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LICENCIATURA PARA GRADUADOS / R2

EM ARTES VISUAIS

FRANCIELE MENEGUCCI

Educação e Direitos humanos

OCAUÇU, SETEMBRO DE 2020


FRANCIELE MENEGUCCI

Educação e Direitos humanos

Trabalho de Educação e Direitos humanos, apresentado para


obtenção no Curso de Licenciatura da Uniplena Educacional sob
orientação da Professora Coordenadora Bianca Gomes

OCAUÇU, SETEMBRO DE 2020


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 04
2 DESENVOLVIMENTO 04
2.1 DIREITOS HUMANOS: NOÇÕES GERAIS
2.2 A EDUCAÇÃO E OS DIREITOS HUMANOS 06
CONCLUSÃO 10
REFERÊNCIAS 11
1 INTRODUÇÃO

Neste trabalho de pesquisa elaborou-se uma revisão bibliográfica acerca


dos principais conceitos sobre Direitos Humanos, sua contextualização histórica e
desenvolvimento e relações com a Educação.
A metodologia adotada foi a revisão teórica baseada em livros e artigos
científicos e o objetivo geral é conhecer e apresentar os conceitos mais relevantes do
assunto presente nos autores e materiais selecionados.
Na primeira seção descreveu-se o que são os direitos humanos em uma
perspectiva nacional e internacional, seguido ponderações sobre a origem histórica
junto a Revolução Francesa no século XVIII.
Na segunda seção abordou-se o papel da escola e dos educadores na
incorporação do tema nos projetos políticos pedagógicos e disciplinas, concluindo que
é fundamental no estabelecimento de uma sociedade mais justa e segura para os
seres humanos.
Apresenta-se então como as temáticas podem ser trabalhadas nas diversas
disciplinas do currículo, contextualizadas com as vivências dos alunos, em
metodologias abertas ao diálogo e produção de sentido.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 DIREITOS HUMANOS: NOÇÕES GERAIS

A expressão Direitos Humanos envolve os aperfeiçoamentos nas relações


entre as pessoas e a sociedade quanto às questões da vida política, social e humana.
O Relatório Anual da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos (2007) afirma que:

A consciência de que os “direitos humanos” precisam ser respeitados


cresce em todos os continentes e constitui um dos pilares da
construção de um “outro mundo possível”. Para que essa construção
chegue a termo, é indispensável definir “direito humano” como aquele
direito inerente à pessoa em si, independentemente da sua
nacionalidade, da sua classe social, da sua religião, da sua condição
pessoal. Até um criminoso é sujeito de direitos humanos, sem prejuízo
da punição que deva receber pelo delito praticado (2007, p 13).

Assim, é um conceito aplicado à toda a humanidade, não condicionado a


nenhuma especificidade como nacionalidade, condições econômicas ou religiosas.
Não significa a absolvição completa de crimes cometidos, mas protege a garantia de
limites e humanidade em punições, condições de vida e trabalho.
O tema é recente na história e permeado por complexidades, polêmicas e
contradições, assim como, dificuldades de delimitação de sua abrangência. A noção
de direitos humanos deriva, principalmente, de três tratados internacionais:
- 1789 - Revolução Francesa, Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão;
- 1787 - Constituição da Independência Norte Americana e
- 1948 - Declaração Universal dos Direitos Humanos, elaborado no período
posterior à Segunda Guerra.
Ao se tratar deste tema, são recorrentes as críticas que apontam que os
Direitos Humanos servem à proteção dos indivíduos que cometem crimes,
argumentando que estes não deveriam receber defesa ou ser motivo de preocupação
social. No entanto, tal postura acata que aqueles que infringiram as normas sociais
sejam punidos independente do respeito aos direitos básicos e da dignidade humana.
Neste ponto, a dignidade diz respeito à identificação e sensibilização com
o outro pelo compartilhamento da natureza humana impedindo condições de
opressão, terror, humilhação, degradação.
Para Benevides (2005, p. 12) a dignidade não pode ser mensurada, é
primordial para a humanidade e seu processo de evolução é pautado no respeito e
vida. Em uma sociedade que preserva os direitos humanos, não há lugar para o terror
e abuso de poder.

[...] aquele valor – sem preço! – que está encarnado em todo o ser
humano. Direito que lhe confere o direito ao respeito e à segurança –
contra a opressão, o medo e a necessidade – com todas as exigências
que, atual etapa da humanidade, são cruciais para sua constante
humanização (BENEVIDES, 2005, p. 12)

A ética é intrinsicamente relacionada aos Direitos Humanos, ultrapassando


o limite das nações, por isso universal, a Declaração Universal dos Direitos Humanos,
proclamada pela Organização das Nações unidas (ONU), no ano de 1948.
Ainda, os direitos estabelecidos no seio do Iluminismo de Revolução
Francesa possuem relação com esta declaração “o direito de expressão, pensamento,
credo, desde a Revolução Francesa de 1789; e o direito à dignidade humana,
independentemente de que pessoa se trate ou que possível delito tenha cometido,
desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948” (MEC, 2011, p. 11).
Sarlet (2006, p. 35 e 36) explica a relação entre os direitos humanos e a
comunidade internacional, garantindo e resguardando as pessoas em qualquer lugar
que elas estejam a um tratamento digno por parte do Estado.

[...]a expressão ‘direitos humanos’ guardaria relação com os


documentos de direito internacional, por referir-se àquelas posições
jurídicas que se reconhecem ao ser humano como tal,
independentemente de sua vinculação com determinada ordem
constitucional, e que, portanto, aspiram à validade universal, para
todos os povos e tempos, de tal sorte que revelam um inequívoco
caráter supranacional (internacional) (SARLET, 2006, p. 35-36).

Tosi (2004) explica que a trajetória dos direitos humanos é pautada por
quatro momentos: os Direitos de Primeira Geração, ou Direitos Civis, os Direitos de
Segunda Geração, ou Direitos Políticos, os Direitos de Terceira Geração, ou Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais e os Direitos de Quarta Geração ou Direitos de
Solidariedade.
Quando associado a Educação, esses direitos unem-se aos direitos
sociais, visto que a aprendizagem em meio ao respeito à diversidade deve ser chave
no ambiente escolar, do contrário estará ferindo um direito humano. Todas as culturas
devem ser abordadas na escola.
Assim como os direitos sociais não são estáticos e evoluem com a
humanidade e suas questões, assim também ocorre com os direitos humanos que
deve equilibrar as relações nas comunidades quanto ao fortalecimento das relações
entre as pessoas, os Estados, setor privado. Muitas vezes cabem aos movimentos
comunitários organizados a proteção e a disseminação dos conceitos e direito e
igualdade e dignidade.

2.2 A EDUCAÇÃO E OS DIREITOS HUMANOS

A escola atua nos direitos humanos, ao passo que resguarda a diversidade


de povos e culturas no processo educacional, neste sentido, a educação em tempo
integral, principalmente àqueles em situação vulnerável, deve ser uma luta
educacional visto que é um caminho para o alinhamento e promoção dos Direitos
Humanos frente à diversidade.
Esta ação demanda alterações estruturais no formato e concepção das
instituições de ensino no Brasil, que devem questionar sua organização, preceitos,
fundamentos e lutas, além de sua cultura escolar, ainda enraizada em discriminações
e valores. A escolha alinhada aos Direitos Humanos deve ultrapassar as barreiras que
ainda excluem uma parcela da população, com os quais a escola ainda não é capaz
de ter sucesso, como os deficientes, vulneráveis socialmente, indígenas e população
negra.
As ações educacionais que se voltam à ampliação do tempo na escola,
vivências e oportunidades educativas a partir de temáticas transversais como
mobilidades, segurança pública, alimentação e habitação, saneamento básico,
Fomentar atividades educativas que ampliem tempos, espaços e oportunidades
educativas, combate aos preconceitos, desigualdade de gênero, etnia, sexualidade,
segurança digital, são aquelas que estarão alinhadas ao conceito de Direitos
Humanos.
Na educação, o papel e exercício dos direitos humanos precisam ser pauta
corrente, visto que a sociedade tende a elaborar novos formas de exclusão e violência.
Assim, as noções e igualdade e diversidade são fundamentais na discussão em
processos democráticos.
Em educação, um dos princípios geradores dos direitos humanos é a
consolidação dos relacionamentos, ou seja, as pontes entre realidades diversas que
podem e devem ser construídas, com pautada pelo “diálogo, a solidariedade, a
diversidade, a igualdade e o direito de expressar-se livremente” considerando a
variedade de indivíduos que relacionam-se, o que é favorecido pela escola, onde
convive-se, compartilha-se experiências de aprendizagem e de vida e onde deve ser
aprendido a sensibilizar-se com a dignidade de todos os seres humanos.
Delgado (2006, p. 43 apud MEC, 2011, p. 15), explica o significado de
participação na escola para as crianças na formação da autonomia, solidariedade,
criticidade e aptidão para fazer parte e tomar decisões como cidadãos.

[...] significa, em primeiro lugar, ter acesso à informação para poder


decidir. Implica igualmente desenvolver as habilidades e
competências necessárias para participar, como pensar nas diversas
opções, transmitir opiniões, ouvir o outro, tomar decisões em grupo
etc. [...]. Sem locais, estruturas ou espaços adequados, na família, na
escola, na vizinhança, na região ou mesmo a nível nacional, a
participação não passa de uma fachada que legitima ‘simpaticamente’
a decisão dos adultos.

A construção de sujeitos de direitos no contexto escolar demanda algumas


reflexões para sua elaboração e possibilidades de atuações. Uma primeira questão
envolve a implantação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que postula a
entender, ouvir e dialogar com a criança, adolescente e jovem com um indivíduo e
com seus direitos preservados. Cabe ainda o respeito aos seus interesses, conflitos,
culturas e saberes, além de propiciar que tenham voz na escolha de temas que lhes
interessem.
A escola deve promover diálogos sobre o direito à igualdade e o respeito
às diferenças, sensibilizando os educandos a observar aquilo que unifica dos seres
humanos em sua dignidade, inclusive o direito a ser diferente em sua forma e tempo
de aprender, falar, atuar, ou seja, em sua existência e, ainda, valorizar as ricas
experiências que as diferenças nos trazem.
Na dimensão cultural e social dos Diretos Humanos. Alguns temas são
especialmente importantes de serem abordados na escola. Entre eles encontra-se a
questão dos gêneros e direitos, por exemplo.
Os alunos têm em suas origens construções familiares das mais
diversificadas, assim é possível dialogar sobre os diversos modelos de família,
posições femininas e masculinas no âmbito familiar, além da abordagem sobre a
violência de gênero. Nesse contexto podem ser abordados filmes e leis, como a Lei
Maria da Penha (Nº 11.340, de 07/08/2006), cujo propósito é coibir a violência contra
a mulher no ambiente familiar.
Nesse sentido, aborda-se a importância sobre o auto cuidado quanto “a
integridade física, psíquica e emocional, à liberdade, à autonomia, à participação, à
proteção, à solidariedade, ao respeito à diversidade, etc., dando o contorno da
dimensão ética que deve estar presente no ideário e vivência dos direitos humanos”
(MEC, 2011, p. 17).
No caso das crianças, jovens e adolescentes, ensinar o auto cuidado
empodera esses indivíduos que vivem em lares com responsáveis não
comprometidos em cuidá-los e respeitá-los. Assim, devem ser ensinados sobre seus
direitos, de forma que tenham alguns meios de se protegerem de “adultos que os
põem em perigo, os desrespeitam, os levam ao desamparo, ao abandono, a situações
de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão” (MEC,
2011, p. 17).
No âmbito do Programa Mais Educação – Série Cadernos Pedagógicos,
são indicados alguns programas de ensino que podem ser implementados para se
trabalhar os direitos humanos na escola. Tais como: Estatuto da criança e do
adolescente e Desigualdades e Direitos Humanos. Assim, são múltiplas as
possibilidades de aprofundamento nas diversas disciplinas em compõem o currículo.

Língua Portuguesa [...] obras que tratem da temática dos Direitos


Humanos, em Matemática pode-se analisar gráficos sobre o tema, em
História é possível abordar a Revolução Francesa e Declaração dos
Direitos do Homem e do cidadão, a “Segunda Guerra Mundial:
nazismo, fascismo, antissemitismo, perseguição política, etc,
Escravidão moderna, Trabalho infantil, História dos povos indígenas,
História da África e outros, em Ciências Naturais: Questões ligadas à
saúde, Meio ambiente e ecologia, Consumo sustentável entre outros,
em Artes, Discussão de produções artísticas e manifestações culturais
que, tenham como tema os Direitos Humanos, em Educação Física,
Corpo ideal x corpos rejeitados (adaptado de MEC, 2011, p. 34).

É pertinente trabalhar Os Direitos Fundamentais, o Direito à Liberdade e à


Diferença, Direito à vida e à saúde, Direito à liberdade e ao respeito, Direito à
educação, informação, cultura e lazer, Trabalho Infantil, Direito de brincar,
Convivência familiar e comunitária, Direito de viver sem violência, Proteção às
crianças e adolescentes e o Conselho Tutelar, Desigualdade Social, Desigualdade
étnico-racial, A desigualdade social e o direito à cultura.
Numa perspectiva social, Sime (1991) fala que educar em direitos implica
na disposição em se rebelar contra as injustiças que assolam o país, num contexto
pedagógico de indignação, denúncia de irregularidades e postura solidária. Crentes
no valor inestimável da vida e sua proteção.
Educar para os direitos humanos parte do princípio dos discursos com as
ações, priorizando a coletividade em prol de uma sociedade melhor e mais igualitária.
Parte de uma postura ativa pois deve analisar as situações cotidianas problemáticas
e propor atividades e programas que visem a mudança de atitudes, comportamento,
solução de conflitos e violações da dignidade. “Tal processo deve ser coletivo,
integrado ao meio onde acontece, e em sintonia com as necessidades de quem dele
participa”.
Aos projetos políticos pedagógicos devem ser estruturados conteúdos
transversais que propiciem a democratização e justiça social, pensando em educar
para a postura crítica e ativa, inserindo os alunos em formação com sujeitos de
transformação. Ao que Freire (1980, p. 25) aponta, “a educação para a libertação é
um ato de conhecimento e um método de ação transformadora que os seres humanos
devem exercer sobre a realidade”.
Os cidadãos que possuem a formação em direitos humanos estarão mais
aptos a reconhecerem seus direitos e os dos outros, cobrar a proteção aos
vulneráveis, exercer a cidadania e a solidariedade.
Cabe, para concluir, citar Candau (2001, p. 35), esta autora reflete
precisamente que “O direito à vida, a uma vida digna e a ter razões para viver, está
na raiz da Educação em Direitos Humanos, deve ser defendido e promovido para
todas as pessoas, assim como para todos os grupos sociais e culturais”.

CONCLUSÃO

Os textos e autores abordados nesta pesquisa corroboram que o sistema


educacional não pode desistir de incorporar a educação para os direitos humanos com
componente fixo de seus currículos. Tanto do ponto de vista legal, como de
responsabilidade social, o campo da educação é intrinsecamente relacionado aos
direitos humanos e seu papel na elaboração de uma sociedade mais justa, solidária,
não-violenta e não excludente.
No momento contemporâneo, esta incorporação se mostra ainda mais
relevante pois, não são poucas as manifestações de governantes e sociedade civil
que demonstram desprezo e desconhecimento do papel desses direitos na sociedade.
Usam de informações falsas para disseminar que direitos humanos protegem aqueles
que cometem crimes, conduzindo um entendimento de desvalorização da proteção a
tais direitos.
Ao educar para os direitos humanos, a escola humaniza e empodera os
educandos sobre a vida em sociedade, sobre a convivência pacífica, sobre a proteção
de si e dos outros, sensibiliza a vislumbrar humanidade nas diferenças humanas de
credo, cor, nacionalidade, gênero e sexualidade.
Programas e legislações construídos no Brasil entre 2003 e 2016
alicerçaram bases pedagógicas que permitiram o trabalho com essa temática, como
é o caso do Programa mais Educação. Um material que aponta o que e como trabalhar
os direitos humanos no âmbito das variadas disciplinas e níveis educacionais.
REFERÊNCIAS

BENEVIDES, Maria Vitória. Prefácio. In: SCHILLING, Flávia (org.). Direitos Humanos
e Educação: outras palavras, outras práticas. São Paulo: FEUSP, Editora Cortez,
2005.

Ministério da Educação (MEC). Direitos Humanos em Educação. SÉRIE


CADERNOS PEDAGÓGICOS. 2011. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=123
31-direitoshumanos-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 17 de set. 2020.

Relatório Anual da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, 2007. Disponível em:
www.social.org.br. Acesso em: 17 de set. 2020.

SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 6ª ed., Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2006.

SIME, L. Derechos Humanos y Educación. In: Educar en Derechos Humanos:


Reflexiones a partir de la experiencia. Lima: Comisión Episcopal de Acción Social
y otros, 1991.

TOSI, Guiseppe. A pesquisa em Educação no século XXI. Anais do III Encontro de


Pesquisa da UFPI. Teresina, 2001. Mimeo.

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