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Leitores dos

Clássicos.
FONT ES

Portugal e Itália,
séculos. xv e xvi
Ana María S. Tarrío
Leitores dos
Clássicos.
Portugal e Itália,
séculos. XV e XVI
UMA GEOGRAFIA DO PRIMEIRO HUMANISMO
EM PORTUGAL

Ana María S. Tarrío

Com uma nota de Vincenzo Fera

Biblioteca Nacional de Portugal


Centro de Estudos Clássicos
Lisboa, 2015
leitores dos clássicos. portugal e itália, séculos xv e xvi biblioteca nacional de portugal
uma geografia do primeiro humanismo em portugal catalogação na publicação

Ana María S. Tarrío


PESSANHA, Camilo, 1867-1926

capa Correspondência, dedicatórias e outros textos / Camilo


????????? Pessanha ; org., pref., cronologia e notas Daniel Pires.
Lisboa : Biblioteca Nacional de Portugal ; Campinas :
design Editora da Unicamp, 2012. -- 333 p. – (Fontes)
tvm Designers ISBN 978-972-565-469-9 (BNP)
ISBN 978-85-268-0966-6 (Editora da Unicamp)
produção gráfica
ACDPRINT, S.A. I – Pires, Daniel, 1951-
Outubro 2015
CDU 821.134.3-6”18/19”
tiragem 929Pessanha, Camilo.09(01)
500 exemplares 821.134.3Pessanha, Camilo.09(01)

depósito legal
400189/15

© Biblioteca Nacional de Portugal


Prólogo ?
Um espólio privilegiado da Respublica Litterarum europeia

Studenti portoghesi alle lezioni del Poliziano su Plinio nel 1489-1490:


l’inc. 462 DELLA BNP ??
Vincenzo Fera

De Itália a Portugal: os incunábulos e os seus leitores


A importação de impressos italianos e a educação humanística nas cortes de
D. João II e D. Manuel I – inc. 523
Leitores e tradutores: as Heróides – inc. 832
Estudar na corte: a edição humanística como material didáctico – inc. 1432
Os irmãos Teixeira e Poliziano – inc. 462
A musa uaria: Poliziano e a cultura humanística portuguesa no tempo de
D. João II e D. Manuel I – inc. 146, inc. 1035, inc. 1036
A leitura de Plínio e a rerromanização de Portugal – inc. 992
Aníbal em Azamor: a historiografia romana como modelo e premonição para a
expansão portuguesa – Tito Lívio, inc. 524
As Metamorfoses e a imagética poética quinhentista – inc. 831
Alimento do diabo: a recuperação da poesia amorosa latina na corte manuelina
e a questão épica no renascimento português – inc. 751
Cícero, luz da europa. A tradução de Duarte de Resende – inc. 892, RES. 5381 P.
Leitura e taxonomia: a terminologia médica, botânica e naturalística – INC. 462,
inc. 5041
Biografias exemplares para novos fidalgos – inc. 1428, inc. 181, inc. 161, inc. 162

Catálogo de exemplares ???

Epílogo
As andorinhas e a primavera: a definição e periodização do humanismo português ???

Bibliografia ???
Prólogo

Um espólio privilegiado da Respublica Litterarum europeia

A Biblioteca Nacional de Portugal possui um valioso conjunto de exemplares de


edições humanísticas impressas de autores gregos e latinos, que estão na génese
das principais inovações intelectuais e estéticas da cultura portuguesa durante os
reinados de D. João ii e D. Manuel i.
O presente livro procura valorizar e explicar uma parte do espólio específi-
co das edições humanísticas impressas em prelos italianos1, na sua qualidade de
peças chave na introdução da educação humanística em Portugal. A seleção de
exemplares privilegia o grupo dos incunábulos2, com o fim de discutir a sua cir-
culação em âmbitos letrados portugueses desde os últimos anos do século xv, e
assim chamar a atenção para a relevância deste tesouro bibliográfico nacional,
numa lógica complementar do importante trabalho de catalogação já existente e
à disposição dos leitores, organizado por Valentina Sul Mendes (1995).
Algumas marcas de posse visíveis em determinados exemplares, assim como
glosas interlineares e marginais de diversas mãos, em latim e em vernáculo por-
tuguês, podem situar-se num período relativamente imediato à sua produção
impressa e proporcionam sinais da sua circulação nas cortes de D. João ii e
D. Manuel i. As anotações dos exemplares impressos humanísticos constituem
um campo de estudo de renovado interesse na investigação da expansão euro-
peia do humanismo e reclama maior e mais profunda atenção (coroleu 2014,
16; rial costas 2012).

1 Apenas três dos vinte exemplares selecionados não são italianos: um exemplar de Cícero (impresso em
Basileia pela oficina frobeniana em 1528, bnp res. 5381 p.) e dois exemplares impressos em Sevilha com
traduções de Cúrcio Rufo e de Plutarco (inc. 161, inc. 162). Os três importam, no entanto, para a
elucidação da educação humanística portuguesa de matriz italiana, como veremos.
2 Com a exceção de um único exemplar, a referida edição erasmiana de Cícero bnp res. 5381 p.

PRÓLOGO 9
Entre os exemplares três merecem particular destaque:

O primeiro é uma edição da Naturalis Historia com uma glosa escrita em ita-
liano sobre a sua venda em Lisboa que nos situa no movimento de importação
de livros italianos em Portugal, umbilicalmente relacionado com a adoção da
cultura humanística nas cortes joanina e manuelina, sendo, portanto, um espe-
lho das inquietações intelectuais das elites portuguesas. Se as edições impressas
dos autores clássicos viveram relativamente à margem da tipografia em Portugal,
elas constituíram no entanto o pulmão da educação palaciana na passsagem do
século xv para o século xvi.

O segundo exemplar é uma edição das Heroides de Ovídio intensamente


anotado por vários leitores. Entre as glosas manuscritas figura um notável con-
junto de traduções para português que apresentam diversas concomitâncias
com as traduções em verso desta obra elaboradas por João Rodrigues de Sá de
Meneses e publicadas, em 1516, no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende.
De acordo com os critérios paleográfico, ortográfico e filológico, as glosas
podem datar do primeiro quartel do século xvi, indiciando assim o seu manu-
seio por diversos leitores portugueses da primeira metade do século, no tempo
do seu uso escolar na corte de D. Manuel i, a começar pelo próprio príncipe
D. João, o qual, entre outras obras, terá aprendido latim com as Heroides, com o
seu professor Luís Teixeira.

O terceiro é o exemplar da Naturalis Historia de Plínio que pertenceu a


Tristão Teixeira, um dos três filhos do chanceler de D. João ii João Teixeira, que,
tal como os seus irmãos, recebeu uma bolsa de estudo para estudar em Itália e
que foi aluno de Poliziano. O incunábulo conservado na Biblioteca Nacional de
Portugal contém glosas que remetem para o studium pliniano do humanista flo-
rentino, para a sua colação de manuscritos, alguns dos quais hoje perdidos, con-
sultados pelo humanista na biblioteca de Lorenzo de Medici. Constitui portan-
to um exemplar único que só encontra paralelo num outro incunábulo da
Naturalis Historia, hoje na Bodleian Library de Oxford, com anotações também
remetentes para a lectio pliniana de Poliziano.
Outros exemplares reunidos neste elenco, muito embora não apresentem
indícios tão evidentes da sua imediata circulação em Portugal, figuram aqui
como espécies representativas de edições humanísticas dos clássicos que foram
lidas e aproveitadas pelos escritores quinhentistas portugueses. Assim, na forma
de um guia explicativo, o presente volume procura demonstrar o valor destas
edições na configuração de diversos temas e tendências da cultura renascentista
portuguesa.

10 L E I TO R E S D O S CL Á S S I C O S. P O RT U G A L E I TÁ L I A , S ÉCU L O S XV E XV I | A N A M A R Í A S. TA R R Í O
A breve explanação deste roteiro de incunábulos que antecede o catálogo
pretende elucidar e sublinhar o valor específico dos impressos italianos, atual-
mente conservados em espólios portugueses, no estudo da cultura renascentis-
ta portuguesa. De carácter meramente introdutório, este contributo procura ser
estímulo para novas investigações sobre os exemplares aqui apresentados,
assim como sobre outros que conformam o valioso património de reservados
na bnp.

Na medida em que incide na leitura palaciana de edições humanísticas e no


seu aproveitamento escolar, num arco temporal que abrange os reinados de
D. João ii e D. Manuel i, este livro oferece um material de discussão relevante
para a questão – aqui abordada em forma de epílogo – da datação e definição do
humanismo português, problemática inteiramente dependente da elucidação da
cronologia e modalidades de receção dos modelos humanísticos oriundos da
Península Itálica.
O conjunto, patente na Exposição «Leitores dos clássicos. Portugal e Itália:
séculos. xv e xvi» (BNP, novembro de 2015 a janeiro de 2016), é objeto de
estudo no Colóquio Inaugural da Exposição, com o mesmo título (bnp, 6 de
novembro de 2015). A iniciativa resulta de uma colaboração entre a Biblioteca
Nacional de Portugal e o Centro de Estudos Clássicos, a cuja Diretora, Maria
Cristina de Sousa Pimentel, agradeço todo o apoio, assim como a Paulo
Farmhouse Alberto, investigador principal do cec e atual Diretor da Faculdade
de Letras. A ambos deve este volume uma atenta leitura crítica, assim como à
minha colega e investigadora do cec, Catarina Gaspar. A Luísa Resende, tam-
bém investigadora do cec, agradeço a cuidada revisão do texto, e a elaboração
final da Bibliografia.
A digitalização dos exemplares aqui elencados constitui um passo funda-
mental para a investigação específica, pois permitirá, uma vez digitalizados tam-
bém os principais espólios manuscritos desta época, avançar sobremaneira na
identificação da autoria das anotações, graças aos atuais meios informáticos.
Deixo uma nota da minha gratidão à Diretora da Biblioteca Nacional de
Portugal, Ex.ma Senhora Doutora Maria Inês Cordeiro, que disponibilizou com
prontidão todos os meios ao seu dispor para agilizar este processo de digitali-
zação, e acolheu toda a iniciativa com extrema generosidade e cuidado.
Agradeço também à Embaixada da Itália, na pessoa do seu embaixador, o
Ex.mo Senhor Renato Varriale, pelo seu apoio, especialmente na realização do
Colóquio.
Uma palavra final de especial gratidão dedico a Vincenzo Fera, que com
entusiasmo e generosidade acompanhou desde a sua conceção esta iniciativa,
que muito deve ao seu estímulo e ao seu vasto saber. A sua leitura e análise do

PRÓLOGO 11
exemplar pliniano bnp inc. 462 (n.o 3 do presente Catálogo) à luz do trabalho
filológico de Poliziano permite-nos compreender o valor único deste tesouro do
património bibliográfico nacional.

Lisboa, 31 de julho de 2015

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Studenti portoghesi alle lezioni del Poliziano su Plinio nel 1489-90:
L’inc. 462 della bnp

Una sottoscrizione presente in un esemplare della Naturalis historia edita a


Roma nel 1473, nel quale a opera di Pier Vettori è riportato con scrupolo filolo-
gico tutto l’apparato di note dispiegato dal Poliziano sui margini e nelle interli-
nee della sua stampa pliniana3, informa che il 1490 fu un anno decisivo per gli
studi dell’umanista fiorentino sull’enciclopedia antica. Il 30 aprile aveva già fini-
to di collazionare il testo dell’incunabulo con due antichi codici della Biblioteca
di San Marco, il Plinio di Lubecca, cioè il Laur. 82, 1-2, e un codice ancora più
antico, l’attuale Ricc. 488; a questi va aggiunto un manoscritto che gli aveva
inviato in prestito, dalla propria biblioteca, Ferdinando d’Aragona, a proposito

3 Conservato a Oxford, Bodleian Library, Auct. Q 1. 2: F. Lo Monaco – «Apografi di postillati del Poliziano:
vicende e fruizioni». In V. Fera, G. Ferraù; S. Rizzo, ed. – Talking to the Text: Marginalia from Papyri to Print.
Messina: Centro Interdipartimentale di Studi Umanistici, 2002. 2, 638-46.

PRÓLOGO 13
del quale Poliziano informa che un tempo era appartenuto a Leonardo Bruni4;
secondo le sue abitudini l’umanista contrassegnava i codici collazionati con
sigle, ripetute poi accanto alle varianti: i due codici marciani vennero siglati con
a e b, mentre il manoscritto aragonese con c. La sottoscrizione si chiude con un
ricordo speciale:
Quin hoc ipso anno privatim Britannis quibusdam et Lusitanis, qui se
Florentiam contulerant literarum studio, cupientibus atque a me petentibus
enarravi septimestri spatio.

Una enarratio, dunque, svolta nell’arco di sette mesi: se il 30 aprile essa era
conclusa, è probabile che avesse inizio nel precedente mese di ottobre, ed è pure
probabile che le collazioni abbiano seguito il ritmo e le necessità delle lezioni.
Un periodo di tempo certamente non eccessivo se commisurato all’ampiezza
dell’enciclopedia, sufficiente tuttavia a fornire gli strumenti metodologici per la
constitutio textus, ad approfondirne alcune parti, a dare un’idea precisa della noti-
tia vetustatis. Il privatim serve a stabilire una differenza netta rispetto alle pubbli-
che lezioni dello Studio e lascia ragionevolmente sospettare che per un corso
così impegnativo Poliziano dovette ricevere un adeguato compenso dagli stu-
denti che avevano richiesto il servizio.
E’ del tutto evidente che ci troviamo davanti a una situazione eccezionale, di
cui lo stesso professore doveva essere consapevole se ne fissava memoria nel suo
incunabulo, che di queste lezioni pliniane dovette essere protagonista assoluto.
L’apografo oxoniense si presenta ovviamente auctior rispetto a quando Poliziano
utilizzava l’originale per i suoi studenti nel ’90, dal momento che da lì alla morte
questo fu implementato di note esegetiche e filologiche (ad es. vi furono aggiun-
ti i non pochi riferimenti a Ermolao Barbaro e alle sue Castigationes pubblicate a
Roma negli anni 1492-1493). Il testimone oxoniense resta comunque un indis-
pensabile punto di confronto e di riferimento.
Per quanto siamo abituati a considerare Firenze un crocevia di culture e di
lingue in epoca rinascimentale, è certo un fatto singolare la vicenda di questo
corso privato, parallelo a quello pubblico, voluto e caratterizzato dalla presenza
di studenti stranieri. Sarebbe interessante conoscere dove è stato tenuto il corso

4 Ai tre manoscritti, come si deduce dal conspectus di f. 2a dell’incunabulo oxoniense, vanno aggiunti un
Novus aliorum (siglato d) e un Novus Nicoli (siglato e); per ragioni da accertare mancano nel Conspectus i due
codici di San Marco (vd. Lo Monaco, ib. 641). Sempre valida la sintesi di A. Perosa in Mostra del Poliziano
nella Biblioteca Medicea Laurenziana. Manoscritti, Libri rari, Autografi e Documenti (Firenze, 23 settembre-30
novembre 1954. 21-24); vd. anche V. Fera – «Un laboratorio filologico di fine Quattrocento: la Naturalis
historia». In O. Pecere; M. D. Reeve, ed. – Formative stages of classical traditions: Latin Texts from Antiquity to
the Renaissance. Spoleto: Centro italiano di studi sull’Alto medioevo, 1995. 442-43).

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(a casa del Poliziano? in locali dello Studio utilizzati col consenso degli ufficia-
li?), e soprattutto chi fossero con certezza i partecipanti.
La precisa richiesta di impegnarsi sul territorio pliniano rivela interessi spe-
cifici da parte degli studenti verso la letteratura scientifica. Per i britanni si fanno
spesso i nomi di “Guillielmus Grocin de Anglia” e di “Thomas Linaker de
Anglia”, ben noti per le competenze sul versante della scienza antica, dei quali è
documentata la presenza a Firenze negli anni 1489-905. Il desiderio degli inglesi
di studiare Plinio è messo acutamente in rapporto da Martin Davies con la pre-
senza di Cornelio Vitelli nel New College di Oxford dal 1482 al 1487, quel Vitelli
che aveva dedicato a Ermolao Barbaro un pamphlet contro Giorgio Merula, in
difesa del suo maestro Domizio Calderini e di Plinio6. Tra i lusitani finora è stata
considerata sicura la frequenza di Martinus Ioannes Ioannis de Figueredo, pre-
sente a Firenze come studens iuris nell’anno accademico 1489-907, sicura perché
a distanza di quarant’anni egli pubblicava nel 1529 a Lisbona una Epistula Plinii
secundum veram lectionem ex exquisitissimis et antiquissimis exemplaribus ab
Angelo Politiano magnis sumptibus et summa diligentia undique perquisitis. La con-
comitanza della presenza del Figueredo e del corso privato, nonché la tardiva tes-
timonianza dell’Epistula, danno forza all’ipotesi che Figueredo abbia seguito le
lezioni pliniane. Ma in quegli anni erano presenti nella città dell’Arno altri por-
toghesi. Giovanni Teixeira, cancelliere di Giovanni II di Portogallo, aveva man-
dato a studiare a Firenze alla scuola del Poliziano i suoi tre figli, Alvaro, Ludovico
e Tristano8. Nel 1983 ho ritrovato nella Biblioteca Nazionale di Napoli una recol-
lecta svetoniana di lezioni polizianee del 1490-91 vergata proprio da uno dei fra-
telli Teixeira9. Era dunque facile il sospetto che tra i Lusitani interessati a Plinio
ci fosse qualcuno di loro. Il sospetto è ora realtà.
L’incunabulo 462 della BNL è un esemplare di rarissimo interesse per la sto-
ria della filologia classica e per le vicende dell’umanesimo fiorentino. Si tratta di
una Naturalis historia col testo di Filippo Beroaldo, pubblicata a Parma nel 1480
(istc ip00792000). Sul recto del foglio di guardia una nota di possesso richiama
l’attenzione: “De Tristam Teix[eira]”10. Un esemplare ricco di annotazioni, di

5 A. F. Verde – Lo Studio fiorentino, 1473-1503, Ricerche e documenti: Firenze: Leo S. Olschki, 1977. 3, 1, 351;
3, 2, 914-15.
6 M. Davies – «Making sense of Pliny in the Quattrocento», Renaissance Studies, 9:2 (1995) 252-57.
7 Verde – Lo Studio, 3, 2, 635.
8 Verde – Lo Studio, 3, 1, 56, 53; 3, 2, 923.
9 V. Fera – Una ignota Expositio Suetoni del Politiano. Messina: Centro Interdipartimentale di Studi
Umanistici,1983.
10 Notizia e prime valutazioni di questo incunabulo In A. M. Tarrío – «O Commentum de Martinho de Figue-
iredo (1529) e as lições plinianas de Poliziano (Naturalis Historia, Bodleian Library Auct.Q.1.2)». In
Colóquio Internacional Os clássicos no tempo: Plínio o Velho, e o Humanismo Português, Lisboa, 31 de
Março de 2006 – Actas. Lisboa: cec-flul, 2007. 95-108.

PRÓLOGO 15
notabilia, di correzioni testuali, di varianti frutto di collazione. Ci sono tutti gli
elementi per collegare già a prima vista questo lavorio alle lezioni pliniane del
Poliziano, in cui teoricamente i Teixeira potevano essere chiamati in campo.
Sui margini del volume si alternano diverse grafie, che sembrano operare tut-
tavia in una direzione univoca. Prende subito corpo l’ipotesi di lavoro che anche
le mani degli altri fratelli si avvicendino di libro in libro, tenuto pure conto del
fatto che il pur precocissimo Tristano a quell’altezza cronologica doveva avere
circa 12 anni11. La nota di possesso infatti non implica l’assunzione di una pater-
nità automatica nella scrittura delle note.
Nel convegno di Erice del 1993 avevo identificato nei ff. 285r-291v del ms.
754 della Staatsbibliothek di Monaco, dove in precedenza gli studiosi segnalava-
no la presenza di un glossario, la parte residua di una recollecta pliniana, ascrivi-
bile proprio al corso privato sulla Naturalis historia del 1490. Ne deducevo la
possibilità che insieme con gli studenti portoghesi e inglesi si fosse impegnato
accanto al professore anche qualche allievo italiano12. Successivamente Cecilia
Mussini ha dato un nome allo studente che ha vergato gli appunti monacensi:
Pier Matteo Uberti, familiare legatissimo al Poliziano, suo adiutor nella collazio-
ne delle Pandette e di altri testi, del quale abbiamo numerose testimonianze.
L’identificazione era corroborata dalla studiosa anche sulla scorta di un Plinio
del 1481 curato dal Beroaldo e appartenuto proprio all’Uberti presente nella
stessa biblioteca (“Petri Mathei Uberti et amicorum”: München, Bayerische
Staatsbibliothek, 2 Inc. c. a. 1095a)13.
L’arrivo sulla scena dell’incunabulo di Lisbona segna, dopo il recupero dei
fogli monacensi, il primo corposo apporto testimoniale dei dati della lezione del
Poliziano. Che l’apparato esegetico debba rispecchiare minutamente proprio
quei dati è inequivocabilmente dimostrato da una serie di indizi probatori.
Poliziano non è mai nominato, ma una nota lo tira senza ambiguità in campo: in
Nat. hist. 23,37 il testo dell’incunabulo è corrotto: “casuros dentes extrahit”; con
segno di richiamo su “casuros” si legge sul m.s. “causarios”, termine affiancato da
tre sigle che indicano la sua presenza in manoscritti di cui si discuteva a lezione:
c, b, n, mentre accanto in inchiostro rosso è annotato: “Declaratur in Micelaneis”.
La menzione della Miscellaneorum centuria prima pubblicata da Antonio
Miscomini nel settembre del 1489 è già di per sé indicazione perentoria. Ma qui
la citazione assume una valenza tutta particolare, perché non si tratta di un mero
rinvio bibliografico. In questo caso Poliziano aggiorna il capitolo 92 dei primi
Miscellanea, dove il termine causarius è chiarito nel senso di valetudinarius in Liv.

11 Tarrío – «O Commentum ». 104.


12 Fera – Un laboratório . 437-451.
13 C. Mussini – «Il punto su Matteo Uberti», Studi medievali e umanistici, 8-9 (2010-2011) 459-471.

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6, 6, 14 e in Digesta 3, 2, 2, 2. Ivi non c’è nessuna traccia di Plinio, per cui il rin-
vio ai Miscellanea ha qui il senso di voler allargare il perimetro dei restauri,
aggiungendo un luogo che non avrebbe suscitato l’attenzione di Barbaro14.
A questo si aggiunga la frequenza nell’uso delle sigle a, b, c, con le quali, come si
è visto, Poliziano contrassegnava i manoscritti antichi da cui le lezioni erano
prelevate; compare pure, come nell’esempio precedentemente riportato, una
sigla N o n che non è decodificata nell’apografo oxoniense del Plinio polizianeo,
su cui occorrerà far luce.
Porto altri due casi utili a aumentare il grado di certezza. Nei fogli monacen-
si di mano dell’Uberti si legge a proposito di Nat. hist. 10, 21 “tripudia sollisti-
ma”: “apud Ciceronem in Divinatione [2,20] et in epistolis ad Cecinnam
[fam. 6, 6, 7], quotiens aliquid decidebat ex offis quas dabant pullis gallina-
ceis”15; una nozione, questa, che in parte converge ora con quella dell’incunabu-
lo di Lisbona: “Tripudia sollistima partes ofarum quas praebebant avibus quas
secum in castris habebant et ex hoc augurium capiebatur quod a Cicerone in
libris de Divinatione declaratur”. Secondo le abitudini proprie delle recollectae,
ogni utente presentava la spiegazione del maestro con parole proprie e non sem-
pre integralmente.
Testimonianza molto più significativa è quella offerta dal cap. 35 dei secon-
di Miscellanea, dal titolo Pycta; è il restauro di questa antica parola greca, “signif-
icans pugilem”, in luoghi di Marziale, Columella e infine anche Plinio, sul quale
il capitolo così si chiude:

Bis autem apud Plinium deprehendimus, cum autore hunc triennium


abhinc interpretati sumus, libro eodem septimo, pro eo quod sit ‘pycta’ posi-
tum ‘poetam’: semel ubi de Euthimo loquitur, quod tamen in litteras ante me
rettulit Barbarus, atque ob id illum potius quam me laus inventi sequatur; ite-
rum autem ubi de exemplis agitur similitudinis, nam pro eo quod habent neo-
terici ‘Nicaei nobilis poetae’ vetus est lectio ‘nobilis pyctae’, quod et esse verius
non dubitamus.

La menzione del corso pliniano è un forte segnale da parte del Poliziano


dell’impegno con cui aveva preparato le sue lezioni e del significato che annette-
va a quel corso, che nel suo itinerario scientifico rappresenta una tappa fonda-
mentale. Nell’incunabulo di Lisbona a Nat. hist. 7, 47 “Eutimus poeta semper

14 Ermolao arrivava alle stesse conclusioni di Poliziano a proposito di Plin. 25, 5, 61, ma siccome le uniche
fonti tirate in campo sono quelle di Misc. I 92, cioè Livio e il Digesto, è facile la conclusione che per
correggere egli si sia basato proprio sul capitolo dei Miscellanea (vd. Hermolai Barbari – Castigationes
plinianae et in Pomponium Melam. Ed. G. Pozzi. Padova: Editrice Antenor, 1979. 3, 907).
15 Fera – Un laboratorio... 438.

PRÓLOGO 17
Olympiae victor”, poeta è corretto in interlinea in “picta” e sul m. d. il notabile
rettifica: “Picta Olympiae victor”; e ugualmente a Nat. hist. 7, 12 la lezione del
testo base “Nicei nobilis poetae” è modificata dall’alunno con l’inserimento della
cediglia sotto la e di Nicei, mentre “poetae” del testo è cancellato e sostituito con
“pictae” sul margine sinistro. E’ chiaro che l’incunabulo rende veridica testimo-
nianza all’affermazione del Poliziano: quando il giovane Teixeira annotava le
correzioni polizianee, le Castigationes del Barbaro non erano ancora all’orizzonte;
esse saranno a disposizione del Poliziano dopo il febbraio del 1493, e per uno dei
due luoghi, 7, 47, questi deve giocoforza riconoscere che la pubblica laus inventi
non può che andare al Barbaro.
L’incunabulo portoghese è perciò sul fronte del Barbaro un essenziale spar-
tiacque che aiuterà a far luce sulla diacronia di correzioni e congetture pliniane
che nell’uniformità della scrittura dell’apografo non è possibile distinguere in
termini di priorità o di seriorità rispetto alle Castigationes.
Tutto l’incunabulo è traboccante di termini rari, rettifiche ortografiche,
notabili, a noi noti per altre vie come archivio peculiare del Poliziano, che ritor-
nano con frequenza nei commenti, nei postillati e nel resto dell’opera, e anche se
il suo nome non compare avvertiamo subito di essere all’interno della sua offici-
na ecdotica, nel cantiere della costruzione del testo.
L’importanza dell’incunabulo per il recupero dell’enarratio pliniana
dell’umanista fiorentino è cospicua; e il suo contributo tanto più sarà chiarifica-
tore e determinante quanto più riusciremo ad affiancargli altri reperti di quel
corso: per ora possiamo disporre solo del parziale apporto dell’Uberti.
La ricchissima recollecta svetoniana di Napoli documenta però che i fratelli
Teixeira avevano l’abitudine di segnare in modo circostanziato e fedele le parole
del maestro, per cui è legittimo il sospetto che il lavorio prevalentemente testua-
le confinato nell’incunabulo pliniano doveva essere integrato con altri quaderni
di appunti, ordinati e ricchi di puntuali rinvii esegetici, ma anche con le ragioni
che di volta in volta inducevano Poliziano a recepire le lezioni degli antichi
codici.
Ancora dalle biblioteche e dagli archivi inoltre non sono riemersi specifici
appunti di William Grocyn e di Thomas Linacre, ma i modi della conservazione
di queste reliquiae pliniane possono ovviamente essere molteplici.
Allo stato attuale il libro di Lisbona è la testimonianza più significativa di
uno dei corsi più emblematici del professore fiorentino, un seminario interna-
zionale che diffuse in Europa i segni della nuova filologia: riuscire a ricostruirlo
nei dettagli significa individuare un importante sentiero della filologia classica
europea.

Vincenzo Fera

18 L E I TO R E S D O S CL Á S S I C O S. P O RT U G A L E I TÁ L I A , S ÉCU L O S XV E XV I | A N A M A R Í A S. TA R R Í O
DE ITÁLIA A PORTUGAL
OS INCUNÁBULOS E OS SEUS LEITORES
OS INCUNÁBULOS E OS SEUS LEITORES
DE ITÁLIA A PORTUGAL

20 L E I TO R E S D O S CL Á S S I C O S. P O RT U G A L E I TÁ L I A , S ÉCU L O S XV E XV I | A N A M A R Í A S. TA R R Í O
I A importação de impressos italianos e a educação humanística
nas cortes de D. João II e D. Manuel I – inc. 523

Plínio – Historia Naturalis. Ed. Philippus Beroaldus. Treviso: Michele


Manzolo. 25 Agosto 1479. bnp inc 523 [11]16.

[No reverso do último fólio deste exemplar, pode ler-se uma anotação de
mão renascentista, pouco cuidada, que consigna em italiano: “[q]uesti librazzo
[ce del] signore Mateazzo ... [a] Lisbona fino a mare, a chi lo vuol comprare”.]

16 Número correspondente ao presente catálogo.

D E I TÁ L I A A P O RT U G A L O S I N CU N Á B U L O E O S L E I TO R E S 21
Como no conjunto da Respublica litterarum europeia, a invenção da imprensa
alterou significativamente a formação letrada das elites portuguesas no tempo de
D. João ii e D. Manuel i.
A maior liberdade em termos de controlo ideológico, em período anterior às
tensões doutrinárias derivadas do Concílio de Trento, assim como as vantagens
de que gozavam na altura os livros importados relativamente a impostos de
alfândega, facilitaram a aquisição de textos de autores antigos – acessíveis ante-
riormente apenas nos mais dispendiosos e escassos manuscritos – por parte das
elites letradas europeias.
O desenvolvimento dos studia humanitatis na corte de D. João ii acompa-
nhou o patrocínio régio da circulação de livros italianos no reino, assim como
dos seus modelos tipográficos, como clarifica a célebre Bíblia dos Jerónimos de
1494, encomendada por D. João ii a Clemente Sernigi17.
A educação humanística portuguesa nas duas últimas décadas do século xv
prendia-se umbilicalmente com o florescente negócio livreiro em Lisboa. Assim,
Martim Vaz, livreiro morador em Lisboa, trabalhou sob a tutela do filho de
D. João ii, D. Jorge, um dos alunos palacianos de Cataldo Sículo, “porque ha de
estar prestes pera me delle servir quando seu serviço me for compridoiro”18.
Tratava-se de um negócio bem mais lucrativo e seguro do que o negócio
impressor, no quadro da progressiva organização internacional do mercado
livreiro, graças a ativos agentes que percorriam a Europa.
O estímulo régio, em forma de privilégios e isenção de impostos concedidos
a livreiros específicos, regista-se já no tempo de Afonso v . A concessão de
isenção de sisa por parte de D. Afonso v a três livreiros franceses, a 19 de janei-
ro de 1483, dizia respeito a livros importados e vendidos em Portugal, e era jus-
tificado pelo monarca nos seguintes termos: “consirando nos ao bem comum
que he em nossos regnos aver muytos livros e por darmos aazo de os trazerem a
elle de fora da terra...” 19.
D. João II consolidou a proteção régia da importação de livros e de inter-
mediários, como Sernigi, imprescindível para implementar a sua reforma educa-
tiva dos fidalgos20, mas foi a lei geral promulgada por D. Manuel em 1511 que

17 viterbo, 1901, 54-56; peragallo, 1901; deswarte, 1977, 110-111; mare, 2000, 176-177.
18 Carta de D. Jorge, 9 de abril de 1499, ed. Viterbo, 1901, documento xi, 64 (cfr. viterbo 1901: 5).
19 antt, Chanc. D. Affonso V, L.o 26, f. 147. Também foi editado por Viterbo (1901: 4).
20 Viterbo, 1901, documentos xviii e xix, 72-73 (Cf. saraiva 2000: 126-138ss).

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libertou de impostos os livros estrangeiros vendidos em Portugal, num período
anterior às constrições contrarreformistas (viterbo, 1901, 6-7)21.
No seu relevante estudo sobre as obras impressas em Portugal no século xvi
como espelho da vida inteletual quinhentista, Jorge Borges Macedo analisou
certeiramente o pragmatismo de um negócio avesso a riscos na expetativa de
lucro (macedo 1975). Ora essa mesma caraterística da imprensa quinhentista
portuguesa impediu-a de colmatar as inquietações de ao menos uma parte dos
homens deste tempo, que as superaram mediante a aquisição de espécies
impressas no estrangeiro.
Tal como as obras efetivamente impressas, o elenco das ausentes consequên-
cia dessa prudência e pragmatismo do negócio impressor é muito relevante no
momento de considerar a relação da imprensa com as correntes inteletuais por-
tuguesas deste século. A abordagem por assim dizer positivista do universo
impresso determinou ulteriores considerações sobre o público leitor quinhentis-
ta, como as de António José Saraiva, cuja importante obra omite igualmente o
universo de importação de livros estrangeiros (saraiva 2000), um campo de
estudo aliás regularmente secundarizado22.
António José Saraiva apontou como explicação da desproporção entre o
elevado número de livreiros em 1511 e a deficiente produção tipográfica portu-
guesa a importância do comércio de manuscritos (saraiva 2000: 139). A pri-
meira fase da imprensa portuguesa seria “instrumento inicial de cultura média”,
e só avançado o século a imprensa poderia estar ao serviço de uma “cultura qual-
ificada” (saraiva 2000: 213; macedo 1975: 211).
No entanto, no tempo de D. João ii e D. Manuel i, a cultura qualificada dos
studia humanitatis dependeu em grande medida da Galáxia Gutenberg, da
importação de exemplares impressos estrangeiros, nomeadamente italianos.
Se a atividade impressora quinhentista “viveu à margem da edição crítica”
(osório 1975-76: 23), com raras exceções como o Commentum Plinii de
Martim de Figueiredo (1529), importa frisar que os “muito cultivados e inteli-
gentes lectores” de Martim de Figueiredo23 com certeza não viveram à margem
da atividade editorial europeia e particularmente da italiana.

21 Outros privilégios foram a concessão de títulos para viajar como ‘vasalos do rei’ (ANTT, Chanc.
D. Affonso V, liv. 5, fol. 6 (transcrito in viterbo 1901: 60-61)) ou de favores a criados de livreiros (ANTT,
Chanc. D. Affonso V, liv. 11, f. 143). Também se registam privilégios a iluminadores, calígrafos e
encadernadores (cf. viterbo 1901: 61-64).
22 Com notáveis excepções, como o estudo de Nascimento (1998) sobre D. Diogo de Sousa e a aquisição de
um exemplar impresso de Savonarola.
23 Esta carta foi editada e traduzida por Terra (1985: iii) e Ramalho (1985: 136-153) (Cf. osório 1975-76:
44).

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Já Américo da Costa Ramalho recordou a edição princeps de Pérsio para
explicar as numerosas referências a este autor na Ars grammatica de Estêvão
Cavaleiro de 1516 (ramalho 1977-78a: 56). Por seu lado, Jorge Alves Osório
apontou de maneira mais geral que “o público erudito português se terá forneci-
do largamente das edições estrangeiras” (osório 1975-76: 43)24.
Com efeito, a cultura dos fidalgos latinos do tempo manuelino depende inti-
mamente de um corpus ausente na abordagem de Borges Macedo: o dos livros
importados, principalmente dos prelos italianos e em particular das edições
humanísticas dos clássicos.
João Rodrigues de Sá de Meneses descreveu o seu tempo como o do cor-
rente e fácil trânsito de livros, de ideias e homens procedentes da Itália, “tanto
por causa das letras como por causa do comércio”25. O conjunto da sua obra sus-
tenta-se numa ampla rede de citações de edições italianas, no acesso a uma
biblioteca rica em livros importados (tarrío 2005).

Leitores dos clássicos no reinado de D. João II e D. Manuel I

A escola palaciana estimulada e subsidiada pelo rei D. João ii deteve, nesta


demanda livresca, um papel crucial. Quando o monarca contratou o humanista
Cataldo Sículo, abriu-se uma via privilegiada de entrada em Portugal de editiones
impressas italianas. Cataldo deslocou-se de Bolonha a Lisboa entre 1482 e 1488,
por mediação do seu compatriota Antonio Corsetti e de D. Fernando Coutinho,
futuro bispo de Lamego e Silves (ramalho 1969: 48).
A diáspora de professores italianos foi logicamente acompanhada pela
exportação das edições humanísticas dos clássicos, um setor do comércio
impressor itálico com expetável margem de lucro, dada a procura para o seu uso
nas aulas, em toda a Europa e particularmente na Península Ibérica (coroleu
2014: 58-89). Em 1507, os estatutos da corporação de librarii de Bolonha que
pretendiam disciplinar a indústria e o comércio de livros explicam oportuna e
sagazmente que eles tinham como objetivo que os estudantes pudessem com-
prar os livros facilmente e em qualquer momento: “ut studentes libentius et
omni tempore inveniant libros venales” (zaccagnini 1930: 139).

24 Discutível é, no entanto, a opinião de Avelino de Jesus da Costa, que invocou como ponto de partida da
tradução portuguesa de Cícero por Duarte de Resende (De amicitia, Paradoxas y Sonho de Scipião, 1531) um
impresso pertencente a D. Jorge da Costa e adquirido em Itália (n.o 16 do seu catálogo (costa 1985: 21)).
Veja-se, a propósito deste ponto, o presente capítulo sobre Duarte de Resende.
25 Sá de Meneses – De platano: “cum Etruscos id ego aliquot interrogarem nostratesque etiam qui apud ipsos,
tum litterarum tum commercii gratia, sunt commorati” (ed. tarrío 2009: 239).

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Os estudantes poderiam ainda comprar os livros, não apenas em qualquer
momento mas também em qualquer lugar da Europa: um exemplar veneziano
de Catulo, impresso em 1500, com os comentários de António Partenio e
Palladio Fusco, ilustra a dimensão económica e política do negócio da expor-
tação de livros italianos nesta altura. Nele pode ler-se a petição de licença por
parte do impressor, Giovanni Tacuino, para a venda do impresso in alienis terris,
assim como a assinatura dos cinco consiliarii venezianos26.
A epistolografia de Cataldo é reveladora da circulação das edições italianas
dos autores clássicos na corte portuguesa, e do seu papel basilar como funda-
mento da educação humanística palaciana na sua qualidade de principal materi-
al de estudo (ramalho 1969: 41). Numa carta ao monarca D. João ii, escrita
entre 1493 e 1495, Cataldo advertia o Rei de que o seu filho D. Jorge lia demasi-
ado os Amores de Ovídio, acrescentando, nessa mesma epístola, um pormenor
relevante: o facto de D. Fernando Coutinho, bispo de Lamego, lhe ter empresta-
do uma série de livros recentemente adquiridos em Itália27. Noutra carta o
humanista italiano pede ao seu aluno D. Pedro de Meneses: “Envia-me, por
favor, o meu Lucrécio com o meu Aristóteles, se não precisas mais deles”. O pro-
fessor necessitava dos seus exemplares para responder às questões dos seus
novos discípulos28.
Os alunos de Cataldo eram leitores dos clássicos que, como D. Pedro de
Almeida, se dividiam entre os negotia da corte e da guerra e o otium da nobreza
de espírito. Numa outra carta Cataldo comenta o opusculum que D. Pedro lhe
tinha enviado para ser “castigado” pelo mestre. Este responde: “quando brincas
com a tua amiga, comparo-te com Propércio e Tibulo (nam ubi cum amica ludis,
Propertio et Tibullo te comparo29).
A homenagem a Tibulo e as traduções das Heróides em trovas de João
Rodrigues de Sá de Meneses, publicadas no Cancioneiro Geral de Garcia de
Resende, são consequência desta aula de letrados palaciana e da nova facilidade
de acesso aos autores antigos em edições impressas.
Entre os leitores dos elegíacos da corte manuelina contava-se D. Miguel da
Silva, destinatário de uma pergunta em trovas de Sá de Meneses que define a
nova competência em grego, latim e romance da aristocracia de espírito portu-
guesa. D. Miguel retomava uma leitura de juventude ao anotar, já no período da

26 Trata-se de uma edição de Catulo publicada conjuntamente com Tibulo e Propércio, impressa em Veneza
por G. Tacuino, 19 de maio de 1500, umbp Inc 33, f. f ii verso (ibp 493).
27 ‘Cataldus Ioanni serenissimo regi, suo domino. S.’, Cataldo Sículo, 1500, Epist., i, f. iv v.o.
28 Cataldo Sículo – ‘Cataldus Petro comiti Alcotini. S’, Cataldo Sículo, 1500, Epist., i, f. d v v.o.
29 ‘Cataldus Petro comiti Alcotini. S’, Epist., i, fol. e vi v.o.

D E I TÁ L I A A P O RT U G A L O S I N CU N Á B U L O E O S L E I TO R E S 25
sua estadia em Roma como cardeal, o seu exemplar de Tibulo, Catulo e
Propércio, conservado na Biblioteca Vaticana (bav, r.i.v. 2243)30.
A própria biblioteca de D. Manuel I devia acompanhar a aula de letrados que
acolheu na sua corte. O livro da “vyda de Plutraco, de tavoas cubertas de couro
vermelho, de papel, escrito de letra redomda”, de acordo com o rol de livros con-
servado, refere-se provavelmente à edição impressa da tradução castelhana elab-
orada por Fernández de Palencia a partir da tradução latina de Bruni e outros
humanistas italianos31. Desta tradução impressa em Sevilha conserva a BNP
dois incunábulos (n.o 19 e n.o 20 do presente catálogo)32.
Destaca-se também a curiosa referência a um livro “que começa Lionardo
Aremtyno e fala da cavalaria”33. Possivelmente esta entrada remete para a
“Introduçion de Lionardo Aretyno de las Oraçiones de Homero”, tradução cas-
telhana do Prohemium de Leonardo Bruni às suas Orationes Homeri. Tratava-se
de versões em prosa latina de discursos de heróis homéricos parafraseados por
Bruni em forma de orationes, isto é, em discursos concordantes com a precetiva
oratória humanística. O Prohemium de Bruni foi também usado como intro-
dução à tradução latina da Ilíada elaborada por Pier Candido Decembrio. Da cir-
culação independente deste prohemium, dá conta a sua presença num volume
manuscrito miscelâneo: Ms. 2-39 da “Colección de San Román” da Academia
Real de Historia de Madrid (f. 102r-108r), códice de papel com letra gótica cur-
siva da segunda metade do século xv (Gómez Moreno 1988: 327)34. Não há
que duvidar da circulação na corte portuguesa das versões castelhanas da Ilias
latina e os textos humanísticos afins, como ilustra a tradução de Juan de Mena
(rolán; barrio 1985), autor paradigmático para os trovadores do Cancioneiro
Geral.

30 Catullus, Tibullus, Propertius, His accesserunt Corn. Galli Fragmenta, Apud Seb. Gryphium, Lugduni, 1537
(cfr. deswarte 1989: 230-231). Sobre a cultura humanística dos poetas do Cancioneiro Geral remeto para
o estudo pormenorizado Tarrío (2001).
31 Trata-se do n.o 158 do ‘Lyvro da recepta das joias e vestidos e cousas outras, asy das que estavam na guarda
roupa como no tisouro que ficarõ d’El-Rei Dom Manoell, que samta groria aja, de que Ruy Leite he
recebedor, começado em Lixboa a tres dias do mes de fevereiro de j bc xxij, e o comde de Vylla Nova he
testamenteiro, e o arcebispo de Braga, e se despemdem por sua ordenaça’ (In viterbo 1901: 9; Buescu
2007: 163) indica que a entrada não permite apontar se se trata da tradução latina ou da tradução vernácula.
Constam também nesta relação as Decadas de Tito Lyvio, um Virgilio e um Ovídio, n.o 30, 32, 44, 45, 89 (In
viterbo 1901: 15-17, 22).
32 Trata-se de BNP INC. 161, e de BNP INC. 162, objeto de atenção no capítulo “Biografias exemplares para
novos fidalgos”deste livro.
33 Não parece consistente a identificação desta entrada com a obra de Leonardo Bruni Historiarum Florentini
Populi Libri XII (buescu 2007: 164).
34 Esta cópia manuscrita foi editada por Thierman na sua edição das Orationes Homeri (bruni arentino
1993: 64-69).

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O registo conservado dos livros pertencentes a D. Manuel afigura-se em
todo o caso surprendentemente breve, como é o caso do ainda mais magro elen-
co dos livros de D. João iii. No entanto, estas relações conservadas não poderão
ser tomadas como espelho significativo dos livros em circulação nas suas cortes.
Trata-se de listagens incluídas na relação dos bens particulares de cada membro
da família régia, de valor muito relativo, atendendo às práticas de não se inseri-
rem os livros pertencentes aos monarcas anteriores, das frequentes doações
régias e da distribuição dos bens pelos descendentes. Perante a exiguidade de
tais entradas, já Viterbo (1901: 7-10) apontou a possibilidade de estes inventá-
rios se referirem apenas livros adquiridos35. Elucidativo é neste ponto o caso da
biblioteca da infanta D. Maria, elogiada por Luísa Sigeia e João de Barros
(matos 1988: 524). Seguramente eram impressos alguns dos livros que, em
1529, Diego Salema, tesoureiro da rainha D. Catarina, entregava a Rodrigo
Sánchez, mestre dos ‘moços de capela’, como os Colloquia de Erasmo36.
Apesar da vasta e irreparável perda de inventários de bibliotecas perten-
centes a notáveis desta época, cujas obras são indícios inequívocos de bibliote-
cas humanísticas como a de Sá de Meneses (tarrío 2005), contamos com
alguns elementos que permitem enxergar a importância da importação de livros
italianos.
O inventário realizado em 1612 da biblioteca da Sé de Braga descreve o
corpo já mutilado da biblioteca original reunida por D. Jorge da Costa, “a maior
colecção de autores clássicos existentes nas bibliotecas portuguesas de
século xv” (costa 1985: 20) 37.

35 Considere-se o magro elenco conservado dos livros pertencentes a D. João III, entre os quais se encontra
um Lybrixa de gramatica. n.o 10 (In viterbo 1901: 25). O inventário de D. Catarina destaca-se pelo elevado
número de obras religiosas (viterbo 1901: 27-28).
36 Em 1534, esta última biblioteca recebeu de Castela um livro de Morales de Séneca, um Cancionero portogués,
um Cancionero castellano, Francisco Petrarca contra prospera e adversa fortuna, las Treszientas de Juan de Mena e
el Cancionero de Juan del Enzina, um livro de Nebrija, e outro de Jorge Manrique, um Marco Aurelo e Ysopete,
uma Agrycoltura, um livro com os Triunfos de Petrarca, um Quynto Curcio de Alexandre, um livro com as
Decadas de Tyto Livio, um Apotegmata Plutarqui, um Lingua Erasmi (cfr. viterbo 1901: 31-37; matos, 1988:
516, nota 88, 582, 7-10, 27-28; coelho 1984: 427-428, 444, 456). Sobre Rodrigo Sanches ver Ramalho
(1994: 115).
37 O inventário, elaborado durante o arcebispado de D. Frei Aleixo de Meneses, data de 4 de novembro de
1612, mas “a biblioteca inventariada em 1612 era constituída, na sua quase totalidade, por um núcleo de
manuscritos antigos e pelas livrarias particulares de D. Fernando da Guerra e de D. Jorge da Costa” (Costa
1985: 14; 17).

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A sua biblioteca revela uma maciça aquisição de incunábulos de auctores
antigos e humanísticos, impressos em Itália entre 1472 e 149638. Boa parte dos
livros terão sido adquiridos antes de 1500, durante as estadias do prelado em
Itália. Em inícios de 1501, D. Jorge partiu para Itália, onde faleceu, em Agosto do
mesmo ano39.
D. Diogo de Sousa, o novo arcebispo de Braga desde 1505, foi responsável
pela ampliação da biblioteca arquiepiscopal bracarense enriquecendo-a com
autores antigos e contemporâneos. A sua biblioteca foi sinal e sustentáculo do
seu programa de renovatio da cidade como antiga capital da Gallaecia romana
(costa 1985; 1993; nascimento 1998).
Também o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra se destacava na altura pelo
número e qualidade dos seus livros, que incluíam obras humanísticas (coelho
1984: 391-392, 395)40.
O florescente negócio da importação de livros italianos foi pois determi-
nante para a cultura renascentista portuguesa desde os finais do século xv
(anselmo 1987: 369). A ocorrência de marcas de posse jesuíticas num número
considerável de espécies deste grupo aponta para a posterior reutilização dos
exemplares originariamente pertencentes a estes espólios, mas não invalida a sua
circulação anterior em território português41.

38 Surpreende a quantia de 36 escritores latinos e gregos perante os 28 textos relativos à cultura bíblica e
religiosa. Trata-se de editiones impressas em Bolonha, Veneza, Roma e Milão, desde 1467, de autores
antigos: as Res gestae de Amiano Marcelino, a tradução latina de Decembrio dos Opera de Apiano
Alejandrino, as Noctes Atticae de Aulo Gélio, as Epistulae Familiares, entre outras obras ciceronianas; as obras
de Plauto, Plínio, Suetónio, Terêncio, Vergílio, Vitrúvio, Horácio, Estácio, Claudiano, Lucano, Marcial. De
Ovídio figuram Opera omnia e Heroides assim como as Elegiae de Propércio, e um manuscrito designado
Fabullas de Ouvidio que, muito provavelmente, contém as Metamorphoses (Cf.Costa 1985: 22-23). Também
se registam obras contemporâneas como: De re aedificatoria de Giovanni Battista Alberti, os Italiae illustratae
libri viii
de 1482, os Rerum gestarum Francisci Sphortiae, Mediolaniensium ducis libri xxxi de Giovanni Simoneta,
de 1486, as Rerum Venetarum ab orbe condito decades iv de Marco Antonio Sabélico, de 1487. O inven-
tário regista ainda os nomes de Francisco Filelfo e Lorenzo Valla, sem indicar a obra (costa 1985: 37, 38;
39).
39 Viveu em Itália desde 1481 até 1486, quando foi eleito arcebispo de Braga, mas até à sua morte, em 1501,
continuou frequentando Itália. (marques 1988: 17-18; costa 1985: 15).
40 Erasmo e Baptista Mantuano foram autores adquiridos por este centro de cultura (cf. coelho 1984:
392-394).
41 É o caso dos exemplares ovidianos bnp inc 831, bnp inc 832, bnp inc 1432.

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A tipografia portuguesa à margem da edição dos clássicos

O panorama contemporâneo de edições impressas em Portugal42, sujeito à seve-


ra lógica do pragmatismo do lucro assegurado e da dependência do poder públi-
co e religioso43, seguia as tendências gerais da tipografia em contexto
peninsular44.
Até ao ano de 1516, data de publicação do Cancioneiro Geral de Garcia de
Resende, a imprensa concentrou-se nas obras religiosas e sapienciais45, em
documentos ligados à governação e à diplomacia46, em tratados técnicos,
gramaticais47 ou matemático-astronómicos48, e, por último, em algumas obras
romances de grande divulgação, como as Coplas de Jorge Manrique49.

42 Correspondentes ao período aqui visado, os repertórios de Norton (1978) e Manuel II (1929), constatam
a carência de edições dos clássicos nos prelos portugueses. Anselmo (1926: 411, 928) e Simões (1990: 567,
568) registam apenas dois exemplares ovidianos muito posteriores: Metamorfosis (Évora, 1574) e Fasti,
Tristia e Ep. ex Ponto (Lisboa, 1575). Relativamente à Biblioteca de Évora, Gusmão (1966: 192, 198) apenas
regista dois exemplares quinhentistas de tipografia espanhola e muito posteriores à época que nos ocupa:
Valério Máximo (Dictorum factorum memorabilium exempla, Salamanca, 1560) e Vergílio (Opera cum A.
Nebrissensis familiaribus phrasibus, Granada, 1545-46). Alves (1966: 248) cataloga na mesma biblioteca
quatro Vergílios de tipografia francesa (1528, 1532, 1574, 1575).
43 (saraiva 1990: 26, 126, 138; martins 1972: 92; marques 1988: 13; nunes 1994; anselmo 1994;
cepeda 1987: 54; anselmo 1926: 561, 554).
44 No período de 1501 a 1520 Griffin (1993: 39-51) apenas registou vinte clássicos latinos das 1300 edições
impressas em Espanha.
45 Destaca-se a preponderância de obras de carácter religioso e doutrinal. Onze obras relacionadas com
‘Igreja: função, organização, serviços e doutrina’, ‘Agiológicos e história da Igreja’, ‘prelecções morais’, e um
total de dezanove textos de ‘ensino ou aprendizagem (gramática, aritmética, retórica’ e ‘estado: função
organização e serviços’, ‘doutrina civil’, ‘relatos do presente, relatos do passado (ocorrências civis e
militares)’, relatos de viagens e corografias’, e apenas dois textos de ‘astronomia, matemática e repositório
do tempo’. A classificação segue Machado (fundada nas preferências do século XVI), simplificada por
Macedo (1975: 199-203).
46 Além das orações de obediência ao Papa, foram publicados ‘regimentos’ régios (Lisboa: Valentim
Fernandes, 1504; Lisboa: João Pedro de Cremona, 1514), ‘os artigos das sisas’ (Lisboa: Hermão de Campos,
1512), ‘o primeiro livro das ordenações’ de D. Manuel (Lisboa: Valentim Fernandes, 1512), seguido de
quatro livros mais na segunda edição (Lisboa: João Pedro de Cremona, 1514), as obras do orador oficial do
rei, Cataldo Sículo, ‘Omnia Cataldi Aquillae Siculi, quae extant opera per Antonium de Castro denuo
correcta’ (Lisboa: Valentim Fernandes, 1509), Regras das Ordes: ‘a regra et diffiniçooes da ordem do
mestrado do nosso senhor Jesus Cristo’ (Lisboa: Valentim Fernandes, 1502, 1503), ‘regra dos statutos et
diffinições da ordem de Sanctiaguo’ (Lisboa: Hermão de Campos, 1509) (anselmo 1926: 552, 1103,
553,560, 534, 437, 556, 440).
47 A Gramatica Patrane (Lisboa: por João Pedro de Cremona, 1501) e Prosodia Grammaticae cum summa
diligentia correctae de Estêvão Cavaleiro (Lisboa: por João Pedro de Cremona, 1505) (vid. anselmo 1926:
528, 527, 529).
48 Regimento do estrolabio et do quadrante... (Lisboa: Hermão de Campos, 1510) e Tractado da Spera do mundo
(Lisboa: Hermão de Campos?, 1509?) (anselmo 1926: 435-436).
49 A Glosa famosissima sobre las coplas de don Jorge Manrique (hecha y compuesta por el licenciado Alonso de
Cervantes) (Lisboa: Valentim Fernandes, 1501), os Proverbios de Don Íñigo López de Mendoza, (Lisboa:
Valentim Fernandes, 1501), Marco Paulo, (Lisboa: Valentim Fernandes, 1502), Boosco deleytoso (Lisboa:
Hermão de Campos, 1515) (vid. anselmo 1926: 549, 550, 551, 438).

D E I TÁ L I A A P O RT U G A L O S I N CU N Á B U L O E O S L E I TO R E S 29
No campo das obras em latim, as temáticas privilegiadas pela imprensa do
agente mais importante em fins do século xv e inícios do século xvi, Valentim
Fernandes, foram a religiosa, gramatical e institucional (anselmo 1926, 1981,
1984; norton 1978; simões 1990), se bem que entre os seus primeiros textos
impressos figurassem obras reveladoras da cultura humanística, como a de
Cataldo Sículo e várias orationes de obediência ao Papa50.
Tratava-se de um tempo ‘relativamente estacionário’ e muito centralizado
em Lisboa, anterior ao maior desenvolvimento verificado na época de D. João III
(martins 1972: 118-119)51. Críticas contundentes e consensuais por parte de
leitores e autores contemporâneos sucederam-se, no entanto, bem avançado o
século XVI (Martim de Figueiredo, André de Resende, Jerónimo Osório)52.
Nos prelos do reino vizinho, em 1482, fora impresso em Zamora o primeiro
autor clássico traduzido em castelhano, Séneca, autor privilegiado, com Esopo e
os historiadores, no limitado panorama de impressão de autores clássicos na pri-
meira fase da imprensa espanhola (beardsley 1979: 26).
As qualidades filológicas e os preços apelativos dos clássicos importados
(holmes 1990: 129) tornavam imprudente e pouco pragmática a possibilidade
de concorrência nos prelos lusos. Em todo o caso, e em suma, no estudo da cul-
tura quinhentista importa uma maior investigação do espólio impresso dos liv-
ros importados.

50 D. Manuel, a partir de 1508, concedeu aos impressores direitos análogos aos dos fidalgos da Casa Real
(anselmo 1987: 360-361, 365). Garcia de Resende, na Miscelânea, registou a comoção cultural que
implicou a ‘letra de forma’: Livro das obras de Garcia de Resende (verdelho 1994: 570).
51 A análise da tipografia quinhentista de Saraiva (2000: 130-143), inclui útil gráfico (saraiva 2000: 137).
Luís Rodrigues, que começa a sua actividade em 1539, é considerado por Jorge Peixoto (1960: 377-382;
1967: 11-12) o primeiro tipógrafo propriamente renascentista em Portugal. Sobre impressores e mecenas
quinhentistas, Macedo (1975: 188-189) e ainda sobre o desgaste e desaparição de obras Macedo (1975:
198). Sobre a tipografia portuguesa quinhentista, para além da obra de referência básica de Anselmo
(1926), vejam-se Gusmão (1964), Azevedo (1958), Santos (1955: 27-28), Feio (1955), Vaz (1971-73:
1-34), Gonçalves (1968), Thomas (1941), D. Manuel II (1929, 1932, 1935).
52 André de Resende – Oração de Sapiência (Oratio pro Rostris) (1956: 31, n. 2, 65). Em carta a D. João de
Castro, Resende lamenta o deficiente trabalho de Luís Rodrigues a propósito da edição do seu Breviarium
eborense, impresso em 1548. Uma listagem das edições desta carta em Verdelho (1994: 26, n. 30). Cfr. J.
Osório, ‘Carta a Stanislas Hosius’, ed. Bourdon (1956: 77-78 carta 8.a). Na nota do impressor João Álvares
na Copilaçam das obras de Gil Vicente de 1562, ele justifica a omissão de erratas com o argumento da sua
excessiva prolixidade (cfr. anselmo 1987: 368; macedo 1975: 199-200).

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II Leitores e tradutores: as Heroides – inc. 832

Ovídio – Epistolae Heroides. Coment. Antonius Volscus e Hubertinus


Clericus. Venezia: Boneto Locatello para Ottaviano Scoto, 19 Oct. 1492 bnp
inc. 832 [7]

Esta obra de Ovídio figura no elenco de obras escolhidas durante o reinado de


D. Manuel I para ensinar latim ao príncipe D. João por Luís Teixeira. Recém-
chegado de Itália, onde tinha sido aluno de Poliziano, o preceptor luso fazia eco
da inclusão desta obra no cânone escolar humanístico53.
As anotações romances e latinas do Incunábulo 83254 ilustram a dupla com-
petência latinista e romance, própria do grupo de poetas “alatinados” da corte

53 Veja-se a este propósito o subsequente capítulo «Estudar na corte: a edição humanística como material
didáctico» (bnp inc 1432).
54 O exemplar foi posteriormente encadernado juntamente com outros dois impressos ovidianos que contêm
respetivamente Ars amandi-Remedia amoris, Heroides-In ibis e Fasti (bnp inc. 831, 832, 833).

D E I TÁ L I A A P O RT U G A L O S I N CU N Á B U L O E O S L E I TO R E S 31
manuelina que publicam no Cancioneiro Geral de Resende, incluindo precisa-
mente traduções de várias Heroides.
Para o manuseio de edições impressas desta obra latina por parte dos tradu-
tores do Cancioneiro Geral aponta já o facto de João Rodrigues de Lucena ter tra-
duzido a resposta de Ulisses a Penélope elaborada por Ângelo Sabino. Foi na edi-
ção impressa das Heroides preparada por Corallo (Parma, 1477), que apareceu a
resposta de Ulisses a Penélope55.
As anotações de bnp inc. 832 apontam para vários leitores. Detetam-se pelo
menos três tipos de tinta correspondentes a três mãos de escrita renascentista.
Todas elas escrevem anotações em romance e em latim56.

Traduções em forma de glosas

O incunábulo revela-se particularmente precioso porque, entre as diversas glo-


sas latinas, surge um grupo de traduções para português em forma de anotações
manuscritas interlineares e marginais. As glosas em português remetem para o
primeiro quartel do século xvi, precisamente o período em que foram publica-
das versões das cartas ovidianas em coplas, no Cancioneiro Geral de Garcia de
Resende (1516).
Muito embora delicado, o cotejo paleográfico destas glosas com letras ante-
riores a 1516 aponta para uma datação próxima do período manuelino57. Por
outro lado, o critério ortográfico apresenta todas as ressalvas da sua conside-
ração num século onde reina a indisciplina ortográfica, a instabilidade e alternân-

55 Ficam excluídos portanto como ponto de partida de Lucena, pelo facto de não incluírem a carta de Ulisses
a Penélope, os exemplares com edições das Heroides (bnp inc. 832, bnp inc. 1432, bnp res. 685). Em bnp
inc. 1432 apenas encontramos a carta de Helena a Alexandre, correctamente atribuída a Sabino: ‘Sabini
poetae epistola qua Alexandro Helena respondet’ (f. l iii v.o-m i v.o), como em bnp inc. 832 (f. l iii v.o-m i
v.o). A edição de Parma constitui testemunho único para duas passagens da carta de Páris a Helena e a de
Cidipe a Acôncio (her xvi, 39-144; her xxi 145-248).
56 O conjunto destas notas, já reunidas em anexo em Tarrío (2001), está atualmente a ser objeto de edição e
estudo mais exaustivo. Denominamos ‘Mão 1’ (m1) uma letra humanística cursiva e solta, com frequência
descuidada; ‘Mão 2’ (m2) uma letra humanística bastante cuidada, mas irregular na curvatura; e ‘Mão 3’
(m3) uma letra humanística notavelmente homogénea e clara, regular na ligeira inclinação para a esquerda.
m2 escreveu o maior número de traduções para português. m3 concentrou-se mais na aclaração gramatical,
sintáctica e lexical do texto em notas latinas, tal como m3, que no entanto escreveu também algumas
traduções para português. Agradeço a Isabel Cepeda a análise das notas, que confirma o seu caráter
renascentista, assim como a sua disponibilidade e generosidade, profissional e humana.
57 É patente a sua semelhança com bnp inc. 832, com as letras de documentos anteriores a 1516, como a carta
régia datada de Lisboa, em 1490 (dias, marques, rodrigues 1987: 108-109). (Cf. costa, 1976, ‘gravuras’
148. 149).

32 L E I TO R E S D O S CL Á S S I C O S. P O RT U G A L E I TÁ L I A , S ÉCU L O S XV E XV I | A N A M A R Í A S. TA R R Í O
cia de formas até dentro da mesma obra de um autor58. No entanto, a ortografia
das notas aproxima-se das caraterísticas ortográficas gerais da obra de Garcia de
Resende (1470-1536), indiciando até grafias mais conservadoras do que as
escolhidas pelo compilador do Cancioneiro.
Assim, o arcaísmo gráfico da vibrante dupla, signada como r maiúsculo (R)
no termo “aRayães”, que traduz o termo latino castris (her.1.21), surge em Garcia
de Resende grafado como “rr” (verdelho 1994: 686)59. A hipercorreção gráfi-
ca ‘gu’ (‘inguanado’ proditus, ‘guanhadas’ explicação de partis, ‘reguaso’ gremio)
foi documentada por Clarinda de Azevedo Maia como caraterística da região
‘galego-portuguesa’ até inícios do século XVI, e surge pontualmente na obra de
Garcia de Resende, que no entanto prefere já maioritariamente ‘g’ (silva 1953:
5, 605)60.
A forma ‘abiraba’ (que traduz tendebat) exemplifica a prótese de ‘a-‘, verifica-
da na língua de Gil Vicente e ainda na edição impressa de Garcia de Resende
(Verdelho 1994: 734; Teyssier 1959: 329)61. A glosa ‘asperar’ (que traduz veles)
em vez de ‘esperar’, regista-se desde o tempo das cantigas, mas a Compilaçom de
Gil Vicente de 1534 já surge esperar (machado 1990: 2, 463)62.
Muito significativa é a forma ‘prantada’ (para consita) pois a obra de Garcia
de Resende já não regista este tipo de grupos consonânticos não etimológicos
mas nela ocorre planto junto a blandas, regla. Com efeito, a restituição etimológi-
ca é considerada um fenómeno posterior (verdelho 1994: 710)63.
A glosa ‘se desfasa’ (para vanescat) exemplifica a distribuição s/ç que ainda
se regista na obra de Garcia de Resende (verdelho 1994: 681-686).
O conjunto de anotações apresenta as alternâncias de vocalismo próprias da
língua de Garcia de Resende: ‘que adavinava’, ‘que adavinyou’ (para vaticinata)64,
‘consintiu’ para praebuit, ‘meia riparada’ (semirefacta)65.

58 O Livro das obras de Garcia de Resende oferece um bom material de comparação no que diz respeito ao
arcaísmo gráfico e à alternância gráfica (verdelho 1994: 774-778. Cfr. williams 1975: 34-41; maia
1997: 297-308).
59 A forma ‘idificios’ (moenia) é destacável se considerarmos que ‘edeficio’ surge na Vida e feitos de D. João II
de Garcia de Resende (verdelho 1994: 715).
60 Cfr. Verdelho (1994: 678), Maia (1997: 437ss, 641ss), Williams (1975: 33).
61 Machado não regista ‘avirar’ mas ‘avir’, ‘aviir’, ‘avenhir’. O termo ‘virar’ aparece documentado a partir do
século xvi (machado 1990: 5, 400). Cfr. Williams (1975: 120-121).
62 A forma ‘distruida’ (para disiecta) destaca-se também em confronto com ‘destroida’, que se regista em Canc.
Geral, II, v.10, 392.
63 Machado (1990: 4, 380, 414) regista ‘prantar’ no século XV, e no entanto ‘plantar’ remete para o século
XIV.
64 A alternância ‘adivinhar/adevinhar’ é antiga mas também camoniana segundo Machado (1990: 1: 108).
65 Considerem-se as formas ‘espicial’, ‘ligitimo’, ‘milhor’, ‘tisouro’ registadas na língua de Garcia de Resende
por Verdelho (1994: 720). Cfr. ‘alifantes’, ‘acupava’ em Verdelho (1994: 714).

D E I TÁ L I A A P O RT U G A L O S I N CU N Á B U L O E O S L E I TO R E S 33
Igualmente a ausência de ‘i’ intervocálico em ‘rodeo’ (para ambage) tem cor-
respondência na obra de Garcia de Resende66.‘
Em suma, a ortografia do conjunto revela uma tendência arcaizante, relativa-
mente próxima da obra de Garcia de Resende, e, em todo o caso, situa-nos no
primeiro Renascimento Português.

As glosas em latim

O conjunto das numerosas notas latinas deste exemplar pode considerar-se um


autêntico arsenal auxiliar para um leitor ou tradutor contemporâneo, ou até um
excelente material para a preparação de aulas.
O cotejo destas glosas latinas com as traduções cancioneiris revela coinci-
dências muito relevantes. O termo latino Aeacides (I 35) surge traduzido por
Arquiles na versão do Cancioneiro Geral e no incunábulo 832 foi anotada também
a glosa interlinear ‘Aquiles’ sobre o mesmo termo Aeacides, explicação que pro-
cede do comentário latino ao verso. Outras coincidências do mesmo teor são:
Ilios traduzido por Troia67, Sanguine phrygio por sangue troiano68, Tlepolemi leto
por morte de Tlepolemo69.
Também o texto latino do incunábulo aproxima-se muito daquele que este-
ve na base da tradução romance de Sá de Meneses70.
De resto, todo o conjunto de glosas latinas é revelador do intenso manuseio
do exemplar. Oferecem sinónimos ou ‘equivalências’ lexicais de termos latinos71,
explicam um apelativo latino, indicando o nome próprio correspondente, ou

66 V. g. Cea, fea, tea freo etc. As formas com ‘i’ seriam de frequência mais baixa (verdelho 1994: 657-658).
67 her. I 48 Ilios: A Glosa interlinear explica ‘Troia’(f. 6 verso).
68 her. I 54 Phrygio: Sobre Phrygio aparece una nota interlinear que diz ‘troiano’ sobre Phrygio (f. 6 verso).
69 her. I 20 leto: Sobre ‘leto’ lê-se ‘mors’.
70 Veja-se o pormenorizado cotejo de variantes, com uma proposta aproximativa do texto-base
presumivelmente usado pelo tradutor cancioneiril em Tarrío (2001).
71 Para facilitar a identificação das glosas, usamos as letras iniciais das cartas de Penélope, Dido e Laodamia
com o número de verso do texto latino e o referido sistema de diferenciação provisória das diversas mãos
do exemplar. Pen 3 m2 Danais ‘graecis’, Pen 20 m2 leto ‘mors’; Pen 21 m2, achivis ‘s. Graecis’; Pen 21 m2,
achivis ‘s. Graecis’; Pen 25 m2 Argolici ‘s. Graeci’; Pen 27 m2 nymphae ‘puellae’; Pen 36 m2: missos ‘s veloces’;
Pen 44 m3, bene ‘balde’; Pen 45 m3: micuere ‘moti sunt’; Pen 45 m3: sinus ‘pectora’; Pen 52 m2, incola
‘agricola’; Pen 54 m2 luxuriat ‘abundat’; Pen 54 m2 phrygio . ‘S. troiano’; Pen 72 m3 patet ‘patens est’; Pen 72
m3 area ‘spacium’; Pen 79 m2 in auras ‘in ventos’; Pen 94 m3 sanguine ‘sudore’; Pen 94 m3 alis ‘nutris’; Pen
94 m3, egens ‘prodigus’; Pen 98 m3 faciunt ‘precantur’; Pen 98 m3 longaeva ‘anosa’; Pen 99 m3 cura ‘custos’;
Pen 110 m2 portus et aura ‘requies et salus’; Pen 112 m3 erudiendus erat ‘instruendus erat’, Did 80 plector
‘punior, Did 115 m2 Elapsa ’evasa sum’, Did 119 tument ‘imminet’, Did 145 obstrusa ‘occulta’, Did 158 modus
‘s. finis’, Did 160 cubent ‘s. quiescant’, Did 191 Elyssa Dido, Laod 12 m2 solvor ‘separor’, Laod 24 m2 dicor
‘narror’, Laod 37 m2 murice ‘purpura’.

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expandem uma expressão sintética mais obscura72. Incorporam também anota-
ções de natureza gramatical73 e sintática74.
Outras glosas ilustram perspicazes comentários de expressões, como a de
sospite viro, que o leitor comenta como ‘sane falsi viro’, em referência à fama do
‘indemne Ulisses’75.
Importa frisar que a maior parte das notas latinas procede dos comentários
ou enarrationes dos comentadores desta edição, fazendo assim prova do valor e
da eficácia prática, aos olhos dos leitores, deste material explicativo do texto
antigo.

O valor do incunábulo 832

Este exemplar ovidiano circulou, com alta probabilidade, na órbita da corte


manuelina, no grupo de fidalgos poetas, leitores e tradutores de textos latinos.
As ricas anotações que contém podem resultar do manuseio do exemplar por
parte dos próprios tradutores da coletânea manuelina, ou podem ser resultado
de uma leitura posterior à tradução cancioneiril, por parte de leitores portugue-
ses contemporâneos.
O exemplar, ou um exemplar impresso análogo, terá sido o utilizado por
Luís Teixeira para ensinar latim ao futuro rei D. João iii, a partir de 1 de janeiro
de 1520. Com efeito, as Heroidas constam da lista de obras utilizadas por

72 Laod 33 m2 bicorniger ‘Bacchus; Laod 61 m2 gemellis ‘castori’; Laod 61 m2: consors ledaea ‘s. helena’, Laod 45
m2 taenariae maritae ‘helenae’, Pen 35 m2: Aeacides ‘s. Achilis’, Did 105 m2 diva parens ‘Venus’. Pen 4 m2
tanti‘studi’, Pen 17 m2 meneciadem‘aliquis Meneciades’, Pen 19 m3, lyciam ‘Sarpedontis’, Pen 32 m1 Pergama
‘situm Troie’, Pen 39 m1: Rhoesum ‘nomen viri’, Pen 39 m1: Dolona ‘nomen viri’, Pen 43 m3: uno ‘Diomedi’,
Pen 44 m3: at bene cautus eras ‘antequam ad bellum abrues’, Pen 45 m3: amicum ‘graecorum’, Pen 46 m2:
Ismariis ‘urbs’, Pen 46 m2: agmen ‘familiaris’, Pen 48 m2 Ilios ‘Troia’, Pen 51 m1 Pergama, ‘situs Troye’, Pen 63
m3 Neleia... arva ’regnata a Neleo patre eius’, Pen 79 m3 hoc crimen ‘quo te acuso’, Did 47 m2 strata ‘quieta’,
Did 48 Mano Triton ‘deus maris’, Did 58 m2 Cytheriacis ‘insula...’, Did 63 Mano rapido ‘veloce’, Did 80 plector
‘punior’, Did 109 novissima ‘ultima’, Did 110 m2 fati ‘fortuna’, Di 148 m2 pygmalionis ‘mihi fratris’, Laod 2 m2
Aemonis ‘s. Thessalia’, Laod 3 m2 Aulide ‘portus’.
73 Pen 110 m3 citius ‘comparativo pro positivo’; Did 60 m2 ne bibat aequoreas naufragus hostis aquas ‘subjuntiva’,
o anotador explica o valor do termo ‘ne’ optativo Did 70 m2 putes ‘putabis’; o anotador explicita a coerência
com o verso anterior em futuro.
74 Pen 75 m3, quae vestra libido est ‘ea libidine’; Pen 87 m2, quos ‘illi’, o leitor anota o antecedente subentendido
do relativo; Pen 109 m2, pellere ‘ad pellendum’ (o leitor anota a construção sintáctica final mais familiar),
Pen 116 m3 ut ’quamvis’ (o leitor explica o valor concessivo do ut); Did 55 m2 prodest ‘prosunt’, o anotador
faz concordar o verbo com o nominativo plural do verso seguinte e não com o infinitivo prodesse do verso
55; Did 115 m2 elapsa ’evasa sum’ (o leitor explica o elemento verbal subentendido), Did 175 m3 pro meritis
‘s. oro’ (o anotador explicita o elemento verbal subentendido).
75 Assim para quae (Pen 52 m1) ‘qui’, Did 48 m2 caeruleis ‘caeruleus’?; Did 55 m2 prodest ‘prossunt’?; Did 116
m2 emo ‘emi’?

D E I TÁ L I A A P O RT U G A L O S I N CU N Á B U L O E O S L E I TO R E S 35
Teixeira para este fim (juntamente com Plínio, Tito Lívio e princípios de grego),
de acordo com Francisco de Andrade76.
As glosas portuguesas do Incunábulo 832 vinham complementar a ótica ita-
liana, onde a presença do universo romance é sempre secundária ou residual:
Ubertino usa o vulgar para explicar o sentido de um termo antigo77, tal como
Valla ou Beroaldo apenas deixavam entrar o vernáculo só como auxílio na pro-
cura dos indispensáveis neologismos neolatinos78.
A leitura e a tradução das cartas ovidianas tiveram um papel decisivo na
renovação da linguagem amorosa cortesã, confinada aos limites lexicais e con-
ceptuais da tradição lírica herdada. A tradução do latim assumiu um peso espe-
cífico capital na construção de uma língua clássica romance, constituindo um
estádio significativo no equilíbrio entre latinismo e acervo léxico patrimonial,
antes da relatinização da língua portuguesa no tempo de Luís de Camões79.
Neste exemplar regista-se a ocorrência de marcas de posse jesuíticas, como
acontece noutros incunábulos aqui considerados. Ela aponta para a reutilização
de exemplares adquiridos por leitores portugueses em período anterior80.

76 Francisco de Andrada – Crónica de D. João III. I, cap. III (1976: 6). Passo comentado em A. J. Saraiva (2000:
195).
77 «‘Praerogare’ praeferre, idem prorogativa perlatio et privilegium dicitur, sive, ut vulgo loquar,
praeminentia». Ubertino s. v. ‘rogatus’ (Her I, 60).
78 São palavras de Casella (1975: 657). Vejam-se numerosos exemplos em Casella (1975: 658-660). Cfr.
Tavoni (1984), Grafton-Jardine (1986).
79 Um estudo aprofundado desta questão em Tarrío (2001).
80 O ‘non prohibentur...’ firmado por Everardo Mercurio, ‘praepositus generalis’ da Companhia de Jesus (f. i
ii) surge tanto em bnp inc. 831 (Ars amandi, De remedia amoris e In Ibin) como bnp inc. 832 (Heroides).
Heroides de bnp inc. 1432, encadernado com outros dois incunábulos (inc. 1430, inc. 1431), tem
igualmente marca de posse jesuítica, para além da marca da Biblioteca do Marquês de Alegrete.

36 L E I TO R E S D O S CL Á S S I C O S. P O RT U G A L E I TÁ L I A , S ÉCU L O S XV E XV I | A N A M A R Í A S. TA R R Í O
III Estudar na corte: a edição humanística como material didático –
bnp inc. 1432

Ovídio – Epistolae Heroides. Coment. Antonius Volscus e Hubertinus


Clericus. Veneza: Martino Lazzaroni e Cristoforo Quaietis, 14 Dic. 1493 bnp
inc. 1432 [8]

O texto ou lição textual do autor antigo (editio) e a sua explicação (enarratio)


auxiliavam o leitor destas edições num grau desconhecido para os precedentes
leitores de manuscritos de autores antigos, tanto em questões de edição textual,
como na interpretação do sentido dos termos latinos.
A sua marcada componente didática dinamizou o acesso à cultura antiga por
parte de comunidades de leitores mais vastas, afastando-se do tradicional
monopólio da cultura clerical medieval sobre o saber latino. Estas edições
impressas constituíram, assim, verdadeiros agentes de transformação das elites
europeias. Elas dinamizaram a expansão da biblioteca privada, secular e
eclesiástica, um processo determinante para a compreensão da história da cultu-
ra europeia.

D E I TÁ L I A A P O RT U G A L O S I N CU N Á B U L O E O S L E I TO R E S 37
Os comentários impressos remetiam os seus leitores para as aulas dos studia
italianos. O vínculo entre as editiones e as aulas fica patente no manuscrito 646
da Biblioteca Ricardiana, no qual Fonzio anotou uma lista de palavras explicadas
por Landino nas suas lições sobre a Arte poética de Horácio (maïer 1966: 44).
Tal relação com as aulas permeia as obras de Angelo Poliziano, à disposição dos
leitores portugueses graças à imprensa.
bnp inc. 1432 (exemplar que contém a mesma edição de bnp inc. 832)
apresenta as componentes habituais nas edições humanísticas. Além das epísto-
las dedicatórias, contém uma praefatio ou introdução ao autor e à sua obra,
encabeçada por uma breve biografia, à qual se seguiam os pontos precetivos a
tratar, herdeiros dos tópicos dos accesus ad auctores medievais: a intenção do
autor, a utilidade, o tema, o título, a ordenação e a divisão da obra, tipo de
ensinamento, parte da filosofia à qual se pode adscrever o livro (intentio auctoris,
utilitas, cuius sit liber, titulus, ordo, divisio, modus doctrinae, ad quam philosophiae
partem reducatur liber (cfr. maïer 1966: 46)).
O comentário em si consiste na acumulação sequenciada de todo o tipo de
saberes apostos a termos selecionados do texto antigo (cfr. sabbadini 1920;
scaglione 1959; maïer 1966: 39-46).
Assim, na edição encontrava o leitor três partes: texto fixado, termo citado e
glosa ou explicação deste. O termo citado coincide tendencialmente com o texto
fixado, o que explica a sua abreviação regular. No entanto, existem casos em que
o termo citado diverge do fixado, contendo potencialmente uma emenda ou
uma forma de crítica textual. Assim, se Antonio Volsco conserva a variante do
texto ‘Meneciaden’, Ubertino cita outra variante gráfica, ‘Menoetiaden’, sem
comentar nada a este respeito mas incorporando tacitamente uma emenda.
As edições humanísticas em conjunto caraterizam-se aliás pela diversidade na
maneira de citar e introduzir uma emenda ao texto81.
O duplo comentário do incunábulo permitia aos leitores portugueses acom-
panhar visões divergentes de lugares problemáticos do texto latino, que implica-
vam o conhecimento e o manuseio de diversos manuscritos ou edições da obra
em causa. Podiam sentir assim como “era vivo il senso dell’instabilità del testo
classico, di una superficie fatta di sabbie mobili, continuamente mutevole agli
occhi dell’osservatore” (casella 1975: 635).
Por exemplo, Ubertino discute a variante ‘Et phrygia Dido’ considerando a
variante aut Tyria (s. v. Her vii, 66). Antonio Volsco limita-se a citar ‘Et phrygia
Dido’, isto é, escolhe sem quaisquer explicações a variante que considerava cor-

81 Nos comentários de Beroaldo, as suas emendas por vezes só aparecem na glosa. Em certas ocasiões o leitor
depara com três variantes: uma no texto, outra na citação e outra na glosa (casella 1975: 629ss).

38 L E I TO R E S D O S CL Á S S I C O S. P O RT U G A L E I TÁ L I A , S ÉCU L O S XV E XV I | A N A M A R Í A S. TA R R Í O
reta82. Inversamente Ubertino ignora as variantes discutidas por Antonio Volsco
fato/facto (s. v. Her xiii, 93), limitando-se a citar fato do texto editado.
O caráter aberto da discussão sobre o texto transmitia assim um saber fun-
damental aos seus leitores, uma forma de treino no questionamento, um convite
à indagação individual.
Nos casos de ocorrência de crítica textual, não encontramos aqui o rotundo
“eu considero” (ego existimo) de Beroaldo, mas fórmulas mais atenuadas, em ter-
ceira pessoa, de exprimir o ponto de vista do indivíduo que lê e pensa83.
Mesmo assim, os leitores que, no extremo ocidental da Europa, consultavam
edições como a presente, compreendiam a condição instável e provisória da fixa­
ção de um texto antigo, e tinham acesso a alguns elementos para se aventurarem
a tirar as suas próprias deduções, virtualmente imersos nas agitadas polémicas
humanísticas em torno dos mesmos textos (casella 1975: 683).
Os leitores portugueses apreciaram sem dúvida o pragmatismo da brevitas, a
brevidade sem cair na obscuridade, que Ubertino aponta como o seu ideal no
próprio comentário, de acordo com o estilo proposto por Beroaldo84. Com
efeito, os comentários de Ubertino ofereciam uma enarratio funcional, de acor-
do com a denominação de Grafton e Jardine (Cf. 1986: 60-61), com uma pro-
porção moderada de exegese e emenda (Cf. casella 1975: 628-629).
Outra qualidade do comentário humanístico decisiva para a nova aristocra-
cia de espírito manuelina, era o vínculo que os comentadores estabelecem, nas
suas dedicatórias, entre os saberes do texto antigo e as necessidades concretas da
vida ativa dos seus potenciais leitores, os seus destinatários e mecenas.
Os editores manifestavam a necessidade de conferir valor ou funcionalidade
histórica ao trabalho filológico. Por isso tanto Antonio Volsco como Ubertino
insistem na utilidade da leitura dos autores elegíacos. O discurso de atualização
ou justificação da poesia erótica latina era evidentemente mais melindroso do
que o da história antiga, como o que encontramos nos comentários de Suetónio
por Beroaldo, onde os próceres antigos renascem nos seus mecenas da família
Bentivoglio85.

82 Assim acontece com as variantes novere/movere (s. v. Her vii, 83), Sichaei/Sichaeum (s. v. Her vii, 95),
Relinquis/relinquas/relinques (s. v. Her vii, 131); usque/utque (s. v. Her xiii, 18), tamen/tantum (s. v. Her xiii,
105), Dispari/dux pari (s. v. Her xiii, 43), ego/ago (s. v. Her xiii, 135).
83 Antonio Volsco utiliza a expressão at mihi probabilius est, e os conjuntivos legas... Ubertino, por seu lado, usa
habitualmente a terceira pessoa passiva: ‘sic legendus est textus’, ‘legitur’ ou ‘notandum est legendum esse’.
O elenco e comentário destes passos de crítica textual pode ver-se em Tarrío (2001).
84 bnp inc. 832, f. a iii. Cfr. os comentários de Calderini, Mérula, Scutari, Filomuso, Marso, recolhidos e
comentados por Casella (1975: 646-647).
85 O caso do Suetónio anotado por Beroaldo e atualizações análogas elaboradas por outros humanistas
italianos em Casella (1975: 660-69).

D E I TÁ L I A A P O RT U G A L O S I N CU N Á B U L O E O S L E I TO R E S 39
Na sua qualidade de discursos femininos concebidos por um autor masculi-
no, as Heroides foram instrumentalizadas como exempla negativos ou positivos
dos comportamentos amorosos da mulher. Esta modalização ocorre na introdu-
ção do comentador Ubertino a esta obra, que pode ler-se neste exemplar86.
Alguns motivos como o efeito fulminante dos olhos da amada ou a mutabi-
lidade da paixão feminina permitiam fácil adequação aos discursos petrarquistas
da canção cortesã, mas a explícita carnalidade de boa parte da poesia amorosa
latina oferecia obstáculos maiores. A habilidade retórica dos comentadores para
validar o seu autor conciliou argumentos patrísticos e contemporâneos para des-
culpar a licenciosidade de Catulo ou Ovídio pela sua inegável excelência poéti-
ca enquanto modelos insuperáveis para a canção de amor palaciana87. Ora esta
virtualidade foi justamente abraçada pelos trovadores/tradutores do Cancioneiro
Geral de Resende, que verteram em trovas os dísticos elegíacos latinos e assim
contribuíram para a renovação de uma lírica vernácula amorosa em fase
epigonal.
Tanto este exemplar de 1493 como o de 1492 (inc. 832) ilustram um verda-
deiro êxito dos prelos venezianos respondendo à estendida prática editorial de ir
incorporando o sucessivo trabalho de diversos humanistas sobre uma mesma
obra.
Em 1481, imprimira-se em Veneza o texto das Heroides, fixado por António
Volsco e acompanhado do seu comentário88, no seio de um conjunto de obras
ovidianas89.
A demanda desta obra ovidiana em particular explica a sua reimpressão iso-
lada em 1482, também em Veneza (apenas acompanhada pelo comentário de
Calderino ao In Ibis (hain 12193)). Estas Heroides de Volsco confirmaram-se
como um sucesso editorial: além das muito numerosas reimpressões venezianas
(em novembro do mesmo ano de 1482, 1484, em março e junho de 1485, 1486,
1487, 1488, 1490, 1491, 1491-92), ainda foi reimpressa em Bolonha (1491)
(copinger 4553, 4554) e em Milão (1483) (hain 12191).
Foi pois aposta segura a do impressor veneziano Locatello, que, em 1492,
reimprimiu esta edição adicionando o comentário de Ubertino (hain 12205).
As sucessivas reedições do novo conjunto em Veneza, Milão e Lyon abonam a

86 inc. 832, f. a ii-a ii v.o-


87 Pode ler-se a mesma justificação da leitura de Propércio em Casella (1975: 697, 700, apêndices 74, 87).
88 “Antonii Volsci Privernatis ad Ludovicum Diaedum Francisci...”, bnp inc. 832, f. aii verso. Hain (12204)
não identifica o editor. Volsco recuperou o texto de Calderini, incorporando apenas cinco emendas. Uma
caracterização de Volsco como editor moderado, parco em emendas, como ilustra esta edição de Propércio,
em B. Pecci (1912: 17-26; cfr. casella 1975: 672; grafton; jardine 1986: n. 18. 65).
89 Imprimiu-se também em Veneza, apenas com o texto, em 1475 (copinger 4551), imediata à de Rubeus de
1474.

40 L E I TO R E S D O S CL Á S S I C O S. P O RT U G A L E I TÁ L I A , S ÉCU L O S XV E XV I | A N A M A R Í A S. TA R R Í O
prolongada e consistente demanda da edição representada por este exemplar da
bnp90.
Situamo-nos às portas do período mais esplêndido dos prelos italianos ao
serviço do trabalho humanístico: de 1496, data do começo da atividade de Aldo
Manuzio, até 1601, o ano de morte de Pinelli (Marc Fumaroli in branca; osso-
la 1991 356).
Tal êxito editorial é consequência da atração que exercia a obra ovidiana no
século das Historiae de duobus amantibus de Enea Silvio Piccolomini (1405-
-1464), o futuro papa Pio II, que reescreveu as cartas ovidianas91.
A tradução em verso das Heroides por Domenico da Monticelli fora impres-
sa em Bréscia, em 1489, com sucessivas reimpressões. A versão francesa de
Octavien de Saint-Gelais foi também reiteradamente impressa em Paris, entre
outubro de 1499 e julho de 1503.
Este sucesso afigura-se tanto mais notável se considerarmos que os leitores
podiam encontrar a obra nas numerosas edições de Opera omnia de Ovídio: a de
Balthasar Azoguidos (Bolonha, 1471), a de J. Andreas (Roma, 1471-1472) a de
J. Calpurnio (Veneza, 1474), a de Jacobus Rubeus (Veneza 1474), a de Corallo
(Parma, 1477), a de Celsano (Vicenza, 1480), a de Ascensius (1500), as aldinas
de 1502 e 1508, e finalmente a de Navagero de 1515. Ainda há que considerar a
francesa de Guy Morillon (Paris, 1507). Estas edições foram reiteradamente
reimpressas em Milão, Roma, Veneza, Nápoles, Paris, Lyon, algumas várias vezes
no mesmo ano92.
bnp inc. 1432, tal como bnp inc. 832, ilustra também uma aposta lucrati-
vamente segura dos impressores italianos, que contavam com os numerosos
leitores potenciais de um público internacional, o da Respublica litterarum, uma
sólida rede intelectual europeia. Na corte joanina e manuelina, o número dos
leitores não incluía apenas antigos alunos dos Studia italianos, como os irmãos
Teixeira, mas também incorporava fidalgos educados na cultura humanística
que, sem terem sido alunos de Poliziano, podiam aceder em Portugal ao labor
didático dos humanistas sobre os autores antigos.

90 O conjunto reimprimiu-se em Veneza em 1492 e 1493 (no mesmo ano também em Milão), em 1494 (no
mesmo ano também em Milão), em 1495, em 1496 (no mesmo ano também em Milão), em 1497-1498, em
1498 (também em Paris), em 1499, (também em Milão). Em 1500 imprimiu-se em Milão, em Paris (1499-
-1500) e Lyon (1500-1501) e ainda em Veneza em 1500. A reedição veneziana de 1493 encontra-se em bnp
inc. 1432. Da editio de Bonus Accursius dos Opera omnia conservam-se dois exemplares venezianos, de
1486-1487 e 1489 respetivamente. O primeiro, mutilado, é bnp inc. 831, o segundo é bpmp inc. 168. Outro
exemplar veneziano dos Opera omnia de 1498 é umbp 282.
91 A Historia de duobus amantibus foi traduzida por Arnaldo Espírito Santo (2004). O poema de Enea Silvio
Piccolomini Cynthia iv pode ler-se em Perosa, Sparrow (1979 29-30). O código elegíaco alimenta
igualmente a Fabella, Cynthia ix, (perosa; sparrow 1979 30-32).
92 (dörrie 1971: 310; moya 1986: lxxvi; Tarrant in reynolds 1986: 268-273). Sobre a edição de Morillon
Griffin (1993: 44).

D E I TÁ L I A A P O RT U G A L O S I N CU N Á B U L O E O S L E I TO R E S 41
IV Os irmãos Teixeira e Poliziano – bnp inc. 462

Plínio – Naturalis Historia. Ed. Filippo Beroaldo, 1480. bnp inc. 462 [12]

A marca de posse «Tristam Teixeira» neste exemplar ilustra a viagem de livros


italianos para Portugal, no movimento de retorno das estadias de estudos em
Itália, subsidiadas pela coroa no tempo de D. João II com a finalidade de confi-
gurar uma nova elite burocrática palaciana.
O exemplar deve ter chegado a Portugal nos últimos anos do século xv ou
nos inícios do século xvi, juntamente com outras edições de autores latinos e
gregos, adquiridos pelos três irmãos Teixeira, durante os seus estudos em
Florença, Bolonha e Pádua, desde 1487 (verde 1973: 923)93.

93 Cfr. Costa (1987: 267-268). Álvaro Teixeira, aluno no Studio florentino antes de 1487 (verde 1973: 56),
surge em 1500 como destinatário de uma écloga de Henrique Caiado. Foi ‘familiar’ do cardeal João de
Medici, futuro Leão X, e governador do ‘albergue’ de ‘Santo António dos portugueses em Roma’. Em 1521
o papa Leão X concedeu-lhe diversos privilégios (costa 1987: 268-269).

42 L E I TO R E S D O S CL Á S S I C O S. P O RT U G A L E I TÁ L I A , S ÉCU L O S XV E XV I | A N A M A R Í A S. TA R R Í O
Tristão Teixeira, possuidor do precioso cimélio bnp inc. 46294, faleceu pre-
maturamente, em 1497, possivelmente em consequência da peste que assolou
Florença e da qual foi vítima o próprio Poliziano. Este incunábulo que ostenta a
sua marca de posse terá viajado para Portugal com um dos seus irmãos, Álvaro
ou Luís.
O mais velho, Luís Teixeira, em 1519 foi nomeado precetor do príncipe
D. João95, ao qual ensinou precisamente a História Natural de Plínio, entre out-
ras obras antigas. Posteriormente o seu aluno, já como D. João iii, será significa-
tivamente o promotor da reforma da Universidade portuguesa.
Foi interlocutor de humanistas como Filipo Beroaldo, e era dono de uma
eloquência e erudição que mereceram o elogio de Erasmo. O seu nome foi apon-
tado como o autor de um caderno português de notas, conservado na Biblioteca
Medicea, que terá colhido das lições de Poliziano sobre Suetónio, na sua estada
de estudos nesta cidade, entre 1488-149296. É autor de obra jurídica que segue
os preceitos humanísticos de renovação do direito regressando às fontes latinas,
na esteira de Lorenzo Valla97.
Aquando do seu regresso à corte, deslumbrou o grupo de jovens fidalgos
que serviam o então príncipe D. João, entre eles o tradutor de Ovídio Sá de
Meneses, que lhe dedica uma rendida homenagem no seu tratado De platano,
onde celebra a sua antiga amizade (ed. tarrío 2009: 230-231)98.
No grupo de jovens bolseiros do soberano, alunos de Poliziano, figuravam
outros portugueses, que em breve terão também um papel de relevo na cultura
política e literária do período manuelino e até joanino. Assim Martim de
Figueiredo, membro do Desembargo de D. João iii99, publicará um Commentum
Plinii (Coimbra, 1529) onde evidencia o magistério de Poliziano, o qual publi-

94 Henrique Caiado, em carta-dedicatória da sua «Écloga vii» a Álvaro Teixeira, datada de 29 de setembro
de 1500, lamenta a morte prematura de Tristão com 19 anos (‘Hermicus Caiadus Lusitanus Alvaro Tessirae
suo’ (balavoine 1983: 174-175)). Tristão juntou-se ao estudo florentino um pouco mais tarde do que os
outros dois irmãos.
95 O passo sobre a educação do Príncipe encontra-se em frei Luís de Sousa, Anais de D. João III, ed. Lapa
(1954: 1, 10, cfr. sá 1983: 55).
96 ‘Appunti di uno studente portoguese alle lezioni del Poliziano su Suetonio’ (viti 1994: n.o 130, 330-331).
97 Na história do Direito em Portugal, de acordo com Silva (1969: 132ss) e Albuquerque (1983: 81-97),
Teixeira representou um movimento de renovação de cariz humanístico que coexistiu com uma linha
conservadora, assente em Bartolo e outras autoridades criticadas por humanistas como Valla, e acabou por
se diluir com o novo auge das laudes Bartoli já o século XVI ia avançado. As Ordenações Manuelinas revelam
as tímidas consequências do regresso ao serviço da corte dos juristas formados em Itália, como Luís
Teixeira, e o seu compromisso e moderação com a tradição dos bartolistas.
98 Cfr. Ramalho (1985: 120); Terra (1985: iii.i., 270-271).
99 Sobre Figueiredo veja-se um breve perfil em Ramalho (Verbo, 3, s. u.). Este ilustre investigador do
humanismo português editou as cartas dedicatórias do seu Commentum (1985: 136-153). Sobre o
Commentum e Poliziano veja-se Tarrío (2007).

D E I TÁ L I A A P O RT U G A L O S I N CU N Á B U L O E O S L E I TO R E S 43
cou a pedido de vários studiosi portugueses do autor antigo100. Trata-se de uma
obra excecional, pois constitui um dos escassíssimos produtos hoje conservados
da prática filológica humanística stricto sensu produzidos e editados nos prelos
do Portugal quinhentista.
No Prólogo a esta edição e comentário da História Natural de Plínio, o
humanista português define D. João iii como um monarca-mecenas, à altura do
imperador romano (Tito) que terá apoiado Plínio na sua ingente pesquisa enci-
clopédica. Com efeito, o «saber total» da enciclopédia pliniana, correlato do
imperium como ingente território por conquistar num sentido mais ambicioso
do que a mera subjugação militar, permitia uma evidente atualização no seio das
Descobertas portuguesas.
Na sua qualidade de espelho da docência pliniana de Poliziano, este
incunábulo afigura-se um documento único na Europa, de valor excecional para
a reconstituição do trabalho editorial sobre a História Natural por parte do
humanista, trabalho nunca editado (que só encontra paralelo num outro
documento conservado na Staatsbibliothek de Munique). O incunábulo consti-
tui um documento de valor ímpar para o estudo do curso lecionado privada-
mente por Poliziano em 1491 a um grupo de estudantes portugueses, bolseiros
de D. João ii.
O exemplar passou posteriormente para as mãos do geógrafo e genealogista
Gaspar Barreiros, como indica outra marca de posse visível no exemplar. Do seu
manuseio em contexto pós-tridentino dão conta outras anotações manuscritas
(no primeiro fólio com o texto pliniano surge a marca ‘non prohibetur. Tuto lege.
Anno 1573. mense septembri’, e ainda, no primeiro fólio de protecção, nova-
mente ‘non prohibetur 1628’).
Trata-se de um exemplar intensa e extraordinariamente anotado por diver-
sas mãos, algumas com letra redonda e outras cursiva, que se destacam pela
egularidade e clareza e pela notável competência filológica, tanto em língua
latina como em grega101. Este precioso conjunto de anotações aponta para o
sistema de classificação de códices usado por Poliziano no seu studium de Plínio,
de acordo com Vincenzo Fera102.

100 (ramalho 1977-78c; costa 1987: 269-270; 1990 1198-1202; tarrío 2007).
101 Esta edição de Beroaldo, impressa por Andrea Portilia, Parma, 1480, bnp inc. 462, contém a anotação na
última folha de protecção ‘de tristam teixeira’.
102 Vincenzo Fera analisa este importante conjunto de glosas em estudo apresentado no Colóquio de abertura
à presente Exposição (6 de novembro de 2015), a publicar em volume monográfico.

44 L E I TO R E S D O S CL Á S S I C O S. P O RT U G A L E I TÁ L I A , S ÉCU L O S XV E XV I | A N A M A R Í A S. TA R R Í O
V A Musa uaria: Poliziano e a cultura humanística portuguesa no tempo
de D. João II e D. Manuel I – bnp inc. 146, 1035, 1036

Poliziano – Opera. Ed. Alexander Sartius. Florencia: Leonardo Arigi, 10 Ag.


1499. bnp inc. 146 [13]
Poliziano – Opera, ed. Alexander Sartius, Veneza, Aldo Manucio, Julho
1498. bnp inc. 1035 [14]
Poliziano – Opera, ed. Alexander Sartius, Veneza, Aldo Manucio, Julho
1498. bnp inc. 1036 [15]

Pouco antes da sua morte, Poliziano estava disposto a redigir uma obra épica em
latim sobre as conquistas ultramarinas do reino de Portugal, ao serviço de
D. João ii, como ficou consignado na correspondência conservada. A morte do
humanista truncou o projeto. No entanto, o magistério de Poliziano sobre a gera-
ção palaciana portuguesa do reinado de D. João ii e do de D. Manuel i constitui
um aspeto fundamental para explicar a génese e as caraterísticas do primeiro
humanismo português, em boa medida determinado pelas predilecções de

D E I TÁ L I A A P O RT U G A L O S I N CU N Á B U L O E O S L E I TO R E S 45
Poliziano no estudo da Antiguidade. A sua preferência por Plínio e os elegíacos
estará na génese da leitura, estudo e apropriação destes autores que se observa
em Luís Teixeira, Martim de Figueiredo ou Sá de Meneses, entre outros.
Os três incunábulos da bnp conservam, de resto, os Opera de um dos huma-
nistas italianos que mais influenciaram os diversos ‘humanismos’ europeus, de
António de Nebrija a Erasmo, de Luís Vives a Fernando Oliveira.
Poliziano deu um curso privado um grupo de alunos portugueses, junta-
mente com alguns estudantes ingleses, em 1489, dedicado à Historia Natural de
Plínio, como esclarece a subscriptio de um exemplar pliniano da Bodleian Library
de Oxford. Neste grupo contava-se seguramente Martim de Figueiredo, para
além dos irmãos Teixeira e Aires Barbosa (tarrío 2007).
O vínculo privilegiado dos cortesãos lusos no tempo de D. João ii e de
D. Manuel i com o mestre florentino perdura até ao reinado de D. João iii, no
tempo do precetor castelhano Rodrigo Sanches103.
O seu princípio de estilo, a varietas104, a sua Musa poliédrica, assentava num
cânon de vários autores, com inclinação pelos nomes secundários, em particular
pela mollis lyra elegíaca.
Após a tradução latina da Ilíada na sua juventude (maïer 1966: 86-91),
escassamente cultivou a epopeia, tenfo produzido uma obra caraterizada pela
miscelânea formal e concetual de estirpe helenística105. Em carta a Bartolomeo
Fonzio, o próprio Poliziano contrastava a dedicação épica de contemporâneos
como Ugolino com a sua entrega a uma poesia menor106.

103 Os correspondentes da epistolografia de Sanches em Salamanca (como Baltasar de Teive, Cristóvão de


Miranda e Bartolomeu Filipe) surgem nas suas diversas laudes Politiani, em detrimento de humanistas mais
recentes como Budé (ramalho 1969: 350-352). Cf. Alcina Rovira (1976: 198-222).
104 Poliziano – Elegia viii, vv. 137-38, 142 (maïer 1966: 67). A Biblioteca de Poliziano, catalogada e descrita
por Maïer em 1965, é espelho do seu ideal estilístico e filológico: a varietas (maïer 1966: 67-68,
203-215).
105 O projeto de escrita de um poema épico da família Medici não chegou a tomar forma orgânica. Desde a sua
juventude, alternou a tradução da Iliada com o cultivo da poesia helenística grega e a elaboração de
traduções diversas, como o idílio de Mosco e epigramas da Antologia de Planudes. A sofisticação e a
densidade destas poesias de dimensão limitada acomodavam-se mais ao seu temperamento poético, tal
como o seu trabalho sobre os elegíacos, que o ocupou desde o período de 1471-1475 até aos anos da sua
docência universitária (maïer 1966: 105-115).
106 Angelus Politianus Bartholomeo Fontio, ed. Maïer (1966: 72-82). (cfr. maïer 1966: 99-115).

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A sua docta varietas cultivou ainda os metros populares da poesia vulgar
desde a juventude107, faceta consagrada na sua participação na Raccolta Aragonese,
antologia de rime volgari de 1476-1477, oferecida pelo ‘Magnífico’ a Federico de
Aragão, e precedida de uma carta-prefácio de Poliziano108.
A Raccolta, como o Cancioneiro Geral de García de Resende, mais concreta-
mente as trovas do grupo dos “latinos”, são recolhas poéticas que resultam da
atração da aristocracia pela poesia tradicional e popular, filtrada pela formação
erudita. O resultado são obras de forjada improvisação, da estudada ‘dessenvol-
tura’ própria da civilização cortesã.
Na esteira da tradição trovadoresca, a Tenzone d’Amore e Fortuna partia,
como outras composições corais do círculo dos Medici, de um tema fixado por
Lorenzo de Medici para suscitar a discussão poética dos diversos cortesãos,
sujeita às mesmas rimas109, tal como o debate sobre o extenso cuidar e sospirar
que abre o volume resendiano de 1516.110
A poesia tradicional de João Rodrigues de Sá de Meneses, João Rodrigues de
Lucena, Duarte de Resende, Aires Teles ou Luís da Silveira, inclui traduções de
Ovídio, uma homenagem a Tibulo e perguntas imbuídas da cultura humanísti-
ca. Os autores cresceram num ambiente palaciano deslumbrado pelo magistério
humanístico de Poliziano, e responderam ao seu apelo à docta uarietas, à Musa
uaria seduzida pela poesia romance tradicional.

107 Foi autor de dez rispetti continuati, uma centena de rispetti spicciolati e trinta canzoni a ballo, escritas em
1480-1489. Podem ler-se na ed. de Carduci (1912: 2-244). As formas populares cultivadas por Poliziano
foram duas: rispetti e strambotti, octossílabos destinados geralmente à canção amorosa e as canzoni a ballo ou
ballati, com estruturas métricas variadas dependendo do tema, com um refrão retomado por um grupo de
músicos ou cantores de coro. O verdadeiramente popular é o primeiro. As baladas, após a sua nobilitação
literária com Dante, Boccacio e Petrarca, a partir de finais do século xiv entraram no domínio popular,
onde o esquema tradicional serve conteúdos burlescos, satíricos ou obscenos. No tempo de Poliziano, as
baladas eram compostas maioritariamente por burgueses cultivados à imitação dos usos populares (maïer
1966: 225-229, 244, 252-253).
108 Deste teor e com e mesma cronologia são as poesias de Luigi Pulci, o conjunto Tenzone d’Amore e Fortuna
elaborado por vários poetas como Poliziano nos anos subsequentes à conjuração dos Pazzi. (Cf. maïer
1966: 239-243).
109 Esta tenzone foi copiada no Mss. Sess. 413 da Biblioteca Vittorio Emanuele de Roma, f. 418-419.
110 Também contrasta rimas o extenso debate que abre o Cancioneiro Geral: “Pergunta que fez Jorge da Silveira
a Nuno Pereira, porque indo ambos por ũu caminho vinha Nuno Pereira muito cuidoso e Jorge da Silveira
doutra parte dando muitos sospiros, sendo ambos servidores da senhora dona Lianor da Silva”, Canc. Geral,
ed. Aida Fernanda Dias (1990-94: 1, 13-126).

D E I TÁ L I A A P O RT U G A L O S I N CU N Á B U L O E O S L E I TO R E S 47
VI A leitura de Plínio e rerromanização de Portugal – bnp inc. 992

Plínio – Historia naturalis. Ed. Hermolaus Barbarus et Johannes Baptista


Palmarius. Venecia: 1497. bnl inc. 992 [10]

Um leitor português ou com horizonte geográfico português é o que denuncia a


nota manuscrita latina que explica a localização atual de uma referência topográ-
fica pliniana (nat. 3.6: In carrinensi hispaniae agro): “perto de Coimbra, num
burgo do campo hoje denominado Cadina”: “prope Conimbricam, in agro oppi-
di quod nunc Cadina” (bnp inc. 992, f. d iiii).
Ao leitor deste incunábulo importa sublinhar a correspondência antiga de
uma povoação, que por sinal ainda hoje efetivamente existe em Cantanhede,
Coimbra.
A mesma mão de traço humanístico renascentista sublinha o termo pliniano
Bracatum na parte da Naturalis Historia dedicada à Hispania citerior (nat. 3.3)
com a anotação Bracarorum (f. d vi).

48 L E I TO R E S D O S CL Á S S I C O S. P O RT U G A L E I TÁ L I A , S ÉCU L O S XV E XV I | A N A M A R Í A S. TA R R Í O
O exemplar ilustra uma vertente específica da leitura da polifacetada obra
pliniana no século xvi: a sua funcionalidade político-geográfica no tempo da
constituição de uma nomenclatura geográfica humanística válida para a Península
Ibérica.
Era o tempo em que os humanistas portugueses trabalhavam para a reconfi-
guração do rosto de Portugal perante a Europa como o sucessor do império
romano, no quadro do motivo antigo da translatio imperii.
A rerromanização implicava a reunião de vestígios do passado romano como
marca de prestígio (tarefa consagrada pelas Antiguidades da Lusitânia de André
de Resende) assim como a relatinização da própria língua materna. A contro-
versa renomeação de Portugal como Lusitania – que contou com críticas de natu-
reza filológica e historiográfica dentro e fora de Portugal – fazia parte de uma
pesquisa filológica e antiquária que procurava recuperar a terminologia topográ-
fica antiga e adaptá-la à geografia política contemporânea. Pelo menos desde
Antonio de Nebrija, a recuperação problemática da nomenclatura geográfica
antiga foi central na produção humanística, na qual se debatia a necessidade de
parcial adaptação, o perigo do anacronismo, a emenda de erros antigos.
A circulação em Portugal do trabalho humanístico de Hermolao Bárbaro
confirma-se pelo conhecimento e citação deste humanista italiano por parte de
João Rodrigues de Sá de Meneses no seu tratado De platano, onde expressa a
admiração dos seus pares por esta “autoridade” humanística (tarrío 2009:
93).
Da sorte posterior do exemplar dá conta a marca de posse da Biblioteca de
São Vicente de Fora (f. a i).

D E I TÁ L I A A P O RT U G A L O S I N CU N Á B U L O E O S L E I TO R E S 49
VII Aníbal em Azamor: A historiografia romana como modelo
e premonição para a Expansão Portuguesa (bnp inc. 524)

Tito Lívio – Historiae Romanae Decades. [Treviso: Lucas Porrus, 1485]. bnp
inc. 524 [5]

Ainda que Tito Lívio não tenha sido um autor propriamente obscuro durante a
Idade Média, para uma parte considerável das suas Décadas os únicos testemu-
nhos conservados remetem para o trabalho humanístico italiano, a começar por
Petrarca, cuja intervenção foi essencial na história da transmissão textual desta
obra, particularmente na fixação dos livros 21 a 25 da terceira década.
É o caso do passo das Décadas (12. 51. 4), que serviu de fonte para uma pará-
frase inserida por João Rodrigues de Sá de Meneses numa composição publica-
da no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende: “Trova de Joam Rodriguez de Saa
a Dom Joam de Meneses em Azamor, a primeira vez que laa foi, o dia que pele-
jou com os mouros” (ed. Aida Fernanda Dias 1990-94: 2, 463, 440).

50 L E I TO R E S D O S CL Á S S I C O S. P O RT U G A L E I TÁ L I A , S ÉCU L O S XV E XV I | A N A M A R Í A S. TA R R Í O
Soube vencer Anibal
mas nom usar da vitoria
que de Roma tinha a vida
e se crera Maarbal
ficara sua memoria
sobre todas estendida.

Meneses traduz literalmente a sentença pronunciada por Maharbal, lugar-te-


nente de Aníbal, de acordo com Tito Lívio (12. 51. 4): vincere scis, Hannibal; vic-
toria uti nescis, e parafraseia a explicação do historiador antigo: mora eius diei satis
creditur saluti fuisse urbi atque imperio (‘diz-se que a demora de um dia foi a sal-
vação da cidade e do império’) (Canc. Geral, ed. Aida Fernanda Dias 1990-94: 2,
463, vv. 1-6, 440).
Pormenores desta paráfrase, que segue muito de perto o texto latino,
excluem outras fontes antigas que mais brevemente aludem ao célebre exem-
plum, como Catão, Floro e Amiano Marcelino ou Aulo Gélio (Cfr. Flor., I, 22,
19)111, assim como a tradução castelhana desta obra latina, elaborada por Pero
López de Ayala. O conselho do lugar-tenente de Aníbal não consta nesta
tradução, que apresenta uma lacuna na terceira década, do segundo ao quinto
livro112.
O poeta adverte o seu tio, D. João de Meneses, de que a demora no ataque à
cidade norte-africana de Azamor, cercada pelas tropas portuguesas, podia ser
fatal, como ilustrava a dilação de Aníbal às portas de Roma, que significou a
perda da cidade.
A memória de Aníbal às portas de Roma, regressando à sua originária terra
africana, projeta-se sobre o capitão português, num jogo intertextual munido de
capital simbólico: agora são os antigos bárbaros da Lusitânia os que recuperam
e assumem o papel conquistador/civilizador do romano nas costas de África
(Canc. Geral, ed. Aida Fernanda Dias 1990-94: 2, 463, 440).
D. João de Meneses fora aio e mordomo-mor do príncipe D. Afonso, com o
qual estava no dia da sua fatídica queda do cavalo. Também foi ‘mordomo-mor’
de D. João II e de D. Manuel, governador e capitão-general das praças africanas.
Depois de combater em Arzila em 1495, que governou desde 1502, participara

111 Amiano Marcelino veicula uma versão indireta e diversa (xviii 5.6). Valério Máximo não regista a célebre
frase de Maharbal (ix. 5, 3), como Aulo Gélio (Gell. x, xxiv, 7).
112 A tradução castelhana de Ayala não regista o episódio. Ela pode ler-se, na edição de Salamanca de 1497, em
bnp inc. 501. Apenas no capítulo iij do livro vi da ‘Segunda Decada’ se relata ‘como anibal fue cercar a roma
et perdida esperança dela aver se partio dela cerca a Carthago’ (bnp inc. 501, f. cx v.o). A descrição do cerco
de Roma por Aníbal não incorpora o passo (bnp inc. 501, in f. cx j).

D E I TÁ L I A A P O RT U G A L O S I N CU N Á B U L O E O S L E I TO R E S 51
na frustrada campanha a Azamor, em 1508, e na sua conquista posterior, em
1513, na qual se situa a composição menesiana.
Tio e sobrinho compartilham um universo de leituras clássicas, indesligável
da necessidade de ação, exemplificando o novo modelo de fidalgo letrado man-
uelino. Ambos beneficiaram da educação palaciana do príncipe D. João, e, de
acordo com o pai de Sá de Meneses, Henrique de Sá, ambos se entregavam, em
plena campanha africana, à composição de trovas113.
A inteligência de quem cita, a erudição com tendência para a aplicação mun-
dana e até sarcástica confirmam-se pela leitura do conjunto da obra romance de
quem será alcaide-mor do Porto. Ora este tipo de atualização dos autores anti-
gos como paradigmas admonitórios ou faróis que projetam luz sobre a realidade
contemporânea é caraterístico nos comentadores humanísticos, na esteira da
historia magistra uitae ciceroniana. Assim, na sua explicação de Suetónio,
Beroaldo aconselhava Annibale Bentivoglio a não se deixar dominar pelos seus
ministros, como Cláudio, ou a não ser avaro, como Galba114.
A Praefatio in Suetonii expositionem de Angelo Poliziano, por seu lado, inicia-
va com a reflexão do estimulante papel da leitura dos historiadores antigos para
os próceres, antigos e modernos115. No ano escolar de 1490-1491, no qual os
irmãos Teixeira frequentavam o Studium florentino como alunos de Poliziano
(verde 1977: 923; costa 1987: 267-68), este humanista explicou, nesta aca-
demia, Suetónio (um autor que o tinha ocupado pelo menos desde 1480), jun-
tamente com Quintiliano e a Ética a Nicómaco de Aristóteles (maïer 1966: 136,
372, 389, 432; cfr. fera 1983).
A sombra de Aníbal perante Roma, que se projetava impressivamente sobre
a figura de D. João de Meneses às portas de Azamor, aplicava a lição de Poliziano:
a obra de Suetónio, como a de Tito Lívio, é turris ou atalaia da qual atingimos
mais sagazmente o presente, ou então é o scopulum que nos salva no mar proce-
loso da dúvida, na rápida sequência da vida116.
Ora, no tempo dos Descobrimentos tornava-se mais premente a rapidez do
tempo histórico117 e mais urgente a necessidade dos dirigentes portugueses de
toda a classe de atalaias, torres e portos oferecidos pela prestigiante e paradig-

113 Sobre D. João de Meneses veja-se Terra (1985: 2, 208-209). As suas cartas foram editadas por este
investigador em Terra (1985: 3, 252-256, 260-263).
114 No seu comentário às Philippicae de Cícero, Beroaldo exortava os seus compatriotas a salvaguardar a cidade
de Lanterna, partindo do elogio ciceroniano ao cônsul Hírcio por ter conquistado esta cidade. Vejam-se
esta e outras digressões transcritas e comentadas por Casella (1975).
115 Praefatio in Suetonii expositionem in Omnia opera Angeli Politiani. Ed. Alexander Sartius. Venecia: Aldo
Manuzio, 1498, f. aav v.oss (bnp inc. 1035).
116 bnp inc. 1035, Praefatio, f. aa ix v.o-aa x.
117 Garin (1975: 330-362) estudou monograficamente o eco dos Descobrimentos na cultura renascentista, a
aceleração e as crises na consciência do tempo histórico.

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mática cultura antiga, nos mares procelosos da expansão ultramarina (Carvalho
1949: 192-197, 300). Todo o saber e toda a história romana revelaram-se, no
entanto, pequeno arsenal contra os perigos das guerras de conquista e a sorte da
frágil condição humana.
A carga histórica e simbólica do passo acresce com o iminente desfecho para
D. João do episódio africano, que se saldou com a sua morte, nessa mesma praça
de Azamor em 1514.

VII As Metamorfoses e a imagética poética quinhentista – bnp inc. 831

Ovídio – Opera. Ed. Bonus Accursius. Veneza: Bernardino Rizzo, 27 Nov.


1486. bnp inc. 831 [9]

A imagética da poesia dos fidalgos alatinados do Cancioneiro Geral de Garcia de


Resende dependia a tal ponto da leitura das Metamorfoses que D. Francisco de
Portugal se queixava dos fidalgos latinos do seu tempo porque sabiam de cor
toda a obra e sobretudo porque a viviam em excesso, como homens assombra-
dos sob o signo do latim, com a existência pendurada dos livros antigos e do seu
studium118.
Era sem dúvida uma obra de uso escolar, com a qual estes fidalgos da corte
manuelina tinham aprendido latim. Continha além disso uma potencialidade
metafórica sem igual para a escrita de poesia. Os seus exempla ficaram impressos
na fantasia desses fidalgos, de tal maneira que povoavam a sua vida no Paço,
desde os eventos festivos em invenções e momos até os detalhes mais quotidia-
nos e mundanos, como se observa particularmente nas trovas do tradutor das
Heroides João Rodrigues de Sá de Meneses (publicadas também na mesma cole-
tânea poética) e do seu círculo (Luís da Silveira, Aires Teles, D. João de
Meneses...).
A existência cortesã ficava transmutada num patamar de universalidade e
distinção: Hércules eloquente, Marte subjugado por Vénus ou Orfeu dotavam
de sentido o esforço dos fidalgos manuelinos por conciliar a pluma e a espada
nas batalhas no norte de África, e explicavam a tensão entre o cultivo da poesia
épica e o da poesia amorosa. Faetonte descia ao Paço para ridicularizar um
manto demasiado amarelo vestido por Luís da Silveira (visionado como o Sol

118 ‘Outra sua a Aires Teles’, (Canc. Geral, ed. Aida Fernanda Dias 1990-94: 2, 367, 137-138).

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que queimou Faetonte). De Atlas se vestiu este fidalgo numa original “invenção”
também ridicularizada por Sá de Meneses119.
A modalização intensamente iconográfica destas figuras das Metamorfoses
na poesia manuelina situa-se no tempo do Ovide imagisé de Barkan (1986:
186ss), que sublinhou o papel crucial das edições ilustradas de Ovídio na
cultura artística de finais do século xv. A expansão do Ovídio ilustrado impres-
so na cultura aristocrática contava nesta época com brilhantes expressões artís-
ticas como a Villa Farnesina de Peruzzi, em Roma, decorada com os trabalhos
figurativos de Rafael e Sebastiano del Pombo. Obras literárias como a Bible des
poètes de Antoine Verard, impressa em Paris, em 1493, e peças figurativas como
as poesie de Tiziano evidenciam como era então indesligável a descrição verbal e
a apresentação visual do mito antigo, e, por outro lado, demonstram o papel cen-
tral de Ovídio nesta interrelação.
Na órbita do Ovide imagisé deve inserir-se o exemplar veneziano da
Biblioteca Pública de Évora que exemplifica a edição ilustrada das Metamorfoses
no tempo do Cancioneiro Geral (Ovídio – Metamorphoses. Venecia: per Joannem
Thacuinum de Tridino, 1513. bpe s. xvi 1938).
A primeira editio ilustrada de Ovídio remonta ao ano de 1484, devida ao
impressor Colard Mansion em Bruges, que seguiu à primeira editio impressa de
Ovídio de 1471. De maior divulgação e impacto foi a editio ilustrada de Veneza
de 1497, com o texto ovidiano traduzido para italiano. Sucessivamente reimpres-
sa, a iniciativa determinou a imagética literária e pictórica dos artistas contem-
porâneos e a cultura aristocrática que os subsidiava (wilkinson 1962:
196-197).

119 (Canc. Geral, ed. Aida Fernanda Dias 1990-94: 2, 493, 465; cfr. tarrío 2002, 2014).

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VIII Alimento do diabo: a recuperação da poesia amorosa latina
na corte manuelina e a questão épica no Renascimento português –
bnp inc. 751

Catulo; Tibulo – Propércio. Coment. Bernardinus Veronensis. Venecia:


Boneto Locatello para Ottaviano Scoto, 9 Dic. 1491. bnp inc. 751 [1]

Um vento de irreverência sarcástica e sensual, uma forma de peculiar paganismo


cortesão perpassa nas trovas do grupo dos mofinos do Cancioneiro Geral, nasci-
dos sob o signo do latim.
O beijo descrito por Fernão da Silveira na sua «Trova a Dom Rodrigo de
Castro quando este ao beijar uma dama ela lhe meteu a língua na boca» incorre
numa procacidade digna de Catulo:

Pois mediste assim crua


a sua língua co’a vossa,
dizei-nos qual é mais grossa,
se a vossa, se a sua.
Também queremos saber
até onde foi metida
e qual era mais comprida,

D E I TÁ L I A A P O RT U G A L O S I N CU N Á B U L O E O S L E I TO R E S 55
mais solta no remexer.
Se veio tal falcatrua
por sua parte ou por vossa,
nos dizei qual é mais grossa
se a vossa se a sua
(III 604, 284-286).

Outro beijo entre duas damas desata glosas “sem empacho” à homossexual-
idade da “machoa” que “refiava e beijava Dona Guiomar de Crasto” iniciadas por
D. João de Meneses (Cancioneiro Geral, ed. Aida Fernanda Dias 1990-94: 3, 586,
198-199). Os versos dedicados à braguilha de Dom Goterre insistem numa
obscenidade priapeia no seio do mesmo círculo de trovadores (Cancioneiro
Geral, ed. Aida Fernanda Dias 1990-94: 3, 587, 199-204).
Mas as traduções ovidianas e a versão em trovas do epitáfio de Tibulo são
sinais totalmente inequívocos da leitura intensiva da poesia amorosa latina por
parte de Sá de Meneses e o seu contexto palaciano. Neste âmbito figurava
Lourenço de Cáceres, cuja competência poética fazia obscurecer o nome de
Catulo, segundo Pedro Sanches (conatur nomen docti obscurare Catulli, (cipl, i,
16)).
A leitura desta poesia no círculo manuelino decorre do seu protagonismo na
atividade editorial humanística italiana e da sua rápida divulgação, graças ao seu
eficaz consórcio com o mercado impressor itálico.
A história da transmissão textual revela que o Renascimento foi o grande
momento dos autores elegíacos, com decisivas consequências para a poesia
amorosa romance, desde a leitura de Petrarca do manuscrito veronense de
Catulo, redescoberto em 1300, de Propércio, de quem copiou um manuscrito na
Sorbona, e de Tibulo120.
Edições impressas que publicavam conjuntamente Catulo, Tibulo e
Propércio, como a representada em bnp inc. 751, consolidaram a perceção dos
três poetas latinos como representantes da poesia amatória, segundo um critério
temático diverso da adscrição à poesia elegíaca, que associava Tibulo e Propércio
pelo seu maciço cultivo do dístico elegíaco.
A importação de edições da poesia amorosa latina em Portugal foi sem dúvi-
da mais fluida nesse tempo anterior à implantação da Inquisição em Portugal,
em 1537, período caracterizado ainda por uma certa ‘indeterminação ideológi-
ca’ (cidade 1964: 54; carvalho 1947: 2-3; saraiva 2000: 190).

120 (sabbadini 1967: 23; Tarrant in reynolds 1986: 43, 324-325, 422-423 cfr. ullman 1982: n. 12, 44-45).

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Os editores e comentadores italianos orientaram os leitores na acomodação
dos poetas latinos do amor à cultura cortesã, a partir de parâmetros natural-
mente mais mundanos do que aqueles que caracterizaram a sua transmissão e
receção medievais.
Assim, incluía uma apologia desta poesia antiga a pequena história do géne-
ro elegíaco escrita por Bernardino Veronense no início do seu comentário às
Elegiae de Tibulo, valioso fragmento da história da receção dos elegíacos que fig-
ura na edição de Veneza (1491) de bnp inc. 751 (bnp inc. 751, f. a ii v.o.- a iii).
A sua leitura bem pode estimular a curiosa decisão de Sá de Meneses de tra-
duzir em trovas a homenagem a Tibulo em forma de epitáfio em verso latino,
poema atribuído a Domício Marso, que também ocorre na última folha deste
incunábulo, a seguir ao último verso das Elegiae e da Vita Tibulli.
António Parténio, editor e também comentador de Catulo, dedica o seu tra-
balho a Júlio Pompónio, regente da Academia florentina. Pressionado por insis-
tentes cidadãos (cives), decidiu-se a resgatar das trevas um auctor lepidissimus,
poeta superior com inventiones iuveniles que no entanto encerram múltiplos
saberes e até sentenças de grande prudência.
Paládio Fusco, no seu comentário a Catulo, recomendava também a leitura
do procaz poeta latino enquanto modelo insuperável de escrita poética121, em
carta dedicatória dirigida a Lorenzo Brigadin, na altura um prometedor jovem
patrício entregue aos studia humanitatis, antes de ser absorvido pela uita ciuilis
véneta122. Após uma Vita Catulli que não se furtava à interpretação do passer
catuliano, Paládio insistia nas incomparáveis virtudes do poeta latino na sua ded-
icatória ao leitor. Nela sobressai a declaração do seu gosto individual pelo poeta
latino e também a ausência das justificações e pedidos de desculpa, tradicional-
mente associados à receção de Catulo, na esteira patrística (umbp Inc 33, f. f ii).
Este tempo de importação dos elegíacos difere do período da censura
pós-tridentina, que afetaria a entrada destas obras em território nacional. Já no
Rol dos livros que neste reyno se prohibem de 1564 se advertia que ‘os livros que
de proposito tratão de cousas lascivas & deshonestas, ou as contão ou ensinão,
totalmente sejão prohibidas’, com a ressalva de que ‘os antigos compostos por
gentios permitirseam pola elegancia & propriedade de que usam, mas de nenhua
maneira consintão que se leam aos moços’123. No Index auctorum damnatae
memoriae de 1581, frei Bartolomeu Ferreira recomendava evitar a ‘lição dos
Livros em que há desonestidades ou amores profanos’, e no Index de 1624 a

121 «[...] elegantissimi lectione adeo delectari ut in hoc scribendi genere eum unum secutus carminis argutia
atque lepore ipsum nobis mirifice effingas», ‘Palladius Fuscus iuveni clarissimo Laurentio Bragadeno
patricio veneto foelicitatem’, (umbp Inc 33, f. f ii).
122 Vide Laurentius Brigadinus ou Lorenzo Brigadin, no Dizionario Biografico degli Italiani 13 (1971), s. u.
123 Pode-se ler este texto em bnp res 1414 p. e na edição de Sá (1983: 461).

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proibição é categórica no que respeita às Heroides, às Metamorphoses e à Ars
amandi (Soares 1983-84: 271-348; Terra 1985: 2, 278).
A censura afetou sintomaticamente uma obra parcialmente derivada das lei-
turas agora licenciosas: o próprio Cancioneiro de Resende, como revela o exem-
plar da Biblioteca Nacional de Portugal (res. 111 a.), o qual foi rasurado por
irreverência religiosa e explícita sensualidade, em intervenções datadas de 1624
(terra 1985: 2, 219, 255).
A educação dos fidalgos manuelinos não se cingia pois à linha considerada
predominante do humanismo peninsular, a concepção edificante e utilitarista do
saber, que restringia a lista de autores antigos que deviam ser lidos, de acordo
com M.a Rosa Lida de Malkiel, Nicholas Round, Francisco Rico, Domingo
Ynduráin o Luis Gil Fernández, entre outros124.
O legado humanístico à disposição dos leitores portugueses dos reinados de
D. João II e de Manuel I era polifacetado e até contraditório relativamente à
receção humanística da poesia erótica latina. Para Salutati, Vittorino da Feltre e
outros educadores italianos do Quattrocento, a leitura dos clássicos estava
sujeita a um programa edificante125. Na esteira patrística, a poesia amorosa lati-
na só podia ser aproveitada enquanto figmenta ou integumenta (serés 1997: 246-
252). A sua leitura com reservas e sob caução sapiencial observa-se em Valla
(dionisotti 1968: 45), na linha de Petrarca e Boccacio, ostensivamente seduz-
idos por estes poetas latinos e ao mesmo tempo seus censores, na qualidade de
autores frívolos e irreverentes (barkan 1986 173ss). Tal dualidade encontra-se
na obra de Piccolomini, cultor das Heroides, que posteriormente repudiou os
seus desvios juvenis, e também em Giovanni Pico della Mirandola126. Erasmo
retomava pois a tradicional acomodação edificante de matriz patrística quando
aceitava com reservas os lascivos poetas mediante o recurso à sua leitura moral-
izada, tal como o seu tradutor para castelhano, Juan Rodríguez del Padrón, e o
tradutor francês, Guy Morillon127.
A duplicidade humanística relativamente ao cânone elegíaco espelha-se na
obra de Cataldo Sículo. Este compara D. Pedro de Meneses com Propércio e
Tibulo128 e simultaneamente previne D. João ii de que seu filho D. Jorge, de
quem era mestre, se entregava em excesso à leitura de Ovídio, assim como criti-
ca o filho de António Caeiro por ler os Amores (ramalho 1971-72: 444).

124 (round 1962; malkiel 1974; 1975; rico 1978; ynduráin 1994; gil fernández 1984, 16-92).
125 (camillo 1976: 34, 140ss; garin 1976; kristeller 1982; ynduráin 1994).
126 Vejam-se os poemas publicados em Perosa (sparrow 1979: 29, 164-65).
127 Griffin (1993: 44-47) notou a sua instrumentalização retórica na edição sevilhana de Núñez Delgado de
1529 (cfr. bataillon 1966:2, 305; terracini 1979: 15, 39, 57ss).
128 ‘Cataldus Petro comiti Alcotini. S’, Ep., I (f. e vi verso).

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Mas os bastiões do comentário filológico da última parte do século, como
Poliziano, cujo magistério foi decisivo na corte joanina, exprimiram com menos
prevenções o seu deleite com os estimulantes livros amatórios (libellos amato-
rios cupidinis uredine mellitissima stimulante compositos129).
Sá de Meneses representa particularmente o legado de Poliziano, com a sua
explícita atração pela musa elegíaca e pela poesia tradicional vernácula, regres-
sando assim à mesma raiz das nugellae vulgares de Petrarca, num movimento
afim do consagrado por Juan del Encina na sua Arte de poesía castellana130.
A recuperação humanística de Tibulo, assim como de Catulo e dos restantes
elegíacos latinos, foi decisiva para a poesia lírica portuguesa quinhentista. Estes
autores antigos consagraram uma forma de resposta ou recusatio perante a
urgência de poesia épica própria da expansão imperial, concebida como reivin-
dicação de uma opção lírica pessoal, de uma Musa leuis privada.
A pressão sobre os poetas portugueses para que escrevessem uma epopeia à
altura de Vergílio é já evidente no Prólogo de Garcia de Resende ao Cancioneiro
Geral e na literatura neolatina portuguesa desde as últimas décadas do século xv,
e prolongar-se-á durante todo o século xvi até ao período camoniano (António
Ferreira, Diogo Bernardes, Andrade Caminha). Só Luís de Camões terá assumi-
do a ousadia de tentar superar a ‘angústia da influência’ exercida pela epopeia
antiga.
A lição elegíaca dos autores manuelinos terá continuação na geração camo-
niana, em poetas como Diogo Bernardes ou António Ferreira, os quais, sem dei-
xar de invocar a urgência de um novo Vergílio, se entregavam a práticas bucóli-
cas, amorosas e epistolares mais próximas de Tibulo e de Propércio (tarrío
2006).

129 (dionisotti 1968: 98; wilkinson 1962: 195; trinkaus 1982: 117).
130 (terracini 1979: 132, 156 cfr. clarke 1952-53: 254-349).

D E I TÁ L I A A P O RT U G A L O S I N CU N Á B U L O E O S L E I TO R E S 59
IX Cícero, luz da Europa. A tradução de Duarte de Resende – inc. 892,
res. 5381 p.

Cícero – De Officiis, De Amicitia, De Senectute, Paradoxa. Venezia: Boneto


Locatello para Ottaviano Scoto, 27 maio 1494 bnp inc. 892 [2]

Cícero – Officia, De Amicitia, De Senectute, Paradoxa. Somnium Scipionis.


Basileiae: in Officina Frobeniana, 1528 bnp res. 5381 p.[3]

«El gran Cicerón fue luz de toda Europa», dizia Antonio de Guevara no
«Prólogo» do seu Relox de príncipes de 1529, dedicado a Carlos V, de quem era
cronista oficial desde 1522131. Em Coimbra, em 1531, Duarte de Resende publi-

131 Antonio de Guevara – Relox de príncipes. Ed. Emilio Branco (1994: 26).

60 L E I TO R E S D O S CL Á S S I C O S. P O RT U G A L E I TÁ L I A , S ÉCU L O S XV E XV I | A N A M A R Í A S. TA R R Í O
cou uma tradução portuguesa do Arpinate: Tratado da amizade, Paradoxas e
Sonho de Scipião132.
O tradutor tinha sido um dos poetas do Cancioneiro Geral na órbita da aula
de letrados manuelina (tarrío 2010). Terá elaborado esta tradução, no impro-
vável espaço das Ilhas Molucas, onde residiu como administrador da coroa por-
tuguesa. Em 1531 dedicou esta tradução ao seu parente Garcia de Resende, pela
«afeyção e amor que a este excelente e singular barão e as suas obras tenho»
(f. a ii).
Partira em 1520 na armada de Jorge de Brito para Oriente, onde recebeu um
exemplar da Crónica do Emperador Clarimundo (1522) enviada por João de
Barros, seu parente. Em 1530 regressou a Portugal, onde este humanista lhe
dedicou o seu Ropica Pnefma133.
Avelino de Jesus da Costa apontou o vínculo desta tradução com a edição
destas obras de Cícero, impressa em Bolonha e registada no inventário de livros
adquiridos por D. Jorge da Costa, arcebispo de Braga, antes do seu falecimento
em 1501134.
A Biblioteca Nacional de Portugal conserva um exemplar veneziano de
Cícero (De Officiis, De Amicitia, De Senectute, Paradoxa) do tempo deste arcebis-
po, comentada por Petrus Marsus (Venezia: Filippo Pinzi, 16 julho 1493, bnp
inc. 861), além de outros exemplares impressos nesta época, noutros prelos
europeus135.
Não há que pôr em causa a circulação de edições ciceronianas impressas em
prelos italianos no contexto da corte manuelina que foi o da juventude deste tro-
vador e tradutor português.
A tradução foi elaborada, no entanto, numa fase ulterior da vida deste fidal-
go, que provavelmente usou uma edição erasmiana, como a que figura em bnp

132 Duarte de Resende – Tratado da Amizade, Paradoxos e Sonho de Cipião traduzidos de Latim em Linguagem
Portuguesa por Duarte de Resende, Cavaleiro Fidalgo da Casa del Rei Nosso Senhor. Coimbra: Germão Galharde,
1531 (Palácio Ducal de Vila Viçosa, Mss. BdMii 73). Buescu (1982) publicou uma edição desta tradução
com lacunas de vários fólios e passos. bnp res. 6029 p. contém um fragmento desta tradução utilizado
como folha de encadernação. Veja-se Tarrío (2010).
133 (Cfr. machado 1965:2, 742; Biblos, s. u., 718-719; Barbieri in tavani; lanciani 1993: 224-225).
134 N.o 16 do catálogo de Costa (1985: 21).
135 A Biblioteca Nacional de Portugal conserva várias edições ciceronianas impressas nesta época. Além das
francesas (Paris: Poncet le Preux, Antinii Bonnemere, 1509, bnp res. 1082 a.; id., venundantur Lugduni:
Petre Balet, 1516, bnp res. 1266 v.) pode-se consultar também a edição de Erasmo (bnp res. 5380 p.).

D E I TÁ L I A A P O RT U G A L O S I N CU N Á B U L O E O S L E I TO R E S 61
res. 5381 p.136. Neste exemplar foi significativamente riscado o nome de Erasmo
e também o do seu antigo possuidor.
A circulação das edições de Cícero, preparadas por Erasmo, na corte portu-
guesa contemporânea deduz-se também de outra tradução, a de Damião de Góis
do tratado De senectute, concebida no período de convivência do humanista por-
tuguês com Erasmo (osório 1995: 194ss)137. João de Barros, no seu Diálogo da
viciosa vergonha de 1540, reconhece igualmente o uso da tradução latina desta
obra de Plutarco elaborada por Erasmo (révah 1966: 174)138.
A paixão por Cícero, associada ao cultivo da musa romance que singulariza
o fidalgo português, já distinguira o pai do humanismo, Francesco Petrarca.
Com efeito, entre os manuscritos antigos pertencentes a Petrarca, conta-se a
cópia manuscrita conservada na British Library, Harleianus 4927 (da segunda
metade do século xii), intensamente anotada pelo humanista139.
Assim sendo, o tradutor português, tal como Damião de Góis, associava-se
a uma ilustre genealogia de poetas e tradutores devotos de Cícero. Em âmbito
peninsular, um poeta reverenciado no Cancioneiro Geral, o marquês de Santillana,

136 Assim, a aclaração ‘fabula da tragédia’ perante o simples fabula do original latino seguramente provém da
anotação impressa na margem desta edição ‘m. Pacuuius tragoediam de oreste et Pylade’ (f. 178). A versão
do termo ‘agrigentinum’, traduzido por ‘Empédocles agrigentino’, encontra-se na glosa impressa
marginalmente (f. 178). Outro pormenor significativo é o facto de a tradução seguir a variante ‘tentatis
equis’, pois ainda que a lectio do impresso ofereça a variante incorreta ‘tentatis aquis’, uma anotação
manuscrita assinalou a variante ‘equis’, emenda retirada de Erasmo nas suas annotationes, impressas neste
exemplar. Erasmo, ‘in Librum de amicitia annotationes’, (bnp res. 5381 p., f. 27 v.o): «Quasi aquis
tempestatis.) aque mendose, ni fallor, in aliis scriptum habebatur, equis temperatis, legendum arbitror,
equis tentatis […]». O próprio título da tradução aponta para o título da edição erasmiana: Marci Tulli
Ciceronis Officia, De Amicitia, De Senectute, Paradoxa. Somnium Scipionis. De Senectute et Somnium Scipionis
etiam ex Theodori Gazae uersione. Omnia denuo uigilantiori cura recognita per Des. Erasmum Rot. Et Conradum
Goclenium deprehensis ac testitutis aliquot locis, non cuilibet obviis. Duarte de Resende indica que também tinha
traduzido o De senectute e o De officiis mas não os mandou imprimir conhecendo a recente tradução
castelhana: «[...] o que nam fiz em os De officis e Senectute porque estando pera os mandar com estes
impremir, os vi impresos tirados em lingoagem castelhana, e posto que minha trasladação pera os nossos
podera ser proveytosa, com tudo me temi de parecer superflua» (f. a ii). Aludia provavelmente à tradução
de Alonso de Cartagena. Sevilha: por Ladislao Pegnizer y Magnus Herbst, en 1501, como aponta Osório
(1995: 722).
137 Em todo o caso, não é de excluir a possibilidade de os tradutores trabalharem a partir de uma cópia manu-
scrita de uso, retirada de exemplar manuscrito ou impresso, prática corrente na época (reynolds 1986: 121-
-124. cfr. venini 1959; grespi 2004: 97; bates 1897). Considere-se por exemplo o manuscrito
contendo cícero, de officiis (1-118) e de amicitia (119-148), bnm mss/10246, que pertenceu ao
duque de Osuna.
138 Sobre a divulgação de Luciano traduzido por Erasmo no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende (tarrío
2002: 439-454).
139 Sobre as anotações de Petrarca ao manuscrito do texto ciceroniano da British Library Harleian, 4927, s. xii
(2.a met.) (pellegrin; billanovich 1954; nolhac 1892: 226-246; billanovich 1946: 100-101).

62 L E I TO R E S D O S CL Á S S I C O S. P O RT U G A L E I TÁ L I A , S ÉCU L O S XV E XV I | A N A M A R Í A S. TA R R Í O
já anotava passos de Petrarca com numerosas citações de Cícero140, bastante
antes da devoção erasmiana pelo autor antigo (margolin 1984: 129)141.
Os leitores quinhentistas encontravam no tratado De Amicitia um código da
amizade ideal, definida como a relação entre homens livres e iguais, fundamen-
tada no otium entregue à cultura, numa biblioteca partilhada, nas afinidades
electivas. Sintomática é, neste sentido, a troca de livros entre Duarte de Resende
e João de Barros, descrita pelo segundo na sua Dedicatória da obra Ropica
Pnefma142.
O prisma contemporâneo projecta-se sobre a tradução, na forma de ampli-
ações de pontos chave para os cortesãos quinhentistas, como o tópico dos maus
conselheiros, omnipresente na literatura renascentista (osório 1985-86: 195,
202, 246-247).
Como os tradutores ovidianos do Cancioneiro Geral, Duarte de Resende
oferece a sua tradução com a consciência do seu valor para a nobilitação da lín-
gua romance: «[...] bem creo que nenhuma das lingoas de Espanha (e se diser
de toda a Europa nam me arependerey) tem a ventagem da purtuguesa pera em
ella se tratar de graves e excelentes materias, como o sam as deste autor»143.
O tradutor de Cícero filiava-se assim no discurso de defesa e ilustração da
língua materna de Fernão de Oliveira e João de Barros, seu parente, por sua vez
inspirados na apropriação peninsular dos preceitos de Lorenzo Valla, isto é, na
ideia da língua companheira do império promovida por Antonio de Nebrija144.
Outro traço comum entre as traduções cancioneiris de Ovídio e a versão em
prosa de Duarte de Resende é a tendencial resistência ao latinismo, privilegian-
do o acervo patrimonial, no quadro da estratégia principal de adequar os conteú-
dos antigos ao auditório palaciano (tarrío 2010).
De resto, o conjunto da obra de Cícero, enquanto paradigma de dignificação
da língua pátria como língua de um império mas a expensas da cultura grega,
detinha uma decisiva atualidade neste período da história das línguas peninsu-
lares, como explicava Juan del Encina, no prólogo à tradução das Bucólicas : «no
rehusó aqueste exercicio Tulio, puesto en la cumbre de todos los ingenios, que
bolbió a la lengua latina muchas obras griegas ...»145.

140 (BnM Mss/10186, f. 196; carr 1981: 123-143; grespi 2004: 117, 194; schiff 1970: 275-303; alvar
1990: 23-41).
141 A tradução de Damião de Góis (ed. alves 2003) situa-se no período áureo da leitura de Erasmo em
Portugal (osório 1985-86: 207-209 cfr. nascimento 2006: 99-128).
142 João de Barros, «João de Barros ao senhor Duarte de Resende paz e saúde envia», Ropica Pnefma (1983:
3).
143 Duarte de Resende – «Carta sua a Garcia de Resende, Fidalgo da casa del rei nosso senhor e escrivão de
sua Fazenda» (Palácio Ducal de Vila Viçosa, Mss. BdMii 73, f. a i v.o).
144 (Asensio 1974; Santos 1975: 517 ss; Osório 1985-86: 226).
145 Juan del Encina – ‘Al muy esclarecido Príncipe D. Juan’ (1978: 211).

D E I TÁ L I A A P O RT U G A L O S I N CU N Á B U L O E O S L E I TO R E S 63
X Leitura e taxonomia: a terminologia médica, botânica e naturalística –
inc. 462, inc. 5041

Plínio – Historia Naturalis. Ed. Philippus Beroaldus. Parma: Andrea


Portilia, 13 feb. 1480 – bnp inc. 462 [12]

Antonio de Nebrija – Introductorium in Cosmographiam Pomponii Melae.


Salamanca: impr. De Nebrissensis Gramatica, ca 1498 – bnp inc. 5041 [6]

A lectio e a enarratio da enciclopédia pliniana ativaram um “laboratório filológi-


co” central do Quattrocento italiano, na denominação de Vincenzo Fera (1995;
1996), no qual brilhara Poliziano, juntamente com Hermolao Bárbaro, entre
outros humanistas contemporâneos.

64 L E I TO R E S D O S CL Á S S I C O S. P O RT U G A L E I TÁ L I A , S ÉCU L O S XV E XV I | A N A M A R Í A S. TA R R Í O
A obra não ilustrava apenas o saber total do programa epistemológico huma-
nístico, mas também a forma que caracteriza toda a exposição da ciência no
Renascimento: a enumeração explicada de termos-chave. A imprensa facilitou a
divulgação de uma obra de grandes dimensões, que tinha circulado em forma
manuscrita de uma maneira desagregada, segundo saberes especializados princi-
pais, como é o caso da Medicina, da Botânica, da Agricultura e da Matemática
(leitão 2007). Como em toda a Europa, a circulação em Portugal das edições
impressas desde finais do século xv constituiu um instrumento fundamental
para o impulso e evolução destes saberes especializados, que no entanto se ali-
cerçavam na tradição médica medieval hispânica, com acesso privilegiado aos
textos árabes e hebraicos relativos a estas disciplinas.
O incunábulo bnp inc. 462 conserva um notável conjunto de anotações em
latim, por uma mão humanística cursiva. O leitor deste incunábulo revela um
particular interesse em sublinhar e localizar no texto termos e temas relaciona-
dos com assuntos médicos e farmacológicos. A propósito do termo “porculaca”
(beldroega), uma anotação latina incide no remédio para curar úlceras, fabrica-
do a partir desta planta herbácea misturada com mel. O leitor anota “sem dúvi-
da servia-lhes de comida” (procul dubio cibo suo)146. Outras anotações de teor
análogo são “pleureticis” (f. 255 v.o), “inguinaria argemon” (f. 258), ou “de poda-
gra” (f. 258 v.o).
Este tipo de anotações associa este exemplar a outro incunábulo da bnp que
também contém a edição pliniana de Beroaldo (inc. 523 [11]). No f. u x v.o, figu-
ra por exemplo uma nota com letra humanística cursiva que assinala o discurso
pliniano sobre rapo (rábano).
As matérias naturalísticas abordadas por Plínio prendiam-se também com
os conhecimentos de re rustica, da agricultura. Trata-se de uma preocupação que
perpassa todo o século xvi: o problema da abordagem racional do cultivo da
terra pátria, tema crucial num tempo de recorrentes crises cerealíferas (com a
consequente desnutrição e epidemias), próprias de um reino cronicamente
dependente da importação do cereal. Nesta área do saber, destaca-se a receção
em Portugal do autor romano Columela, como evidencia a tradução portugue-
sa incompleta elaborada pelo humanista português Fernando Oliveira.

146 bnp inc. 462, f. y i. O termo porculaca ou porcilaca surge como portulaca em Isidoro (Et., xvii, 80); portulaca
e não porculaca ou porcilaca explica os resultados romances beldroega e ‘verdolaga’ em castelhano (em
textos mozárabes ‘berdilaca’ ou ‘berdocala’). Por outro lado, portulaca explica-se etimologicamente como
derivado de portula, diminutivo que aludiria ao opérculo da semente desta planta, em forma de pequena
porta (corominas s. u. 1987: 603). A denominação botânica é portulaca oleracea. Na edição de Beroaldo
da Naturalis Historia, Parma, 1476 (bnp inc. 1483), encontramos anotações latinas de mão humanística
cursiva que localizam também temas farmacológicos: “Pleureticis” (f. 255 v.o) o “inguinaria argemon”
(f. 258) o “de podagra” (f. 258 v.o).

D E I TÁ L I A A P O RT U G A L O S I N CU N Á B U L O E O S L E I TO R E S 65
Por seu lado, a leitura da obra geográfica de Pompónio Mela, como a de
Plínio, Ptolemeu ou Estrabão, passava, no âmbito da Expansão, pela emenda de
inexatidões ou erros na descrição antiga do globo terrestre, anterior à Descoberta
do Mundus Nouus.
Os autores portugueses partiam do trabalho editorial dos humanistas italia-
nos sobre estes autores antigos. O magistério italiano na Península Ibérica teve
em Antonio de Nebrija um dos seus principais bastiões. Formado nos studia
humanitatis em Itália, a sua obra foi referência fundamental no período de intro-
dução do primeiro humanismo português, sobretudo no campo gramatical e no
terminológico-técnico.
Gozaram de ampla divulgação em Portugal os dicionários latino-romances
deste humanista castelhano, assim como os seus glossários técnicos, como os
elaborados para as matérias médico-botânicas e para as matérias geográficas
(como é o caso de bnp inc. 5041).
Esta tarefa dicionarística tinha na altura o estatuto de principal método epis-
temológico, isto é, tratava-se de um procedimento genérico de acesso a todas as
ciências, consistente na produção de repertórios de explicações de termos técni-
cos específicos retirados das obras dos autores antigos, fossem eles matemáticos,
médicos ou cosmográficos.
A influência de Nebrija no humanismo português estendeu-se por diversas
áreas. Os humanistas portugueses partilharam o princípio, consagrado por
Nebrija, de que a língua deveria seguir o império, isto é, de que as conquistas
militares seriam mais efémeras e inconsistentes se não fossem acompanhadas do
correlativo trabalho sobre a língua romance para a tornar o reino digno dessa
supremacia militar. Nebrija modificara o sentido da restauratio da língua do
Lácio defendida por Lorenzo Valla (asensio 1974: 1-16).
Prova do decisivo ascendente de Nebrija são as primeiras gramáticas portu-
guesas, particularmente a de Fernando Oliveira (1536), que copiou a Gramática
de Nebrija no códice miscelâneo autógrafo conservado na Biblioteca Nacional
de Paris, onde constam, além desta cópia anotada, a sua tradução inacabada da
obra De re rustica de Columela, e a sua História de Portugal147.

147 Mais notícias sobre este códice, e sobre a tradução de Columela por Fernando Oliveira em Tarrío (2008a,
2008b, 2009, 2011).

66 L E I TO R E S D O S CL Á S S I C O S. P O RT U G A L E I TÁ L I A , S ÉCU L O S XV E XV I | A N A M A R Í A S. TA R R Í O
XI Biografias exemplares para novos fidalgos – inc. 1428, inc. 1311-
-1312, inc. 626-627, inc. 109, inc. 161, inc. 162

Quinto Curcio Rufo – Historiae Alexandri Magni. Ed. Bartholomaeus


Merula. Venecia: Giovanni Tacuino, 17 de julho, 1494 – bnp inc. 1428 [4]

Plutarco [12] – Vitae illustrium uirorum. Ed. A. Campano. Roma: Ulrich


Han, [1470- 1471] – bnp inc. 1311-1312 [16]

Plutarco – Vitae illustrium uirorum. Ed. A. Campano. Venezia: Nicolas


Jenson, 2 de janeiro 1478 – bnp inc. 626-627 [17]

Plutarco – Vitae illustrium uirorum. Ed. Pilades Brixianus. Brescia: Jacopo de


’Britannici, 9 de agosto [não anterior a 13 de agosto], 1499 – bnp inc. 109 [18]

Plutarco – Primera parte de Plutharcho. Trad. cast. Alfonso de Palencia.


Sevilha: Paulo de Colonia, Juan Pegnitzer, Magno Herbst e Tomas Glockner,
2 julho 1491 – bnp inc. 161 [19]

Plutarco – Segunda parte de Plutharcho. Trad. cast. Alfonso de Palencia.


Sevilha: Paulo de Colonia, Juan Pegnitzer, Magno Herbst e Tomas Glockner,
2 julho 1491 – bnp inc. 162 [20]

D E I TÁ L I A A P O RT U G A L O S I N CU N Á B U L O E O S L E I TO R E S 67
No tempo da Expansão, a leitura e interpretação de biografias antigas como
a de Alexandre por Quinto Cúrcio Rufo enquadra-se na perspetivação do reino
como a encarnação mais ocidental do Quinto Império, projetando os dirigentes
portugueses como herdeiros dos romanos. Um processo de apropriação e legiti-
mação que já se observa no Cancioneiro Geral e nas Obras de Gil Vicente.
Simultaneamente, a ênfase desta obra antiga nos perigos da concentração do
poder e na condenação da tirania cumpria a função que frequentemente desem-
penha a historiografia romana nos autores quinhentistas portugueses: a de
admonição contra as armadilhas e malefícios do poder imperial, constituindo
assim uma forma particular mas eficaz de Speculum principis.
Quinto Cúrcio Rufo, autor antigo bem conhecido pelos autores medievais,
foi também objeto da atenção filológica humanística. Existia em língua portu-
guesa a tradução de Vasco de Lucena, médico de D. Isabel, filha de D. João I, a
quem acompanhou aquando do casamento desta com Filipe o Bom, duque de
Borgonha, em 1429, e de cujo filho, Carlos o Temerário, foi precetor. Para ele tra-
duziu os Faits d’Alexandre de Quinto Cúrcio Rufo (1468) e a Ciropedia de
Xenofonte (1470), que, com o título de Traité des faictz et haultes provesses de
Cyrus, foi elaborada a partir da tradução latina de Poggio Bracciolini, obras de
enorme transcendência para a cultura renascentista europeia e portuguesa
(lemaire; henry 1991: 53-54; nascimento in verbo s. u.).
A esta família de conversos pertenceu o tradutor de Ovídio e do humanista
Aulo Sabino do Cancioneiro Geral João Rodrigues de Lucena (tarrío 2002). Os
fidalgos formados nos studia humanitatis entre o final do século XV e os pri-
meiros anos do século XVI, sem prejuízo do uso provável destes textos inter-
médios, sentiam a necessidade do reuocare ad fontes humanístico, isto é, de
regressar aos textos originais da Antiguidade.
Não há dúvida de que as traduções dos autores antigos para línguas vernácu-
las constituem um capítulo basilar da cultura renascentista, como instrumentos
de divulgação da ‘matéria clássica’ e como agentes de transformação das línguas
europeias em ‘línguas clássicas’.
Atividade fundamental do humanismo quatrocentista italiano fora a tradu-
ção latina de originais gregos, como ilustra a obra de Poliziano, tradutor da Ilíada
para latim bastante diferente das contrafações em prosa brunianas, e ascendente
humanístico primordial para o humanismo português.
Assim, as Vitae latinas de Plutarco foram decisivas no destino deste autor
antigo como o grande educador de príncipes e principais da Europa (pade
2007). Como já foi apontado, no rol dos livros pertencentes a D. Manuel I cons-
ta um ‘da vyda de Plutraco, de tavoas cubertas de couro vermelho, de papel,

68 L E I TO R E S D O S CL Á S S I C O S. P O RT U G A L E I TÁ L I A , S ÉCU L O S XV E XV I | A N A M A R Í A S. TA R R Í O
escrito de letra redomda”, que provavelmente se refere à edição impressa da tra-
dução castelhana elaborada por Fernández de Palencia148.
Dois incunábulos aqui selecionados (bnp inc. 161, 162) contêm a primeira
impressão sevilhana (1491) da versão castelhana de Alfonso de Palencia (1423-
1492), a partir da tradução latina de Bruni, Guarino, Tudertino, Barbaro, Filelfo,
Giustinian, Acciaiuoli e outros humanistas italianos (rodríguez pantoja
1990: 95 cfr. allés torrent 2008).
Os leitores e tradutores europeus da época beneficiaram do eco da edição
“comercial” preparada por A. Campano para Ulrich Hann (giustiniani 1961:
5) e impressa em Roma em 1470-1471. Nela foram reunidas as diversas traduções
humanísticas de Plutarco que se sucederam durante o século XV em Itália. Esta
edição pode consultar-se em bnp inc. 1311-1312.
De acordo com Allés (2008) (que confirma Lasso de la Vega (1961) e Paz y
Meliá (1914)), a edição que o tradutor castelhano terá usado foi antes a reedição
do conjunto impressa em Veneza de 1478, que também se pode consultar em
bnp inc. 626-627.
A BNP ainda conta com a edição das Vitae illustrium uirorum de Brescia em
1499, impressa por Jácopo de Britannia, preparada por Giovanni Franceso Boc-
cardo ou Pylades Brixianus e representada em bnp inc. 109149.
Em Portugal circularam sem dúvida as traduções castelhanas das traduções
latinas de Plutarco. Assim, a tradução de Cícero de Duarte de Resende contém
uma Vida de Cícero, para cuja elaboração usou decerto a tradução castelhana das
Vidas de Plutarco de Fernández de Palencia, já que refere a obra grega justamente
com a denominação “Segunda parte de Plutarco”, o título da tradução castelhana
impressa.
Já a obra de João de Barros, Diálogo da viciosa vergonha, publicada em 1540,
remete para o uso da posterior tradução erasmiana da obra de Plutarco De uitiosa
uerecundia, publicada em julho de 1526. Nesta obra o humanista português ex-
plicava ao filho que Plutarco é um dos autores morais que se podem utilizar, mes-
mo sabendo que desconheceu a luz da revelação, situando sem pejo a sua própria
obra como síntese superadora do autor grego (révah (1966) 165-185. 174)150.

148 ‘Lyvro da recepta das joias e vestidos e cousas outras, asy das que estavam na guarda roupa como no tisouro
que ficarõ d’El-Rei Dom Manoell, que samta groria aja, de que Ruy Leite he recebedor, começado em
Lixboa a tres dias do mes de fevereiro de j bc xxij, e o comde de Vylla Nova he testamenteiro, e o arcebispo
de Braga, e se despemdem por sua ordenaça’ (Viterbo 1901: n.o 158, 9). Buescu (2007: 163), indica que a
entrada não permite apontar se se trata da tradução latina ou da tradução vernácula. Constam também
nesta relação as Decadas de Tito Lyvio, um Virgilio e um Ovídio, veja-se em Viterbo (1901: (Números 30, 32,
44, 45, 89) 15-17, 22).
149 Uma lista das reedições de Plutarco em Giustiniani (1961: 44-45) e Pade (2007: 388-390).
150

D E I TÁ L I A A P O RT U G A L O S I N CU N Á B U L O E O S L E I TO R E S 69
CATÁLOGO DE EXEMPLARES
CATÁLOGO DE EXEMPLARES
1
Tibullus, Albius, Elegiae / [coment.] Bernardinus Veronensis. Carmina / Caius
Valerius Catullus ; [coment.] Antonius Parthenius. Elegiae / Sextus Propertius ;
[coment.] Philipppus Beroaldus. – Venezia : Boneto Locatello para Ottaviano
Scoto, 9 Dezembro 1491. – [158] f. ; 2o
HC 4763, Pell 11104, Polain 3783, IGI 9665, Goff T-372, BMC V 439 (IB
22858), CIBN Lisboa 1723
bnp inc. 751

2
Cícero, De Officiis / [coment.] Petrus Marsus ; De Amicitia ; [coment. Omni-
bonus Leonicenus] ; De Senectute ; [coment. Martinus Phileticus] ; Paradoxa.
– Venezia : Boneto Locatello para Ottaviano Scoto, 27 Maio 1494. – [l] , ii-clvii,
[l] f. ; 2o
HR 5249, R 121, GW 6965, Pell 3759, IGI 2918, Goff C-609, BMC V 443 (IB
22907), CIBN Lisboa 519
bnp inc. 892.

3
Cícero, Marco Túlio, Officia, De Amicitia, De Senectute, Paradoxa. Somnium Scip-
ionis, [ed.] Theodorus Gaza [coment.] Desiderius Erasmus [coment.] Conradus
Goclenius. – Basileae : apud Ioannem Heruagium et Hieronymum Frobenium,
1528.
Haeghen II, 18, Adams C 1744, BM 39, 434, Lavoura 197
bnp res. 5381.

4
Cúrcio Rufo, Quinto, Historiae Alexandri Magni, [ed.] Bartholomaeus Merula.
– Venecia : Giovanni Tacuino, 17 Julho 1494. – [68] f. ; 2o
HC 5885, GW 7875, Pell 4967, Polain 4309, Gogg C-1002, IGI 3290, BMC V
528 (IB 24042), CIBN Lisboa 558
bnp inc. 1428

5
Lívio, Tito, Historiae Romanae Decades, [ed. ] Lucas Porrus. – Treviso : Giovanni
Rosso, 1485. – [256] f. ; 2o
HC 10136, Pell 7213 (7154) Polain 2499, IGI 5777, Goff L-244, BMC VI 897
(IB 28437), CIBN Madrid 1529 CIBN Lisboa 1488
Contém: Florus, Lucius Annaeus, Epitome decadum XIV
bnp inc. 524. – Falta a última f. (branca)

C ATÁ L O G O D E E X E M P L A R E S 73
6
Nebrija, Antonio de, Introductorium in Cosmographiam Pomponii Melae. –
[Salamanca : Impr. de Nebrissensis, Gramatica, ca 1498]. – [14] f. ; 4o
HC 11021, GW 2236, Haeb (BI) 479, Goff A-908, IBE 461, BMC X 51 (IA
52835-1), CIBN Lisboa 147
bnp inc. 5041

7
Ovídio, Epistolae Heroides / [coment.] Antonius Volscus y Hubertinus Clericus;
Sappho ; Ibis / [coment.] Domitius Calderinus. – Venezia : Boneto Locatello
para Ottaviano Scoto, 19 Outubro de 1492. – [96] f. ; 2o
HR 12204, IGI 7095, Goff O-160, CIBN Lisboa 1330
bnp inc. 832

8
Ovídio, Epistolae Heroides / [coment.] Antonius Volscus e Hubertinus Clericus
; Sappho ; Ibis / [coment.] Domitius Calderinus. – Venezia : Martino Lazzaroni
e Cristoforo Quaietis, 14 Dezembro de 1493. – [96] f. ; 2o
HR 12206, IGI 7099, Pell 8864 (8729), CIBN Lisboa 1331
bnp inc. 1432

9
Ovídio, Opera / [ed.] Bonus Accursius. – Venezia : Bernardino Rizzo, 27 No-
vembro de 1486-1487. – 2 partes. ; 2o
HC 12143, IGI 7048, Pell 8826 (8691), Polain 2945, Goff O-134, BMC V 400
(IB 22617), (22620), CIBN Lisboa 1327
bnp inc. 831. – Falta a part i e os cad. a8-h e o8-ee6 da parte ii; falta a f. com assin. i1

10
Plínio, o Velho, Historia naturalis / [ed.] Hermolaus Barbarus et Johannes Bap-
tista Palmarius. – Venezia : Bernardino Benali, 1497 [não anterior a 13 Fevereiro
1498]. – [268] f. ; 2o
HC 13101, IGI 7891 Polain 4661, Goff P-799, BMC V 377 (IC 22396), CIBN
Lisboa 1481
bnp inc. 922

11
Plínio, o Velho, Historia Naturalis / [ed.] Philippus Beroaldus. – Treviso : Mi-
chele Manzolo, 25 Agosto 1479 [não anterior a 13 Outubro 1479]. – [360] f. ; 2o
HC 13092, Pell 9537 (9359), IGI 7883, Goff P-791, BMC VI 888 (IB 288354),

74 L E I TO R E S D O S CL Á S S I C O S. P O RT U G A L E I TÁ L I A , S ÉCU L O S XV E XV I | A N A M A R Í A S. TA R R Í O
IBP 1479, CIBN Lisboa 1479
bnp inc. 523. – Faltam as f. 1 e 360 (brancas) e com as assin. a2 e a14.

12
Plínio, o Velho, Historia Naturalis / [ed.] Philippus Beroaldus. – Parma : Andrea
Portilia, 13 Fevereiro 1480. – [ 286] f. ; 2o
HC 13093, Pell 9538 (9360), IGI 7884, Goff P-792, BMC VII 936 (IC 30262),
CIBN Lisboa 1480
bnp inc. 462. – Faltam a última f. (branca)

13
Politianus, Angelus, Opera / [ed.] Alexander Sartius. – Firenze : Leonardo
Arigi ; [Brescia : Bernardino Misinta], 10 Agosto 1499. – [212] f. ; 2o
HC 13219, Pell 9640 (9641), Polain 3234, IGI 7953, Goff P-887, BMC VII 992
(IB 31268, CIBN Lisboa 1493
bnp inc. 146. – Faltam as f. com assin. r4 e r8 e a última branca

14
Politianus, Angelus, Opera / [ed. Alexander Sartius]. – Venezia : Aldo Manuz-
io, Julho 1498. – [452] f. ; 2o
HC 13218, Pell 9639 (9460), Polain 3233, IGI 7952, Goff P-886, BMC V 559
(IA 24475), CIBN Lisboa 1493
bnp inc. 1035

15
Politianus, Angelus, Opera / [ed. Alexander Sartius]. – Venezia : Aldo Manuzio,
Julho 1498. – [452] f. ; 2o
HC 13218, Pell 9639 (9460), Polain 3233, IGI 7952, Goff P-886, BMC V 559
(IA 24475), CIBN Lisboa 1493
bnp inc. 1036. – Falta a f. com a assin. K4 (branca)

16
Plutarco, Vitae illustrium uirorum / [ed. A. Campano]. – [Roma] : Ulrich Han,
[1470-71]. – 2 partes ; 2o
HC 13125, Pell 9560 (9385), IGI 7920, Goff P-830, BMC IV 21 (IC 17263),
CIBN Lisboa 1483
bnp inc 1311-1312. – Faltam as f. [1], [2] com o colofão, as três (brancas) da
parte i e as cinco (brancas) da parte ii (a contagem dos cad. não condiz com a
que regista o BMC)

C ATÁ L O G O D E E X E M P L A R E S 75
17
Plutarco, Vitae illustrium uirorum / [ed. A. Campano]. – Venezia : Nicolas Jen-
son, 2 Janeiro 1478. – 2 partes ; 2o
HC 13127, Pell 9562 (9387), Polain 3212, IGI 7922, BMC V 178 (IC 19711),
CIBN Lisboa 1484
bnp inc. 626-627. – Falta a f. [1] (branca) da parte i

18
Plutarco, Vitae illustrium uirorum / [ed. Pilades Brixianus]. – Brescia : Jacopo
de’Britannici, 9 Agosto [não anterior a 13 Agosto] 1499. – [14], i- ccciiii [i. e.
ccciii], [l] f. ; 2o
HC 13131, Polain 3213, IGI 7925, Goff P-835, BMC VII 983 (IC 31193), CIBN
Lisboa 1487
bnp inc. 109.

19
Plutarco, Primera parte de Plutharcho / [trad. cast.] Alfonso de Palencia. – Se-
vilha : Paulo de Colonia, Juan Pegnitzer, Magno Herbst e Tomas Glockner, 2
Julho 1491. – 2 partes ; 2o
HC 13133, Haeb (BI) 550, IGI 7927, Goff P-837, IBE 4699, BMC X 34 (IB
52323), CIBN Madrid 1529 CIBN Lisboa 1488
bnp inc. 161

20
Plutarco, Segunda parte de Plutharcho / [trad. cast.] Alfonso de Palenci. – Se-
vilha : Paulo de Colonia, Juan Pegnitzer, Magno Herbst e Tomas Glockner, 2
Julho 1491. – 2 partes ; 2o
HC 13133, Haeb (BI) 550, IGI 7927, Goff P-837, IBE 4699, BMC X 34 (IB
52323), CIBN Madrid 1529 CIBN Lisboa 1488
bnp inc. 162

76 L E I TO R E S D O S CL Á S S I C O S. P O RT U G A L E I TÁ L I A , S ÉCU L O S XV E XV I | A N A M A R Í A S. TA R R Í O
A DEFINIÇÃO E PERIODIZAÇÃO DO HUMANISMO EM PORTUGAL
AS ANDORINHAS E A PRIMAVERA.
EPÍLOGO

E P Í L O G O – A S A N D O R I N H A S E A P R I M AV E R A .
A D E F I N I Ç ÃO E P E R I O D I Z AÇ ÃO D O H U M A N I S M O E M P O RT U G A L 77
A DEFINIÇÃO E PERIODIZAÇÃO DO HUMANISMO EM PORTUGAL
AS ANDORINHAS E A PRIMAVERA.
EPÍLOGO

78 L E I TO R E S D O S CL Á S S I C O S. P O RT U G A L E I TÁ L I A , S ÉCU L O S XV E XV I | A N A M A R Í A S. TA R R Í O
Entre o tempo da carta de Poliziano a D. João II, na qual o humanista se apresen-
ta como cantor da epopeia ultramarina do reino (o tempo do precetor palaciano
Cataldo Sículo), e o Commentum de Martim de Figueiredo de 1529, registava
Pina Martins um estranho lapso ou suspensão da cultura humanística em Portu-
gal. Neste período «uma ou duas andorinhas» não poderiam trazer a primavera
dos studia humanitatis (Martins 1972: 89).
Com diversos matizes ao longo do tempo mas com evidente persistência nas
suas posições iniciais, José Pina Martins não abandonou/contestou a data de
1529 como a mais adequada para determinar o início do humanismo português.
Esta proposta contestava a defesa, por parte de Américo da Costa Ramalho, da
data de 1485, ano da chegada de Cataldo Sículo à corte de D. João II, como mo-
mento inaugural do humanismo português.
Alicerçada na cultura humanística da corte manuelina, nos leitores palacia-
nos das edições humanísticas dos autores antigos conservadas na Biblioteca Na-
cional de Portugal, esta geografia do primeiro humanismo em Portugal procura
interrogar este aparente lapso de duas décadas.
Enfrenta portanto a questão problemática da definição e periodização dos
conceitos «humanismo» e «humanista» em Portugal, cuja clarificação é im-
prescindível para a própria discriminação do campo humanístico no conjunto da
produção renascentista portuguesa.
O lapso ou suspensão foi já questionado por outro investigador que muito
contribuiu para a clarificação da idiossincrasia do humanismo português, Luís
de Sousa Rebelo, mas que aceitou a data de 1529 como ano de referência para
considerar o início do humanismo português, muito embora contemplasse,
no seu valioso contributo sobre o «Humanismo Cívico Português», um arco
cronológico que começava já na dinastia de Avis.
Situando o ponto de partida do humanismo luso no Commentum Plinii de
Martim de Figueiredo, Pina Martins apostava no valor seguro dos frutos mais
categóricos do «humanismo filológico» italiano: a edição e comentário de au-
tores antigos. Ora, se nos cingirmos a esta definição restrita, o corpus ver-se-ia
reduzido a uma lista extraordinariamente exígua e porventura infiel à especifici-
dade lusitana do movimento humanístico e ao seu valor na cultura renascentista
portuguesa.
Desde as suas primeiras ocorrências peninsulares até hoje, a ambiguidade e
a mistificação semânticas rodearam as ocorrências do termo humanista. Revela-
dora é a conversa que terá protagonizado D. Jorge, duque de Coimbra, discípulo
de Cataldo Sículo e falecido em 1550: dois criados do duque, com cumplicidade
burlesca, perguntaram-lhe o significado da palavra ‘humanista’, e este enfadan-

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A D E F I N I Ç ÃO E P E R I O D I Z AÇ ÃO D O H U M A N I S M O E M P O RT U G A L 79
dosse respondera: Que não perderão nada os que estam por vir em vos outros o nam
saberdes151.
O enfado do Duque privou-nos, porventura, de informação valiosa a propósi-
to da definição – ou indefinição – do termo. Em todo o caso, a curiosidade dos
criados revela a expansão do termo em âmbito cortesão, incrementando a sua
imprecisão e permeabilidade, até a sua utilização burlesca.
Em letras castelhanas o vocábulo está atestado com permeabilidade semel-
hante pelo menos desde 1556 (pérez 1988: 345-46).
A bibliografía específica dá provas da complexidade da definição do vocábu-
lo. José da Silva Dias distinguiu um ‘primeiro Renascimento’, caracterizado por
um ‘classicismo sem humanismo’, no qual seriam exceção João Rodrigues de Sá
de Meneses, Luís Teixeira e Diogo Pacheco. Os dois últimos autores significati-
vamente integram a lista de quatro nomes ‘salvados’ pelo humanista e professor
da Universidade de Lisboa Estêvão Cavaleiro, no seu belicoso prólogo contra os
theologiculos (representantes da inércia universitária contrária às inovações hu-
manísticas) que abre a sua Grammatica de 1516 (ramalho 1983: 14).
Para Silva Dias este período inicial seria uma «estrutura simplesmente
literária, à margem de toda a problemática ideológica», estrutura que ilustrariam
João Rodrigues de Lucena, Duarte de Brito e outros poetas do Cancioneiro Geral
(dias 1972: 8).
Um ‘segundo Renascimento’ corresponderia aos anos posteriores a 1530,
com a emergência em Portugal do humanismo, coincidindo neste ponto com a
periodização proposta por Pina Martins152.
Na esteira de Silva Dias, situa-se ainda António Rosa Mendes (1993: 375-
-421, 375-77), o qual defende um «pré-humanismo» de cunho anacrónico, ar-
caizante (ou teologizante) e medieval, que daria vez ao ‘verdadeiro’ humanismo
de vanguarda da geração dos anos 30 do século XVI.
Este género de periodização sustenta-se, em grande medida, na equiparação
entre humanismo e erasmismo em âmbito ibérico, já criticada em seu tempo por
Ottavio de Camillo, atento aos primeiros contactos da cultura peninsular com os
humanistas italianos durante o século XV (1976: 11).
Ora, se a caracterização global do humanismo europeu se sujeitar a uma
adscrição ideológica determinada, concretamente erasmiana, teríamos que ex-
cluir da lista de humanistas tanto Melanchton como Pietro Bembo.

151 Sobre este episódio em A. C. Ramalho (1977-78a: 2-3, 1977-78b: 235; 1988: 188-89). Cfr. Grayson (1982:
204-205).
152 «Foi só depois de 1530 que as constelações do humanismo cristão deslizaram no céu português, trazendo
consigo o preceito da historicidade da cultura, a oposição à medievalidade e à escolástica, a reivindicação
de uma espiritualidade evangélica e interiorista, enfim o irenismo ideológico e uma certa tolerância em
matéria dogmática» (dias 1972: 8-9).

80 L E I TO R E S D O S CL Á S S I C O S. P O RT U G A L E I TÁ L I A , S ÉCU L O S XV E XV I | A N A M A R Í A S. TA R R Í O
À problemática distribuição cronológica e espacial do «humanismo cívico»
e do «humanismo filológico» nos autores italianos (hay 1982: 9-10; grafton;
jardin 1986: 33), junta-se a diversidade inevitável derivada da acomodação
destes modelos nos diferentes reinos.
Aceitando a sucessão cronológica de dois humanismos italianos, primeiro o
cívico e depois o filológico, procul negotiis (grafton; jardine 1986: xvi), Luis
Gil (1984: 20) afirma que a fase com a que ‘entraron en contacto los españoles’
foi a segunda.
Ora, já no próprio campo italiano é questionável o quadro de substituição
sucessiva das duas tipologias de humanismo, a política e a filológica. Desde Pe-
trarca, a preocupação pela vita civilis conviveu com a procura do prazer estéti-
co-filológico na literatura antiga (ullman 1982: 51-54, 60-63), fruição textual
que de resto não significou o abandono do trabalho humanístico nas suas diver-
sas orientações políticas (Hay 1982: 6; Rabil Jr 2000: 31-55; Maïer 168)153.
Por seu lado, a expansão dos modelos italianos desde o século XV carac-
teriza-se pela seleção heteróclita a partir dos diferentes modelos do corpus hu-
manístico italiano entretanto acumulado, e disponível para os letrados europeus,
com rapidez e facilidade insólitas, graças à imprensa. Assim, a mistificação de
fontes italianas heterogéneas constitui um traço distintivo do ‘pragmatismo’
teológico e civil de um Erasmo.
Ilustrativo deste ponto é a figura inaugural do humanismo português para
Pina Martins, Martim de Figueiredo, uma figura que, apesar de ter sido aluno de
Poliziano e de se ter formado no período do denominado «humanismo filológi-
co», não corresponde, de todo, ao perfil do humanista profissional procul negoti-
is. O editor português de Plínio conciliou os studia humanitatis com importantes
responsabilidades palacianas ao serviço do monarca português. Na mesma linha,
o «Humanismo Cívico Imperial», proposto por Sousa Rebelo, corrobora a am-
pla receção posterior, durante todo o século XVI, do denominado «humanismo
cívico» em Portugal.
A cultura humanística na corte manuelina, a do tradutor de Ovídio Sá de
Meneses e do seu círculo, remete menos para a linha hegemónica na Itália con-
temporânea (a imitatio ciceroniana e a ‘reaccionária’ norma estilística vulgar de
Bembo) do que para os postulados de Poliziano no século anterior.
A seleção e acomodação gradual foram tidas em conta no humanismo cívico
adequado às condições da vida nacional de Luís Sousa Rebelo (1977: 427). Com
efeito, o uso de termos como Respublica ou cives nos textos neolatinos portu-

153 Cfr. P. O. Kristeller (1956: 313-23).

E P Í L O G O – A S A N D O R I N H A S E A P R I M AV E R A .
A D E F I N I Ç ÃO E P E R I O D I Z AÇ ÃO D O H U M A N I S M O E M P O RT U G A L 81
gueses implicou uma reinvenção semântica singular no seio do processo de cen-
tralização monárquica muito diversa da apropriação italiana (cfr. rubinstein
1982 153). Tal ressemantização enquadra-se, por outro lado, nas divergentes e até
contraditórias leituras dos mesmos autores antigos, como a célebre utilização de
Tácito, tanto por republicanos como por monárquicos (Cfr. rabil jr 2000: 35ss).
A restrição adjetival do termo “humanismo” permite descrever mais ad-
equadamente a diáspora europeia da corrente humanística, como o apelidado
«humanismo evangélico» (dentro do qual se insere o rico campo do erasmismo,
consagrado por Marcel Bataillon) ou de «humanismo das armas», cunhado por
Maravall (1948: 53; 1982).
As derivas das diversas e controversas abordagens historiográficas e filológi-
cas explicam definições minimalistas e descomprometidas do humanismo como
a de George Holmes (1990: 118): «O humanismo significa interesse na litera-
tura grega e latina que retira um alto valor das lições contidas neste material»154.
Mais do que específicos ‘pressupostos ideológicos’, o traço fundacional e co-
mum aos diversos humanismos, italianos e europeus, é um determinado conceito
de educação, fundado na nova aproximação e interpretação dos auctores gregos
e latinos e da própria Antiguidade, que por sua vez resulta de modificações in-
ternas dos reinos europeus, particularmente da secularização do saber e da sua
instrumentalização de acordo com as demandas letradas das diferentes cortes.
O revocare ad fontes é pois o movimento comum à Europa humanística, a sua
reductio omnium ad unum. As competências filológicas estão na base da criação
do termo ‘humanista’, cujo significado primeiro foi o de educador profissional,
público ou privado, das rerum humanarum entendidas num sentido amplo, próx-
imo do valor ciceroniano da expressão e que posteriormente se aplicou a todo
aquele que as estudava, independentemente de ser professor ou não (Cf. cam-
pana 1946: 66-67)155.
Por outro lado, a conciliação de pressupostos humanísticos com a reivindi-
cação de uma nova ética cívica e de uma nova cultura religiosa verifica-se em
Portugal antes da devoção erasmiana e antes do limite cronológico de 1530.
Desde finais do século XV até à sua morte em 1531, o arcebispo de Braga D.
Diogo de Sousa comportou-se no norte do reino como um príncipe de evidente
ascendência humanística, dedicando-se a campos de acção nevrálgicos, como

154 “Humanism means an interest in Latin and Greek literature which sets a high value on the lessons to be
drawn form it” (holmes 1990: 118). Cfr. E. Garin (1965), P. O. Kristeller (1955).
155 O. K. Kristeller (1944-45: 68-69) assinala interpretações modernas incorretas do termo humanista, e
indica uma definição primordialmente técnica: “The old term humanista [...] reflects the more modest, but
correct, contemporary view that the humanists were the teachers and representatives of a certain branch of
learning which at that time was expanding and in vogue, but well limited in its subject matter”.

82 L E I TO R E S D O S CL Á S S I C O S. P O RT U G A L E I TÁ L I A , S ÉCU L O S XV E XV I | A N A M A R Í A S. TA R R Í O
a restauratio arquitectónica da antiga Bracara Augusta e à constituição de uma
biblioteca relevante em exemplares manuscritos e impressos dos autores antigos
e humanísticos (dias 1972: 18-19; costa 1993: 15-117; nascimento 1998;
tarrío 2010a).
Os leitores do tempo manuelino das edições humanísticas dos clássicos aqui
reunidas não se ajustam à etiqueta de «classicismo sem humanismo». No seu
acesso ao saber antigo encontramos os três ‘fortes vectores do Humanismo’ indi-
cados por Jorge Alves Osório (1975-76: 25): a introdução da distância histórica
entre o presente e os diversos passados, a importância do revocare ad fontes e a
fundamentação da dignitas hominis na superioridade cultural e não na linhagem.
A qualificação da cultura dos cortesãos manuelinos como ‘humanística’ sig-
nifica, em suma, competência filológica, capacidade de leitura e de interpretação
de textos antigos, dentro de um acesso ao saber marcado por uma nova orien-
tação secular e pela interpretação de conceitos emergentes como ‘História’ ou
‘Política’ (pérez 1988: 375).
Esta interpretação supõe uma objeção estrutural a abordagens ideológicas
e/ou sociológicas unilaterais do fenómeno humanístico que tendem a associá-lo
à nova nobreza de toga, mais permeável à vanguarda doutrinária do pretenso
“humanismo ideológico”, em contraste com a velha aristocracia reacionária. Na
corte manuelina, representantes da nobreza antiga como João Rodrigues de Sá
de Meneses, ávido leitor dos clássicos e da literatura humanística, revelam na sua
obra o impacto dos studia humanitatis.
Em contrapartida, não há dúvida de que a expansão europeia dos modelos
humanísticos italianos só pode explicar-se pelo seu papel decisivo na formação
de novas elites em cada reino particular, corpos palacianos treinados num código
cultural comum ou supra-europeu, o da Respublica litterarum. É esta demanda
de cariz político ou diplomático que permite explicar a vitória dos programas
educativos humanísticos sobre a tradição escolástica clerical, apesar das suas
deficiências, das suas complexidades e contradições, e da sua relativa adequação
a alvos tão ambiciosos (grafton; jardine 1986: xvi, 3, 6, n. 12).
Convém não esquecer as lacunas, devidamente apontadas por Grafton
e Jardine (1986: 91-92), visíveis na obra didática dos humanistas, no que res-
peita a uma verdadeira fundamentação ideológica e moral da cultura das elites.
A hiperbólica elevação dos autores antigos e das suas obras a modelos cívicos
exemplares para os leitores/mecenas convive com a efetiva e larga distância en-
tre a teoria e prática políticas destes últimos, enquanto dirigentes educados nos
studia humanitatis (hay 1982: 18). A título de mero exemplo, um Duarte de Re-
sende, tradutor de Cícero, foi acusado de prevaricação na sua governação na Ín-
dia (1521-1524), acusação mercê da qual foi condenado e preso durante vários

E P Í L O G O – A S A N D O R I N H A S E A P R I M AV E R A .
A D E F I N I Ç ÃO E P E R I O D I Z AÇ ÃO D O H U M A N I S M O E M P O RT U G A L 83
anos. Do eco na corte da sua exemplar imoralidade e da profunda corrupção do
seu governo na Índia dão conta diversos relatos quinhentistas156.
A deuotio moderna erasmiana não poderá ser considerada componente de
definição primordial e comum do humanismo mas uma ramificação específica.
No que diz respeito à questão dependente da definição do humanismo, a sua
periodização, o presente volume advoga portanto a tese, avançada por Américo
da Costa Ramalho, de que a primavera dos studia humanitatis desabrochou antes
de 1529. De resto, o processo de penetração dos princípios humanísticos não se
ajusta tanto a uma precisa data de arranque, mas sim a um processo que remete
para o século XV e assenta na progressiva modificação, controvertida e aciden-
tada, da formação das elites portuguesas157. Antes de Cataldo, isto é, antes de
1485, Portugal não era alheio aos modelos italianos, como o conjunto da Penín-
sula (gómez moreno 1994). Após a paixão pela obra de Cícero da dinastia de
Avis, com a sua polémica interação com as ideias do humanista italiano Leon-
ardo Bruni (costa 1987: 258ss; nascimento 1999), o reinado de D. João II
destaca-se pela mais programática demanda de modelos italianos, paralelamente
consolidada pela intervenção de figuras mediadoras como o cardeal Alpedrinha,
protetor da Universidade desde março de 1479, ou Mateo de Pisa, professor e
secretário latino de D. Afonso V e de D. João II, e autor dos Gesta Illustrissimi
Regis Iohannis De Bello Septensi de 1460158.

In hac Portugalliae extremitate. Portugal e Itália

A incómoda comparação do humanismo português com o brilho dos studia hu-


manitatis italianos não deixa de assentar no discurso de algumas fontes à dis-
posição do historiador. Em 1537, João Rodrigues de Sá de Meneses situava-se na
extremidade ocidental do mundo (in hac Portugalliae extremitate) como quem

156 Uma breve análise da sua tradução de Cícero e um perfil da sua vida e obra em Tarrío (2010b). Uma edição
destes relatos em Saraiva (1980: 46, 99, 187-188).
157 Costa (1987: 253-254, 258-261) documenta os percursos de portugueses que, desde inícios deste século,
estudaram em universidades italianas e posteriormente contribuíram para a modificação da cultura pátria.
(Cf. sá 1983).
158 Ramalho (1994: 107) delimita o círculo de humanistas portugueses ligados a Itália, contemporâneos da
presença de Cataldo em Portugal, todos ‘gente de Direito’: quatro deles ligados ao chanceler João Teixeira:
o seu irmão Luís, os seus filhos Luís, Álvaro e Tristão, também Martinho de Figueiredo, o seu sobrinho
Aires Barbosa, Henrique Caiado, Fernando Coutinho, Diogo Pacheco, D. Diogo de Sousa, D. Fernando de
Almeida... ‘e muitos outros’. A já clássica obra de Marcel Bataillon (1974) continua a fornecer dados
preciosos sobre alguns destes humanistas, ainda que os seus estudos foquem uma época algo posterior à
que nos ocupa, a partir de 1525. O mesmo se aplica aos trabalhos de M. Gonçalves Cerejeira (1974; 1975)
e Pina Martins (1989) e, focado no reinado de D. João III, Feist Hirsch (1955: 24-35).

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solicita uma atenuante159. E, em 1554, segundo Pedro Sanches, a cúria papal não
podia crer que o extraordinariamente eloquente Diogo Mendes de Vasconcelos
fosse educado numa ’pátria de carneiros’, veruecum in patria160.
Impõe-se a distância ou desconfiança não apenas perante os tópicos inev-
itáveis da falsa modéstia, naturalmente presentes nas fontes portuguesas, mas
também perante as dicotomias apresentadas pelos humanistas italianos, que se
polarizavam a si próprios como os sucessores diretos de Cícero ou de Horácio,
contra os bárbaros extra-itálicos, identificados com as trevas medievais.
Alguns dos exemplares impressos expostos viajaram com certeza no período
da ‘italianização’ de Portugal, comum a toda a Europa. Mas o sentido e o alcance
das suas leituras por studiosi portugueses, em particular o grupo de poetas latinos
do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, incidem no facto de que contempo-
raneamente a cultura humanística italiana se revelava deslumbrada pelos Desco-
brimentos lusitanos, particularmente na época manuelina (matos 1961: 142;
deswarte 1989: 6-65)161. O episódio contemporâneo da viagem dos cancionei-
ros galego-portugueses de Portugal para Itália por mediação de António Ribeiro
constitui o momento mais conhecido (e verdadeiramente decisivo na história
da transmissão textual das cantigas) de um interesse pela poesia tradicional da
Península Ibérica, iniciado com a expansão italiana da coroa de Aragão e ren-
ovado pela projeção internacional da coroa portuguesa no tempo de Poliziano,
Bembo, Ariosto, Lattanzio Tolomei ou Angelo Colocci (deswarte 1988: 248-
249; gonçalves 1984).
Os leitores portugueses dos clássicos, como os irmãos Teixeira, tiveram oc-
asião de cotejar o esplendor manuelino com a devastação da Península Itálica,
rodeada de recessão económica e de convulsões políticas (scaglione 1956-57;
baron 1955a; 1955b; hay 1982: 13, 21)162.
É emblemático neste sentido o itinerarium italicum do brilhante poeta neo-
latino português Henrique Caiado, que chegou a Itália à procura da prestigiante
formação garantida por mestres como Poliziano, e em Florença deparou com
uma cidade saqueada, vítima do naufrágio político dos Médici e da ditadura reli-
giosa de Savonarola. No ano de 1494, data da morte de Poliziano, tanto o Studi-
um florentino como a vida artística acusavam a crise, o que levou o estudante
português a refugiar-se no campo, lugar propício para um otium de significados
mais urgentes do que o valor tipificado de um motivo retórico. A circunstância

159 Sá de Meneses – De platano, ed. Tarrío (2009: 296-297).


160 Pedro Sanches – Epistula ad Ignatium de Moraes, Carmina de poetis lusitanis ad Ignatium Moralem, em António
dos Reis (cipl, i, v. 273, 34). Cfr. Ramalho (1977-78: 219-230) Freire (1963-64).
161 Henrique Caiado – Aegloga II em Balavoine (1983: vv. 22-26, 78, 39-42, 80). Cfr. Aubin (1984: 219). Nas
citações do Cancioneiro Geral seguimos a edição de Aida F. Dias, 1990-94.
162 Cfr. Dionisotti (1968: 99); Branca; Ossola (1991: 356)

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histórica que vivia surge em forma de alegoria estilizada na sua Ecgloga I163, onde
reclama a reabilitação de Itália, renascida Ausónia, agora sitiada pela guerra intes-
tina e pela ocupação estrangeira de franceses e espanhóis.
O poema de Caiado ilustra o contributo humanístico para a crise material da
Península Itálica. Com a sua reação contra os modernos bárbaros exemplifica o
processo de progressiva elevação social dos studia humanitatis como restauração
de um mundo perdido164.
O ascendente de Itália sobre a Europa afigura-se uma atualização da Graecia
capta horaciana. Poliziano, na célebre epístola enviada ao rei D. João II, docu-
menta o poder de atração da política forte joanina e simultaneamente declara a
superioridade cultural da sua pena, a mais condigna das façanhas lusitanas, supe-
riores às de Hércules e de Alexandre. Mas o humanista italiano sublinha que o re-
ino português não precisa de mimetizar, mas sim de instrumentalizar o programa
humanístico, oportunamente dissociado do turbulento contexto de origem165.
A instrumentalização do latim e da cultura antiga por parte de uma Itália
politicamente débil explica-se com clareza no fim do livro segundo da obra De
arte poetica de Girolamo Vida. Ao descrever a situação da Itália, afligida Ausonia,
contrapõe a orgulhosa declaração do seu património espiritual, a sua garantia de
salvação166.

A ausência de uma ‘crise do vulgar’ em Portugal

[...] porque la fabla comúnmente, más que otras cosas, sigue al imperio167

163 Henrique Caiado – Egloga i, ed. C. Balavoine (1983: 49-69).


164 Em 1510, ‘expulsai os bárbaros’ foi a palavra de ordem durante a invasão francesa, no tempo de Júlio II. Esta
expulsão faz parte do programa de Vida (cfr. espírito santo 1990: 47). Caiado usou esta expressão na
égloga sexta, que alegoriza a invasão francesa de Florença: Barbara gens Latios graviter pressura penates /
alpibus aeriis Saturnia nuper in arva / descendit [...] (Eg. vi, ed. balavoine vv. 84-86. 162). Cfr. Hay (1982:
21): “It was only when the princes and their courtiers took over the direction of culture from the marchands
écrivains that Florentine values could be exported”.
165 Esta carta pode ler-se em Angelo Poliziano – Opera omnia. Florença, 10 de agosto de 1499, bnp inc. 146, f.
m. Sobre a carta veja-se Batelli (1939: 280-298; 1941: 305-323); Rebelo (1977). Ela situa-se num tempo
difícil para o humanista. Em 1492 os Médici foram expulsos de Florença, e as suas próprias relações com
estes mecenas contavam com episódios menos elevados. Cfr. Maïer (1966: 13), Holmes (1990: 131).
166 Veja-se Vida, De arte poetica, na edição e tradução anotada de Espírito Santo (1990, vv. 558-564,
242-243).
167 Micer Gonzalo García de Santa María – «Prólogo». Las Vidas de los santos religiosos ou Vitae patrum.
Zaragoza, 1486-1491, na transcrição e comentário de Asensio (1961: 403).

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Os leitores dos clássicos durante os reinados de D. João II e de D. Manuel I
eram tradutores e cultores da musa romance, como João Rodrigues de Sá de Me-
neses e o grupo dos latinos do Cancioneiro Geral de Resende de 1516. As versões
das Heróides publicadas nesta coletânea situam-se no contexto em que foi anota-
do o incunábulo ovidiano da Biblioteca Nacional de Portugal 832, no qual, entre
as diversas glosas manuais em latim, se encontram outras em português, algumas
das quais traduções de termos ovidianos.
Os cultores dos studia humanitatis do período manuelino praticavam a def-
esa e ilustração da língua materna amparados no conhecimento do latim e da
cultura antiga, antes do período de emergência das primeiras gramáticas portu-
guesas, de João de Barros e Fernando Oliveira.
Se é inegável neste ponto a dívida destes autores para com os autores italia-
nos (Castiglione, Calmeta, Trissino entre outros), importa evitar os pontos de
vista excessivamente italo-cêntricos, também e particularmente neste aspeto.
Afigura-se assim pouco razoável explicar a inexistência em Portugal de um
bloqueio da língua vulgar perante o latim comparável ao italiano como conse-
quência de uma carência de humanistas competentes168.
Em Portugal eram inaplicáveis os pressupostos da Ausonia desolata, que
explicavam o latinismo militante, desdenhoso ou até belicoso com o romance
(dionisotti 1968; grayson 1982: 212)169. O humanismo da capital do mundo
era, na passagem do século XV para o XVI, um exaltado bastião do mundo an-
tigo, resistente perante a deturpação linguístico-cultural dos bárbaros invasores.
Roma era a memória da unidade e do esplendor veiculados pela língua latina,
cuja restauração constituía uma batalha fulcral pela dignidade da Itália moderna,
em detrimento do estudo do vulgar (tavoni 1984)170.
Pode-se dizer que era mais fácil para um letrado medieval italiano traduz-
ir do latim ou escrever em vulgar do que para um humanista contemporâneo
de Poliziano. O De vulgari eloquentia de Dante traduz-se para italiano em 1529.
A história da receção deste texto ilustra o processo involutivo do cultivo do vul-
gar na Itália. A negligência dos escritores italianos, unida a uma ‘natural pobreza’
da língua, são aspetos que lamentava Cristoforo Landino no discurso inaugural
das suas lições sobre os sonetos de Petrarca, por volta de 1460. Retomará o tema

168 Santos (1975: 521): “Em Espanha e em Portugal os escritos em latim dos humanistas não tiveram em geral
a expansão nem a amplidão necessárias para pôr verdadeiramente em perigo o prestígio das línguas
nacionais”.
169 M.Tavoni (1984) relatam a linha humanística que secundariza o vulgar e que em Itália vinga no período
aqui contemplado. Vitale (1978: 47-50) refere os defensores da superioridade do latim sobre os romances
italianos, sem ter em conta os pressupostos políticos e sociológicos desta tese.
170 Cfr. Hall (1945); Migliorini (1949, 1954); Kristeller (1950).

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no seu Commento... sopra la Comedia di Dante Alighieri Poeta Fiorentino, publica-
do em 1481171.
Tem inclusive sido relativizado o sentido das edições aldinas de Petrarca e
Dante de 1501 e 1502, dos Asolani de Pietro Bembo em 1505 e da Arcadia de
Sannazaro em 1514, na medida em que o editor explicita que a sua preocupação
primeira é o latim e o grego e se afasta de uma verdadeira intervenção na con-
strução literária e gramatical do vernáculo172. A atenção ao vulgar deste momen-
to humanístico centra-se na análise da sua extrema desagregação dialetal, assun-
to privilegiado aliás pela influência dos estudos do grego antigo173. Estes estudos
eram devidamente redirecionados a favor do estudo das línguas romances, par-
ticularmente na Península Ibérica. Luis de Narváez, nas suas Valencianas Lamenta-
ciones, escritas por volta de 1510-1515, proclamava a ‘superioridad de los griegos
sobre los latinos y de los españoles sobre los griegos’. A pretensa filiação grega do
castelhano constituirá argumento de nobilitação em Juan de Valdés e Francisco
de Vergara174.
Os comentários humanísticos que acompanhavam as edições dos clássicos
são reveladores de até que ponto, na maltratada geografia itálica, o latim era o
principal instrumento de autoafirmação, a esperança de perpetuar a hegemonia
espiritual no Ocidente (tavoni 1984). Vergílio, Ovídio, Cícero... eram menos
autoridades do que ascendentes genealógicos literários175. Tratava-se de uma
continuidade natural, literal, que marca o signo de distinção do humanismo ital-
iano. Beroaldo, por exemplo, ao comentar certos passos de Suetónio, localizados
na Península Itálica, explica a ‘atual’ aparência do local recentemente visitado
pelo comentador, e aponta para a transformação do templo antigo em basílica
religiosa176.
Esta forma de continuidade literal não tinha lugar na corte manuelina, onde
dificilmente se poderia subscrever a opinião de Calcaginini, um contemporâneo
de Vida, o qual, na sua Super imitatione commentatio, afirmava que o seu vernáculo
não era o italiano mas o latim: vernaculus maiorum nostrorum sermo. O idioma
dos antigos habitantes do Lácio devia preservar-se do contágio dos verba cor-

171 Vid. Orazione facta per Messer Cristoforo Landino da Pratovecchio quando comincio’a leggere in Studio i Sonetti
di Meser Francesco Petrarca (maïer 1966: 220-225).
172 Sobre o protagonismo de Bembo nesta edição e o papel da colónia florentina em Roma Dionisotti (1968:
1-14, 27-37ss).
173 O estudo do grego foi origem do apelo ao vulgar na discussão de humanistas como Raffaele Maffei,
Sabellico ou Pompílio: veja-se Dionisotti (1968: 16-17, 35-36, 51ss).
174 ‘De la gramática que observa el autor y de la perfección de la lengua castellana’, Las valencianas lamentaciones.
(Sevilla, 1889, 17-19). Veja-se o comentário de Asensio (1961: 408). Cfr. Terracini (1979: 15).
175 A parálise do vernáculo é assunto tratado por Bembo em carta a Giovanni Pico de la Mirandola (grayson
1982: 218-19, 222), cfr. Tavoni (1984).
176 Vid. ‘Apéndices 1-6’ en Casella (1975: 685-686).

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ruptissima dos bárbaros invasores: godos, mauritanos, vândalos... mas também
dos longobardos e dos outros dialetos italianos (ex omnium fece) coetâneos.
A restauração da língua de Augusto almejava, pois, a devolução do seu poder
sobre o mundo conhecido, e o término da submissão aos poderes estrangeiros
europeus, os atuais bárbaros177.
O tema tinha sido consagrado por Lorenzo Valla nas suas célebres Eleganti-
ae Linguae Latinae, com provada receção em Portugal já no tempo da polémica
Gramática Latina de Estêvão Cavaleiro, manifesto da expulsio barbariei lusitana,
com várias edições desde os primeiros anos do século XVI (barreto 1981-
-1982) .
O prefácio ao livro primeiro das Elegantiae oferecia uma síntese perfeita das
virtudes políticas do sermo noster: legado mais decisivo do que o imperial – que
tinha as mãos manchadas de sangue e violência sobre outros povos –, o da lín-
gua latina permitia magnificar e ilustrar todas as línguas e povos do orbe. O seu
numen e sacramentum é tão grande que durante séculos foi custodiada “entre es-
trangeiros, bárbaros e inimigos” “sagrada e religiosamente” (valla 1999: 59).
O verbo de Valla torna-se incandescente quando contrasta a perda do
império, irreparável mas secundária, com a perda maior: o desleixo da língua
pátria, o latim. Exaspera o autor o crime da ignorância do latim entre os seus
compatriotas, seres privados de identidade e dignidade pelo facto de cultivarem
línguas bárbaras (aqui não apenas nem principalmente as línguas das potências
estrangeiras instaladas na Itália, mas também as línguas romances italianas, lega-
do dos anteriores invasores bárbaros) (valla 1999: 61-62).
A sorte de tantos mestres humanistas na diáspora pela Europa, como
Cataldo Sículo, contratado por D. João II, era consequência direta da deliberada
e eficaz construção do forte capital simbólico da Italia capta.
Mas não teve exportação semelhante a secundarização da língua romance
nem a sua associação à frivolidade, visível até em humanistas que não voltaram
completamente as costas à realidade linguística e literária contemporânea, sem-
pre incomodados perante as características de improvisação e oralidade próprias
dos rimadores cortesãos178.
Os trovadores latinos do Cancioneiro Geral de Resende, ávidos leitores dos
clássicos, contaram no entanto com ascendentes humanísticos itálicos no seu
apreço pela lírica vulgar, precisamente no círculo de Poliziano. A leitura da Rac-
colta Aragonese de rimas antigas que em 1493 Federico de Aragão levara consigo
para Roma ou as obras de Serafino Aquilano, Accolti ou Calmeta, significaram

177 Espírito Santo em Vida (1990: 119).


178 Dionisotti (1968: 46) nota o desdém de Maffei pela literatura amena (1968: 61-62), apesar do seu De
sermone, capítulo lxxxxiii do De cardinalatu, integralmente transcrito em Dionisotti (1968: 62-72).

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um estímulo criativo na corte de Lorenzo de Medici, visível na atração de Poli-
ziano pela poesia tradicional, que cultivou (dionisotti 1968: 64; maïer 1966:
239-271).
Também não teve eco em Portugal a acesa diatribe e até secessão em torno
da norma literária romance, entre o vulgar de Bembo (o toscano arcaizante e
totalmente afastado da fala) e os resultados mistos e mais permeáveis do verso
cortesão.
Foi a latinitas que determinou em grande medida tal polarização entre o
formalismo florentino bembiano e o eclectismo cortesão de Angelo Colocci, Il
Calmeta e os seus partidários, o conflito entre os defensores de uma língua es-
tilizada, extremamente desligada do uso, e os defensores de uma aproximação
cuidada à fala (vitale 1978: 56ss).
Mas a latinitas lusitana não resultou em insegurança e crise da língua pátria.
Pelo contrário, foi trabalhada como instrumento de habilitação e exaltação do
reino. Como em Castela, as teses de Valla sobre a língua e o império desviaram-se
para alimentar um novo capital simbólico: o das línguas hispânicas como espe-
lho dos impérios ultramarinos (asensio 1961: 399-413; corredoira 1998).
Naturalizada por Nebrija na Península, e radicada por Fernando de Oliveira na
sua Gramática de 1536, a aliança entre o latim e o vernáculo a favor do segun-
do caracteriza o humanismo do tempo manuelino, consciente de que poetas e
tradutores são ‘geradores de língua’ e baluartes do imperium179:
Porque Greçia so por isto ainda vivem, porque quando senhoreavão o mun-
do mandarão a todas as gentes a elles sogeytas aprender suas linguas & em ellas
escrevião muytas boas doutrinas & e não somente o que entindião escrevião nel-
las mas tambem trasladavam parrellas todo o bo que lião em outras180.

179 Veja-se Gândavo – Diálogo em defensa da nossa linguagem. 1574, f. 30 v-32. Reativava-se então a tensão
romana entre auctoritas e usus. Buescu (1984: 207).
180 F. Oliveira, 1536 – ‘Quarto capitolo’, f. a iiii. Cf. também: e nam trabalhemos em lingua estrangeira mas
apuremos tanto a nossa com boas doutrinas que a possamos ensinar a muytas outras gentes e sempre seremos dellas
louvados e amados porque a semelhança e causa do amor e mays em as linguas... (F. Oliveira – ‘Quinto capitolo’,
f. a v v.o). Oliveira critica os latinismos excessivos de Nebrija (1536, ‘Capitolo seysto’, f. a vi). cfr. ‘capitolo
viii’, f. a vi v.o: “E conheçendo esta verdade [isto é, a existência de tres vogais mais em português] avemos de
confessar que temos oyto vogais na nossa lingoa mas nam temos mais de çinco figuras, porque não
queremos saber mays de nos que quanto nos ensinão os latinos aos quaes diz Plinio que é pouco saber
escoldrinhar as cousas alheas não nos entendendo a nos mesmos”. Mais suave mas igualmente discordante
com Nebrija havia sido um discípulo de grande influência no Cancioneiro Geral, Juan del Encina. A sua Arte
de poesía castellana consagra a prática cancioneril contemporânea. Cfr. Encina (1973: 321-350) e Clarke
(1952-53: 254-349). Apesar da homenagem de Encina a Nebrija (encina 1973: 327), ele rejeita o
anacrónico critério quantitativo aplicado ao sistema vocálico romance e o desapreço da rima nos capítulos
da Gramática do seu mestre: “De los pies que miden los versos”, “De los generos de los versos que estan en
el uso dela lengua castellana i primero de los versos iambicos”, capítulos que seguiam critérios humanísticos
aceites por humanistas como Vives.

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O magistério do latim sobre o romance no tempo manuelino tinha já por
espelho o labor literário da Roma imperial mas este entendia-se, alicerçado na
tradição literária herdada e ainda vinculado aos usos patrimoniais181, antes das
ousadias relatinizadoras do tempo de Luís de Camões.
Os gramáticos quinhentistas portugueses, muito embora revelem a influên-
cia de Trissino e outros modelos italianos182, não situaram os pontos de conflito
entre o latim e o romance, mas em problemas diferentes: a discriminação e no-
bilitação do português perante o castelhano, a língua da corte perante as falas di-
aletais e a questão da aceitação ou não dos latinismos. O vínculo português-latim
move-se entre a tutela e a autonomia, com diferentes graus em cada gramático,
mas determinado pela alegada maior proximidade da língua portuguesa da lati-
na, em concorrência com a castelhana183.
O próprio Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, dedicado a D. Manuel, a
sua porção latinizante em romance, evidencia o vínculo entre o reino, capitaliza-
do na figura do rei e da sua corte, e a língua romance dos seus cortesãos (asensio
1961: 404).
No elaborado programa manuelino, a língua materna constituía elemento
fulcral, como revela a decisão de enviar em português e não em latim a docu-
mentação diplomática dirigida ao Papa. Contra a opinião de D. Miguel da Silva,
D. Henrique de Meneses ou D. Pedro de Sousa de Távora, partidários da sua
tradução para a prestigiosa língua latina, ainda em 1560 o embaixador Lourenço
Pires de Távora se queixava da prática de as cartas régias serem invariavelmente
escritas em português.
Logo que estas cartas chegavam a Roma eram imediatamente traduzidas
para latim e impressas. A carta sobre a conquista de Malaca, que singularizava a
expansão portuguesa perante a castelhana, foi traduzida para francês, holandês,
alemão e italiano (matos 1961: 142-148; 1978: 397-417)184.
As narrativas da expansão portuguesa produziam-se mais em romance do
que em latim. É significativo que seja preciso justificar o uso do latim no prólogo

181 As obras dos poetas latinos do Cancioneiro Geral encontram correspondência em Castela, na poesia de
Cristóbal de Castillejo, também tradutor em medida velha de Ovídio. Veja-se a sua reveladora ‘Carta-
Dedicatoria’, in Obra completa (1999: 785-786).
182 D. Miguel da Silva, uma das personalidades chave na relação Portugal-Itália na corte manuelina, é o
dedicatário da edição dos textos em vulgar de Petrarca preparada por Bernardo Giunta. D. Miguel
acompanhou as indagações linguísticas de Trissino, modelo de F. Oliveira. Cfr. Deswarte (1989: 78-81).
183 Buescu (1984: 187, 216-231) nota a rejeição teórica de posições latinas por Fernando Oliveira, em contraste
com uma intensa assimilação da experiência gramatical latina por J. Barros e M. Gândavo. Sublinha
igualmente o tema da centralização ortográfica, auxiliada pela potencialidade unificadora da imprensa, e a
aceitação do neologismo e do cultismo perante a pobreza vernácula em F. Oliveira, Gramática da lingua
portuguesa (1975: 43, 84-85), e em João de Barros – Diálogo em louvor da nossa linguagem. (1971: 401). Cfr.
Buescu (1984: 202-212). Cfr. Asensio (1974: 1-16).
184 Sobre Malaca e a sua relevância no contexto peninsular Aubin (1984: 226).

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do Itinerarium Portugalensium e Lusitania in Indiam et inde in occidentem et demum
ad aquilonem do cisterciense Archangelo Madrignano. Trata-se do prólogo de
uma tradução da obra italiana Paesi novamente retrovati, conjunto de textos sobre
as descobertas, reunido por Francanzano de Montalbolddo185.
O vínculo indissolúvel entre língua e império explica o facto de que boa par-
te das crónicas latinas sejam traduções do português para o latim, prática que
começa já com a versão latina de Mateo Pisano da Crónica de Zurara. O latim,
língua supranacional, garantia de internacionalização das novidades, comple-
mentava em Portugal a língua vernácula, coração simbólico do império, numa
aliança diversa da paradigmática matriz itálica186.

185 Francanzano de Montalbolddo – Itinerarium portugalensem. Milão, 1507, f. 4.


186 Sá de Meneses, na sua carta a Damião de Góis, relata como o italiano frei Justo, bispo de Ceuta, tinha
consigo crónicas que ‘el-Rey D. Alfonso V mandou buscar a Italia para lhas escrever em latim, et elle morreo
de peste em Almada et ahi se perderam’ (góis 1949-1955: 106). A mais divulgada foi a tradução de J. Osório
da mesma Crónica de D. Manuel de Góis, De rebus Emmanuelis gestis, que consultou Montaigne. Cfr.
Nascimento (1999: 381-404).

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ÍNDICE DE IMAGENS
ÍNDICE DE IMAGENS
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Manzolo, 25 Agosto 1479 [não anterior a 13 Outubro 1479], BNP INC. 523, fol.
359 vº.

2.- Ovídio, Epistolae Heroides, coment. Antonius Volscus e Hubertinus


Clericus, Venecia, Boneto Locatello para Ottaviano Scoto, 19 Oct. 1492,
BNP INC. 832, fol. 7 verso.

3.- Ovídio, Epistolae Heroides, coment. AntoniusVolscus e Hubertinus


Clericus, Veneza, Martino Lazzaroni e Cristoforo Quaietis, 14 Dic. 1493,
BNP INC.1432, fol. 5.

4.- Plínio, Naturalis Historia, ed. Filippo Beroaldo, 1480, BNP INC. 462. fol.
258 v.

5.- Policiano, Opera, ed. Alexander Sartius, Florencia, Leonardo Arigi, 10


Ag. 1499 BNP INC. 146, fol. 10

6.- Plínio, Historia naturalis, ed. Hermolaus Barbarus et Johannes Baptista Palmari-
us, Venecia, 1497, en BNL INC. 992, fol. d iiii.

7.- Tito Livio, Ab urbe condita, Treviso, Lucas Porrus,1485, BNP INC.524, fol. c c.

8.- Catulo,Tibulo, Propércio, coment. Bernardinus Veronensis, Venezia, Boneto


Locatello para Ottaviano Scoto, 9 Dic. 1491,BNP INC. 751), fol. a ii vº.- a iii

11.- Cícero, Officia, De Amicitia, De Senectute, Paradoxa. Somnium Scipionis, Basilei-


ae, in Officina Frobeniana, 1528, BNL Res.5381, fol. 4.

14.- Plínio, Historia Naturalis, ed. Philippus Beroaldus, Parma, Andrea Portilia, 13
Feb. 1480, BNP INC.462, fol. 258vº.

15.- Antonio de Nebrija, Introductorium in Cosmographiam Pomponii Melae, Sala-


manca, impr. De Nebrissensis Gramatica, ca. 1498, BNP INC. 504//1, fol. 7.

16.- Quinto Curcio Rufo, Historiae Alexandri Magni, ed. Bartholomaeus Merula,
Venecia, Giovanni Tacuino, 17 Julho 1494 (Inc. 1428), fol. 70.

Í N D I CE D E I M AG E N S 127

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