Você está na página 1de 50

MARIA CECÍLIA DE SOUZA

Dicionário Do cão

CANINA
LINGUAGEM E
COMUNICAÇÃO
DICIONÁRIO DO
CÃO
2ª EDIÇÃO

AGOSTO DE 2022

MARIA CECÍLIA DE SOUZA

ILUSTRAÇÕES EXCLUSIVAS
Bruna Sanches
QUEM SOU
Sou adestradora especialista "O amor que une
em Comportamento e humanos e cães
Psicologia Canina. Trabalho ultrapassa barreiras de
com cães desde 2016. linguagem,
Pesquiso o tema da ansiedade comportamentos,
canina pelo Departamento de hábitos, rotina e cria
Psicologia da Universidade pontes!"
Federal do Espírito Santo
cursando doutorado.

Gosto de ajudar pessoas


entenderem os cães, sua
linguagem e seus
comportamentos.
Educo famílias e profissionais
que trabalham com cães.
FALE COMIGO:

Também escrevi os livros whatsapp


"Manual do Cachorro Zen" e @mariacecilia.pet
"Como ter Filhotes Felizes e
www.mariacecilia.pet
Educados".

Compartilho meus estudos e


minha rotina com minhas
filhas e meus 3 cães em
minhas redes sociais de forma
lúdica e educativa. Siga para
acompanhar!
CAP 1. SOBRE CÃES E
ÍNDICE

LOBOS

CAP 2. COMUNICAÇÃO
ENTRE HOMENS
E CÃES

CAP 3. COMO SABER


QUE O CÃO ESTÁ
PEDINDO AJUDA?
INTRODUÇÃO

Sei que muitos tutores fazem de tudo pelos seus cães, uma
verdadeira doação de corpo e alma, mas sentem a frustração
de não conseguirem que seus cães lhes entendam e assim não
têm cães tão educados como desejariam.

Mas a partir de agora vamos reverter essa situação, quero


plantar a sementinha da transformação na relação entre essas
duas espécies parceiras há milênios! Apesar dos primeiros
animais a serem domesticados pelo homem terem sido os
cães, uma série de fatores socioculturais e evolutivos influencia
na atual relação entre homens e cães. Esses dias conversando
com um amigo ele me disse em tom de comédia: "tem muitos
e muitos anos que eu não tenho um cão, não sei lidar com
esses cães da geração z" eu ri, mas ele não está de todo errado,
a forma dos homens lidarem com os cães foi mudando de
acordo com o passar do tempo. Do século passado pra cá
mudou muito, trazendo, características novas de relação do
homem com o cão, muitas consequências no ambiente e no
comportamento do dog. Mas também a agitação do mundo
contemporâneo afastou um pouco o olhar humano de
compreensão da natureza. Esse processo complexificou a
relação entre homens e cães. Aqui desejo ajudar a simplificar!

Este e-book faz uma pequena incursão na história da


domesticação dos cães para podermos, então, chegar às
conclusões práticas para nosso relacionamento atual com a
espécie canina.

A princípio eu optei por traçar um pequeno comparativo sobre


cães e lobos para desmistificar algumas ideias em voga que
fazem uma total dissociação entre esses formidáveis animais.
Aqui defendo similitudes úteis para nossa convivência com os
cães domésticos.
Na sequência você tem acesso a um dicionário exclusivo da
linguagem corporal do cão.

E, por fim, uma valiosíssima explicação sobre a natureza


pacífica dos cães. Você vai compreender que muitos sinais
corporais associados à violência se relacionam mais à tentativa
de organizar o ambiente e gerar uma homeostase, ou seja um
equilíbrio.

Seja bem vindo ao universo da comunicação canina!


Espero que aprenda e que sua relação com seu dog se
torne cada vez mais harmônica e equilibrada!
1

SOBRE CÃES E LOBOS

"Lobos, assim como os cães, são


gregários, possuem habilidades
sociais muito bem desenvolvidas.
Talvez seja por isso que alguns
canídeos tenham tido tanta facilidade
de socializar com humanos tornando-
se o primeiro animal doméstico."
Você já ouviu alguém comparandho cães com lobos?

Creio que sim, isso é muito normal. A comparação é válida já


que, em média, 99% do DNA mitocondrial dos cães é idêntico
ao dos lobos e as duas espécies podem até cruzar gerando
descendentes férteis, porém devemos ter cautela na
comparação, pois fatores socioculturais e evolutivos criaram
muitas diferenças que devemos considerar (BRADSHAW, 2012).

Vou começar puxando esse assunto com uma história! Aposto


que você vai se divertir com o caso.

O caso do senhor alfa:

Uma vez um senhor me telefonou indignado com a


desobediência de seu dog. Falou que viu um vídeo meu em
uma rede social fazendo treinamento de obediência com um
bullterrier e imaginou que eu fosse a pessoa certa para lhe
ajudar. Ainda no telefone ele me disse que assistia muitos
vídeos na internet ensinando adestrar cães. Ele queria muito
que o bullterrier dele obedecesse a comandos, marquei uma
primeira visita.

Chegando lá era um senhor de mais ou menos uns 60 anos


que morava sozinho com o cão. Ele era bem falante, falava
muito animado, tinha uma voz grave, um porte atlético, uma
postura bem altiva, era um senhor divertido, brincalhão. Já o
cão estava nos fundos. Quando fui lá nos fundos para conhecê-
lo o cão pulava mais de um metro e meio batendo as patas nos
muros, corria de um lado pro outro, frenético, um típico
bullterrier cheio de energia, o senhor chamou ele umas 5 vezes
e ele veio. Entrei lá no espaço reservado para o dog, ele pulou
em mim, me babou toda, quase me derrubou, o senhor gritava
com ele e nada do pestinha parar, eu só observei. Eu sempre
observo bem a forma com que os tutores lidam com seus cães
antes de qualquer intervenção.
Então chamei o senhor para sentarmos em um lugar tranquilo
para fazer uma anamnese, conhecer a rotina do cachorro e sua
história. Gosto de conversar bastante com o tutor no primeiro
encontro. Foi quando o senhor começou a me contar a saga
para ensinar comandos pro cachorro. Ele começou com a
seguinte afirmação:

- Eu não sei o que está acontecendo, acho que o problema está


no cachorro, ele é meio maluco ou burro, pois aqui em casa eu
sou o lobo alfa e ele parece que não entendeu isso ainda.
Curiosa peço pra ele prosseguir. Como o senhor mostra ao cão
que você é o alfa?

- Antes eu só falava alto com ele e batia na parede um jornal


enrolado, depois vi que não era o suficiente. Eu assisti um
vídeo e aprendi a impor a liderança direito. Eu "mijo" dentro de
uma garrafinha de borrifador e borrifo meu "mijo" onde eu não
quero que ele chegue perto, assim marco meu território.

Ele continua:

- Esse cachorro quase não rosna, é muito dócil, mas nas vezes
que ele rosnou pra mim eu rosnei pra ele de volta. Eu também
sempre como um punhado da ração antes de dar pra ele
comer, pra ele achar que está comendo as minhas sobras.
Esses dias descobri que aquelas encoxadas que ele dá na
minha perna é pra me dominar aí eu comecei a encochar ele
também.

Eu estava séria no início do relato, mas quando ele me disse


essa última frase eu não aguentei ri e, educadamente,
perguntei:

- Mas como o senhor encoxa o cachorro?

Ele me responde:

- Fico por trás dele e monto nele.


Eu rindo ainda, mas mantendo um riso respeitoso:

- De quatro?

Ele:

- É.

E ainda disse empolgado:

- Quer que eu te mostre?

Recusei rapidamente, não queria ver uma cena dessas!!!

Pedi desculpas por rir, ri mais um pouco, falei pra ele parar
com todos esses rituais e a partir daí comecei a conversa sobre
cães e lobos que terei a seguir.

Com ele a conversa foi reduzida, obviamente, aqui vou


aprofundar mais.

Mas só pra não deixar a história do senhor alfa em aberto... No


final da aula eu ensinei o cachorro sentar, deitar e dar a pata
por indução, o senhor ficou feliz, ensinei a técnica pra ele e ele
reproduziu com sucesso. Frisei com ele a importância de
passear com aquele cachorro umas 2 vezes ao dia, o cachorro
passeava corretamente, sem puxar. Era só aquilo que ele
queria, ensinar comandos básicos para o cão. Mantivemos
contato e, de vez em quando, ele me manda vídeo todo
empolgado exibindo o cachorro executando comandos.

QUERO QUE PENSEM:

Por que essa história é cômica?

Por que os rituais do meu cliente lobo alfa eram risíveis?


CONVERSANDO SOBRE CÃES...

Ora, a nossa comunicação com os cães não necessita ser


rudimentar como a do meu cliente alfa, a comunicação entre
homens e cães começou há muitos séculos. Os cães foram a
primeira espécie de animais a serem domesticados pelos seres
humanos. Essa convivência interespecífica (entre espécie
canina e espécie humana) inicia ainda no período paleolítico,
por volta de 100 mil anos atrás (LUESCHER, 2017). Inicialmente
esse processo ocorreu naturalmente e quem tomou a iniciativa
da aproximação não fomos nós!

É chamado de protodomesticação o processo pelo qual os


canídeos se aproximaram por si sós de grupamentos humanos
para aproveitarem o lixo e detritos (GALIBERT et al.,2011).
Adotaram esse hábito alguns animais, dentre os canídeos,
menos arredios, menos agressivos e também menos medrosos.
Mas nessa época ainda não havia uma relação estreita entre as
duas espécies, apenas uma coexistência.

Aos poucos esses animais mais aptos ao convívio humano


foram procriando e gerando características fenotípicas, ou seja,
manifestando elementos genéticos, mais interessantes para os
humanos. Os humanos passaram a se beneficiar do convívio
com os cães, traziam-lhes segurança, as duas espécies
iniciaram uma relação mutualística com vantagens evolutivas
para as ambas (LANTZMAN, 2013). Com os homens os cães
tinham comida e abrigo, com os cães os homens tinham
proteção.

Por volta de 30 mil anos atrás a domesticação de fato


começou a ocorrer, os homens passaram a criar os cães de
forma consciente para atender os seus interesses, aí a
comunicação entre homens e cães se estreita efetivamente. Os
cães além de proteção, aos poucos, vão aprendendo novas
funções como de tração e caça, a princípio.
As facilidades proporcionadas pelos cães aos homens
proporcionaram aos humanos aprimorarem algumas
atividades como a construção e a obtenção de comida. Cães e
homens coevoluiram.

Existem autores que afirmam que essas relações de


protodomesticação e domesticação foram, até mesmo, mais
antigas do que o que eu mencionei! Independente do debate
sobre datas precisas o que nos interessa é perceber que não
descobrimos os cães agora. Vivemos juntos e evoluímos juntos
desde tempos bem remotos. Além de vivermos juntos como
disse, nós coevoluírmos, ou seja, o resultado atual do que é o
ser humano tem a ver com o resultado atual do que é o cão e
vice-versa. Não é à toa que somos melhores amigos.
PRESTE ATENÇÃO:

Devido todo o desenrolar histórico descrito anteriormente os


cães são aptos a entenderem expressões tipicamente
humanas e nós deveríamos ser mais observadores para
também entendermos expressões tipicamente caninas, mas
isso nem sempre ocorre, sobretudo atualmente, com o
fenômeno da humanização dos cães em diversos aspectos de
sua existência. O antropocentrismo é o hábito humano de
enxergar o mundo apenas sob sua ótica e dar sentido e
significado às coisas somente de acordo com seus interesses,
nem nossos melhores amigos ficam livres dessa tendência
egoísta humana. Da mesma forma que não devemos
humanizar o cão e compreendê-los através de uma ótica
antropocêntrica, não precisamos ir ao extremo de nos
"caninizarmos" para sermos entendidos pelos cães, como fez
meu cliente alfa, isso é totalmente desnecessário. Existem
formas mais efetivas de nos comunicarmos e eu vou te ensinar!

Só para exemplificar, os cães são capazes de entenderem até


nossos olhares. Em 2003, foi realizada uma pesquisa
comparando cães e lobos domesticados. Eles tinham algumas
tarefas para executar, problemas para resolver como encontrar
comida, por exemplo, quando os cães encontravam alguma
dificuldade eles rapidamente olhavam nos olhos de seus
tutores para buscar pistas, os lobos agiam autonomamente
(MIKLÓSI et al 2003). Ou seja, cães se comunicam bem
conosco! Até mesmo por olhares.
OLHA QUE INTERESSANTE:

O aprendizado social geralmente é uma forma de jovens


observarem atitudes de adultos de uma mesma espécie e
aprenderem com essas atitudes comportamentos típicos da
espécie. Porém o cão tem uma característica especial que
pode ter advindo do seu longo histórico de domesticação, os
filhotes aprendem bastante coisas observando seus pais, eles
aprendem muito bem por observação, mas eles também
aprendem observando humanos, isso é uma peculiaridade
canina muito relevante para tutores de cães, ao pegarmos um
filhote para criar devemos nos lembrar que eles estão o tempo
todo aprendendo e nos terão como referência!
CONVERSANDO SOBRE LOBOS...

Por que os rituais do senhor alfa não faziam sentido?

Como já disse a comparação entre cães e lobos é comum,


muito fala-se de manter a dominância sob o cão, que o tutor
deve ser o líder da matilha, porém grande parte das
comparações e das aplicações práticas das comparações não
estão corretas, não estou dizendo que não podemos comparar
de forma alguma cães e lobos. O lobo cinza é o que mais se
aproxima das características dos nossos cães. Humanos e lobos
dividiram território por muito tempo e é muito provável que é
desses lobos ou de um ancestral comum que surgiram aqueles
canídeos protodomesticados (GALIBERT et al.,2011), não há
consenso na comunidade científica sobre a relação de origem
entre cães e lobos, mas fato é que são espécies muito próximas
tanto do ponto de vista biológico, como comportamental.

FIQUE LIGADO:

O que não podemos fazer é uma transposição absoluta de


comportamentos, é necessário relativizar a comparação e
traçar as nuances e isso é muito importante. É crucial para não
cairmos em dicotomias desnecessárias como observamos no
mundo do adestramento. Por um lado alguns afirmam que
não podemos comparar cães com lobos, pois são animais
domesticados e outros dizem que basta vermos o
funcionamento de uma matilha para sabermos como lidarmos
com os cães, essas posições antagônicas são fundamentalistas.

Para entendermos os cães precisamos entender os lobos,


todas as características filogenéticas da espécie e também
considerar as influências do processo de domesticação no
comportamento do nosso cão da geração z, como disse meu
amigo.
Os lobos vivem em grupamentos que variam de 4 a 40
membros, existe uma hierarquia bem definida no grupo onde
o progenitor tem a liderança e dominância.

Todavia não existe um espírito de eterna rivalidade e liderança


por agressividade, não vivem em estado de tensão absoluta e
constante duelo por dominância um com outro. Isso é mito.
Então não faz sentido ficar disputando dominância na relação
com seu cachorro, devemos sim ter uma comunicação efetiva
e assertiva, como veremos.

A organização social dos lobos é tão estável, organizada e


harmônica que eles trabalham cooperativamente, caçam
cooperativamente (HOROWITZ, 2012). A caçada cooperativa é
muito inteligente e garante que consigam abater presas até 12
vezes mais pesadas que o predador, no caso, o lobo. Lobos,
assim como os cães, são gregários (RUGAAS, 2006), possuem
habilidades sociais muito bem desenvolvidas. Talvez seja por
isso que alguns canídeos tenham tido tanta facilidade de
socializar com humanos tornando-se o primeiro animal
doméstico. Porém nem todos canídeos têm a mais elevada
capacidade de socialização interespecífica, é o caso dos lobos.

Eu vejo muita beleza na organização da matilha de lobos. Eles


têm traços empáticos entre si, não há exemplo mais lindo de
empatia que os cuidados que o grupo tem com as mamães
lactantes. Há uma ajuda bem grande a essas mães, cuidados
aloparentais com filhotes são frequentemente observados. A
fase de amamentação é um momento difícil para
praticamente fêmeas de todas as espécies. Dentre os lobos,
membros do grupo que não estão nessa mesma, fase dividem
comida, levam a caça para as mamães. Ocorre também de
outras fêmeas lactantes auxiliarem vigiando e amamentando
filhotes das companheiras de grupo quando elas têm
dificuldade na lactação, ou até mesmo para ela poder ter um
momento de caça ou movimentação para necessidades
fisiológicas. Sororidade lupina. Chego a me emocionar.
Para manterem toda essa organização social os lobos se
comunicam muito efetivamente entre si. E com outros grupos
rivais. A comunicação dos lobos se dá, sobretudo, por sinais
corporais e vocalizações. Os sinais corporais dos lobos são
muito intensos, claros e até mesmo, exuberantes (RUGAAS,
2006).

Imagine uma cena de filme onde uma matilha de lobo


enfrenta outra, ou enfrenta um perigo... Eles primeiramente
abaixam um pouco o corpo, andam lentamente com a cabeça
projetada para frente, orelhas pra cima, olhares intensos, a
situação se acentua, a arcada dentária praticamente toda
aparece juntamente com o rosnado. Eles são muito
expressivos! Eles precisam ser expressivos, vivem expostos ao
perigo (RUGAAS, 2006). Na maioria das vezes se expressam por
um instinto de sobrevivência bem bonito, para evitar conflito,
para afugentar o oponente e não haver o combate em si.

Todavia diversos experimentos já foram testados para


comparar as capacidades intelectuais e de aprendizagem
entre lobos e cães, além de investigar a comunicação entre
homens e cães e entre homens e lobos. Diferentemente dos
cães os lobos não se comunicam muito bem com os humanos,
possuem maior dificuldade de entender pistas dadas por
humanos e de realizar tarefas mediadas por intervenções
humanas.

Porém isso não significa que são menos inteligentes, pois em


tarefas que dependem apenas da astúcia do indivíduo, sem
pistas humanas, como encontrar comida escondida, por
exemplo, lobos tem desempenho muito melhor que os cães,
(MIKLÓSI et al. 2003). Lobos apenas não se comunicam tão
bem com humanos como cães, não nos olham face a face.
Enfim...

Os rituais do meu cliente não faziam sentido


simplesmente porque, considerando a hipótese maluca
de que ele e o cachorro dele eram como lobos e que
formavam uma matilha, os métodos da agressão através
dos berros e batidas de jornal, os rosnados, os jatos de
xixi e até o encochamento estão distantes do que lobos
de uma mesma matilha fazem entre si. Existe, na
matilha, mais cooperação, respeito e liderança.

Se liga nisso!

Ser líder não é ser agressivo, é ser exemplar, constante,


maduro, firme, capaz de nortear o grupo. Se lobos
vivessem brigando por liderança cotidianamente, como
fazia meu cliente com seu cão, não faria sentido a
existência de matilhas de até 40 membros, eles viveriam
um ciclo de autodestruição.
2

COMUNICAÇÃO ENTRE
HOMENS E CÃES

"Humanos que compreendem bem os


cães forjam cães que compreendem
bem os humanos."
Os cães compartilham com os lobos a capacidade de se
comunicarem através da expressão corporal. Porém, por
estarem menos expostos ao perigo, cães são mais sutis em
seus gestuais (RUGAAS, 2006). A capacidade de comunicação
dos cães é bem flexível sendo capazes de se comunicarem
com outras espécies animais inclusive com os homens, como
vimos. O cão lê os sinais corporais dos outros cães e dos outros
animais e responde com outros sinais pertencentes ao seu
repertório próprio. Mas é interessante destacar que apesar de
cada espécie animal possuir sua forma própria de se expressar,
grande parte dos mamíferos, além de suas características
específicas, se comportam por mimetismo. Nossos cães desde
bebês nos observam e repetem nossas ações, do modo deles,
lógico!

Acabei de lembrar de uma cena que muito me marcou, queria


tê-la em vídeo. Quando minhas filhas eram bem pequenas,
estavam aprendendo a pular na piscina, na beira da piscina
estávamos eu, as 2 crianças e minha cachorra Malu, uma
filhote de Bullterrier de 4 meses de idade, era a primeira vez
que eu viajava com a filhotinha. Coloquei a boia na Marina e
ela logo pulou, Malu só observava, terminei de colocar boia na
Luíza e ela pulou. Imediatamente após Luíza, Malu pulou!
Repetiu exatamente o mesmo pulo das meninas e foi pra
piscina, ela acreditou que deveria fazer o mesmo, agiu por
mimetismo.

Cães têm uma capacidade incrível de adaptar


comportamentos. Minha Border Collie Gaia, quando está
querendo brincar com o meu Poodle Bob ou com outro cão,
abaixa sua dianteira e levanta o flanco, essa posição é a forma
universal de cães chamarem os outros pra brincarem. O
interessante é que ela raramente faz o mesmo gestual comigo
e com minhas filhas, ela geralmente pega um brinquedo e
joga nos nossos colos ou pés. Isso porque quando ensinamos
ela a brincar íamos com um brinquedo na mão chamá-la pra
iniciar a brincadeira. Isso é mimetismo.
LEMBRE-SE:

Então não é forçoso dizer que o cão retrata o dono. É verdade


que cães possuem uma linguagem própria com um repertório
comunicativo bem definido e universal. Aquele gestual de
convite à brincadeira que Gaia faz com Bob, cães do mundo
inteiro fazem com outros cães. Os padrões de alerta, medo,
ataque, defesa, alegria, calma, dentre outros, são bem fixos. Até
mesmo os tipos de vocalizações querem dizer as mesmas
coisas entre todos os cães existentes! Então não é tão
complicado nos comunicarmos com os cães. O que é
complicado, nos dias atuais, é termos o espírito de observar a
natureza. Estamos tão hipnotizados por mensagens de telas
artificiais que esquecemos as mensagens que a natureza tenta
nos transmitir. Para educarmos um cão é necessário observá-
lo, compreendê-lo e dar respostas que ele também
compreenda.
A capacidade dos cães se comunicarem com os humanos é
sustentada por duas bases complementares, uma filogenética,
que se relaciona com o desenvolvimento do cão enquanto
espécie; e outra ontogenética, que se relaciona ao
desenvolvimento de cada indivíduo canino. Filogeneticamente
falando os cães herdaram de seus antecessores uma
capacidade de interação social muito boa, faz parte das
características próprias dos canídeos interagirem socialmente
de forma eficaz, esse processo ainda se aperfeiçoou ao longo
dos tempos com o processo de domesticação dos cães e de
seleção de indivíduos mais aptos ao convívio social com os
homens.

Do ponto de visto ontogenético crescer em ambiente rico em


interação com humanos, onde os humanos têm uma vivência
de qualidade com o cão, que leem e interpretam os sinais
caninos, que dão respostas adequadas a esses sinais e
estimulam a boa relação entre as espécies, traz como
resultado ao cão a potencialização da manifestação das suas
características filogenéticas e genéticas: a fantástica
capacidade de cães se comunicarem com humanos. Ou seja
humanos que compreendem bem os cães forjam cães que
compreendem bem os humanos!

MAS COMO POSSO ME COMUNICAR BEM COM MEU CÃO?

A primeira condição eu já mencionei, precisamos resgatar a


atitude de contemplação da natureza, tirarmos tempo para
convivermos efetivamente com nossos cães, observar as
movimentações e as vocalizações dos dogs em cada caso e
reagir de acordo com o que a situação pede. A outra condição
é estar preparado para responder devidamente ao repertório
comunicativo canino. É isso que começaremos ver!
DICIONÁRIO ILUSTRADO DA LINGUAGEM CORPORAL CANINA

Aqui vou apresentar para você um verdadeiro dicionário das


expressões comunicativas caninas para te ajudar na missão de
começar a se comunicar bem com seu dog. Conheça alguns
possíveis significados para as atitudes de seu cão.

De frente pra outro cão ou pessoa abaixar a dianteira e elevar o


flanco: 1.chamar para brincar.

Deitar de barriga pra cima: 1.submeter-se; 2.pedir carinho.


Deitar de barriga pra baixo: 1.durante uma sessão de
brincadeira significa que cansou e quer parar ou quer pausar; 2.
no cotidiano significa tranquilidade; 3. quando o cão é
amistoso e percebe um cão com medo se aproximando, deita
para acalmar o outro dog.

Abanar o rabo: 1.demonstra alegria; 2.se for acompanhado de


exitação, corpo contraído, abaixado, arrastando, significa medo
e pedido para ser bem tratado por quem se aproxima ou pelo
animal se aproxima.
Girar junto com outro dog quando o encontra cheirando um o
rabo do outro: 1. respeito mútuo; 2.reconhecimento.

Virar de costas para um cão ou uma pessoa muito exaltados: 1.


ignorar; 2.tentar acalmar os ânimos
Pular Freneticamente nas pessoas: 1.excitação; 2.euforia
excessiva; 3.ansiedade.

Latidos em excesso: 1.rotina monótona; 2 falta de passeio; 3.


falta de socialização com outros cães ou ambiente externo; 4.
ansiedade; 5. resposta de hipersensibilidade a ruídos.
Lamber rapidamente o focinho: 1.significa que o cão está se
sentindo em uma situação desagradável, com a aproximação
de um dog indesejável; 2. está passando por algumas
manipulações que ele não goste ex.: escovação; 3.a retirada de
um brinquedo; 4. contrariedade.

Rabo entre as pernas: 1.medo.


Rabo ereto: 1.atenção, alerta; 2. imposição de presença.

Ladrar e rosnar: 1.insegurança; 2.pedido de afastamento; 3. sinal


de grande de desconforto; 4. aviso de um possível ataque.
Erguer a postura com pescoço bem esticado, rosnar
mostrando os dentes: 1. exigência de afastamento; 2. sinal de
ataque iminente.

Avançar em alguém ou outro cão e morder: 1. sinal de que teve


seu espaço invadido e limite ultrapassado; 2. agressividade;
2.reatividade.
PRESTE ATENÇÃO!

Ao observar o dicionário note que alguns comportamentos


descritos comunicam mensagens de coisas bem positivas,
outros nem tanto. Devemos, em primeiro lugar, observar o cão
e perceber o que ele está querendo dizer com sua linguagem
corporal, após precisamos diagnosticar qual situação ou
antecedente disparou aquela manifestação, por último
darmos a resposta adequada. Tudo isso ocorre em frações de
segundos e passa a ser extremamente automático quando nos
habituamos a ler as mensagens de nossos cães.

Alguns autores sugerem que devemos utilizar os mesmos


sinais de comunicação dos cães para acalmá-los, contudo eu
concordo apenas parcialmente com a informação. Podemos,
sim, aproveitar comportamentos do repertório comunicativo
canino, mas não é a base das nossas respostas aos sinais do
cão. É importante conhecê-los, observá-los para poder
responder adequadamente. Cães entendem os gestuais
tipicamente humanos, entonação de voz, postura, olhares. O
que eu considero mais importante é termos o feeling para não
reforçarmos em nossos cães comportamentos que não
desejamos. É comum cão latir, ladrar, rosnar, ter medo, todos
animais passam por essas situações, nós passamos por essas
situações! Mas não é desejável que um cão seja medroso, que
seja agressivo, que seja reativo, que seja ansioso, que seja
antissocial. Por isso não devemos dar atenção aos sinais que
expressam tais características e sempre valorizar e dar atenção
a sinais opostos aos que possam levar o cão a uma
característica indesejada.
DICA:

Aproveite os momentos de calma do seu cão, valorize a sua


serenidade, a tranquilidade, reforce esses comportamentos.
Quando você estiver nessas situações de interação, de carinho
na barriga, de brincadeiras saudáveis, de calma, de equilíbrio,
olhe nos olhos do seu cão, essa comunicação estreita a relação
e fortalece a amizade. A troca de olhar entre homens e cães é
tão importante para o vínculo entre as duas espécies que,
dependendo do que se comunica com o olhar, desencadeia
uma série de acontecimentos fisiológicos nos organismos
tanto de cães como de humanos. A partir desses
acontecimentos fisiológicos há a produção da ocitocina, um
hormônio ligado ao amor.

A ocitocina é tão potente que dizem que é o hormônio do


amor materno em mamíferos. É o hormônio responsável por
preparar o corpo materno para o nascimento do bebê,
também faz com que a produção de leite se inicie para a
mamãe poder prover o sustento de seu rebento.

E cães nos olham nos olhos, produzem e produzimos


ocitocina, por isso nossa parceria é tão efetiva e afetiva!
A relação da ocitocina com o olhar é tão direta, pois ela fica
armazenada nas terminações dos neurônios do hipotálamo
que é a estrutura do sistema nervoso central responsável por
receber muitíssimas informações do meio externo,
principalmente afetivas, ele faz a conexão do meio externo
com o interno iniciando, sob estímulos, processos fisiológicos
importantes. Ele é responsável por controlar a reprodução,
regulação do apetite, temperatura, homeostase, ou seja,
equilíbrio de funcionamento do corpo. Costumo dizer que
todas as relações mediadas por hormônios geradores de
prazer são muito poderosas, pois fazem com que o corpo
queira sentir novamente aquela sensação proporcionada pelo
hormônio em questão. No caso, tanto o corpo do cão como do
humano. A ocitocina tem uma propriedade antiestressora e
um efeito positivo na formação de laços sociais
(BAUMGARTNER et al. 2008; MEYER, 2008), isso porque já foi
comprovado que a liberação de ocitocina aumenta a
confiança entre dois indivíduos e o sentimentoparecido com o
sentido de filiação (LIM & YOUNG, 2006).

Então muito cuidado com o que vamos reforçar!


COMO SE COMUNICAR COM UM CÃO COM MEDO?

Quando os cães nos passam mensagens de medo diante uma


situação qualquer, devemos entusiasticamente estimulá-los a
passarem pela situação, mesmo com medo, e logo em seguida
que ele sair da postura de medo premiá-lo, com elogios,
petiscos e carinho deslizando a mão suavemente da cabeça ao
dorso, ou dar um tapinha simpático na lateral externa do
flanco, nunca demonstre pena ou piedade ao ver um animal
com medo, passe segurança, é isso que ele precisa.

Provavelmente esse cão não terá mais medo daquela mesma


situação, ou, com algumas poucas repetições da mesma
situação e conduta, o medo extinguirá.

Se for um cão estranho agindo dessa forma com você, pare


sem encarar o cachorro, fique inerte, às vezes ele cessa o
comportamento por aí mesmo. Porém se não cessar olhe pro
outro lado e siga ignorando o cão, aí sim, também vale utilizar
linguagem canina!

COMO SE COMUNICAR COM UM CÃO NERVOSO?

Agora se os sinais forem de agressividade a intervenção precisa


ser mais elaborada e incisiva, se for o seu cão você deverá
interromper o mínimo sinal de agressão. Mas se o cão que
estiver agindo assim for desconhecido por você é melhor
respeitar, ele não quer te morder, mas se precisar ele vai te
atacar. Então afaste-se.
COMO SE COMUNICAR COM UM CÃO MUITO EUFÓRICO?

Se os sinais forem de euforia excessiva como pulos, vire de


costas e mantenha-se assim o tempo necessário, seu cão vai se
acalmar e mudar de comportamento, logo que o cão parar
faça carinho e lhe dê atenção com serenidade, sem agitar
novamente o cão.

COMO SE COMUNICAR COM UM CÃO DESCONFIADO?

Quando nossos cães ficam excitados com rabos levantados ou


rabo e pelos levantados, podemos averiguar o que está
ocorrendo, sem dar atenção para o cão, se for alguma ameaça
de fato, resolva-a, se não for, não olhe para o cão, vire o rosto,
não brigue, simplesmente ignorar faz com que o cão se
apazigue.

O mais importante é sempre manter a serenidade, a postura,


não vacilar, não ser agressivo, nem conivente. Mas sempre
tentar mostrar para o seu cão que você o entende e que está
no controle da situação!
PARA JAMAIS ESQUECER:
A relação comunicativa entre humanos e caninos é muito
linda. Pois, entre nós, humanos, mesmo sabendo que
pertencemos à mesma espécie temos muita dificuldade de
nos entendermos. Imagina como é grandioso conseguir se
comunicar com um ser de outra espécie! Requer uma abertura
amorosa, não egóica, sem as lentes do antropocentrismo.
Compreender os sinais do animal e poder responder à altura
suas demandas me parece o ponto fundamental para uma
boa convivência interespecífica.

Seu cão entende seu olhar, sua entonação de voz, percebe


quando está alegre, quando está triste, quando está ansioso,
quando está bravo, quando está agitado. Muitos cães são tão
encantadores que procuram adotar atitudes para nos acalmar,
nos alegar, nos serenar. Nós também precisamos estar
engajados nessa relação de troca comunicativa e
conseguirmos proporcionar aos nossos dogs os mesmos gestos
de atenção e carinho que eles nos doam.

Amar um cão além de ser um gesto de nobreza é um gesto de


coragem. O amor que une humanos e canídeos ultrapassa
barreiras de linguagem, comportamentos, hábitos, rotina e cria
vínculos. Pontes que devem ser construídas cotidianamente
pelo entendimento mútuo e o desenvolvimento de uma
comunicação efetiva entre duas espécies tão diferentes!
3

COMO SABER QUE O CÃO


ESTÁ PEDINDO AJUDA?

10 SINAIS

"Os cães muitas vezes nos pedem


ajuda através de seus padrões de
comportamentos, é preciso estar
atento!"
1- ELE DESTRÓI OBJETOS DO LAR

Os cães destruidores, sobretudo os cães que cometem essas


destruições na ausência dos tutores, são cães que possuem
algum nível de ansiedade.

Essa ansiedade pode estar associada à falta de passeio, falta de


interação prazerosa e de qualidade com os tutores, falta de
interação com outros cães, falta de brinquedos funcionais que
sirvam para os cães morderem, roerem e destruírem.

A falta de algum desses elementos afeta o comportamento


psicológico natural do cão. Pois eles têm uma natureza
migratória, por isso a demanda de passeio. São animais sociais
que gostam de viver em grupo, por isso a importância de
interagirem com sua família humana e com outros cães. Eles
também são animais que gostam de roer, por isso a
necessidade de brinquedos de roer bem atrativos, para que ele
não fique frustrado e seu sofá ou sua mesa não virem os alvos!

A destruição pode ser, ainda, pela famosa ansiedade de


separação que acontece quando o dog não suporta ficar longe
de seus tutores, por não ter sido ensinado a viver bem com ele
mesmo, ou seja, praticar a solitude. Esse tipo de ansiedade
pode se tornar muito grave e afetar, não só a qualidade de vida
do cão, bem como sua saúde global. Por isso a necessidade de
ensinar o cão sentir-se bem na ausência de seus donos.
2- REAGE COM EXCESSO A
ESTÍMULOS BANAIS

Chamamos esses cães de cães reativos. Cães reativos não estão


em harmonia psíquica e sofrem por não saberem como agir
com tranquilidade. Geralmente, na infância, esses dogs não
foram socializados adequadamente com as diversas situações
cotidianas.

São cães que têm gatilhos banais para reações excessivas


como crises de latidos, rosnados, hiperexcitação corporal ou
tentativa de ataques. Esses gatilhos podem ser o simples
avistar outros cães, pode ser o barulho de uma moto, uma
pessoa passando de bicicleta, um pedestre que passa muito
perto dele durante o passeio.

Ou seja, coisas cotidianas que geram um stress


desproporcional no doguinho.
3- ELE PUXA NO PASSEIO
O cão que fica extremamente eufórico quando vê a guia de
passeio, que sai de casa fazendo muito alarde, que passa o
passeio puxando e tentando direcionar o dono também está
em sofrimento.

Esse tipo de comportamento, mais uma vez, nos revela a


ansiedade. Passeios desesperados, com muitos puxões e
intercorrências só pioram o comportamento geral do cão. Não
ajudam relaxar, ao contrário, aumenta o stress eufórico e a
ansiedade canina.

Passeios precisam ser calmos desde o início. Ao colocar da


guia até a chegada em casa. Um passeio sem puxões se
configura como atividade física e mental para seu cão. Ele fica
mais tranquilo e equilibrado. Além de desenvolver uma
relação de confiança, respeito e de integração com quem o
conduz.
4- ELE FICA SEMPRE EM ESTADO
DE ALERTA.

Muitos cães não suportam ouvir nenhum barulho, seja de


campainha, portas abrindo, elevadores. Ficam antenados a
toda e qualquer movimentação de pessoas. Esses cães não
relaxam e a maioria dorme menos que o recomendado. Cães
dormem, em média, 15h por dia divididas entre longos sonos e
pequenos cochilos.

Estar em alerta constante pode revelar uma insegurança, um


medo enorme de que tenha seu território invadido ou que
aconteça algo que ele não vai saber como reagir.

Muitos cães que estão sempre em alerta em relação a barulhos


também podem possuir hipersensibilidade auditiva. A audição
canina já é bem mais aguçada que a humana, quando o cão
possui hipersensibilidade qualquer barulho fica extremamente
irritante!
5- ELE TEM COMPORTAMENTOS
REPETITIVOS

Se seu cão lambe muito as patas, roda atrás do rabo, pula


freneticamente, se coça o tempo inteiro sem nenhuma causa
dermatológica, se automutila, lambe muito o fucinho, fica
andando de um lado para o outro sem parar, gira em parafuso,
faz sucção do flanco ou caça excessivamente moscas reais ou
imaginárias, ele não está feliz. Esses comportamentos
repetitivos e esteriotipados sugerem que o dog esteja sofrendo
de Transtorno Compulsivo.

O Transtorno Compulsivo pode ter origem genética ou ser


disparado por maus hábitos, erros no manejo e na rotina do
doguinho. Algumas raças tem maior predisposição a
desenvolver Transtornos Compulsivos.

É importante salientar que o Transtorno Compulsivo muitas


vezes vem associado à ansiedade.
6- ELE LATE EM EXCESSO

Latir faz parte do repertório comunicativo dos cães assim


como falar faz parte da comunicação humana. Mas se, por
exemplo, uma pessoa fala muito, fala muito alto, grita à toa,
não consegue ficar calada em ambientes que exigem silêncio,
podemos desconfiar que algo não vai bem com o emocional
daquela pessoa. Muita ansiedade, raiva, stress.

Com os cães ocorre o mesmo. É absolutamente normal cães


latirem, mas não é comum cães dispararem latidos
incessantes, compulsivos, ou desproporcionais.

Podemos classificar os latidos “anormais” de acordo com as


situações nas quais eles ocorrem. Se é um latido excessivo na
ausência dos donos é um sinal de ansiedade de separação, se é
um latido disparado por uma situação banal como a
passagem de um ciclista, é um sinal de reatividade.

Por isso latidos em excesso precisam ser analisados com


seriedade. Não é apenas algo que incomoda os vizinhos e gera
brigas entre condôminos. Pode sinal de estado de sofrimento
canino.
7- ELE NÃO ENTENDE SEUS
COMANDOS

É muito normal que, com o tempo de convivência, mesmo


sem adestramento, o dog passe a entender o que seus donos
esperam dele. Por exemplo, que saiam de dentro de casa
quando solicitado, que não pulem, que venham no “colinho”,
que soltem objetos que não são deles, dentre outros. Porém se
seu cão não compreende o que você tenta comunicar a ele,
pode significar alguns problemas e pode ser que seu cão esteja
infeliz.

Grande parte dos problemas de comunicação está na falta de


clareza por parte dos humanos. Não saber ser claro com o dog
gera um dog perdido e inseguro, sem referência nos seus
donos.

Outros fatores impedem uma boa comunicação, como alto


nível de agitação devido falta de gasto energético em bons
passeios, stress, ansiedade. Tudo isso pode estar por trás da
falta de comunicação.

Mas, também, alguns dogs possuem deficiência cognitiva e


exigem um pouquinho mais dos tutores para que garantam
que ele seja responsivo e não se desoriente na comunicação.
8- ELE NÃO GOSTA DE VIVER EM
GRUPO
Não saber viver em grupo é uma anomalia na natureza canina,
não é o comum. Cães são animais sociais. Nas ruas vivem em
bando, na natureza vivem em bando e os cães domésticos
vivem em bandos multiespécies que envolvem canídeos e
humanos, muitas vezes felinos e aves também.

O cão de companhia com um comportamento harmônico


gosta desse convívio amplo. Se a função dele não for de
guarda, se ele não for um cão de trabalho, significa que algo
não vai bem com seu dog e que ele não está tão feliz como
gostaríamos.
9- ELE É POSSESSIVO
Já vi cães que protegiam um determinado objeto o dia inteiro.
Imagina o stress e a tensão daquele indivíduo. Cães de
companhia, sem treinamento para isso, que protegem objetos
e pessoas com afinco, são cães que não estão felizes.

São cães que passam o dia inteiro ligados, possuem


dificuldade de relaxar, se descontrolam quando perdem ou
sentem a ameaça de perder o objeto de posse. Famílias com
cães assim muitas vezes vivem acidentes decorrentes do
comportamento possessivo do dog. E o dog passa ser o vilão
da história. Mas ao menor sinal de possessividade, seja com
brinquedo, comida ou com algum membro da família,
compreenda: seu cão não está equilibrado. É necessário
intervir para reverter essa situação!
10- ELE É MEDROSO
Cães possuem natureza exploratória, gostam de novidades, de
explorar os ambientes. Contudo temos visto muitos cães que
têm medo de tudo e com isso são reforçados com a
superproteção humana a terem mais medo ainda.

Cães medrosos são infelizes, todavia se colocamos esses cães


em uma bolha, se protegemos todas as vezes que demonstra
medo, estamos piorando a situação e ensinando o cão a ser
cada vez mais medroso, inseguro e transtornado. Se seu cão é
medroso você precisa aceitar o fato de que ele não vai ser feliz
vivendo a vida inteira com medo. Por isso é importante ensinar
os dogs medrosos a superarem seus limites!
SEU CÃO APRESENTA UMA OU MAIS
DESSAS CARACTERÍSTICAS?

É DESTRUIDOR
É REATIVO
PUXA NO PASSEIO
ESTÁ SEMPRE EM ALERTA
É COMPULSIVO
LATE EM EXCESSO
NÃO ATENDE COMANDOS
É ANTISSOCIAL
É POSSESSIVO
É MEDROSO

SE SIM, PROCURE AJUDA!


BIBLIOGRAFIA

BAUMGARTNER, T., HEIRINCHS, M., VONLANTHEN, A., FISCHBACER, U., & FEHR, E. (2008).
Oxytocin shapes the neural circuitry of trust and trust adaptation in humans. Neuron,
58(4), p. 639–650.

BEAVER, B.V. Comportamento canino: um guia para veterinários. São Paulo: Roca, 2001.

BRADSHAW, J. Cão senso. Rio de Janeiro: Record, 2012.

BROOM, D. M., & FRASER, A. F. Comportamento e bem-estar de animais domésticos. 4º


ed. Barueri, São Paulo: Manole, 2010.

COX, J. H. & LENNKH, S. Model Animal Welfare Act: A Comprehensive Framework Law.
Boston: World Animal Net, 2016.

GALIBERT, F.; QUIGNON, P.; HITTE, C.; ANDRÉ, C. Toward understanding dog evolutionary
and domestication history. Comptes Rendus Biologies, Amsterdam, v. 334, n. 3, feb. 2011,
p. 190-196.

GRANDIN, T. & JOHNSON, C. O bem-estar dos animais: Proposta de uma vida melhor para
todos os bichos. Rio de Janeiro: Rocco, 2010.

GRANDJEAN, D & VAISSAIRE, J.P. Enciclopédia do cão Royal Canin. Aniwa Publishing,
2001.

HOROWITZ, A.; A cabeça do cachorro: O que seu amigo mais leal vê, fareja, pensa e sente.
4ª.ed. Rio de Janeiro: Best Seller, 2013.

LANTZMAN, M. Domesticação canina. In: FARACO, Ceres B.; SOARES, Guilherme M. (Orgs.).
Fundamentos do comportamento canino e felino. São Paulo: MedVet, 2013 cap. 2, p. 13-
20.

LIM M.M., YOUNG L.J.. Neuropeptidergic regulation of affiliative behavior and social
bonding in animals. Horm Behav. 2006 Nov;50(4), p. 506-17.

LOPES, KÁTIA REGINA F. & SILVA, ALEXANDRE R. Consideração sobre a importância do


cão doméstico (Canis lupus familiaris) dentro da sociedade humana. Acta Veterinaria
Brasilica, v.6, n.3, 2012, p. 177-185,.

LUESCHER, A. U. Canine behavior and development. In J. K. Martin, Canine and Feline


Behavior for Veterinary Technicians and Nurses. John Wiley & Sons, Inc , 2017, p. 30-50

MANTECA X., M. E. & TEMPLE, D. ¿Qué es el bienestar animal? Disponível em:


<https://www.fawec.org/es/fichas-tecnicas/23-bienestar-general/21-que-es-elbienestar-
animal >. Acessado: 5 de maio de 2021

MIKLÓSI, Á.; KUBINYI, E.; TOPÁL, J.; GÁCSI, M.; VIRÁNYI, Z.; CSÁNYI, V. A simple
reason for a big difference: Wolves do not look back at humans but dogs do. Current
Biology, Cambridge, v.13, n.9, apr. 2003, p. 763-766.

RUGAAS, Turid (2006). On Talking Terms with Dogs: Calming Signals (2nd ed.).
Wenatchee, Wash.: Dogwise Pub. ISBN 1929242360

YAMAMOTO, M. E. Comportamento animal. (2 ed.). Natal: EDUFRN, 2007.

Você também pode gostar