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CÃOSENSO – JOHN BRADSHAW

Marina França Ribeiro

Cãosenso, de John Bradshaw, é um livro escrito em defesa dos cães. Tem linguagem simples e clara e seria
muito benéfico aos cães que todos os tutores de cães e profissionais do ramo pet o lessem.

A característica mais valiosa do livro são os fortes embasamentos e raciocínios científicos que o autor usa para
esclarecer sobre o que os cães realmente são, suas necessidades e quais são os desafios ao nível geral de bem-
estar canino no mundo. Com esse fim, são abordados de forma crítica temas como a origem do cão, processo de
domesticação, cognição, emoções, aprendizagem, métodos de treinamento, socialização e as consequências do
endocruzamento excessivo.

O autor escancara a obsolescência da teoria da dominância - um dos embasamentos do adestramento tradicional.


Para tanto, apresenta e interpreta dados de pesquisas envolvendo áreas como genética, evolução, arqueologia e
antropozoologia. Destacam-se, dentre outros, dois motivos importantes para que paremos de tentar entender os
cães com base no lobo atual: 1) A organização social natural dos lobos se dá em estruturas familiares, sendo a
cooperação – e não a dominação – que predomina na alcateia. A ideia de que os lobos se organizavam em
estruturas de dominação e hierarquia baseada na agressão é equivocada, pois foi resultado de estudos
observacionais de agrupamentos artificiais de lobos em cativeiros. 2) Os cães não descendem dos lobos que
conhecemos hoje, mas sim de um ancestral mais domável, já extinto há mais de 10 mil anos. Dessa forma, seria
com esse lobo ancestral que o cão deveria ser comparado em termos de comportamento, e não com o lobo atual.

O livro explora aspectos da aprendizagem canina, aponta os perigos das técnicas de treinamento baseadas em
punição, bem como de deficiências de socialização do cão nos primeiros meses de vida.

Bradshaw também faz um convite à reflexão no que diz respeito à excessiva antropomorfização dos cães. A
crença de que os cães são capazes de refletir sobre atos do passado e sentirem culpa e outras emoções complexas
como vergonha e orgulho é ainda generalizada e repercute muito negativamente na resposta humana à um mau
comportamento canino, por exemplo.

Os problemas envolvendo a atual forma de reprodução comercial dos cães também é fortemente criticado. A
criação baseada somente na aparência e padrões físicos das raças tem deteriorado a saúde dos cães
progressivamente.

Além disso, muitas raças primariamente desenvolvidas para trabalhos específicos, em que determinadas
características eram imprescindíveis, hoje são majoritariamente adquiridas para a função de cão de companhia
e escolhidas geralmente por sua aparência, e não por tais características especiais de trabalho. O autor mostra
como essa distorção tem causado diversos problemas, uma vez que as características antes desejadas para um
cão de trabalho, atualmente, para um cão de companhia, são consideradas indesejáveis. O cão com habilidades
de pastoreio é bem-vindo no campo, mas não na cidade se pastorear crianças e bicicletas.

Por fim, o autor advoga que é preciso mudar radicalmente a maneira como os cães são procriados e criados,
eliminando defeitos de base genética, e favorecendo temperamentos que tornem os cães mais adaptados à sua
função atual mais importante: serem companhias gratificantes.

Com certeza, o adestramento positivo baseado na ciência do comportamento, é um braço fundamental para esta
mudança de mentalidade, principalmente no que toca aos fatores ambientais da construção do
temperamento/personalidade, que sabemos, são seus principais determinantes.

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