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Mestrado em Gestão e Conservação da Natureza

Disciplina: Biodiversidade e Diversidade Geomorfológica

Human Impact on Geomorphic


processes and Hazards in mountain
areas in northern Spain

Filipe Emanuel Azambuja de Oliveira Santos


INTRODUÇÃO:
 As regiões montanhosas possuem valores naturais e
visuais que os tornam atractivos para actividades de
lazer e turismo e mesmo habitacionais.
 Assim, a população e a ocupação dos terrenos de
diversas áreas montanhosas tem vindo a aumentar.
 As diferenças climáticas e de altitude nas áreas
montanhosas tornam os processos geomorfológicos e a
evolução orográfica particularmente activos, bem como
particularmente sensíveis às mudanças ambientais
(clima, uso da terra).
 São apresentadas as ocorrências temporais
dos movimentos de vertente (constituem um
dos muitos factores que contribuem para a
erosão e para a evolução do relevo,
representando sérios riscos para a vida
humana para as suas propriedades), a sua
contribuição para a evolução do relevo e a
influência humana em tais processos em duas
regiões do Norte de Espanha.
 Conveniente, melhorar o conhecimento dos
processos de “Movimentos de massas”, de
forma a melhor fazer face aos problemas que
estes representam para a maioria das áreas
montanhosas.
O trabalho baseia-se em duas análise
temporais distintas:

1) 100.000anos: Pleistoceno superior e o


Holoceno.
2) 43 Anos: Entre 1954 e 1997
São considerados dois assuntos
relativos aos movimentos de
vertente:

1) Papel e intensidade da influência humana;


2) Incorporação da influência humana na
quantificação do risco para uma melhor
previsão do futuro desenvolvimento deste
processo (movimentos de vertente).

 A análise temporal do processo constitui uma importante


base para perceber quantitativamente ambos os assuntos.
 A assumpção por detrás do estabelecimento da maior
parte do risco é a de que o comportamento futuro de
tais processo pode ser “predito” com base nos
comportamentos passados.
 Mapas de probabilidades baseadas na correlação
entre a ocorrência passada de Landslides e os
diferentes factores condicionantes e/ou
impulsionadores, são deste modo elaborados.
 Contudo, raramente são consideradas possíveis
mudanças na influência humana e seus efeitos
esperados no risco.
 A análise temporal é importante para efectuar
previsões fiáveis acerca do comportamento futuro
destes processos (necessários para a caracterização
do risco).
 O conhecimento do comportamento do terreno
no passado recente pode ser usado como
base para a caracterização do risco num futuro
próximo.
 Torna-se razoável assumir que a análise das
últimas décadas irá fornecer ferramentas úteis
para prever o comportamento durante as
próximas décadas (em condições
supostamente iguais).
DESCRIÇÃO DA ÁREA DE
ESTUDO:
 Zona Norte da Cordilheira Cantábrica;
 Região caracterizada por elevada
industrialização.
 Relevo bastante acentuado.
 As altitudes variam dentro das bacias
analisadas entre os 1500 e os 700m.
 O clima é temperado e húmido.
 A temperatura média é de 14º C nas
zonas costeiras e de 8-9ºC nas partes
mais a montante das bacias.
 A precipitação anual é de cerca de
1200mm nas zonas costeiras e superior
a 1600mm junto à divisão montanhosa
da área de estudo.
 Verificam-se episódios de precipitação
com intensidades acima dos 50mm/24h,
praticamente todos os anos.
 Os solos e o rególito estão bem
desenvolvidos apresentando uma
espessura entre os 0,5 e os 2 m na
maior parte área.
 Pedras calcárias e xistos do Paleozóico,
argilas e arenitos do Triássico; calcários
e margas do Jurásssico; calcários e
arenitos do Cretáceo Inferior.
 Cobertura vegetal bastante contínua,
constituída por floresta caducifólia
natural abundante, nas zonas mais
elevadas, e por pastagens naturais e
artificiais a dominar no meio e nas
áreas mais baixas, com plantações de
pinheiros e eucaliptos.
 O deslizamento de detritos afectando
o rególito é o tipo de movimento de
massa mais frequente.
METODOLOGIA:
 Pleistoceno superior e o Holoceno
(100.000anos).
 Foi estudado no vale de Magdalena-Pas.
 Foi levado a cabo um inventário de ocorrência de
Landslides e um mapeamento geomorfológico
detalhado.
 Foi efectuada uma cronologia relativa dos Lanslides
baseados nas relações espaciais entre eles e outras
características geomorfológicas (depósitos glaciares
e fluviais e acumulações de terras.
 Foram assim identificados 10 grupos cronológicos e
depois datados através de métodos radiométricos e
arqueológicos.
 As espessuras dos depósitos dos Landslides forma
determinadas, sendo posteriormente calculados os
volumes acumulados.
 As taxas de mobilização foram então obtidas.
 As taxas de erosão para diferentes períodos também
foram determinadas com base nas taxas de
sedimentação de pequenos lagos, bem como feita a
identificação e a datação das superfícies formadas;
foram efectuadas reconstruções das novas formas
topográficas e calculados os volumes perdidos.
 O tipo e a frequência de Landslides foram
comparados com dados de actividade sísmica, bem
como com mudanças no clima e ocorrência de
influência humana.
 Período 1954-1997 (43 Anos).
 Foi analisado numa área de estudo com 142km2 no
vale de Deva.
 Elaborado um detalhado inventário da ocorrência de
Landslides, incluindo mais de 2500 movimentos –
cerca de 80% do tipo de deslizamento de detritos
com pouca profundidade afectando o rególito —
levado a cabo através de fotografias aéreas.
 Estes inventários foram depois testados/verificados
através de levantamentos topográficos.
 A análise temporal baseou-se nos movimentos que
eram passíveis de ser identificados nas fotografias
aéreas de cada ano.
 A comparação entre períodos foi assim feita usando
populações homogéneas. Todos os movimentos foram
verificados no campo, tendo a sua espessura sido
determinada.
 O volume de depósitos originados pelos Lanslides foi
determinado para cada período e as taxas de
mobilização foram calculadas.
 O volume deslocado por unidade de tempo foi expresso
com fins comparativos como sendo a ―espessura
equivalente‖ (mm/ano) dividindo o volume total
deslocado no período considerado pela área total e nº
de anos.
 A comparação entre esta ―espessura equivalente‖ e as
taxas de erosão para a área obtidas por consulta de
literatura pôde então ser feita.
A distribuição temporal e espacial dos Landslides
obtidos desta forma foi usada para:
Determinar a evolução da instabilidade das vertentes
durante o período analisado.
De maneira a encontrarem causas prováveis para
as variações observadas, as mudanças na
ocorrência de Lanslide e a sua frequência
também foram comparadas com
os possíveis factores indutores (precipitação,
actividade sísmica, actividades humanas).

As interpretações de dados anteriores relativos a


padrões de mudança na instabilidade
dos processos de vertente e taxas de erosão, bem
como a possível influência humana
em tais processos foram ainda testadas através da
determinação de taxas de sedimentação em
estuários da região.
Foram retiradas amostras de sedimentos em partes
com pouca ou nenhuma influência marítima.
Efectuadas medições de espectofotometria para se
determinar as idades de cada camada.

Estas idades foram então utilizadas para calcular


a
taxa de sedimentação.
A análise temporal foi também a base para:

Obter a susceptibilidade probabilística


de ocorrência de Landslide e modelos de
risco que possam ser usados para prever
o comportamento futuro destes
processos.
 A susceptibilidade à ocorrência de
rupturas foi caracterizada
correlacionando Landslides observados
(ligeiros deslizes transversais afectando
o rególito) com 17 factores
condicionantes, relacionados com
a geometria do terreno,
cobertura do solo,
geologia,
geomorfologia,
rególito e
condições hidrológicas.
 Todos os modelos foram validados
independentemente e a sua capacidade para
predizer Lanslides futuros testada. Para o efeito, os
modelos elaborados usando a ocorrência de Lanslides
durante um certo período foram validados com
Lanslides ocorridos posteriormente.
 A capacidade de previsão dos modelos pode ser assim
estabelecida:
Mapas de Susceptibilidade: (probabilidade espacial
relativa);

Transformados em

Mapas de Risco: (probabilidade espaço-temporal).


RESULTADOS E
DISCUSSÃO:
 Pleistoceno superior e o Holoceno
(100.000anos):

Taxa de Landslide
Taxa de mobilidade
A razão entre a mobilização resultante
dos Landslide
e
taxa de erosão:
Mobilização _ Lanslide
RLR   0,1  0,5
Taxa _ Erosão

Este valor indica-nos que os movimentos de vertente


constituem um importante mecanismo de erosão da zona.
A comparação entre a ocorrência de Landslide e as
condições climatéricas demonstra uma relação entre
períodos de elevada instabilidade nas vertentes e o aumento
da precipitação, conforme já seria de esperar.
 Período 1954 – 1997:

Taxa de Landslide

Observar-se um aumento em cerca do dobro.


Mobilização _ Lanslide
RLR   0,2  2
Taxa _ Erosão

A maioria dos Lanslides na área ocorreram


durante ou após fortes chuvadas.
 A análise temporal permite a compreensão de
padrões/comportamentos de longa duração, na
ordem de algumas décadas
. Com base nos dados disponíveis, parece não
haver qualquer relação entre o aumento da
frequência de Landslide e a precipitação nesta
escala temporal.
 Aliás, o máximo aumento na ocorrência de
Lanslide (após 1980) coincide com um período
de ligeiro decréscimo na precipitação total.

???????????
Nº de dia/ano
precipitações superiores a 50 e a 100mm
 Outra possível explicação é a influência
humana, tal como ficou demonstrado para
os últimos tempos do Holoceno.
 Dados recolhidos durante o trabalho de campo e
visíveis no inventário de Landslide, mostram
factores humanos indutores de tais ocorrências.
 Tal facto foi registado para 7% dos movimentos
inventariados. Nos restantes 30 % outros ―possíveis
factores‖ indutores foram indicados.

Mas estes números não justificam o aumento de


Lanslides referidos nos dados.
Assim:
 Através da densidade populacional. :
Possível indicador do grau de influência
humana ?????
 A população variou muito pouco na área durante o
período estudado; para além disso em certas terras
registou-se uma diminuição da população ao passo que
a ocorrência de Landslides aumentou.
 GDP: Gross Domestic Product (total) de
uma área: outro possível indicador. --
resultados interessantes:
 GDP: traduz a combinação do nº de residentes com a
sua capacidade económica e tecnológica para actuar
sobre o território e o modificar.
Comparação feita entre o GDP a nível da província
e a frequência de Landslide
GDP
―Força Orientadora‖
“Pressões”

―Respostas‖
―Estado‖

―Impacto‖
O Marco Conceitual Pressão-Estado-Resposta
 A sensibilidade da camada superficial aos factores indutores
(intensa precipitação) pode assim aumentar e uma resposta
geomorfológica pode ocorrer.

 Isto fornece uma explicação aceitável do acentuado


aumento de ocorrência de Landslides nos últimos 50anos.
O que provavelmente reflecte um decréscimo no limiar de
ruptura em vez de um aumento nos factores de indução
correctos.

 A ser correcta esta explicação, o facto de as precipitações


ocorridas entre os anos 60-70, com intensidades
comparáveis ou maiores que as de Agosto de 1983 não terem
originado tantos Landslides pode também ser explicado.

 Explicação ainda coerente com dados dos finais do


Holoceno.
O GDP como ―força orientadora‖:
 O neolítico e as revoluções industriais representam
não só períodos de crescimento populacional, mas
também maiores capacidades económicas e
tecnológicas, que levaram a um aumento do GDP e a
bem documentadas mudanças no uso da terra.
 Assumindo que esta interpretação esteja correcta,
continua-se a ter-se um modelo do tipo “caixa negra”,
isto é:
 Sabemos a entrada: aumentos de GDP;
 Sabemos a saída: aumento na frequência de
Lanslides;
 Mas não sabemos: os detalhes dos mecanismos
dentro da “caixa” que estabeleçam as relações causa
— efeito.
 MAS, tais relações não podem ser estabelecidas com
base nos dados presentes.
 Se, de acordo com esta interpretação, as taxas de
ocorrência de Landslide e erosão aumentaram nos
últimos 40-50 anos e se os acréscimos são respostas
geomorfológicas a crescentes pressões derivadas do
aumento de GDP, então deverá existir um aumento
nas taxas de sedimentação.
 As taxas de
sedimentação foram
determinadas em dois
estuários da região:
baias de Urdaibai e de
Santander,
localizadas entre as
duas áreas de estudo
descritas.
 O excesso de
concentração de
 Pb-210 e também a
idade foram obtidos
através de três
amostras (uma em
Urdaibai e 2 em
Santander).
Taxas de sedimentação nas
3 bacias
 Contudo, na segunda parte do séc. XX, as taxas de
sedimentação aumentaram de uma forma menos
acentuada do que as taxas de Lanslides.
 É lógico, na medida em que apesar dos movimentos
de encosta contribuírem significativamente para a
erosão e produção de sedimentos, não são a única
causa (como mostrado pelos valores de RLR).

O forte aumento observado na taxa de Landslide,


erosão e sedimentação nesta área poderão ser
devidos principalmente a uma série de acções
humanas indirectamente relacionadas com o
crescimento do GDP.
Esta relação sugerida, não é possível de ser
provada, mas os dados obtidos até à data não
contradizem……………….
 Caracterização do Risco de Landslide:
 Os mapas de risco de Lanslide foram obtidos através da
validação de mapas de susceptibilidade de Landslide
usando uma estratégia de validação temporal. **
 Os modelos de susceptibilidade foram elaborados através
de meios de correlação entre inventérios de Landslide e
factores condicionantes dos mesmos.
 A transformação da susceptibilidade em mapas de risco
(probabilidade espaço temporal) requer dados temporais
da ocorrência de Landslides.
 ** Os modelos de susceptibilidade elaborados usando
deslocamentos de detritos (tipo de Landslide) ocorridos
entre 1954 e 1983 foram validados através de
comparação com 3 períodos posteriores.
As curvas de validação indicam que 60% destes “novos” Landslides
ocorreram em 20% da área com maior susceptibilidade.

A assumpção implícita normalmente subjacente aos procedimentos de


caracterização do risco, que é a do comportamento do terreno no
passado, permite a previsão do comportamento futuro, parece ser
essencialmente válida, mesmo que algumas características ambientais
sofram variações importantes.
Nº de ocorrências de Landslides em cada classe de
susceptibilidade durante o período considerado e a probabilidade
da ocorrência de Landslides no futuro
O mapa de risco expressa a probabilidade de ocorrência de
Landslides no futuro se o comportamento do terreno for
equivalente ao comportamento médio durante o período
analisado (45anos)Prob.A

Mas…….
Extrapolações na frequência de Landslide para
os 3 cenários:
Prob.A: A actividade nos próximos 45 anos irá ser equivalente à média
observada nos últimos 45 anos;
Prob.B: A actividade nos próximos 45 anos irá ser similar à observada
durante o período de tempo mais recente.
Prob.C: A actividade nos próximos 45 anos irá aumentar de acordo
com o padrão definido.
CONCLUSÕES:
 Os processos geomorfológicos analisados sofreram mudanças
importantes durante os últimos milénios e em especial nas últimas
décadas.
 As taxas de Landslide e erosão parecem ter aumentado em cerca
do dobro desde o pré-Neolítico até ao presente.
 As taxas de sedimentação também mostram aumentos
consideráveis durante o último século. O risco de Landslide
também aumentou, como é óbvio.
 A análise temporal dos processos mostra que este risco é capaz
de aumentar ainda mais num futuro mais próximo em
consequência de uma maior influência humana.
 Uma relação entre aumentos de precipitação e maiores
instabilidades de vertentes foi estabelecido para as épocas
Pleistoceno—Holoceno.
 Contudo, aumentos de frequência de Landslides nas últimas
décadas e dois momentos chave na pré-história e história, não
parecem estar relacionados com aumentos na precipitação.
CONCLUSÕES:
 Parece em grande parte, que os impactos humanos indirectos
na superfície originados pelo aumento da influência humana
relacionada com o desenvolvimento económico, tecnológico e
populacional, podem ser uma explicação para os
padrões/tendências observadas.
 O modelo sugerido é coerente com provas obtidas, mas
presentemente deveria ser considerado como uma hipótese
plausível.
 Se for válido, será de esperar que se possa usar noutras partes
do globo, nomeadamente em áreas montanhosas.
 O crescimento do GDP, das capacidades tecnológicas ocorrem
um pouco por todo o lado e consequentemente a capacidade
humana para actuar sobre a superfície, transformando-a.
Conclusões:
 Os processos geomorfológicos analisados sofreram mudanças
importantes durante os últimos milénios e em especial nas últimas
décadas.
 As taxas de Landslide e erosão parecem ter aumentado em cerca
do dobro desde o pré-Neolítico até ao presente.
 As taxas de sedimentação também mostram aumentos
consideráveis durante o último século. O risco de Landslide
também aumentou, como é óbvio.
 A análise temporal dos processos mostra que este risco é capaz
de aumentar ainda mais num futuro mais próximo em
consequência de uma maior influência humana.
 Uma relação entre aumentos de precipitação e maiores
instabilidades de vertentes foi estabelecido para as épocas
Pleistoceno—Holoceno.
 Contudo, aumentos de frequência de Landslides nas
últimas décadas e dois momentos chave na pré-
história e história, não parecem estar relacionados
com aumentos na precipitação.
 Parece em grande parte, que os impactos humanos
indirectos na superfície originados pelo aumento da
influência humana relacionada com o desenvolvimento
económico, tecnológico e populacional, podem ser
uma explicação para os padrões/tendências
observadas.
 O modelo sugerido é coerente com provas obtidas,
mas presentemente deveria ser considerado como
uma hipótese plausível.
 Se for válido, será de esperar que se possa usar
noutras partes do globo, nomeadamente em áreas
montanhosas.
 O crescimento do GDP, das capacidades tecnológicas
ocorrem um pouco por todo o lado e
consequentemente a capacidade humana para actuar
sobre a superfície, transformando-a.
 O tipo de resposta geomorfológica aos impactos
humanos na superfície terrestre descritos pode ser
uma manifestação de “mudanças geomorfológicas
globais”, independentes das mudanças climáticas.
 Considerações tendo em conta o comportamento
provável dos processos geomorfológicos no futuro
deverão assim levar em linha de conta não só os
efeitos das mudanças climáticas, mas também o tipo
de mudanças, que a confirmarem-se, poderão ter um
efeito ainda maior.

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