde de la Lusitanie .
Ce poeme assez ext raordinai re est jetté dans un mou lle ent ieremen
nouveau . L' auteur a chagé d'ecolle : ce n' est plus le poete classique ,
le disciple des Grecs et des Romains; c'est le romantique , c'est le
amateur de Shackespeare .de Byron et de Scott, qui, sans les imiter.
puisqu' il est parfaitement la maniere. C'est un poete chantant un autre
La vie adventureuse du Camoens. ses voyages, ses amours . san poeme im-
mortel. tout a servi à 1'auteur pour en tirer des beaux tableux. II en
a tissu un roman historique tres simple, mais tres i nt eressant .brodé
des ornaments poetiques / p. 70 / qui convenaient au sujet. Les portu-
gais est iment assez ce poeme; mais je crois que s'il etait tradu it en
anglais , QuoiQue le sujet ne soit etranger. on lui ferai t bien plus de
justice .
Que lQues tems aprez I'auteur publia a Par is aussi le roman poeti-
Que de o. Branca ou a Conquista dos Algarves ( O. Branca ou la conque-
te des Algarves ).
. Je ne crois pas Qu'on puisse comparer ce roman ou ce poeme a auc~
ne autre chose du meme genre quon aie publié dans les langues connues.

126
fication of the poem is much praised, and of course they
must be the best judges of the harmony and euphony ~~kh
their Ianguage is capable.Perhaps the happiest idea of our poet is
the contrast I'tlich he draws CeTheen the tWJ characters of cato ení Brutus, botn of
I'tlich are 't.ell sustaired. lre last act is feeble, aro is characterised by other 001-
siderable faults; sometimes he falIs into useless decIamation; and then
he introduces a character perfectly uncalled for, the son of Cato,
Portíus, W10 coes rothi~ nore than utter sare very c:arrroo-pIace expressicns alnIt
noral íty. 5tilI ,tn.ever,this tragedy has Ceen favoorabIy receivoo in A::lrtu::lal.

lTiven fran his corrtry by the UI1reIenti~ persecuticn of tha .Absolutist facticn
in 1~,he too!< refuge at Paris,l'Alere/p.562/he pubIished his poen.entítled " O~s
{ Carcens,)the subject aro hera of I'tlich is tre. ímortel author of the I..1Jsiad,the UI1-
forl:tmte bard of I..1Jsitania. lrere is a rovelty in the plan of this ~.Forgettil1§
his oId G1:eI< aro R:Jren masters, the author, wittoot Cecani~ the cepyíst.f or he
is perfectIy Portuguese throughout;catches ~he manner of
5hakspeare,and sometimes reminds us of the flexibility of
scott: at others, of the forte of Byroo. lre adventurous I ife of Camoens, his
voyages,his attachments,his misfortunes,and his immortaI poel;,have
furnished some spIendid pictures;the narrative is romantic , simpIe,
and interesting;and the poetical ornaments are numerous and happily
chosen. Admired as this poem is by the Portuguese, we migrt.
venture to promise success if introduced to us in éIl Erglish
dress.

lhe Chevalier's next publication was a poe t Lc a l rcrerce ,


entitled " D. Branca, ou Conquista de Algarve," (D. Branca, or the
Conquest of Algarve,) a poem perfectly singular in its k nd , and ' í

perhaps without example in any modern language. lhough


resembling in some slight degree the Orlando Furioso of

127
C'est bien quelque chose comme I 'Orlando d'Arioste, c'est un peu aussi
comme I 'Oberon de Wielland: mais ce n'est nullement la meme chose ni
le meme style , ni le meme genre. C'est du ser ieux, c'est du sentimen-
tal, c 'est du burlesque , c 'est du philosophique - - encore du merveil-
leux : puis des fées.des enchantements, des moines, des princes --sans
etre licentieux ni impie comme le D. Juan de Byron,c 'est aussi extra-
vagant mais D. Juan Ip. 71 I est un tableau des moeurs modernes ; D.
Branca est une peinture antique: c'est du tems des guerres des Portu-
gais avec les Maures qui. s'etaient etablis en Espagne .
Je ne saurais porter de jugement sur un ouvrage si extraordinaire
et si bisarre: j 'y ai trouver des choses tres belles, les Portugais
en disent les uns des merveilles, les autres de horreurs: le motif en
es clair, on n'y a pas epargué les moines , ni le pape.
Rentrant en Portugal en 1826 I 'auteur de Camoens et de Branca a
abandonné les Muse s, et s'addonara entierement à la politique, et à la
defense et à la consolidation de la charte. Le Portugal doit su~
plus aux efforts du Portuguez et du Chronista, deux journaux que Mr .
Garrett etablit à Lisbonne et dont ii etait le principal redacteur,
qu'a toute autre chose l'esprit constitutionnel qui s'est propagé ~
cette année et demie de gouvernement representatif I p. 72 I que les
Portugias ont eu. D. Pedro et D. Maria da Gloria lui doivent surement
davantage que à touts ses pairs du Royaume et à ses deputés pusilani-
rnes.
Ces deux journaux. dont I 'un paraissait tous les jours, l 'outre
touts les dimanches , etaient tres bien ecrits , le langage en etait sim-
pIe, polli, mais ferme. On s'etonnait tant nationaux qu 'etrangers de
voir ·ecr i re en Portugal avec t~t de prudence et en metre tant de cou-
rage.
Le parti apostolique vit bien I'enemi qu'il avait à combatre,et
comme iI n'y avait pas moyen de I 'intimider ou de le corrompre, on
.le mit en prison; et le Portuguez ; qui avait plus de deux mille sous-

128
of Ar iosto , and in a l i t t l e al so the Oberon of Wieland,
i t possesses on decided characte r in common with neith er .
It is a curious combinat ion of the serious , the sentimental , the
burlesque,the philosoph ical ,and the ma r vel lous ;and is aided by the
i ntroduct ion of fairies ard ercharrt:.arent s ,princes ard rrooks. Wi thout 1:t'e license
ard impietyof the ün JJan of Byroo, it is st ill equall yextravagant ;but Don Juan
we should remark, is a pictu re of moder n manner s ,whi le the D. Branca
of Mr. Garrett is a representat ion of th e ancientstate of society.Its
perícd of tirre is that of the ~~se wars with the M:x>rs \\00 had established ~
selves in ~in. Since tre ~rtl.Jc}.ese are dívíoed in opinion al:wt tte rrerits of this
posn.It \oOJld te hazarebus for a foreigrer to pass any posítt ve j$rent on its pre-
tensions; but in one poínt v.e nust te al loed to give our anror inl ímíted praise,
ard that is for tte bold repretension of papal ard mrast íc erormities.
Ip. 563 I fEstored to his contry in 1826, by the establistrrent of tte constitutio-
nal charter, tte author of " Carões " ard of " D. Branca" abaró:x'a1 tte MJses for
the career of pol itics; and for tte defence ard consoli dat ion of tre charter.esteo-
lished tte tw:> ~lic joornals at t ísbn entitled''' '9 ~~ " and t:i1E! " Oirmis-
ta," totn of W1ich v.ere written with great moderat ion of sp i r i t , and i n a

style simple , p:>lished , and firmo lhey botn rret with a success ~ in tte
amaIs of rmlic jonrals.

lhe epostolícal faction , aware of tre vigilant and poer-


ful ~ with Wm ttey had to deal, -- an eraT!t of tre ír hateful principles,\tIm
ro force couId íntínídate .rroroffered advantages comet .i-prooired the supression

129
cr ipt eur s ( chOse et onan te dans un pai s de 3 millions d 'homme s ) cess a
de parai t re . ce fut un des premie rs pa s de la trahis on pou r prepa rer
le chemi G dE I ' usurpat ion à O. MI guel .
Ip . 73 / Naus avon s fa it mention dans le cour s de ce chapit re de
I 'Essay du memme aut eur sur I 'hi stoire de la litterature portugaise.Je
pense Que c 'est ce Qu'il y a de mieux ecrit sur le sujet . II a eté im-
primé à la tete d' une colle ction des chef s d'oeu~res , de la poesie po~
tugaise impri mée à Pa r is en 5 volumes. Cette collection a été d'abord
fai te et dirigée par le meme auteur: i I a cependant dernierement oecle-
ré QU' i I n en vou II ai tI ' honneur ni Ie bIame, son pl an ayant été alteré
I

et changé en son absence de Paris.


Dernierement refugié à Londres . le Chev . de Alme ida Garrett a pu -
blié un petit roman poet iQue Intitulé Adozinda , precedê d'un essay sur
}'ancienne poesie nationale et romantiQue du Portugal . Cet ouvrage doi'
etre precieux pour t outs les litterateurs et archeologues.-- Ce sont
exactement nos poemes de W. Scott . nos baII ads et chansons de rrerestrels .
-- C'est assez cur ieux pou r un habitant du / p. 74 / nord cE mrparer les
t raditions . les superstit ions. les croyances populaires des peuples du
Sud. Je cro is Que cet ouvrage est le premier quon ait publié cE ce gen-
re dans les l angues du Sud de I ' Europe .

130
sf trese t-o gazettes. ard effected tre irrpriscroent of treir editor ; tl'€ first step
raken by monkish t reas on t o prepare th e way f or future commotions l

Latterly a refugee in London , th e Che valier de Almeida Garrett has


published a little poem,enti tl ed " Adoz ind e , " pre ceded by an essay
on the ancient national and romantic poetry of Portugal .lt is s i~l~

Iy interesting for an i nhabi tant of nor th ern Europe to compare wi th


those of his own region the trad ition s . ~~e superstitions . tre ~lal

persuasions, and c r ee d s, o f t he nations of the south;and


hence the value of -t h i s e r c n eo l o q c e l treatise.
í lt is ,
perhaps. the f i r s t wo r k o f the kind published in tnis cnntr
in cre of the larg;ages of tre SOJth of Eurq:e.
fu! writer in the ().Jarterly feview, frrm ....ron ;,e have noted at the COTl'Tef'Carent
of this essey, has rererxeo that the·pxu ler ballads of tre Fbrtl.1JJese have peristed
W1at a rebt, therefore. shall ;,e o..e to W. Alrreida G3rrett . if by his assuidity tre .
cen ~ recovered ! Perhaps he is al so destined to effect a revolutím in the poetry
of R:lrt:.u:lal.'tilich stenís as rru:h in reed of it as its actua l cmstitutim . It is true
that the FOrt.u;J..ese have pn::dx:ed the best rorerce of ehivaIry in Vasco de L.cte ira I s
" Aradis de G3u1 ;" the test ehrmicler in Feman ~z; cre of the best historians
in Bar- Ip. 564 I ros, ard cre of tre most eloaent wri ters in Vieyra; nrt they are
~ind ali other reticos in toetry.trere have la!n , as ;,e have seen, poets in ab.Il-

darce cl"IU"g tren; hrt frrm the naticoal taste ard otrer causes, the FOrt.u;J..ese pro-
uctícos in this are inferior to those ín tre otrer departrrents of Iiterature.

131
Tel est l'etat actueI de la litterature portugaise; ii n'est pas
florissant sans doute; mais on y voit de~ signe~ de force et de vie .
Comme tout ce Qui apartient a ce malhereux pais, elle gemit et souffre
sous les poids de la tyrannie, du monachisme et ne vit Que de ses gl~
rieuses recordations du passé. et de ses esperances dans un avenir QUE
surement la nation portugaise merite et Qu'elle abtiendra tot ou tardo

132
~. trEn, ~ eJ)(ral ly aro briefly is the actual state of the li te rature of R:>rt.u.
gal. Its cond it ion .mos t assuredl y , cannot be said t o be fl ouri sh in g;
but sti II i t gi ves evidence of inherent force à"d life. ln the serre way with
every th irg eIse a:mected wi th that Lffiaçpy mntry, itis aro over..relrred
torre â:w1
at presart. by the grievoos 'neigrt. the i roo-~ tyramy of nmacn ísn aro priestly
deSlXJ1:i9Tl.Still the W1taTplation of its past glories rrust te cheeril'9 to trose lohJ
take an interest í n the destinies of the lerd that pm1.ced a H31ry . a Glna . ard a
CarI:alS ; aro to th3n ney lig,t up the tq:es of arother era of glory for the ratim,
-- of brigrt.er fcrtires , deserved by the R:>rt.L.g.ese p:q>le , ard ....tlich '...e predict t.h=y
wi 11 scooer ar later dJtain.

133
NO T A: Cons tam desta bibliografia as obras cuja indicação bibliográfica não foi referida
por completo nas notas.

BIBLIOGRAFIA

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de uma historia abreviada da /ingua e p oesia p ortuguesa , Paris, em casa de J . P . Ail-
laud, 1826-27 , 5 tomos [Tomo I, 182 6].
2. -Esquisse d 'une histoire Iittéraire du Portugal" , manuscrito 82 d o Esp ôlio.
3 . Obras Comp letas. grande edição po pular, illus trada, Prefaciada, Revista, Coordenada
e Dirigi da por Th eophilo Brag a , 2 vo ls. , Li sbo a, Empreza da Historia de Portugal, 1904.

11 - O BRAS CO NSU LTADA S :

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tomo I, pa rte I e II , 3 a edição re v ista e ac re scentad a por Manuel Bernardes Branco,
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de Almeida Garrett " in Revista da Faculdade de Letras , tomo XXI, 2 ." série, N .O I ,
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Lisboa, Edições 70, 1987 .
13. MONTEIRO, Ofélia Paiva Monteiro, A Formação de Almeida Ga rett , Experiência e
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propriamenter accentua d as para facilitar o Estudo d' aquella Lin goa», in lhe Quarterly
Review, vol I, n . ? 2, Londres, W. Gifford, 1809 .
19. WALTER, Félix, La Litt érature Portugaise en Angleterre à Fépo que roma ntique , Paris,
Librairie Ancienne Honoré Champion, 1927 .

135
RECENSÃO CRÍTICA

SOMBRAS DE HOMENS BRANCOS

Filipe Furtado *

Shades of Adamastor: An Anthology of Poetry , introdução e selecção


de M . van Wyk Smith, Institute for the Study of English in
Africa, Rhodes University, Grahamstown, 1988

Poucos se têm dedicado a estudar o grau de importância e de per-


manência atingido pela imagem que descobridores, conquistadores e co-
lonos portugueses suscitaram nas mentalidades e nas subsequentes
produções culturais de muitos dos povos com que essas figuras mais ou
menos episodicamente entraram em contacto. Tal se verifica sobretudo em
relação a sociedades e países cujo encontro com o devir de Portugal , ape-
sar de mais fugaz ou menos estreito, os tocou profundmente e neles man-
tém ainda hoje uma apreciável influência.
A muitos títulos curioso, portanto, é o aparecimento de uma antolo-
gia poética em inglês de autores sul-africanos reunindo textos que reflec-
tem os ainda fortes vestígios deixados no imaginário da África austral por
mitos e factos reais ligados aos Descobrimentos e às relações de toda a
ordem por eles desencadeadas.
Surgido em 1988, o volume parece posicionar-se como peça de al-
gum relevo e, mesmo, de certo alcance oficioso nas comemorações da via-
gem que levou Bartolomeu Dias a ultrapassar o Cabo da Boa Esperança.
Ora, no recente quadro polftico e social da África do Sul, celebrar a che-
gada dos primeiros europeus a essa região está longe de contar, mesmo
entre a população branca, com a aprovação unânime recolhida por fes-
tividades similares em décadas anteriores, sendo, antes, susceptível de
gerar situações no mínimo delicadas, polémicas e potencialmente con-
flituais.
Parte integrante da evocação dos navegadores portugueses, patroci-
nada pela respectiva comissão estatal (Dias 88 National Festival Com-

.. Professor Auxiliar no Departamento de Estudos Anglo-Portugueses da Faculdade de


Ciências Sociais e Humanas (Universidade Nova de Lisboa) .

137
mittee), uma antologia poética correria quase inevitavelmente sérios ris-
cos. Poderia, por exemplo, basear-se em critérios habilmente discrimi-
natórios na escolha dos textos, limitando-se a reiterações acríticas de
louvores já proferidos e à reprodução atenta e obediente do discurso do
poder. Facilmente se tomaria, assim, uma homenagem privativa de bran-
cos e para brancos, marginalizando e, de facto, hostilizando a grande
maioria da população.
Esta a eventualidade mais provável, já que, no contexto vertente, a
alternativa oposta de uma colectânia orientada para perspectivas radicais,
privilegiando textos altamente politizados, estaria por natureza excluída.
Algo inesperadamente, evitando ambas as opções anteriores e situando-se
numa posição quase equidistante face a elas, a presente obra consegue atin-
gir um razoável grau de eclectismo e de representatividade com a gama
epocal, estética e ideológica dos poemas nela incluídos.
Compilada por Malvern van Wyk Smith, professor da Rhodes Uni-
versity em Grahamstown, permite, entre outras surpresas, descobrir o fas-
cínio que para a literatura sul -africana de expressão inglesa constituem
Camões, o seu mito-chave e, de forma mais global, diversos momentos
da expansão portuguesa.
Ao longo dela, perpassam tanto os homens, os navios ou os instru-
mentos de marear, como as memórias hediondas do escorbuto, dos te-
mores, das danações e das mil mortes conhecidas pela marinhagem de então.
Lá se encontram igualmente, embora apenas em poemas das últimas dé-
cadas, reacções cada vez mais claras e intensas da população negra do país
perante a opressão da minoria branca. A estes e a muitos outros aspectos,
soma-se a rica temática da viagem, com alguns dos motivos mais fecun-
dos e originais que lhe são inerentes, mas também, acentue-se, com vá-
rios dos seus mais visitados lugares comuns.
Abrindo com um estudo introdutório que cumpre a dupla função de
esclarecer e de problematizar, a colectânea propriamente dita divide-se em
quatro partes. A primeira compreende apenas textos (em tradução inglesa)
de três autores portugueses: Camões, Fernando Pessoa e Joaqu im Paço
d'Arcos. Um reparo se poderá, contudo, levantar: a inclusão de Joaquim
Paço d' Arcos a par de dois vultos fundamentais, sem qualquer alusão aos
desníveis de vária ordem que deles o separam, é no mínimo pouco abo-
natória dos critérios seguidos na antologia, além de conducente a equí-
vocos evitáveis por parte de leitores naturalmente distantes da literatura
portuguesa. Seguindo o mesmo raciocínio, caberia perguntar ainda: por-
que não, por exemplo, também Rui Knopfli, José Craveirinha, Alberto
de Lacerda ou Jorge de Sena?
Nas três restantes partes, a colectânea passa a ser exclusivamente com-
posta por textos em inglês de autores sul-africanos.
A segunda parte inclui sobretudo poemas publicados entre 1830 e a
década de 30 do nosso século, embora feche com uma composição de 1981.
Aqui predominam as celebrações de feitos dos navegadores portugueses,
a par de descrições apologéticas da região do Cabo e de evocações idea-
lizadas do Adamastor. Embora, curiosamente, o primeiro texto (e se-
gundo mais antigo) desta secção (o soneto -The Cape of Storms- (1834)
de Thomas Pringle) dedique uma quadra aos servos, aos escravos e aos

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exilados (eco provável do en tão crescente movimento abolicionista), os
restantes obedecem quase por complet o ao padrão atrás descrito.
A iniciar a terceira parte, surge «Rounding the Cape- (1930) de Roy
Campbell, ponto de partida tanto pa ra mais prospectivas opções form ai s,
como para novas e fecundas abordagens de tod a a esfera semântica rela-
cionada com o Cabo. Seguem-se-lhe poemas sobretudo publicados entre
as décadas de 40 e de 80 que, de vários modos, implicam uma viragem
na leitura do pa ssado e dos mitos da reg ião.
Entre essas reavaliações conta-se a do Adamastor , cuja polissemia é
crescentemente explorada, o me sm o se verificand o quanto a uma percepção
mais crítica dos contactos portugueses com a África austral:
He [Dias] did not guess
What destinies of co nscio us ness,
Fleets, empires, tri bes , tongues , god s
Hung in his rotten riggi ng .
(Guy Butler , A Pilgrimage to Dias Cross , 1987)

Paralelamente, a região do Cabo vai deixando de ser objecto de elo -


gios impressionistas às suas belezas naturais para se to rnar símbolo da ex-
ploração do desconhecido ou do de stino problemático do país.
Na quarta parte, por sua vez, embora os poe mas incl uídos continuem
a rondar muitos elementos temáticos dos anteriores, abordam já predo-
minantemente, com a insi stência e a acu tilân cia possíveis, questões ra-
ciais e scociopolfticas da Áfrico do Sul contemporânea. Sobretudo em textos
de autores pretos, a essas tendências soma-se uma perspectivação amarga ,
não raro sarcástica e revoltada, dos contextos histó ricos e míticos em que,
desde as origens à actualidade, os portugueses e outros europeus avultam
como protagonistas da colonização .
Ao abordar, na introdução, a simbologia milenarmente urdida sobre
a África pelo imaginário europeu anterior aos Descobrimentos , van Wyk
Smith parte do modo contrastante co mo, desde a Gréc ia antiga, eram con-
cebidos os povos que se pressupunha exi stirem nas costas Indica e atlântica
do continente negro.
Segundo essa dicotomia, a «Etiópia o rienta l- e a sua homóloga do oci -
dente opor-se-iam tão diametralmente como os co nce itos de bem e de mal,
reflectindo tal antítese, nos finais da Idade Mé dia ,o próprio conflito que
há séculos dividia cristãos e muçulmanos. Sobre a primeira das -Etiópias-
criara-se a imagem de uma terra de cristãos, sob retudo fascinante devido
ao fabuloso reino do Preste João, aliado potencial dos europeus contra o
mundo islâmico , enquanto na segunda , a ocidente, abunda riam os mouros
e outros infiéis, inimigos implacá veis que urgia do mina r e converter.
A esta geografia simbólica, somava-s e a noção de um ex tremo sul,
de um cabo no fim das terras , lugar de co nfluência da s duas cos tas cujo
exemplo mais antigo e duradouro terá po rventura sido o lendário
«Promontório Prasso- de Ptolomeu. Dele se viria a apoderar a imagi-
nação literária, sobretudo depois de descob erto o seu homólogo real,
metaforizando-o incessantemente com o lugar de partição e de passagem
entre as tormentas e a «boa esperanç a», entre os lados «mau - e -bo rn- da
África.

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Região onde o homem branco se multiplicaria como em nenhuma ou-
tra do continente, nela exercendo o seu mais duradouro predomínio até
hoje , o Cabo passou, naturalmente, a ser concebido como fronteira de
ele ição entre o «civilizado.. e o «selvagem.., terra entre todas prometida
ao colono europeu. Por outro lado, como vértice do ângulo formado pelas
duas «Etió pias.., parece ainda apontar com dedo hesitante para a solidão
e o desconhecido implícitos no imenso mar austral. Na voz de Noel Bret-
teU (<<Prospect.., 1982):

Inscrutable, remate,
Beyond imagination's utmost reach
Nothing between me lies
Before , oceans behind, the face of the oblivious ice.

Embora Bartolomeu Dias e os seus marinheiros fossem os primeiros


europeus a ultrapassar esta região, o feito, praticado despercebidamente
na sequência de uma (hipotética") tempestade, não dera, ainda que contra
vontade do próprio comandante, imediata prossecução ao objectivo má-
ximo das navegações portuguesas de quatrocentos: a chegada à índia . Em
co nsequência (e assim desde logo o entendeu Camões), não é a Dias mas
a Vasco da Gama que cumprirá dar corpo ao mito e submeter-e ao ver-
dadeiro ritual de passagem neste lugar decisivo: o encontro com o Ada-
mastor , símbolo do Cabo e, em grande medida, de todo o continente.
Por isso, também na literatura sul -africana de expressão inglesa, o
processo de mitificação das origens da nação branca incide com muito
maior frequência sobre o descobridor da rota da índia e, particularmente,
sobre o monstro que o confronta. Com o desenrolar dos séculos e em no-
vos enquadramentos históricos , este spiritus loci e o promontório por ele
represe ntado viriam, na mente e na escrita de numerosos poetas da África
austral , a transformar-se em metáforas tão poderosas como já surgem
n ' Os L usia das e decerto com ma ior carga de significados do que o épico
lhes conferira.
Mas o Adamastor é um avejão com pés de barro, ainda mais grotesco,
inepto e desafortu nado do que Caliban. Embora pareça agigantar-se co-
lossalmente ameaçador, não passa de um degredado infeliz aos amores,
lançando maldições inócuas e incapaz de levantar qualquer obstáculo inul-
trapassável ao avanço português e à subsequente invasão por outros eu-
rop eus. Daí surgir mais tarde em muitos poemas sul-africanos quer como
figura em blemática do continente vencido e violado pelo conquistador alie-
nígena, que r como modesta bandeira de resistência e eventual vingança
contra o tirano de outra cor.
Ape sar de em grande medida já presentes no canto V d 'Os Lusiadas,
estas funções vêm a ser crescentemente reiteradas em diversos avatares
do Adamastor des de as primeiras décadas do século XIX, com o avanço
dos movimentos abolicionistas. De resto, a fecundidade semân tica do mons-
tro rev ela-se desde logo, como a introdução à colectânea sublinha, nos
diversos tratamentos de que tem sido objecto pelos tradutores ingleses da
epope ia, de Richard Fanshawe, nos meados do século XVII , a camonistas
de décad as mais recentes (William C. Atkinson e Guy Butler), passando
por Jul ius Mickle (século XVIII) ou Richard Burton (século XIX) .
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Para além de atingir um elevado grau de relevância na maioria dos
poemas antolo giados, a esfera semântica circunscrita ao Adamastor co-
ex iste e interliga-se em textos de décadas recentes com diversos ou tros
motivo s e áreas temáticas frequentemente expressos med iante dico to mias
e antagonismos de vária índole.
Indissociável dos primeiros navegadores e conquistadores, assim como
do colonialismo europeu em geral, a cristianização e o seu símbolo pri-
meiro também encontram numerosos ecos, cujo tom, sobretudo desde os
anos 30, sofre uma acentuada inflexão de sentido. Antes, essas alusões
abundavam em apologias calorosas e desvanecidas, mesmo quando pro-
vinham de poetas pretos como A. K. Soga:
On Santa Cruz may it stand ,
As emblem, may it be
The cheer of Good Hope; in the land
Peace and Prosperity.
(<<Santa Cruz: the Holy Cross», 1898)

Nas mais recentes, pelo contrário, prevalece a compreensão amarga


e sarcástica do papel determinante da rel igião trazida da Europa como su-
porte ideológico do predomínio do b ranco sobre o negro. Em -Kwaaihoek-
(1972) de Vemon Forbes, a chegada da cruz pressagia iniludivelmente to-
dos os males que em breve se abaterão sobre os crédulos nativos:
The ships stood out and dwindled in the west,
And small brown men crept up, uncomprehendingly
To view the cross, stark harbinger of doom
For ali their kind centuries to come.
o mesmo, apenas algo mais implicitamente, diz David Rubadiri em
-The Tide That from the West Washes Africa to the Bone- (1973):
The tide that from the west
With blood washes Afr ica
O nce washed a wooden cross.
T udo isto se entrelaça com numerosas alusões às violências da con-
quista e da aculturação, assim como à ganância e aos incontáveis ardis
do colono:
they carne from the west
sailing to the east
with hatred and disease flowing
from their flesh
and a burden to hardcn our lives
they c1aimed to b é friends
when they found us friendly
and w hen foreigner met foreigner
they fought for the reign
exploiters of Africa
(lngoapele Mading oane , «Africa My Beginning» , 1979) .

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Com alguma frequência, diversas imagens co nt ribue m para assimilar
a penetração europeia a um acto sexual ge ralmente con otado com fecun-
dação nos poemas mais antigos ou com vio lação nos mais recentes. Em
«The Road to Bologna- (19 60), Roy Macnab deixa sub entender uma es -
treita homologia entre o vértice do Cabo e o sexo da negra po ssuída por
um «velho marinheiro»:

Africa was the quiet negress,


Her ful1 imponderable shape
Lured him from the seas' caress,
To grasp her ankles at the Ca pe.

o próprio recurso a um arremedo da figura co le ridgian a para amante


da África deixa poucas dúvidas quanto à caracterização ética que se pre-
tende conferir a este emblema do colonialis mo europeu.
Também a cruz e tudo o que com ela se re laciona su rge pe la p ri me ira
vez no continente sob a forma obviamente fálica do padrão que esventra
o solo: « ••• Europe's/ white phallus erect-, lhe chama Geoffrey Hares na pe
em «Expedition- (1987).
As áreas temáticas aludidas apontam, po r sua vez, para interrogações
que inevitavelmente ocorrerão aos mais refl ex ivos entre os desce ndentes
dos senhores de outrora, tanto sobre si próprios como sobre as co ntin-
gências do seu futuro individual e colectivo. Como se depreende e m vá-
rios poemas , o branco anglófono dá de si a imagem de um ser co m
identidade dúbia, dividida, de europeu que já não é, mas, em certo sen-
tido, nunca deixou de ser, muito mais próximo dos habitantes do ve lho
continente do que dos africanos, em cujo número, todavia, di z incluir-se :

ln al1 of us two continents contend;


Two skies of stars confuse us , on our ma ps
(Guy Butler, «Elcgy» , 1987)

Na mesma dicotomia radica ou tra, a am bivalê ncia emocio nal qu e o


mantém suspenso entre um pendor fortuito para o abando no e a qu ase ine-
vitável premência do regresso, sem que para este, de qualque r m od o, se
encontre plena justificação:

Why do we return?
Down
a vertical
tube
the moon
says
nix.
(Geoffrey Haresnape, -Ocean Voy age - a Return to RSA., 1982)

A opor a estas sombras omnipresentes de homens bran cos que tud o


invadem e submetem, que escravizam e segregam , nada haveria , até pe-
ríodos rece ntes , excepto um mostre ngo ma is grotesco do qu e ate rrado r

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ou uma resistência passiva, timorata e anódina. Daí, talvez, surgir com
certa insistência, expressa ou subentendida em poemas da terceira e
quarta partes, como virtual superação dessa inanidade, a imagem de todo
um continente na aparência adormecido mas emboscado na escuridão, es-
cutando os ruídos da noite e esperando:

The land lies dark beneath the rising crescent,


And Night, the Negro, murmurs in his sleep.
(Roy Campbell , -Rounding lhe Cape», 1930)

I can hear noisy A frica


breathing loudly in the dark.
(Mike Nic 01, «Ilha do Sal», 1976)

The Africa to wich we slide


crouches tense beyond the phosphorescence.
(Geoffrey Haresnape, «Ocean Voyage - a Return to RSA» , 1982)

Esperando, provavelmente, a hora de agir, de se tornar, enfim, su-


jeito do seu próprio percurso histórico.

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