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Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Curso Formação de
Cinotécnicos do CBMSC
NÍVEL BÁSICO

CURSO DE FORMAÇÃO DE
CINOTÉCNICOS 2018

Aluno:_____________________________________________________________

Versão V Revisada e Atualizada 2018

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Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Lição Pagina

Liçao 1 e 2 -Condicionamento e psicologia 03

Lição 03 - Noções de Busca e Resgate Terrestre 76

Lição 04 e 05 - Obtenção de Latidos e Figuração 2018 95

Lição 06 - Obediência e destreza 108

Lição 07 - Princípios de busca urbana 110

Lição 08 - Busca em deslizamentos 117

Lição 09 - Busca Rural 120

Lição 10 - Busca de restos mortais-Revisão 2018 156

Lição 11 - Primeiros socorros 2017 revisado 180

Liçao 12 -Manuntenção canina 2017 revisada 196

Lição 13 - Etologia Canina 208

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LIÇÃO 01 e 02 CONDICIONAMENTO CANINO E PSICOLOGIA CANINA

Instrutor: TC BM Walter Parizotto

INTRODUÇÃO

Como toda ferramenta o cão possui um manual de funcionamento, que deve ser de
pleno domínio de quem irá operar o mesmo, a preparação de cães para busca e resgate,
envolve trabalho de melhoramento e moldagem, aliás em se falando em moldagem, como
nenhum outro animal os cães mudaram longo do tempo, tornaram-se maiores, menores,
mais ferozes, mais dócil, velozes, tudo isso fruto da mão do homem e com o objetivo único
de atender os anseios humanos, o cão varia mais em tamanho, aparência e comportamento
do que qualquer outra espécie do nosso planeta, são mais de 400 raças criadas para atender
as necessidades dos seus parceiros humanos. Essa facilidade em mudar e transformar-se
ocorre porque possui uma imensa capacidade adaptativa capaz de mudar a sua cadeia de
DNA em poucas gerações.

Somente ha pouco mais de uma década passamos a ler o manual de funcionamento


de nosso companheiro de 120 séculos. Mudamos a nossa forma de ver os cães e passamos
a estuda-lo mais profundamente, seus aspectos fisiológicos mas principalmente a etologia
desse que é o mais próximo do ser humano do que todos os demais animais.

A forma de se condicionar cães usadas há mais de uma década são uma roupa velha
que já não cabe mais nesse momento, por isso, três lições fundamentais devem ser
entendidas preliminarmente, para qualquer um que desejar condicionar um cão, não
somente para busca e resgate mas qualquer área.
a) Observar o cão.
Essa é a primeira e mais fundamental dica para quem deseja trabalhar com cães.
Cada cão é um indivíduo com personalidade própria, que tem seu comportamento próprioe
reage de forma particular as circunstâncias.
Segundo Charles Darwin cada espécie é dotada de seu próprio repertório peculiar
de padrões de comportamento e dentro de cada espécie os indivíduos transformam esse
repertório com sua personalidade e a influência do meio, então é fundamental descobrir
como cada cão funciona, o tempo em que ele se mantém motivado com um brinquedo novo,
sua reação a estranhos a locais diferentes e a maneira como demonstra seu afeto.
Por muito tempo a ciência (e os cientistas) ao se referirem a animais não humanos,
examinaram um único individuo da espécie e concluíram que o mesmo representa a espécie
por inteiro (HOROWITZ, 2010), o que não ocorre com os humanos, se um humano tem
dificuldade em matemática, por lógico não atribuímos essa dificuldade a toda a humanidade,
primeiro cada pessoa é um indivíduo e depois membro da raça humana, no caso dos demais

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animais essa ordem é invertida. Por isso é fundamental tratar cada cão como uno, conhecer
bem e profundamente o cão com que se vai trabalhar é o primeiro passo para o sucesso
de um condicionamento.
Os cães domésticos conseguem mostrar exatamente o que querem aos seres
humanos basta um pouco de atenção para compreende-los.
b) Jamais antropomorfizar os cães.
Nos relacionamos com os cães, falamos com eles e imaginamos os seus
comportamentos a partir de uma perspectiva equivocada, impondo aos mesmos os nossos
pensamentos e emoções e com isso esperamos que os mesmos reajam da mesma forma,
ou seja da perspectiva humana (HOROWITZ, 2010), isso está profundamente equivocado.
Os cães tem sentimentos caninos, emoções caninas, comportamento caninos e reações
tipicamente caninas frente as situações que lhes forem apresentadas. As coisas devem ser
vistas sempre do ponto de vista do cão.
c) Muito treinamento.
Uma boa técnica e pouco treino resultará em um péssimo cão de resgate, mas mesmo
com uma técnica simplista, com muito treinamento um cão poderá se tornar um excepcional
cão de resgate.
O cão é como um dardo lançado em direção ao alvo, se o jogador for eventual, até
poderá acertar usando sorte, mas para que tenha lançamentos precisos requer muito
treinamento. Quanto mais treinamento for aplicado ao cão maior será a sua segurança,
menos stress terá em seu trabalho e mais fácil encontrará soluções para problemas que
surgirão nas operações.

1. Origem
Uma cultura dominante até pouco mais de uma década era que o cão doméstico era
um pequeno lobo travestido e que a chave para entender o cão doméstico é investigar e
entender o lobo. Essa corrente tem sido cientificamente rebatida veemente na última década.
Cães e lobos tem um antepassado comum, assim como homens e chimpanzés, no entanto
não é observando como os chimpanzés tratam os seus filhotes que os humanos cuidam.
Muitos fracassos etológicos se dão porque muitos veem os cães domésticos como
lobos inferiores e isso absolutamente não é verdade, os cães evoluíram muito mais que seus
primos lobos, se adaptaram perfeitamente a vida humana, nenhum outro animal que passou
por um processo de domesticação obteve tanto sucesso como o cão doméstico.
Na década de 50 um geneticista Russo chamado Dmitry Belayev iniciou um projeto
com raposas prateadas da Sibéria, animal popular na época por sua pele, ele separou um
grupo de raposas que aceitavam bem os humanos e as domesticou, em pouco mais de meio
Século foi possível verificar uma diferença de 40 genes nos descendentes das raposas de
Belayev das raposas selvagens.
O que muitos fazem ao atribuir ao cão doméstico comportamentos dos lobos
selvagens é ignorar o efeito de 12 mil anos de domesticação.
No entanto, aquele ser doce e peludo, que rola no sofá das nossas salas é ao menos
no que se refere ao seu DNA, 99,96% lobo. obviamente com um caráter muito diferente.
Os canídeos que evoluíram até o cão doméstico que conhecemos estão extintos, no
entanto as análises de DNA realizadas não deixam dúvidas de que o cão descenda quase
que inteiramente do lobo cinzento, o Canis lupus, assim como os coiotes, lobos e chacais.
(Ver figura 01).

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Figura 01 - Lobo cinzento

Fonte: http://nature.ca/notebooks/english/arcwolf_p0.htm

Rastrear os canídeos até sua origem, não é um fato consensual entre os cientistas,
porém todas as correntes concordam com uma origem comum entre todos os canídeos
modernos e extintos.
Umas das correntes fala de um mamífero assemelhado a um cão denominado
borophaginae (Ver figura 02), que viveu na América do Norte há 6 milhões de anos.
Figura 02- Borophaginae

Fonte: Disponível em http://retrieverman.net/tag/borophaginae/

Foi há 1,5 milhões de anos que os mais diversos canídeos se espalharam pelo mundo
todo. Esse processo de evolução está dividido em 3 vertentes evolutivas. A primeira delas
ocorreu na América do Norte e deu origem ao coiote, a segunda na América do Sul, chamada
de Dusicsyon (Figura 03), gerando várias espécies de raposas, e a terceira vertente surgiu
na Eurásia, culminando em espécies de chacais e lobos, de forma particular o lobo cinzento,
o ancestral de todos os cães domésticos.

Figura 03 - Dusicsyon

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Fonte: http://homepages.uwp.edu/egerton/Roots%20of%20Ecology.htm

Evidencias mostram que muitos desses canídeos estiveram envolvidos em processos


fracassados que objetivavam a domesticação. Há muitas evidências arqueológicas dessas
tentativas, que não são diferentes dos mais diversos processos e tentativas de domesticação
de outras espécies, como roedores, aves ou primatas, como ocorre ainda nos dias atuais.
Porém diferente do lobo cinzento, nenhuma dessas outras espécies, voluntariamente se
dispôs a ficar com os humanos.
A derivação do lobo fez com que muitos autores afirmassem que a compreensão do
lobo seja a chave para a compreensão do cão doméstico, o que não é verdadeiro, o fato de
ter um ancestral comum, não faz do cão um lobo inferiorizado (BRADSHAW 2012), a
domesticação é a chave para entender o cão. Das dezenas de espécies da família dos
canídeos que existiram ou existem, apenas uma delas se adaptou bem a domesticação, e
sujeitou-se de tal forma as necessidades humanas, que evoluíram em dezenas de
subespécies adaptadas as necessidades de seus donos, e de acordo com suas funções
primordiais como caçar, correr ou vigiar.
O processo de domesticação foi longo, marcado por fracassos em diversas partes do
mundo e em diferentes épocas. Acredita-se que essa relação tenha iniciado entre 15 e 25
mil anos atrás. Durante todo esse tempo o cão sofreu severas modificações, fazendo com
que essa espécie evoluísse de companheiro dos primeiros seres humanos caçadores e
coletores, até fazer a mesma função nas cidades do nosso tempo.
De forma distinta a outras espécies, a domesticação serviu a diversos propósitos
fazendo com que os cães desempenhassem diversas funções na sociedade humana. Uma
série de passos sem um plano coerente lhes foi imposto, tornando-os os cães de hoje.
Pouco se sabe sobre o inicio do processo de domesticação. Acredita-se, no entanto,
que o cão foi o primeiro dos animais domésticos. O processo mais aceitável é que a
domesticação tenha surgido em vários lugares espontaneamente, fazendo com que os lobos
das aldeias de humanos com o passar dos séculos se transformassem de tal forma, que
hoje pouco se parece com o lobo original.
Qualquer que tenha sido a motivação inicial, certamente foi difícil para os lobos
aceitarem e sujeitarem-se a convivência com os humanos, o que demandou desses um
longo processo de seleção. Filhotes de lobos eram introduzidos em comunidades de
caçadores humanos, ocasionalmente um filhote de lobo de natureza tranquila e submisso
chegava à fase adulta aceitando os humanos como parte da matilha.
É obvio que nem tudo foi tão simples, pois, embora estes lobos tenham ficado mansos
e sociáveis em companhia humana, estavam muito longe de ser domesticados. O processo
de domesticação foi lento, desenvolvido passo a passo ao longo de várias gerações,
encorajados pelo processo de alimentação deliberada.
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Enquanto lobos com temperamentos mais calmos procriavam junto à comunidade


humana, seus filhotes cresciam em um ambiente protetor, não mais precisando sair e caçar
animais grandes. De geração em geração, os lobos mansos foram sofrendo alterações
genéticas em relação aos seus primos selvagens, seguindo um processo de evolução e
seleção natural respondendo a fatores do ambiente humano.
Ao longo dos séculos esses animais foram sofrendo mudanças físicas que incluíram
o porte, o formato do crânio, a cor e textura da pelagem, o tamanho dos dentes e até o
formato dos olhos. No estágio final da domesticação, os humanos começaram a criar
diferentes tipos de cães em um processo de seleção artificial de cor, tamanho, tipo de
pelagem, formato das orelhas e rabo, além de temperamento, que mais se adequavam as
necessidades e a aplicação que os humanos lhes davam.
Há 5 mil anos há evidências de criação de diferentes raças caninas, com diferentes
propósitos, como por exemplo, cães de caça, cães de guarda, ovelheiros e até cães de colo,
esses últimos muito comuns na Roma de 2 mil anos atrás. Com o passar dos séculos e nas
diversas civilizações o cão foi evoluindo de forma e especialidades.
O lobo cinzento foi alterado drasticamente ao longo do tempo. Essa mudança, fez
com ele perdesse muitos dos seus atributos originais, tanto que não há razões para acreditar
que as características que definem os cães de hoje derivem especificamente dos lobos.
Essas características são produtos da domesticação.
Independente das pressões seletivas, apesar das diferenças físicas entre as diversas
raças, os cães são evidentemente cães.
1.2 O sentidos
Para que possamos entender os sentidos dos cães, não podemos fazê-los sob a
mesma ótica dos seres humanos, pois vemos e sentimos o mundo sob aspectos e
importância diferentes, enquanto os humanos são atraídos por luzes e cores, prova disso
são milionários investimentos em placas e luminosos publicitários, embora tenhamos
apenas 3 tipos de cones de células receptoras que são sensíveis ao amarelo, ao verde e ao
violeta, que permitem que nossos olhos sejam capazes de distinguir e captar 10 milhões de
cores diferentes.
Ao longo de nossa evolução fomos aprimorando sentidos que foram necessários e
importantes para nossa sobrevivência e enfraquecendo outros, chegando ao ponto de
descartá-los por completo.
Somos seres com uma visão muito aprimorada, possuímos uma visão noturna
razoável, uma audição média e um olfato insignificante se compararmos aos cães.
Os cães veem o mundo pelos seus odores, possuem um olfato primoroso, uma visão
em cores ruim, uma boa visão noturna e uma audição excelente.
O cão é a "máquina" de trabalho de um cinotécnico que atua em resgate, como todo
máquina o conhecimento do seu funcionamento torna sua operação mais fácil e fará com
que se obtenha o máximo do desempenho da mesma.
De todos os aspectos fisiológicos e psicológicos do cão o que mais será empregado
no condicionamento para operações de busca serão os sentidos, por isso é fundamental
conhecê-los e saber suas características e funcionalidade.
1.2.1 Visão Não utilizar amarelo/laranja nos treinos, para não valorizar a visão em vez do faro

A visão dos cães é muito semelhante a visão humana. Os cães podem ver um pouco
melhor a noite e um pouco menos durante o dia, com uma exceção, a percepção das cores.

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Acredita-se que os cães possam ver tudo o que vemos com um pouco menos de detalhes e
uma leve confusão nas cores vermelho e laranja, que lhes parece em tons de cinza.
Por serem mais eficientes dos que o dos humanos a noite, os olhos dos cães possuem
algumas estruturas a mais. Atrás da retina existe uma camada de células refletoras
chamadas tapetum que dobra a sensibilidade quando a intensidade da luz é fraca. Isso faz
com que os olhos do cão reflitam a noite com a luz dos faróis e lanternas.
Os cães também veem um campo visual muito mais amplo do que os humanos,
enquanto nossa visão seja de 180 graus os cães podem tem uma visão de até 240 graus.
1.2.2 Audição Deve ser valorizada (Brec)

A audição dos cães é mais sensível e mais versátil se comparada a audição humana,
sua audição de baixa frequência tem um alcance similar a dos humanos, mas eles podem
ouvir sons mais altos, os ultrassons.
O limite humano varia de tão baixo 13-20 Hz a tão alto entre 16.000-20.000 Hz, os
cães por sua vez ouve os sons altos até o limite de 70.000-100.000 Hz.
Muitos humanos se esquecem dessa acuidade auditiva dos cães e que também os
mesmos são mais sensíveis a certos ruídos, como ferro arrastando.
1.2.3 Olfato
O olfato é o mais poderoso dos sentidos caninos. Ao nascer o cão não ouve e não
enxerga, mas já possui um poderoso sistema olfativo pronto é ele que o conduzirá ao calor
da mãe. O cão vê a paisagem pelas suas narinas assim como o ser humano vê pela visão.
Um cão pode chegar a 220 milhões de receptores olfativos, comparado com os 5 a
10 milhões dos humanos. Os focinhos úmidos servem para captar as mais sensíveis
moléculas de odor no ambiente, fazendo com que os cães possuam extraordinária
capacidade olfativa.
O epitélio olfativo canino é muito extenso, podendo chegar a 170 cm2, área que é
mais de 30 vezes superior a dos humanos, além desse epitélio gigante, em torno de 220
bilhões a 2 trilhões de nervos ligam o mesmo ao cérebro canino (cem vezes maior que o dos
humanos. Ao chegar no cérebro a parte do córtex olfativo, responsável por analisar os
cheiros é quase 40 vezes mais que a dos humanos.
Uma vez inalado o ar é analisado pelo sistema olfativo canino, que passa pelas
passagens nasais e rodopia em volta dos cornetos, os ossos que suportam os receptores
olfativos. Os receptores analisam e classificam o odor e depois passam essas informações
para o nervo olfativo e dai para o cérebro.

Alexandra Horowitz ver Cão senso (livro)


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Os cães possuem uma imensa capacidade para detectar odores imperceptíveis aos
humanos, conseguem distinguir odores diluídos em uma concentração de uma parte por um
trilhão, os humanos pode sua vez, detectam em entre uma parte por milhão a uma parte por
bilhão, o que dá aos cães uma sensibilidade olfatória entre 10 a 100 mil vezes mais
insignificante que a dos cães.
Os cães tem capacidade olfativas quase ilimitadas, detectam drogas, explosivos,
melanomas e mais uma imensa gama de coisas inodoras para os humanos. No caso de
cães de resgate a abundância de odores liberados pelos seres humanos torna seu trabalho
muito fácil, cabe ao seu cinotécnico possuir conhecimento suficiente sobre a situação para
colocar o cão no caminho certo e ser capaz no processo de condicionamento a comunicar-
se com seu cão de modo a "dizer" ao mesmo exatamente o que precisa ser feito.
1. CONDICIONAMENTO DOS CÃES PARA BUSCA, SALVAMENTO E RESGATE DE
PESSOAS Estudar Skinner
O condicionamento é um processo que visa interferir no comportamento natural dos
cães para um fim específico.
Esse processo é utilizado na formação de cães resgate visando alterar o seu
comportamento em 3 formas:
a) Ressaltando aqueles comportamentos desejáveis;
b) Extinguindo comportamentos indesejáveis;
c) Ensinando novos comportamentos.
O processo de formação desses cão não é algo simples, exige técnica, tempo e muito
trabalho.
Inexistem fórmulas mágicas ou processos simplificados ou ainda ritos sumários para
essa formação, são várias etapas que devem ser preenchidas e vivenciadas pelo cão
integralmente, a passagem com segurança por cada uma das etapas forma cães seguros e
capazes de reagir as situações reais a que serão submetidos.
Via de regra o processo de condicionamento dos cães é behaviorista e tal qual os
humanos, os cães tendem a desejar repetir aquelas ações que lhes trouxeram prazer e não
repetir aquelas que lhes trouxeram frustração. Por isso, usando os princípios do
Behaviorismo, no processo de condicionamento dos cães, busca-se reforçar aquelas ações
que são desejáveis no cão e que são importantes para o trabalho de busca, o segredo, se é
que pode existir um, é estímulo certo na fase certa.
Sempre estimular o cão a aprender sozinho porque grava melhor
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A base do condicionamento é: Estimulo e recompensa.


Quanto mais temporã for o inicio do trabalho de condicionamento dos cães para a
atividade de busca em desastres, melhor será o resultado final e menor será a energia
desprendida na obtenção dos resultados.
Cada fase precisa ser preenchida, e, somente avançar para a fase seguinte quando
cão estiver completamente pronto na fase em que se encontra. Em cada fase é preciso
também respeitar a idade e a maturidade do cão, mesmo que ele seja capaz de fazer coisas
que pertencem a fase seguinte. Não observar esses procedimentos pode trazer muitos
prejuízos emocionais ao cão.
Quando ocorre uma transição tranquila, quando o cão estiver plenamente
condicionado com determinado comportamento que deve adquirir ou extinguir ele será um
adulto mais estável e tranquilo e consequentemente mais eficaz em seu trabalho.
A métodos de formação dos cães de busca, resgate e salvamento, desenvolvido pelo
Corpo de Bombeiros em Santa Catarina para atuação em situações reais é composto das
seguintes etapas:
I) Seleção e formação do cinotécnico;
II) Seleção do filhote;
III) Desenvolvimento de instintos naturais (imprinting);
IV) Auto-figuração;
V) Figuração;
VI) Universalização dos espaços;
VII) Universalização do figurante;
VIII) Formação especializada;
IX) Reforço, obediência e correção;
X) Certificação; e
XI) Manutenção e recertificação. (ver figura 01)

É importante observar que embora a técnica de formação está baseada na idade do


cão, isso não significa que seja um processo estanque. É preciso, além da especificação por
faixa etária, avaliar o cumprimento dos objetivos propostos para cada fase.

Figura 01: Fluxograma do condicionamento

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Fonte: O autor
1.1 - SELEÇÃO E FORMAÇÃO DO CINOTÉCNICO
O cão operativo é uma ferramenta nas mãos de um resgatista. As ações com cães
de bombeiros, a equipe de atuação e principalmente o cinotécnico condutor precisa ter uma
ligação muito grande com o cão e entender sua linguagem e ter sempre em mente que o
cão é uma, dentre tantas ferramentas a ser utilizada por uma equipe de busca, ela precisa
ser colocada no lugar certo para poder ser operada, quanto maior for o domínio técnico da
equipe mais rápido poderá ser atingido o objetivo.
Como ferramenta, um cinotécnico profundo conhecedor das atividades em que o cão
irá desempenhar saberá conduzir de forma correta os treinamentos, saberá que tipos de
ações e quais desafios o cão precisa vencer, terá condições plenas de avaliar o desempenho
do cão e principalmente saber o que se espera do mesmo.
O cão faz parte de uma equipe, é um componente de um time que doutrinariamente
tem seu numero variado conforme o local e o perfil das ocorrências, mas via de regra é no
mínimo 4 para buscas rurais e 7 para buscas urbanas, estar integrado, familiarizado e
ajustado nessa "matilha" é fundamental para o cão.
A qualificação de uma equipe (e do cinoténico) depende muito da vulnerabilidade da
região onde irá atuar, os riscos são divididos em universais, regionais e específicos,
conhecê-los e antecipar-se para eles, é mais do que uma ação preventiva inteligente, mas
sim uma obrigatoriedade para as equipes que operam no socorro das comunidades.
O cão é somente uma ferramenta, ou mais uma, que pode ser utilizada nos desastres,
por isso é fundamental que as equipes estejam previamente preparadas para as situações
que irão encontrar, somente alguém com profundo conhecimento dos desastres em sua mais
diversas formas será capaz de preparar o cão para as ilimitadas situações extraordinárias
que podem surgir.
Sem entrar em conhecimentos específicos destinados, por exemplo, à minas, busca
em escombros de edificações especiais com produtos perigosos, radioativos ou outra

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características bem individualizada, genericamente existem características que toda equipe


de resgate deve dominar, conforme listagem abaixo:
a) Um dos aspectos fundamentais é o domínio em Sistema de Comando de
Incidentes e atuação de forma integrada, pois de um modo geral, os cães integram um grupo
maior e normalmente com várias agencias envolvidas;
b) Conhecer e estar previamente treinado para as ocorrências vulneráveis da região
onde atua;
c) Conhecer os aspectos geográficos da região onde atua;
d) Possuir noções básicas de: orientação, navegação, Sistemas de informações
Geográficas, espaços confinados, altura, meio líquido, GPS, espaço florestado, áreas
deslizadas, estruturas colapsadas, animais peçonhentos, produtos perigosos, riscos no
manuseio de cadáveres, primeiros socorros e comando unificado;
e) Saber atuar com meios auxiliares: aeronaves, cães, cavalos e força tarefa civil;
f) Para atuar como cinotécnico condutor de cão de bombeiro, além dos
conhecimentos mencionados anteriormente, o bombeiro ainda deve dominar os seguintes
conhecimentos: fisiologia canina, primeiros socorros em animais, anatomia canina,
psicologia canina, parasitologia canina, cuidados e higiene na criação de animais e domínio
das técnicas de adestramento para obediência e para as diversas atividades em que o cão
irá operar;
g) O cão deverá ser treinado dentro do padrão em que vai operar, ele não pode ser
apresentado àquele cenário no dia da ocorrência,;
h) Condições de operacionalidade deverão ser constantemente avaliadas e
aperfeiçoadas;
i) Conhecer edificações e pontos com risco especiais;
j) Andar no compasso da evolução da sua região, conhecendo os riscos principais
que afetam as cidades.
k) Além disso, um fator extremamente importante é a existência de bombeiros que
realmente gostem de cães.
A relação entre horas de trabalho e horas de treinamento é de 1/1000, assim, o
treinamento com os cães exige dedicação contínua. Nem sempre é um trabalho agradável,
pois existem outras atividades como higienização, cuidados e limpeza do canil, que nem
sempre atrai quem não gosta de cães. Por isso é fundamental, na escolha da equipe que vai
operar com cães, que seja considerada a vocação individual dos membros envolvidos.
Cães que operam bem em 100% devem ter treinamento em 150% do seu potencial,
de um modo geral, cinotécnicos condutores de cães de resgate devem gostar mesmo é de
treinos, pois muitos talvez sequer cheguem a atuar.
Costumeiramente se vê que o início das atividades de preparação para a implantação
de uma equipe de busca e resgate, começa pelo cão, o que está errado, o início deve sempre
ser pela formação técnica da equipe.
O cão é o último a entrar no processo, primeiro deve ocorrer a seleção do cinotécnico,
a preparação do mesmo, antes do cão entrar no processo deve ocorrer a preparação da
estrutura onde o mesmo irá treinar, bem como a logística local, para somente então iniciar o
processo de seleção de um bom filhote.
Em seu processo de formação um cinotécnico condutor de cães de resgate
dificilmente obterá a total potencialidade operativa de um cão logo em seu primeiro

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adestramento. O animal será lapidado ao longo do tempo, a ferramenta precisa de mãos


hábeis para operá-la, assim, o cão como ferramenta de trabalho, precisa de alguém que o
conheça física e psicologicamente e que saiba como obter dele o máximo possível em prol
da atividade de salvamento.
Em tese o cão será utilizado unicamente naqueles situações complexas demais para
os humanos ou quando estes com seus equipamentos ou sentidos não podem fazer muita
coisa, isso implica em dizer que os cães irão para áreas com elevados riscos, percorrer
grandes distâncias em áreas rurais. O ambiente de desastres está para resgatistas
preparados como a centro cirúrgico está para médicos e enfermeiros.

1.2 SELEÇÃO DOS FILHOTES


Selecionar bem um filhote para as atividades de busca, resgate e salvamento de
pessoas, pode encurtar o caminho e facilitar o processo de condicionamento e melhorar os
resultados.
O processo de formação e treinamento é decisivo para a formação do caráter e a
aquisição das habilidades de um bom cão de busca, no entanto, a seleção de um bom filhote,
poderá tornar esse trabalho muito mais simples, pois 20% de tudo o que cão é ou será vem
com sua carga genética.
No entanto essa não é uma tarefa fácil já que muitos testes foram sendo
desenvolvidos ao longo dos anos com objetivo de prever o caráter do cão adulto a partir de
traços infantis. A maioria deles não possui um fundamento científico e consequentemente
poderá apontar resultados errôneos, principalmente no que corresponde a agressão e a
dominação (BRADSHAW 2010) isso porque em torno da oitava semana de vida, quando a
maioria dos testes é realizado, a conduta psicológica do filhote é maleável, único traço que
fica visivelmente detectado é o medo extremo, pois esse traço é efetivo e vem de uma base
genética.
Os testes, no entanto, podem ser úteis, pois detectam o potencial olfativo e as
deficiências de socialização. O desejo de interação com seres humanos é depois do
potencial olfativo a principal característica de um bom cão de resgate.
Então, o processo de seleção dos filhotes se dá com a observação dos seguintes
aspectos: traços familiares, traços fisiológicos, e traços psicológicos, que serão descritos a
seguir.
Preliminarmente é fundamental dizer que, a experiência formadora inicia-se quando
ele completa 3 semanas de idade (BRANDSHAW 2012) e continua por vários meses, sendo
decisivo na 10 ou 11 semana de vida. É impossível descrever o comportamento social antes
da 8 semana, pois somente nesse período que os filhotes começam a reconhecerem-se uns
aos outros como indivíduos e não possuem qualquer tipo de personalidade formadas.
Numerosos testes científicos falharam quanto a descobrir qualquer validade em
testes com previsão do futuro caráter do cão, principalmente aspectos envolvendo
dominância ou agressão. O único aspecto da personalidade que parece se destacar e
permanecer antes das 8 semana é o medo.

1.2.1 Traços familiares


Algumas características sejam físicas ou psicológicas, são passadas dos pais aos
filhos, como resultado da herança biológica. Logo, traços não aceitáveis nos pais podem ir
para os filhos, e comportamentos e traços indesejáveis nos padrões para cães de busca,
devem ser refutados a partir da análise dos pais.

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A genética, que conceitualmente é a área da biologia responsável pelo estudo da


hereditariedade, ou seja, a transmissão de características de pais para filhos, ao longo das
gerações é um fator importante para a seleção dos futuros filhotes que se tornarão cães de
resgate.
A figura mais notável no estudo da genética foi o monge Gregor Mendel que, durante
muito tempo, pesquisou o processo de transmissão de caracteres entre diversas gerações
de ervilhas e concluiu que esta se dava por meio de partículas ou fatores encontrados nos
gametas. As partículas descritas por Mendel atualmente são conhecidas como genes e se
encontram nos cromossomos, mais precisamente no DNA.
Nesse estudo, dois conceitos são fundamentais, genótipo e fenótipo.
Genótipo (do grego genos, originar, provir, e typos, característica) refere-se
à constituição genética do indivíduo, ou seja, aos genes que ele possui.
As diversas características apresentadas por um indivíduo, nesse caso, de forma
especifica os cães, é designado como fenótipo (do grego pheno, evidente, brilhante, e typos,
característico) sejam elas morfológicas, fisiológicas e comportamentais. Também fazem
parte do fenótipo características microscópicas e de natureza bioquímica, que necessitam
de testes especiais para a sua identificação.
Entre as características fenotípicas visíveis, podemos citar a cor da pelagem, a cor dos olhos,
o tamanho da cauda. Já o tipo sanguíneo e a sequência de aminoácidos de uma proteína
são características fenotípicas reveladas apenas mediante testes especiais.
O fenótipo é resultado da interação do genótipo com o ambiente. Ao longo da sua
vida os seres vão agregando valores e qualidades que acabam sendo repassados aos seus
descendentes.
No caso da espécie canina, pode-se realizar cruzamentos dirigidos visando a
determinação do padrão de herança das características que são importantes para o trabalho
de busca, ou ainda pode-se criar linhagens específicas através da análise dos heredogramas
permitindo que seja determinado o padrão de herança de uma certa característica (se é
autossômica, se é dominante ou recessiva, etc.).
Da mesma forma, comportamentos e qualidade indesejáveis podem ser excluídos
através da análise de bagagem genética.
Assim, a chance de se encontrar um cão com as características adequadas para a
atividade de resgate é menor na escolha eventual, do que a partir da análise prévia dos pais,
por exemplo, ao acasalarmos pais com formação nasal desejada, a probabilidade é bem
maior que teremos filhos com a formação nasal desejada.
Toda característica esta associada a um gene, que pode se apresentar de duas
formas:
a) Dominante: O gene dominante é aquele que determina uma característica, mesmo
quando em dose simples nos genótipo, como é o caso dos heterozigotos.
b) Recessivo: é o gene que só se expressa quando em dose dupla, pois na presença
de um dominante, ele se torna inativo, como é o caso dos heterozigotos. Isso ocorre porque
a proteína produzida pelo gene recessivo é defeituosa e às vezes não funcional.
Os heredogramas são gráficos utilizados em Genética para expor
genealogia ou pedigree de um indivíduo ou de uma família. Através de símbolos e sinais
convencionais são caracterizados todos os integrantes da linhagem sobre a qual se
questiona alguma coisa.

14
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

A seleção genética não é algo muito simples de ser aplicado por pessoas de senso
comum, porém podem facilmente ser trabalhadas por profissionais da área, como biólogos,
veterinários ou zootecnista.

1.2.2 Traços fisiológicos


Os traços fisiológicos consistem na definição da idade, no tamanho, no sexo e na
observância da fisiologia do canal nasal do cão.
Com relação a idade, dois aspectos devem ser levados em conta:
a) Máxima: 6 meses
b) Mínima: a partir da segunda semana de vida
Quanto mais jovem for o cão, maior será sua capacidade de aprendizado, quando se
faz uma seleção temporã, o cão poderá ser submetido mais rapidamente ao ambiente onde
ira desenvolver suas habilidades e ficará distante de ambientes e situações indesejadas.
O tamanho ideal é que não seja pequeno demais, pois terá dificuldade para se
deslocar na maioria dos cenários e transpor obstáculos ou percorrer longas distâncias, ou
não será forte o suficiente para se locomover nas áreas deslizadas, tão pouco deverá ser
grande demais, pois irá desgastar facilmente, terá dificuldade de se locomover nos
escombros ou de ser transportado.
O sexo não é fundamental, está mais associado à preferência e habilidade do
condutor, machos são mais difíceis de serem moldados, pois tendem sempre a liderança e
recebem muita influência dos impulsos sexuais, já as fêmeas são mais calmas, mas tendem
a ser mais submissas, porém tem comportamento complicado durante o cio e quando tem
filhotes podem ter o adestramento trocado.
O canal nasal é a principal ferramenta do cão para farejar as vítimas, pequenos
detalhes fisiológicos resultam em milhões de células olfativas a mais disponíveis nas
operações de busca.
Para entender mais profundamente essas questões é preciso uma pequena resenha
da fisiologia dos órgãos e regiões do focinho dos cães.
É o focinho, que nos cães é sempre úmido do cão que torna seu faro tão eficiente, já
que dissolve as moléculas inaladas intensificando sua percepção. O nariz humano possui
de 5 a 20 milhões de células olfativas, o canino possui mais de 200 milhões e a área no
cérebro que processa o olfato é 40 vezes maior do que a do homem. Eles conseguem sentir
cheiros que nem ao menos conseguimos identificar, e ainda seguir rastros de cheiro de
pessoas que passaram a vários dias, isso faz com que o olfato do cão seja até um milhão
de vezes mais apurado que o dos humanos, isso porque a superfície da mucosa olfativa
canina mede 150 cm2 e nos humanos mede em torno de 3 cm2.
O fundamental para a qualidade do faro é a natureza do trânsito, do fluxo do ar e a
situação do etmoide dos cães, cuja posição tal que a mucosa que reveste as fossas nasais
possa ser impregnada pelo maior número possível de partículas de cheiro. Por isso é que a
localização desses terminais nervosos é transcendental. Quanto mais alto o etmoide estiver,
menor será a qualidade de ar impregnado de partículas de cheiro que passara pela mucosa;
ao contrário, quanto mais ao nível do canal por onde passa o ar, mais partículas de cheiro
serão captadas.
Testas baixas e inclinadas fazem com que o etmoide fique situado bem no nível de
cana nasal, enquanto que as testas retas e altas colocam-no em uma posição bem mais alta
e praticamente fora do alcance do fluxo de ar.

15
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Assim, em princípio, cães de bom faro são aqueles dotados de stop (união entre os
ossos nasais e frontais) imperceptível ou bem pouco definido, decorrente de testas baixas e
inclinadas; enquanto que os de stop muito definidos ou marcado, em virtude de possuírem
testa alta e reta, têm menos capacidade para captar os cheiros.

A natureza do trânsito do fluxo de ar vai também ser determinada pelo calibre de


abertura, pela situação das narinas e, ainda, pela construção e tipo de cana nasal, a qual
deverá ser de forma tal que não contenha nenhum obstáculo que possa impedir o contato
de todo o ar aspirado com a mucosa olfativa.
É evidente que o tamanho da abertura das narinas vai regular o volume de ar que
pode ser aspirado em determinada fração de tempo. Em razão disso, narinas mais amplas
permitem que maior quantidade seja aspirada e as de abertura menor, menos ar.

A posição das narinas vai estabelecer o denominado cone de farejamento, que


corresponde à área de espaço aéreo ocupada pelo ar que será aspirado; ele é determinado
por duas linhas divergentes: uma tangente à última porção da cana nasal (isto é, a cartilagem
do vômer) e a outra uma linha perpendicular à face anterior do nariz, mais propriamente ao
centro das narinas, e que se dirige daí ao solo, (ver figura 2).

Figura 02- Cone de farejamento

16
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Fonte: O autor
1.2.3 Traços psicológicos
O perfil psicológico está associado a escolha da raça e dentro da raça a perfis de
comportamento e capacidade de aprendizagem.
Pode-se ter a equivocada ideia de que os cães são todos equivalentes, no entanto ao
longo de milhares de anos os cães foram sendo adaptados pelos humanos para atenderem
as suas necessidades, com isso comportamentos indesejados foram isolados e
comportamentos desejados foram separados e fortalecidos, de forma que derivaram nas
diversas raças modernas (BRADSHAW 2010).
Dentre as diversas raças trabalhadas e modificadas pelo homem para tantos fins,
inexiste ainda uma raça melhorada e construída para atividades de busca de pessoas, as
raças que utilizamos e que mais se adaptam a essa atividade foram aquelas criadas para
caça. Na escolha da raça alguns fatores precisam ser levados em conta, o perfil do condutor,
o local onde esse cão irá viver e o tipo de trabalho que irá desempenhar, dentre outros, a
raça a ser utilizada depende mais do perfil do condutor do que o cão em si mesmo, no
entanto alguns aspectos podem ajudar nessa escolha:
a) Reação com estranhos: Ao se colocar o filhote entre um grupo de pessoas
estranhas, o mesmo deverá permanecer tranquilo e mostrando interesse pelas pessoas. O
cão não pode mostrar atitudes de timidez, de agressão ou de medo, esses traços podem ser
detectados ainda na mais tenra idade.
b) Reação com brincadeiras: É fundamental para o treinamento de busca que o cão
goste de brincar. Uma maneira de se verificar o seu instinto lúdico é prender o filhote por
uma guia de dois ou três metros e mostrar vários brinquedos a sua frente e observar a sua
reação. O cão ideal se interessa por todos os brinquedos e tenta morder a todos, cães que
não se interessam por brinquedos e brincadeiras tendem a não produzir bons resultados no
processo de condicionamento, uma vez que a base do treinamento repousa nesses
conceitos.
c) Latidos: Nas operações de busca, o ideal é que o cão aponte a posição de uma
vítima através do latido. Filhotes que reclamam seu brinquedo latindo desde cedo, tem mais
facilidade no processo de adestramento, em geral alguns filhotes já demonstram esse
potencial a partir da 3a semana de vida.
d) Relação com o condutor e com humanos: Boas relações com humanos é um ponto
fundamental no processo de condicionamento, espera-se que o binônio e o condutor tenham
uma boa sintonia, possam formar uma equipe onde um seja dependente e confiante no
outro, bem como o desejável é que cães de busca e resgate gostem muito de interagir com
humanos sem qualquer restrição.

17
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e) Observação do comportamento: Esse é sem dúvida a mais importante de todos os


itens elencados. A partir da 8a semana é possível identificar comportamentos e aspectos
psicológicos desejáveis no filhote. ë fundamental que essa observação não seja apenas uma
ocasião, ela precisa se em diversas ocasiões e em situações diversas.

1.3 DESENVOLVIMENTO DE INSTINTOS NATURAIS (IMPRINTING)


Uma fase importante para o condicionamento que se estende da 2ª semana ao 3º
mês de vida, essa é uma fase fundamental para a formação psicológico do futuro cão de
busca em desastres.
O filhote tem necessidade de uma infância tranquila, uma convivência estável na
matilha e uma transição segura para a nova matilha, nessa fase, se constrói uma boa base
psicológica para o futuro cão de resgate. Em seu livro Cãosenso, John Bradshaw (2010)
afirma que os cães não nascem amigáveis com os seres humanos, essa é uma relação que
precisa ser construída. Nos primeiros dias de vida os animais desenvolvem um fenômeno
conhecido como estampagem filial, pelo qual os animais novos aprendem as características
dos seus pais e no caso dos cães inclui-se o conhecimento da sua matilha.
A partir da 3a semana de vida, os cães deixam de ficar sonolentos e começam a
interagir, no período conhecido como janela de oportunidade que perdura da 3a a 11a
semana de vida, os filhotes tendem a aceitar com mais facilidade as pessoas e experiências
que lhes são apresentadas. Estudos mostram que cães que não tiveram contato com
humanos até essa fase tendem a ficar mais resistentes a aproximação (BRADSHAW 2010).
O autor relata que a incomum capacidade dos cães para a múltipla socialização é o
mecanismo pelo qual podemos nos inserir no meio social dos mesmos e nos colocar como
substitutos de sua matilha natural em um papel que na natureza seria desempenhado pelos
seus pais e a matilha que o cerca. É nessa fase que os cães aprendem sobre a identidade
geral da sua espécie e sobre a identidade específica dos indivíduos que o rodeiam.
Pela estampagem, o filhote irá categorizar ações e pessoas como amigáveis e
desempenhará um forte papel ao orientar as preferências do mesmo no sentido do que evitar
ou do que se aproximar, seja de experiências agradáveis ou indesejáveis.
Após a escolha dos padrões físicos, comportamentos desejáveis precisam ser
acentuados, tais como acentuar os instintos de caça e o desejo de brincar, a brincadeira é o
centro do universo do resgate, as experiências vividas nessa época tendem a não ser
esquecidas pelos cães.
Não se deve inserir qualquer punição nessa fase, alguns traumas podem nunca ser
superados, fator importante também é fazer com que o filhote, após a imunização, possa ter
contato com muitas pessoas e muitos locais. Cães de busca e resgate precisam gostar muito
de seres humanos, indistintamente, adultos ou crianças, homens ou mulheres. Muitos erros
que se observa em treinadores é o de colocar seus cães em uma redoma, deixando os
mesmos intocados, fazendo com que esses cães interajam somente com a matilha,
privando-lhes esse desejo de interagir com as pessoas.
Alguns comportamentos como medo, segurança, prazer em brincar com o ser
humano, podem ser sedimentados ou excluídos nessa fase. O mais importante, é nessa fase
que o filhote torna-se compulsivo pela brincadeira. A vida do filhote se resume em alimentar-
se e descobrir o mundo, então, apresentar um mundo de brincadeiras e o despertar da
curiosidade é o grande objetivo de todos os trabalhos desenvolvidos nesse momento.
O trabalho de condicionamento e aprendizado para um cão de que vai operar em
ações de busca, precisa iniciar o mais cedo possível, no mesmo tempo que o cão começa a
aprender.

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Até determinado momento da sua vida, um cão de busca é igual a qualquer outro, ele
late, corre, faz suas necessidades, se estiver solto na natureza ele viverá com sua matilha e
usará seus instintos para sobreviver.
Em todo o processo de aprendizado o cão jamais deixará de ser cão, não fará nada
que não pertença a sua espécie, dessa forma o processo de condicionamento e aprendizado
vai reforçar ou extinguir algum comportamento que pertence ao instinto natural do cão.
De forma particular, o potencial do cão para caçar usando o seu incrível potencial
olfativo é o que interessa aos bombeiros, esse incrível potencial pode ser revertido,
potencializado e adaptado para a localização de pessoas ou objetos em determinadas
circunstâncias.
Nas primeiras semanas de vida o cão não vai aprender, mas pode ter seus sentidos
estimulados, uma série de exercícios simples despertarão no cãozinho a sua vocação para
o trabalho de faro e busca de pessoas.
Uma maneira interessante para se descobrir os interesses e as capacidades de um
filhote é simplesmente lhe dando uma porção de objetos que despertem seu interesse em
interagir.
Balançar um fio com um paninho ou um brinquedo na frente do focinho, despertando
seu desejo de seguir e caçar, esconder brinquedos e guloseimas, são ações simples que
despertam a curiosidade e faz com que o futuro cão de resgate se adapte mais facilmente
ao trabalho e aos treinamentos.

Os cães gostam de novidade, de explorar novos brinquedos, tudo o que for novo traz
a necessidade de atenção imediata, jovens cães de trabalho precisam vencer o tédio e
manter-se ativos e motivados, nessa fase também o filhote precisa de muitos brinquedos e
espaços para que possa enterra-los, enfiar o focinho, mastigar, sacudir, perseguir e destruir,
também estimular o mesmo a ir vencendo alguns obstáculos propositadamente colocado em
seu caminho.

1.3.1 desenvolvimento de estímulos naturais


Como afirmado anteriormente, os cães de busca, resgate e salvamento não precisam,
em tese, aprender muitas coisas novas já que as principais ações que farão estão
associadas ao seu instinto. O que precisa ser reforçado é o condicionamento, ou seja,
quando e em que circunstâncias o cão deverá atuar, mediante a necessidade do seu
condutor. Estímulo e resposta é a base da ciência Behaviorista, a ciência do comportamento.
Os cães são produto do processo de aprendizagem pelo qual passaram desde a infância
19
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até a fase adulta. No quadro 02, abaixo, apresentamos uma síntese dos estímulos
considerados essenciais para os três primeiros meses de vida de um cão em processo de
condicionamento.
Quadro 02: Desenvolvimento de estímulos com a idade
Idade Expectativa de Observaçã Exercícios indicados
comportamento o
ESTAMPAGEM E DESENVOLVIMENTO DE ESTÍMULOS NATURAIS
07 dias Consiga encontrar as Colocar obstáculos de papel ou
mamas da mãe usando outro material olfativamente
apenas o olfato inerte entre a mãe e o filhote.
21 dias Que responda a estímulo Estímulo odorífico (cravo,
odorífico no nervo lavanda, anis, benzol e xilol)
olfatório (cravo, lavanda,
anis, benzol e xilol)
21 dias Que responda a estímulo Estímulo odorífico (canfora,
no nervo trigêmeo eucalipto, éter, essências e
(canfora, eucalipto, éter, clorofórmio)
essências e clorofórmio)
4ª semana Início da
janela da
oportunidad
e
4ª semana Que se aproxime Apresentar o maior número
voluntariamente dos possível de pessoas ao filhote
seres humanos deixar que o mesmo se
aproxime voluntariamente
4ª semana Que deixe
voluntariamente o ninho
e explore os arredores
sem medo
4ª para 5ª Que comece a interagir
semana com brinquedos
5ª semana Que desperte interesse Colocar pequenas amostras de
por variações odoríficas cravo, lavanda, anis, benzol,
nos brinquedos xilol, canfora, eucalipto, éter,
essências e clorofórmio.
5ª semana Que se aceitem
brinquedos e materiais
colocados no ninho e os
transformem em
brinquedos
5ª semana Que se aproxime
naturalmente dos
humanos e interajam
espontaneamente

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5ª semana Que sigam os seres


humanos quando
estimulados em busca
da brincadeira
5ª semana Que deem Decisivo Filhotes veem, filhotes fazem
prosseguimento a para o
brincadeiras ou ações aprendizado
iniciadas por humanos
ou cães mais velhos
6ª semana Que desperte interesse
por sons nos brinquedos
6ª semana Que desperte interesse
brinquedos em
movimento
6a semana Que consiga localizar
petiscos e ração nos
brinquedos e em
pequenos esconderijos.
6a semana Que despertem
interesse por móbiles
suspensos ou por
brinquedos em
movimento
7ª semana Que emitam grunhidos e
latidos por comida ou por
atenção
7ª semana Que resolva problemas O filhote deverá ser capaz de
semi-complexos, que vencer obstáculos físicos,
pegue petisco no alto, localizar o caminho de volta
que consiga para o ninho quando
desvencilhar os petiscos deslocado, Colocar petiscos
de brinquedos, em labirinto, alto, semi
enterrado e dentro de
brinquedos inteligentes
7ª semana Que reaja a voz humana
8ª semana Que não demostre medo
de altura e pisos estáveis
8ª semana Que consiga localizar a
comida localizar o
alimento totalmente
escondido
8ª semana Que persiga
possessivamente
brinquedos em
movimento e sonoros

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Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

8ª semana Que não demostre medo


com lugares estranhos
8ª a 10ª Que lata
semana espontaneamente pelo
petisco, brinquedo ou
pela brincadeira.
8ª a 10ª Que se sinta seguro e
semana feliz longe da mãe e da
matilha
8ª a 9ª Que siga Colocar os petiscos
semana espontaneamente o escondidos, chamar a atenção
gesto de apontar o dedo do filhote e apontar
9ª a 11ª Que desenvolva Estando com outras pessoas,
semana vínculos fortes com o responde ao chamado do
condutor condutor, chora ao separar-se
etc.
Fonte: O Autor
Nessa fase também é introduzida a toca, a caixa de transporte do cão, é nela que ele
descansará, se sentirá seguro e confiante, por isso a toca deve ter os brinquedos do cão,
panos com cheiro da mãe durante o afastamento e do cinotécnico.
Nas operações de busca quando estiver cansado ele se sentirá seguro e confiante
para descansar, nas viagens da mesma forma.
A escolha de uma caixa adequada e confortável, segura para o cão é importante e
desde pequeno o mesmo deve ser estimulado a viver na mesma.

1.4 AUTO-FIGURAÇÃO
Essa fase que se inicia 3º mês de vida e se estende até o 7º/8º mês.
O condutor deverá ser o primeiro figurante do filhote. Inicialmente é preciso destacar
que, nessa fase ocorre um dos maiores traumas para a vida do filhote que é a separação da
matilha. Essa transição pode/deve ser aproveitada pelo condutor, dando ao cão segurança
e estando presente nos momentos mais difíceis do filhote.
Não se deve confundir segurança com dependência. O cão e o condutor irão formar
um time, um binômio, irão trabalhar juntos numa relação estável.

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O condutor será o responsável pelo ensino das coisas mais importantes da vida de
trabalho do cão, nessa fase é latir pela brincadeira, a capacidade de aprender e o desejo de
brincar.
O condutor se torna o substituto da matilha, a pessoa mais importante da vida do
filhote. Por isso, o filhote deverá aprender tudo aquilo que aprenderia na matilha e depois
disso o condutor poderá tratar dos medos e traumas do cão, durante toda a sua vida.
As primeiras buscas que o cãozinho fará devem ser feitas buscando o seu condutor,
isso prossegue mesmo nas fases seguintes quando o treinamento exigir algo traumatizante
ou o cão se mostrar inseguro em avançar o condutor poderá ocupar o lugar do figurante,
isso dará um estímulo maior para o cão.
É importante que o cão e seu condutor tenha contato com muitas pessoas, na
presença do seu condutor ele pode ser tocado por outras pessoas, pode brincar e ser levado
a locais de grande acúmulo de pessoas.
O condutor moldará o filhote, fará com ele as primeiras buscas, fugirá das vistas com
cão e fará que a brincadeira seja a maior aspiração da vida do cão, pois ele tem que amar
seu condutor e se isso ocorrer ele fará por ele coisas que não faria por qualquer outra
pessoa.

1.5 FIGURAÇÃO
Essa fase inicia no 7º/8º mês e dura até no máximo o 10º mês de vida do cão.
O figurante é um forjador, é um formador do caráter de um cão. Assim praticamente
estamos falando de um estudioso do comportamento animal, um portador de alegria, que
fará com que o cão deseje brincar mais do que qualquer outra atividade em sua vida.
Nos braços do figurante e na sua habilidade um cão transformar-se-á em uma
máquina onde colocará todos os seus sentidos e habilidades há disposição de uma equipe
de busca e fará disso a sua vida, e em seu potencial estará à esperança de pessoas que se
encontrem em situações de risco.
Um verdadeiro figurante deve saber favorecer o instinto do animal, potencializando e
fazendo crescer a possessividade do cão pela brincadeira, que será seu trabalho, e ao
mesmo tempo conhecer a forma de equilibrar tanto a conduta como o instinto mencionado.

1.6 UNIVERSALIZAÇÃO DOS ESPAÇOS

Essa fase inicia do 6º/7º mês em diante e deve perpetuar-se durante todo o
treinamento do cão e visa apresentar ao cão o máximo possível de locais, situações e
problemas para que aprenda a lidar com os mesmos e superá-los.
O cão é territorialista e tende a restringir-se em seus domínios, por isso é fundamental
que o cão se sinta seguro em qualquer lugar, qualquer hora e em situações diferentes.
No treinamento do cão deve-se evitar, ao máximo, rotinas pré-estabelecidas. Um
canídeo que vive livre irá resolver todos os problemas que surgirem para sobreviver, irá
buscar mais longe quando for preciso, irá superar seus concorrentes e predadores.
Analogicamente o mesmo deve ocorrer com as atividades de busca, o cão não atuará em
um mesmo cenário, na mesma hora, exceto nas atividades desportivas, por isso a variação
de horários, climas, locais e problemas farão com o que cão tenha mais chances de reagir
melhor frente aos problemas que tenha sido previamente apresentado.

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1.7 UNIVERSALIZAÇÃO DO FIGURANTE


Essa fase inicia do 8º ao 10º mês em diante e deve perpetuar-se durante todo o
treinamento do cão.
Nessa fase o cão já está maduro e passa a desvincular-se “da pessoa” para o ser
humano.
A brincadeira e o prêmio passam a ser o objetivo principal do mesmo, não importa
quem seja a pessoa, ele precisa saber que no final sempre terá brincadeira.
Recomenda-se que as primeiras sessões se deem em um método que exponham
vários figurantes simultaneamente, um dos métodos mais eficientes e utilizados é o método
da Estrela K-SAR, (CORTES, 2002) pois isso dará mais segurança ao filhote.

1.8 FORMAÇÃO ESPECIALIZADA


Os cães tem sido aplicados nas seguintes atividades principalmente:
a) busca em área rurais;
b) busca em estruturas colapsadas;
c) busca em avalanches;
d) busca em deslizamentos;
e) busca de corpos submergidos;
f) busca de restos mortais;
g) indicativos em perícias;
h) salvamento aquático.
Os cães podem atuar em uma ou mais dessas áreas, cada uma delas no entanto
exige treinamento especifico adaptado e adequando ao ambiente e as características de
cada ocorrência.
O fundamental de uma busca com cães é sempre igual, uma pessoa que está fora da
vista do mesmo, que precisa ser localizada através do olfato, isso é básico para todas as
atividades e todas partem de um núcleo comum, as diferenças entre cada uma delas,
repousa na forma como as partículas de odor se comportam em cada um desses
ambientes.
1.9 REFORÇO, OBEDIÊNCIA E CORREÇÃO
Cães que praticam de forma regular exercícios de obediência e controle desenvolvem
coragem, confiança para superar obstáculos e o perfeito controle do condutor sobre o cão
no cenário do desastre. Espera-se que o cão supere todos os obstáculos que lhe serão
apresentados e com isso diminuirá o risco de deixar uma vitima para trás.
O cão precisa ser conduzido da forma como a operação será comandada, ir na
direção designada, buscar em 3 níveis, em andares superiores ou subsolos, no alto e em
locais que até possam vir a apresentar riscos, e, é nas sessões de obediência que o cão
adquire a capacidade de atuar dessa forma.
As sessões de obediência devem ocorrer em todo o tempo, precisam ser agradáveis
e alegres para o cão. Quando aprende com alegria, em treinos que lhes tragam prazer, o
cão ira desempenhar essas ações da mesma forma nos trabalhos reais.
A prática de obediência é um assunto polemizado entre os adestradores de cães de
todo mundo, existem críticos severos e defensores dessa atividade em todos os cantos.
24
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Via de regra os críticos dos exercícios de obediência, também são críticos dos modelos de
certificações que focam com rigor na obediência, principalmente quando esses
regulamentos estão associados a regulamentos de competições.
A resposta para se as sessões de obediência fazem bem ou mal para o
condicionamento do cão, está diretamente associada ao modelo de treinamento que se
aplica, tudo aquilo que o cão faz com prazer e que tenha mesmo que a mais tênue ligação
com experiências reais fará bem ao cão. Sessões cansativas, que tragam estresse ao cão,
mesmo que o faça melhorar seu desempenho no exercício que esta sendo executado, será
prejudicial ao cão.
Assim, nessas sessões deverá ser trabalhado o cão com altura, solos instáveis,
materiais desagradáveis, escadas, pranchas, túneis, rampas, enfim, quanto mais obstáculos
forem apresentados antes de uma ocorrência real, maiores serão as chances de sucesso do
cão em situações reais, sem no entanto deixar de ficar atento sempre ao prazer para o cão.
Uma boa opção é fazer as sessões de obediência em intervalos curtos, com muita
frequência, associadas a momentos prazerosos para o cão.

1.10 CERTIFICAÇÃO

A certificação é um ponto crucial e fundamental no processo de condicionamento. É


uma prova na qual o cão é submetido para provar que está apto a ser empregado em
operações reais.
Há segmentos contrários a certificação, no entanto essa é uma tendência inevitável,
nos principais organismos do mundo essa é a única forma de entrada de um cão para o
serviço operativo.
A certificação oferece vantagens principalmente para quem gestiona uma operação.
A chegada de um cão certificado é a garantia de que esse cão faz o que propõe-se a fazer,
em uma analogia é o certificado universitário do cão
Há vários tipos de certificação, a grande maioria é muito semelhante entre si, existe
um regulamento que deve ser seguido e um juiz avalia o despenho dos cães, normalmente
essa prova é dividida em vários níveis que medem desde a aptidão do cão até a sua
operatividade. Normalmente os cães precisam ser submetidos anualmente a uma prova para
avaliar a sua capacidade de ser empenhado em ocorrências reais.
Ao falar sobre a importância da certificação de cães para a atividade de busca, PIVA
(2010) faz uma correlação com a área comercial, que diante da necessidade de aumentar a
qualidade dos produtos e tornar-se competitivo no mercado internacional, desde a década
de 90 se começou a criar normas e sistemas de gestão de qualidade. Estabelecidos os
padrões para os principais produtos, se precisaram constituir os mecanismos para a
mensuração de conformidade destes padrões. A forma de avaliação mais comumente
empregada desde então é a certificação que se caracteriza pela existência de uma terceira
parte independente entre o produtor e o consumidor que funciona como avalista do produto
diante do mercado.
Para a certificação dos cães, que serão utilizados em trabalhos reais de busca de
pessoas, se deve buscar uma organização que assegure a garantia da qualidade e também
o respaldo internacional que homologue a certificação efetuada neste domínio.
A autoridade que coordena e regula as ações de intervenção humanitária no mundo
é a Organização das Nações Unidas (ONU). Desde o seu surgimento é o órgão que
estabelece padrões de credenciamento das organizações para participar do atendimento

25
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aos desastres, ou seja, a credibilidade internacional para fornecer um serviço nesta área
passa pela garantia de seguir o que é instituído nas guias da ONU.
A maioria dos organismos (internacionais) possuem certificação própria, alguns no
entanto submetem cães que não pertencem aos seus quadros à certificação, é o caso da
IRO (organização internacional de cães de resgate) o primeiro organismo internacional a
promover provas no Brasil.
Muitos grupos optam por certificações externas ao invés de criar certificações próprias
para dar mais reconhecimento a prova. Uma certificação própria para obter reconhecimento
depende de dois fatores, da qualidade e currículo dos juízes e da qualidade do regulamento
e das provas.
Um regulamento válido precisa necessariamente ser baseado nos protocolos
internacionais da Organização das Nações Unidas, muito embora esses protocolos não
mencionem a certificação, dizem o que se espera de um cão em condições operativas.
Atualmente os dois regulamentos mais seguidos sobre os quais se baseiam a maioria dos
demais é o da IRO e da FEMA (Agencia federal americana de gerenciamento de
emergência). A prova dos dois organismos são semelhantes entre si, são montados
situações que simulem um desastre, um número de vitimas são sepultadas conforme o nível
técnico do cão, geralmente de 2 a 5 pessoas, e os cães precisam localizá-las em um
determinado tempo, normalmente 20 minutos. Após essa etapa tem provas que medem a
capacidade de obediência e coragem do cão.
Um grande avanço no Brasil, foi a criação do Grupo de Trabalho criado pela Portaria
nº 22, de 28 de fevereiro de 2014, da Secretaria Nacional de Segurança Pública para propor
uma regulamentação do emprego e capacitação dos cães de salvamento nas atividades dos
Corpos de Bombeiros Militares em todo o território Nacional, e apresenta uma proposta de
“Regulamento Brasileiro de Certificação Cães de Salvamento” e Portarias Normativas,
processo esse ainda em andamento.
1.11 MANUTENÇÃO E RECERTIFICAÇÃO
Um cão não é uma máquina, não funcionará para todo o sempre conforme a
programação original, sofre as interferências do tempo, da sua formação psicológicas e das
suas experiências pessoais, tendendo a repetir aquelas lhe foram prazerosas e reprimir
aquelas que foram frustrantes.
Diante disso, é fundamental que o processo seja reforçado e reavaliado constantemente,
não raro será necessário retroceder algumas fases ou reforçar outros aspectos.
A manutenção é uma formação continuada, é fundamental nesse processo e dura
toda a vida útil do cão. Essa etapa deverá ser motivada por um processo de variação de
espaços, de horários, de figurantes, enfim, quanto mais experiências diferentes e complexas
o cão tiver em seu processo de manutenção/formação, maior será a chance dele vivenciar
em treinamento algo que se deparará durante uma busca real.
O cão não faz nada que não tenha sido preparado previamente, por isso que os
treinamentos devem possibilitar a antecipação das situações reais e correções de possíveis
problemas, reforço de falhas ou ajustes no condicionamento.
RESUMO DO QUADRO DE DESENVOLVIMENTO POR IDADE
Idade O se espera que o cão Observaçã Exercícios indicados
execute o
ESTAMPAGEM E DESENVOLVIMENTO DE ESTÍMULOS NATURAIS

26
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

07 dias Consiga encontrar as mamas Colocar obstáculos de papel


da mãe usando apenas o ou outro material
olfato olfativamente inerte entre a
mãe e o filhote.
21 dias Que responda a estímulo Estímulo odorífico (cravo,
odorífico no nervo olfatório lavanda, anis, benzol e xilol)
(cravo, lavanda, anis, benzol
e xilol)
21 dias Que responda a estímulo no Estímulo odorífico (canfora,
nervo trigêmeo (canfora, eucalipto, éter, essências e
eucalipto, éter, essências e clorofórmio)
clorofórmio)
4ª Início da
semana janela da
oportunidad
e
4ª Que se aproxime Apresentar o maior número
semana voluntariamente dos seres possível de pessoas ao
humanos filhote deixar que o mesmo
se aproxime
voluntariamente
4ª Que deixe voluntariamente o
semana ninho e explore os arredores
sem medo
4ª para Que comece a interagir com
5ª brinquedos
semana
5ª Que desperte interesse por Colocar pequenas amostras
semana variações odoríficas nos de cravo, lavanda, anis,
brinquedos benzol, xilol, canfora,
eucalipto, éter, essências e
clorofórmio.
5ª Que se aceitem brinquedos e
semana materiais colocados no ninho
e os transformem em
brinquedos
5ª Que se aproxime
semana naturalmente dos humanos e
interajam espontaneamente
5ª Que sigam os seres humanos
semana quando estimulados em
busca da brincadeira
5ª Que deem prosseguimento a Decisivo Filhotes veem, filhotes
semana brincadeiras ou ações para o fazem
iniciadas por humanos ou aprendizado
cães mais velhos

27
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

6ª Que desperte interesse por


semana sons nos brinquedos
6ª Que desperte interesse
semana brinquedos em movimento
6a Que consiga localizar
semana petiscos e ração nos
brinquedos e em pequenos
esconderijos.
6a Que despertem interesse por
semana móbiles suspensos ou por
brinquedos em movimento
7ª Que emitam grunhidos e
semana latidos por comida ou por
atenção
7ª Que resolva problemas semi- O filhote deverá ser capaz
semana complexos, que pegue de vencer obstáculos
petisco no alto, que consiga físicos, localizar o caminho
desvencilhar os petiscos de de volta para o ninho
brinquedos, quando deslocado, Colocar
petiscos em labirinto, alto,
semi enterrado e dentro de
brinquedos inteligentes
7ª Que reaja a voz humana
semana
8ª Que não demostre medo de
semana altura e pisos estáveis
8ª Que consiga localizar a
semana comida localizar o alimento
totalmente escondido
8ª Que persiga
semana possessivamente brinquedos
em movimento e sonoros
8ª Que não demostre medo com
semana lugares estranhos
8ª a 10ª Que lata espontaneamente
semana pelo petisco, brinquedo ou
pela brincadeira.
8ª a 10ª Que se sinta seguro e feliz
semana longe da mãe e da matilha
8ª a 9ª Que siga espontaneamente o Colocar os petiscos
semana gesto de apontar o dedo escondidos, chamar a
atenção do filhote e apontar
9ª a 11ª Que desenvolva vínculos Estando com outras
semana fortes com o condutor pessoas, responde ao

28
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

chamado do condutor, chora


ao separar-se etc.
INICIO A FASE DA AUTO-FIGURAÇÃO
12ª Deverá seguir o condutor,
semana mesmo quando o mesmo
estiver fora da vista
12ª a Deverá ser capaz de localizar Nessa fase o condutor ainda
15ª o condutor em pequenas não usa o “poste” (auxiliar
semana pistas de 10 a 15 metros após que segura o filhote) apenas
uma despedida e latir ao foge do mesmo indo para
encontrar um pequeno esconderijo
12ª Deverá ser capaz de transitar
Semana por locais estranhos e brincar,
vencer desafios dos lugares
estranhos
14ª Deverá ser capaz de vencer
Semana obstáculos complexos
(valetas, monte de entulhos
etc) para localizar seguir o
condutor.
15ª Deverá ser capaz de iniciar o
Semana trabalho de “poste” onde um
auxiliar passivo segura o
filhote enquanto o condutor se
esconde
18ª Deverá ser capaz de Comandos
semana obedecer alguns comandos frustrantes
fundamentais de obediências, como fica
como aqui, senta e junto não devem
ser
colocados
nessa fase
20ª Deverá ser capaz de localizar Chorar não
semana o condutor solucionando significa
problemas como buscar resolver
acessos problemas
20ª Deverá ser capaz de localizar
semana o condutor em pistas urbanas
ou rurais com mais de 20
metros
20ª Deverá ser capaz de fazer
semana ações mais complexas no
gesto de apontar, como subir
em bancos, mesas e direções
mais longas

29
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

20ª Deverá ser capaz de


semana responder ao comando NÂO
24º VIDE QUADRO ABAIXO – UNIVERSALIZAÇÃO DOS ESPAÇOS
Semana
25ª Deverá ser capaz de perceber
semana a presença do condutor em
pistas sem a visão (caixas
fechadas)
28ª Deverá ser capaz de manter-
semana se focado em buscas sem
visão em buscas complexas
(fechadas) ou rurais com mais
de 100 metros
28ª Deverá ser capaz de fazer
semana pelo menos 5 buscas
sequenciais do condutor
28ª Deverá ser capaz de indicar o
semana condutor sem a visão estando
o mesmo em uma altura
superior a 2 metros
28ª Deverá ser capaz de indicar o
semana condutor sem a visão estando
o mesmo em uma profundida
superior a 2 metros
FASE DA UNIVERSALIZAÇÃO DOS ESPAÇOS
24º O filhote deverá ser capaz de Treinar no
Semana interagir sem grandes máximo
em distrações nos mais diversos possível de
diante ambientes onde irá atuar, espaços e
executando as ações situações
previstas para a idade em possíveis
questão
FASE DE FIGURAÇÃO
7º mês Deverá ser capaz de interagir
com um figurante, com o
mesmo desempenho das
autofigurações
7,5º Deverá ser capaz de buscar e
mês indicar o figurante em caixa
semi-fechada
8º mês Deverá ser capaz de buscar e
indicar o figurante em caixa
fechada
VIDE QUADRO ABAIXO – REFORÇO, OBEDIÊNCIA E CORREÇÃO

30
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

8,5º Deverá ser capaz de buscar e


mês indicar o figurante em uma
busca rural estando o
figurante em uma distância
superior a 50 m
9º mês VIDE QUADRO ABAIXO – UNIVERSALIZAÇÃO DO FIGURANTE
9º mês Deverá ser capaz de buscar e
indicar o figurante, sem
qualquer contato visual.
9,5º Deverá ser capaz de buscar e
mês indicar o figurante, em uma
área rural com área de até
50.000 m2
10º mês Deverá ser capaz de buscar e
indicar o figurante, estando
ele a 2 metros de altura ou a 2
metros de profundidade sem
contato visual.
UNIVERSALIZAÇÃO DO FIGURANTE
9º mês Deverá ser capaz de interagir
com diversos figurantes na
Estrela K-SAR
9,5º Deverá ser capaz de realizar
mês uma busca com caixas
múltiplas
10º mês Deverá ser capaz de realizar
uma busca com distratores
10,5º Deverá ser capaz de realizar
mês uma busca com um figurante
completamente desconhecido
11º mês Deverá ser capaz de realizar
uma busca rural com 2
figurantes intercalados (zigue-
zague)
11,5º Deverá ser capaz de realizar
mês uma busca com 2 ou mais
figurantes
12º mês Deverá ser capaz de realizar
uma busca sem despedida
REFORÇO, OBEDIÊNCIA E CORREÇÃO
8º mês Deverá ser capaz de executar
comandos sem frustrações,
como senta, deita e aqui.

31
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

10º mês Deverá ser capaz de executar


comandos de direcionamento,
como mesas, pranchas etc
12º mês Deverá ser capaz de executar
comandos com frustrações,
como fica.
VIDE QUADRO ABAIXO – FORMAÇÃO ESPECIALIZADA
13,º Deverá ser capaz e executar
mês todos os da pista de
obediência e destreza
separadamente
14º mês Deverá ser capaz e executar
todos os da pista de
obediência e destreza na
sequencia (sem perfeição)
15º mês Aceita correções sem
frustrações
16º mês Deverá ser capaz e executar
todos os da pista de
obediência e destreza na
sequência (com perfeição)
1. FORMAÇÃO ESPECIALIZADA
13º mês Poderá treinar rural e urbano
na sequencia
13º mês Poderá iniciar o trabalho de
restos mortais, devendo ser
capaz de diferenciar o cheiro
guia
14º mês Deverá ser capaz de fazer
treinos com mais de 5 vítimas
em área urbana ou rural (com
motivação)
15º mês Deverá ser capaz de fazer
treinos com mais de 5 vítimas
em área urbana ou rural sem
premiação em todas as
buscas.
15º mês Deverá ser capaz de fazer
uma pista rural ou urbano sem
vítimas mantendo-se
motivado
16º mês Deverá ser capaz de localizar
a fonte de odor de restos
mortais com 50 gr em uma
área de 100 m2 com estímulo.
17º mês Deverá ser capaz de:

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- Localizar até 3 vítimas em


área rural com até 50 m2;
- Localizar até 3 vítimas em
área urbana até 1500 m2
- localizar a fonte de odor de
restos mortais com 50 gr em
uma área de 100 m2
CERTIFICAÇÃO
18º mês Deverá ser capaz de indicar o
condutor sem a visão estando
o mesmo em uma altura
superior a 2 metros

2. ETOLOGIA CANINA
O termo Etologia e sua área de conhecimento é relativamente novo, fundada por
Konrad Lorenz e Nikolas Timbergen por volta dos anos 1930, mas foi em 1973, quando junto
com Karl Von Frish, que suas descobertas e pressupostos para explicar o comportamento
animal se destacaram, quando inclusive receberam o prêmio Nobel de Medicina por seus
estudos.
Antes de mencionar a importância da Etologia para explicar o comportamento dos
cães, torna-se importante enfatizar os pressupostos teóricos e metodológicos que
caracterizam essa ciência.
Um primeiro princípio é a concepção de que, a exemplo dos órgãos e outras
estruturas corporais, o comportamento é produto e instrumento do processo de evolução
através de seleção natural. Isso implica em dizer que o comportamento tem função
adaptativa (afeta o sucesso reprodutivo) e possui algum grau de determinação genética.
Isto quer dizer que o comportamento é produto da evolução filogenética.
A partir desse pressuposto, os cientistas se deparam com as quatro perguntas
fundamentais em relação ao comportamento:
1. Qual é a função do comportamento, (do ponto de vista adaptativo);
2. Qual é a causa que motiva esse comportamento (fatores causais próximos);
3. Como o comportamento se desenvolve ao longo da vida do indivíduo (ontogênese);
4. Como se desenvolveu no decorrer a história evolucionária (filogênese).
Essas perguntas irão orientar o trabalho dos estudiosos dessa área.
Além da contribuição teórica, a Etologia também propiciou grandes avanços no
estudo do comportamento através de contribuições metodológicas. A ênfase na observação
e na descrição detalhada do comportamento, em situação o mais natural possível, foi
fundamental para a compreensão do comportamento de forma mais holística (NISHIDA
2007).

33
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

2.1 Comunicação
Os cães se comunicam de muitas formas, não vocalizando como os humanos, mas
como animais sociais, procuraram ao longo do tempo desenvolver formas de comunicação
que fossem capazes de serem interpretadas por outros cães.
Lamber - É o gesto canino mais próximo ao que no universo humano se equivale ao
beijo. Revela também um gesto de confiança e aceitação e também agradecimento, cães
somente lambem quem cofiam.

Cutucar com o focinho - Trata-se de uma tentativa de obter atenção.

Cutucar com as patas - Normalmente ocorre de duas em duas. Pode ser na perna,
ou se a pessoa estiver deitada, em qualquer lugar. Também representa um pedido de
atenção. Caso essa cutucada for na porta, demonstra um desejo ou permissão para entrar
ou sair.

Cheirar um determinado local e, posteriormente, esfregar o focinho e a cabeça


nele - Comportamento atávico de defesa contra picadas de insetos. O cão está tentando
transferir o cheiro, normalmente ruim, para si objetivando sua proteção. É bom esclarecer
que o cão não tem consciência da finalidade deste comportamento, mas sente uma
necessidade incontrolável em faze-lo.

Deitar-se na lama - Comportamento atávico de proteção contra grandes felinos. Uma


técnica usada pelos cães que realizavam combate contra tigres e leões. Depois que seca, a
lama mesclada aos pêlos transforma-se numa carcaça quase impenetrável pelas unhas das
garras dos felinos. Outras raças herdaram esse comportamento.

Cavar buracos para enterrar as fezes - Medida higiênica e de proteção.

Mordiscar - Ato afetivo, carinhoso.

Enfiar sua cabeça sob a mão do dono - Pedido de carinho e atenção.

Colocar a pata sobre a perna do dono - Desejo de comunicação, um pedido para


alguma outra coisa, ir na rua, beber água, fome etc.

Sentar-se com uma das patas anteriores levemente levantada - Insegurança.

Urinar - Forma utilizada para marcar seu território, desafiando um adversário,


deixando seu rastro para as fêmeas ou expressando seu desprezo.

Defecar - Provocação.

Ficar empinado, com membros rígidos, movimento lento à frente e em curva,


com as orelhas dobradas para trás: Desafio e agressividade.

Ficar empinado, corpo levemente inclinado à frente e orelhas dobradas para


trás: Desafio e agressividade.

Ficar imóvel, olhar fixo num ponto (presa), com a frente levemente mais baixa e

34
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

orelhas dobradas para trás - Ritual de caça - está pronto para dar o bote e atacar.

Arrepiar os pêlos na cernelha (ombros) e garupa - Medo.

Deitar sobre o dorso e dormir de barriga para cima (decúbito dorsal) - Segurança,
tranqüilidade, paz e confiança nas pessoas e no ambiente em que se encontra.

Deitar enrolado sobre si mesmo como se estivesse tentando abraçar a cauda e


as patas - O cão está com frio, procurando aquecer as extremidades.

Deitar de bruços com a barriga totalmente encostada no solo, todo esticado e


com as patas para trás (decúbito ventral) - O cão está com calor, procurando refrescar a
barriga.

Rodar em torno de si próprio e olhar para o solo - ritual atávico antes de defecar
ou para deitar-se. Na floresta o lobo precisava rodar para amassar o mato antes de defecar,
evitando assim que um galho ou fiapo de capim o incomodasse no momento supremo. O
cão está, instintivamente, amassando o mato para afofa-lo (mesmo em piso de cimento) para
deitar-se ou para evitar o fiapo de capim.

Abaixar a frente, com as patas anteriores estendidas, garupa para cima e a


cabeça próxima ao solo - Desejo de brincar.

Lamber o focinho do outro cão - ë um ritual de submissão.

Cheirar a genitália do outro cão - É um ritual de conhecimento, através do cheiro


do sexo eles sabem se devem ou não prosseguir com a disputa da liderança ou, se o outro
permitir, funciona como uma apresentação.

35
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Virar de barriga para cima - Ritual ativo de submissão e liderança. Oferecer o ventre
é o mesmo que se render. Aceita o outro como líder sem discutir.

Colocar a pata no pescoço do outro cão - É um gesto de assunção de liderança,


desafio. Se o outro aceitar reconhece a sua superioridade. Se não aceitar haverá a disputa.

Colocar seu queixo sobre o pescoço do outro cão - Tem a mesma conotação de
colocar a pata no pescoço.

Montar sobre outro cão de mesmo sexo - Dentro dos rituais de submissão e
apaziguamento é o mais importante e mais definitivo. Se o outro permitir é considerado
submisso. Caso contrário haverá uma disputa da liderança.

Urinar sobre a urina do outro cão - É a forma que um cão tem de desafiar a
supremacia do adversário.

Deitar de lado e abrir as pernas exibindo o ventre - Submissão e apaziguamento.


O cão está tentando pacificar os ânimos revelando que não deseja lutar.

Colocar a cabeça ou a pata sobre o pescoço ou dorso de outro cão - Ritual de


submissão. Trata-se de uma espécie de teste. Se o outro cão permitir ele será o dominador.
Se não permitir, ele pode desistir ou partir para a luta corporal.

Abaixar a cabeça e lamber de baixo para cima, insistentemente, o focinho de


outro cão - Ritual de submissão e apaziguamento. É um pedido de desculpas e de trégua.

Comunicação Canina: A linguagem da cauda

A cauda tem uma linguagem própria. Os cães utilizam as caudas para enfatizarem os
sinais expressos pelas posturas facial e corporal, ou vocal.

A colocação da cauda em posição erguida está normalmente associado com


dominância e em posição baixa com submissão.

Abanar a cauda não significa só afabilidade. Uma cauda que se encontra alta,
combinada com um ligeiro movimento, indica dominância. Um pequeno movimento com a
cauda baixa pode ser uma preparação para ataque. Os cachorros e os cães jovens podem
menear as suas caudas entre as patas para mostrar submissão incondicional. Este
movimento provavelmente dissemina o seu odor despertando os sentimentos paternais dos
36
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

adultos, apaziguando-os. Durante o ataque, os cães dominantes colocam a cauda


ligeiramente abaixo da horizontal.

3 NOÇÕES DE PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM CANINA

3.1 INTELIGÊNCIA E APRENDIZAGEM CANINA


Muitas pessoas tem uma ideia maniqueísta e simplista dos cães, no entanto conceitos
importantes estão vinculados ao mecanismo de aprendizagem em animais, especialmente
os de cognição e consciência.
A busca de pessoas na mata, escombros, na neve ou lama, ou ainda de restos mortais
de seres humanos, não é atividade natural do cão, elas precisam ser aprendidas pelos
mesmos. Não se pode falar em processo de ensino dos cães, sem entender como os
mesmos irão aprender.
A aprendizagem é a modificação do comportamento baseado na experiência;
processo em que o individuo se ajusta, discretamente, ao ambiente resultando em mudanças
funcionais (não genéticas), essa capacidade de ajustes depende inteiramente da integridade
funcional do sistema nervoso, é continua mas é mais intensa durante a fase de
desenvolvimento (NISHIDA 2007).
Compreender o processo cognitivo é a base do processo de aprendizagem.
De forma simplificada, cognição se refere aos processos mentais, como a percepção,
, aprendizagem, expectativa, entre outros. Esses processos evoluíram para ajudar o animal
a lidar com o mundo externo de uma maneira flexível. Já a consciência, está relacionada
com a percepção do animal sobre o seu ambiente interno, ou seja, sobre os estados que se
referem aos seus sentimentos, como de medo e dor. (GOMES, 2008).
A aprendizagem para cães de busca e resgate, significa que o cão será capaz de
repetir um comportamento almejado que ele tenha aprendido anteriormente.
Logo, a aprendizagem é dependente do método de ensino e da do cão.
memória
O processo de condicionamento de cães, e seus consequentes formas de
aprendizado se dá 5 formas principais:
a) Condicionamento Clássico ou Pavloviano;
b) Aprendizagem por observação Filhotes vêem filhotes fazem.

c) Habituação; Repetição aperfeiçoa


Experiência negativa sensibiliza o cão
b) Sensibilização:
Condução detalhada do caminho desejado
c) Condicionamento operante. Estímulo e recompensa

A aprendizagem através do condicionamento Clássico ou Pavloviano se dá


através da associação de estímulos não condicionados (primário) e condicionados
(secundário) é muito útil para as atividades de obediência e destreza, onde o cão associa
um gesto ou um som a uma atividade que deve ser executada.
A aprendizagem por observação ocorre na maioria das espécies de animais, ela
ocorre quando os indivíduos aprendem imitando outros indivíduos do grupo.
Tais processos de aprendizagem ocorrem comumente entre os primatas e também
em filhotes jovens de cães que possuem convivência com cães mais velhos (NISHIDA 2007)
um exemplo comum dessa aprendizagem são os filhote de chimpanzé que aprendem a
quebrar as nozes, golpeando-as com a pedra como a sua mãe.
37
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

A observação é a forma mais influente no aprendizado dos filhotes.


Filhotes veem, filhotes fazem, basta observar filhotes interagindo por alguns
minutos para que possa perceber a força desse processo, os cães são capazes de
interpretar o comportamento de outros cães como uma demonstração de como
alcançar seus objetivos (HOROWITZ, 2010), em um grupo de cães se um pegar um
graveto para brincar, imediatamente será seguido por outros, se começar a latir por algum
motivo, todos os cães próximos irão se motivar a latir também.
Não se pode ignorar a força da observação para a formação de cães de resgate,
desde cedo filhotes devem ser motivados a ver seus pares mais velhos em treinamento.
A habituação é o tipo mais simples de aprendizagem que pode ser associado a
aspectos cognitivos, e que via de regra está em todas as espécies do reino animal.
Habituação é um resultado de ações que surgem em resposta a apresentações
repetidas de um mesmo estímul1o, a Habituação e pode ocorrer de duas formas diferentes.
O aprendizado por habituação ocorre segundo Gomes (2008) quando por exemplo a
primeira vez que um cavalo ouve o vento movimentar folhas de uma árvore. Isso pode
resultar em comportamento de fuga, mas, caso isso ocorra com frequência suficiente e
nenhum outro evento for relacionado, o cavalo irá parar de responder ao estímulo, isto
significa que, se um determinado estímulo não é seguido por um evento significativo (no
caso acima, por exemplo, poderia ser um predador entre as folhagens), o animal deixa de
reagir a esse estímulo.
Outra forma de ocorrência de habituação é caracterizada pela diminuição da resposta
que ocorre quando um estímulo é seguido de prazer para o animal, ou quando um recurso
é constantemente presente. Pode-se exemplificar a habituação com o hábito de alimentar o
um cão agitando-se o pote de comida. O cão irá esperar agitar-se quando ouvir o barulho do
pote de comida, mesmo que não seja alimentado posteriormente essa experiência é
semelhante aos experimentos feitos por Pavlov (BOCK 1992).
Outra forma de aprendizagem é a sensibilização, que ocorre quando uma resposta
a um estímulo repetido aumenta. Por exemplo, um predador que atacou anteriormente, ao
ser visto pela segunda vez, receberá uma resposta mais enérgica da presa que tenderá a
dificultar a sua ação, pois o fato de um estímulo ser repetido significa maior perigo do que
uma única ocorrência, de modo que a sensibilização apresenta vantagem do ponto de vista
evolutivo. A sensibilização faz com que o animal reaja a qualquer novo estímulo como se
fosse uma previsão de uma nova ocorrência de um evento (GOMÊS, 2008).
A capacidade dos animais aprenderem e de forma particular os cães, está
diretamente associada a inteligência dos mesmos. O fato é que sabemos muito pouco sobre
a inteligência e os sentimentos dos cães, e esse pouco ainda é equivocado e
excessivamente antropomorfizado, pois tratamos os cães como pseudo-humanos. A
inteligência canina é própria dos mesmos, evoluída de acordo com o ambiente e as
necessidades dos canídeos, mas sabemos que os cães possuem capacidade de aprender,
mesmo coisas que não pertençam de forma direta ao mundo dos seus instintos.
Os cães de busca, resgate e salvamento não precisam, em tese, aprender muitas
coisas novas, as principais ações que farão já estão associadas ao seu instinto, como farejar
e localizar a sua caça. A principal ação a ser feita é condicioná-lo a fazer isso, quando e nas
circunstâncias que são necessárias, não do ponto de vista do cão, mas da necessidade do
condutor. O cão irá caçar quando estiver com fome, no entanto irá trabalhar em uma busca
motivado pelo princípio do condicionamento operante de Skinner e dos princípios
Behaviorista.

38
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Estímulo e resposta são a base dessa ciência, as unidades básicas da descrição e o


ponto de partida para uma ciência do comportamento. Os cães e associativamente os
homens, são estudados como produto do processo de aprendizagem pelo qual passa desde
a infância, ou seja, como produto das associações estabelecida durante sua vida entre
estímulos (do meio) e respostas (manifestações comportamentais) (BOCK 1992).
O Behaviorismo de Skinner, conhecido como Análise Experimental do
Comportamento, tem influenciado muitos profissionais seja da área da psicologia ou
adestramento. Skinner faleceu em 1990 e realizava suas pesquisas na universidade
americana de Harvard, essas influências atingem os seres humanos nos processos de
educação e psicológico, porém, são a base integral do condicionamento de cães.
A base da corrente skinneriana está na formulação do condicionamento operante.
Para desenvolvermos este conceito, o comportamento reflexo é um comportamento
involuntário (reflexo) e inclui as respostas que são eliciadas ("produzidas") por modificações
especiais de estímulos do ambiente. Esses estímulos se dão na condição de reforços, por
exemplo, um cão que será condicionado para buscar pessoas na mata, toda vez que ele
encontrar a suposta vítima será recompensado de alguma forma, seja com petisco,
brincadeira ou qualquer outra ação que faça com que o mesmo tenha a necessidade de
repetir essa ação.
O condicionamento operante descoberto por Skinner, permite nos dias atuais uma
série de aplicações do aprendizado humano e fornece a base integral para o
condicionamento dos cães. Essa descoberta ocorreu após estudos na “caixa de Skinner”,
um experimento que consistia na colocação de um rato privado de alimento e uma série de
aparatos dentro da mesma.
Naturalmente, o rato acabava fazendo várias ações aleatórias e quando ele se
aproximava de uma base perto da parede, Skinner introduzia uma gota d’água na caixa
através de um mecanismo e o rato a bebia, quanto mais o rato se aproximava da barra, mais
água era oferecida, até saciá-lo. Quando o rato encostava o nariz na barra tinha suas
necessidades atendidas e assim como consequência o rato acabava pressionando a barra
dezenas de vezes até saciar completamente sua sede. O comportamento do rato que era
seguido de um estímulo reforçador (a água) aumentava de frequência, enquanto outros eram
diminuídos (FIGURA 05)
Com este princípio Skinner passou a modelar diferentes padrões comportamentais
em diferentes espécies.

Figura 05 - Caixa de Skinner

Fonte:http://www.comportamento.net

Nesse modelo de aprendizagem associativa, (GOMES 2008) o animal associa um


estímulo a uma ocorrência. No condicionamento clássico a associação é entre dois eventos,
enquanto no condicionamento operante ocorre a associação entre um comportamento e as
suas consequências.

39
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Há duas alternativas possíveis para o modo como a associação pode ocorrer. A


primeira é aquela na qual o estímulo condicionado evoca a representação do estímulo não
condicionado e esta, por sua vez, induz à resposta.
Os animais são capazes de variar o seu comportamento de uma maneira muito
flexível e até mesmo executar uma resposta adaptativa em uma situação que nunca
encontrou antes, por associação. É muito provável que o condicionamento clássico ajude o
animal a decidir, por exemplo, quais estímulos são considerados relevantes. O
comportamento de um animal pode ocorrer por uma tendência em se comportar perante um
dado estímulo do ambiente, tal como fariam outros animais, mas também pela repetição ou
imitação do comportamento de outros indivíduos, processo conhecido como facilitação
social. Estes mecanismos asseguram a sincronização entre o comportamento dos indivíduos
em um grupo social. O animal que observa outro animal tem, muitas vezes, uma forte
predisposição para repetir o que é observado. Isso é importante na transmissão de
comportamentos que assegurem a escolha dos alimentos corretos e a evitar situações de
risco (GOMES 2008).

3.2 MOTIVAÇÃO E APRENDIZADO

Da mesma forma que humanos, os cães tendem a desejar repetir aquelas ações que
lhes trouxeram prazer e não repetir aquelas que lhes trouxeram frustração, por isso, usando
os princípios do Behaviorismo, o processo de condicionamento dos cães busca reforçar
aquelas ações que são desejáveis no cão, e, que são importantes para o trabalho de busca.
O cão não entenderá por si só que existe uma pessoa perdida em meio a mata ou os
escombros e que precisa de socorro. Alguma coisa, ou ação motivará o mesmo a fazer aquilo
que desejamos, e quando o mesmo fizer será recompensado por isso, essa é a base para o
aprendizado canino.
Ao contrário do que muitos acreditam, o aprendizado de algumas tarefas pelo cão é
muito mais dependente de fatores emocionais e motivacionais de que de habilidades
naturais do mesmo.
Nesse aspecto, é preciso considerar alguns fatores que influenciam na aprendizagem:
- Humor certo;
- Capacidade de aprender;
- Reforço ou punição.
O humor certo diz respeito a preparação do cão para as sessões de aprendizado. O
cão não é uma máquina, é um ser vivo provido de sentimentos, dores e sensações e como
tal poderá ocorrer que em determinadas ocasiões não esteja bem para aprender, seja por
estar com dores, cansaço ou outra emoção qualquer que interfira na sua capacidade de
aprender, o condutor precisa sempre estar atendo a isso.
A motivação para que o cão aprenda deve ser apropriada, os reforços podem se
dar de duas formas, positivos, ou negativos.
Os reforços positivos podem ser coisas que são agradáveis para o cão, como
alimentos, toque, carinho, comida ou brincadeira. O reforço positivo é aquele que, quando
apresentado, atua para fortalecer o comportamento que o precede.
O reforço negativo é aquele que fortalece a resposta que o remove. Já os reforços
negativos são ações desagradáveis ao cão, como causar-lhe dor ou a privação de algo que
vai levar o cão a não querer reproduzir esta ação.

40
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

O uso de punição ou recompensa é muito mais importante para o cão do que para o
homem, pois não podemos discutir o problema da aprendizagem com o cão. Também é
preciso lembrar que diferentes dos humanos, o cão não sente arrependimento nem se
comove sentimentalmente, sua percepção é como uma pedra que grava aquilo que é
esculpido na mesma.
A punição é menos eficaz, pois causa respostas mais lentas e menor aprendizado
(maior confusão). É mais eficaz usar recompensas (reforço positivo) e negação de
recompensas (não-reforço), Punição geralmente causa no indivíduo um reforço na
vontade de não ser apanhado (evitar ser punido), quando o que deveria acontecer é a
supressão do comportamento indesejável.

Nesse aspecto é fundamental destacar que os reforços precisam conduzir o cão para
3 formas de percepção da aprendizagem:
a) Motivação natural
b) Motivação induzida
c) Forçamento

Aquilo que o cão aprende naturalmente tende a se fixar mais forte.


É condicionamento porque é aprendizagem, é reforçamento porque um
comportamento é emitido e aumentado em sua frequência por obter um efeito desejado. O
reforçamento positivo oferece alguma coisa ao organismo; o negativo permite a retirada de
algo indesejável.
O tempo entre o comportamento e o reforço deve ser o mais breve possível, pois
quando há um lastro de tempo muito grande entre ambos o cão perde a conexão entre os
dois eventos e a efetividade das ações, esse tempo é variável e depende muito da atenção
do cão, poderá ser de poucos segundos a vários minutos, experimentos realizados e que
fazem parte desse trabalho mostram que após 10 minutos o cão pode fazer conexão entre
os dois atos, mas o ideal é que o reforço seja dado o mais breve possível, ainda nos primeiros
segundos, quando a do mesmo está cheia e possui uma relação direta com a ação.
3.3 TIPOS DE REFORÇOS
Nos processos de condicionamento, os reforços podem se dar de 3 formas:
a) Reforço contínuo; b) Reforço intermitente; c) Reforço temporal.
O reforço contínuo aquele que realizado imediatamente após o cão realizar o ato
motivador e toda vez que ele fizer o ato.
A aplicação de reforço de formas intermitentes visa a aplicação de reforço de forma
aleatória ao longo das sessões de treinamento.
Estudos mostram que a efetividade dos reforços são muito mais eficazes quando
estes são praticados intermitentemente do que quando contínuos. Esse esquema
intermitente pode ser fixo ou variável por meio de proporções ou intervalos.
Através de proporção a recompensa se daria a cada número específico de
ocorrências, por exemplo, um cão que está aprendendo a sentar, só é recompensado após
a terceira ou quinta execução.
Esse número não pode ser determinado aleatoriamente, depende muito da
personalidade de cada cão e da sua capacidade de manter-se motivado.
O esquema de premiação por tempo ocorre quando um cão é recompensado após
ter passado um período específico de tempo entre a última ocorrência. Por exemplo, um cão

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que ainda está aprendendo a sentar e que recebe o reforço a cada 2 minutos independente
de quantas vezes tenha executado a ação nesse intervalo.
A vantagem do uso desse método repousa no fato de que o reforço intermitente
produz cães mais seguros e não faz com que a ausência de um reforço contínuo em
determinada ação se torne um reforço negativo.
O reforço temporal visa premiar sessões de treinamentos, operações, ou outras ações
longas. Alguns comportamentos ou ações não são apenas momentâneos, uma ação longa
também pode ser considerada pelo cão como algo que lhe dá prazer ou não, uma viagem,
uma sessão de treinamento, uma ida ao veterinário, etc.
Ao se fazer uma correlação com os animais em meio selvagem, imagina-se, por
exemplo, que o reforço de uma matilha que sai para caçar, ocorre muitas vezes ao dia.
Depois quando finalmente localizam a presa, perseguem e obtém a caça.
Dessa forma, mesmo que um cão tenha tido muitas sessões positivas e tenha
recebido o seu reforçador, se ao final do treinamento ele for para o confinamento, por
exemplo, aos poucos o cão se condicionará que as sessões de treinamento não são uma
atitude desagradável ao seu final.

3.4 E APRENDIZADO CANINO

Durante os últimos dois séculos o estudo da aprendizagem e da tem sido fundamental


para três disciplinas: filosofia, psicologia e biologia. A Investigação biológica começou de
forma mais objetiva durante a última parte do século 20, com os avanços tecnológicos que
afetaram a humanidade, tornaram possível ir além da descrição de explorações de
mecanismo empírico e dedutivo do funcionamento da , e, para esse processo os cães foram
importantes, pois muitos dos experimentos científicos foram realizados com uso de cães
(SQUIRE, 2009). A memória é fundamental para o aprendizado e esse não existe sem ela.
A memória dos homens e dos animais é o armazenamento e evocação de
informação adquirida através de experiências; a aquisição de s denomina-
se aprendizado. As experiências são aqueles pontos intangíveis que chamamos presente
(IZQUIERDO, 1989).
A memória é uma característica surpreendente inerente aos seres vivos, nesses
últimos dias mais do que nunca na história, os cientistas estão desvendando os segredos
para melhorar a mesma, seja nos humanos como nos animais domésticos.
A memória é extremamente importante para a educação e aprendizado, pois é através
dela, que fatos absorvidos pela curta se transformam em longa, de forma prática, a memória
dos homens e dos animais é o armazenamento e evocação de informação adquirida através
de experiências; a aquisição de s denomina-se aprendizado.
As experiências são aqueles pontos intangíveis que chamamos presente. Não há
sem aprendizado, nem há aprendizado sem experiências. Aristóteles já disse, 2.000 anos
atrás: "Nada há no intelecto que não tenha estado antes nos sentidos" (IZQUIERDO, 1989).
Não inventamos memórias. As memóriass são fruto do que alguma vez percebemos ou
sentimos.
A memória consiste em um conjunto de procedimentos que permite manipular e
compreender o mundo, levando em conta o contexto atual e as experiências individuais.
Estes procedimentos envolvem mecanismos de codificação, retenção e recuperação.
Não é possível medir memórias de forma direta, somente é possível avaliá-las
medindo o desempenho em testes específicos. Nos animais, esses testes de evocação são

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expressos através de mudanças comportamentais; nos seres humanos, a evocação pode


também ser medida através do reconhecimento de pessoas, palavras, lugares ou fatos. É
evidente que a evocação de uma alteração comportamental implica num prévio
reconhecimento, e que todo reconhecimento implica numa alteração comportamental real
ou potencial.
O aprendizado e memória são propriedades básicas do sistema nervoso; não existe
atividade nervosa que não inclua ou não seja afetada de alguma forma pelo aprendizado e
pela . Aprendemos a caminhar, pensar, amar, imaginar, criar, fazer atos-motores ou
ideativos simples e complexos, etc.; e a vida tanto dos humanos como animais depende de
que isso tudo seja lembrado. Pavlov e seus seguidores denominaram ao aprendizado e à
"atividade nervosa superior" (IZQUIERDO, 1989).
Para os educadores, a memória é a única evidência de que algo ou alguma coisa foi
efetivamente aprendido.
Há, pelo menos, duas classificações da memória, uma quanto à duração de
permanência dos fatos, a outra quanto ao conteúdo.
A memória biológica, de acordo com seu tempo de duração, pode ser dividida em: de
trabalho, de curta duração e de longa duração, as diferenças entre essas memórias se dão
da seguinte forma:
a) de trabalho ou operacional: é aquela que é usada para entender a realidade que
nos cerca e poder efetivamente formar ou evocar outras formas de memória. Por ser rápida
ela não produz arquivos. As informações desaparecem em segundos ou, no máximo,
minutos. A memória de trabalho é o instrumento que os seres vivos possuem para analisar
a realidade (IZQUIERDO 1989).
b) de curta duração: é a que dura no máximo seis horas em humanos e segundos
ou minutos nos demais animais, o suficiente para que se possa formar a de longa duração.
A de curta duração serve apenas para manter a informação disponível durante o tempo que
requer a de longa duração para ser construída. Serve ao propósito de um albergue
provisório para a informação que depois poderá ou não ser armazenada como mais estável
ou permanente; quanto maior for o potencial de permanência na curta, maior será o
potencial de incorporação dessa (IZQUIERDO 1989).
c) de longa duração ou remota: essa demora horas para ser construída e pode
durar anos, ou décadas. A maioria de nossas memórias de longo prazo tem uma carga
emocional agregada, pois as memórias são gravadas de melhor forma, e tem-se uma
tendência muito menor a esquecer as memórias de alto conteúdo emocional (IZQUIERDO
1989).
O processo de aprendizagem utilizado no condicionamento dos cães de resgate é
baseado na teoria Behaviorista, que desenvolve o aprendizado baseado na relação entre
estímulo e recompensa. Para que esse sistema funcione é fundamental que o cão seja capaz
de associar a ação praticada por ele, com a recompensa ou com o estímulo que recebeu,
nesse processo é importante saber com precisão por quanto tempo o cão terá essa
associativa, e, como a lembrança dessas ações poderá influenciar em seu processo de
aprendizagem, a estrutura da curta é fundamental.
Fundamentado nos conceitos anteriores, percebe-se que o aprendizado dos cães
está associado à capacidade do mesmo em recordar-se de eventos passados.
Ao longo do tempo, muitos experimentos foram feitos visando demonstrar a
capacidade dos cães em memorizar fatos, pois o condicionamento depende das
experiências vividas e como elas foram memorizadas.

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Para entender a formação de memórias a partir de experiências, é preciso considerar


quatro aspectos fundamentais:
1) As informações são recebidas constantemente, através dos sentidos; mas não
memorizamos todas. Por exemplo, depois de ver um filme, é possível lembrar algumas
cenas; até, muitas; mas não todas. Depois de ouvir uma aula, lembramos alguns conceitos,
frases inteiras, até, mas não todos os conceitos. Há, portanto, um processo de seleção que
regula a formação de memórias, que determina quais informações serão armazenadas e
quais não. (IZQUIERDO, 1989);
2) As memórias não são gravadas em seu formato definitivo. Existe um processo de
consolidação depois da aquisição pelo qual as memórias passam de um estado lábil a um
estado estável (IZQUIERDO, 1989);
3) As memórias são também muito mais sensíveis à incorporação de informação
adicional nos primeiros minutos ainda quando estão na curta, ou horas após a aquisição.
Essa informação pode ser acrescentada, seja pelas repetições ou por substâncias
endógenas liberadas pela própria experiência, bendorfina, adrenalina, (IZQUIERDO, 1989);
4) As memórias não se armazenam em itens isolados, senão em registros ("files")
mais ou menos complexos. Não é possível lembrar de cada letra de cada palavra
isoladamente; senão frases inteiras. Por exemplo, não é possível lembrar de cada cor ou
cada odor percebido no dia anterior como tais, senão como detalhes de "files" ou registros
mais ou menos longos (o conjunto de eventos da hora do almoço; ou da tarde; ou do início
da noite).
A formação ou não de uma depois de um determinado evento ou experiência, sua
resistência à extinção, à interferência e ao esquecimento, dependem destes quatro fatores:
seleção, consolidação, incorporação de mais informação, formação de registros ou "files",
conforme figura 6. (IZQUIERDO, 1989).
Figura 06 - Funcionamento da

Fonte: Adaptado de DIVIDINO (2004)

Os pesquisadores canadenses da Universidade de Moncton no Canadá (FISET


2009), realizaram dois experimentos onde exploraram a duração da memória dos cães, para
recordar o local onde desapareceu um objeto que foi escondido atrás de uma caixa. O cão
foi liberado para o início da busca com intervalos de retenção que variaram de 10 a 240
segundos, o percentual de sucesso obtido nesse experimento mostrou que a maioria dos
cães foi capaz de lembrar-se da posição do objeto quando não houve distração.
Pesquisadores da Universidade de Western, Ontário (MACPHERSON 2010),
trabalharam com pesquisas que testaram a espacial em cães em experimentos com
labirintos, visando demonstrar com esses estudos que a influencia na localização de
alimento, água, companheiros, informações sobre predadores e outras que estão dentro de
um habitat e que são essenciais para a sobrevivência e reprodução.
Os labirintos possuíam oito braços onde foram colocados alimentos e os cães
poderiam escolher livremente quais e quando poderiam acessar, com isso aprenderam a
entrar em todos os braços.
Nos experimentos seguintes os cães tenderam a visitar de forma mais frequente os
braços onde haviam sido colocados petiscos no passado.

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Um grupo de cientistas da Universidade de Kioto, (FUJITA 2012), desenvolveu uma


pesquisa onde três cães foram testados para recuperar seu traço de com o objetivo de
verificar se os cães poderiam resolver um teste inesperado com base em uma única
experiência do passado. Nesse experimento os cães foram levados a caixas abertas, onde
havia comida em seu interior, foi permitido comer em 2 delas (fase de Exposição). Depois
os cães foram levados para um passeio para fora do ambiente por 10 minutos, tempo durante
o qual as caixas foram substituídas por novos idênticos, os cães foram reconduzidos ao
ambiente e desencadeou para a exploração livre (fase de teste).
Parte dos cães entraram nas caixas (11 de 12). No segundo experimento, duas caixas
tinham comida em seu interior, uma tinha um objeto não comestível e a último estava vazio.
Os cães visitaram todos os quatro recipientes e foram autorizados a comer uma das
recompensas com alimento na fase de exposição. Na fase de teste, os cães visitaram pela
primeira vez o recipiente que haviam encontrado alimentos mais e significativamente mais
frequentemente do que os outros sem alimentos, mesmo não tendo mais alimento dessa
vez. Estes resultados demonstram que, num teste inesperado cães podem recuperar itens
de incidental formada durante uma única experiência do passado.
Os experimentos anteriores serviram para mostrar a existência de uma operacional
nos cães e a capacidade da mesma em influenciar o comportamento.
Falta definir nesses experimentos o tempo de exposição à experiência para que o cão
consiga absorve-la ou por quanto tempo fatos aleatórios permanecerão na curta dos
mesmos, e o potencial de incorporação das informações pelo cão.
Alguns autores definem que o espaço de tempo que uma informação permanece na
curta dos cães é muito curto, variando entre 10 segundos a poucos minutos. Estudos
recentes revelaram que a curta dos cães para a informação auditiva declina gradualmente
após 120 segundos (FISET 2009).
Esses conceitos implicam na forma como o cão irá aprender e consequentemente em
como se deve desenvolver técnicas de aprendizagem para os mesmos, fundamentalmente
o processo de absorção da aprendizagem canina consiste em vencer a barreira do
esquecimento, indo além da curta, fazendo com que o comportamento desejado seja
incorporado pelos cães.

4 EXPERIMENTO COM A CURTA DOS CÃES

O processo de aprendizagem é dependente da , conforme discutido anteriormente, o


processo gravação de uma informação na , depende da forma como essa informação é
tratada durante o seu estágio de curta, pois conforme Izquierdo (1989) as s não são
gravadas em seu formato definitivo. Existe um processo de consolidação depois da
aquisição pelo qual as s passam de um estado lábil a um estado estável, assim, aqueles
fatos que não são interessantes ou que de alguma forma não são motivados, acabam sendo
descartados, já aqueles que por alguma razão despertam o interesse ou com a repetição se
firmam na curta.
Informações que passam rápido demais pela curta dos cães, não se consolidam e
tendem a não ser passíveis de aprendizagem, por isso o tamanho e a capacidade de uma
informação ser absorvida é fundamental para o processo cognitivo dos cães.
Inexistindo experimentos que atestassem o lastro da capacidade que o cão possui
para associar ações e memorizá-las, foi proposto um experimento para medir o potencial

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mnemônico dos cães de resgate, com relação a sua curta, ou seja, informações ainda não
absorvidas pelos mesmos.
Os experimentos foram realizados na cidade de Xanxerê, região Oeste do Estado de
Santa Catarina, durante os dias 25 de maio a 10 de junho de 2013.
Participaram deste experimento (Figura 7) 3 cães (1 fêmea e 1 machos) com idades
entre 36 e 96 meses, todos da raça Retriever Labrador. Todos os cães já certificados para
operações de resgate e em plena atividade.
O experimento, baseou-se na técnica desenvolvida por Fiset et Al (2009), que
consiste na exposição de um objeto interessante para o cão e posteriormente, esse objeto
desaparecendo da vista do mesmo.
Foi utilizada salsicha suína, mesmo petisco utilizado nas sessões de treinamentos
com os cães e três anteparos de madeira onde após expostos por 15 segundos os pedaços
de petiscos eram escondidos.

Figura 07- Ambiente experimental com as posições iniciais (A1) do cão; (B1, B2 e B3) do
anteparo de obstrução visual; (C1, C2) do prato com alimento.

Fonte: O autor

O anteparo (B1), cujo objetivo era não permitir que o cão pudesse ter acesso
visualmente ao petisco, consistia de uma placa de compensado com 100 x 100 cm. Como
recompensas, foram usados petiscos de salsicha suína.
Os experimentos foram realizados colocando o cão na posição A1, juntamente com
seu condutor, um auxiliar escolhia aleatoriamente um dos anteparos, chamava a atenção do
cão e depositava um recipiente com um petisco de salsicha e afastava-se, após determinado
tempo o condutor liberava o cão, sem qualquer indicação o cão deslocava-se para o
anteparo e poderia comer o petisco.
Antes de cada sessão cronometrada, os cães fizeram 3 experimentos para que
pudessem aprender o exercício.
Após os experimentos que serviram como treino, os cães foram submetidos a sessões
cronometradas, o auxiliar ao chamar a atenção do cão dava início a contagem do tempo. O
tempo utilizado nos testes de dos cães foi progressivamente ampliado, iniciando em um
segundo até atingir o tempo máximo de dez minutos (ver quadro 1). O exercício foi realizado
com cada cão individualmente, totalizado 4 seções de 21 experimentos por animal. Durante o
tempo dos experimentos, os cães não foram submetidos a qualquer tipo de distração,
permanecendo deitados ou sentados ao lado do condutor. Ao atingir o tempo determinado,
um apito informava o condutor que libertava o cão.

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Quadro 01 - Tempo utilizado nos teste de dos cães

Ordem Tempo de espera em


minutos
01 0,1
02 0,2
03 0,3
04 0,4
05 0,5
06 1
07 1
08 1,5
09 2
10 2.5
11 3
12 2
13 3
14 4
15 5
16 6
17 2
18 4
19 6
20 8
21 10
Fonte; O autor

Das hipóteses possíveis para o experimento, três são as mais aceitáveis:


a) Que o cão não lembrasse do petisco e permanecesse ao lado do condutor;
b) Que o cão se lembrasse do petisco, mas não da posição do mesmo e usasse o faro
para localizá-lo;
c) Que o cão se lembrasse do petisco e da posição do mesmo e fosse de forma direta
em direção ao anteparo que esconde o petisco.
Um erro possível e que poderia desqualificar o experimento se daria se o cão tivesse
a capacidade de, a partir do ponto inicial (A1), identificar a posição do petisco usando o
olfato, para eliminar esse erro, foram realizados experimentos incidentais para medir essa
capacidade.

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Com a mesma composição do experimento, foi colocado petisco atrás do anteparo,


porém com a visão do cão tapada. Os resultados obtidos mostraram que os cães eram
incapazes de precisar exatamente onde se encontrava o petisco.
Nenhum dos cães nesse experimento foi de forma direta até o petisco, embora
pudesse sentir a presença do mesmo, em todos os experimentos os cães buscaram pelo
petisco, seja vasculhando os anteparos, ou seguindo o cone de odor em um padrão de busca
por varredura.

Figura 08 - Padrão de busca por varredura

Fonte: O Autor

Eliminado a possibilidade de indução ao erro, foram realizadas 4 sessões com 21


experimentos em cada uma, realizados em dias diferentes. Em todos os experimentos os
cães se lembraram da posição do petisco, indo de forma direta para o mesmo. * Testar memória do cão
* Ler Ivan Izquierdo
A conclusão é que cães motivados e concentrados podem, mesmo após 10 minutos,
lembrar-se com clareza de ações e fazer associação entre dois fatos, o que demonstra o
potencial de curta avançado o que facilita a consolidação das s para um estado estável.
A pode influenciar o comportamento dos cães (FUJITA 2012), os cães podem
resolver problemas com base em lembranças de experiências anteriores (MACPHERSON
2010), e através do experimento foi possível demonstrar que a curta dos cães tem um
potencial mais elevado para lembrar-se de fatos do passado do que a crença dominante, no
entanto, nesse experimento bem como, nas experiências realizadas por Fiset (2009), Fujita
(2012) e Macpherson (2010) os cães foram motivados e atraídos para o experimento.
Algumas mudanças instrumentais poderão ser introduzidas nos processos de ensino
e condicionamento dos cães de uma forma geral e de forma particular para os cães de
resgate e salvamento, de acordo com Fiset (2009) a conexão entre a informação e o
descarte poderia ocorrer em até 10 segundos, logo, é de ampla aplicação nos processos de
condicionamento o uso dos reforços positivos com intervalos inferiores a 10 segundos,
embora essa aplicação garanta uma conexão entre a informação e o reforço, as mesmas
podem ser trabalhadas de forma mais complexas e com mais detalhes, transferindo o
aprendizado da habituação para o condicionamento operante, que traz resultados mais
eficientes na absorção dessa informação na pelo cão.

APRENDIZADO E TREINAMENTO

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Muito foi dito anteriormente que o processo de condicionamento deve sempre ser
conduzido sem antromorfismos e da visão dos cães, pois bem, as sessões de treinamento
também devem se dar da mesma forma, analisando e processando a capacidade de
aprendizado dos cães.
Antes de traçar o projeto de treinamento é preciso observar e aprender sobre o cão
que será empregado, cada cão tem o seu tempo, o seu talento e sua forma especial de
interagir com o mundo e as pessoas.
Brinquedos e recompensas
O processo de condicionamento se dá por estímulos e recompensas. essas
recompensas podem ser carinho, brincadeiras, brinquedos ou comida, mas é importante
sempre mudar ou envolver várias formas de recompensas em uma mesma sessão, pois os
cães podem detectar, por exemplo, que o figurante não está com petiscos e perder o
interesse.
É fundamental sempre mudar os brinquedos, brinquedos babados podem ter odor
mais forte do que o do figurante, não precisa necessariamente ser brinquedos sofisticados,
panos simples, pedaços de toalhas e mesmo pequenos pedaços de madeira podem servir.
A mudança constante de brinquedos também evita que um cão se torne compulsivo
por um brinquedo em especial, o ideal é que se tornem compulsivo pela brincadeira.
As melhores recompensas, mais atrativas devem ser usadas nas primeiras sessões
de um exercício novo, se o cão for guloso, petiscos, salsichas ou se gostar de brincadeiras,
usar brincadeiras longas e brinquedos mais sofisticados, experiências positivas criam o
desejo de serem repetidas.
As sessões de treinamento
Diferente do homem o cão não consegue manter a sua atenção durante muito tempo
na mesma coisa, observe longamente o filhote brincando com um brinquedo novo, ou em
uma brincadeira com outros cães, observe por quanto tempo consegue se manter motivado
no brinquedo ou na ação que está fazendo, talvez 5 ou 6 minutos, logo após abandona o
brinquedo.
O cão precisa de muitas sessões do mesmo exercício mas não muito longas, quanto
mais curtas mais eficientes se torna o aprendizado. Mesmo em buscas reais não é
aconselhável manter o cão buscando mais que 20 ou 30 minutos.
O fato do cão executar um exercício com perfeição uma vez não significa que ele já
tenha aprendido e memorizado na sua de longa duração ou absorvido esse comportamento
e que poderá se retirar do treinamento, em algumas ocasiões foi apenas sorte. O tempo de
treinamento e numero de repetições dedicados a um exercício, depende muito da
complexidade do mesmo e da capacidade de aprendizado do cão, embora sem uma
comprovação científica, muitos cinotécnicos tem obtido relativo sucesso nos seus
treinamentos fazendo um esquema de treinamento 3 x 3 x 3, ou seja, 3 ciclos com 3
repetições do mesmo exercício, 3 vezes ao dia.
Evite ao máximo ritualismos. Me lembro estupefato a primeira vez que assisti a um
vídeo de um goldem dançando Grease com a sua adestradora, onde o cão sincronizava
perfeitamente com os gestos e dança da mesma, uma perfeita aula de Condicionamento
Clássico ou Pavloviano, no entanto esse tipo de associação, a gestos, clicker, ou qualquer
outro mecanismo ritualístico não faz bem aos cães de busca e resgate.
Os rituais podem ser imperceptíveis, a forma de sair do canil, as mesmas vestes do
condutor, o mesmo horário, as mesmas pessoas, o cheiro dos mesmos brinquedos ou
mesmo local de treinos, isso tudo fará que o cão associe as sessões de treino e trabalho.
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Cães de busca trabalharão em situações diferentes, não há rotina nas atividades de busca,
ele precisa resolver problemas sozinhos, descobrir como chegar a espaços onde o condutor
não pode ir com o mesmo, um cão de busca precisa ter idéias próprias sobre onde ir e o que
farejar.

APENDICE

ARTIGOS COMPLEMENTARES

ARTIGO 01

VENTEIO OU RASTREIO, UMA APLICABILIDADE DOS CÃES DE BUSCA E RESGATE

1. Cães farejadores, breve histórico e funcionabilidade

Há pelo menos 12 mil anos o poderoso olfato dos cães tem sido uma ferramenta
utilizada pelo homem, nas mais diversas atividades ao longo do tempo guarda e alerta, caça
e pastoreio. Com a passar do tempo, o homem passou a criar seletivamente os cães, de
forma a desenvolver habilidades específicas. Os caçadores passaram a se especializar em
tipo de caça, os coletores da mesma forma, assim de um ancestral comum, o cão atinge
atualmente a extraordinária marca de quase 500 espécies distintas.
O uso de cães na localização de seres humanos, seja pessoas perdidas ou pessoas
“procuradas” é relativamente recente, usualmente as formas como se dão essas buscas
estão centradas em dois grupos de técnicas utilizadas uma baseada no rastreio que consiste
em seguir a trilha percorrida pela vítima, através de indícios deixados no solo e de venteio,
que consiste no esquadrinhamento de determinada área, indicando a presença de qualquer
ser humano nesse local.

50
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Eventualmente surge a questão, sobre qual é a melhor dentre as duas técnicas, a


regra geral para essa resposta é: A melhor técnica é a que produz seus efeitos,
principalmente se salvar a vida das pessoas ou permitir a captura do procurado.
O objetivo desse breve artigo é trabalhar alguns conceitos das diferentes técnicas
(nem tão diferentes assim) que tratam da busca de pessoas com cães e sua inclusão nos
processos de rastreamento humano. Inicialmente é preciso destacar que todas elas
possuem um objetivo em comum: vencer o espaço separado pelo cão e a pessoa perdida,
diferem entre si na forma como esse objetivo é alcançado.

Como dito anteriormente, estruturalmente, existem dois grandes grupos de técnicas,


uma delas o cão pega as partículas de odor deixados pela vítima no ar, enquanto no outro
grupo o cão segue uma trilha com evidências deixadas no solo.
Iniciarei pela segunda, mantrailing, trailing, tracking ou rastreamento, fora as sutis
diferenças comercias, possuem uma base única e antiga.
2. Embora seja uma obra de ficção e memórias, Konrad Lorenz no livro “E o
Homem encontrou o cão” descreve uma tese de que a relação entre homens e cães se
fortaleceram quando nossos antepassados ainda eram caçadores e passaram a usar cães
como auxiliares de caça. Eram tempos difíceis, competição elevada, ferramentas
rudimentares, mão de obra pouco especializada, as caçadas costumavam ser longas e
difíceis. Os cães começaram então a tornar essa tarefa mais simples, pois facilitaram o
encontro da caça.
Mais tarde, com o passar dos séculos, o homem de deixou de comer tudo o se
movesse passando a ser seletivo, com isso o cão se especializou, aprendendo a seguir
trilhas especificas.
Assim as novas técnicas que ora se apresentam não são tão novas assim, são o
resultado de séculos de aperfeiçoamento e melhoramento genético.
Embora existam muitas variações no tema da busca por rastreamento, no final todas
elas têm uma definição similar: O nariz do cachorro seguindo as trilhas de odor feitas por um
humano em uma superfície. Esse odor pode ser especifico ou genérico. Essa trilha pode ter
sido feita há poucas horas até a vários dias. Os cães bem treinados, são capazes de seguir
uma trilha especifica, mesmo quando a mesma tenha sido contaminada ou confundida pelo
odor de muitas outras pessoas.
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Os cães de venteio por sua vez não seguem uma trilha, mas pegam o odor da vítima
no ar, via de regra estão associados a técnicas de varredura de área, ou seja, são colocados
em um determinado espaço territorial e irão determinar a presença de seres humanos
nesses espaços, indicando a sua presença.
Através do farejamento, esses cães buscam indícios da vítima, seja seguindo
parcialmente uma trilha, seja por pistas depositadas na vegetação, ou no solo e
principalmente através de células dissipadas na atmosfera.
O desenho abaixo mostra a diferença clássica entra as duas técnicas.

O tipo de busca utilizado, “deveria” depender de vários fatores como a qualificação


da equipe, meios disponíveis, raça do cão, geografia, condições meteorológicas etc,
infelizmente, percebe-se que a força do modismo supera quase sempre o planejamento e o
conhecimento em detrimento aos critérios técnicos. Os cães de rastreio, são menos
dependentes do conhecimento técnico das equipes de busca, uma vez que precisam apenas
serem colocados na trilha correta, já os cães de venteio dependem muito da equipe humana
envolvida, no que tange a detecção, análise e interpretação de indícios, controle de área
percorrida dentre outros fatores importantes a serem observados.
É fundamental destacar que o especialista é sempre melhor que do que o
generalista, no entanto, quando as equipes operacionais de busca e resgate possuem um
único cão, os cães de venteio levam uma ligeira vantagem técnica, por adaptarem-se mais
aos padrões de busca utilizados, é fundamental destacar que, havendo clareza e localização
precisa do último ponto visto, um cão especialista em rastreio seria inequivocadamente mais
rápido.
Os padrões de busca de pessoas perdidas no Brasil mostram que nem sempre é
possível identificar o último ponto visto, aliás, 52% de todas as buscas realizadas são de
idosos com Alzheimer ou algum tipo de demência, desses, 89% foram localizados em até
1500 de raio do último ponto visto, ou da residência.

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Uma trilha de 1500 metros para um cão de rastreio é algo muito simples de ser
executado e requer apenas poucos minutos, no entanto, não havendo indicação clara do
último ponto visto ou da trilha seguida pela vítima, algum padrão técnico de busca deverão
serão aplicadas, o que tem sido mais comum de acontecer nas operações de buscas
brasileiras.
Ao contrário da busca por rastreio que segue exatamente o caminho seguido pela
vítima, será necessário fazer uma varredura de área, vasculhar determinada área onde
exista a possibilidade de que a vítima esteja. Normalmente esses padrões de busca ocorrem
de forma consorciada, com vários meios disponíveis, sejam os drones, equipes humanas,
cães e etc.

2. “Homens & cães” ou “Homens X cães”

A estratégia utilizada na busca de pessoas perdidas depende de uma função


matemática entre o conjunto dos meios disponíveis e o conjunto da situação apresentada.
Como tal, os cães são ferramentas a disposição das equipes de busca, nenhum cão
faz o serviço sozinho, ele potencializa o seu operador, dando lhe “poderes”, ampliando em
muito a sua capacidade, tornando as operações de busca:
I) Mais rápidas;
II) Mais baratas;
III) Mais seguras.
Como ferramenta que são, os cães precisam ter sua aplicação bem definida, de
forma que tenham o melhor do seu potencial aplicado, por isso a sua utilização deverá ser
estrategicamente definida e inserida dentro do planejamento da operação de busca, bem
como a sua associação com mesmos e tecnologias disponíveis.
Durante muitas décadas os cães eram a única alternativa para as equipes de busca
e resgate. No entanto, diante da crescente especialização dos rastreadores humanos, bem
como o surgimento das mais variadas tecnologias para a localização de pessoas, seja em
grandes áreas rurais ou em escombros, obrigará os binômios a ajustarem-se tecnicamente,
seja no preparo prévio dos cães para atuação conjunta aproveitando o que cada meio tem
de vantagem.

53
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Embora estejamos dando-se ênfase a ações em busca rural, para melhor


compreensão, vamos expor alguns meios e equipamentos usados também nas operações
de buscas tipicamente urbanas. Em 2013 quando da NASA anunciou o FINDER (Finding
Individuals for Disaster and Emergency Response) foi dado um grande salto na tecnologia
dos resgates, o radar capaz de detectar batimentos cardíacos e respiração humana e capaz
de separar sinais emitidos por animais e humanos trouxe uma inovação até então
inimaginável nas ações de busca e resgate. Não há escala capaz de medir ou fazer uma
comparação justa entre os cães e o FINDER quanto a eficiência e precisão, obviamente (e
felizmente) esse equipamento levará muito tempo e possivelmente nunca chegará a maioria
das equipes de resgate do mundo. O FINDER não é único equipamento existente com essa
finalidade, há uma extensa linha de radares de penetração no solo conhecidos pela sigla
GPR (Ground Penetrating Radar) que fazem essa função.
Coincidentemente foi em 2013 que o jovem chinês Frank Wang Tao, lançou o veículo
aéreo não tripulado (VANT) da linha Phantom fabricado pela empresa Dajiang Innovation
Technology Co. (DJI), tornando acessível as pessoas comuns esses robôs voadores.
Associado ao avanço dos veículos aéreos não tripulados de asas fixas ou asas rotativas,
surgiram as câmeras, capazes de produzir imagens com definições incríveis, sejam
térmicas, 3D, multispectral, infravermelho e tantas outras, com potenciais para captar
imagens a noite, em movimento, com altos potenciais de ampliação.
Os VANTs têm sido aplicados em todo o mundo nas operações de busca de pessoas,
sejam em atividades policiais como de pessoas perdidas com notável eficiência. Traz sobre
os cães a vantagem de que as imagens podem ser transmitidas para várias pessoas, podem
ficar registradas e permitem a manipulação ao mesmo tempo em que estão sendo geradas.
Surge por fim, o nariz eletrônico, que é um dispositivo destinado a detectar odores,
aplicado na ciência forense para análise de voláteis e biomarcadores, tornando-se o principal
concorrente dos cães para as buscas de restos mortais.
A aplicação das tecnologias do nariz eletrônico (E-nariz) na ciência forense é um algo
recente, resultado de uma longa história de estudos e progresso no desenvolvimento de
diversas aplicações nos campos biomédicos e farmacêuticos relacionados. Nos Estados
Unidos os dados obtidos pelo E-nariz satisfazem as necessidades e exigências das
comunidades científica bem como jurídica.
O tipo de dados coletados do nariz eletrônico permite identificar tipos específicos de
informações sobre a natureza química de objetos e amostras evidenciais identificando a
assinatura de aroma de misturas gasosas complexas contendo compostos orgânicos
voláteis (COVs) liberados no meio ambiente.
O E-nariz apresenta potenciais para a detecção e localização de indivíduos
enterrados (Tanto vivos como falecidos), bem como os restos humanos de vítimas de crimes
violentos, testes mostraram e comprovaram a detecção de 478 COV diferentes apontados
pelo E-nariz em analises de cadáveres humanos.
Enfim, esses são exemplos, não são os únicos e muitos provavelmente estão em
desenvolvimento, que se juntam já aos conhecidos GPS, celulares e outros equipamentos
que podem potencializar as operações de busca de pessoas.
Vamos aos cães.
Ao iniciar o tema uso de cães, é crucial destacar que o cão usado nas operações
de busca deve ter qualificações e treinamento adequado para a função a qual de propõe.
O cão só fara aquilo que tenha sido previamente treinado. Esse é um fator
preponderante para definição da opção ou não pelo cão em determinada ocorrência,
fatores adversos, como frio, chuva, horário, temperatura e características geográficas
locais poderão ser decisivos para o descarte do uso de cães.

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Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Uma fase importante da formação de um cão farejador para busca e resgate é a


“universalização dos espaços e do figurante”, via de regra essa fase inicia após o 6º mês
de vida e deve perpetuar-se durante todo o treinamento do cão e visa apresentar ao cão o
máximo possível de locais, situações e problemas para que aprenda a lidar com os
mesmos e superá-los.
O cão é territorialista e tende a restringir-se em seus domínios, por isso é
fundamental que o cão se sinta seguro em qualquer lugar, qualquer hora e em situações
diferentes.
No treinamento do cão deve-se evitar, ao máximo, rotinas pré-estabelecidas. Um
cão que vive livre irá resolver todos os problemas que surgirem para sobreviver, irá buscar
mais longe quando for preciso, irá superar seus concorrentes e predadores.
Analogicamente o mesmo deve ocorrer com as atividades de busca, o cão não atuará em
um mesmo cenário, na mesma hora, exceto nas atividades desportivas, por isso a variação
de horários, climas, locais e problemas farão com o que cão tenha mais chances de reagir
melhor frente aos problemas que tenha sido previamente apresentado.
Do mesmo modo a universalização do figurante, uma fase mais adiante que inicia
perto do 8º mês em diante e deve também perpetuar-se durante todo o treinamento do
cão.
Nesse momento da vida o cão já está maduro e passa a desvincular-se “da
pessoa” para o ser humano.
A brincadeira e o prêmio passam a ser o objetivo principal do mesmo, não importa
quem seja a pessoa, ele precisa saber que no final sempre terá brincadeira.
Um bom cão e um bom treinamento serão submetidos a buscas com idosos,
crianças, homens, mulheres, brancos, negros, de dia e a noite, enfim, quanto mais
simulações tiver no treinamento, maior as chances de sucesso do cão quando empregado
operacionalmente.
Não basta ser treinado, esse treinamento deve ser medido e previamente
aprovado em uma prova de qualificação ou certificação.
A certificação é um ponto crucial e fundamental no processo de condicionamento.
É uma prova na qual o cão é submetido para provar que está apto a ser empregado em
operações reais.
Há segmentos contrários a certificação, no entanto essa é uma tendência
inevitável, nos principais organismos do mundo essa é a única forma de entrada de um cão
para o serviço operativo.
A certificação oferece vantagens principalmente para quem gestiona uma
operação. A chegada de um cão certificado é a garantia de que esse cão faz o que propõe-
se a fazer, em uma analogia é o certificado universitário do cão
Há vários tipos de certificação, a grande maioria é muito semelhante entre si,
existe um regulamento que deve ser seguido e um juiz avalia o despenho dos cães,
normalmente essa prova é dividida em vários níveis que medem desde a aptidão do cão
até a sua operatividade. Normalmente os cães precisam ser submetidos anualmente a
uma prova para avaliar a sua capacidade de ser empenhado em ocorrências reais.
Ao falar sobre a importância da certificação de cães para a atividade de busca,
Ismael Piva (2010) faz uma correlação com a área comercial, que diante da necessidade de
aumentar a qualidade dos produtos e tornar-se competitivo no mercado internacional, desde
a década de 90 se começou a criar normas e sistemas de gestão de qualidade.
Estabelecidos os padrões para os principais produtos, se precisaram constituir os
mecanismos para a mensuração de conformidade destes padrões. A forma de avaliação
mais comumente empregada desde então é a certificação que se caracteriza pela existência

55
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de uma terceira parte independente entre o produtor e o consumidor que funciona como
avalista do produto diante do mercado.
Para a certificação dos cães, que serão utilizados em trabalhos reais de busca de
pessoas, se deve buscar uma organização que assegure a garantia da qualidade e também
o respaldo internacional que homologue a certificação efetuada neste domínio.
Um cão não é uma máquina, não funcionará para todo o sempre conforme a
programação original, sofre as interferências do tempo, da sua formação psicológicas e
das suas experiências pessoais, tendendo a repetir aquelas lhe foram prazerosas e
reprimir aquelas que foram frustrantes.
Diante disso, é fundamental que o processo seja reforçado e reavaliado
constantemente, não raro será necessário retroceder algumas fases ou reforçar outros
aspectos.
A manutenção é uma formação continuada, é fundamental nesse processo e dura
toda a vida útil do cão. Essa etapa deverá ser motivada por um processo de variação de
espaços, de horários, de figurantes, enfim, quanto mais experiências diferentes e
complexas o cão tiver em seu processo de manutenção/formação, maior será a chance
dele vivenciar em treinamento algo que se deparará durante uma busca real.
O cão não faz nada que não tenha sido preparado previamente, por isso que os
treinamentos devem possibilitar a antecipação das situações reais e correções de
possíveis problemas, reforço de falhas ou ajustes no condicionamento.
A autoridade que coordena e regula as ações de intervenção humanitária no mundo
é a Organização das Nações Unidas (ONU). Desde o seu surgimento é o órgão que
estabelece padrões de credenciamento das organizações para participar do atendimento
aos desastres, ou seja, a credibilidade internacional para fornecer um serviço nesta área
passa pela garantia de seguir o que é instituído nas guias da ONU.
A maioria dos organismos (internacionais) possuem certificação própria, alguns no
entanto submetem cães que não pertencem aos seus quadros à certificação, é o caso da
IRO (organização internacional de cães de resgate) o primeiro organismo internacional a
promover provas no Brasil.
Muitos grupos optam por certificações externas ao invés de criar certificações
próprias para dar mais reconhecimento a prova. Uma certificação própria para obter
reconhecimento depende de dois fatores, da qualidade e currículo dos juízes e da
qualidade do regulamento e das provas.
Um regulamento válido precisa necessariamente ser baseado nos protocolos
internacionais da Organização das Nações Unidas, muito embora esses protocolos não
mencionem a certificação, dizem o que se espera de um cão em condições operativas.
Atualmente os dois regulamentos mais seguidos sobre os quais se baseiam a maioria dos
demais é o da IRO e da FEMA (Agencia federal americana de gerenciamento de
emergência). A prova nos dois organismos são semelhantes entre si, consistem
basicamente na montagem situações que simulem um desastre, um número de vítimas
são sepultadas conforme o nível técnico do cão, geralmente de 2 a 5 pessoas, e os cães
precisam localizá-las em um determinado tempo, normalmente 20 minutos. Após essa
etapa tem provas que medem a capacidade de obediência e coragem do cão.
Um grande avanço no Brasil, foi a criação pelo Conselho Nacional dos Corpos de
Bombeiros Militares do Brasil de uma regulamentação para o emprego e capacitação dos
cães de salvamento nas atividades dos Corpos de Bombeiros Militares em todo o território

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Nacional. A partir da criação desses protocolos, em várias partes do país, estão sendo
aplicadas provas de avaliação e certificação, melhorando o nível técnico dos cães em
atividade nas mais diversas corporações.

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3. Aspectos técnicos do uso de cães em rastreamento

A busca de pessoas perdidas em matas, montanhas ou campos abertos é a


atividade de busca onde se emprega o maior número de cães, principalmente no Brasil,
pesquisas indicam que a média nacional é que acima de 80% das demandas são para
essa atividade.

As buscas em área rural usam as características primitivas do cão em seguir a


pista deixada por sua caça. Os cães tendem a adaptar-se com facilidade ao meio rural
porque ainda resta nos mesmos uma grande herança dos seus ancestrais, de forma que a
maioria dos ambientes lhes é muito familiar, por isso mesmo um grande desafio é fazer
com o que cão deixe sua curiosidade de lado e prenda-se no trabalho.

A busca rural é um processo, onde o cão se guia na trilha deixada por partículas de
odor humano, geralmente células mortas. O ser humano perde em torno de 150.000
células mortas por hora, essas partículas vão se depositando nos objetos, nas árvores, no
solo ou são levadas pelo vento, dessa forma um fator extremamente importante quando se
busca uma pessoa perdida em área rural, é a influência do vento na dispersão do odor.
As partículas de odor formam um cone a partir da vítima e vão se fixando ao longo do
caminho, moldado pela direção que o vento lhe atribui.

O uso de cães apresenta vantagens e desvantagens como toda ferramenta.


As vantagens de se utilizar cães em busca rural, basicamente são:
I - Os cães são mais eficientes que as equipes humanas, principalmente se a
vítima estiver inconsciente ou em um local de difícil visibilidade, como fossos, poços
cânions e etc.
II - Demanda um número menor de efetivo desprendido nas operações;
III - Permite a varredura de uma área maior no menor espaço de tempo;
IV - Pode ser utilizado a noite, quando o risco para as equipes humanas é elevado.

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V – O seu uso deve estar adequado a estratégia da busca e priorizada áreas com
menor eficiência de outros métodos (rastreadores humanos, drones etc).
O desenho abaixo mostra um exemplo da interação entre equipes e métodos, ele
faz parte de um relatório de uma busca real, onde as linhas amarelas representam a área
percorrida por rastreadores humanos, na área destaca em vermelho foi utilizado um drone
e as áreas destacadas em azul, a varredura foi feita por cães e por fim, a estrela em vermelho
foi a posição onde foi encontrada a vítima.

As técnicas de busca são as formas como as equipes de busca e resgate terrestre


deslocam-se pelo terreno dentro da área de busca e da zona delimitada, com a finalidade
de localizar indícios ou a pessoa perdida, seguir a trilha da mesma, ou fazer varredura de
área, para descarte ou localização.
As técnicas de busca dependerão de fatores como a topografia do terreno, a
quantidade de pessoas envolvidas, o número de binômios disponíveis na busca e a
luminosidade (noite ou dia).
Considerando as vantagens apresentadas pelo uso de cães, acima citadas, alguns
fatores muito importantes devem ser considerados:
I - Havendo disponibilidade de equipes humanas e caninas, deverá PRIORIZAR
OS CÃES NO PERÍODO NOTURNO, para eles não haverá diferença, a sua visão adapta-
se muito bem ao período noturno e a baixa temperatura e a umidade facilitará o
farejamento.
A visão noturna é importantíssima para os animais que caçam no escuro, por
dependerem basicamente da luz da lua e das estrelas. É o caso das matilhas selvagens e
das alcateias, cujos uivos, usados também para reunir o grupo para caçar, podem ser mais
ouvidos à noite, especialmente nas noites claras.
Os cães precisam de 1/4 da luz que os humanos precisam para enxergarem a
noite. Assim torna-se indiscutível a aplicabilidade dos mesmos no período noturno.
II - Os cães varrem em média 30.000 m2 de área por hora, considerando tempo
de busca e de descanso. Os humanos ou outros meios tem mais facilidade para áreas
abertas, logo, havendo humanos e cães, priorizar as grandes áreas para cães e humanos
em instalações, recorrer estradas, etc.

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Algumas experiências mostram que os cães conseguem fazer a varredura uma busca
orientada pelo condutor, buscando uma área que no mesmo intervalo de tempo seria
necessário uma equipe de pelo menos 20 homens para fazer.
Uma busca orientada garantirá que não ficará na área espaços vazios e com isso
dificultará que uma possível vítima seja deixada para trás da área de busca.
O esquema abaixo mostra a forma ideal de trabalho com cães, deixando o livre para
trabalhar, com a menor interferência possível do condutor e no entanto dando ao mesmo
controle das ações executadas.

4. Considerações finais

O cão operativo é uma ferramenta disponível para as equipes de busca . As ações


com cães, a relação com a equipe de atuação , sendo uma, dentre tantas ferramentas a
ser utilizada pela equipe de busca, ela precisa ser colocada no lugar certo para poder ser
operada com a maior das suas potencialidades.
Como ferramenta, um cinotécnico profundo conhecedor das atividades em que o cão
irá desempenhar saberá conduzir de forma correta os treinamentos, saberá que tipos de
ações e quais desafios o cão precisa vencer, terá condições plenas de avaliar o
desempenho do cão e principalmente saber o que se espera do mesmo.
O cão faz parte de uma equipe, é um componente de um time que doutrinariamente
tem seu número variado conforme o local e o perfil das ocorrências, estar integrado,
familiarizado e ajustado nessa "matilha" é fundamental para o cão.
A qualificação de uma equipe (e do cinoténico) depende muito da vulnerabilidade da
região onde irá atuar, os riscos são divididos em universais, regionais e específicos,
conhecê-los e antecipar-se para eles, é mais do que uma ação preventiva inteligente, mas
sim uma obrigatoriedade para as equipes que operam no socorro das comunidades.
O cão é somente uma ferramenta (novamente) ou mais uma, que pode ser utilizada
nos desastres, por isso é fundamental que as equipes estejam previamente preparadas
para as situações que irão encontrar, somente alguém com profundo conhecimento dos

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desastres em sua mais diversas formas será capaz de preparar o cão para as ilimitadas
situações extraordinárias que podem surgir.
A relação entre horas de trabalho e horas de treinamento é de 1/1000, assim, o
treinamento com os cães exige dedicação contínua. Nem sempre é um trabalho agradável,
pois existem outras atividades como higienização, cuidados e limpeza do canil, que nem
sempre atrai quem não gosta de cães. Por isso é fundamental, na escolha da equipe que
vai operar com cães, que seja considerada a vocação individual dos membros envolvidos.
Cães que operam bem em 100% devem ter treinamento em 150% do seu potencial,
de um modo geral, cinotécnicos condutores de cães de resgate devem gostar mesmo é de
treinos, pois muitos talvez sequer cheguem a atuar.
Costumeiramente se vê que o início das atividades de preparação para a implantação
de uma equipe de busca e resgate, começa pelo cão, o que está errado, o início deve
sempre ser pela formação técnica da equipe.
O cão é o último a entrar no processo, primeiro deve ocorrer a seleção do
cinotécnico, a preparação do mesmo, antes do cão entrar no processo deve ocorrer a
preparação da estrutura onde o mesmo irá treinar, bem como a logística local, para
somente então iniciar o processo de seleção de um bom filhote.
Em seu processo de formação um cinotécnico condutor de cães de resgate
dificilmente obterá a total potencialidade operativa de um cão logo em seu primeiro
adestramento. O animal será lapidado ao longo do tempo, a ferramenta precisa de mãos
hábeis para operá-la, assim, o cão como ferramenta de trabalho, precisa de alguém que o
conheça física e psicologicamente e que saiba como obter dele o máximo possível em prol
da atividade de salvamento.
Em tese o cão será utilizado unicamente naquelas situações complexas demais para
os humanos ou quando estes com seus equipamentos ou sentidos não podem fazer muita
coisa, isso implica em dizer que os cães irão para áreas com elevados riscos, percorrer
grandes distâncias em áreas rurais. O ambiente de desastres está para resgatistas
preparados como a centro cirúrgico está para médicos e enfermeiros.
Os cães devem estar perfeitamente integrados a equipes, assim elas saberão tirar o
melhor proveito dos mesmos, sem conflitos, interferências ou atrapalhem-se mutualmente.
Nas buscas conduzidas por equipes técnicas, há um espaço dedicado a cada
ferramenta.

ARTIGO 02
A COMUNICAÇÃO INTERESPÉCIES: HUMANOS E CÃES

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Walter Parizotto1

A comunicação é a chave para o crescimento das relações, quando a comunicação entre as


pessoas é pobre, os vínculos facilmente se enfraquecem, sejam nas relações amorosas, familiares ou
profissionais, o mesmo podemos dizer das relações na cinotecnia.
Ao trazermos para a relação homem/cão, a comunicação também figura como a fonte principal
e ponto decisivo para o sucesso do trabalho a ser desenvolvido com os cães, independente da área de
atuação e até mesmo (ou principalmente) para quem deseja ter uma mascote e uma convivência feliz
e amistosa com a mesma.
A comunicação é um instrumento básico do cuidado e desenvolvimento na cinotecnia. Ela está
presente em todas as ações realizadas com o cão, seja para orientar, ensinar, apoiar, confortar ou
atender suas necessidades básicas. Como instrumento, a comunicação é uma das ferramentas que o
binômio utiliza para desenvolver e aperfeiçoar o saber-fazer profissional e aperfeiçoar a relação entre
os mesmos, o cão somente irá aprender ou desenvolver uma ação, se por princípio entender o que se
deseja do mesmo.
O termo de comunicação deriva do latim communicare e tem por significado tornar comum,
compartilhar, associar, conferenciar. O ato de comunicar implica na troca de mensagens é a provocação
de significados comuns entre comunicador e intérprete utilizando signos e símbolos, que podem ser
verbais ou não.
Para uma espécie tão social como o cão, a comunicação, como capacidade cognitiva assume
uma dimensão extremamente relevante na vida dos mesmos, ela é base da convivência social e vital
para os processos de aprendizagem.
A comunicação não é limitada a indivíduos da mesma espécie, mas ela abrange as interações
entre sujeitos de várias espécies. Uma das interações mais conhecidas é o que acontece entre o cão e o
homem (BENTOSELA e MUSTACA 2007) 0s cães domésticos (Canis familiaris) mostraram tem
uma série de habilidades cognitivas que permitem interpretar corretamente a diferentes sinais emitidos
por humanos.

A comunicação entre homens e cães podem se dar de diversas formas:

a) Pela vocalização;
b) Pelas expressões corporais;
c) Por gestos;
d) Pelo olhar;
e) Pela observação.

I – Vocalização

Existem também experiencias, que mostram que humanos são capazes de interpretar com
precisão os latidos dos cães a partir de gravações (medo, agressividade, solidão).

1
Oficial do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina onde exerce a função de Coordenador do serviço de
busca e resgate com cães, condutor dos cães Avai, Xanxerê e Malu.

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Cão uivando – Fonte http://animais.culturamix.com

Em que pese os cães não terem um grande “vocabulário” de sons e latidos, eles possuem uma
imensa capacidade de compreender a vocalização humana.
Um estudo de um grupo de pesquisadores húngaros realizado com cachorros de estimação
afirma que os mecanismos neuronais que processam as palavras não são exclusividade do cérebro
humano e que os cães apresentam um elevado nível de evolução (ANDICS, 2014), durante todos os
séculos de domesticação, cães e humanos têm compartilhado o mesmo ambiente, assim, as vocaliza-
ções de cães e humanos são familiares e relevante para ambas as espécies.
Para revelar possíveis analogias funcionais entre humanos e regiões cerebrais auditivas dos
cães, Andics (2014) fez uma investigação comparativa de cães e humanos. Investigou em cães, de
forma semelhante a humanos, certas regiões auditivas (áreas de voz) através de uma função não-inva-
siva, com ressonância magnética (fMRI) com cães acordados (n = 11) e humanos (n = 22).
A conclusão do estudo é que os cachorros possuem uma capacidade neural de diferenciar o que
e como as palavras humanas são ditas e possuem também uma capacidade para combinar esses dois
fatores para conseguir uma interpretação correta do que essas palavras realmente significam.
Andics (2014) sugere que em um ambiente rico em conversas, característico um cachorro que
vive com uma família humana, as representações do significado das palavras podem surgir no cérebro.
Os cachorros, assim como os humanos, usam o lado esquerdo para interpretar as palavras, e uma parte
do lado direito para identificar a entonação do que é dito. Assim, o cérebro humano não só analisa de
maneira separada o que se diz e a forma, como integra essas duas informações para chegar a um sig-
nificado unificado. Os cachorros também podem fazer o mesmo e para isso empregam mecanismo
cerebrais muito parecidos, por fim e talvez a mais importante conclusão do estudo é que o cérebro
canino tem uma resposta de 13% as vocalizações humanas.

Vários outros estudos mostraram que os cães são capazes de perceber e usar os sinais emitidos
pelo humanos para resolver um problema, talvez seja uma consequência da evolução, ou algo
fisiológico e nato nos canídeos, o processo pelo qual os cães adquiriram habilidades de se comunicar
com o ser humano e o papel da domesticação nesse processo é ainda sujeito a controvérsia, mas o fato,

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que produto da domesticação ou não os cães possuem uma habilidade incrível de receber e repassar
informações ao ser humano. Segundo Mikloski (2004) o ambiente humano e o ambiente social agora
representam um nicho ecológico natural para os cães. Ha provas cientificas de que os cães foram
selecionados para adaptações à vida social humana e que essas adaptações levaram a mudanças
marcadas em seus comportamentos comunicativos, sociais, cooperativos e de apego em relação aos
seres humanos. Através de um processo evolutivo complexo, os cães se adaptaram para viver na
sociedade humana e consequetemente a comunicar-se com os mesmos.
A ciência, (e todos os donos de cães) já comprovaram que os cães são capazes de emitir e
entender signos vocais, um estudo feito por Kaminski, Call e Fischer (2004), emum border collie de
nome Rico, que nasceu em dezembro de 1994, provou que o mesmo era capaz de entender o significado
de 200 palavras diferentes, associando-as a um objeto um a uma ação. Rico era apenas um cão
doméstico, não recebeu treinamento especial, apenas o estímulo de sua família para ir ampliando o seu
“vocabulário” ao longo do tempo, Rico foi recompensado com comida ou jogo sempre que buscacava
o objeto correto. Ele foi familiarizado e gradualmente com o tempo a família foi aumentado o numero
de itens. Obviamente que para a família tornou-se um jogo interessante, fazer com que Rico trouxesse
o objeto indicado e isso fez com que ele se tornasse extraordinário.
Um cão doméstico “comum” que conviva com uma familia, certamente terá pelo menos uma
centena de informações e signos linguisticos associados, locais que pode ou não pode acessar,
comportamento com estranhos, diferenciar o que é brinquedo e o que objeto da casa, etc.
Os experimentos com o cão Rico, mostraram que com o aumento do aprendizado, também
aumenta a capacidade do cão aprender, logo, um cão que for confrontado mais vezes com signos
liguisticos, tenderá a aumentar a sua coleção de informações, Kaminski, Call e Fischer (2004)
concluem que os resultados de suas pesquisas apoiam fortemente a visão que os cçaes possuem uma
habilidade lingüística aparentemente complexa descrito anteriormente apenas em crianças humanas.

II- Pelas expressões corporais;

O cão se comunica com seu corpo ou com diferentes partes do mesmo, com as orelhas, olhos,
língua, lábios, patas, pelos, cauda, ou todos eles em conjunto o cão envia as mensagens que represen-
tam suas emoções e sentimentos. A maioria delas facilmente perceptível como indecisão, medo, agres-
sividade, prazer, disposição para brincar, alegria, submissão, concordância, etc, essa linguagem cor-
poral em alguns cães é óbvia e facilmente perceptível. Além do comportamento do cão, por vezes até
a predisposição genética tem um papel importante na sua linguagem corporal, o que faz com que al-
gumas raças tenham uma linguagem corporal própria.
Alguns cães desenvolvem uma linguagem própria fruto da sua convivência, criação ou apren-
dizado, mas de uma forma geral, os cães possuem uma linguagem comum a toda a espécie, por exem-
plo:
Deitar com a barriga para cima em quase todas as situações significa submissão total, que aceita
a superioridade do outro ou que está tudo bem e não deseja encrenca.
A forma como sentam também é uma forma de comunicação, o simples ato de sentar e observar
pode representar expectativa; com as patas dianteiras estendidas para frente e parte traseira do corpo
levantada pode ser um convite para brincar; orelhas abaixadas: preocupação, medo; orelhas erguidas
é um sinal claro de atenção; olhar fixo qusse sempre representa agressividade; olhar desviado é um
sinal de submissão, da mesma forma que as lambidas, os lábios contraídos para atrás com apareci-
mento dos dentes caninos é um sinal característico de agressividade; pálpebras levantadas significa
interrogação; oferecimento
Além do corpo os pelos levantados (principalmente) das costas mostram um sinal de agressi-
vidade ou ansiedade.
A cauda é sem dúvida a parte mais importante do sistema de comunicação canina. Uma frase
célebre do escritor francês Victor Hugo (1808-1885) diz que "os cães têm o sorriso na cauda". A sua
posição, intensidade de movimentos ou a sua posição traz várias informações, por exemplo, cauda

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parada significa inquietude; cauda abaixada é um claro sinal de insegurança e pode significar agres-
sividade; cauda entre as pernas significa medo; cauda abanando é sinal de prazer e um convite para
brincar.

Cão com cauda abanando – Fonte http://www.caesonline.com

Quando um cachorro está relaxado, ele irá manter sua cauda em uma posição, já quando ele
está em estado de alerta ou excitado com alguma coisa, ele provavelmente irá posicionar a cauda mais
alta que o normal. Mantendo a mesma nesta posição firmemente sem movimenta-la. Agora, se o
objetivo for ameaçar alguém (uma pessoa ou outro animal), ele poderá movimentar sua cauda
semelhante a uma bandeira, o que significa que ele manterá a cauda rígida e alta e movendo-a
rigidamente para trás.
A comunicação corporal não se esgota aqui, mas esses exemplos dão uma boa dimensão de
como o corpo de cão é importante na transmissão de informações e emoções.

III - Por gestos

Os cães possuem a capacidade de uma criança de 2 anos de idade para entender gestos apon-
tando humanos, com cães não precisam de treinamento para descobrir a comunicação visual, de acordo
com dois estudos recentes. (LAKATOS, 2007), A comparação com crianças não termina aí. Devido à
domesticação, os cães parecem estar predispostos a ler outros sinais visuais humanos, incluindo giros
de cabeça e seguir o olhar.
Chimpanzés e outros primatas não-humanos, muitas vezes são reprovados apontando, os estu-
dos sugerem que cães podem compreender os seres humanos melhor do que até mesmo os nossos
parentes vivos mais próximos que os animais fazem.
O gesto de apontar para um objeto é um sinal humano característico, é referencial em sua na-
tureza, é intrínseco na comunicação humana e onipresente em quase a totalidade das interações coti-
dianas da humanidade. O fato de que o gesto de apontar ser uma dos mais importantes comunicacio-
nais humanas, faz com que os bebês humanos adquiram mais rapidamente a compreensão desse signo,
mesmo antes da primeira palavra falada (LAKATOS, 2011).

65
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Em uma série de experimentos, foi comparada a comunicação habilidades de cães e bebês hu-
manos de diferentes idades (LAKATOS, 2011). Variando diferentes tipos de gestos de apontar gesto,
o primeiro objetivo do estudo foi encontrar um período de desenvolvimento humano em que as crian-
ças e cães exibissem níveis de desempenho semelhantes e como segundo objetivo erenir evidências
comparativas da capacidade de interpretar gestos desconhecidos em ambas as espécies. Os resultados
mostraram pouca diferença no desempenho de crianças e cães de 2 anos de idade, enquanto o desem-
penho das crianças de 3 anos foi alto em todos os casos. Essas descobertas sugeriram que, pelo menos,
nos cães de nível funcional, os mesmos mostram um desempenho semelhante ao de crianças de 2 anos,
essa capacidade pode ser explicadas como o resultado do conjunto da história evolutiva e sua sociali-
zação em um ambiente humano.
Essa capacidade de interpretar o gesto de apontar, tornou-se uma chave fundamental para hu-
manos transmitirem o que desejam quanto de cães entender os humanos, fornecendo a base para
comunicação cão-humano.
Segundo Dahás et all (2013) os cães tendem a seguir as dicas humanas acima do acaso e seguir
o apontar momentâneo aos dois meses e o apontar distal na vida adulta.

Gesto de apontar – Fonte http://www.sdona.org/

IV - Pelo olhar

Estudos científicos evidenciaram a influência dos olhos humanos nos sinais comunicativos dos
cães, (SAVALLI, 2016), os cães levam em conta o olhar humano e sua relação com o estado de aten-
ção. Nas interações humanas, é comum, no caso de inatenção, que o transmissor “chame a atenção”
da outra pessoa para que o olhar desta indique que poderá ver o sinal. Sinais de atenção, são reque-
ridos para aumentar a probabilidade de que uma comunicação visual tenha efeito.
Os cães entendem o olhar humano, como a indicação, pois tendem a ter como referência o local
para onde eles estão direcionados.
Os olhos dos cães no entanto trazem uma variação muito maior de informações, eles são muito
expressivos. Os cães usam os olhos para comunicam-se quando estão felizes, tristes, nervosos, com
medo ou com raiva, eles também irão modificar a direção e a intensidade como olham coisas e situa-
ções. Quando um cachorro está descontraído e feliz, seus olhos estarão na sua forma natural, no entanto
quando os olhos de um cachorro parecerem maiores do que o normal, isso significa normalmente que
o cachorro está sentindo-se ameaçado de alguma forma. Alguma coisa pode estar levando o cachorro
ao stress ou ele pode estar com medo de alguém ou alguma coisa.
Se a informação a ser transmitida for agressividade, provavelmente o cão aparentará estar com
olhos maiores do que o normal, já os olhos menores do que o normal, podem significar medo ou stress.
No caso de estarem sentindo alguma dor, passando mal, ou estarem com alguma enfermidade,
normalmente os fazem uma expressão facial de apertar os olhos.

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Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Cães não costumam olham diretamente nos olhos uns dos outros, pois isso é considerado um
comportamento desafiador. Mas a maioria dos cachorros compreende que não existe nenhum problema
olhar dentro dos olhos de seus donos.
Segundo Dahás et all (2013) somente os cães alternam seu olhar entre o humano e uma tarefa
que podem resolver livremente. Os cães possuem a habilidade de cães para seguir dicas comunicativas
humanas e possuem a tendência de direcionar o olhar para os humanos quando tem alguma dificuldade
para obter um estímulo reforçador.

Olhar canino – Fonte http://webcachorros.com.br

V - Pela observação

Estudos mostram que os cães aprendem através da observação em modelos humanos


BENTOSELA (2007), pois possuem a capacidade para perceber os sinais dos seres humanos e também
estão atentos ao comportamento de seus proprietários.
Os resultados de diversos estudos revelaram que os humanos são fontes de modelação do
comportamento de cães para a realização de novas tarefas. Para que os seres humanos sejam capazes
de demonstrar é necessário que cães tenham a capacidade de entender as ações humanas e aprender
com elas. A aprendizagem por observação deve ser treinada nos cães desde a tenra idade, isso porque
filhotes, estão mais latentes e atentos ao aprendizado e a comunicação, filhotes veem, filhotes fazem.
Kubinyi et All (2003) concluíram que que essa aprendizagem que eles chamam de
"antecipação social", permite que espécies organizadas socialmente coordenem temporariamente as
ações juntas durante a vida em grupos. A capacidade de reconhecer e antecipar sequências
comportamentais dos outros membros permite que um indivíduo ajuste seu próprio comportamento,
seja imitando a resposta do outro ou fazendo uma ação complementar
Para cães que convivem e trabalham em cooperação com humanos é preciso que ambas as
espécies ajustem as ações de compreensão e emissão de sinais de comunicação interespecíficos. A
cooperação pode ser definida como indivíduos que agem juntos para alcançar um objetivo comum,
Naderi et all (2001) definiram que os comportamentos cooperativos, podem se dar em 3 dimensões:
congruência ou similaridade das ações, sincronia ou relação temporal da ações e a relação ou
coordenação do espaço de animais que interagem. Em seus experimentos, os cães mostraram serem
capazes de atuar cooperativamente com seus proprietários evidenciando semelhança de ações,

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Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

sincronização e coordenação espacial de seus comportamentos com os de seus proprietários. A


comunicação entre cães e humanos se mostrou existente como comportamento cooperativo
interespecífico.
Na maioria dos casos, o comportamento humano serve como tutorial para moldar o
comportamento dos cães.

VI – Considerações finais

Cães e homens podem estreitar muito a sua relação compartilhando informações e desejos entre
si. As duas espécies precisam aprender entre si e principalmente aumentar o número de signos
linguísticos compartilhados entre ambos. Isso leva tempo, nem sempre é fácil, mas requer tentativas;
O fator mais importante de qualquer processo de condicionamento é a comunicação. Não
importa o que o cão faça (ou desejam que ele faça) tudo passa por comunicar isso a ele.
Não existe aprendizado sem comunicação.

Bibliografia

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ME

69
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

ARTIGO 3
CÃES E TECNOLOGIAS

No final do século XIX, iniciou-se a utilização de cães para ações de salvamento, estes foram
usados para encontrar soldados feridos. Eram chamados “cães ambulância”. Foram também
empregados na 1ª Guerra Mundial (1914 – 1918) nas pesquisas de vítimas soterradas em trincheiras,
onde muitos soldados feridos tiveram as vidas salvas por eles.

Durante a 2ª Guerra Mundial, uma utilização similar foi realizada na cidade de Londres por
ocasião dos bombardeios efetuados pelas esquadrilhas alemãs, (ALCARRIA,2000), sendo este
considerado o marco da atividade, por ter sido implantado de forma regular, com treinamento orientado
e institucionalizado.

No Brasil a implantação dos serviços de salvamento com a utilização de cães deu-se no Corpo
de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo em 1999, a partir de então e de forma
gradativa, os demais Estados aos poucos foram implantando a atividade.
Apesar do Brasil não possuir registros de terremotos e furacões significativos, vez por outra
ocorrem situações de edificações colapsadas, provavelmente parte desses desastres ocorre por falhas
nos processos construtivos ou devido ao uso de materiais fora dos padrões exigidos pela engenharia
civil. Tais eventos podem ocorrer ainda decorrentes de ataques terroristas, como exemplo de resgate
de pessoas sob escombros podem-se citar o desabamento das torres gêmeas do World Trade Center
nos Estados Unidos, onde os cães participaram ativamente no processo de busca de vítimas. Esta ope-
ração com cães foi considerada um marco da popularização na atividade mundial, pois foram resgates
muito complexos devido a grande quantidade de concreto envolvido e mesmo assim os cães auxiliaram
bastante na busca de pessoas. (FLORENÇA, 2004).

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Durante muitas décadas os cães eram a única alternativa para as equipes de busca e resgate. No
entanto, diante do surgimento das mais variadas tecnologias para a localização de pessoas, seja em
grandes áreas rurais ou em escombros, qual será o futuro dos cães de busca e resgate?
Em 2013 quando da NASA anunciou o FINDER (Finding Individuals for Disaster and
Emergency Response) foi dado um grande salto na tecnologia dos resgates, o radar capaz de detectar
batimentos cardíacos e respiração humana e capaz de separar sinais emitidos por animais e humanos
trouxe uma inovação até então inimaginável nas ações de busca e resgate. Não há escala capaz de
medir ou fazer uma comparação justa entre os cães e o FINDER quanto a eficiência e precisão,
obviamente (e felizmente) esse equipamento levará muito tempo e possivelmente nunca chegará a
maioria das equipes de resgate do mundo. O FINDER não é único equipamento existente com essa
finalidade, há uma extensa linha de radares de penetração no solo conhecidos pela sigla GPR (Ground
Penetrating Radar) que fazem essa função.
Coincidentemente foi em 2013 que o jovem chinês Frank Wang Tao, lançou o veículo aéreo
não tripulado (VANT) da linha Phantom fabricado pela empresa Dajiang Innovation Technology Co.
(DJI), tornando acessível as pessoas comuns esses robôs voadores. Associado ao avanço dos veículos
aéreos não tripulados de asas fixas ou asas rotativas, surgiram as câmeras, capazes de produzir imagens
com definições incríveis, sejam térmicas, 3D, multispectral, infravermelho e tantas outras, com
potenciais para captar imagens a noite, em movimento, com altos potenciais de ampliação.
Os VANTs têm sido aplicados em todo o mundo nas operações de busca de pessoas, sejam em
atividades policiais como de pessoas perdidas com notável eficiência. Traz sobre os cães a vantagem
de que as imagens podem ser transmitidas para várias pessoas, podem ficar registradas e permitem a
manipulação ao mesmo tempo em que estão sendo geradas.
Surge por fim, o nariz eletrônico, que é um dispositivo destinado a detectar odores, aplicado
na ciência forense para análise de voláteis e biomarcadores.
A aplicação das tecnologias do nariz eletrônico (E-nariz) na ciência forense é um algo recente,
resultado de uma longa história de estudos e progresso no desenvolvimento de diversas aplicações nos
campos biomédicos e farmacêuticos relacionados. Nos Estados Unidos os dados obtidos pelo E-nariz
satisfazem as necessidades e exigências das comunidades científica bem como jurídica.
O tipo de dados coletados do nariz eletrônico permite identificar tipos específicos de
informações sobre a natureza química de objetos e amostras evidenciais identificando a assinatura de
aroma de misturas gasosas complexas contendo compostos orgânicos voláteis (COVs) liberados no
meio ambiente.
O E-nariz apresenta potenciais para a detecção e localização de indivíduos enterrados (Tanto
vivos como falecidos), bem como os restos humanos de vítimas de crimes violentos, testes mostraram
e comprovaram a detecção de 478 COV diferentes apontados pelo E-nariz em analises de cadáveres
humanos.
Enfim, esses são exemplos, não são os únicos e muitos provavelmente estão em
desenvolvimento.

Diante dessas tecnologias, qual será o futuro dos cães de busca e resgate?

Para olhar o futuro é preciso primeiro olhar o passado.


Por que o homem usa cães para busca e resgate?
Essa é uma pergunta que fiz talvez centenas de vezes e a resposta invariavelmente é a mesma:
Pela sua incrível capacidade de farejar.
Lamento decepcionar, mas absolutamente não é esse o motivo, apesar do seu prodigioso faro,
o cão está longe de ser o animal com maior capacidade olfativa e capacidade de distinguir odores,
apesar de serem conhecidos por seu olfato aguçado, eles não são os únicos na natureza a ter
apuradíssimos faros, nem os melhores nesse quesito.
No reino existem outras espécies que possuem narizes ainda mais especializados, conse-
guindo verdadeiras proezas com esse quase super poder (se comparado ao limitado olfato humano).

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Segue alguns exemplos de prodigiosos sistemas olfativos:

1. Mariposa Imperador (macho)

Segundo estudo realizado na Alemanha em ainda no longínquo ano de 1961, a Mariposa


Imperador (macho) consegue identificar a substância sexual produzida pela fêmea virgem a uma
distância de até 11 km (URIBE,1998). Localizados nas antenas do macho, os receptores são tão
sensíveis que conseguem detectar uma única molécula de substância.

2. Tubarão

O caçador mais perfeito dos mares, o tubarão, possui um dos olfatos mais aguçados da natureza.
Ele consegue identificar substâncias diluídas na água, com concentrações abaixo de uma parte por
milhão, principalmente sangue, seu olfato é capaz de detectar uma única gota de sangue diluída em
1000 litros d’água e identifica, mesmo a 400 metros, a origem exata desse cheiro.

3. Urso Polar

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Vivendo no Alasca, no norte do Canadá, da Rússia, na Groenlândia e na Noruega, o animal usa


o aguçado olfato para localizar suas presas preferidas, as focas, a até 3 quilômetros de distância. O
urso polar possui um olfato 7 vezes mais aguçado que o do cão.

4. Elefantes

Estudo realizado por cientistas japoneses afirma que o olfato dos elefantes é o mais poderoso do
reino animal (NIIMURA, 2014). O genoma dos elefantes africanos contém o maior número de genes
relativos aos receptores olfativos, cerca de 2 mil, responsáveis por detectar odores no meio ambiente.
Esses números mostram que os elefantes possuem um olfato pelo menos cinco vezes mais
desenvolvido que o dos seres humanos, o dobro que o dos cães.
Aparentemente, o nariz do elefante não é só comprido, também é superior, ainda não se conhece
exatamente como estes genes funcionam, mas é provável que isto tenha permitido aos elefantes sobreviver
com o passar dos anos. De fato, a capacidade de sentir permite aos animais encontrar alimentos, parceiros e
evitar os predadores.

5. Urubu de cabeça vermelha

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O urubu possui sentidos muito apurados: a visão e o olfato. No caso de seu olfato, ele pode
detectar carne em processo de decomposição em concentrações tão pequenas quanto pequenas partí-
culas por bilhão no ar.
Eles procuram odores de animais mortos enquanto voam em colunas de ar. O olfato dessa es-
pécie é sensacional, sendo normalmente a primeira ave a localizar a presa. Seu voo também é impres-
sionante, as asas são mantidas em “V”. Com esse formato, aproveitam toda e qualquer brisa disponível
para voar. Para manter a sustentação, ficam com as asas rígidas e viram o corpo de um lado para o
outro, parecendo um voo sem curso definido. Raramente batem as asas e, mesmo assim, só para iniciar
o movimento.

6. Rato

Os roedores de um modo geral são animais com grande quantidade de genes olfativos — é isso
o que facilita todas as suas escolhas e ações para que eles se alimentem. Os ratos, no entanto lideram
a capacidade olfativa desse grupo, boa parte da informação adquirida por um rato sobre o mundo vem
de seu olfato. Eles têm um sistema melhor de captação dos odores e conseguem perceber uma quanti-
dade maior de substâncias diferentes no ar, eles possuem cerca de 25 mil receptores olfativos.
O olfato dos ratos é tão eficiente, que eles conseguem se comunicar usando esse sentido; para
isso, eles deixam pequenas marcas de cheiro, gotinhas de xixi, que diz exatamente o que sentia no
momento, se ele estava saudável, doente, se a fêmea estava no período fértil, a posição hierárquica,
demarcação de territórios, entre inúmeros outras informações extremamente úteis para a vida dos ratos.
Os ratos são capazes de sentir cheiros de uma forma semelhante a como os nossos ouvidos
conseguem ouvir em som estéreo, isso porque conseguem saber exatamente a origem, a localização e
a identidade do odor.

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Conclusão

Esse não é um texto sobre esses animais com faro fantástico; eles são apenas exemplos. Há
outros com olfatos melhor do que os cães, como os gambás, os cavalos, as vacas ou o Sapo-com-
garras-ocidental, que servem para demonstrar que embora sejam dotados de aptidões naturais, lhes
falta algo. Falta algo que é a principal razão pelas quais os homens usam cães: sua incrível
capacidade de se relacionar com os seres humanos, de serem moldados por eles, de entenderem
seus anseios e de resolverem seus problemas.
Por isso, ao voltar de falar de futuro, competir com a máquina será um erro, a máquina sempre
fará melhor, ela distingue mais odores, tem mais precisão. Aqueles que forem por esse caminho estarão
com certeza fadados ao fracasso.
Porém, sempre haverá uma grande gama de coisas que a máquinas serão incapazes de fazer,
certamente muitas dessas coisas, mesmo não pertencendo ao rol de ações pertencentes a sua espécie
os cães poderão adaptar-se para fazer. Farejar aparelhos celulares, farejar amostras de urina em busca
de células cancerígenas certamente não está marcado no código genético dos cães, mas eles fazem isso
com perfeição, por uma única razão: era uma necessidade do ser humano.
Assim foi ao longo de muitos séculos, o cão passou de caçador, para buscador de patos, para
cuidador de ovelhas, para companheiro inseparável. Saiu das tocas das matilhas para o sofá das casas
dos seres humanos e sempre estará disposto a dar um novo salto, a se modificar e transformar-se em
uma nova raça, em mudar sua pelagem, seu corpo e seu tamanho, tudo isso para atender os anseios e
se relacionar com o ser humano, algo que nenhuma máquina jamais fará.
O futuro dos cães de resgate passa pela transformação, as raças atuais serão superadas e as
atividades atuais serão modificadas, mas ele estará pronto para isso.

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LIÇÃO 03

NOÇÕES DE BUSCA E RESGATE TERRESTRE

Objetivos

Ao final dessa lição os participantes deverão ser capazes de:

- Conhecer cartografia e os sistemas de coordenadas

- Operar e navegar por meio de um GPS.

Imagem “The World (1772)” – Disponível em <http://www.flickr.com/photos/13964815@N00/page10/> Acesso em 19 Out 2011.

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NOÇÕES DE CARTOGRAFIA

INTRODUÇÃO

O vocábulo CARTOGRAFIA se traduz, etimologicamente, como descrição de cartas,


e foi introduzido em 1839, pelo segundo Visconde de Santarém - Manoel Francisco de Bar-
ros e Souza de Mesquita de Macedo Leitão, (1791 - 1856).

A Cartografia apresenta-se como o conjunto de estudos e operações científicas, téc-


nicas e artísticas que, tendo por base os resultados de observações diretas, ou da análise
de documentação, se voltam para a elaboração de mapas, cartas e outras formas de ex-
pressão ou representação de objetos, elementos, fenômenos e ambientes físicos e socioe-
conômicos, bem como, a sua utilização”. (Associação Cartográfica Internacional - 1996 )

Dentre os diversos tipos de representações cartográficas citamos os mapas e as car-


tas topográficas como as mais importantes na atividade de busca terrestre, sendo que po-
demos definir:

1) MAPA:

Mapa é a representação sobre um plano,


em escala, de parcelas da superfície terrestre ou
de toda ela, mostrando as posições horizontais
dos principais componentes naturais da superfície
abrangida e as divisões político-administrativas.

2) CARTA TOPOGRÁFICA:

Carta topográfica é a representação, em


escala, a partir de fotografias aéreas, ou outros
recursos, de parcelas menores de um terreno so-
bre um plano, localizando em detalhes e de forma
mensurável, os acidentes naturais e artificiais da
superfície terrestre, mostrando suas posições ho-
rizontais e verticais.

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2.1) ESCALAS

É uma relacão entre a medida de um objeto ou lugar representado no papel e a sua medida
real, sendo representada de duas formas:

2.1.1) Escala Numérica:


É a representação em forma de fração: E = d/D, onde:
E = Escala
d = medida na carta
D = Medida no terreno

Com base nas informações disponíveis chegar-se-á a escala utilizada.

Exemplos:

Determinada distância na carta é de 4 cm e no terreno a medição do mesmo trecho foi de 100.000


cm:

E = d/D
E = 4cm/100.000cm
E = 1cm/25.000cm ou simplesmente, E = 1/25.000 ou ainda E = 1:25.000

 Determinada distância na carta é de 5 cm e no terreno a medição do mesmo trecho foi


de 5 Km:

Antes de tudo é necessário trabalharmos com apenas uma unidade, sendo que devemos
transformar 5 km em centímetros.

DICA: Para facilitar podemos utilizar a tabela de conversão de medidas, a qual visa transformar
de maneira correta medidas de kilometro à Milímetro, sendo ela:

km hm dam m dm cm mm

No exemplo acima se faz necessário transformar 5Km e centímetros, utilizando a tabela


teremos:

km hm dam m dm cm mm
5 0 0 0 0 0

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Portanto teremos que 5 km corresponde a 500.000 cm e podemos voltar a nossa fórmula


de escala:

E = d/D
E = 5cm/500.000cm
E = 1cm/100.000cm ou simplesmente, E = 1/100.000 ou ainda E = 1:100.000

Uma escala de 1:25.000 significa que cada 1 cm na carta corresponde a 25.000 cm no


terreno (ou 250 m).
Uma escala de 1:50.000 significa que 1 cm na carta corresponde a 50.000 cm no terreno
(ou 500 m).
Uma escala de 1:100.000 significa que 1 cm na carta corresponde a 100.000 cm no terreno
(ou 1000 m).

2.1.2) Escala Gráfica:

É a representação gráfica de várias distâncias no terreno sobre uma linha reta graduada.
Este tipo de representação possuí um segmento à direita da referencia zero, a que se denomina
de escala primária, e um outro segmento à esquerda do zero, chamado de escala de
fracionamento, subdividida em sub-multiplos da unidade escolhida.

Como utilizar a escala gráfica (conforme explicações em sala de aula):

1° - Toma-se na carta a distância que se pretende medir (usar preferencialmente um


compasso, ou uma régua);

2° - Transporta-se a distância medida para a escala gráfica;

3° - Lê-se o resultado.

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Embora nosso pessoal não tenha o costume de utilizar a escala gráfica, ela é muito
útil, visto que permite uma leitura mais direta (sem necessidade de muito cálculo) e sem a
necessidade de outros meios de leitura, visto que até mesmo com um barbante é possível
obtermos as distâncias que desejamos saber. O processo do barbante e escala gráfica,
também facilita a leitura de distâncias de trechos sinuosos (como rios e estradas, por
exemplo).
Outra grande vantagem da escala gráfica é que permite a utilização da carta mesmo
que ela tenha sido fotocopiada ou impressa em tamanhos maiores ou menores que o origi-
nal.
As cartas topográficas apresentam tanto a escala numérica quanto a escala gráfica.
Vale salientar que quanto menor for o número denominador da fração maior será a
escala, assim uma escala de 1:25.000 é maior que uma escala de 1:100.000.

Quanto maior for a escala mais detalhes serão apresentados na carta topográfica,
porém menor será a área abrangida pela carta.

3) DEFINIÇÃO DOS TIPOS DE NORTE

A definição de “norte” como referencial, nos leva, inicialmente, a recapitulação dos


pontos cardeais, pontos colaterais e pontos subcolaterais, indicados na “rosa dos ventos”:

80
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Imagem “Rosa dos Ventos” – Disponível em <http://www.marcospaiva.com.br/localizacao.htm> Acesso em 19 Out 2011.

Representações dos pontos cardeais com as direções dadas em inglês, será:

N (North), S (South), E (East) e W (West.

3.1) Norte:
Consideramos 03 diferentes tipos de “norte”, sendo eles: o norte verdadeiro ou geo-
gráfico, o norte magnético e o norte da quadrícula ou cartográfico.
 Norte verdadeiro ou geográfico: É aquele que se refere ao norte geográfico
(direção do pólo norte). Do local onde estamos traçando-se uma linha imaginária
(meridiano local) até o pólo norte obteremos uma direção para o norte geográfico
da terra. Numa carta topográfica é representado somente pelas linhas verticais das
bordas.

 Norte magnético: É aquele que é indicado pela força do campo magnético


terrestre. O norte magnético é aquele que é apontado por uma bússola, não
coincidindo com o norte geográfico, apontando para o polo magnético da terra.

 Norte da quadrícula ou cartográfico: É aquele que se refere ao norte cartográfico,


sendo obtido pela direção das linhas verticais das quadrículas de uma carta
topográfica. Uma carta topográfica é dotada de diversas linhas verticais e
horizontais, cujo cruzamento forma uma quadrícula denominada de quadrícula
UTM, de grande auxílio para determinar posições, distâncias e azimutes.

Essas linhas verticais e horizontais estão dispostas aproximadamente nas direções do


norte verdadeiro e do leste verdadeiro. Por motivos técnicos muito complexos para serem
explorados neste curso, numa carta topográfica as linhas verticais que formam uma
quadrícula não correspondem exatamente a direção do norte verdadeiro ou geográfico,
bem como, também não correspondem ao norte magnético. Por isso se diz que as linhas
verticais de uma quadrícula são na verdade “quase verticais. Numa carta topográfica

81
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

apenas as linhas das bordas verticais são meridianos, pois naquela carta apenas elas
coincidem com o norte verdadeiro ou geográfico.

Esses três tipos de norte, numa carta


topográfica estão graficamente demonstrados
através do chamado diagrama de orientação
ou do popular “pé-de-galinha”. O norte magné-
tico é identificado pela sigla NM e/ou por uma
linha com seta; O norte geográfico é identifi-
cado pela sigla NG e/ou por uma linha com
uma estrela (representa a estrela polar); E o
norte da quadrícula é identificado pela sigla
NQ e/ou uma linha simples.

4) CONVENÇÕES CARTOGRÁFICAS:

a) Informações gerais:

Identificação alfanumérica da folha: Para cartas de até 1:25.000 se compõem de Le-


tra1+letra2+Numero1+Letra3+Letra4+Numero romano+Número2+Sigla, sendo que (exem-
plo):

FOLHA SG-22-Z-D-V-4

Letra 1: Será N ou S, indicando se a carta é de região ao sul ou ao norte do Equador.

S...

Letra 2: Indica um intervalo de 4° de latitude a norte ou a sul do Equador, a cada letra,


iniciando-se no A.
..G..

Número1: Indica o fuso horário que contem a folha.


...22...

Letra 3: Será V, X, Y ou Z, sendo as subdivisões de uma carta de 1:1.000.000 em 04 cartas


de 1:500.000. A Carta V é a do canto superior esquerdo e a seqüência obedece ao sentido
horário.
...Z...

Letra 4: Será A, B, C ou D, sendo agora as subdivisões de uma carta de 1:500.000 em 04


cartas de 1:250.000. A Carta A é a do canto superior esquerdo e a seqüência obedece ao
sentido horário.
...D...

82
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Número romano: Será I, II, III, IV, V ou VI, sendo agora as subdivisões de uma carta de
1:250.000 em 06 cartas de 1:100.000. A Carta I é a do canto superior esquerdo e a seqüência
obedece ao sentido horário.

...V...

Número 2: Será 1, 2, 3 ou 4, sendo agora as subdivisões de uma carta de 1:100.000 em 04


cartas de 1:50.000. A Carta 1 é a do canto superior esquerdo e a seqüência obedece ao
sentido horário.
...4

Sigla: Será NO, NE, SO ou SE, sendo agora as subdivisões de uma carta de 1:50.000 em
04 cartas de 1:25.000.

Nome da folha: É a identificação nominal da carta.

Articulação da folha: Identifica as cartas adjacentes.

Localização da folha no Estado: As cartas brasileiras trazem esta fi-


gura que identifica a localização da carta dentro do território de um Es-
tado da Federação.

b) Elementos de representação:

Os elementos de representação de uma carta topográfica podem ser divididos em


elementos de planimetria (plano) e de altimetria (altitude):

b.1) Planimetria:

A planimetria apresentada em carta topográfica subdivide-se em representações de


elementos naturais e de elementos artificiais.

Os elementos naturais são os relacionados com a hidrografia e a vegetação e os


elementos artificiais são os que decorrem da ocupação humana, como o sistema viário, as
construções e os limites políticos administrativos.

Hidrografia:

São os elementos que numa carta topográfica represen-


tam a presença de água, através da cor azul. Haverá na carta
uma legenda que identificará as representações hidrográficas
nela existentes.

Vegetação:

83
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

São os elementos que numa carta topográfica representam a presença de cobertura


vegetal natural ou cultivada, através da cor verde. Haverá na carta uma legenda que identi-
ficará as representações de vegetação nela existentes.

Divisão administrativa:

Identifica as divisões político-administrativas


abrangidas pela carta.

Localidades:

São os elementos que numa carta topográfica representam as


aglomerações humanas, através de tamanhos de letras asso-
ciados à população da localidade (quanto maior a letra maior a
população), apresentados em legenda.

Sistema viário:

São os elementos que numa carta topográfica re-


presentam as rodovias, estradas, caminhos, trilhas
e ferrovias, apresentadas em legenda conforme sua
importância e porte.

Além das representações planimétricas apresentadas podem ser encontradas ou-


tras informações como linhas de comunicação e de energia elétrica, campos de pouso,
linhas de limites territoriais, áreas especiais, etc.

b.2) Altimetria:

São os elementos que representam as informações relacionadas ao relevo (altitude).

Curvas de nível:

São linhas marrons imaginárias do terreno em que todos os pontos da referida linha
tem a mesma altitude, tendo esta como referência o nível do mar, as quais têm por finalidade
permitir que o usuário possa ter uma idéia aproximada do relevo da região representada, da
sua altitude e declividade.

As curvas de nível indicam se o terreno é plano, ondulado, montanhoso ou se o


mesmo é íngreme ou de declive suave.

84
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Imagens disponíveis em <http://professoradegeografia.blogspot.com/2011/03/cartografia-linguagem-dos-mapas.html> Acesso em 19 Out


2011.

As curvas de nível impressas com traço de maior espessura e acompanhadas do


valor da altitude são denominadas de curvas de nível mestras, as quais são representadas
a cada cinco curvas.

Eqüidistância das curvas de ní-


vel:Eqüidistância é o espaça-
mento, ou seja, a distância
vertical (desnível) entre as curvas de
nível. Essa eqüidistância varia de
acordo com a escala da carta com o
relevo e com a precisão do levan-
tamento.

Imagem disponível em <http://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/curva-nivel.htm> Acesso em 19 Out 2011.

ESCALA EQÜIDISTÂNCIA
1: 25.000 10 m
1: 50.000 20 m
1: 100.000 50 m
1: 250.000 100 m
1: 1.000.000 100 m

Com base na informação da altitude existente na curva de nível mestra, acrescendo-


se ou diminuindo a eqüidistância em metros conforme a escala da carta apresentada na
tabela, saberemos a altitude de cada curva de nível.

85
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

✔ Importante: Eqüidistância não significa a distância entre uma curva de nível e


outra, mas sim o desnível (diferença de altitude) existente entre ambas, de forma
que quanto mais próxima uma linha de curva de nível da outra numa carta, mais
íngreme ou mais inclinado será o terreno.

Caso desejarmos obter em quantitativo numérico a inclinação (declividade) de uma parte


qualquer do terreno, basta apanharmos a diferença de altitude entre as curvas de níveis
consideradas, dividir o resultado pela distância entre as curvas de nível conforme apresen-
tado na carta, e por fim multiplicar o resultado por 100, sendo o resultado expresso em per-
centual.

Exemplo:
Curva de nível 1 = 1000m
Curva de nível 2 = 950m
Distância entre ambas no ponto considerado = 800m
I = {(1000-950)/800}x100
I = 6,25%, ou seja uma inclinação bem suave (significa que, em média, a cada 1m [100cm]
a altitude aumenta em 6,25cm).

Algumas cartas topográficas apresentam uma escala de declividade, o que torna


bastante fácil sua leitura não necessitando cálculos matemáticos, bastando apenas compa-
rar a distância entre as curvas de nível em apreciação com o grau que a mesma mais se
aproxime na escala de declividade da carta topográfica.

5) SISTEMAS DE COORDENADAS

Os sistemas de coordenadas são necessários para expressar a posição de pontos


sobre uma superfície, seja ela um elipsoide, esfera ou um plano.
Para o elipsóide, ou esfera, usualmente empregamos um sistema de coordenadas
cartesiano e curvilíneo (PARALELOS e MERIDIANOS);

86
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Imagem disponível em <http://atividadesyimagens.blogspot.com/2011/04/paralelos-e-meridianos.html> Acesso em 19 Out 2011.

Paralelos

O Equador é o paralelo que di-


vide a Terra em dois hemisférios (Norte
e Sul), considerado como o paralelo de
origem (0°). Partindo do equador em di-
reção aos pólos temos vários planos pa-
ralelos ao equador, cujo tamanho dimi-
nui, até se tornar um ponto nos pólos
norte (+90)° e Sul(-90)°. A latitude é a
distância angular ou linear de um ponto
P, medida a norte ou a sul do equador,
numa esfera ou elipsóide.
Imagem disponível em <http://laboratoriodesociales.word-
press.com/2007/09/24/imagenes-interesantes-de-la-ut1-la-tierra/>
Acesso em 19 Out 2011.

Meridianos

são os semicírculos que ligam


os dois pólos terrestres. Considera-se
o primeiro meridiano, também cha-
mado inicial ou fundamental, o semi-
círculo imaginário que passa pelo ob-
servatório britânico de Greenwich,
nas proximidades de Londres. Tam-
bém é utilizado para dar início à con-
tagem dos fusos horários.
Ima-
gem disponível em <http://laboratoriodesociales.word-
press.com/2007/09/24/imagenes-interesantes-de-la-ut1-la-tierra/>
Acesso em 19 Out 2011.

5.1) SISTEMA DE COORDENADAS GEOGRÁFICAS

O globo terrestre é subdivido em diversas linhas imaginárias de forma que possamos


determinar um ponto qualquer do planeta, ainda que não tenhamos pontos de referência no
terreno para tal.

As linhas imaginárias dispostas na direção norte-sul são os meridianos, cujo meridi-


ano inicial (0°) é o meridiano de “Greenwich”. Já as linhas na direção leste-oeste são os
paralelos, cujo paralelo inicial (0°) é o paralelo do “Equador”.

87
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

O cruzamento entre um paralelo e um meridiano nos indicará um ponto qualquer do


globo terrestre, através da leitura de sua latitude e longitude.

Latitude é a distância em graus entre o ponto considerado e o paralelo do “Equador”.


O que estiver ao norte do Equador é dito como latitude Norte (N) ou latitude positiva, e que
estiver ao sul do Equador terá latitude Sul (S) ou latitude negativa.

Longitude é a distância em graus entre o ponto considerado e o meridiano de


“Greenwich”. O que estiver a leste de Greenwich é dito como longitude Leste (E) ou longitude
positiva, e o que estiver a oeste de Greenwich terá longitude (W) ou longitude negativa.

Imagem disponível em <http://www.brasilescola.com/geografia/coordenadas-geograficas.htm> Acesso em 19 Out 2011.

5.2) SISTEMA DE COORDENADAS PLANIMÉTRICAS

Sistema de coordenadas que se utiliza de distancias em metros, podendo se estabe-


lecer através dela a localização de um ponto qualquer da superfície terrestre com até 1 metro
de precisão. É chamada também de coordenadas UTM (Universal Transversa de Mercator).

Em UTM a terra é dividida em 60 fusos, onde cada um se estende por 6º de longitude.


Os fusos são numerados de 1(um) a 60(sessenta) começando no fuso 180º W e continuando
para Leste até 174º E.

O quadriculado UTM está associado ao sistema de coordenadas plano- retangulares;

Latitudes Limites: 80º Norte e Sul.

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Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Imagem (Dana 1995) Peter H. Dana, disponível em <http://www.personal.psu.edu/agb143/Geo482/Project%201/Project_1_Final_Re-


port.html> Acesso em 19 Out 2011.

Este sistema é mais adequado às operações de busca e resgate terrestre com auxílio
de carta topográfica, visto que permite uma leitura bem mais direta, sem a necessidade de
muitos cálculos ou conversões.

Lembrando das aulas de matemática básica, como poderemos definir a localização


do ponto A da figura abaixo, sendo as unidades em metro:

7 A

1 2 3
X

A localização do ponto A poderá ser definida como 2m no eixo horizontal X e 7m no


eixo vertical Y, ou A = (2,7).

A utilização das coordenadas UTM utiliza exatamente o mesmo princípio, sendo que
ao invés dos eixos X e Y utilizaremos os eixos E (leste) e N (norte).

As coordenadas UTM são, portanto, coordenadas retangulares e para memorização pode-


mos utilizar o seguinte esquema: XY = EN = 67.

A memorização EN significa que deve ser lida primeiro no sentido E (leste) ou da


esquerda para a direita, e em seguida no sentido N (norte) ou de baixo para cima. Já a
memorização 67 significa que no sentido E (leste) será composta de seis dígitos válidos,
enquanto no sentido N (norte) de sete dígitos válidos.
89
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Na legenda das cartas topográficas haverá a informação do ponto de origem da qui-


lometragem, tanto no sentido norte quanto no sentido leste.

Exemplo: Na carta topográfica “Curitibanos” (SG-22-Z-C-I) temos a informação que a


origem da quilometragem N é no Equador com o acréscimo de uma constante de 10000km
e a origem da quilometragem E é 51º a W de Greenwich (que por coincidencia encontra-se
na citada carta) com o acréscimo de uma constante de 500km. Essas informações nos
permitem também sabermos qual a distância entre um determinado ponto e o Equador e do
ponto para a coordenada 51º W Gr.

Vamos verificar na carta topográfica disponível para a instrução, qual a distância qual
a distância entre um ponto da carta e o Equador e do ponto para a coordenada 51º W Gr.

Respostas: ____________________________________

5.2.1) Localizando numa carta topográfica uma coordenada planimétrica (UTM)


recebida:

Tal processo será explicado através do seguinte roteiro-exemplo: Recebida as coor-


denadas 22J ________mE e UTM _________mN, localizar o ponto em questão em carta
topográfica.

Inicialmente há que se localizar o fuso 22 e a banda J apresentados, a fim de delimitar


a zona e escolher a carta em que se encontra o ponto a ser localizado. No exemplo as
coordenadas em questão estão na carta _________________, escala _____________, re-
gião de _________________.

Obs: A fim de facilitar a obtenção das coordenadas UTM, é importante primeiro iden-
tificar a quadrícula na qual se encontram as coordenadas buscadas ou o ponto dado.

Encontrando a coordenada E (leste):

1° passo – Encontrar na carta a coordenada E (leste) imediatamente menor que a coorde-


nada pretendida, que no caso será a coordenada ________mE.

2° passo – Obter a diferença entre ambas as coordenadas: ________ – ________ =


_____mE. Ou seja, a primeira coordenada estará a _______m a leste (direita) da linha de
coordenada ________mE pré-existente na carta.

3° passo – Com uso de régua e por conversão com escalas ou com um escalímetro, traçar
uma linha reta a ______m da coordenada _________mE (ou um ponto para completar a
linha reta quando tivermos a coordenada N).

Encontrando a coordenada N (Norte):

1° passo – Encontrar na carta a coordenada N (norte) imediatamente menor que a coorde-


nada pretendida, que no caso será a coordenada __________mN.

90
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

2° passo – Obter a diferença entre ambas as coordenadas: ________ - ________ =


______mN. Ou seja, a nossa segunda coordenada estará a ______m a norte (acima) da
linha de coordenada __________mN pré-existente na carta.

3° passo – Com uso de régua e por conversão com escalas ou com um escalímetro, traçar
uma linha reta a ______m da coordenada _________mN.

Localizando o ponto:

O ponto procurado é aquele em que as duas retas obtidas se cruzarem, que no caso repre-
senta a ___________________________.

5.2.2) Determinando as coordenadas planimétricas (UTM) de um ponto qualquer de


uma carta topográfica:

Tal processo será explicado através do seguinte roteiro-exemplo, considerando como


ponto a ser determinado as coordenadas, a(o) ____________________________ constante
na carta _______________, escala 1:_________, região de ______________.

Determinando a coordenada E (leste):

1° passo – Identificar na carta a coordenada E (leste) imediatamente menor que a coorde-


nada do ponto pretendido, que no caso será a coordenada ________mE.

2° passo – Com uso de régua e por conversão com escalas ou com um escalímetro, medir
na carta a distância em linha reta entre a coordenada _________mE e o ponto pretendido,
o que dá _______m.

3º passo – Somar os ________m obtidos à coordenada utilizada como referência: ___m +


________m = _________mE.

Determinando a coordenada N (norte):

1° passo – Identificar na carta a coordenada N (norte) imediatamente menor que a coorde-


nada do ponto pretendido, que no caso será a coordenada _________mN.

2° passo – Com uso de régua e por conversão com escalas ou com um escalímetro, medir
na carta a distância em linha reta entre a coordenada _________mN e o ponto pretendido,
o que dá ______m.

3º passo – Somar os _______m obtidos à coordenada utilizada como referência: ____m +


_________m = _________mN.

Portanto, as coordenadas planimétricas (UTM) do __________________________ serão: 22 J ________mE e UTM


_________mN.

91
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

SISTEMA DE POSICIONAMENTO GLOBAL (GPS)

1. OPERAÇÕES BÁSICAS DE UM GPS

Tendo em vista que no CBMSC ainda não padronizamos os GPS utilizados pelas
Organizações de Bombeiro Militar, utilizaremos um roteiro com as operações básicas que
devem ser dominadas pelo Bombeiro Militar que atuar um uma situação de Busca Terrestre:

a. Ligar o GPS;
b. Marcar no GPS sua posição atual;
c. Marcar no GPS coordenadas geográficas e planimétricas recebidas;
d. Localizar um ponto armazenado no GPS;
e. Converter uma coordenada geográfica em planimétrica, e vice versa;
f. Alterar o Datum do GPS;
g. Navegar utilizando o GPS.

ETAPAS DE UMA OPERAÇÃO DE BUSCA E RESGATE TERRESTRE

1) Técnicas de busca:

Também chamadas de processos de busca. São as técnicas ou as formas como as


equipes de busca e resgate terrestre deslocam-se pelo terreno dentro da área de busca e
da zona delimitada, com a finalidade de localizar indícios ou a pessoa perdida.

As técnicas de busca dependerão de fatores como a topografia do terreno, a quan-


tidade de pessoas envolvidas na busca e a luminosidade (noite ou dia).

São utilizadas as seguintes técnicas de busca: Em linha ou pente-fino, quadrado


crescente e retangular.

a) Processo em linha ou pente fino:

É o mais simples dos processos de busca utilizados pelas equipes de busca e res-
gate, pois se resume a uma formação em linha, onde os homens, lado a lado, distanciados

92
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

de acordo com as dificuldades do terreno e com a luminosidade, percorrem uma determi-


nada área delimitada para a realização das buscas, sendo que preferencialmente tal delimi-
tação seja física por utilização de alguma linha existente no terreno (estrada, rio, arroio, etc).

Apesar de sim-
ples é um método muito
eficaz, pois a área a ser
vasculhada é totalmente
coberta pelas equipes
de busca e resgate. En-
tretanto, exige uma D max ?
grande equipe e a área a
ser vasculhada fica
muito restrita.

b) Processo do Quadrado Crescente:

Este processo simples de memorizar e fácil


de executar, é muito utilizado quando as equipes
de resgate não têm informação do local, ou ape-
nas, uma informação vaga da localização das víti-
mas, possibilitando uma varredura completa em
uma determinada área. Pode ser utilizado de
forma conjugada com o processo em linha.

Apresenta como deficiência o fato que bus-


cas podem ser muito demoradas, bem como não
ser prático em terrenos muito acidentados.

c) Processo Retangular:

Este processo auxilia a realização das operações de busca, tendo como ponto de
referência um rio ou uma estrada ou ambos, por exemplo, pois seu deslocamento sempre
retornará a linha original, ou seja, a referência de orientação no terreno.

93
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Rio

94
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LIÇÃO 04

FIGURAÇÃO

OBJETIVOS

Ao final dessa lição os participantes deverão ser capazes de:

- Conhecer os princípios do trabalho de figuração


- Conhecer o trabalho de motivação;
- Conhecer sobre estimulo e recompensa;
- Conhecer as fases do trabalho de preparação de cães de busca e resgate.

O figurante:

O figurante é o principal responsável pela moldagem do caráter do cão, ou seja, criar nele um grande
desejo pela brincadeira, trazendo-lhe firmeza e coerência de atitudes em resposta aos estímulos que lhe são
apresentados, e principalmente por trazer para o treinamento, a alegria e o prazer necessários, na intenção
de que esse prazer por ele causado, faça com que o cão deseje sempre repetir esse trabalho.

Um condutor jamais conseguirá formar um cão de busca sozinho, um bom cão de busca passará
inevitavelmente pelo trabalho hábil e paciente e determinante de um bom figurante, que disporá de todo a
sua capacidade no sentido de canalizar os perfis naturais do cão, conduzindo-o para a atividade de busca por
pessoas.

Preliminarmente é preciso destacar que um cão de busca e resgate não é um cão de exibição,
portanto, não precisa realizar truques, fazer demonstrações e exibições de adestramento, focando em realizar
com o máximo de eficácia o trabalho que lhe é proposto, neste caso a localização e apontamento da posição
de pessoas desaparecidas.

Basicamente, cão aprende através de 5 formas, e cabe ao Figurante conhece-las:

95
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

a) Condicionamento Clássico (Pavlov);

b) Observação

c) Habituação;

b) Sensibilização:

c) Condicionamento operante (Skinner).

Um bom figurante tem a obrigação de conhecer as maneiras de impulsionar um cão em treinamento,


no sentido de que este realize suas atividades de aprendizado que serão fundamentais nas fazes de
condicionamento para a atividade de busca por pessoas desaparecidas. Existem formas de se estimular um
cão nesse sentido, sendo que utilizaremos nesse caso a regulação de seus instintos naturais para o fim de
procurar por pessoas desaparecidas ou em situações que tornem difícil sua exata localização.

Nesse sentido o figurante tem papel preponderante e uma responsabilidade muito grande, pois lhe
cabe não somente estimular o cão no sentido de querer procurar a vítima, como também premiá-lo de uma
maneira que lhe seja especialmente prazerosa e assim, poder criar nele a motivação em querer repetir o
exercício. De maneira resumida, estimulamos o cão a querer procurar a vítima através do seu instinto de caça
e recompensamos com sua brincadeira favorita o fato de a ter encontrado.

Um bom condutor de cães, com o fundamental apoio de um bom figurante saberão aproveitar ao
máximo o potencial do seu cão, e os dois juntos canalizarão essas ações para o fim a que se propõe, buscando
fazer com que em todas as sessões de treinamentos ele possa evoluir um passo no seu condicionamento.

O desafio de uma equipe de treinamento é a MOTIVAÇÃO.

Um cão bem motivado, será um cão disposto a cooperar com seu condicionamento, e isso é
imprescindível para um bom desempenho. Tão importante quanto saber motivar, é saber dosar o fator
motivador. Seu cão pode se sentir motivado por diversos fatores, brinquedos, panos, carinhos, toques efusivos
e até mesmo petiscos, cabendo ao figurante saber o exato momento de lhe entregar o que ele precisa,
buscando aumentar a vontade de brincar (drive), possibilitando assim continuar os exercícios de
condicionamento por um tempo maior. A premiação que ele mais gosta, deve ser utilizada principalmente
para lhe acrescentar motivação maior, se o figurante entregar nos primeiros exercícios o prêmio que mais lhe
motiva, terá mais ou menos o efeito de possibilitar à uma criança comer a sobremesa antes do almoço, ou
seja, ela não vai querer almoçar.

Quando o cão já está cansado, porém você necessita por questões determinadas durante os treinos,
trabalhar mais um pouco, tirar mais um pouco dele, aí será o momento de retirar da cartola esse prêmio que
lhe renovará as energias e você terá seu cão pronto para a execução.

96
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

A motivação pode se dar de 2 formas:

a) Motivação natural

b) Motivação induzida

O efeito do aprendizado também segue essa ordem, aquilo que o cão aprende naturalmente, será
registrado mais facilmente em sua memória de longa duração, por isso saber aproveitar e oportunizar o
aprendizado de forma natural é primordial para uma equipe de treinamento.

Como todo animal, o cão traz instintivamente consigo, algumas ações que lhe são prazerosas e
naturalmente vai buscar repetir essas ações. A motivação induzida é a fonte principal do trabalho do figurante.
Ela consiste basicamente em mostrar ao cão o que queremos que ele realize, incentivá-lo a fazer e premiá-lo
com carinhos, afagos, brinquedos, brincadeiras, ações agradáveis ao cão por ele ter realizado o exercício
proposto, criando nele o prazer em fazê-lo, de modo que toda vez que lhe seja dada oportunidade, ele queira
repeti-lo.

Por mais pesada, desgastante e emocionalmente difícil que seja uma operação de busca para as
equipes humanas, para os cães estas operações sempre serão alegres e prazerosas, como uma brincadeira
que ele não trocaria por nada no mundo. Buscar, para um cão deve ser algo comparável a um jogador de
futebol que disputa uma copa do mundo, a oportunidade de colocar na prática tudo o que ele treinou, com
prazer e se divertindo em fazê-lo. Quanto mais prazer o cão sentir em buscar, melhor será esse cão, melhor
ele desempenhará essa função e melhor serão os resultados desse trabalho. Como veremos adiante, o cão
não nasce sabendo localizar pessoas, ele tem algumas ações instintivas que precisam ser moldadas e
canalizadas para as ações de busca e nisso consiste a alma do trabalho de um bom figurante.

PRINCÍPIOS DO TRABALHO DE FIGURAÇÃO

Vimos que o figurante é um forjador, um formador do caráter de um cão e responsável por criar
nele a compulsão pela brincadeira de encontrar pessoas. Ele deve ser um estudioso do comportamento
animal, um portador de alegria que fará despertar no cão o desejo de brincar, mais do que qualquer
outra coisa em sua vida.

Por mais experiente que seja jamais conseguirá disfarçar suas emoções, a alegria ou as frustra-
ções do figurante sempre serão facilmente interpretadas pelo cão e certamente influenciarão no desen-
volvimento do trabalho. Por isso é fundamental, que antes de iniciar o trabalho com qualquer cão, o
figurante se apresente a ele, observe-o, estabeleça um contato de confiança, perceba como o mesmo se
comporta e principalmente recicle possíveis sentimentos ruins que possa estar sentindo decorrentes de

97
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

suas frustrações diárias, no intuito de potencializar suas possibilidades de obter toda a atenção e cum-
plicidade do cão em benefício do seu condicionamento.

No trabalho do figurante o cão transformar-se-á em uma máquina de localizar pessoas e apren-


derá a disponibilizar todos os seus sentidos, habilidades e sua vontade, a disposição de uma equipe de
busca, fará disso a sua vida, e em seu potencial residirá à esperança de pessoas que, por ventura, se
encontrarem em situações de risco e dele precisarem.

Um verdadeiro figurante deve saber favorecer o instinto do animal, potencializando e fazendo


aumentar o gosto do cão pela brincadeira que será a motivação do seu trabalho. Ele deverá ainda,
possuir algumas características gerais fundamentais para o bom desempenho no sentido de atingir sua
meta:

a) Bom estado físico: Esse é um requisito indispensável, pois durante sua atuação deverá des-
prender muito esforço e necessitará ter muita capacidade aeróbica;

b) Atitude psíquica: Antes de tudo deve controlar suas emoções, sentimentos e energias, para
não prejudicar o desenvolvimento do cão;

c) Desenvolvimento motriz: Deverá ser capaz de coordenar os movimentos de seu corpo moti-
vando o cão através dos mesmos, pela voz e pelo constante toque que desprenderá no animal durante
a figuração e ou premiação,

Esses 3 fatores juntos elevarão a motivação do cão trazendo mais eficácia ao trabalho.

Forma de Trabalhar a Presa:

O trabalho de presa do cão com o figurante remonta aos seus ancestrais, quando estes ainda
necessitavam caçar para sobreviver. Durante a caça o cão cerca a presa, ela se agita para fugir... então
ele a persegue, a captura e segura com os dentes, agitando violentamente para que morra. Quando a
presa relaxa já quase sem vida, o cão a morde mais profundamente (corrige a mordida), segurando
mais forte para que não possa escapar.

A presa, preferencialmente um pano, deve estar em uma das mãos com a palma voltada para
cima, incitando insinuante com a parte que sobra pela mão do figurante.

O figurante entra em forma tangencial ao cão, buscando possibilitar o contato da presa com
ele, deixando capturar sempre que ele estiver muito instigado.

98
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Inicialmente o figurante capta a atenção do cão e o motiva convidando-o para a brincadeira,


movimentando a presa vivamente imitando o movimento de um animal em fuga emitindo um som que
seja parecido com um bichinho, tornando essa presa o mais real possível em seu imaginário,

Importante salientar que a presa nunca vai ao encontro do cão, ela sempre tentará fugir dele e
o cão é que corre atrás da mesma, por isso o figurante não entrega o pano na boca do cão, e sim
possibilita que ele consiga pegar.

Quando o cão atingir o figurante (local onde o cão é capaz de alcançar à presa) “o figurante
apresenta a presa” e a move até quase encostar, passando de forma tangencial perto o suficiente para
que ele possa pegar, porém escapa e lhe é possibilitado pegar assim que o cão der o bote.

Na primeira vez, quando a presa é pega pelo cão, o figurante solta, e o condutor estimula e
corre como se fosse cúmplice do cão, cuidando para que mantenha o brinquedo consigo, para se formar
entre ambos assim, uma cumplicidade natural para o instinto de caçar.

Estimular o espírito de luta disputando a presa, nos ajuda a aumentar a persistência, tenacidade
e instinto de caça do cão e certamente representará uma grande motivação para estimulara o ímpeto
pela brincadeira.

Despedida

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Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

A despedida é o ato realizado pelo figurante no sentido de prender a atenção do cão antes de
se afastar do mesmo, seja na intenção de se esconder ou simplesmente instigá-lo para a brincadeira,
motivando para querer receber seu prêmio (brinquedo).

Nas primeiras inserções de exercícios de diferentes níveis de dificuldade é sempre muito ativa
e atraente, pois necessitamos que o cão concentre-se no figurante, e tenha um forte desejo de ir até ele.

Com o passar do tempo, assim que conseguirmos bom grau de concentração podemos começar
a fazermos despedidas mais comedidas, e progressivamente passarmos a fazer de uma maior distância
do cão, reduzindo até que ela não seja mais necessário.

Pela necessidade incessante de motivação, a despedida estará presente praticamente em todo


processo formativo, mesmo quando o cão já é capaz de encontrar o figurante sem necessidade dela, e
até mesmo quando este estiver oculto.

A despedida também deve ser utilizada para a busca de um segundo, terceiro ou quarto figu-
rante em sequência. Durante o processo de múltiplos figurantes, os mesmos irão despedir-se igual as
primeiras inserções com um figurante único, diminuindo a intensidade e aumentando a distância, até
que o cão possa buscar todos sem necessidade de despedida.

O objetivo é fazer com que o cão busque sem precisar deste ritual preparando-o para as ocor-
rências, porém com o cuidado de vez por outra voltar a despedida e recompensas intensas, no intuito
de manter a motivação e o desejo de buscar e ser premiado ao encontrar uma vítima. Essas ações irão
manter no cão a esperança de que no ambiente onde ele está trabalhando, sempre possa ter uma vítima
e fará com que ele disponha toda a sua capacidade na intenção de encontrá-la.

Premiação

Freud, discorreu sobre o prazer, como mola mestra da movimentação do psiquismo, segundo
ele, dos bebês aos idosos, todos são famintos por prazer. Vimos que precisamos motivar o cão a querer
repetir os exercícios e sabemos que assim como o ser humano, também os cães tendem a querer repetir
tudo o que lhes dá prazer. Nessa perspectiva, a premiação tem papel fundamental no processo de for-
mação do nosso cão de busca. É nesse momento em que o figurante irá recompensar o cão pela exe-
cução da conduta desejada, logo depois do bom desempenho do mesmo. Por este motivo a premiação
sempre deve ser muito positiva, atrativa e feliz, e o cão deverá sentir este momento como agradável e
prazeroso o suficiente para criar nele o desejo de repetir essa ação sempre que for estimulado.

Um bom figurante deve ser muito alegre e ativo e sempre com especial cuidado para não marcar
o cão com experiências negativas que poderão causar sensibilização ao mesmo (pisar na pata durante
a premiação...), sabendo corrigir esse problema se vier a acontecer.

Cães sentem-se muito eufóricos e estimulados quando premiados através de sons, movimentos
e toques, portanto é muito prazeroso aos mesmos que a recompensa lhe seja entregue dessa forma.
Mesmo quando o prêmio for um petisco ou uma bolinha, deve ser entregue com muita vivacidade e o
figurante deve lembrar-se sempre que o cão motiva-se com movimentos, toques e sons.

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AUTO-FIGURAÇÃO

Esse é o trabalho inicial de figuração realizado pelo condutor, cujo objetivo é mostrar ao fi-
lhote como pode ser interessante a brincadeira com humanos e principalmente com os brinquedos
que ele traz consigo.

O condutor deverá ser o primeiro figurante de seu cão, ele será o responsável por despertar
nele o desejo pela brincadeira. Inexiste uma regra para o tempo de duração e quantidade de seções
diárias, uma vez que filhotes brincam o tempo todo, porém o fundamental é que elas não sejam lon-
gas o suficiente para que o cãozinho perca a motivação, nem curtas em demasiado para que o cão
não aprenda a se tornar compulsivo por elas.

O exercício abaixo é indicado para o início dos trabalhos, porque motiva o cão a perseguir a
presa, porém é preciso tomar cuidado para que a coleira não machuque o cão.

Quando o cão estiver bem motivado pela brincadeira, poderão ser inseridos distrações, para
forçar o figurante a manter a atenção do cão, isso melhorará o trabalho do figurante e tornará o cão
mais possessivo pela brincadeira.

FIGURAÇÃO

Nessa fase, o cão troca o condutor para seu primeiro figurante, que deverá ser alguém da pró-
pria matilha, conhecido pelo cão, e este conduzirá esse trabalho por algum tempo e terá por objetivo
principal fazer com que o filhote sinta-se motivado e seguro para realizar as atividades de busca, pre-
parando-o para o trabalho a seguir que será com alguém de fora de sua matilha e, sucessivamente para
outros figurantes diversos, o que chamamos de universalização dos figurantes.

Também é importante dizer que a esta altura o cão já está bastante propenso ao impulso lúdico
e ao seu instinto de presa, também para reclamar (latir) para ganhar seu brinquedo.

É importante destacar que o sucesso do trabalho do cão se dá nesta etapa e em conjunto com o
que fez o primeiro figurante (seu condutor); qualquer erro poderá ser causa de retrocesso.

É um passo grande para o filhote, por isso é fundamental que o figurante esteja preparado e
conheça bem o perfil e o comportamento do mesmo.

a) Trabalho Ancorado

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Esse exercício é importante para ensinar o cão a latir e despertar o seu interesse pela brincadeira.

O trabalho ancorado se realiza em um ponto fixo, que pode ser um arbusto uma estaca ou o
próprio condutor e o cão deverá ficar preso com um peitoral á uma guia ou pedaço de corda resistente.

Com o cão fixo (não podendo ser com enforcador pois o mesmo proporciona estimulo negativo
pela falta de ar e dor) o figurante de posse de um pano, move-o como um bichinho emitindo um gru-
nhido de maneira que chame atenção do cão.

A corda é fundamental nesta fase, pois é a extensão do braço do figurante e permitirá mover a
presa sem que ele esteja muito perto do cão, desta forma o cão não se sentirá pressionado pela proxi-
midade do figurante, nem se sentirá atraído a brincar de forma direta com o mesmo, mantendo o foco
no brinquedo e a uma distância que permita esse desenvolvimento. Esse exercício aumenta o evolução
do instinto de caça e dá confiança ao animal sendo que a distância crítica é a distância mínima reque-
rida para que o cão sinta-se seguro e não foque no figurante.

O objetivo fundamental para se manter o cão ancorado nessa fase inicial é garantir que o mesmo
mantenha integralmente o foco na brincadeira, pois a imensa curiosidade dos filhotes poderá distrair o
mesmo ou fazer com que ele encontre algo mais atrativo nos arredores desviando-se do condiciona-
mento.

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Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

b) Trabalho Livre

Quando o cão já estiver está reclamando pelo brinquedo com latidos sólidos e também focado
integralmente nos trabalhos, é hora de avançar o exercício para que o cão sinta o trabalho livre, sendo
fundamental frisar que ele precisa estar maduro para não distrair-se ou ir em busca de algo mais atra-
tivo.

O condutor segura o cão e o figurante deve fazer uma entusiasmada despedida e deslocar-se a
aproximadamente 10 m. nas primeiras inserções, e gradativamente afastar-se-á a distâncias maiores,
até que aos poucos alcance uma distância superior a 30-40 metros, objetivando desenvolver o imprin-
ting para buscas rurais.

O condutor esperará que o cão foque ou comece a reclamar pelo brinquedo para soltá-lo dando
uma ordem de BUSCA, e assim que o cão chegar ao figurante nas primeiras seções este o premiará
com entusiasmo, cobrando latidos nas próximas, criando no cão jovem o desejo de repetir essa expe-
riência.

Com a evolução do Binômio no exercício, deverá ser cobrado paulatinamente cada vez mais
foco do cão, bem como quantidade e intensidade de latidos.

c) Caixas de indicação e figurante oculto

O produto final do trabalho de condicionamento de um cão de busca é fazê-lo usar unicamente seu
potencial olfativo para localizar a vítima, sendo que para isso o cão precisa ser condicionado aos poucos a
fazer a indicação sem o uso de sua visão.

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Uma estratégia que nos ajuda a possibilitar isso, é o uso de caixas de indicação que gradualmente
deverão ir escondendo o figurante, até que ele esteja totalmente fora da visão do cão.

Estas caixas deverão ser confeccionadas dos mais variados materiais como madeira, isopor,
plástico, restos de móveis, papelão, metal, concreto e toda a gama de meio de fortuna disponível no
local dos treinamentos até mesmo de forma improvisada, pois os treinamentos multifacetados é que
fará com que o cão tenha seu potencial ampliado.

O objetivo geral das caixas é esconder o figurante da vista do cão e mesmo assim permitir que
o mesmo possa premiar com segurança as indicações perfeitas. A vantagem das caixas em comparação
aos esconderijos fixos, é que essas podem ser transportadas e mudadas de posição, enquanto que os
esconderijos fixos acabam por permitir que com o tempo o cão grave a sua localização, o que não
acrescenta nada na formação do mesmo.

O figurante promove a “despedida”, depois foge da visão do cão colocando-se dentro da


caixa, para que o cão possa latir sem ter a visão completa do figurante.

Nas fases iniciais a caixa deverá permanecer em um local aberto, sendo esta o único obstá-
culo entre o figurante e o cão, isso permitirá que ele ganhe confiança e também que o condutor avalie
os resultados e a evolução do seu treinamento. Conforme o cão vai evoluindo com segurança outros
obstáculos podem ser introduzidos e no final do treinamento deverão ser colocados 3 ou 4 caixas no
mesmo cenário e o figurante deverá revezar sua posição entre as caixas, inicialmente o cão vai procurar
usando a visão, costumeiramente eles rebuscam entre as caixas, com o tempo eles aprendem que o
olfato lhes fornece uma opção mais segura e mais rápida de apontar a posição da vítima.

Evolução do treinamento

a) Caixa aberta

Inicialmente a caixa deve permanecer aberta para que o cão veja o figurante adentrando
nela colocando-se imóvel em seu interior.

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b) Caixa semifechada

Nas primeiras inserções o cão poderá relutar em latir para uma vítima que não se apre-
senta totalmente visível. Talvez vá querer entrar na caixa e com o tempo essa atitude precisa ser cor-
rigida, fazendo com que ele lata sem necessitar entrar, sendo que para isso o figurante deverá cuida-
dosamente empurrá-lo para fora da caixa e esperar que inicie o latido. Depois de evoluir nessa fase, a
caixa deverá ser fechada, permitindo que o cão possa ver a vítima apenas através de algumas frestas,
sendo que nessa fase ainda será uma única caixa.

c) Caixa fechada
O terceiro passo é fechar completamente a caixa, fazendo com que o cão tenha sua visão
anulada e precise ter a certeza da localização da vítima através do olfato. A evolução para essa fase se dá
quando cão começar a dar indícios de que está utilizando o olfato para certificar-se da posição da vítima.
Inicialmente ele tende a querer entrar na caixa, tentar abrir e buscar o contato visual com o figurante,
porém com o tempo ele passará a ter a certeza (através do olfato) de que o figurante encontra-se dentro da
mesma, latindo cada vez mais rápido ao chegar na caixa em que o figurante se encontra.

Espera-se que um bom cão de trabalho, ao evoluir em seu treinamento comece a latir cada vez
mais rápido e também cada vez usando menos a visão, quando chegar nesse estágio a caixa deve ser
fechada, porém deverá ainda possuir alguns buracos permitindo a saída do odor do figurante.

d) Caixas múltiplas
A fase final do treinamento em campo aberto consiste em confundir ainda mais o cão,
colocando no mesmo espaço 3 ou 4 caixas e a cada treinamento a posição do figurante dentro das caixas
deve ser trocada.

Naturalmente o cão tende a voltar para a última caixa onde encontrou a vítima, mas com o
tempo de treinamento ele aprende a procurar nelas, e com o auxílio do olfato certificar-se da localização do
figurante.

Esse treinamento introduz o cão nas técnicas da busca, com isso vai se mostrando para à ele
que vítima poderá estar em várias possibilidades de localização

Nessa fase é possível colocar mais obstáculos, levar o cão para outros locais, começar a
esconder as caixas, lembrando sempre que ainda é uma fase intermediária, sempre com premiação no final
e se por acaso o cão mostrar insegurança, deverá ser retrocedida uma fase ou evitar a sua evolução, pois ele
precisa sair dessa fase seguro de que a vítima está ali e ele deverá encontrá-la.

UNIVERSALIZAÇÃO DO FIGURANTE

a) Estrela K-SAR

A estrela K-SAR, é uma técnica desenvolvida na Colômbia, que visa introduzir o cão à brincadeira, ou
treinamento, com diversos figurantes, ou seja: universalização dos figurantes.

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Um bom Binômio deverá ser capaz de encontrar vítimas em qualquer número e em qualquer lugar.
Encontraremos situações de busca em que teremos cenários com múltiplas vítimas, por isso devemos ensinar
ao nosso cão que o trabalho não termina com o encontro de uma vítima, ele precisa continuar buscando até
que não exista mais ninguém à ser encontrado em uma determinada área.

Depois de ter sua conduta reforçada, e os condicionamentos apurados nosso cão passa a aprender que
esses comportamentos podem ser executados com qualquer pessoa a qualquer momento.

Esse é um processo importante para o cão, que precisa ser bem reforçado e ele só deve avançar
na aprendizagem quando tiver um comportamento muito bom nos exercícios.

De forma resumida os objetivos dessa técnica é universalizar o figurante, condicionar o cão


para a possível existência de múltiplas vítimas e por fim condicioná-lo que o mais importante do que
o brinquedo é a brincadeira e ela pode acontecer com qualquer ser humano.

b) Múltiplos figurantes

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O objetivo de todo cão de busca é poder desempenhar suas atividades de encontrar qualquer ser
humano em qualquer circunstância sem hesitar, e para que isso ocorra é fundamental introduzir nos
treinamentos, buscas que envolvam diferentes e variados figurantes na mesma busca.

O processo é muito semelhante ao processo inicial quando ainda trabalhamos com um único
figurante, ou seja, nas primeiras inserções dois figurantes participam da despedida e o cão é lançado na busca,
sendo relançado de um a outro após encontrar o primeiro.

Após o cão aprender que a busca não acaba é como se houvessem muitas buscas na sequência,
executada na fase certa é muito fácil para o cão aprender isso.

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LIÇÃO 06 – Obediência e destreza

Instrutor: TC BM Walter Parizotto e Sgt BM Evandro de Amorim

Objetivos

Ao final dessa lição os participantes deverão ser capazes de:

- Conhecer os principais exercícios de obediência destinado a atividade de resgate

INTRODUÇÃO

Para que o cão se adapte com maior eficiência e facilidade à vida de trabalho e, desastres é
necessária e fundamental uma boa educação deste cão.
Esta educação é possível, através de um adestramento racional e eficiente visando um melhor
aproveitamento das qualidades do animal, ele faz parte de uma equipe de intervenção, não é um fim
em si mesmo, logo, deve fazer aquilo que foi estabelecido nos planos de segurança ou nos planos de
operação.
O trabalho de socialização para um cão de busca visa preparar o mesmo para as ações de
busca e resgate e também para a convivência com o condutor, com os demais cães envolvidos numa
operação e com todas as demais pessoas.

A construção da obediência no cão, deve ser a melhor parte do processo de formação do cão,
a mais alegre, a mais motivadora, justamente porque nesse processo o cão e seu condutor estarão
com maior contato entre si.

Obediência é um trabalho lento, construído a base de repetidas ações e muito treino, inexiste
fórmula mágica, que

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Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

A socialização deve se dar dentro de cada fase de desenvolvimento psicológico do cão que
basicamente se dá em 8 períodos, um cão de resgate, não precisa necessariamente ter um grande
compêndio de truques, precisa sim de comandos básicos que melhore seu desempenho em trabalhos
de resgate, que visam a segurança, a direcionabilidade e o controle do cão pelo seu conduto.

Os principais comandos e ações para controle do cão são:

JUNTO, SENTA, FICA, DEITA e AQUI.

Os exercícios visam condicionar o cão para o trabalho e para a convivência com outros grupos,
outros cães e ambientes diferentes. O objetivo principal de condicionar o cão para que seja obediente a
certos comandos é para que o mesmo possa ter um desempenho melhor, mais seguro nas operações.

Nas operações Urbanas principalmente o cão deve ser conduzido a distancia, na maioria dos casos o
condutor não pode acessar o cenário da ocorrência e nem sempre o cão poderá trabalhar livremente guiado
apenas pelos seus instintos, ele deverá ser conduzido para aqueles quadrantes em condições de se
desenvolver a operação.

Os exercícios abaixo foram baseados no regulamento da Organização Internacional de Cães de


Resgate – IRO e representam os principais exercícios que irão condicionar e preparar um cão para operações
reais. Normalmente eles iniciam em pistas e posteriormente são transferidos para os locais de trabalho.

a) Controle em grupo, o cão precisa ter um bom foco no seu condutor sendo capaz de manter-se
concentrado mesmo com alto nível de distração.

b) Junto sem guia, o cão não precisa ficar todo o tempo preso pela guia, pode sentir-se livre, desde
que consiga obedecer.

c) Fica de pé com chamado, deve ser capaz de cessar movimentos quando ordenado, essa é para
sua segurança,

d) Enviar a frente e deita e direcionamento a distancia (esquerda, direita e em frente) a


direcionabilidade é fundamental para operações de busca urbana, quando não se pode acessar a área.

e) Prancha instável, Gangorra, Túnel e Escada horizontal e semi-inclinada, exercícios fundamentais


para atuação em escombros.

O importante nesse trabalho é entender que o objetivo principal é preparar o cão para situações
reais, se ele se condicionar a superar obstáculos antecipadamente, terá um desempenho muito melhor nas
ocorrências reais.

A obediência precisa fundamentalmente adequar o cão ao padrão de trabalho da equipe em que ele
se integra, por exemplo algumas equipes de atuação em busca e resgate em estruturas colapsadas entram
nos escombros e andam sobre os mesmos e outros não acessam sem a finalização das buscas, em cada caso
o tratamento da direcionabilidade deve ser diferente.

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LIÇÃO 07
PRINCÍPIOS DE BUSCA URBANA

a) Objetivos

Ao final dessa lição os participantes deverão ser capazes de:

- Conhecer os princípios de busca urbana

- Descrever as variações ambientais nas buscas urbanas

BUSCA URBANA

Nos colapsos estruturais de edificações, apesar de toda a tecnologia já desenvolvida os cães


ainda trazem um benefício significativo. Quando bem treinados, ainda podem apresentar um
desempenho melhor do qualquer equipamento já desenvolvido, porque a maioria dos equipamentos
são baseados na ampliação de gemidos e pequenos sussurros das vítimas soterradas, enquanto os cães
podem localizar a presença do sangue humano entre os escombros.
Desabamentos de edifícios no Brasil tem sido, freqüente, muitos deles com presença de vítimas.
Nessas ocorrências o desempenho dos cães tem sido mundialmente reconhecido.
Destacam-se os seguintes fatos no Brasil: Praia do Gonzaga (1989) Volta Redonda (1991)
Osasco Plaza Shopping (1996) Edifício Itália (9197) Palace II (1998) Igreja Universal do Reino de
Deus (1998) Edifício Érika (1999) Enseada do Serrambi (1999), Aquarela (19) Ijui (2001), Hotel
Rosário (2002) Areia Branca (2004) Casarão Recife (2005), Edifício dos Correios em Içara (2005),
Edifício Real em Belém (2011) Edifício Liberdade (2012), Edificio em construção em São
Paulo(2013).

As indicações de vítimas em ambientes urbanos não são simples e nem sempre os cenários são
os mesmos, estes mudam dependendo das variáveis que os configuram (tipo e posição dos escombros,
possibilidade de acesso aos mesmos, temperatura ambiental, presença ou ausência de correntes de
vento, etc.).
Pelo que foi descrito anteriormente, pode-se concluir que não basta cinotécnico dominar
unicamente os conhecimentos e a prática do adestramento canino específico; também deve possuir
competência técnica e operativa para reconhecer que tipo de condições irá encontrar e em conseqüência
disso possa planificar e executar a melhor forma de intervenção para localização de pessoas em
colapsos estruturais.
Entre os conhecimentos que o Cinotécnico urbano deve possuir, estão conceitos fundamentais
de estruturas e Patologia da Construção, que servirão tanto para observar as condições de segurança

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estrutural e não estrutural para o ingresso, a circulação e o trabalho nos escombros, como para
visualizar o provável comportamento e as rotas de saída das partículas de odor que afloram na
superfície, pois o odor se comporta diferente em decorrência desses fatores.

Tipos de busca urbana

O principio da busca é o mesmo para áreas rurais ou urbanas para todos os cães, o que difere é
o cenário. Nos ambientes urbanos brasileiros, normalmente o que se apresenta são dois tipos de
cenários, escombros estruturais e deslizamentos de terra e lama.

b) Busca em escombros

Os escombros são locais onde houve colapso da estrutura de uma ou mais edificações,
normalmente edificações que acabam caindo sobre o próprio eixo, caracterizado por material sólido
compactado.
A forma de participação das equipes de busca com cães nas operações podem se dar de 3
formas:

- Indicações diretas: Quando as Equipes de busca com cãesa pontam exatamente em que
ponto devem ser penetrados os escombros ou a posição correta da vítima.

- Indicações indiretas: Quando as equipes não chegam até a vítima, mas indicam
acertadamente a direção ou área que serve como orientação para a busca.

- Eliminação de zona: Quando as equipes indicam que não há vítimas na zona de busca, o
que libera recursos para serem usados em outros setores.

Princípios da busca em escombros

O cão indicará a presença de uma pessoa, de 3 formas, se a ver, se a ouvir ou se sentir o odor
emanado pela mesma, o que é mais comum. Mas para que isso ocorra partículas de odor precisam
chegar até o mesmo. Esse odor precisa vencer a barreira criado pelos destroços e chegar no meio
externo e isso se dá através do túnel de odor, que é o espaço percorrido pelas partículas de odor no
meio dos obstáculos para chegar até a superfície ou um local onde possa ser detectado.

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O efeito de chaminé é outro um fenômeno muito importante nas buscas urbanas, consiste no
“entubamento do odor" até chegar na superfície. Pode-se dar através de condutos ascendentes mais ou
menos regulares, que causam o mesmo efeito que exerce uma chaminé comum sobre a fumaça e os
vapores quentes que evacua.
Estas saídas ascendentes podem ser muros, esquinas, condutos, tubulações e ainda, espaços que
proporcionam uma saída até chegar na superfície mais ou menos livre de obstáculos. É claro que o
efeito se acentua quando a temperatura ambiental aumenta.
Por isso é importante que o condutor saiba reconhecer onde pode haver efeitos de chaminé nos
escombros nos quais o cão trabalha, para que seja capaz de orientar eficazmente os deslocamentos do
animal aproveitando a situação.

Dois fatores interferem no efeito chaminé e consequentemente no trabalho de busca:

- Ambientais (vento, chuva, horário, temperatura);


- Disposição dos escombros;

Abaixo vamos descrever algumas situações que podem ocorrer e o tipo de comportamento
das partículas de odores leve e pesada.

Dia X Noite

Em uma situação normal de sepultamento as partículas de odor leves ou pesadas, se comportam


da seguinte forma, as partículas leves tendem a subir, enquanto as pesadas normalmente permanecem
no entorno imediato da pessoa, no chão.
Como nos sepultamentos existe a barreira dos obstáculos, as partículas pesadas tendem a ficar
embaixo dos escombros, porque lhes é difícil sair de baixo dos mesmos. As partículas leves ascendem,
buscando fendas entre os escombros até chegar à superfície. Sem a influencia do vento, sua ascensão
é predominantemente vertical, assim que seu ponto de saída e indicação por o cão se encontra quase
exatamente encima da pessoa enterrada embaixo dos escombros.

No entanto, se está a busca sendo realizada à noite, em que a temperatura ambiental cai e por
isso varia o comportamento das partículas de odor. Com o frio se reduz o deslocamento das partículas:
as leves já não sobem tanto como durante o dia, assim como a possibilidade de afloramento sobre os
escombros e sua consequentemente detecção e indicação pelo cão sobre os escombros diminuem.
Inclusive é provável que busquem saídas laterais.
As partículas pesadas também reduzem seu deslocamento, que não avança muito mais que o
local de soterramento da pessoa. Ainda que ambas possam realizar afloramentos laterais dos
escombros, é mais viável que as leves o consigam.
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Influencia do vento e presença de barreira

Quando existe a possibilidade de entrada de vento nos escombros este pode afetar no
direcionamento das partículas, elas tendem a sair pelos vãos e fixarem-se em uma barreira física. As
partículas que se fixarem nessa barreira, podem ser detectadas pelo cão e indicadas ali, numa posição
diferente do sepultamento da vítima. Ao ignorar o efeito aqui descrito, esse indicação talvez seja
interpretado como um erro. Nessa circunstância convém revisar se a direção do vento coincide com a
barreira, e especialmente, se a fonte de odor poderia estar em algum ponto entre a origem do vento e a
barreira vertical; de igual modo, uma constante no ingresso de toda as equipes de busca urbana é a de
acessar o cenário na área de busca contra a direção do vento. Com estas precauções se reduz
significativamente a margem de erro.

Barreiras horizontais

Esta situação é bastante comum, às vezes os elementos que cobrem a pessoa soterrada carecem
de fendas que permitam a saída das partículas de odor para cima (como por exemplo uma prancha de
concreto mais ou menos íntegra) o que obriga às partículas a buscarem uma rota de saída lateral, até
encontrar grotas e outras vias de saída. Essas vias alternativas podem estar a vários metros em sentido
lateral da pessoa soterrada, onde por fim afloram, são detectadas e assinaladas.

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Pistas de Treinamento

O cão evolui em seu treinamento absorvendo por completo os ensinamentos que lhe são
passados, esse treinamento precisa evoluir segundo uma lógica e na velocidade de aprendizado do cão.

Após absorver com clareza de que é preciso latir para obter uma brincadeira, após ter a
consciência de que um figurante pode ser universalizado, ou seja, qualquer ser humano pode ser uma
vítima, o cão deixa de ter contato com a vítima apenas através da visão, passasse a colocar uma barreira
entre o cão e seu figurante.

Caixas de indicação

Uma das técnicas mais aceitas de treinar o cão para os desastres urbanos, consiste no uso das
caixas de indicação. Embora leve o termo genérico caixa, esse artifício precisa ser construído dos
mais diversos materiais.

O objetivo geral das caixas é esconder o figurante da vista do cão e mesmo assim permitir que
o mesmo possa premiar com segurança as indicações perfeitas, a vantagem das caixas para os
esconderijos fixos é que essas podem ser transportadas e quanto aos esconderijos fixos, com o tempo
o cão grava a sua posição e isso não acrescenta nada na formação do cão. As caixas poderão ser de
diversas formas, madeira, cimento, plástico ou metal.

É extremamente importante que a caixa de indicação seja de diversas formas, de madeira, metal
papel, construída ou improvisada, pois os treinamentos multifacetados é que farão com que o cão
tenha seu potencial ampliado.

A caixa tem um valor extremado no início da formação do cão, no entanto um treinamento não
poderá ser baseado somente na mesma, com o tempo e com a evolução do cão o mesmo deverá ser
apresentado a novos cenários e novos materiais.

O figurante provoca e excita o cão com o brinquedo, depois foge da sua visão colocando-
se dentro de uma caixa, para que o cão possa latir sem ter a visão completa do figurante.

Nas fases iniciais a caixa devera permanecer em um local aberto, sendo esta o único
obstáculo entre o figurante e o cão, isso permitirá que o cão ganhe confiança e também permitirá que
o condutor avalie os resultados do cão e a evolução do seu treinamento, conforme o cão vai evoluindo
com segurança outros obstáculos podem serem introduzidos e no final do treinamento deverão ser
colocados 3 ou 4 caixas no mesmo cenário e o figurante deverá revezar a posição da vitima entre as
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caixas, inicialmente o cão vai procurar usando a visão, costumeiramente eles rebuscam entre as caixas,
com o tempo eles aprendem que o olfato, lhes fornece uma opção mais segura e mais rápida de apontar
a posição da vítima.

Evolução do treinamento

a) Caixa aberta

Inicialmente a caixa deve permanecer aberta para que o cão veja o figurante adentrando
nela e colocando-se imóvel em seu interior.

b) Caixa semi-fechada

Inicialmente o cão poderá confundir-se em latir para uma vítima que não se apresenta
totalmente, vai quere entrar em seu interior, com o tempo essa atitude precisa ser corrigida, fazendo
com que o cão lata sem querer entrar na caixa, para isso o figurante deverá empurrá-lo. Depois de
evoluir nessa fase a caixa deverá ser fechada, permitindo que o cão possa ver partes pequenas da
vítima, nesse momento ainda é uma caixa apenas.

c) Caixa fechada

O terceiro passo é fechar completamente a caixa, fazendo com que o cão anule a visão e
tenham que ter a certeza da posição da vitima através do olfato. A evolução para essa fase se dá
quando cão começar a dar indícios de que está usando mais o olfato do que a visão para certificar-se
da posição da vitima. Inicialmente ele tende a entrar na caixa, tentar abrir e buscar o contato visual
com o figurante, com o tempo ele passa a ter a certeza de que o figurante encontra-se dentro da
mesma, espera-se que um bom cão de trabalho ao evoluir em seu treinamento comece a latir cada vez
mais rápido e também cada vez usando menos a visão, quando chegar nesse estágio a caixa deve ser
fechada, porém deve possuir alguns buracos permitindo a saída do odor do figurante.

d) Caixas múltiplas

A fase final do treinamento em campo aberto consiste em confundir ainda mais o cão,
colocando no mesmo espaço 3 ou 4 caixas. A cada treinamento a posição do figurante dentro das
caixas deve ser trocada.
Naturalmente o cão tende a voltar para a ultima caixa onde encontrou a vitima, mas
com o tempo e treinamento tende a rebuscar nelas, e com o auxilio do olfato certificar-se da sua
posição.
Esse treinamento introduz o cão nas técnicas da busca, com isso vai se mostrando para
o cão que varias são as posições da vitima.
Nessa fase é possível colocar mais obstáculos, levar o cão para outros locais, começar
a esconder as caixas, lembrando sempre que ainda é uma fase intermediária, sempre com premiação
no final e sempre que o cão mostrar insegurança deverá ser retrocedida uma fase ou evitar a sua
evolução, pois o cão precisa sair dessa fase seguro de que a vítima está “por aí” e ele pode encontrá-
la.

Trabalho nos escombros

Após o cão ter sinalizado bem nas caixas, é hora de introduzir o trabalho de escombros,
lembrando que o primeiro contato do cão com escombro deve ser para socialização.

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Um cenário real será uma tentação para os cães, existem muitos odores, muitas situações
novas, por isso o cão precisa estar seguro nessas situações. A introdução aos escombros precisa ser
alegre e fazer com que o cão possa sanar a sua curiosidade e com o tempo ir substituindo a mesma
pelo desejo de trabalhar, antes de iniciar os treinamentos nos escombros, os cães precisam estar
ambientados, o que deve ocorrer desde a mais tenra idade.

O figurante faz a despedida ativamente, e entra na pista de escombro, antes de tomar posição
chama a atenção do cão, lembrando que as primeiras passadas deve se fácil para criar confiança do
mesmo, dificultando o exercício de acordo com a evolução do cão.

Após o cão estar buscando e sinalizando uma vitima nos escombros, começamos a dificultar
esta busca colocando mais de um figurante, no inicio dois, depois três e assim por diante, o ideal é
quem um cão possa buscar até 5 vítimas.

No começo os dois figurantes fazem a despedida e saem em direção aos escombros,


aproximadamente depois que eles se afastem dois metros, o condutor tapa a visão do cão para que o
mesmo não veja onde os figurantes se esconderam, ficando o primeiro figurante a mostra, e o segundo
semi escondido. Dificultando de acordo com a evolução do cão, e assim que sinalizado o figurante
apenas entrega o premio, deixando que melhor prêmio seja dado pelo ultimo figurante a ser localizado.
Sempre que possível variando o local de treinamento para que o cão não memorize o local de treino.

Resultados esperados

Os cães precisam trabalhar em sintonia com as equipes de resgate e na velocidade das


mesmas. O que se espera de uma equipe de busca e de seus cães que quando operativos e prontos ele
possa ter o seguinte desempenho:

a) Buscar por um período de 20 minutos de foram contínua.

b) Fazer indicações seguras em uma área de até 1200 m2, no mesmo período acima.

Embora as equipes de resgate atuem em um nível por mês o ideal é que os cães estejam
habituados a buscar em 3 pavimentos em cada operação de busca.

c) Buscar vítimas em três níveis, na superfície, abaixo da superfície ou acima da superfície.

Algumas observações importantes durante o treinamento

a) quanto mais temporã for a introdução do cão no ambiente, melhor será o desempenho
final;
a) O cão deve buscar nos três níveis, no solo, no alto e abaixo dele,
b) Eliminar o medo do cão.
c) O cão precisa sempre trabalhar onde o condutor o guiar, condicione-o ao direcionamento.

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LIÇÃO 08

BUSCA EM DESLIZAMENTOS

Objetivos

Ao final dessa lição os participantes deverão ser capazes de:

- Conhecer os princípios de busca em áreas deslizadas

Busca em áreas deslizadas

As contínuas mudanças ambientais do planeta globalizaram também os desastres. O Brasil, embora,


isento de terremotos catastróficos, furacões e avalanches, passa a conviver de maneira gradual, outro tipo de
fenômeno de grande magnitude, o mais mortal de todos os desastres em território brasileiro que são os
deslizamentos.

Os eventos naturais extremos, em novembro de 2008 no estado de Santa Catarina, no início de 2010
e 2013 no Rio de Janeiro, tornam evidente que, as equipes de primeira resposta terão muito a aprender em
suas formas de intervir nessas situações.

Os deslizamentos, uma forma de movimento gravitacional de massa, movimentam grande quantidade


e variedade de detritos gerados normalmente, pela ação da gravidade em encostas íngremes e associados na
maioria dos casos, a períodos de chuvas intensas.

O desafio das equipes de resgate é localizar a posição das vítimas desses fenômenos que normalmente
encontram-se soterrados. Os cães são extremamente úteis e funcionalmente eficazes quando a posição das
vítimas está fora do alcance visual e da audição dos humanos.

Como o principal sentido a ser utilizado pelos caninos é o olfato e o tempo de utilização dos mesmos
costuma ser pequeno, considerando que nesses locais o odor da vítima que sai para o ambiente externo
costuma ser muito pequeno, antes de lançar o cão na cena do desastre é preciso algumas medidas
preliminares, que visam diminuir a área de busca ao menor quadrante possível descartando áreas e facilitando
a chegada do odor ao meio externo, assim, depois da analise da situação e do possível descarte das áreas, é
preciso fazer pequenas aberturas no solo para que o cheiro possa sair até o meio externo.

O ideal é que sejam feitos buracos com uma estaca metálica a cada 30 cm pelo menos, porque é
comum a massa fluída fechar novamente o buraco.
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Figura - Aberturas de cone de odor antecedendo uma busca canina

Condicionamento fase a fase

A preparação de uma cão para os trabalhos de buscas em áreas deslizadas segue o padrão de
formação dividida em 11 fases. Excluindo as ações que são comuns a todas as especialidades, a formação de
cães para busca, salvamento e resgate em áreas deslizadas é construída fase a fase, conforme esquema
descrito para a busca de restos mortais.

É importante motivar o cão a cavar, isso fará com as partículas de odor se concentrem mais dando
uma ênfase maior nas indicações.

Outro ponto importante é que as aberturas sejam feitas poucos minutos antes do cão seja solto
no ambiente, porque os espaços tendem a se fechar rapidamente e dissipar o odor.
Quando a área for muito grande, é importante dividir a área em pequenos quadrantes de 100
m2 para que toda a área seja vasculhada de forma segura.

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Durante o processo busca e resgate de vitimas de deslizamentos, um dos cuidados principais das
equipes de resgate é não se tornar vítima da intervenção que está sendo executada.
Diante disso algumas considerações fundamentais devem ser observadas:

A área de intervenção deverá ser a menor possível para não desestabilizar a massa deslizada, princi-
palmente nos deslizamentos represados e em ângulo de equilíbrio. Como orientação prática como regra geral
a área de intervenção deve ser de 10 X 10 metros.

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LIÇÃO 09

PRINCÍPIOS DE BUSCA RURAL

Objetivos

Ao final dessa lição os participantes deverão ser capazes de:

- Conhecer os princípios de busca rural.

- Descrever os princípios de condicionamento.

- Busca em área rural

A busca de pessoas perdidas em matas, montanhas ou campos abertos é sem dúvida a atividade em que
há o maior número de cães empregados no mundo atualmente. Essa atividade usa as características
primitivas do cão em seguir a pista deixada por sua caça. Os cães tendem a adaptar-se com facilidade ao
meio rural porque ainda lhes resta uma grande herança dos seus ancestrais, de forma que a maioria dos
ambientes lhes é muito familiar, por isso mesmo um grande desafio é fazer com o que o cão deixe sua
curiosidade de lado e prenda-se ao trabalho.

Existem duas técnicas utilizadas nessas situações, venteio e rastreio.

Na segunda o cão segue a trilha por onde o desaparecido passou e segue a trilha deixada pelo mesmo
através das alterações do Ph do solo, das células deixadas sobre a vegetação dentre outros fatores, para que
isso seja possível é necessário condicionar o cão a selecionar um odor especifico e seguir a trilha deixada pelo
mesmo, para isso se utiliza normalmente peças de roupas da vítima. Essa técnica é mais utilizada pelos cães
policiais e de forma secundária nas atividades de Bombeiro, inicialmente porque a violação das áreas e a
contaminação da possível pista com outros odores é comum, e segundo porque a grande dificuldade repousa
em encontrar a pista a ser seguida sem a qual a técnica não tem efeito.

As buscas rurais com base na técnica de venteio é a mais comumente utilizada, a qual mais se
adapta ao funcionamento das equipes humanas de busca. Com ela um cão busca odores de seres humanos
em determinada área, normalmente o cão é condicionado a buscar 50 metros lateralmente a seu condutor,
de um lado e de outro. Uma vez localizado o cone de odor deixado pela vítima, o cão seguirá até a mesma.
Algumas experiências feitas pelo Corpo de Bombeiros de Xanxerê mostraram que em uma área de 8 mil

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metros quadrados, um cão levou em média 2,3 minutos para localizar uma vítima, enquanto um ser humano
demora em média 20 minutos

A busca orientada pelo condutor garantirá que não fiquem espaços vazios na área e com isso
dificultará que uma possível vítima seja deixada para trás na área de busca.

Figura – Esquema de busca rural praticado por um cão condicionado.

As vantagens de se utilizar cães em busca rural:

I - Os cães são mais eficientes que as equipes humanas, principalmente se a vítima estiver
inconsciente ou em um local de difícil visibilidade, como fossos, poços cânions e etc.

II - Demanda um número menor de efetivo desprendido nas operações;

III - Permite a varredura de uma área maior no menor espaço de tempo;

IV - Pode ser utilizado a noite, quando o risco para as equipes humanas é elevado.

Conceitos fundamentais:

Antes de iniciarmos os processos de condicionamento de cães para a busca de pessoas em ambiente


rural é fundamental entender como funciona o mecanismo de liberação de odor pelo ser humano e da
captação destas pelos cães.

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1.1 Processos de liberação e captação de odor

O ser humano perde em torno de 150.000 células mortas por hora, essas partículas vão se
depositando nos objetos, nas árvores, no solo ou são levadas pelo vento, dessa forma um fator
extremamente importante quando se busca uma pessoa perdida em área rural, é a influência do vento na
dispersão do odor.

As partículas de odor formam um cone a partir da vítima e vão se fixando ao longo do caminho,
moldado pela direção que o vento lhe atribui;

O cone de odor é mais concentrado próximo a vítima e espalha-se ao se distanciar da mesma.

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Nas operações de busca rural com cães. Antes de o cão adentrar na pista definitivamente, alguns cuidados
precisam ser tomados:

- Evitar ao máximo a violação dos espaços;

- Juntar o máximo de informações antes do início das operações

- Concentrar nas etapas mais difíceis, excluir o óbvio;

- Intercalar busca física e busca canina;

- Observar os acidentes do terreno e a influência do mesmo na dispersão do cone de odor.

O condutor deverá prestar atenção e interpretar corretamente o trabalho do seu cão dentro do túnel
de odor, um bom cão de trabalho, em tese, ocorrerá em uma das variações do desenho abaixo:

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Condicionamento fase a fase

A preparação de um cão para os trabalhos de buscas em áreas rurais segue o padrão de formação
dividida em 11 fases. Excluindo as ações que são comuns a todas as especialidades, a formação de cães para
busca, salvamento e resgate em áreas rurais é construída fase a fase, conforme esquema descrito abaixo.

2. Condicionamento

Os cães adaptam-se muito bem ao ambiente rural, por isso mesmo, é que o treinamento para busca
rural deve iniciar depois da busca urbana, pois os cães tendem a sentir mais prazer a correr pela mata do que
correr pelos escombros.

O princípio é muito simples, uma pessoa se esconde e o cão precisa indicar a sua posição usando
apenas o seu olfato para localizá-la, nos diversos treinamentos ao longo da formação do cão é preciso ir
compondo as dificuldades que o cão irá encontrar ao longo do tempo, como rios, diferentes tipos de matas.
Resumidamente, com o passar do tempo agrega-se dificuldades no treinamento original.

Antes da introdução propriamente dita da busca no meio rural é preciso que o filhote seja
familiarizado com o meio, pois ele precisa trabalhar vencendo as tentações da curiosidade.

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Filhotes precisam estar familiarizados com os diferentes tipos de vegetação através da qual irão atravessar
em missões de buscas. Inicialmente é preciso começar com vegetação leve e gradualmente para arbustos
pesados e matas mais densas.

Deve-se estimular o filhote a dar pequenos saltos, rios, pedras e arbustos mais densos. Caso o filhote
brinca com uma bola ou qualquer brinquedo, este objeto pode ser utilizado para encorajá-lo a entrar em
pequenas pilhas de arbustos.

As fases do condicionamento do cão para introduzi-lo nas buscas em áreas rurais envolvem os seguintes
aspectos:

- Familiarização com os ambientes;

- Aprender a busca sem distração;

- Buscar uma vítima a 20-30 metros em linha reta;

- Buscar lateralmente;

- Buscar com direcionamento 50 metros lateralmente e pelo menos 300 metros em frente.

2.1 Condicionamento esperado

O que se espera de um cão pronto é que, de forma segura permita que o condutor opere em uma
linha central e o mesmo busque indícios de odores da vítima em uma linha de pelo menos 100 metros para
cada lado da linha do condutor.

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Pistas de trabalho

O método de treinamento que estamos descrevendo é baseado na técnica de localização da vítima


pelo método de venteio, na qual o cão busca as partículas de odor no ar.

Nessas circunstâncias é preciso treinar o cão para que ele siga com precisão o cone de odor, pois por
vezes ele poderá ficar inseguro, pois a distribuição espacial dos odores se dá de forma desigual e sofre a
influência de vários fatores como o vento e a distribuição da vegetação.

O cão vai agir com mais segurança se puder utilizar mais de um sentido no treinamento.

A partir de 30-40 metros os cães não tem uma visão clara, por isso, a partir desse ponto eles não vão
se tornar dependentes de um único sentido nas atividades de busca.

Após os trabalhos na Estrela K-SAR, quando o cão já estiver familiarizado com a existência de um
figurante oculto, inicia-se o trabalho de busca em mata, onde o figurante faz a despedida, corre de 30 a 40
metros e antes de abaixar mostra-se ativamente para o cão, ficando calado até que o mesmo o localize e
comece a latir, este exercício deve ser feito onde o mato não seja muito alto, pois o cão deve ver onde o
figurante se escondeu, sendo que nas primeiras práticas deverão ser cobrados um ou dois latidos,
aumentando de acordo com a evolução do cão (número de latidos, a distância e o formato da mata).

Ensinando o cão a buscar lateralmente


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Um cão de trabalho tem a necessidade de buscar onde o seu condutor determinar, precisa ajustar
seus instintos a estratégia de busca adotada, sob pena de em grandes áreas ficar alguma área em branco
sem ser vasculhada, o que poderá comprometer todo o trabalho de busca.

Um cão bem condicionado dificilmente deixa despercebido um cone de odor a 20 ou 30 metros, por
isso é fundamental e importante treinar o cão a buscar em áreas brancas e sempre lateralmente ao
condutor, saindo dessa linha somente quando estiver dentro do cone do odor.

Após os trabalhos na Estrela K-SAR, quando o cão já estiver familiarizado com a existência de um
figurante oculto e estar sinalizando bem para o figurante em longas distancias, é hora de dificultar mais o
exercício.

Considerando uma área de busca de um terreno retangular 200x400 metros, imagina-se uma linha reta bem
ao meio, onde por esta caminha o condutor durante a busca, 50 metros para cada lado.

Nesse exercício serão dois figurantes, um correndo em linha reta e o cão ziguezagueando entre as vítimas,
sendo premiado com mais ênfase no final.

Com o tempo o cão precisa estar condicionado que a única forma possível de se buscar uma vítima é
lateralmente ao comando do condutor.

Evolução do treinamento

Fase Distância Tempo Dificuldade

Inicial 30 metros 2 minutos -

Básico 50 metros 10 minutos 3 vítimas

Médio 200 metros 1 hora 3 vitimas

Elevado 1000 metros 1 hora 5 vítimas

Algumas pessoas defendem que é preciso treinar o cão colocando-o na pista após um dia ou mais de
tempo na pista. Defendemos a teoria da certeza no treinamento. Um cão compulsivo pelas atividades de
busca que se motiva com a localização da vítima irá rebuscar os menores indícios possíveis para localizá-lo e
não se motivará em buscar se não houver qualquer indicio de ser humano na área.

PRINCÍPIOS IMPORTANTES DO TREINAMENTO

127
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a) É importante treinar em diversos ambientes, com o maior número possível de distratores, para que a
curiosidade não prejudique o trabalho do cão.
b) Cães tem dificuldade a transpor trilhas, estradas e riachos. É preciso apresentar esses cenários
antecipadamente ao cão.
c) Os treinos precisam ocorrer em horários diferenciados.
d) Os cães devem trabalhar sempre no limite das suas potencialidades, acostumarem-se a trabalhos
fáceis tendem a sentir dificuldades em ações mais complexas. Treinar em 150%.
e) Como as operações de busca rural tendem a ser longas e cansativas, é preciso que as sessões de
treinamento também levem o cão a exaustão.
f) O cão tende a buscar longe do condutor e longe também da visão do mesmo, por isso nos treinamentos é
fundamental condicionar o cão para latidos em longos períodos sem se afastar de perto do figurante.

- ETAPAS DE UMA OPERAÇÃO DE BUSCA E RESGATE TERRESTRE

Uma operação de busca e resgate terrestre (com ou sem uso de cães) se desenvolve de acordo com as
etapas demonstradas no fluxograma final desta lição.

2.1 PREPARAÇÃO

Também conhecida como etapa da prontidão, contudo utilizaremos a definição “preparação” por ser
um conceito mais amplo e mais adequado.

Esta etapa, muitas vezes ignorada ou tida como desnecessária ou sem importância, na verdade é a etapa
mais importante e determinante e será a diferença entre o sucesso ou não de uma operação de busca e
resgate terrestre.

Consiste em se estar sempre pronto a desencadear a operação, por meio de prévia e constante
preparação dos binômios com treinos constantes, e dos recursos materiais de forma que os equipamentos,
materiais e suprimentos estejam sempre em condições de uso e possam ser rapidamente reunidos.

Portanto é uma etapa que nunca se encerra e que após a deflagração de uma operação de busca e resgate
terrestre e seu encerramento, volta-se mais uma vez a ela.

Todo o “apronal” do binômio operativo sempre deve estar pronto, para um deslocamento imediato.

2) COLETA INICIAL DE INFORMAÇÕES E ACIONAMENTO

Etapa que se inicia com o recebimento da informação de que pessoas estão perdidas. Esta
informação em geral chegará via central de operações (COBOM) repassada diretamente por familiares ou
amigos ou por outros órgãos (PM, Polícia Civil, etc).

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A coleta inicial de informações será efetuada então pelo operador da central de operações, sendo
que o mesmo deverá obter do solicitante as informações mínimas preliminares necessárias para que a equipe
de busca e resgate terrestre possa iniciar seu trabalho.

Portanto o operador da central de operações deverá buscar obter no mínimo as seguintes


informações:

- Área provável do desaparecimento ou na qual(s) a(s) pessoa(s) encontra(m)-se perdida(s);

- Quantidade de pessoas perdidas ou desaparecidas, sexo e idade;

- Tempo estimado que as pessoas estão perdidas ou desaparecidas;

- Situação em que se deu o desaparecimento ou que ocasionou que a(s) pessoa(s) se perdesse(m);

- Contato e local com pessoas que poderão fornecer os detalhes necessários (entrevista) para o
desenvolvimento da operação de busca e resgate terrestre;

Feita a coleta inicial das informações, o operador da central de operações deverá acionar a equipe de
busca e resgate terrestre com os binômios disponíveis a fim do estabelecimento das demais etapas.

O operador da central de operações deverá, contudo, questionar o solicitante acerca de locais


prováveis em que o pretenso perdido possa estar, tais como casa de amigos ou parentes. Isto é muito comum
e a obtenção de um paradeiro poderá evitar que seja acionada a equipe de busca e resgate terrestre
desnecessariamente.

3) MOBILIZAÇÃO E DESLOCAMENTO

Confirmada a ocorrência e coletada as informações iniciais pelo operador da central de operações, os


binômios ou os componentes da equipe de busca e resgate terrestre serão acionados para comparecer ao
quartel, se já não o estiverem, a fim de preparar o deslocamento para o local da ocorrência ou para local
intermediário em que possa coletar mais dados, sendo tal processo chamado de mobilização.

Na etapa da mobilização a equipe verifica e transporta para a viatura todos os equipamentos


necessários para o desenvolvimento da operação, utilizando uma lista de checagem de materiais,
equipamentos e suprimentos.

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Estando tudo pronto, a equipe deslocar-se-á até a região da ocorrência ou até o local intermediário,
a fim de obter maiores informações a partir do solicitante ou de outras pessoas e dar mais agilidade as
demais etapas da operação.

4) ESTABELECIMENTO DO COMANDO

Embora esteja colocada sequencialmente como a quarta etapa, o estabelecimento do comando na


realidade inicia-se já na etapa da mobilização e prossegue durante todo o desenrolar da operação.

Identificou-se que a necessidade de uma definição de comando em operações decorre principalmente


da necessidade de evitar que ocorram problemas de comunicação, de falta de controle sobre os recursos
humanos e materiais e indefinição da estrutura de comando (comandos múltiplos, inexistência de comando,
todo mundo manda ou ninguém manda ou cada um age por conta própria).

5) COMPLEMENTO DA COLETA DE INFORMAÇÕES

No local da área da ocorrência ou junto ao solicitante o comandante da equipe irá complementar as


informações coletadas previamente pelo operador da central de operações, podendo então ter uma idéia
mais precisa do que estará buscando e em qual área iniciará as buscas, ou até mesmo definir pela
inviabilidade de iniciar-se uma busca.

A fim de facilitar e de que não sejam esquecidas informações que poderão ser importantes, é
aconselhável que o comandante da equipe realize com as testemunhas um questionário (formulário de busca
– ANEXO I), utilizando as informações para guiar a busca e mantendo o questionário mesmo após isso, visto
que poderá haver a necessidade de consultas futuras.

6) PLANEJAMENTO E DEFINIÇÕES

De posse de todas as informações obtidas, o comandante passa para a etapa de elaboração do plano
para a busca, definindo as estratégias, as táticas e as técnicas a serem utilizadas na operação de busca e
resgate terrestre.

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A busca e resgate terrestre são procedimentos em que na área estipulada se verificam caminhos,
estradas, trilhas, margens de rios e outros mananciais, ou seja, locais que permitam uma circulação mais ou
menos fácil, que são exatamente os lugares que mais provavelmente a vítima possa estar ou possa ter
passado. A verificação em questão se estenderá também às adjacências.

6.1) Estratégia de busca e resgate terrestre:

A definição da estratégia ocorrerá quando o comandante com base em todas as informações até
então coletadas e conhecendo os recursos de que dispõe, determina e delimita uma zona para a busca, sendo
ela, em tese, a área que mais provavelmente poderá ser encontrada o perdido, devendo ser reduzida ao
menor quadrante possível.

a) Determinação da zona ou área de busca:

Veremos três métodos de determinação de uma zona de busca, sendo eles o método teórico, o método
estatístico e o método subjetivo:

✔ Método teórico:

A provável zona de busca é determinada mediante o uso de informações com as quais se estabelece
área em função da estimada distância percorrida pelo perdido. Isso implica em haver a necessidade de se
saber o local em que o mesmo foi visto pela última vez. O limite da zona será definido então como um círculo
marcado sobre a carta da região, sendo o centro do círculo o local em que o perdido estaria na última vez em
que foi visto, e o raio do círculo a distância máxima estimada que possa ter sido por ele percorrida.

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Em seguida se avaliam as características da topografia do terreno, como os rios, picadas, estradas,


elevações, e então se estabelece, dentro da zona de busca estabelecida e marcada pelo círculo, subdivisões
de segmentos para a busca de forma a parcelar e sub-delimitar as áreas a serem percorridas pelos binômios
bem como as áreas a serem eliminadas.

✔ Método estatístico:

Da mesma forma que o método teórico, o método estatístico leva em consideração a estimada
distância percorrida pelo perdido, sendo que agora são projetadas linhas retas na carta com a distância, e
observando-se a carta delimitam-se zonas com maiores probabilidades de encontrar a pessoa, é um bom
método quando se tem a informação de que a vítima seguiu por estradas ou por determinados caminhos já
pré-definidos na coleta de informações.

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✔ Método subjetivo:

Embora seja bem menos objetivo que os dois métodos anteriores, o método subjetivo poderá ser
utilizado quando não se tem certeza do último local em que o perdido foi visto.

Leva em consideração os dados estatísticos, a situação dos acidentes naturais, os indícios, a


consideração das limitações físicas ou psíquicas da pessoa, etc, delimitando-se a zona de busca através de
raciocínio lógico e da especulação sobre determinado número de variáveis colhidas durante as entrevistas.

6.2) Táticas de busca:

As táticas de busca terrestre se compõem dos procedimentos necessários a fim de colocar em prática
a estratégia planejada para uma determinada área.

a) Detecção, análise e interpretação de indícios:

A detecção de indícios é uma boa forma de orientação da equipe de busca em direção ao encontro da
pessoa perdida. Essas pessoas, mesmo que inadvertidamente, geram e deixam rastros de sua passagem por
determinados locais.

Os indícios podem ser físicos (pegadas, galhos quebrados, lixo, materiais perdidos, etc) ou podem ser
obtidos através de testemunhos.

Portanto a busca de indícios durante a operação de busca é uma importante ação tática e que
somente se interrompe com o encontro da pessoa.

A localização de indícios poderá ser reforçada pela utilização de aeronaves e de cães especialmente
treinados para tais atividades.

As pessoas deixarão indícios de passagem ou permanência por determinados locais. Tais indícios
poderão ser deixados de livre arbítrio ou inadvertidamente.

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Serão indícios a detectar, e então analisar, os que seguem, obviamente sem a exclusão de outros não
apresentados, mas que em razão das informações obtidas e do raciocínio lógico poderão ser percebidos e
considerados pela equipe de busca:

Vestimentas:

As pessoas perdidas, em geral, querendo ou não, podem acabar deixando suas vestimentas ou partes
delas pelo caminho. Assim podemos encontrar um chapéu, boné, uma camiseta, uma luva, um calçado, um
fragmento de roupa preso num arame, etc.

Objetos:

Também poderão ser encontrados objetos ou partes deles como uma mochila, um canivete ou faca
perdida, um par de óculos, um outro objeto qualquer ou indício de sua utilização, como:

Pilhas: indica o uso de lanternas, GPS ou outro qualquer objeto dependente de energia química;

Garrafas, latas de bebidas ou materiais de acondicionamento de alimentos: Indica a passagem de


pessoas pelo local e o consumo de bebidas alcoólicas ou não, e de alimentos industrializados (vasilhames,
pacotes descartados, etc).

Varas de pescar, ferramentas, latas e envelopes diversos, linhas, papéis, bitucas de cigarro, restos de
carteiras de cigarro, saco de fumo descartado, seringas, cachimbos de crack, palitos de fósforos, restos de
aeronaves, objetos diversos não naturais de área rural e descartes afins, etc.

Materiais orgânicos:

Restos orgânicos que serão indícios que poderão identificar a passagem pelo local de uma pessoa,
através da constatação de resíduos orgânicos-fisiológicos (fezes, vômitos, sangue, restos de cabelo presos a
arames farpados ou vegetação que proporcione o enroscamento, etc).

Alterações no ambiente natural:

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Alterações no ambiente natural, propositais ou não, como vegetação amassada (em geral estará
pendendo no sentido do deslocamento), vegetação cortada (em geral estará caída no sentido inverso do
deslocamento, exceto se a pessoa perdida tenciona claramente indicar a direção que seguiu).

Sinais no solo:

Os sinais no solo serão deixados pela passagem de pessoas ou de seus veículos. Poderão ser
identificados os trânsitos de veículos de grande porte, utilitários, automóveis, motocicletas, bicicletas, ou de
pessoas através de suas pegadas.

As pegadas poderão prestar importantes informações, como a direção do deslocamento, a


quantidade de pessoas, o calçado utilizado (ou descalço), o tamanho do mesmo (masculino, feminino,
criança), se a pessoa estava correndo ou andando (pela distância entre as pegadas).

A quantidade de pessoas que passou por determinado local pode ser aproximadamente aferida pela
técnica do ½ metro (ou 50cm), onde se marcará uma linha no calcanhar do último passo identificado e outra
linha a 50cm dali, de forma que a quantidade de pegadas contadas no intervalo significará a quantidade de
pessoas que passaram pelo local. È importante, porém, que sejam levadas em conta a questão do tempo e
da precipitação. O sol aos poucos irá desfazendo as pegadas, assim como uma chuva forte poderá desfazê-
las em poucos minutos. Procurar sempre que possível as marcas de pegadas mais destacadas e fortes para
efetuar a análise citada.

Da mesma forma, conforme informações levantadas nas entrevistas, poderão ser conferidas as
pegadas encontradas com as marcas/modelos dos calçados utilizados pelas pessoas perdidas.

Restos de acampamento:

O local que foi utilizado como acampamento, ainda que provisório e adaptado, poderá conter
informações importantes do transito de pessoas, tais como a existência de restos de comida, bebidas, de
fogo e de vegetação amassada e/ou cortada, além de inúmeros possíveis outros sinais que poderão ser
identificados por uma equipe de busca e resgate terrestre atenta.

Indícios sonoros:

Poderão ser identificados sons produzidos pelas pessoas perdidas, tais como conversas, gritos,
batidas, disparos de arma de fogo, etc.

Indícios luminosos:

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Especialmente durante a noite as equipes de busca e resgate terrestre poderão identificar sinais
luminosos, intencionais ou não, tais como luzes de lanterna, clarões de fogueiras, clarão de cigarros.

Fumaça:

A identificação de fumaça pontual, poderá também sinalizar a presença de pessoas no local.

Indícios olfativos:

A própria fumaça poderá apresentar-se como um indício olfativo, além de cheiros de carne assada,
cigarros, drogas, combustíveis, pólvora, etc.

b) Busca binária:

A tática de busca binária se baseia na exclusão da busca em área em que não se tenham encontrado
indícios.

Estimando-se uma provável rota percorrida ou partindo-se do último local em que o perdido foi visto
pela última vez, a equipe projeta e percorre, em busca de indícios, uma série de rotas padrão que
interceptem as rotas presumidas que o perdido possa ter adotado. Se não se encontrar indícios da pessoa
perdida a área é abandonada. Se forem encontrados, concentra-se a partir dali os esforços, a fim de
encontrar o perdido ou outros indícios que possam indicar o provável sentido seguido pela vítima.

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c) Delimitação da área de busca:

Uma vez definida a estratégia de determinar a área de busca, é aconselhável que a equipe
estabeleça perímetros ao redor da área e da pessoa perdida, de forma que ela ao se movimentar não
ultrapasse o “cerco” formado pela equipe de busca sem ser detectada. Esta delimitação depende muito do
terreno, sendo muito difícil de ser realizada em terrenos abertos e amplos que não disponham de contenções
naturais como rios, paredões, barrancos altos, matas muito fechadas, desfiladeiros, etc. Estas barreiras
topográficas devem ser detectadas pela equipe através da carta topográfica ou visualmente no próprio
terreno.

d) Divisão da área de busca:

Conforme a disponibilidade de binômios (ou homens) a área de busca poderá ser subdividida em
quadrantes.

Essa divisão pode ser em quadrantes iguais, ou por áreas com maior probabilidade de se encontrar a
vítima.

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Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

De acordo com o número de equipes disponíveis a área poderá ser fracionada:

6.3) Técnicas de busca:

Também chamadas de processos de busca. São as técnicas ou as formas como as equipes de busca e
resgate terrestre deslocam-se pelo terreno dentro da área de busca e da zona delimitada, com a finalidade
de localizar indícios ou a pessoa perdida.

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Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

As técnicas de busca dependerão de fatores como a topografia do terreno, a quantidade de pessoas


envolvidas, o número de binômios disponíveis na busca e a luminosidade (noite ou dia).

Antes de definirmos as técnicas, alguns fatores muito importantes devem ser considerados:

Havendo disponibilidade de equipes humanas e caninas, PRIORIZAR OS CÃES NO PERÍODO


NOTURNO,

Os cães varrem em média 30.000 m2 de área por hora, considerando tempo de busca e de descanso;

Os cães tem mais facilidade para áreas abertas, logo, havendo humanos e cães, priorizar as grandes
áreas para cães e humanos em instalações, recorrer estradas, etc.

Para as equipes humanas o CBMSC tem como usual as seguintes técnicas de busca: Em linha ou
pente-fino, quadrado crescente e retangular.

Para equipes caninas, as técnicas dependem do número de binômios disponíveis. Para efeitos didáticos
iremos considerar o número limite de 4 binômios, que teoricamente seria o número máximo disponível em
função da proximidade onde os binômios estão lotados.

Métodos indicados para 1 único binômio.

Quando se sabe a direção seguida pela vítima:

Linhas paralelas.

139
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

A distância entre as linhas depende da capacidade do cão em farejar o cone do odor da vítima.

140
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Quando NÃO se sabe a direção seguida pela vítima:

Processo do Quadrado Crescente:

C) Processo Setor padrão

141
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Método indicado para 2 binômios

Quando se sabe a direção seguida pela vítima:

Linhas paralelas com cobertura da área de maior probabilidade com os 2 cães.

142
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Métodos indicados para 2 ou mais binômios SEM informação da direção seguida pela vítima

Processo Setor padrão crescente

143
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Linhas paralelas crescentes

Caso a equipe se desoriente

Uma equipe de busca e resgate terrestre desde que efetue seus deslocamentos de forma controlada
e registrada não se perderá. Contudo, caso isso seja negligenciado poderá a equipe perder-se no terreno.
Ocorrendo tal hipótese sugere-se que se proceda ao processo denominado de ESAON:

ESAON

Estacione: Ou seja, pare. Continuar caminhando apenas agravará a situação e esgotará fisicamente
o perdido, além de dificultar o raciocínio necessário para sair daquela situação.

Sente-se: A fim de descansar e pensar com mais calma.

144
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Alimente-se: Parando, sentando e alimentando-se o perdido tenderá a raciocinar melhor, podendo


assim encontrar uma saída para a situação em que se encontra. Contudo, é importante que não se consuma
todo o alimento que leva consigo, devendo deixar reserva para depois.

Oriente-se: Com bastante calma e utilizando-se dos conhecimentos equipamentos que dispor,
procure definir de onde deslocou, por onde deslocou e para onde deslocava, o que facilitará definir onde se
encontra e, assim, saber como retornar a local seguro.

Navegue: Estando novamente orientado, prossiga com a navegação até atingir o objetivo desejado.

7) DESMOBILIZAÇÃO

Esta etapa ocorre a partir do momento em que a pessoa perdida foi localizada e resgatada ou a
partir da definição do término da busca.

Na etapa da desmobilização a equipe de busca e resgate terrestre procede a conferência e a


manutenção e reposição (se for o caso) de todos os materiais, equipamentos e suprimentos utilizados,
deixando-os novamente em condições de ser utilizado em nova ocorrência.

8) ENCERRAMENTO (ou revisão)

Etapa final da operação de busca e resgate terrestre, onde a equipe se reúne para avaliar os pontos
positivos da operação e apontar o que necessita ser melhorado. É o momento de “se lavar a roupa suja” se
for o caso. Serve a revisão para apontar melhorias nas questões materiais, inclusive a necessidade de
aquisição de equipamentos adicionais. Serve também para apontar melhorias e complementos nas doutrinas
existentes.

145
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

ANEXO I
QUESTIONÁRIO PARA BUSCA DE PESSOA PERDIDA
INFORMAÇÕES GERAIS

Data do aviso:___________________ hora:______________________

Nome da vítima:____________________________________________

Apelido:__________________________________________________

Endereço:_________________________________________________

146
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

_________________________________________________________

Telefone:___________ Telefone celular:________________________

Nome do pai:________________________ Fone:_______________

Nome da mãe:_______________________ Fone:_______________

Nome do conjuge: ____________________ Fone:_______________

Filhos/fone: _______________________________________________

______________________________________________________________
______________________________________________________________
_______________________________________________

DESCRIÇÃO FÍSICA
Idade:_______ altura:_______ cabelos :________________________

Barba?:________________ Bigode?: ________________________


Cor da pele:______________________ Foto:____________________

Marcas ou cicatrizes: _______________________________________

Outras características físicas: _________________________________

______________________________________________________________
______________________________________________________________
_______________________________________________

VESTIMENTAS
Camiseta/camisa: cor:__________ Estampa: ____________________

Calças/tipo:____________ cor:_________ Estampa: ______________

Blusa/jaqueta:__________ cor:_________ Estampa:_______________

Proteções para chuva: tipo:_________cor:_______________________

Calçado: tipo:____________ cor:________ tamanho:______________

Boné/chapéu: tipo:________ cor:________ Estampa:______________

Luvas: tipo:____________________ cor:________________________

147
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Óculos de grau, de sol: Tipo:__________________________________

Roupas e calçados adicionais?___________________

Quais?___________________________________________________

______________________________________________________________
____________________________________________________

EQUIPAMENTOS/SUPRIMENTOS
Mochila – tipo _________ marca:_________ cor:_________________

Barraca – tipo _____________ marca:_________ cor:_____________

Saco de dormir – tipo__________ marca:_________ cor:___________

Colchonete – tipo___________ marca:__________cor:_____________

comida/tipo/quantidade:___________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________

cantil:_______________ lanterna:_____________________________

Faca/canivete:_______________ carta:_________________________

Bússola:__________________ GPS: _________________________

Equipamento de altura:______________________________________

_________________________________________________________

Aparelho celular (marca, modelo, cor): _________________________

Arma de fogo (marca, modelo, calibre):_________________________

________________________________________________________

Bebida alcoólica (tipo, marca, qtdade):_________________________

________________________________________________________

Outros equipamentos/suprimentos: ____________________________

_________________________________________________________

148
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

DESTINO E MEIOS DE TRANSPORTE


Ia para:___________________________________________________

_________________________________________________________

Local de saída:_______________ data de saída:_________________

Condução (a pé, veículo, montaria)?:

Veículo placas:__________ Marca/Modelo:______________________

Tipo:_______________ Ano:___________ cor:___________________

O veículo foi encontrado? Se sim, em que situação, aonde e por quem?


___________________________________________________

______________________________________________________________
____________________________________________________

Montaria: Tipo/Raça: _________________ cor: __________________

A montaria retornou ou foi encontrada?: ________________________

Se retornou, em que situação? ________________________________

_________________________________________________________

Se encontrada, em que situação, aonde e por quem?______________

_________________________________________________________

_________________________________________________________

MOTIVAÇÃO
Motivação que levou a vítima à situação de se perder (ex: pescaria):

______________________________________________________________
______________________________________________________________
_______________________________________________

149
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

_________________________________________________________

A motivação é costumeira?___________________________________

VISTO PELA ULTIMA VEZ


Quando:__________________________________________________

Onde:____________________________________________________

______________________________________________________________
____________________________________________________

Direção que seguia:_________________________________________

_________________________________________________________

_________________________________________________________

Por quem? (nome, endereço, telefone):_________________________

_________________________________________________________

_________________________________________________________

EXPERIÊNCIA E RESISTÊNCIA FÍSICA


Possui experiência em transitar em matas ou outras áreas rurais: ____

Possui experiência em caminhar à noite:________________________

Conhece a área:_________ desde quando:_____________________

Já se perdeu ou se atrasou para retornar outras vezes: ____________

______________________________________________________________
____________________________________________________

150
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Que atitude tomou:_________________________________________

______________________________________________________________
____________________________________________________

Estava com alguém (quem?):_________________________________

______________________________________________________________
____________________________________________________

Resistência física:_________________________________________

Sabe nadar:______________________________________________

SAÚDE E COMPORTAMENTO
Condição geral:____________________________________________

Deficiências físicas:_________________________________________

Problemas médicos conhecidos:_______________________________

Problemas psicológicos:_____________________________________

Fatores externos que possam afetar o comportamento da vítima (problemas


familiares ou de relacionamento, depressão, problemas no trabalho, pressão
política, problemas financeiros): ________________

_________________________________________________________

_________________________________________________________

_________________________________________________________

Atentou contra a própria vida anteriormente? Se sim, como foi?______

______________________________________________________________
____________________________________________________

151
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Ameaçou recentemente atentar contra a própria vida? Se sim, como


foi?______________________________________________________

______________________________________________________________
____________________________________________________

Usa medicamento:_____qual(is) e quantidade por dia:_____________

______________________________________________________________
______________________________________________________________
_______________________________________________

Quantidade que levou:______________________________________

________________________________________________________

Consequências da falta do medicamento:_______________________

______________________________________________________________
____________________________________________________

Médico responsável: ________________________________________

Telefone:_______________

Fuma: ______________ qual cigarro:__________________________

Usuário de drogas: _______________ qual(is)___________________

_________________________________________________________

152
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

CONTATOS NA VOLTA
Com quem provavelmente fará contato se retornar

Nomes, telefones, endereços: ________________________________

______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
___________________________

AÇÕES EFETUADAS ATÉ O MOMENTO


Descrever as ações já empreendidas por outras guarnições, familiares,
amigos, policiais, outras autoridades, etc. Ao descrever uma ação registre
quando ela ocorreu e qual seu resultado:
________________________________________________________

________________________________________________________

________________________________________________________

________________________________________________________

________________________________________________________

________________________________________________________

________________________________________________________

________________________________________________________

________________________________________________________

________________________________________________________

________________________________________________________

________________________________________________________

________________________________________________________

________________________________________________________

________________________________________________________

________________________________________________________

153
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

________________________________________________________

________________________________________________________

________________________________________________________

________________________________________________________

______________________________________________________________
__________________________________________________

________________________________________________________

________________________________________________________

________________________________________________________

______________________________________________________________
__________________________________________________

________________________________________________________

154
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

ESTADO DE SANTA CATARINA


CORPO DE BOMBEIROS MILITAR

DIAGRAMA DA ÁREA DE BUSCA


(Busca e Resgate Terrestre)

Início da Operação: ___/ ___/ 20__.


Horário: _____.

155
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

.S. Department of Homeland Security United States Coast Guard - Compatibility of Land SAR Procedures with
Search Theory

LIÇÃO 10 RESTOS MORTAIS

Instrutor: Cb BM Ronaldo Wagner FUMAGALLI Silva


________________________________________________________________________

RESTOS MORTAIS

A busca de restos mortais está entre as maiores demandas do serviço de bombeiros, em


Santa Catarina representam mais de 50% das atividades realizadas, destaca que incluímos nesse
gráfico as buscas subaquáticas, embora nesse trabalho separamos em dois grupos, face as
particularidades do treinamento. Em algumas unidades que possuem cães especialistas na busca
de restos mortais, esse número pode chegar a 90% das ocorrências atendidas.

FONTES DE COMPOSTOS ORGÂNICOS VOLÁTEIS

156
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Desde o início do processo de decomposição de um corpo até a fase mais avançada


de esqueletização ocorre liberação de odores. Esses odores são originados por uma série
de microrganismos, os quais são os responsáveis pela putrefação dos corpos. Dependendo
da fase de decomposição e do ambiente em que o objeto/corpo é depositado pode ocorrer
variações tanto da quantidade de liberação desses odores quanto da velocidade do processo
de putrefação. Em termos gerais, a decomposição humana é biologicamente modificada,
dependendo da paisagem terrestre. Os fungos e bactérias são responsáveis por aproxima-
damente 90% do processo de decomposição (Swift et al.).

O processo ocorre de maneira similar com todos os seres vivos, mas varia no que diz respeito
ao resultado final: o odor propriamente dito.

Compreender a maneira como se formam os gases decorrentes da decomposição


dos corpos é de fundamental importância para aqueles que pretendam conduzir um cão de
busca por restos humanos ou cadáveres. Ao longo dos anos o homem criou ciências pro-
curando explicar tudo que havia a seu redor, sendo assim, a ciência destinada a estudar o
processo post morten, a transferência de matéria biológica para o meio, chama-se Tafono-
mia, sendo ela um ramo da paleontologia.

Mesmo assim, até hoje não há instrumentação que pode encapsular totalmente a ver-
dadeira diversidade e complexidade que existe no transcorrer da decomposição humana na
paisagem terrestre. Outro fator que é exercido como exceção e não regra, é que a decom-
posição humana se encontra ligada a Quatro importantes Moduladores:

1. A qualidade do composto,

2. O tipo de cultura,

3. Tipo do ambiente.

4. Comunidade Biológica

Cada um desses moduladores contém um conjunto de fatores que afetam na preservação,


destruição, bem como na taxa de decomposição. (Swift et al.).

As fontes de COVs para treinamento são fundamentais para que o cão se condicione a buscar
esses materiais. Várias são as fontes, que dependem de recursos e de legislação local.

a) Carne Humana

A carne humana é a fonte de odor mais autêntica. A carne pode ser decomposta passando por
todos os estados de putrefação que os treinadores desejam. Ao chegar ao estágio desejado ela
precisa novamente ser resfriada para não passar desse estágio. Apesar que alguns estudos recentes
mostraram que o congelamento do composto pode matar algumas bactérias responsáveis pela
decomposição, alterando assim sua posterior decomposição. ( Cuypers E -2015).

157
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

A obtenção de carne humana é difícil. Alguns estados possuem legislação que proíbe seu uso
para treinamento de cães.

A Carne Humana em decomposição deve ser acondicionada em vidro ou plástico. O treinador


deve usar luvas quando manusear estes materiais. A carne humana pode ser um veículo de
transmissão de muitas infecções por bactérias ou de doenças causadas por vírus. Quando colocada
num ambiente externo para treino o odor poderá atrair animais e insetos que se alimentam de
carniça.

Do início do processo de decomposição de um corpo até a fase mais avançada de


esqueletização ocorre liberação de COVs, dependendo do ambiente, temperatura, quantidade de
tecidos e histórico de alimentação poderá ocorrer a liberação de até cerca de 478 Compostos. (Arpad
A. Vass 2009). Esses Compostos são originados por uma série de microrganismos, os quais são os
responsáveis pela decomposição dos corpos. Dependendo da fase da decomposição e do ambiente
em que o objeto/corpo é depositado pode ocorrer variações tanto da quantidade de liberação desses
Compostos, como no tipo deles. (Cuypers E -2015).

De maneira geral os tecidos moles são os que primeiro se decompõem após a morte biológica,
restando apenas os ossos. No entanto, mesmo sendo a exceção, algumas vezes tecidos moles
também são preservados. Isso ocorre quando o corpo se torna mumificado, sendo resultado ou de
utilização de substâncias químicas ou de fatores ambientais. A temperatura ideal para a
decomposição dos tecidos animais encontra-se em torno dos 37ºC.

Em temperaturas mais elevadas o processo é acelerado, e em temperaturas inferiores se


prolongará.

158
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Esqueletização - 21 dias Fase inicial de decomposição - 5 meses

No momento da morte biológica, o objeto/corpo passa por uma transformação. Essa mudança
não é imediatamente detectável por um humano; entretanto, ela obviamente afeta a composição do
composto detectada por um cão alterando seu comportamento.

159
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Um fenômeno observado por muitos condutores de cães de cadáver é que alguns cães
seguirão a trilha, mas falharão ao se aproximar do local onde estiver o corpo falecido. Eles podem
registrar a mudança e diferença no COV e, talvez por medo ou por qualquer outra razão, não se
aproximar.

O processo de decomposição começa imediatamente após ocorrer a morte biológica e progride


por cinco estágios após o corpo estar completamente esqueletizado. Alguns compostos provenientes
da decomposição é exclusividade dos humanos, o congelamento das amostras poderá mudar
consideravelmente a decomposição devido à perda de algumas bactérias, influenciando na liberação
de certos odores.

Pequenas quantidades de amostras podem fazer com que alguns odores não sejam
volatizados, tecido adiposo, fígado, músculos e intestino são o mínimo para quem pensa em começar
um treinamento.

Estágios da Decomposição e COVs característicos

Estágio Descrição COV¹

Mudança exterior pequena Não detectável por humanos;


ou inexistente; entretanto está se entretanto animais podem mostrar reações
Fresco decompondo internamente devido ou se aproximar do corpo se este ainda
a bactérias presentes nos corpos estiver vivo. Cães podem detectar a certa
depois da morte. distância.

O corpo se dilata devido aos O composto presente é de


gases produzidos em seu interior. deterioração. Detectável por cães e homens.
Dilatação Atividade de insetos pode ser Pode ser detectado à distância.
verificada.

O corpo se rompe e há Grandes compostos de putrefação


liberação de gases. A carne exposta detectável à distância por cão e homem.
Deterioração pode ser enegrecida.

Líquidos produzidos durante Produção reduzido de compostos.


o processo de putrefação são Pode cheirar a bolor ou rançoso. Animais
Liquefação ainda podem detectar à distância.

160
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

liberados no ambiente. O corpo


começa a secar.

Diminui a velocidade de COV bolorento. Detecção à curta


deterioração. Os restos de carne distância.
Seco ou podem sofrer mumificação.
esquelético

¹A distância de detecção varia com a direção do vento, clima e terreno. Se a aproximação for contra o
vento, a detecção à distância será muito mais rápida que se o vento estiver pelas costas

b) Sangue Humano

O sangue humano é único e apresenta diferentes estágios de putrefação. Refrigeração é


necessária para prevenir deterioração. Sangue é uma boa fonte de odor para simulação de cenas
de crimes, e para trabalhos com odor residual. Também pode ser enterrado para simular um corpo
enterrado.

c) Terra com Restos Humanos

O solo do local onde se encontrava um corpo enterrado é uma fonte autêntica. Nesses locais
são encontrados toda a variedade de subprodutos da decomposição e putrefação. Pode ser
relativamente fácil para o condutor dispor desse material e com ele pode simular uma ampla
variedade de situações de treino.

A terra contaminada pode ser encontrada em qualquer local onde um corpo tenha se
decomposto. Deve ser mantida em sacos plásticos e não precisa de refrigeração, porém não poderá
ser utilizada por muito tempo. Amostras retiradas de locais com diferentes constituições de solo
apresentarão variação quanto à intensidade do odor. A variação no odor irá ajudar no treinamento
para busca por corpos enterrados a um espaço de tempo maior.

d) Adipocere

Adipocere é um subproduto da decomposição em ambientes secos ou úmidos e é uma fonte


autêntica de odor. É uma excelente fonte de odor para treinamento, mas precisa ser retirada do local
exato onde se encontrava um corpo. Deposite-a em um container plástico ou de vidro. Use luvas

161
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

quando manusear este tipo de material. Não requer refrigeração e não poderá ser usado por muito
tempo.

e) Fontes artificiais

Além das fontes naturais acima, existem fontes Artificiais, as principais e mais conhecidas
são a Putrescina (1,4 – Diminobutano) e Cadaverina (1,5 – Diaminopentano).

Putrescina e Cadaverina são compostos químicos que simulam odores de decomposição


humana. Ambos são compostos di-amino, muito similares a alguns criados no processo de
decomposição de matéria orgânica que são depositadas no ambiente por um período de tempo
considerável.

São compostos tóxicos e apresentam possíveis malefícios a saúde tanto do cão quanto do
condutor. Ambos os componentes se cristalizam se o ambiente tiver temperatura muito baixa e
eventualmente precisam ser aquecidos em água para serem utilizados. Estudos recentes revelaram
que tanto a Putrescina como a Cadaverina podem não volatizarem durante a decomposição, fazendo
com que esse composto não seja detectado pelos cães. ( Cuypers E -2015).

Fases do Condicionamento

O objetivo desse processo é demonstrar para o condutor a importância de condicionar o cão


a trabalhar na identificação dos COVs nas mais diversas e variadas situações. Para alcançar os
melhores resultados, os exercícios de treino devem acontecer em cenários os mais reais possíveis.
Tais cenários podem tanto ser um local em que a equipe já tenha realizado uma busca como um
local preparado especificamente para treinamentos.

O trabalho com odor cadavérico é ensinado de acordo com a progressão de etapa após etapa.
Esse processo passo-a-passo indica que ambos, cão e condutor, possuem competência e estão
aptos em cada nível e podem passar a problemas de maior dificuldade. A primeira fase estabelece
uma sólida fundação para o reconhecimento dos odores. Da correta aplicação da primeira fase
dependerá a capacidade do cão de cobrir uma grande área e indicar corretamente a localização da
fonte de odor com a indicação do local.

Apresentação do COV ao Cão

162
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Inicialmente é necessário e importante saber se o aspirante a Cão de Cadáver vai se sentir


confortável com o odor. Como foi dito anteriormente, os cães costumam responder satisfatoriamente
ao odor de cadáver, porém, devemos ter a certeza. Para isso basta apresentar uma amostra ao cão,
observar o interesse pelo odor e seu comportamento.

Quanto a idade da apresentação do Composto Orgânico Volátil ao Cão

Isso dependerá do conhecimento e experiência do condutor. Para condutores iniciantes oriento


primeiro apresentar e treinar a busca de pessoas vivas, quando o cão já estiver buscando de forma
segura e tranquila, poderá ser iniciado o trabalho de apresentação do COV.

Para condutores mais experientes e com um conhecimento um pouco mais avançado, a


apresentação dos compostos nos primeiros meses de vida do filhote trará alguns benefícios, como
um amadurecimento mais rápido do cão no trabalho de busca de cadáver. Assim como o condutor
irá adquirir experiência durante todo o processo de condicionamento de busca de pessoas vivas, o
cão precisará de um tempo para adquirir experiência na busca pelo cadáver.

Se o condutor apresentar o COV nos primeiros meses de vida do filhote, a tendência é de que
o cão adquira uma experiência considerável ainda nos primeiros anos, com isso a vida útil de trabalho
do cão irá aumentar, e uma resposta satisfatória em ocorrências de maior complexidade acontecerá
muito mais cedo.

Para um melhor entendimento, o processo de condicionamento de cães especialistas em


restos mortais, foi dividido em cinco fases.

Seguir o processo de treinamento de forma correta, com calma, dia após dia, garantirá a
apresentação ao cão, da maioria dos odores da decomposição.

Não existem fórmulas mágicas, um cão especialista em restos mortais, de alto rendimento
será formado com muito estudo e exaustivas horas de treinamento.

Fase I

Consideramos a Fase I como sendo a mais importante do treinamento. Durante


esse período iremos apresentar todos os estágios da decomposição humana para os nossos

163
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

cães. A duração desta fase do treinamento será de aproximadamente 6 meses, tempo ne-
cessário para que possamos apresentar a maioria dos odores da decomposição.

Fase II

Na Fase II do treinamento, o nosso cão de busca já conhece todos os odores


da decomposição. De forma gradativa vamos aumentar a quantidade de amostras durante
os treinos.

Podemos utilizar manequins para que o cão associe o formato humano aos odores da de-
composição. Os manequins podem ser utilizados nos treinamentos a nível do solo e suspensos.

A duração da Fase II dependerá do rendimento individual de cada cão.

Não usa mais o tubo de PVC

Fase III

Pode usar o tubo de PVC no começo

Grandes quantidades de amostras poderão ser utilizadas na Fase III. O diferencial


será o enterro das amostras em covas rasas. De forma gradativa vamos aumentar o tempo
de espera para a realização do treino.

Nos primeiros treinos poderá ser enterrado o dispositivo que o condutor utilizava na fase I
para que o cão se auto recompense.

Fase IV

Na Fase IV, vamos mostrar para o cão que os odores da decomposição também podem ser
encontrados em ambientes aquáticos. Nesta fase o cão já conhece a maioria dos odores da decom-
posição. O condutor irá apenas adaptar o trabalho do cão no meio líquido.
Barco por ex.

Alguns equipamentos serão necessários para a realização desse trabalho.

Fase V

164
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Na Fase V, assim como na Fase III, o diferencial será a utilização de grandes quantidades de amos-
tras biológicas.

Tempo de treino, observação da corrente e vento são alguns dos fatores que deverão ser
observados e estudados pelo condutor. Com o passar dos anos percebemos que a quantidade de
COVs que utilizamos nos treinamentos, dentro das possibilidades locais, deverá ser a mais próxima
possível da realidade.

Diferente do vivo, os milhares de partículas que são volatizadas durante o processo de decom-
posição permanecem por um período maior no ambiente, e acabam formando concentrações de
odores nos arredores da fonte, essas concentrações chamamos de piscinas de odor primária, se-
cundária e terciária.

Um cão de cadáver em um estágio de treinamento avançado e com um nível satisfatório de


experiência na identificação de COV, conseguirá eliminar essas formações de odores e chegará na
fonte, porém um cão treinado com uma quantidade mínima de COV e sem experiência, com certeza
indicará em concentrações de partículas, muitas vezes a KM de distância da fonte.

Estudos realizados por cientistas Belgas, em laboratório, conseguiram identificar 452


compostos em um período de 06 meses. Baseado nesse estudo, podemos traçar um plano
de treino para que o cão consiga passar a conhecer os 452 compostos. Outro estudo muito
importante, foi realizado na Universidade do Tennessee em 2010, dessa vez ao ar livre,
revelou 478 compostos, sendo que considero o dado mais importante o de que cadáveres
com mais de um ano em decomposição, apresentaram odores diferentes aos decompostos
com um ano ou menos.

Estudo do Comportamento e Deslocamento das Partículas de Odor, volatilizadas durante o


processo da decomposição humana.

Considero essa, a parte mais difícil da busca de restos humanos ou cadáver.

Realizar uma leitura correta e entender o deslocamento das partículas da decomposição hu-
mana no ambiente, com certeza irá fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso em uma ocor-
rência real.

165
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Além disso o condutor, terá que no mínimo conhecer as reações do cão que está conduzindo,
para que consiga identificar a existência ou não de COVs no local. Não será incomum na cena, o
cão tentar rolar em certos locais, urinar e defecar, na verdade ele estará demarcando a substância.

Cabe ao condutor realizar uma leitura correta de seu cão para


identificar o local como sendo positivo para compostos humanos
ou não ( QR Code. Vídeo mudança comportamento em ocorrência
).

Vento e temperatura são ações da natureza que podem ser


determinantes para que o condutor direcione o local de busca,
ou até mesmo identifique a existência de compostos humanos no
local (fig.01) e (fig.02).

Figura 01 Concentração suspensa de compostos orgânicos voláteis sofrendo ação do vento e do sol.

166
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

O relevo e a chuva também devem ser observados com bastante atenção, pois exercerão uma
grande ação de direcionamento de partículas, mesmo em compostos em decomposição com tempo
superior a 1(um) ano ainda serão facilmente detectados pelos cães e ficarão impregnados no solo,
árvores e pedras (fig.02).

Figura 02 Partículas sendo direcionadas pelo relevo e chuva.

167
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Figura 03 Partículas sofrendo ação do vento e formando uma concentração de odor secundária.

Um cadáver em elevação, aliado a ação do vento e do calor, poderá criar um espaço neutro
entre a fonte e vegetações mais altas, o condutor deve ter tranquilidade, deixando o cão trabalhar,
observar a mudança de comportamento, analisar o clima, relevo e vegetação, aumentar o raio de
busca para só assim descartar a área. Cães independentes em trabalhos de busca tendem a
conseguir resolver mais facilmente situações complicadas e difíceis, cães dependentes, com certeza
necessitarão um pouco mais da ajuda do condutor para chegar ao seu objetivo. (fig.04).

Ao lado no QR Code, vídeo


ocorrência onde o cão,
direciona seu condutor ao
local do sepultamento da
vítima.

Figura 04 Espaço neutro gerado pela ação do vento e do calor.

Cães com um alto grau de treinamento aliado a condutores com um nível baixo de
conhecimento técnico, poderão levar o cão a alertar em concentrações de odores. O condutor
deduzindo que naquele local possa estar a fonte de odor, utiliza-se de palavras, gestos e energias
para fazer de forma até inconsciente o cão sinalizar em concentrações de odores. A ansiedade do
condutor em localizar a fonte poderá fazer com que o cão sinalize em concentrações de odores
terciárias, ou seja, a muitos metros ou até Km de distância da fonte.

168
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Coleta de dados

Em geral, a coleta de dados é algo de extrema importância para quem vai trabalhar na busca
de restos mortais e cadáver, na maior parte dos casos, o local para a realização das buscas são
levantados na coleta de dados. Testemunhas, áreas já buscadas por familiares, tamanho e tipo de
calçado utilizado pela vítima, histórico policial, medicamentos usados pela vítima, desentendimentos,
problemas familiares e muitas outras informações deverão ser levantadas antes do início dos
trabalhos.

Uma verdadeira investigação sobre o caso deverá ser feita, por isso o trabalho em conjunto
com a polícia local deve ser levado em consideração. Com a crescente tecnologia, muitos recursos
poderão ser utilizados, como quebra do sigilo telefônico da vítima, localização de torres de
comunicação para uma possível triangulação do local, visualização de câmeras de monitoramento,
informações em praças de pedágio e outros.

A coleta de dados é de tamanha importância que algumas ocorrências são finalizadas e


repassadas a outros órgãos ao término do levantamento das informações. Uma equipe de busca
eficiente, deverá contar com pelo menos uma pessoa para ficar “correndo” atrás de informações nos
bastidores, enquanto o binômio e os demais trabalham em campo. A qualquer momento o local das
buscas poderá ser modificado.

Outra coleta de dados importante, é aquela realizada durante a busca. Todos os locais onde a
equipe passou ou trabalhou deverá fielmente ser marcada. Um dispositivo bastante confiável para
esse trabalho é o GPS. Cada membro da equipe deverá se movimentar na cena de busca com um
dispositivo ligado, para que ao final do dia seja descarregado em mapas online ou offline, para só
então realizar o descarte de áreas e o planejamento das próximas buscas (fig 05, 06 e 07).

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Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Figura 05 Marcação de áreas de busca e locais onde testemunhas visualizaram a vítima

Figura 06 Registro do deslocamento da equipe mostrando raio de busca

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Figura 07 Registro da busca realizada pelos cães mostrando ponto onde foi encontrado a vítima e distância do odor.

ORIENTAÇÕES GERAIS SOBRE TREINAMENTO E PRÁTICA

Segue algumas orientações gerais que devem ser seguidas durante o treinamento que
ajudarão a formar cães mais seguros:

a) É preciso dividir o comportamento desejado em pequenas peças. Com a divisão do


aprendizado em etapas o cão tem 50% a mais de chances de realizar o comportamento
corretamente. Se o cão não está conseguindo, não deve continuar. A continuação no erro pode
aumentar a frustração tanto do cão quanto do condutor.

b) Treinar uma coisa de cada vez. Cães aprendem mais rápido quando têm apenas uma
coisa para aprender por vez. Por exemplo, gravar o odor como um exercício separado, sem que o
cão tenha que procurar pelo odor.

c) Eliminar os problemas com sucesso. Se o cão não foi bem em alguma etapa, deverá ser
feito o que for preciso para finalizá-la com sucesso, ou interromper o treino com um problema
motivacional simples, para que o cão termine a sessão sempre vencendo.

d) Amarrar um passo ao outro, de trás para frente. Ao treinar a última etapa de um


comportamento amarrada a anterior, o cão sempre irá de algo que ele não conhece para algo familiar.

171
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Por exemplo, muitos condutores querem que seus cães voltem até eles depois de chegar à fonte de
odor. As etapas para o treinamento começam pelo fim da sequência dos problemas da busca. Se o
cão tiver algum problema em qualquer destas etapas é preciso divida-la em pequenas peças.

Utilização de EPIs

Com certeza devemos utilizar equipamentos de segurança como luvas, máscaras e ter cuidado
no armazenamento de compostos orgânicos humanos. Geladeiras próprias e locais longe do trânsito
de pessoas devem ser escolhidos para o armazenamento dos materiais. Um número reduzido e
selecionado de pessoas deve ser empregado nessa atividade.

O cuidado para a amostra não entrar em contato com o cão, também deve ser observado.
Sacos plásticos zipados e dispositivos que impedem o contato direto da amostra com o cão devem
ser considerados, principalmente no primeiro ano de treinamento. Grandes quantidades de amostras
enterradas devem ser feitas em áreas rurais de difícil acesso, ou de acesso restrito, longe de áreas
urbanas, sempre respeitando a legislação local.

Busca de Restos Mortais no Meio Líquido

Os cães têm sido utilizados em buscas por corpos submersos desde a década de 1970. Andy
Rebmann, autor de uma importante obra de referência nessa área (Cadáver Dog Handbook). A obra
é resultado da documentação das buscas ao longo deste tempo.

Através de mudanças na linguagem corporal cada cão indicava a provável posição das
vítimas, com base nas ações dos cães, mergulhadores desciam e encontravam os corpos
submersos. Buscas aquáticas são atividades de alto risco, para os mergulhares, principalmente em
rios e lagos, sendo uma das atividades mais perigosas executadas pelo ser humano, com isso o uso
de cães minimiza esse risco, uma vez que exigirá poucos mergulhos.

172
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

O processo de decomposição começa imediatamente após ocorrer a morte biológica e


progride por cinco estágios após o corpo estar completamente esqueletizado, cada um deles libera
gases diferentes e o cão deve ser treinado em cada um deles.

Logo após a morte os microrganismos começam seu trabalho produzindo a liberação de


gases dentro do corpo. A quantidade e velocidade de produção desses gases depende da
temperatura da água. A profundidade não faz muita diferença para lagos e rios; é a temperatura que
controla a velocidade de produção de gases. Por outro lado, em águas profundas (entre 30 e 60
metros) a pressão reduz o volume dos gases, logo é necessária uma maior produção de gases para
que o corpo boie. A decomposição é mais rápida quando a vítima realizou sua alimentação.

Durante o segundo estágio o corpo irá boiar até chegar à superfície e passará a flutuar (isso
se não estiver preso a entulhos ou árvores submersas, ou ainda se não estiver soterrado). Esse
processo também depende da temperatura da água ao redor do corpo, e pode durar de 24 a 72 horas
se a água for mais quente ou meses em água gelada.

Quando o corpo emerge pode flutuar até ser recuperado ou se desintegrar sem deixar
qualquer resíduo. Se a temperatura da água que rodeia o corpo for muito baixa para a ação das
bactérias, o corpo pode nunca produzir a quantidade necessária de gases para chegar à superfície.
Lagos profundos geralmente possuem camadas termais que não permitem que as águas aquecidas
da superfície se misturem às águas dos pontos mais profundos, fazendo com que os corpos nunca
voltem à superfície.

Se o corpo não estiver intacto, por exemplo, pulmões ou estômago perfurados, ele não
flutuará e não chegará à superfície. SHIROMA (2012) descreve que a profundidade da submersão
afetará o retorno ou não do cadáver até a superfície. Na maioria das regiões, cuja profundidade
acima de 60 metros, devido à pressão exercida pela água, o corpo não retornará, ainda poderá estar
preso a galhos ou pedras, tornando ainda maior a importância da utilização dos cães.

Abaixo a tabela relaciona o tempo de permanência do cadáver e a temperatura da água.

Tabela 01 – Relação temperatura da água e tempo de submersão.


Temperatura da água (º C) Tempo de permanência

21 1 dia

18 2 a 3 dias

15 3 a 4 dias

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12 + de 6 dias

11,4 Reflutuação só com aumento de temperatura.

Fonte: Alcarria (2000, p. 70).

Os cães não indicam com precisão o local, os mesmos indicam o local com maior
quantidade de odor na superfície da água oriundo das profundezas. Assim, o cão, sendo utilizado
ante das equipes de mergulho, poderá reduzir a área de busca e os riscos para os mergulhadores,
indicando a região na qual devem se concentrar as buscas, utilizando os métodos de indicação
indireta e até mesmo o de eliminação de zonas.

Nas buscas em ambiente aquático é de suma importância a observância da direção dos


ventos e das correntezas, principalmente no caso de rios e riachos. Considerando esses fatores
(vento e correnteza), existem cinco métodos a serem utilizados na busca:

a) A favor da corrente e contra o vento

b) A favor da corrente e a favor do vento

c) Contra a corrente e contra o vento

d) Contra a corrente e a favor do vento

e) Busca pela margem

Com base nos métodos de busca em rios, que variam no sentido da busca e do vento, o
condutor deve ficar atento aos alertas indicados pelos cães. Durante a subida ou descida pelo leito
do rio, contra ou a favor da corrente, o cão começará a indicar presença de componentes químicos
oriundos da decomposição humana. Quando o cão cessar esses alertas, entende-se que foi criada
uma área na qual provavelmente estará o cadáver.

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Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Figura - Busca rio acima contra o vento. Adaptado de Rebmann (2000).

A busca pode ser rio acima com o vento, sendo que nessa o vento está levando o cheiro
para longe do cão, ele não alertará até estar na redondeza do corpo.

Figura - Busca rio acima a favor do vento, adaptado de Rebmann (2000).

Nas situações em que se está contra o vento, mas a favor da corrente a busca inicia
acima do último ponto conhecido.

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Figura - Busca rio abaixo contra o vento adaptado de Rebmann (2000).

Nas buscas a favor da corrente e a favor do vento o procedimento será similar ao trabalho
executado na situação rio abaixo contra o vento, deferindo o comprimento do alerta e onde é mais
forte. Assim que o cão passa pelo local da vítima, ele alertará de repente. Então o alerta ficará mais
fraco assim que ele se moverá para fora do cone de odor.

Figura - Busca rio abaixo a favor do vento adaptado de Rebmann (2000).

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A temperatura da água não está apenas relacionada ao tempo de submersão do cadáver.


A temperatura influência o quão distante o cão indicará a fonte de odor. Segundo SHIROMA (2012)
em locais, seja um rio ou lago, onde existem grandes variações térmicas entre a superfície da lâmina
da água e o fundo, o cão tende a indicar com menos precisão a localização do cadáver.

Figura- Influência da camada térmica entre as profundidades do ambiente, adaptado de Rebmann (2000).

A Putrefação exerce influência nas ações de busca de restos mortais. Enquanto


o cadáver ainda se encontra submerso, a putrefação ocorre paulatinamente. Quando existe
o contato com o meio exterior (ar), a putrefação ocorre rapidamente, via de regra inicia-se
pelo tórax, face, cabeça e depois progride para todo o corpo, o cadáver fica com aspecto
gigante, similar a um balão inflado. A putrefação ocorre em fases conforme quadros abaixo:

Fas Característica
e
Pri- Pouco tempo depois da morte microrganismos começam a pro-
meir duzir gases dentro do corpo. A taxa de formação de gás de-
a pende da temperatura da água. A profundidade não faz dife-
rença significativa dentro de lagos e rios; é a temperatura que
controla a velocidade de formação de gases. Entretanto, em
água profunda (30-60 metros) a pressão reduz o volume dos
gases, então mais gás tem que ser produzido para criar flutua-
bilidade. A decomposição também é mais rápida se o estômago
estiver cheio.
Se- Durante a segunda fase o corpo começará a flutuabilidade e
gun flutuará para superfície (a não ser que seja obstruído por es-
da combros ou esteja enterrado). Isto depende da temperatura da
água que envolve o corpo. Este processo pode levar 24-72 ho-
ras se água está morna ou meses se a água estiver fria.
Ter- Quando o corpo aparecer, pode flutuar até ser recuperado, ou
ceir pode se desintegrar e afundar, e nunca subir novamente.
a

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Fonte: Rebmann (2000).

PROGRAMA DE TREINAMENTO

O programa de treinamento para buscas aquáticas foi desenvolvido para ensinar aos cães
que a fonte de odor pode estar sob a superfície da água e ensinar aos condutores a observar os
alertas naturais dos cães e principalmente condicionar um forte alerta treinado.

Lembre-se que a essa altura do treinamento, o cão conhece todos os COVs da decomposição
humana. O que vamos fazer, é adaptar, ajustar o trabalho dele ao ambiente líquido.

a) Inicialmente é fundamental a escolha de uma área ao longo da margem (rio, córrego, lago)
para que o cão possa caminhar ao longo dela sem ter de ir diretamente para a fonte de odor. A água
pode ser rasa e com pouca movimentação.

b) Um recipiente contendo o odor deverá ser colocada na água de forma que permaneça na
altura da superfície pode ser usado nos primeiros estágios para dar ao cão algo que possa apontar.

c) Após esse preparo é preciso caminhar com o cão com ou sem guia pela margem.
Começando de uma área mais abaixo no rio do que aquela onde está a fonte.

d) Tão logo o cão olhar para o local onde está a fonte de odor, é preciso recompensar o mesmo
com incentivos e puxar a fonte para fora da água.

e) Nesse momento o cão deve ser encorajado e motivado a cheirar, tocar ou brincar com a
fonte.

f) Essa ação precisa ser repetida várias vezes. A cápsula dá ao cão algo que possa ver.

g) Assim que o cão compreender que o odor se encontra sob a água, pode ser adicionado o
alerta treinado. O cão irá realizar um alerta natural sem que haja treinamento. O Condutor deve saber
a reconhecer a linguagem corporal de seu cão. Em buscas aquáticas pode haver um aumento do
interesse pela própria água, onde o cão irá morder a água (isso acontece porque os cães possuem
glândulas odoríficas no céu da boca), irá tentar cavar a água e morder a guia ou latir. Em contraste,
o alerta treinado é o que o cão é treinado para fazer a fim de mostrar ao condutor que encontrou o

178
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alvo de odor. Preferencialmente latindo

h) Quando trabalhar com o cão em uma embarcação, a fonte de odor poderá ser presa a uma
boia, com lastros à boia para que esta permaneça sob a superfície da água, isso evita que o cão dê
o alerta para a boia.

Abaixo no QR Code, mudança de


comportamento do cão, durante
atendimento de ocorrência, mais tarde
confirmado a presença de cadáver no local

Mudança de comportamento do Cão, demonstrando a presença de

COV

i) Ao final faça a busca às cegas. O figurante depositará a cápsula na água em algum ponto ao
longo da margem (sem recipiente), de forma que você não saiba onde está a fonte. O cão precisa
ser trabalhado ao longo da margem observando os alertas naturais e o alerta treinado.

j) Quando o cão estiver trabalhando de modo efetivo é preciso aumentar a profundidade, a


quantidade de amostras e os dias para a realização do treinamento, tudo isso de forma gradativa.

Chegamos ao final da nossa lição de Restos Mortais, os cães são ferramentas incríveis que
com toda a certeza irão contribuir de forma significativa nas operações de busca de pessoas perdidas
e desaparecidas.

179
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Lição 11

PRIMEIROS SOCORROS

OBJETIVOS

Ao final dessa lição os participantes deverão ser capazes de:

1.Reconhecer as principais situações de urgência e emergência veterinária;

Primeiros Socorros Canino

Esse material vai fornecer algumas orientações técnicas de que você precisa para prestar primeiros
socorros com confiança e ter a possibilidade salvar a vida de um cão. Você aprenderá como lidar com uma
grande variedade de emergências e urgências caninas.

Emergência X Urgência

É importante saber diferenciar as emergências e as urgências. As Emergências exigem atendimento


imediato, pois são situações em que há risco eminente à vida como, por exemplo, nas hemorragias, parada
respiratória isolada, parada cardíaca, envenenamento, atropelamento, choque elétrico, entre outras.

Já as Urgências podem aguardar pelo atendimento, por serem de menor gravidade (piometras, vômitos,
diarreias, convulsões, etc.), porém este atendimento deve ser realizado antes que haja complicações e torne
essa urgência um caso grave.

Abordagem inicial

A avaliação inicial deve identificar lesões que comprometem a vida do paciente e, simultaneamente, estabe-
lecer condutas para a estabilização dos sinais vitais e tratamento destas anormalidades.

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Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Este processo se constitui no ABCDE do atendimento ao traumatizado:

A – (Airway) – Vias aéreas e controle da coluna cervical;

B – (Breathing) – Respiração e Ventilação;

C – (Circulation) – Circulação com controle de hemorragia;

D – (Disability) – Estado neurológico (AVDN e pupilas);

E – (Exposure) – Exposição com controle da temperatura e demais lesões.

A avaliação de cada item implica em perceber as alterações e tomar decisões concomitantes antes de se pro-
ceder ao passo seguinte.

1° Verificar se o animal está consciente, respirando e se há batimentos cardíacos (se existe espuma, sangue
ou objetos na boca ou nariz que possa estar obstruindo as vias aéreas). Se ausentes os sinais vitais inicie
imediatamente as manobras de RCCP, caso os sinais estão presentes continue a avaliação. * RCCP (Reani-
mação Cérebro – cárdio - Pulmonar) a descrição de como efetuar corretamente está manobra em cães está na pró-
xima página.

2° Analise a cor das mucosas (gengivas e parte interna da pálpebra ocular inferior) e o pulso. Observe se
há sangramentos externos. Pape o abdômen para verificar se está flácido ou contraído demais e se o cão
demostra dor a palpação abdominal.

3° Sinta a temperatura do cão colocando a mão no abdômen, se existir duvidas quanto se o cão está quente
ou frio demais, mensure com um termômetro a temperatura retal.

4° Cheque o estado de hidratação.

5° Avalie o restante do corpo para pesquisar presença de ferimentos, fraturas, cortes e inchaços.

Suporte Básico a Vida (SBV):

A – Vias Aéreas: Assegurar funcionalidade das vias aéreas, retirada de corpo estranho se existir.

B- Respiração: Em parada respiratóra isolada, a respiração artificial deve ser iniciada com duas longas
respirações com 1 a 1,5 segundos de duração e de 3 a 5 segundos de intervalo entre as ventilações, 20
respirações\minuto em cães de grande porte e 24 respirações\minuto e cães de pequeno porte.

C – Circulação: O estabelecimento precoce da hemodinâmica, particurlamente do fluxo sanguíneo cerebral é


essencial à manutenção da vida.

181
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Na parada respiratória a ventilação cessa, mas o ritmo cardíaco está normal. Porém, se não revertida
rapidamente, evolui para ritmo cardíaco letal, ocorrendo também a parada cardíaca.

A massagem cardíaca externa consiste na compressão e descompressão da parede torácica e tem como
objetivo restabelecer o fluxo de sangue para todo o organismo, principalmente para o cérebro, miocárdio e
tecido renal. Cães de grande porte torna-se mais fácil comprimir o tórax em decúbito lateral direito. A
frequencia de compressões deve ser de no mínimo 100bpm.

Reanimação Cérebro – Cardio – Pulmonar (RCCP)

A manobra de Reanimação cárdio - pulmonar (RCP) em cães passou a se chamar Reanimação Cérebro –
Cárdio – Pulmonar (RCCP), a alteração no nome ocorreu pelo fato do cérebro precisar duas vezes mais fluxo
sanguineo por grama de tecido que o coração. O objetivo final desta manobra é gerar fluxo sanguineo
oxigenado de forma adequada ao cérebro e ao coração, buscando principalmente manter a integridade do
sistema nervoso central.

A Parada Cardiorrespiratoria leva a perda de consciencia em 10 segundos e as pupilas irão se dilatar e se tornar
fixas em 30 a 45 segundos. A ausência de pulso palpável na artéria femural é o sinal mais específico de parada
cardíaca nos cães. As mucosas ficarão cianóticas pela falta de oxigenação.

Identificar rapidamente uma parada cardiorrespiratória é o primeiro passo para uma reanimação de sucesso.

Em cães quando o ABC deve ser CAB?

Se a via aérea do paciente está patente e a causa da parada cardiaca não é a asfixia; os tecidos podem ter
oxigenação por mais 5 a 10 minutos após a parada respiratória, desde que o fluxo sanguineo seja mantido
pelas compressões toráxicas, e assim nestas condições a sequência ideal de atendimento seria CAB. Devemos
lembrar também que a inalação do ar ambiente é melhor que o da boca do socorrista – (boca a boca) ou (boca-
focinho) no que diz respeito a quantidade de oxigenio e por isso é mais efetivo a utilização de um ambú quando
se é possivel.

Como fazer?

e) Cão em decúbito recomendado (labradores são cães de grande porte e, portanto, o decúbito
é o lateral direito), apoiando as palmas das mãos e mantendo os braços estendidos sobre a
área de projeção do coração (aproximadamente no sétimo espaço intercostal e no terço
médio das extremidades dorsal e ventral).
f) A frequência das compressões deve ser de 80 a 120 compressões por minuto. Uma forma de
comprovar que a massagem cardíaca está sendo efetiva é o restabelecimento de um pulso
femoral palpável e se conseguimos uma miose ou reflexo pupilar normal é um indicativo a
mais da efetividade da Reanimação. Cães menores tem frequências cardíacas maiores.

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g) A ventilação boca – focinho ou com o ambú (de preferencia com oxigênio a 100%) deve ser
de 2 ventilações a cada 30 compressões torácicas se estiverem em dois socorristas. Quando
apenas 1 socorrista a manobra é realizada 15 compressões por 2 ventilações.

Avaliação dirigida:

A Frequencia cardíaca (FCou pulso dos cães variam normalmente de 70 a 120 batimentos por minuto. Os
batimentos podem ser mensurados com o estetoscópio ou com a mão no lado esquerdo do tórax, atrás do
cotovelo. O pulso pode ser mais facilmente mesurado pelo pulso da femural. O aumento dos batimentos
cardíaco é chamado de taquicardia e pode ocorrer em situação de estresse, exercícios físicos, hipovolemia,
febre entre outras. A bradicardia é a diminuição dos batimentos e podem aparecer em casos de algumas
cardiopatias, hipotermia e cães atletas em repouso.

A frequência respiratória (FR) é mensurada pela elevação do tórax e varia de 10 a 30 respirações por
minuto. O aumento da FR ocorre quando o animal está com febre, após exercício físico ou qualquer outra
situação que cause aumento da temperatura corporal ou da frequência cardíaca. A diminuição da FR
geralmente é em casos de sedação e anestesia ou em estados terminais.

A temperatura retal dos cães varia de 38ºC a 39°C e só deve ser considerada alterada quando varia mais de
meio grau centigrado para mais ou para menos. A hipertermia pode ocorrer em em episódios de febre, animais
que ficam em dias quentes dentro do carro, em caixas de transporte, praticando exercícios físicos, exposição
direta ao sol e em caso de privação hidrica. A hipotermia ocorre em condições de temperatura externa muito
baixa, em casos de choque e após hemorragias graves.

A coloração das mucosas é um bom indicador da condição de circulação de sangue e sua oxigenação, para
isso devem ser analisadas as mucosas oral, ocular, vaginal nas fêmeas e prepucial nos machos. Se o cão
apresentar coloração pálida pode estar diante de uma anemia, hemorragia grave ou caso de estresse intenso.
A cianose (coloração azulada) ocorre na falta de oxigenação tecidual, por alteração cardíaca ou pulmonar. A
coloração adequada deve ser vermelho-róseo.

A condição de hidratação pode ser mensurada pela elasticidade da pele, posição do globo ocular e pela
observação das mucosas. Se ao puxar a pele, ela volta rapidamente á posição normal o animal não está
desidratado, já se existe uma demora a este retorno pode-se considerar o animal com certo grau de
desidratação. Pelo globo ocular a observação é feita pela retração do mesmo, se estiver com aspecto de olho
fundo a desidratação está presente.

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Contenção:

Animais feridos, confusos, doentes ou com medo podem morder, por este motivo a segurança do socorrista
deve estar em primeiro lugar e o dimensionamento da cena deve sempre ser realizado.

h) Aproxime-se do cão lentamente, falando em um tom de voz tranquilizador.


i) Chegue perto do cão sem tocá-lo. Passe uma guia ao redor de seu pescoço. Use qualquer material
disponível como uma corda, um cinto ou um pedaço de pano.
j) Se você estiver sozinho, prenda a guia em algum objeto fixo, como uma cerca. Puxe o cachorro para
perto desse objeto e amarre a guia de maneira que ele não consiga mexer a cabeça.
Faça uma focinheira para sua maior proteção com um pedaço de corda, tecido, guia esparadrapo ou outro
produto que não cause lesão ao animal (nunca utilizar arames e fios). Faça uma volta ao redor do focinho do
cachorro e faça um nó simples embaixo do queixo; puxe as pontas para cima e amarre atrás das orelhas com
um laço.

Lembre – se que este procedimento só poderá ser realizado se o cão não estiver vomitando ou com dificuldade
respiratória.

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Se você quer que o cachorro deite de lado

 Fique em pé ou ajoelhe-se de maneira que o


cachorro fique na sua frente com a cabeça a
sua direita.
 Por cima do corpo, segure os membros anteriores
mais perto de você com a mão direita e a pata
traseira mais perto de você com a mão esquerda.

 Empurre as patas para longe de você e deslize o cachorro apoiando sobre seu corpo.
 Segure o pescoço do cachorro para baixo gentilmente com seu braço direito.
 Peça para o seu assistente fazer o tratamento inicial.

Hemorragias

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Hemorragia é a perda de sangue que ocorre no corpo de um indivíduo podendo ser rápida ou lenta, interna
ou externa. Em qualquer ferimento que esteja sangrando o maior objetivo dos primeiros socorros é evitar a
perda excessiva de sangue, que se ocorrer pode levar a um choque hipovolêmico. Os sinais da hipovolemia
incluem gengivas pálidas, taquicardia e taquipnéia. Se um ferimento estiver jorrando sangue, significa que
uma artéria foi rompida e isso requer atendimento profissional imediato.

As hemorragias externas são de fácil visualização e pode ser superficial em casos como escoriações e
pequenos cortes, e serem graves em perfurações, lacerações ou onde artérias e veias são rompidas causando
uma maior perda de sangue. Alguns vasos são atingidos mais facilmente como os vasos das patas, pescoço,
cauda e orelhas. Essas hemorragias devem ser contidas o mais rápido possível, pois a perda de grande volume
de sangue em um curto tempo pode ser fatal.

Tratamento emergencial para Hemorragias:

Se for uma hemorragia pequena ou média que contenham sujidades o ideal é fazer a limpeza deste local antes
de fazer o curativo, este procedimento pode ser feito com água e sabão ou solução fisiológica. Importante ter
sempre o cuidado de ao limpar o local não levar as sujidades das bordas da ferida para dentro da mesma.

Para controlar a Hemorragia use uma compressa ou pano limpo e pressione por pelo menos 10 minutos, se o
sangramento não parar e o sangue encharcar o curativo NÃO o remova, coloque outro curativo por cima e
continue pressionando até parar de sangrar. Se o sangramento não está diminuindo proteja as compressas
com ataduras e fixe com esparadrapo cuidando para não apertar muito e interromper a circulação, e leve
o animal ao Veterinário mais próximo.

Em casos severos de hemorragias em membros pode-se fazer o uso de um torniquete, lembrando


sempre de afrouxar a cada 5 minutos. Em Humanos novas diretrizes foram laçadas, neste caso, de
acordo com as novas diretrizes do manual do PHTLS-7ª de 2016, o torniquete deve ser realizado no
membro afetado logo acima do ferimento. E não deve ser afrouxado até a chegada ao hospital. Não
ultrapassando o período de 120 a 150 min.

Se houver um objeto saindo do ferimento NÃO tente remover o objeto, coloque compressas ou panos limpos
ao redor do ponto de entrada do objeto.

Já as hemorragias internas são de difícil visualização e ocorrem por ruptura de um órgão ou vaso sanguíneo
e portanto é sempre uma emergência grave. Devemos estar atentos aos sinais que o animal com este tipo de
hemorragia vai apresentar: palidez das mucosas, diminuição da temperatura corporal, dor abdominal,
taquicardia e fraqueza, podendo nos casos graves até perder a consciência.

Tratamento emergencial para as hemorragias internas consiste em avaliar primeiramente a frequência


cardíaca, caso os batimentos passem de 150 bpm o cão pode estra entrando em choque hipovolêmico.

Coloque o cachorro de lado com a cabeça estendida, puxe a língua com delicadeza para manter as vias aéreas
patentes à entrada de ar.

Elevar um pouco a parte traseira do cachorro, usando um travesseiro ou toalhas dobradas. Se possível admi-
nistrar oxigênio suplementar em um fluxo de 3 a 5 litro por minuto.

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Conservar a temperatura corporal enrolando o cachorro em um cobertor, casaco ou manta térmica se estiver
disponível.

Manipular pouco o cão e transporta – ló deitado com a cabeça mais baixa que o resto do corpo.

Em todos os casos de hemorragias o cão deve ser levado ao Veterinário.

Convulsões

A crise convulsiva pode ser um sinal de um trauma na cabeça, uma intoxicação por produto químico, a falta
de glicose no sangue, um tumor cerebral, algumas doenças infecciosas ou uma enfermidade como a epilepsia.
Antes da crise o animal pode demostrar ansiedade, pupilas dilatadas e mudança repentina de comporta-
mento. Durante a crise o cão sofre perda da consciência ou foca em um único ponto. Tremores, salivação,
perda do controle em urinar e defecar e movimentos de perna (pedalar) são alguns dos sinais de uma convul-
são. As crises duram em média de 20 segundos a 1 minuto. Se não cessar em 5 minutos, encaminhe-o imedi-
atamente ao pronto-socorro veterinário. Depois que a crise passa o cão fica muito cansado, por isso é normal
que permaneça um bom tempo quieto. Deixe-o em um local silencioso e confortável. Se ele quiser comer e
beber, facilite o acesso.

Os cães raramente se asfixiam com a língua. Evite colocar os dedos perto da boca do cão a menos que seja
absolutamente necessário.

 Se o cão estiver tendo uma convulsão leve, chame a atenção dele; essa medida poderá evitar que um
ataque completo se desenvolva.
 Se o ataque for total, consiga um cobertor ou algumas almofadas para protegê-lo de possíveis traumas
com os objetos adjacentes. Afaste o cão de objetos nos quais possa se machucar.
 Se o ataque parar dentro de poucos minutos, reduza os barulhos e a luz e fale suave com o cão. Man-
tenha outros cães afastados.

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 Se o ataque perdurar por mais tempo, leve o cão imediatamente ao veterinário. Não o envolva firme-
mente em um cobertor durante o trajeto, pois essa medida poderá causar hipertermia.
 Se possível registre o tempo de duração do ataque e o que o cão fazia antes de ele acontecer, isso
ajudará o diagnóstico no caso de ocorrerem outros ataques.

Desmaios:

Desmaios ou síncopes geralmente ocorrem por falta de oxigenação cerebral. Este estado de inconsciência
pode ocorrer em pacientes cardiopatas, idosos, com problemas circulatórios após exercício físico ou até
mesmo por estresse.

Tratamento emergencial:

Verifique se o animal respira e se o coração bate. Afrouxe a coleira e inspecione a cavidade oral para certifica-
se que não há nada obstruindo as vias aéreas. Posicione o cão de uma forma que a cabeça fique em um plano
mais baixo que o resto do corpo, o intuito é fazer sangue oxigenado chegar ao cérebro. Caso não retorne a
consciência massageie o corpo dele com a intenção de estimular a circulação sanguínea. Nunca use
substâncias com cheiro forte para tentar acorda-lo, o olfato do cão é muito desenvolvido e este cheiro não
fará bem a ele. Se tiver oxigenio disponível ele deverá ser usado.

Acidentes Ofídicos

Os cães geralmente são picados no focinho, membros, peito e pescoço. Isto ocorre porque o cachorro
aproxima-se para cheirar a cobra por curiosidade ou mesmo para caça-la. A maioria dos acidentes ofídicos
nos animais domésticos é causada por serpentes dos gêneros Bothrops (jararaca) e Crotalus (cascavel), e com
menor freqüência pelos gêneros Lachesis (surucucu) e Micrurus (coral verdadeira).

O gênero Bothrops é o principal responsável pelos acidentes ofídicos, tanto em humanos


quanto em animais, podendo ser fatal se não for instituído um tratamento específico e rápido. Os
sintomas de um animal picado por uma jararaca se caracteriza por dor, inchaço, manchas arroxeadas,
sangramentos e até mesmo sangue na urina. Casos complicados apresentam gangrena, abcessos no
local da picada e insuficiência renal aguda. Já a Cascavel causa sintomas neurológicos em até 3 horas
após o acidente. A picada de Coral tem como sinais clínicos dificuldade de abrir os olhos, dificuldade
de engolir e insuficiência respiratória aguda. Alguns cães podem chegar ao choque quando grande
quantidade do veneno for injetado pela serpente. Isso depende do tamanho e idade da cobra e se ela se
alimentou a pouco tempo ou não.
A picada é bem dolorosa. O local apresenta as marcas dos dentes que são difíceis de visualizar
por causa dos pelos do cão.

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Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Atenção! Não use torniquete, embora ele evite que o veneno se espalhe, causa aumento de sua
concentração no local afetado podendo ocorrer gangrena e perda do membro afetado. Não coloque
remédios caseiros no local da picada, pois pode causar infecção. Não corte o local da picada, pois o
veneno da Jararaca causa hemorragia e cortando a pele o sangramento irá se agravar.
O atendimento emergencial dos acidentes ofídicos é o mesmo independente da cobra que picou o cão. Como
o único método eficaz contra o veneno é o soro antiofídico, aplique-o caso o possua ou leve o cão
imediatamente ao veterinário para a aplicação do soro. Tente mover o mínimo possível o animal, leve-o em
uma maca, use gelo no local inchado e lave o local da picada com água e sabão. Caso o cão esteja em choque
(temperatura baixa, batimentos cardíacos e respiração acelerada), faça o tratamento emergencial para o
choque e transporte – o ao veterinário rapidamente.

No mercado existem várias marcas de soro antiofídico que são contra jararacas, surucucus e cascavéis. O
volume de soro que deve ser dado depende do fabricante, não está para o tamanho do animal, mas sim para
a quantidade de veneno injetada. Não devemos ir aplicando o soro sob qualquer suspeita de acidente ofídico.
Muitas cobras não peçonhentas podem morder um animal para se proteger, e nestes casos, a aplicação de
soro não se faz necessária. O tratamento se resume na aplicação do soro específico para animais e deve ser
aplicado até 6 horas após o acidente ofídico, podendo ser por via subcutânea quando os sintomas são leves e
por via endovenosa quando o caso é grave. O uso endovenoso deve ser realizado com muita cautela pelo risco
de levar a um choque anafilático em alguns casos.

Lembramos que embora filhotes de cobras tenham um volume pequeno de veneno, este é bastante
concentrado. Não subestime, portanto, os acidentes causados por estes filhotes.
Soro antiofídico polivalente informações: 0800 4007997

Dilatação e\ou Torção gástrica

É difícil aceitar que um cão aparentemente saudável dentro de uma hora esteja lutando por sua
própria vida. A dilatação gástrica é uma condição extremamente séria e potencialmente
fatal. Acontece quando o estômago dilata e roda sobre o seu próprio eixo obstruindo a saída
do conteúdo quer para o intestino quer para o esófago, ficando os alimentos fermentando no
estômago. Isto provoca acumulo de grande quantidade de gás, dilatação do estômago e
promove a entrada de toxinas na circulação. A dilatação do estômago comprime também o
tórax comprometendo a respiração, pode haver também a torção do baço e de vasos
sanguíneos junto com a torção do estômago.
Os fatores de risco para a ocorrência de dilatação e torção do estômago são:
- Ingestão de grande quantidade de alimentos numa só refeição;
- Beber muita água juntamente com a refeição;
- Comer uma refeição rica em alimentos fermentáveis;
- Ingerir ar ao comer muito rapidamente;
- Alterações no esvaziamento do estômago;
- Exercício físico após a refeição.

Os sintomas são:
- Inquietação
- Dor abdominal intensa
- Dilatação abdominal
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- Salivação
- Tentativas de vômito apesar de não conseguir vomitar
- Dificuldade respiratória
- Mucosas pálidas
- Perda de consciência

Para prevenir a torção é necessário ter alguns cuidados com a alimentação, principalmente nos animais de
risco.

É importante dividir a comida do animal em pelo menos duas refeições diárias e não permitir que o animal
beba grandes quantidades de água juntamente com a refeição. Lembre-se de não deixar o saco de ração (ou
outra fonte de alimentação) em local acessível ao cão. Outro erro comum é passear com os animais depois
das refeições e permitir-lhes que corram. O exercício físico intenso após as refeições pode provocar esta
situação.

Asfixia

Geralmente ocorrem por obstrução das vias aéreas, as mucosas podem ficar cianóticas e até mesmo ocorrer
desmaios. Alguns animais podem ter reações alérgicas e pelo edema de glote (anafilaxia) podem desencadear
dispneia e até interrupção total da passagem do ar. Alguns animais apresentam espasmos brônquicos com
ruídos como se estivessem inspirando o ar sem sucesso, neste caso os espasmos brônquicos são pela inalação
de substâncias que lhe causam alergia (perfume, fumaça, etc.).

Tratamento emergencial:

Afrouxe ou retire a coleira, com o auxilio de uma gaze puxe a língua e com uma lanterna inspecione a cavidade
oral a procura de algum objeto que possa estra obstruindo. Se possuir algo obstruindo retira-se o objeto com
o auxílio de uma pinça desde que esteja visualizado o procedimento, nunca empurre. Caso não seja possível
está retirada faça a manobra de compressão do tórax para que o ar de dentro dos pulmões expulse o objeto.

Se ele estiver localizado muito profundamente ou se o animal entrar em colapso; coloque suas mãos em
ambos os lados da caixa torácica e aplique uma pressão firme e rápida. Ou então coloque o animal de lado e
pressione a caixa torácica com a palma da sua mão de três a quatro vezes. Repita esse procedimento até que
o objeto seja deslocado ou até que você chegue ao veterinário. Se o animal ainda puder respirar parcialmente
é melhor mantê-lo calmo e levá-lo ao veterinário o mais rápido possível, do que forçar a saída do corpo
estranho.

Queimaduras (químicas/ elétricas/ por calor)

As queimaduras são lesões da pele, provocadas pelo calor, frio, radiação e produtos químicos. Causam
dores fortes e podem levar a infecções.

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As queimaduras são classificadas em:

Primeiro grau: são queimaduras superficiais que atingem a primeira camada da pele (epiderme).

Segundo grau: mais profunda que a anterior, atinge a epiderme e a derme, há perda de pelos e formação de
bolhas.

Terceiro grau: lesão grave em que toda a espessura da pele é destruída, a epiderme, a derme, vasos
sanguíneos, tecido adiposo, muscular e terminações nervosas.

Tratamento emergencial geral:

Lavar a lesão com solução fisiológica fria e proteger com bandagem úmida e estéril. Não passar produtos como
pasta de dente ou pomadas na região lesada, salvo quando pomadas indicadas pelo veterinário.

Em caso de choque elétrico, antes de qualquer ação faça o dimensionamento da cena e só inicie o atendimento
ao cão após desativar a rede elétrica. Observe se o animal está inconsciente, se respira ou está em parada
cardiorrespiratória. Caso o animal esteja em parada, inicie as manobras de reanimação cardíaca.

Queimaduras químicas:

A queimadura química, normalmente, causa uma queimadura de terceiro grau bem profunda. Vale a pena
salientar que as bases causam uma queimadura bem mais forte que os ácidos.

Tratamento emergencial das queimaduras químicas: Se tiver pó químico caustico é melhor espanar (tirar
mecanicamente, sem agua). Se o químico é líquido é obrigatório irrigar copiosamente com solução fisiológica
ou água no local. Em seguida leve o cão para o tratamento, pois parte do produto pode já ter sido absorvido
pela pele e, portanto causará uma disfunção sistêmica.

Imobilização de Membros

Fraturas

191
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

É importante lembrar que os cães têm alta tolerância à dor e que um membro fraturado às vezes parece
não incomodar tanto como em humanos, assim eles continuam se movimentando podendo piorar a fratura.

Os sinais mais comuns são :

Um membro que parece deformado,


edemaciado, que não suporta o peso do corpo,
portanto o animal não apoia com o membro afetado.
Apalpe gentilmente os membros, flexione
cuidadosamente as articulações a procura do local da
dor, das crepitações e deformações locais.

Fraturas expostas

Cubra o ferimento com curativo estéril e úmido de solução fisiológica ou pano limpo.

NÃO tente tracionar o membro para fazer a tala. Movimente o membro o menos possível, faça uma imo-
bilização como o membro se encontra e leve ao veterinário.

Fratura fechada:

Coloque na posição correta se possível, nunca force, caso não seja possível tracionar imobilize na posição que
encontrou.
Proteja com gaze as lesões se houver e enrole uma atadura de crepom em torno da pata acometida, sentido
de baixo para cima e sem apertar muito para não impedir a circulação correta de sangue. Use talas do tama-
nho do membro acometido, pode ser de madeira, papelão, alfa gesso, ou até mesmo palitos tipo os de picolé
ou jornal se o material adequado não estiver presente. Essas talas devem ficar na lateral e medial a fratura
com o comprimento que imobilize duas articulações, uma abaixo e uma acima da fratura. Se necessários fixe
as talas com esparadrapo e passe mais atadura de crepom. Se o membro fraturado estiver muito deformado
ou se o cão demonstrar muita dor quando você tenta fazer a tala, só proteja com uma toalha e transporte-o
para o local de tratamento especializado.

Atropelamentos e quedas

Múltiplos problemas podem ocorrer nestas emergências, por mais adestrado que o cão seja ele não deve
andar solto nas ruas. Os atropelamentos dependendo do mecanismo de trauma ocorrido podem gerar
rompimentos de órgãos internos, principalmente baço e fígado levando a uma hemorragia interna e ruptura
de bexiga. Contusões pulmonares e fraturas nos mais diversos ossos, bem como lesões de coluna vertebral
também podem estar presentes nestes casos. Deve-se proceder a abordagem completa do animal. Verificar
os batimentos cardíacos e a respiração do cão. Pesquisar hemorragias internas e externas, temperatura
corporal e observar se existem fraturas. Estabilizar as lesões encontradas, prevenir o estado de choque e
transportar da maneira mais estável possível o paciente até o profissional capacitado.

Casos de evisceração, onde os órgãos abdominais são expostos ao ambiente, deve-se agir rapidamente,
pois a cavidade abdominal é livre de contaminação bacteriana e uma vez aberta poderá desenvolver uma

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grave infecção chamada de peritonite. Para estes casos o socorrista deverá com o cão em decúbito lateral
retirar a sujeira dos órgãos expostos com solução fisiológica, com o maior cuidado para não colocar sujeita
dentro da cavidade abdominal. Com campo estéril úmido ou toalha limpa umedecida com solução fisiológica
sobre os órgãos eviscerados fazendo um curativo oclusivo impedindo assim que os órgãos se exponham ainda
mais e mantendo - os aquecidos e úmidos.

Objeto encravado

Se houver um objeto saindo do ferimento, Não tente remover o objeto. Examine o ferimento para ver se
não há pedaços de vidro ou objetos estranhos. Se visíveis,

remova com
os dedos ou
com uma
pinça. Colo-
que panos
limpos ou
compressas
estéreis ao
redor do ponto de entrada do objeto. Faça uma bandagem firme ao redor do ponto de entrada para trans-
porta-lo com segurança.

Engasgamento

Quando um cachorro está se engasgando com um corpo estranho, precisa de ajuda imediatamente.
Quanto mais ele tenta respirar e não consegue, mais entra em pânico. Seu objetivo nesta situação de
emergência é liberar as vias aéreas sem ser mordido.

Os sinais de que o cachorro está engasgado incluem tentar limpar a boca com as patas, língua pálida ou
azulada, agonia evidente ou inconsciência. Se o cachorro estiver inconsciente e você acha que há um corpo
estranho, libere as vias aéreas antes de fazer ressuscitação cardiopulmonar se necessária for. Embora possa
parecer difícil, você pode ajudar um cachorro engasgado ou inconsciente seguindo as dicas básicas abaixo.

Abra a boca do cachorro cuidadosamente, segurando a maxila com uma mão sobre o focinho.

Pressione os lábios do cão sobre os dentes superiores apertando com seu polegar em um lado e os
outros dedos no outro, de maneira que os lábios do cachorro fiquem entre os dentes e os seus
dedos. Aperte com firmeza para forçar a boca a ficar aberta.

Se você consegue ver o objeto, tente removê-lo com seus dedos ou pinça.

Se você não conseguir remover o objeto, segure pelas patas traseiras vire-o de cabeça para baixo e
chacoalhe vigorosamente. Bater nas costas também pode ajudar a mover o objeto.

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Se você não consegue remover o objeto e o cachorro é grande demais para ser erguido, coloque-o
deitado de lado no chão. Faça a manobra diafragmática, coloque a sua mão atrás da caixa torácica
e aperte para baixo e um pouco para frente, com firmeza. Solte. Repita rapidamente várias vezes
até o objeto ser expelido.

Se você não conseguir retirar o objeto, leve o cachorro imediatamente ao veterinário.

Se retirar o objeto e a respiração não voltar, sinta sua pulsação e inicie RCCP caso a pulsação esteja
ausente ou faça respiração artificial se for uma parada respiratória isolada.

Afogamento

Os cães são naturalmente bons nadadores para distâncias curtas, mas podem ter problemas para
nadar por longos períodos. O socorro terá sucesso se o afogamento ocorreu a pouco tempo. Quando não se
sabe a quanto tempo ocorreu, a regra é sempre tentar reanima-lo.

Resgate o cão. Retire a água dos pulmões do cachorro, mantenha-o com a cabeça mais baixa por 15 a 20
segundos para que o excesso de água saia pela boca e focinho. coloque-o em uma superfície inclinada com a
cabeça para baixo para facilitar a saída da água.

Se o cachorro não estiver respirando, sinta o batimento cardíaco colocando os dedos a 5 cm do cotovelo no
meio do peito. Se o coração estiver batendo, faça respiração artificial. Deite o cachorro de lado, estique o
pescoço do cão. Mantenha a boca e lábios fechados e assopre com força pelas narinas. Faça uma respiração a
cada 3 a 5 segundos. Respire fundo e repita até sentir resistência ou ver o peito subir. Se o cachorro não voltar
a respirar sozinho continue a ventilar por ele. Se o cão está em parada cardíaca tente reanima-lo com a RCCP.
Mantenha a temperatura corporal do cão e tente os procedimentos de reanimação por 30 minutos, caso neste
tempo não retorne os batimentos cardíacos dificilmente o cão sobreviverá.

Insolação

A insolação é causada pela incapacidade do corpo de manter a temperatura normal por causa da
temperatura ambiente muito quente. Normalmente acontece quando um cachorro é deixado em um carro
estacionado no sol ou em qualquer área quente e sem ventilação adequada. Cães não possuem glândulas
sudoríparas e, portanto não conseguem suar para diminuir a temperatura corporal. A perda de temperatura
para o ambiente nos cães é feita pela troca de calor quando o ar frio entra pela boca capta o calor e em seguida
sai, é então desta forma, pela respiração, que o organismo começa a resfriar. Por isso cães após exercício e
em dias quentes ficam ofegantes. Há situações que este superaquecimento é tão grande que pode ser fatal.
Ocorre uma disfunção geral pelo fato de que altas temperaturas podem desnaturar enzimas responsáveis por
importantes reações químicas no organismo.

Os sinais da insolação são a sialorréia, falta de coordenação, taquicardia, taquipnéia, vômitos e diarreias
podem ocorrer. O tratamento deve ser imediato. A temperatura corporal pode chegar a 41,5ºC e sem um
resfriamento rápido, podem ocorrer danos graves e até a morte.

Tratamento emergencial:

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Retire o cachorro do local quente.

Coloque o cachorro em água fria ou o molhe com uma mangueira de jardim.

Coloque bolsas de gelo nos locais onde ele tem menos pelos. Controle a temperatura do cão, pois o centro
da regulação da temperatura pode não estar funcionando e o organismo pode esfriar demais e causar uma
hipotermia.

Leve o cachorro a um veterinário imediatamente, casos de intermação são graves.

Inalação de Fumaça ou Monóxido de Carbono

Os sinais de inalação de fumaça ou monóxido de


carbono incluem depressão, falta de coordenação,
respiração ofegante e possíveis convulsões.

Tratamento emergencial:

Se o cão está consciente

Retire o cão do local e coloque no ar fresco imediatamente.

Lave os olhos do cachorro com solução fisiológico ou água limpa. Administre oxigênio.

Se o cão está inconsciente

Retire o cão do local e coloque no ar fresco imediatamente.

Se o cachorro estiver em parada respiratória isolada ventile o cão. Se estiver em parada cérebro – cardio
– pulmonar inicie a RCCP.

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LIÇÃO 12

MANUTENÇÃO CANINA

OBJETIVOS

Ao final dessa lição os participantes serão capazes de:

1. Conceituar imunização básica canina e conhecer seus princípios;


2. Identificar as principais doenças caninas e distinguir seus sinais e sintomas;
3. Descrever atividades físicas que garantam a qualidade de vida de seus cães;
4. Compreenção Básica sobre nutrição Animal;
5. Saber executar os Cuidados de Higiene necessários para manter a saúde canina.

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1 – IMUNIZAÇÃO CANINA
É melhor prevenir uma doença do que tratá-la. Existem doenças causadas por vírus ou bactérias que são incu-
ráveis. Por isso, é importantíssimo imunizar os cães.

IMUNIZAÇÃO – É o ato de vacinar os animais saudáveis para criar uma proteção contra doenças, através
da produção de anticorpos pelo próprio organismo animal.

A melhor imunização acontece quando o filhote recebe no leite materno o colostro, que é rico em defesa que a
mãe passa para o filhote. O ideal é que aos 30 dias ocorra o desmane completo do filhote.
A imunização só tem resultado efetivo se realizada de forma adequada, isso inclui a procedência da vacina, ar-
mazenamento, manejo e aplicação.
O esquema de vacinação deve iniciar ainda nos primeiros meses de vida do cão, em torno dos 45 dias, seguindo
os reforços mensais necessários e depois reforços anuais.
Cada região tem um desafio diferente, pois as doenças têm distribuições regionais distintas. O esquema de va-
cinação deve ser ajustado individualmente, levando em conta a região em que o animal vive, o clima, o tipo de residência
em que mora, lugares que frequenta e o contato com outros animais.

Alguns exemplo possíveis de esquema de vacinação são:

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As vacinas múltiplas ou chamadas polivalentes (V8 ou V10) e a vacina antirrábica são sempre obrigatórias. As
vacinas monovalentes (Giardia, Tosse dos Canis e leischmaniose) são aplicadas dependendo da região em que o cão vive
e o estilo de vive que leva.
Para cães adultos não imunizados, filhotes com mais meses de idade do que se recomenda as primeiras doses
de vacina, e cães que exista a dúvida se foram vacinados, se orienta a realizar a primeira dose de vacina polivalente e um
reforço da mesma vacina depois de 21 dias. E ainda uma dose da vacina antirrábica.
Cães com menos de 45 dias não devem ser imunizados porque a ação da vacina pode ser inativada pelos
anticorpos passados pelo leite materno.
Até que o esquema de vacinação esteja completo não se deve passear com os filhotes pelas ruas ou em outros
ambientes que possam ter cães contaminados com qualquer tipo de doença.

Lembre-se: Há doenças que ficam encubadas nos animais e só tem manifestação tardiamente.

Pode haver efeitos colaterais às vacinas. Estes são chamadas reações pós-vacinais. Os principais sintomas obser-
vados são: febre, sonolência, apatia, falta de apetite e prurido (coceira) no local da aplicação.

A escolha do protocolo de vacinação adequado a cada animal e a aplicação das vacinas deve ser feita pelo
médico veterinário.

2 – PRNCIPAIS DOENÇAS CANINAS

Algumas doenças que afetam a especie canina também podem acometer o ser humano, essas doenças são
chamadas de ZOONOSES.

ZOONOSES - são doenças de animais transmissíveis ao homem.

As principais doenças que acometem os cães são:

 Cinomose.
É causada por um vírus e é a doença infecciosa que mais mata cães. Sua vacinação é obrigatória. Ataca princi-
palmente cães filhotes de 09 a 12 semanas. Quando a doença for identificada é preciso levar o animal imediatamente ao
veterinário, pois quanto antes se iniciar o tratamento melhor o prognostico. A doença é muito severa e o melhor é evita-
la.
Sinais e sintomas- Primeiro estágio: febre, perda de apetite, secreção ocular, vomito e diarreia. Segundo está-
gio: Neurológio, o cão baba frequentemente, sacode a cabeça, pode ter convulsões e tique nervo.

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 Leptospirose
Doença bacteriana passada pela urina de animais infectados. O cão se contamina com o contato dessa urina
infectada com a pele ou pela ingestão de comida ou água infectada. É uma ZOONOSE. Tratamento com antibiótico, e
cuidados intensivos somente por veterinário que deve saber ter os cuidados de não se infectar também.
Sinais e sintomas - Febre, depressão, letargia, perda de apetite, ulcerações na cavidade oral, dor nos rins que
faz os cães andarem encurvados, urina escura, sede insaciável, vômitos e diarreia.
 Parvovirose
Doença viral altamente contagiosa, através do cão infectado ou fômites.
Acomete principalmente filhotes. Se um cão teve parvovirose o seu ambiente de vivência e objetos de uso devem ser
desinfetados com cloro diluído em água.
Sinais e sintomas - Vômito, dor abdominal, febre alta, diarreia hemorrágica aguda e falta de apetite.
 Raiva.
O vírus da raiva entra no corpo através de uma ferida aberta, normalmente na saliva deixada durante uma mor-
dida. Ela pode infectar e matar outros animais, inclusive os humanos. É, portanto, uma ZOONOSE. É recomendada a
eutanásia de qualquer cão com sinal de raiva. Um cão que pareça saudável, mas tenha mordido alguém deve ser mantido
confinado por dez dias para ver se os sinais de raiva se desenvolvem. A vacina é obrigatória.
LEISCHMANIOSE

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Outras Doenças Comuns


 Dermatites – doença muito comum que afeta o tecido cutâneo dos cães. As causas mais comuns são as
alergias (de picada de pulga e atopia), parasitárias (sarna) e micoses. Caracterizam-se por manchas e
vermelhidão na pele e prurido no local.
 Giardíase – causada por um protozoário. Sintomas são fezes pastosas e com odor fétido, vômitos, perda
de peso e desidratação. Pode levar a morte.
 Tosse – causada por inflamação nas vias áreas. Causa tosse seca, podendo evoluir para uma pneumonia.

3 – HIGIENE PARA CÃES

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A falta de higiene traz além de uma queda na qualidade de vida, uma baixa da imunidade.
Os principais cuidados com a higiene dos animais são:

 Banho.
A frequência recomendada varia de acordo com o
ambiente, a raça do cão e o trabalho que o mesmo
executa, mas em geral, para cães de pelo curto como
os labradores um banho a cada 15 dias ou mais no
período de verão e a cada 30 dias no inverno.
 Escovação de dentes.
Ajuda a prevenir o tártaro, halitose e a saúde bucal.
O ideal é a escovação diária, ou pelo menos 3 x na semana. Existem no mercado produtos específicos para a escovação
e pastas de dente para animais.

 Limpeza de ouvidos.
Retirar o excesso de cera e água especialmente depois do banho evita infecções. O ouvido dos cães é em forma de
T, fazendo com que a limpeza possa ser efetuada sem o risco de ferir os tímpanos. Existem no mercado diversos
produtos para a limpeza do conduto auditivo, os chamados ceruminoliticos. Produtos para tratamento de otites
devem ser receitados somente pelo Médico Veterinário.

 Limpeza do canil.
Limpar diariamente o alojamento do cão. A construção deve ser feita a possibilitar um trabalho prático e efetivo de
higienização. Usar água e detergente neutro, ou produtos a base de amônia quartenária. Uma vez por mês limpar com
cloro, mas retirar o cão do local por algumas horas para evitar toxicidade.
 Limpeza de comedouro e bebedouro.
Limpar diariamente. Evita a entrada de microrganismos nocivos no trato digestivo dos cães.

4 – ATIVIDADES FÍSICAS E LÚDICAS PARA OS CÃES

O treinamento diário é fundamental para um bom cão de trabalho.

Os cães são animais que por sua natureza viviam livres e passavam grande parte dos seus dias caçando ou pro-
curando comida. Por isso, ainda conservam uma energia muito grande.
Portanto, precisam ser exercitados para garantir seu bem-estar. Os exercícios ainda ajudam a fortalecer a mus-
culatura, orientar um crescimento saudável e evitar a obesidade.

Caminhadas são geralmente os exercícios mais adequados. São bastante completos e fáceis de executar. Labra-
dores gostam muito também de nadar.

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Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Lembre-se: os exercícios físicos devem ser divertidos tanto para o cão quanto para você.

As atividades lúdicas são uma grande oportunidade para a prática do exercício físico, para a estimulação mental,
para a expressão de comportamentos naturais e para a formação de um forte vínculo entre o homem e seu cão.

Atividades Lúdicas Recomendadas.

 Jogo de buscar (em terra ou na água).

 Jogo de esconder.

 Jogos de correr.

Devem-se ter cuidados com a segurança e com a escolha de brinquedos certos. Substituir brinquedos danificados
para que o cão não consuma partes deles. Nem se engasgue com brinquedos muito pequenos.

5 – ALIMENTAÇÃO ANIMAL

A Ração Seca Completa é a mais indicada para os cães do Corpo de Bombeiros Militar, pois:
1- Simplificam o trabalho da alimentação do cão;
2- É fácil de armazenar;
3- Possuí longo prazo de validade;
4- É mais econômica que se fosse feita alimentação natural com os mesmos níveis de nutrientes;
5- Um único alimento é suficiente para a manutenção da saúde e qualidade de vida dos cães.

Os cães do Corpo de Bombeiros são alimentados com uma ração especialmente selecionada para cães de traba-
lho. Sempre observando o critério mínimo determinado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do
Brasil - MAPA.
Valores de Garantia Nutricionais de Rações Secas Completas de Cães - MAPA.

Hoje existem rações específicas para cada fase de vida dos cães, ex: filhotes, geriátrico (senior), gestantes, adul-
tos, castrados e as rações terapeuticas específicas usadas para cães com doenças crônicas.
Muito importante supelmentar adequadamente a cadela na gestação e na fase de amamentação.
Lembre-se: Cadelas obesas não devem ser acasaladas evitando problemas de gestação e parto.

A água para os cães deve estar disponível todo o tempo.


Ela dever ser limpa, fresca e sem qualquer fonte de contaminação.

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Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Um bom critério para verificar se a alimentação de seu cão está adequada é observar o seu Índice de Condição Corporal
do cão.

Sistema de Índice de Condição Corporal (ICC) para cães.

205
Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Se o seu cão se encontra em alguma faixa extrema ou se você identificar que seu cão está perdendo ou ganhando
escorre corporal de forma muito acentuada é preciso encaminhar o mesmo para um médico veterinário ou um zootec-
nista fazer uma Avaliação Nutricional.

A alimentação equilibrada é requisito fundamental para um estado de saúde excelente do cão.

COMO ARMAZENAR A RAÇÃO SECA

CERTO ERRADO
Depois de abrir o saco, usar no máximo em seis semanas e estando Nunca compre comida de cachorro cheia de
dentro do especificado como data válida para consumo na embala- conservantes artificiais .
gem. Alimentos para cães com conservantes artifici-
Após seis semanas, o valor nutricional do alimento é substancial- ais geralmente tem uma vida útil mais longa
mente menor .No entanto, os riscos destes produtos quími-
cos prejudiciais superam quaisquer benefícios.

CFBCi Revisão 2018 - CBMSC


Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

Sempre guarde a ração em sua embalagem original.Coloque o saco Não retire a ração do saco despejando direta-
inteiro em recipientes hermeticamente fechado . mente em recipientes de armazenamento
1) A embalagem ajuda a proteger do contato com o oxigênio e umi- Esta é uma prática muito comum, mas perigosa
dade. de armazenamento de comida de cachorro!
Depois de alimentar seu cachorro, retire o máximo de ar para fora do 1) gorduras residuais e óleos que se depositam
saco e dobre a parte superior fechando bem e aplique um clipe. no fundo e nas laterais da caixa de armazena-
2) O saco original da ração contém o código de barras, código do lote mento de alimentos pode se tornar rançoso e
e data de validade. Isso identifica o lote específico da ração que você contaminar o novo alimento quando reposto o
está dando ao seu cão. É uma informação muito importante ter em fresco.
caso de um recall ou se você suspeitar de algum problema com a co- 2) produtos químicos prejudiciais de recipien-
mida. tes plásticos podem se infiltrar na comida de
cachorro.
3) Isso aumenta o risco de ácaros de armazena-
mento e contaminação bacteriana, o que pode
levar a uma intoxicação alimentar, vômitos e /
ou diarréia .

CFBCi Revisão 2018 - CBMSC


Curso Formação de Cinotécnicos do CBMSC

LIÇÃO 13 ETOLOGIA CANINA

Instrutor: Ten BM Tiago José DOMINGOS


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1. O QUE É ETOLOGIA CANINA?

Etologia (do grego: ethos, "hábito" ou "costumeiro" e -logia, "estudo") é a área da biologia que
estuda o comportamento animal, de forma individual e em grupo. O termo Etologia e sua área de
conhecimento é relativamente novo, fundada por Konrad Lorenz e Nikolas Timbergen por volta dos anos
1930, mas foi em 1973, quando junto com Karl Von Frish, que suas descobertas e pressupostos para
explicar o comportamento animal se destacaram, quando inclusive receberam o prêmio Nobel de Medicina
por seus estudos.

Antes de mencionar a importância da Etologia para explicar o comportamento dos cães, torna-se
importante enfatizar os pressupostos teóricos e metodológicos que caracterizam essa ciência.

Um primeiro princípio é a concepção de que, a exemplo dos órgãos e outras estruturas corporais, o
comportamento é produto e instrumento do processo de evolução através de seleção natural. Isso implica
em dizer que o comportamento tem função adaptativa (afeta o sucesso reprodutivo) e possui algum grau
de determinação genética. Isto quer dizer que o comportamento é produto da evolução filogenética.

A partir desse pressuposto, os cientistas se deparam com as quatro perguntas fundamentais em


relação ao comportamento:

1. Qual é a função do comportamento (do ponto de vista adaptativo);

2. Qual é a causa que motiva esse comportamento (fatores causais próximos);

3. Como o comportamento se desenvolve ao longo da vida do indivíduo (ontogênese);

4. Como se desenvolveu no decorrer a história evolucionária (filogênese). Essas perguntas irão


orientar o trabalho dos estudiosos dessa área.

Além da contribuição teórica, a Etologia também propiciou grandes avanços no estudo do


comportamento através de contribuições metodológicas. A ênfase na observação e na descrição detalhada
do comportamento, em situação o mais natural possível, foi fundamental para a compreensão do
comportamento de forma mais holística (NISHIDA 2007).

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1.1 Comunicação Canina: Expressão corporal

Os cães se comunicam de muitas formas, não vocalizando como os humanos, mas como animais
sociais, procuraram ao longo do tempo desenvolver formas de comunicação que fossem capazes de serem
interpretadas por outros cães.

A comunicação canina se desenvolveu em diversas linguagens, em certos momentos se expressam


utilizando todo o corpo, em outros apenas com parte do corpo podemos entender seus sentimentos e
mensagens. A seguir, segue uma pequena lista de comportamentos e expressões amplamente utilizadas
pelos cães.

Colocar a pata sobre a perna do dono - Desejo de comunicação, um pedido para alguma outra coisa, ir na
rua, beber água, fome etc.
Lamber - É o gesto canino mais próximo ao que no universo humano se equivale ao beijo. Revela também
um gesto de confiança e aceitação e também agradecimento, cães somente lambem quem confiam.

Cutucar com o focinho - Trata-se de uma tentativa de obter atenção.

Cutucar com as patas - Normalmente ocorre de duas em duas. Pode ser na perna, ou se a pessoa estiver
deitada, em qualquer lugar. Também representa um pedido de atenção. Caso essa cutucada for na porta,
demonstra um desejo ou permissão para entrar ou sair.

Cheirar um determinado local e, posteriormente, esfregar o focinho e a cabeça nele - Comportamento


atávico de defesa contra picadas de insetos. O cão está tentando transferir o cheiro, normalmente ruim, para
si objetivando sua proteção. É bom esclarecer que o cão não tem consciência da finalidade deste
comportamento, mas sente uma necessidade incontrolável em fazê-lo.

Deitar-se na lama - Comportamento atávico de proteção contra grandes felinos. Uma técnica usada pelos

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cães que realizavam combate contra tigres e leões. Depois que seca, a lama mesclada aos pêlos transforma-
se numa carcaça quase impenetrável pelas unhas das garras dos felinos. Outras raças herdaram esse

comportamento.

Cavar buracos para enterrar as fezes - Medida higiênica e de proteção.

Mordiscar - Ato afetivo, carinhoso.

Enfiar sua cabeça sob a mão do dono - Pedido de carinho e atenção.

Sentar-se com uma das patas anteriores levemente levantada - Insegurança.

Urinar - Forma utilizada para marcar seu território, desafiando um adversário, deixando seu rastro para as
fêmeas ou expressando seu desprezo.

Defecar - Provocação.

Ficar empinado, com membros rígidos, movimento lento à frente e em curva, com as orelhas dobradas
para trás ou levantadas em alerta - Desafio e prenúncios de agressividade.

Ficar imóvel, olhar fixo num ponto (presa), com a frente levemente mais baixa e orelhas dobradas para

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trás - Ritual de caça - está pronto para dar o bote e atacar.

Arrepiar os pêlos na cernelha (ombros) e garupa - Medo.

Rosnar, mostrar os dentes abaixando as orelhas - Tentativa de ameaçar quem esteja à frente e afastar.
Último recurso antes de avançar e morder.

Deitar enrolado sobre si mesmo como se estivesse tentando abraçar a cauda e as patas - O cão está com
frio, procurando aquecer as extremidades.

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Deitar de bruços com a barriga totalmente encostada no solo, todo esticado e com as patas para trás
(decúbito ventral) - O cão está com calor, procurando refrescar a barriga.

Rodar em torno de si próprio e olhar para o solo - ritual atávico antes de defecar ou para deitar-se.

Observação: Na floresta o lobo precisava rodar para amassar o mato antes de defecar, evitando assim
que um galho ou fiapo de capim o incomodasse no momento supremo. O cão está, instintivamente,
amassando o mato (mesmo em piso de cimento) para deitar-se ou para evitar as pontas afiadas de capim.

Abaixar a frente, com as patas anteriores estendidas, garupa para cima e a cabeça próxima ao solo - Desejo
de brincar.

Lamber o focinho do outro cão - é um ritual de submissão.

Cheirar a genitália do outro cão - É um ritual de conhecimento, através do cheiro do sexo eles sabem se
devem ou não prosseguir com a disputa da liderança ou, se o outro permitir, funciona como uma
apresentação.

Deitar sobre o dorso e dormir de barriga para cima (decúbito dorsal) - Segurança, tranqüilidade, paz e

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confiança nas pessoas e no ambiente em que se encontra.

Virar de barriga para cima - Ritual ativo de submissão à liderança. Oferecer o ventre é o mesmo que se
render. Aceita o outro como líder sem discutir.

Colocar a pata no pescoço do outro cão - É um gesto de assunção de liderança, desafio. Se o outro aceitar
reconhece a sua superioridade. Se não aceitar haverá a disputa.

Colocar seu queixo sobre o pescoço do outro cão - Tem a mesma conotação de colocar a pata no pescoço.

Montar sobre outro cão de mesmo sexo - Dentro dos rituais de submissão e apaziguamento é o mais
importante e mais definitivo. Se o outro permitir é considerado submisso. Caso contrário haverá uma disputa
da liderança.

Urinar sobre a urina do outro cão - É a forma que um cão tem de desafiar a supremacia do adversário.

Deitar de lado e abrir as pernas exibindo o ventre - Submissão e apaziguamento. O cão está tentando
pacificar os ânimos revelando que não deseja lutar.

Abaixar a cabeça e lamber de baixo para cima, insistentemente, o focinho de outro cão ou encarando uma
pessoa - Ritual de submissão e apaziguamento. É um pedido de desculpas e de trégua.

Ficar sobre as quatro patas, com olhar fixo e uma pata levantada - Interrupção de todos os movimentos e
tentativa de esconder sua presença com muito interesse em objeto ou ser vivo.

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1.2 Sinais de apaziguamento - “Calming Signals”

A comunicação canina, como visto anteriormente, pode ser utilizada através de expressões corporais
para encorajar ações daquele que recebe o estímulo visual, seja um convite para uma atividade ou um pedido
(brincar, comer, um objeto), seja para desestimular uma ações que esteja ocorrendo.

O termo “calming signals”, traduzido na literatura como ‘sinais de apaziguamento’, foi cunhado pela
treinadora de cães Turid Rugaas, especialista em adestramento e comportamento canino com mais de 30
anos de experiência na europa e com uma escola canina na Noruega. Esta profissional analisou
comportamentos que os cães usam frequentemente, mesmo cães que são de origens diferentes, raças, locais
e que nunca se encontraram. Estes comportamentos são utilizados em para permitir que eles possam
conviver em paz, evitando conflitos que causariam danos aos indivíduos e as matilhas.

Os cães são capazes de perceber pequenos detalhes, um leve sinal ou uma mudança ligeira de
comportamento. Eles são capazes de ouvir sussurros e entender a comunicação, não sendo necessários gritos
ou tons nervosos na voz para que haja a comunicação. Ela cita que isso seria como “espantar moscas com
uma pá” (sendo que poderia ser feito apenas abanando as mãos).

A comunicação corporal utilizada pelos cães em direção ao homem é feita pois é a linguagem que
aprendem naturalmente e pressupõem que todos a entendem. Ao falhar em ver que o cão está usando um
sinal de apaziguamento em você, ou até o punir por utilizá-lo, você corre o risco de o prejudicar. Falhar em
“ler” o seu cão, pode atrapalhar os treinamentos, impedindo o progresso ou mesmo o regredindo. Por
exemplo: O condutor João aprendeu que ele deve ser o “alfa” da sua matilha e dominar os seus cães. Ele
supõe que em um papel dominante deve dar comandos fortes, com voz rígida e alta, mostrando que é ele
quem manda. Seu cão pode interpretar a voz firme como uma agressividade, instantâneamente
apresentando um sinal de apaziguamento, informando que não quer conflito e dizendo para que o condutor
pare de fazer o que está fazendo. O cão poderá bocejar, lamber seu focinho e até mesmo olhar para o lado;
o condutor poderá falhar em entender a mensagem, acreditar que o cão não o obedece e, em sua frustração,
o punir. Em filhotes e juvenis, isto pode levar a bloqueios e traumas na comunicação e comportamento.

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Entender a linguagem é necessário e é um dos segredos para uma convivência harmoniosa entre cão
e condutor. Veremos a seguir alguns “sinais de apaziguamento” e como interpretá-los:

Bocejar

Um dos sinais utilizados em uma situação desconfortante para o animal. O cão


poderá bocejar quando aguardando por muito tempo com a guia antes de dar
um passeio, quando aguardando no veterinário e alguém anda em linha reta
em sua direção, quando as sessões de treino são muito cansativas, quando
ouve um “NÃO” por algo que fez e etc.

Em uma situação dessa com vários cães, nem todos podem bocejar,
enquanto um usa este sinal, outro pode lamber o seu próprio focinho e
olhar para trás.

Lamber o focinho

Lamber é outro sinal utilizado normalmente, quase sempre associado a outro sinal.
Podemos considerar um “amplificador” de comunicação, pois os cães os utilizam
(principalmente os de pelagem escura) para chamar a atenção em sua direção,
fazendo com que o interlocutor o olhe com cuidado, às vezes apenas para ser
notado, às vezes para que o próximo sinal não passe despercebido, mas seja
considerado com mais intensidade - após se lamber o cão pode latir pedindo algo, pode se esconder se
abaixando ou virando as costas.

Virar a cabeça

Os cães podem girar a cabeça ligeiramente para o lado ou mesmo totalmente,


virando até o corpo junto. Este sinal é conhecido por quase todos pois é bem
óbvio ao que o cão quer: evitar o contato visual e fugir da situação.

Acontece quando ele se sente ameaçado, quando alguém se dobra sobre ele
repentinamente ou quando está sendo exigido algo que ele não compreende em
uma sessão de treinamento. Na maioria dos casos esta ação acalma um cão que
esteja em frente a ele, que tenha o surpreendido ou esteja tentando algum
conflito.

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O “play bow” - A “reverência”

O cão se abaixa com as pernas da frente, balança o rabo e até


mexe as pernas lado a lado em algumas vezes. Esta posição é quase
sempre respondida da mesma forma, animada, pois é um convite à
brincadeira. É um convite para que se deixe de fazer o que estiver fazendo
(até mesmo uma agressão) e se queira brincar, correr ou se divertir.

Quando dois cães que não se conhecem têm um primeiro encontro, após se cheirarem, o mais
amistoso irá iniciar com este movimento e, se o convite for aceito, logo iniciarão a amizade e brincadeiras,
definindo o limite do toque (com o corpo ou mesmo com os dentes) e a energia da interação.

Estes são apenas alguns dos mais de 30 sinais de apaziguamentos catalogados, mas além destes,
existem sinais que cada indivíduo pode apresentar como linguagem própria, cabendo ao condutor conhecer
o seu cão. A relação entre os dois, sendo íntima como deve ser em um binômio, permitirá que isto aconteça.

Comece a observar o cão em todo novo encontro, com pessoas ou cães que nunca viu. Jamais os
force a encontrar com alguém. Amizades não são forçadas, mas construídas através da comunicação e
tempo, seja entre cães e/ou pessoas. Observar o comportamento do cão permitirá um melhor
relacionamento entre ele e você, assim como entre os outros. A “linguagem da paz”, como são chamados os
sinais de apaziguamento pelos canadenses, é um destes caminhos.

1.3 A linguagem da cauda

A cauda tem uma linguagem própria. Os cães utilizam as caudas para enfatizarem os sinais expressos
pelas posturas facial e corporal, ou vocal. A colocação da cauda em posição erguida está normalmente
associada com dominância e em posição baixa com submissão.
Abanar a cauda não significa só afabilidade. Uma cauda que se encontra alta, combinada com um
ligeiro movimento, indica dominância. Um pequeno movimento com a cauda baixa pode ser uma preparação
para ataque. Os cachorros e os cães jovens podem menear as suas caudas entre as patas para mostrar
submissão incondicional. Este movimento provavelmente dissemina o seu odor despertando os sentimentos
paternais dos adultos, apaziguando-os. Durante o ataque, os cães dominantes colocam a cauda ligeiramente
abaixo da horizontal.
A complexidade desta linguagem vai além do que a maioria das pessoas imagina. Até mesmo o lado
para o qual os nossos cães estão balançando a cauda pode ser utilizado como indicativo de comunicação. No
ano de 2013, pesquisadores da Universidade de Trento, na Itália, realizaram uma pesquisa avaliando se o
lado para o qual os cães balançam a cauda possui relação com respostas emocionai. O resultado foi
surpreendente: faz diferença!

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Um artigo científico foi publicado com o título de “Assimetria esquerda/direita do balançar de cauda
produz diferentes respostas emocionais em cães” e o trabalho foi realizado da seguinte maneira:

Um total de 56 cães domésticos de diferentes raças foram recrutados por meio de propagandas e
convites em hospitais e universidades da Itália. Destes cães, 13 foram excluídos devido a falta total de
atenção, não sendo capazes de observar os estímulos oferecidos, logo a resposta não seria confiável. Eles
foram expostos a 3 estímulos visuais, através de vídeos gravados:

- Um cão balançando a cauda para a direita e também a mesma imagem apenas com a silhu-
eta;
- Um cão balançando a cauda para a esquerda e também a mesma imagem apenas com a
silhueta;
- Um cão sem balançar a cauda e também a mesma imagem apenas com a silhueta.

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Os batimentos cardíacos do cão eram monitorados, assim como as suas alterações de


comportamento, sejam movimentos como alteração nos olhos, lábios, cauda, tensão corporal, orientação do
corpo, levantar, sentar, olhar para outra direção, olhar para o dono, latir, levantar a cabeça, procurar, salivar,
levantar a pata e etc.

Em resumo, os cães demonstraram maior atividade cardíaca e maior número de comportamentos


relativos a ansiedade quando observavam o balançar da cauda para a esquerda, em detrimento do balançar
para a direita. Este achado, de que cães apresentam uma sensibilidade a expressões da cauda de outros cães
suporta a hipótese de relação entre assimetria das funções cerebrais e o comportamento social, e pode se
provar útil para a teoria e prática no bem estar animal canino.

Apesar de registrado cientificamente através deste experimento em 2013, diversos autores já


escreveram sobre os cães utilizando a sua cauda para se comunicar, assim como elas ser um “termômetro”
do humor dos cães. Considerando a anatomia e diferenças entre as raças, os cães apresentam um padrão ao
movimentar a cauda que demonstra quando estão alegres, relaxados e até mesmo com medo:

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1.5 A linguagem das orelhas

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Assim com a cauda, as orelhas dos cães também são ferramentas de comunicação e devem
ser observadas para uma boa leitura das condições do cão, seja para uma boa sessão de treino ou para o
convívio do dia-a-dia.

Apesar dos estereótipos e padrões gerais de comportamento, sempre é importante notar


como cada cão, como indivíduo, tende a se mostrar, quanto ao que gosta, aceita ou rejeita.

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1.5 - Toques no cão - Certo X Errado

Assim como na forma para exprimir sentimentos, as ações caninas podem variar de indivíduo
para indivíduo, a variação ocorre ao receber ações. Atos que podem parecer atrativos e carinhosos para um
cão, podem ser rejeitados e até motivo de irritação para outros.

Observe seu cão com relação aos toques e puxões. Alguns gostam de cafunés e coceiras na
barriga, outros preferem ser tocados nas costas e perto da cauda. A proximidade da cauda pode ser bem
agradável para uns, mais submissos, enquanto os cães mais dominantes e agressivos podem morder as mãos
que tentarem o acariciar.

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O toque é uma boa maneira de recompensar o cão, porém também deve considerar a possibilidade
de machucados ou feridas presentes no local. Mesmo após a ferida estar curada e cicatrizada, o cão pode se
tornar receoso ao toque em determinada parte do corpo, com um trauma psicológico que pode durar dias
ou ser permanente em determinadas raças. Esta parte do corpo do cão deve ser evitada e alertada para
aqueles que forem entrar em contato com ele.

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