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COMPORTAMENTO ANIMAL

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Sumário

NOSSA HISTÓRIA ................................................................................. 2

1. INTRODUÇÃO .............................................................................. 3

1.1. DEFININDO COMPORTAMENTO .................................................. 5

1.2. QUATRO TERMOS BÁSICOS PARA INICIAR UMA DESCRIÇÃO . 6

2. CIÊNCIA E COMPORTAMENTO ANIMAL .................................... 8

2.1. TIPOS DE ESTUDO ................................................................. 11

3. MÉTODOS DE ESTUDO DO COMPORTAMENTO ANIMAL ...... 18

3.1. FERRAMENTAS BÁSICAS PARA UM ESTUDO


COMPORTAMENTAL EM ANIMAIS ............................................................... 20

4. ANIMAIS MAIS ESTUDADOS ..................................................... 30

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................. 32

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de


empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais,
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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1. INTRODUÇÃO

Uma ciência pode ser definida de diversas maneiras. Como um saber,


conhecimento que se adquire através da transmissão cultural, instrução, leitura
e mesmo pela meditação. Como uma reunião de ideias relacionadas a um
determinado tipo de objeto ou assunto, dados esses obtidos por experimentação,
observação ou conhecimento de fatos. Em geral, o assunto ou objeto investigado
por qualquer que seja a ciência em questão, atende a algum dos interesses
básicos humanos: alimentação, defesa, desenvolvimento, curiosidade. Com o
comportamento animal isso não ocorre de modo diferente. Já os homens pré-
históricos estudavam o comportamento dos animais à sua volta (Fig. 1), seja
para se alimentar ou se defender deles, seja para domesticá-los ou apenas para
conhecê-los.
Figura 1: Domínio do homem pela natureza.

Fonte: https://conhecimentocientifico.r7.com/arte-rupestre-o-que-e-quando-onde-e-por-
quem-foi-feita/
Ao longo de centenas de milhares de anos da história humana, os homens
também buscaram na natureza, respostas para seus próprios atos, individuais
ou coletivos. Nesse sentido, a ciência do Comportamento Animal pode muito
bem ser definida como "um exercício da curiosidade humana na tentativa de
compreensão da sua própria natureza animal."
E que exercício mais agradável! Na verdade, o estudo do comportamento
animal pode ser muito divertido. Ir ao campo, visitar lugares paradisíacos,

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observar beija-flores, macacos, peixes, insetos, baleias em seu ambiente
natural. Tanto para biólogos, quanto para veterinários, médicos, psicólogos e
antropólogos, talvez não haja disciplina nessas distintas áreas do conhecimento
mais acessível do que o estudo do comportamento animal, ou etologia.
Enquanto, um bioquímico ou geneticista precisa de laboratórios muito bem
equipados, de técnicos muito bem treinados no uso de equipamentos complexos
e muito caros, um biólogo comportamental pode com apenas papel, prancheta,
lápis, borracha, alguns pedaços de linha, alguns potes plásticos, pinças,
alfinetes, desenvolver uma tese de doutorado, sobre algo novo, nunca antes
descrito ou estudado. Essa realidade é especialmente verdadeira nos países
tropicais.
No Brasil, por exemplo, onde se encontra a maior biodiversidade do
planeta, a maior parte da fauna de invertebrados é ainda totalmente
desconhecida da ciência, seja do ponto de vista da sistemática, da zoologia, da
genética ou do comportamento. Vamos tomar as formigas como exemplo,
insetos pertencentes a uma única família de himenópteros, Formicidae. Estudos
recentes indicam que são conhecidas aproximadamente 8.400 espécies de
formigas, mas que este número pode chegar a 20.000, sendo a maior parte
composta por formigas tropicais.
Bem, insetos são animais pequenos, relativamente pouco (estudados do
ponto de vista taxonômico. Pense então em macacos, um grupo já muito
explorado. Recentemente três espécies novas foram descritas na Amazônia e
acredita-se que devam existir outras. Dessa forma é fácil perceber que a etologia
é umas das frentes científicas nas quais os pesquisadores de países tropicais
podem se colocar na liderança mundial.
Entretanto, não é fácil. Esta história de que estudar comportamento
animal é uma coisa que qualquer um faz, não é bem assim. Qualquer pessoa,
leiga ou instruída no assunto pode observar o comportamento de um animal,
levantar questões interessantes. Na verdade, grupos amadores de observadores
de aves, borboletas e outros animais têm dado contribuições inestimáveis à
ciência. Mas, atualmente, o estudo do comportamento animal tem desenvolvido
tantas áreas distintas, uma variação tão grande em terminologias específicas
que, muitas vezes, apenas quem está bem preparado, é capaz de compreender
um determinado texto ou participar de uma discussão.

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Cada vez mais o comportamento tem se tornado uma ciência
multidisciplinar, envolvendo técnicas de outras subdisciplinas da biologia como
a bioquímica, genética, botânica, ecologia, além de manipulações experimentais.
Também a matemática, a estatística e ferramentas computacionais e de
engenharia têm sido fundamentais em muitos estudos.
Isso tudo sem falar do inglês, a língua atual da ciência mundial.
Você ainda pode utilizar apenas papel e lápis, isso pode realmente ser o
suficiente, não duvide. Entretanto, é bom saber que já existe, mesmo no Brasil,
pesquisadores que alugam espaço em satélites da NASA, a agência espacial
Norte-Americana, para seguir seus animais de estudo em ambiente natural.

1.1. DEFININDO COMPORTAMENTO

O que é Comportamento Animal?

Tudo que um animal faz pode ser caracterizado como a parte ou totalidade
de um comportamento? Por exemplo, quando um animal se alimenta, isso é
comportamento um animal caçando, outro fugindo, um voando, outro pairando,
um cortejando, outro se esquivando. Tudo isso é comportamento? A resposta é,
sim.
Comportamento pode ser entendido como tudo aquilo que um animal é
capaz de fazer. Mas para que essa definição fique ainda mais completa, temos
que lembrar que os animais podem exibir comportamentos nos quais deixam de
realizar atividades que envolvem movimentações ou deslocamentos. Ao nosso
olhar, parece que não estão fazendo nada. Por exemplo, dormir, hibernar,
congelar-se, fingir-se de morto, o que denominamos tanatose. Mesmo quando
um animal aparentemente não está fazendo nada, esse "não fazer nada",
também representa um tipo de comportamento e tem sua função. No caso da
Hyla geografica, a tanatose serve para enganar seus predadores. Fingindo-se
de morta ela pode, por exemplo, escapar do ataque de serpentes. Assim sendo,
podemos entender comportamento como sendo o conjunto de todos os
atos que um animal realiza ou deixa de realizar.

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1.2. QUATRO TERMOS BÁSICOS PARA INICIAR UMA
DESCRIÇÃO

O comportamento é hoje uma linha de pesquisa muito difundida não


somente entre biólogos, incluindo-se aí ecólogos, zoólogos, geneticistas,
parasitologistas e até mesmo alguns botânicos, mas também entre psicólogos,
veterinários, zootecnistas, médicos e alguns agrônomos. Portanto, é necessário
que, logo de início, façamos algumas padronizações para um melhor
entendimento do estudo do Comportamento Animal e de suas aplicações na
Ecologia Comportamental. Em muitos congressos da área e até mesmo em
textos de revistas científicas que leio ou recebo para revisar ou editorar, com
frequência encontramos alguns enganos no uso de termos descritivos de
comportamentos animais. Vejamos alguns exemplos.
Na figura abaixo, como você descreveria a postura e a posição do animal?
Observe, pense e tente escrever em uma folha de papel, antes de continuar a
leitura.
Figura 1: Beija- flor.

Fonte: https://www.wikiaves.com.br/wiki/beija-flor-de-costas-violetas
1) Postura – Quando falamos em postura, estamos nos referindo às partes
do corpo de um animal, em relação a ele mesmo. Assim sendo, o beija-flor
apresenta postura normal de pouso, ou seja, está apoiado sobre um substrato
(normalmente um ramo), com as asas fechadas, o corpo perpendicular ao

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substrato (postura “ereta”), com a cabeça direcionada para sua frente e o bico
fechado.
2) Posição – Quanto à posição, podemos dizer que o animal está
apoiado, ou pousado, sobre o ramo de uma árvore. Na descrição da posição,
procuramos indicar agora a relação entre as partes do animal e o habitat, o
substrato mais próximo, um referencial do meio.
Obviamente, é difícil separar postura de posição na descrição de um
comportamento e o modo mais simples, geralmente o mais correto para
descrever o animal da foto. Seria simplesmente: “o beija-flor está pousado sobre
um ramo vegetal”, sendo o termo “pousado” referente à postura e a expressão
“sobre um ramo” relativa à posição do mesmo.
Isto pode lhe parecer uma grande bobagem, mas é realmente comum
encontrarmos em textos científicos, ou em painéis de congressos, confusões
como: “o beija-flor está posicionado com as asas fechadas, numa postura frontal
a uma árvore com flores”, o que constitui uma inversão total do correto uso dos
termos descritivos básicos do comportamento.
Vejamos agora outros dois termos de uso muito comum. Analise a foto
abaixo e tente descrever o comportamento do animal, não apenas quanto à
postura e posição, mas também, quanto ao movimento e deslocamento
executados
Figura 2: Gavião caracará parado e em movimento.

Fonte: https://aprenda.bio.br/zoologia/gaviao-carcara-curiosidades-
caracteristicas-fotos/

3) Movimento – A palavra movimento deve ser empregada no sentido de


descrever mudanças de postura, ou seja, das partes do corpo de um animal, em
relação a ele mesmo. Assim, se o gavião mexe o pescoço, abre e fecha suas

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asas, ele está se movimentando. Mas, se o gavião levanta voo a partir o
termiteiro, ele não apenas se movimenta, mas também se desloca.
4) Deslocamento – O deslocamento considera as mudanças de posição,
ou seja, do animal em relação aos substratos ambientais. Esses dois termos
costumam ser usados de modo trocado, com muito mais frequência do que você
imagina. Muitas pessoas, erroneamente, descreveriam este comportamento
como, “o gavião se movimentou em voo para longe do termiteiro”, por exemplo.
Algumas pessoas consideram um preciosismo de nossa parte quando
insistimos no correto uso dos termos etológicos. Aprenda uma coisa: o capricho
em uma descrição, o uso de uma linguagem correta e a precisão da redação são
elementos decisivos, que irão aumentar as chances de seu texto ser bem
entendido, do sucesso na transmissão de sua mensagem e, finalmente, de um
trabalho seu ser aceito para publicação. Se, no passado, alguém se deu ao
trabalho de padronizar uma linguagem científica, em qualquer que seja a área
do conhecimento, nós devemos, por respeito e responsabilidade, acatar e utilizar
essa linguagem, ou questioná-la e apresentar uma nova proposta.
Essas padronizações costumam contribuir de modo positivo para um
melhor entendimento entre pesquisadores, para uma melhor compreensão dos
estudos científicos e para evitar que um mesmo comportamento, comum ou
estereotipado, seja descrito diversas vezes, por diferentes pesquisadores,
tomando um enorme espaço editorial e, muitas vezes, causando grande
confusão. Vamos dar um exemplo de uma grande vantagem da padronização de
alguns termos. O uso do termo tanatose. Para quem já estuda comportamento
não precisaria dizer mais nada, pois a pessoa já saberia que o animal estava se
fingindo de morto, ou em imobilidade tônica. Em se tratando de um anfíbio, a
mais comum das tanatoses ocorre em decúbito dorsal, com membros retraídos,
boca e olhos fechados. Trata-se, portanto, de uma descrição de cinco a seis
linhas de texto, que podem ser resumidas em uma única e precisa palavra. Mais
adiante, vamos tratar de repertórios comportamentais ou etogramas, nos quais
a importância desses termos será ainda mais evidenciada.

2. CIÊNCIA E COMPORTAMENTO ANIMAL

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- A CIÊNCIA

O comportamento animal fascina muitas pessoas. É um objeto de estudo


muito visível e que faz parte do mundo de qualquer um, levando a indagações e
tentativas de respostas desde bem cedo da formação infantil. Além desse caráter
de curiosidade, o comportamento animal é assunto de interesse científico, onde
se procura entender sua forma, suas causas e consequências. Neste capítulo
discorro sobre as bases mais gerais da ciência, procurando mostrar o que é
“fazer ciência do comportamento animal”. Para isso, recorro várias vezes às
minhas próprias publicações nas áreas de Metodologia e Redação Científica,
onde procuro analisar as questões mais gerais do prisma particular de quem
exerce a prática da investigação científica. Utilizo também algumas das
pesquisas desenvolvidas em meus laboratórios, buscando com isso mostrar que
os pontos de vista aqui apresentados são, antes de tudo, partes integrantes da
vida cotidiana de um cientista comum, mais do que exceções presentes apenas
nas obras clássicas da história da ciência. Evidentemente, autores e obras
clássicas não foram desprezados, mas reduzidos ao mínimo essencial.
Embora a compreensão do comportamento animal contemple uma série
de abordagens, a mais frequente é a científica, que procura entender as leis do
comportamento animal a partir da observação de fatos considerados, até certo
ponto, “concretos”. Ou seja, cada explicação que se dá ou cada lei que se
enuncia deve estar baseada em evidências que podem, de certa forma, ser
consideradas de aceitação universal. Se quisermos relacionar o estudo do
comportamento animal com a ciência, necessariamente temos que entender o
que é ciência.
Essa necessidade de contrapor as ideias com constatações empíricas
(dados concretos do mundo real) é uma característica da Ciência Moderna e que
tem sido o principal responsável pelo seu desenvolvimento. Enquanto na
abordagem filosófica sejam aceitas conclusões apenas pela coerência interna
do discurso, sem incluir necessariamente evidências factuais, na científica é
necessário que as conclusões possuam uma base empírica (no sentido de “fato”,
“concreto”, “algo observável”) (Russel 1977). Assim, o cientista não pode
simplesmente dizer que acha que tal coisa seja de determinada forma. É
necessário mostrar “fatos” (evidências) que sustentam essa afirmação. É a tal

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da história do “matar a cobra e mostrar o pau”. Embora essa abordagem seja
passível de crítica, pois nem todo o universo necessita se acomodar a esse
pressuposto, a prática da ciência tem mostrado vantagens interessantes desse
método.
A tecnologia é um dos ramos do saber humano que muito se vale desse
viés científico. Quando ligamos um interruptor e a lâmpada acende, percebemos
que algo de correto deve haver nas teorias elétricas pressupostas nesse sistema.
Da mesma forma, quando viajamos de avião e temos a grata percepção de que
ele não caiu, percebemos também que algo de correto deve haver nas muitas
teorias pressupostas na aviação. É essa confrontação entre o teórico e o
concreto, o prático, o observável (mesmo que em escala diminuta) que dá ao
conhecimento científico um status diferente e que permite que tecnologias
funcionem. Aliás, dentro das abordagens humanas (ciência, filosofia, religião,
arte e loucura – vide Volpato 2007b), a ciência é a única que fornece
sobremaneira conhecimento que gera tecnologia. Nesses quase 400 anos da
utilização desse viés do método científico, o desenvolvimento tecnológico foi
imenso e isso não foi ao acaso. A consistência que esse método dá aos
conhecimentos gerais elaborados é bastante razoável, embora saibamos que
método algum garantirá a verdade de qualquer enunciado teórico (Feyerabend
1996).
Outro aspecto interessante da atividade científica é que se baseia
geralmente em constatações de casos passados para aventar ideias sobre
casos futuros. Esse processo de generalização é conhecido como indução19, no
qual se parte de observação de casos particulares para se generalizar sobre um
todo maior, gerando uma conclusão probabilística. Por exemplo, você observa
uma amostra de ratos e conclui sobre a população dessa espécie. Nessa
conclusão você deu um salto de uma amostra para um grupo maior. Essa
amostra é limitada e pertence ao passado (você já observou), mas sua conclusão
é válida para a espécie, que pertence ao passado, presente e futuro. Ou seja, na
ciência ninguém descreve o comportamento de alguns animais por causa desses
animais, mas sim para entender as leis do comportamento aplicáveis a grupos
maiores (por ex., uma população ou uma espécie).

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2.1. TIPOS DE ESTUDO

Na busca por uma ciência do comportamento animal, o cientista precisa


mais do que conhecer os comportamentos. Tem que saber o que significa fazer
ciência e como construí-la. A seguir descrevo os principais tipos de pesquisa
científica: o que descreve situações e o que testa hipóteses. Ambos são
necessários e importantes para a ciência. Mas envolvem propostas e métodos
diferentes. Mostro a contribuição de cada um na construção da rede de
conhecimentos científicos sobre o comportamento animal. Ressalto que os
dados coletados nada significam, a menos que o cientista lhes dê sentido e faça
que esse sentido seja aceito pela comunidade científica. Assim, fazer ciência do
comportamento é contar histórias, mostrar um discurso coerente e embasado
em fatos acerca do comportamento dos animais. É mais que relatar um caso; é
buscar as generalizações (as leis) subjacentes aos casos observados. É essa
preocupação que separa o pesquisador do cientista. Enquanto o primeiro
pesquisa e “levanta” informações, o segundo as entende e, com isso,
compreende parte da natureza biológica.

- Estudos Descritivos: a Morfologia do Comportamento

Muitos iniciantes no estudo do comportamento animal se deslumbram


pela morfologia dos comportamentos. Querem saber o repertório
comportamental de determinada espécie (geralmente se empolgam com um tipo
de animal). Desse desejo, partem inevitavelmente para descrições
pormenorizadas desses comportamentos, coletando dados em várias situações,
muitas vezes preferindo as observações em condições de natureza. Descrevem
detalhadamente os comportamentos que observam (mesmo que com auxílio de
filmagens).
Essa é geralmente a primeira etapa do estudo do comportamento.
Conhecer os padrões motores do comportamento de escavar de um cachorro,
ou a dança nupcial de um peixe, ou ainda o comportamento de ingestão de água
de uma ave, é similar ao se conhecer a estrutura de um órgão ou a taxa de

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incidência de uma doença numa população. Você apenas descreve o que vê,
mas precisa estar certo da validade dessa descrição.
Por serem estudos descritivos de uma situação, não há necessidade do
cientista elaborar hipóteses a priori. Ele pode simplesmente observar e concluir.
Nesse caso, prever antecipadamente o que será visto de nada adianta. Por
exemplo, podemos imaginar que o comportamento a ser observado terá três
itens comportamentais, exibidos numa determinada sequência, sendo o primeiro
item o mais frequente. Essa elucubração teórica de nada adianta frente às
observações que você faz, pois seus dados coletados não apenas testam essa
ideia, mas também já fornecem a resposta a ser aceita. O que guia a metodologia
a ser empregada é a pergunta e não a hipótese. Além disso, se tal hipótese é
derrubada, temos a conclusão do estudo, que decorre da descrição que testou
a própria hipótese. Por essa razão, é imperativo que os estudos descritivos que
buscam caracterizar um comportamento não usem o recurso metodológico de
elaboração de hipóteses, pois elas de nada adiantam nesse caso.
O fato desses estudos não necessitarem de hipóteses não implica que
sejam simples, pois podem evoluir para a construção de conhecimento científico
(generalizações). Envolvem planejamento e cuidado com detalhes que, do
contrário, comprometeriam toda a validade das descrições realizadas. Por
exemplo, imaginemos que você descreveu o comportamento de um indivíduo de
certa espécie de pássaro. Por mais detalhada que essa descrição tenha sido
feita, ela vale para aquele indivíduo. Saber o quanto o comportamento desse
indivíduo representa o comportamento das outras aves dessa espécie é outra
questão. Todos nós sabemos que certas aves migram. O comportamento típico
dessas espécies inclui a migração em certas condições. Nessas populações,
cada indivíduo se comporta de uma mesma forma quanto a essa característica,
mesmo que possam existir exceções. Portanto, enquanto descrevemos o
comportamento de um animal, estamos procurando caracterizar o
comportamento de um grupo maior. Essa caracterização tem sentido para a
ciência. Conhecer que a cachorrinha “hag” descansa todos os dias no período
da tarde sobre determinado sofá pode ser de relevância para seu dono; mas só
será de interesse aquilo que representar algo válido para um grupo maior de
cachorros. Isso é razoável, pois certamente a cachorrinha “hag” morrerá algum
dia e, com ela, esse conhecimento que só tinha significado em relação a ela.

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Mas o conhecimento gerado e relativo ao grupo maior (por ex., a raça)
permanecerá válido até que seja negado. Portanto, os estudos que buscam
descrever o comportamento dos animais, pelo simples prazer de descrevê-los,
no contexto científico são válidos apenas se fornecem generalizações sobre a
população, a espécie, o gênero etc. Isso é parte da ciência do comportamento
animal.
A próxima questão é saber o quanto o comportamento de um indivíduo
pode representar um grupo maior. Evidentemente, estamos falando de
amostragem, mas tudo depende do estágio de conhecimento em cada caso
específico. Se tivermos apenas um relato do comportamento de alimentação de
um exemplar do pássaro amazônico uirapuru, que sabemos ser raramente
encontrado, não podemos descartar essa informação simplesmente porque foi
feita em um único exemplar. Enquanto não tivermos mais dados, nossas
conclusões devem ser baseadas nesse relato. Logicamente, teremos a cautela
suficiente para não imaginarmos que todos os uirapurus necessariamente se
comportarão da mesma forma que o caso observado... mas, se tivermos que
apostar, certamente apostaremos com base no caso observado. Da mesma
forma, casos assim raros são raros!
Evidentemente, na maioria dos estudos descritivos do comportamento
animal o cientista tem meios para planejar sua coleta de dados. Ele planeja a
forma como vai escolher os indivíduos para observar (amostragem), de forma
que representem adequadamente a população à qual quer se referir. Por
exemplo, se essa população possuir uma proporção sexual de 1:1, então sua
amostra deverá manter uma relação igual ou bem próxima a essa. Caso
contrário, o comportamento de um dos sexos estará prevalecendo, causando um
viés no estudo. Da mesma forma, se quisermos conhecer o que os universitários
brasileiros pensam do atual governo federal, teremos que fazer essa pergunta a
universitários de várias instituições, incluindo públicas e privadas, turmas do
noturno e do diurno, escolas das várias regiões do país, vários cursos etc., de
forma que a amostra investigada represente de forma adequada o perfil da
população para a qual será direcionada a conclusão.
Com os cuidados metodológicos necessários, o cientista estará em
condições de concluir para um grupo maior a partir das observações pontuais
que fez. Assim, se descrevemos um etograma para determinada espécie,

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estamos na realidade procurando descrever o conjunto de padrões
comportamentais de um grupo (população, espécie).
Lembre-se que para fazermos ciência precisamos ir além dos dados
coletados, fazendo inferências sobre um todo bem maior; no caso, uma
população ou espécie.
Teresa & Gonçalves-de-Freitas (2003) descreveram o comportamento
agonístico do ciclídeo Geophagus surinamensis, um peixe amazônico,
mostrando os tipos de comportamento que ocorrem nas confrontações
intraespecíficas. Eles mostraram que os comportamentos descritos são iguais
aos relatados para outras espécies de ciclídeos, indicando aí uma generalização.
Mas vão além, porque observam que um dos comportamentos descritos não foi
ainda relatado nessa família (Cichlidae). Trata-se de um comportamento em que
o animal ataca o oponente com uma mordida na parte lateral do corpo e, em
seguida, passa acima ou abaixo desse peixe e deflagra mordida no outro lado
do corpo. Ao considerarem isso um padrão diferente e concluírem que não foi
relatado em outros ciclídeos, estão construindo generalizações para além da
amostra observada.
Do contado com vários estudantes do comportamento animal, tenho
percebido que os estudos descritivos do comportamento têm sido relegados a
um segundo plano. Isso não deve ocorrer, pois é como qualquer outro estudo na
ciência. Parte de evidências pontuais (os casos observados), chegando a
generalizações. Esse processo é exatamente o mesmo que ocorre nos outros
estudos que serão discutidos à frente. A única diferença é que a elaboração
metodológica pode ser, muitas vezes, mais simples, onde o cuidado principal
está na amostragem e nas técnicas de observação. Mas essa é principalmente
uma diferença de aparato, mais do que de método de estudo ou qualidade da
conclusão.
- Testes de Hipótese: Investigação das Relações entre Variáveis

Uma outra categoria de estudos procura responder perguntas sobre


causas e condições nas quais os comportamentos ocorrem. O cientista na área
biológica está envolto em um conjunto de variáveis, que podem ser: temperatura
ambiental, canibalismo, fase do ciclo circadiano, níveis hormonais, ingestão de
alimentos, qualidade da água, velocidade do vento etc. Embora essas variáveis

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possam ser agrupadas considerando-se as bióticas (canibalismo, níveis
hormonais, ingestão de alimentos) e as abióticas (temperatura ambiental, fase
do ciclo circadiano, qualidade da água e velocidade do vento), essa divisão tem
pouco sentido num panorama mais geral da metodologia científica. O que
importa são as relações lógicas que se supõe entre elas, pois são essas relações
que direcionam todo o trabalho científico, da pesquisa à publicação. Há apenas
dois tipos fundamentais de associação entre as variáveis que são investigadas
pelo cientista: associação sem interferência de uma variável sobre a(s) outra(s)
e associação com interferência entre elas (Volpato 2007a, 2007b, 2010a,b,
2011).
Nos estudos de associação, o cientista procura saber se o comportamento
de uma variável pode ser explicado por meio do comportamento da outra
variável. Por exemplo: o aumento do número de igrejas numa cidade pode ser
um indicador de aumento do consumo de combustível na população? Ao que me
consta, espera-se que não sejam as igrejas que estejam fomentando o uso de
carros. E o uso de carros... estaria incentivando os atos religiosos? O mais
provável é que algum outro fator esteja aumentando tanto o número de igrejas
quanto o consumo de combustível. Nesta última possibilidade, não existe
qualquer associação de interferência entre as variáveis investigadas (igrejas e
consumo de combustível), sendo a relação entre elas explicada pela existência
de algum outro fator que as sincroniza. No caso, esse fator sincronizador poderia
ser o aumento da população. Aumenta-se a população, eleva-se o número de
fiéis potenciais, com incremento do número de igrejas para atendê-los. Da
mesma forma, aumenta-se o número de pessoas com carros, o que leva ao
aumento do consumo de combustível. Em outro exemplo, podemos associar o
período de maior atividade de uma espécie de caranguejo de mangue com a
maior atividade de determinada espécie de peixe desse local. No entanto, essas
espécies podem não interagir entre si e a sincronia precisa ser explicada de outra
forma. Por exemplo, pela interferência de algum temporizador interno (relógio
biológico) presente nas duas espécies e sincronizado com os movimentos de
maré.
No outro caso de relação temos a associação com interferência entre as
variáveis, onde o comportamento de uma variável claramente interfere com o
comportamento da outra. Neste caso faz sentido classificar o conjunto de

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variáveis em independentes (as que interferem) e dependentes (as que são os
efeitos). Essa classificação é natural, pois descreve uma ocorrência natural de
uma causa levando a algum efeito, ao contrário da classificação entre variáveis
bióticas e abióticas descritas mais acima. Por exemplo, o metabolismo de um
animal aquático pode interferir na qualidade da água; mas a qualidade da água
também pode interferir no metabolismo desses animais. Nesse caso, o sentido
dessa relação entre “fator interferente” e “efeito” (quem é causa e quem é efeito)
será dado pelo interesse do cientista, dentro de sua pesquisa. Assim, se for
interessante a ele investigar como os peixes podem poluir certo ambiente, tratará
o metabolismo desses animais como variável independente (causa) e a
qualidade da água como variável dependente (efeito).
Um princípio importante a ser ressaltado nessa problemática é que se
houver relação de interferência, haverá associação entre as variáveis. Porém,
fica claro que a ocorrência de associação não demonstra existência ou não de
interferência entre elas, mas sua inexistência permite concluir que a interferência
não ocorra. (vide Volpato 2010a,b, 2011). Observem ainda que muitos estudos
na natureza se valem de análises de associação para discutirem interferências.
Nesses casos, dados adicionais devem ser adicionados da literatura para se
melhor embasar a relação suposta.
Essas duas relações, com ou sem interferência, são as de maior interesse
na pesquisa biológica. Evidentemente, podemos subdividi-las em outras
categorias, mas de interesse para o norteamento da pesquisa e da construção
do texto científico são essas duas categorias (Volpato 2010a,b, 2011).
Então, parte do estudo do comportamento animal será direcionada para o
entendimento das relações entre variáveis, sejam elas quais forem. Observem
que aqui o cientista não está preocupado em descrever as variáveis (como no
primeiro caso discutido), mas sim em entender como se relacionam com outra(s)
variável(eis). O conhecimento gerado será a relação entre elas. Obviamente,
nesses estudos muitas vezes o cientista terá que descrever algumas variáveis,
mas essa será apenas uma etapa intermediária para seu objetivo maior. Por
exemplo, se o interesse for conhecer se doses subletais de determinado
inseticida podem afetar o comportamento de determinada espécie, a pesquisa
se concentrará em descrever o comportamento dessa espécie em condições
sem o inseticida para comparar com descrições desse comportamento em

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situações de contaminação com diferentes doses do inseticida considerado.
Caso as outras condições potencialmente interferentes (por ex., tamanho dos
animais, temperatura ambiente, estresse etc.) sejam consideradas similares
entre os grupos a serem comparados, as variações nos padrões de
comportamento entre esses grupos serão atribuídas ao agente interferente
“inseticida”. Nesse caso, o estudo envolveu a descrição do comportamento, mas
o objetivo ultrapassava essa constatação, pois envolvia compará-las para se
decidir se o inseticida altera esse comportamento. Ou seja, descrições sempre
ocorrerão, mas o estudo pode ser muito diferente dependendo do objetivo do
cientista (descrever para generalizar para um grupo maior ou descrever para
testar relação entre variáveis).
Embora eu tenha enfatizado as causas mais próximas do
comportamento, aquelas que estão presentes durante a fase de vida desses
animais, há delineamentos experimentais que permitem avaliar as causas
últimas do comportamento, como elegantemente detalhado em Dawkins (1995).
No primeiro capitulo desse livro, Dawkins mostra quatro estratégias para
investigar as interferências do processo evolutivo no comportamento animal, de
forma que se possa entender um dos “por quês” do comportamento. Mas mesmo
nesses casos, estamos tratando de relações de interferência. Portanto, não
importa o quanto o agente interferente esteja distante, mas sim o fato de ser uma
interferência.
Embora eu tenha enfatizado a construção científica de generalizações a
partir de observação de fatos (processo de indução), o método dedutivo é
igualmente válido. O cientista elabora hipóteses e deduz delas predições, que
são expectativas que devem ocorrer caso a hipótese esteja correta. Ou seja, a
hipótese (ideia) vem antes da coleta de dados. Por exemplo:
Hipótese: no pintado, Pseudoplatystoma corruscans, a comunicação
química é uma modalidade sensorial usada na comunicação intra específica de
estados de alerta.
Predição: exemplares de pintado recebendo água de co específicos em
condição de alerta reagirão com resposta de alerta.
A partir daí, o cientista usa uma estratégia experimental para avaliar se
nas condições preconizadas a predição ocorre. Caso ocorra, terá corroborado

17
sua hipótese (mas nunca confirmado, pois sempre dependerá de algum dado
futuro – vide Popper 1972). Se não ocorrer, certamente terá falseado a hipótese.

3. MÉTODOS DE ESTUDO DO COMPORTAMENTO ANIMAL

- COMO INICIAR UM ESTUDO DE COMPORTAMENTO ANIMAL?

Faz parte da condição humana fazer perguntas e procurar respostas. A


pesquisa científica começa com a elaboração de perguntas, podendo incluir a
elaboração inicial de respostas provisórias (hipóteses). Por exemplo, considere
a questão e as respostas provisórias abaixo: Pergunta: Por que o motor do carro
não está funcionando?

Hipótese 1: Porque a acabou a gasolina Hipótese


2: Porque a bateria está descarregada.

Podemos facilmente testar as duas hipóteses propondo maneiras de


investigar qual das duas está correta. Para testar a primeira, basta checar se o
tanque de combustível está vazio. Se não, podemos rejeitar a primeira hipótese
e partir para a segunda, por exemplo, trocando a bateria velha por uma nova. Se
o carro funcionar, podemos concluir que o carro não estava funcionando devido
a alguma falha elétrica. Observem que a hipótese direcionou o que observar ou
fazer (olhar o tanque ou trocar a bateria), com isso auxiliando na pesquisa sobre
a pergunta inicial.
E no caso do estudo do comportamento, como realizamos uma
investigação cientifica? Igualmente, devemos formular perguntas. As ideias
revolucionárias de Konrad Lorenz sobre bases biológicas do comportamento
animal foram experimentalmente demonstradas por Nikolaas Tinbergen. Ambos,
junto com Karl Von Frisch (que contribuiu com pesquisas sobre a fisiologia do
comportamento), marcaram a fundação de uma nova ciência chamada Etologia
e foram laureados com o Prêmio Nobel de Medicina ou Fisiologia em 1973. Em
1929, Tinbergen estava preparando a sua tese de doutorado e estava fascinado
com o comportamento das vespas escavadoras (Philanthus triagulum), cujas

18
fêmeas capturavam e transportavam abelhas que serviam de alimento para as
larvas que eram criadas em ninhos subterrâneos.
Todas as vezes que a vespa deixava o ninho, ela fechava a entrada e
depois de 30 a 60 minutos retornava em meio a várias outras entradas de vespas
vizinhas, sem nunca errar a entrada da sua própria toca. Tinbergen já havia
constatado que, durante as primeiras saídas do dia, a vespa voava bem acima
da própria entrada e fazia voos circulares antes de partir para a caçada.
Intrigado, Tinbergen se perguntou: Que fatores são importantes para a
vespa reconhecer a entrada do seu próprio ninho? Então lhe ocorreu a seguinte
hipótese: o sobrevoo que a vespa faz antes de sair à caça serve para
memorização de referências espaciais próximas à entrada do ninho, que servem
de sinalizadores no momento de retorno ao ninho.
Ensaiou a sua hipótese predizendo que, se as referências espaciais
fossem modificadas, a vespa ficaria desorientada e teria dificuldades para
encontrar sua própria toca ao retornar da caçada. Convencido de que estava no
caminho certo, precisava testar essa hipótese através de uma investigação
experimental. Primeiro Tinbergen esperou que as vespas deixassem o ninho e,
então, removeu cuidadosamente as supostas referências espaciais da entrada
do ninho (gravetos, tufos de gramas etc.). Ao voltar com a presa capturada, ao
invés de pousarem certeiramente na abertura do ninho como faziam
regularmente, as vespas voaram várias vezes em círculos logo acima da
entrada.
Após algumas tentativas, apenas uma ou outra vespa conseguiu achar
corretamente a entrada. Esses dados sugeriram a Tinbergen que, de fato, essas
vespas utilizavam referências espaciais para localizar a entrada do ninho. Em
seguida, ele delineou um outro experimento: assegurou-se de que a vespa
estava dentro da toca e colocou várias pinhas formando um círculo ao redor da
entrada. Como de costume, a vespa fez voos em círculo e saiu para a caçada.
Antes que ela voltasse, Tinbergen refez o arranjo circular de pinhas, colocando
as próximas à entrada real do ninho, mas sem circundá-lo. Quando a vespa
retornou, foi direto para o centro do círculo de pinhas, onde estaria a entrada do
ninho.
Desse modo, a hipótese elaborada por Tinbergen foi elegantemente
testada e corroborada. Em resumo, a pergunta feita por Tinbergen gerou

19
hipóteses, as quais nortearam os objetivos de sua pesquisa, seus delineamentos
experimentais e a coleta de dados comportamentais. Esses dados corroboraram
a sua hipótese, esclarecendo assim aspectos sobre os mecanismos de
orientação espacial da vespa cavadora. Conforme salientado no capítulo
anterior, o estudo do comportamento envolve também pesquisas que não
precisam testar hipóteses; nesse caso o interesse é saber como é o
comportamento, ou seja, conhecer sua descrição enquanto fenômeno natural.
Isso é importante porque antes de quantificar o comportamento, devemos saber
como ele é. Nesse caso, embora sem hipótese prévia, a amostragem correta é
fundamental.

3.1. FERRAMENTAS BÁSICAS PARA UM ESTUDO


COMPORTAMENTAL EM ANIMAIS

Muitas dessas ferramentas são conhecidas, outras apresentam variação


em tamanho, forma e aspecto, dependendo da utilização. O destaque maior será
dado aos materiais mais simples, mais baratos e que se pode obter facilmente.

Nas observações sobre cada item será comentado as novidades,


equipamentos eletrônicos etc. Vamos listar o que seria bom ter em nossa
mochila de campo.

Material de Registro:

a) Caderno de campo ou de laboratório – Sim, isto mesmo: caderno, lápis


e borracha! Olha, não conheço lugar melhor para fazer as anotações iniciais e
elas devem ser feitas com um lápis preto, macio. Assim, não apaga com a água,
caso seu caderno tome chuva, ou caia numa poça d’água ou mesmo num riacho.
Já pensou no seu computadorzinho dentro de um aquário? Escorregou da mão!
Pois é. Lá se foram seus dados. Nos trópicos, chuvas torrenciais podem cair a
qualquer momento e não há aparelho eletrônico totalmente seguro contra as
forças da natureza. Uma rápida inversão térmica, comum na base de muitas
montanhas europeias, pode simplesmente inutilizar muitos equipamentos
eletrônicos, temporária ou permanentemente. Assim como, o calor escaldante

20
dos desertos ou das savanas africanas. Eu gosto muito de cadernos com arame
espiral, pois dá para retirar mais facilmente páginas com anotações erradas.
Além disso, são mais fáceis de virar as folhas e permitir a transcrição das
informações para as planilhas eletrônicas no laboratório. Pranchetas com folhas
e tabelas de campo podem substituir o caderno. Para quem trabalha diretamente
na água, uma placa de PVC branca também pode servir de caderno e você pode
escrever nela com lápis comum.

Dicas importantes:

► Se você tem boas condições econômicas e sabe fazer uso de equipamentos


eletrônicos, pode substituir o caderno de campo por um palm-top, notebook ou
similar. Mas fique atento às circunstâncias da natureza (rios, lagos, poças,
intempéries) e aos imprevistos (possibilidade de quedas, tombos).

► Ter cópias é fundamental. Por isso, grave sempre seus dados de campo,
tabelas, fotos e planilhas, num pen-drive ou dois (pendrives costumam falhar).
Sempre faça cópias de seus dados de campo e guarde-as em lugares diferentes.

► Baterias novas (carregadas, obviamente) são equipamentos básicos.

► Outra informação interessante: já há no mercado papéis à prova d’água e


canetas que escrevem até embaixo d’água.

► Ah! Dinheiro também é um bom equipamento.

b) Gravador – Um gravador portátil pode ajudar muito, inclusive substituindo o


caderno de campo algumas vezes, embora exista o inconveniente de obrigá-lo
a transcrever as informações e o risco de algum barulho confundir o que foi dito
por você. O gravador pode ser muito útil para captar sons dos animais também.
Hoje em dia, há inúmeros modelos, de vários tamanhos e preços. Escolha o mais
preciso, com melhor tempo de duração da bateria, de menor tamanho e mais
silencioso.

Dicas importantes:

► Hoje, muitos aparelhos de MP3, MP4, telefones celulares etc., permitem


gravar sons, mas existem equipamentos específicos para a gravação de sons de
aves, anfíbios e animais aquáticos, por exemplo. Muitas vezes você vai precisar

21
acoplar ao equipamento um microfone direcional ou um hidrofone (microfone
subaquático).

► Esses equipamentos são bem mais caros e, quando o uso for eventual ou
esporádico, é sempre bom buscar a parceria com colegas que já os tem. Não
desperdice recursos financeiros, adquirindo bens materiais supérfluos ou cujo
uso não será extensivo. Aprenda a compartilhar com os colegas.

c) Câmera fotográfica e filmadora – Há uns dez anos atrás, uma boa câmera
fotográfica, com conjunto de lentes macro (para fotografar animais pequenos,
detalhes de flores, por exemplo) e teleobjetiva (para animais e objetos distantes),
além de muito dispendiosa ainda tinha os custos dos filmes e de revelação.
Atualmente, com a revolução tecnológica da última década, tudo ficou muito mais
fácil. As câmeras profissionais não são mais tão caras e podem ser encontradas
com facilidade na maioria dos países. Você coloca as fotos num pen-drive, vai a
um supermercado e você mesmo as imprime. O mesmo é válido para filmadoras
que inclusive se tornaram muito mais compactas, práticas e de fácil manuseio.
Entretanto, uma gama enorme de câmeras amadoras, com excelente resolução,
muitas com zoom e outras que permitem uma boa aproximação para flores e
objetos pequenos podem, muitas vezes, substituir as câmeras profissionais,
além de produzirem pequenos filmes. Isto proporcionou uma verdadeira
revolução na documentação de comportamentos, tanto de animais como
humanos. Um detalhe importante é que as fotos e filmes podem ser
armazenados, reconfigurados e eletronicamente manipulados com um grande
número de programas de computador que surgem a cada dia.

Dicas importantes:

► A leitura dos manuais é de fundamental importância, pois a infinidade de


recursos presentes nesses novos equipamentos requer treino para seu uso e
manipulação. Um excelente equipamento nas mãos de uma pessoa destreinada
pode trazer resultados frustrantes. É muito comum que, por inépcia, o usuário
apague as imagens, sem antes salvá-las.

► Os programas de computador permitem aumentar ou diminuir o brilho, a


nitidez etc. Mas tome cuidado com o seu uso, para não alterar artificialmente a

22
realidade da documentação fotográfica ou da filmagem. Preserve sempre sua
credibilidade.

- Material de Observação:

d) Binóculo e lupa manual – Para se observar animais à distância, um binóculo,


ou até mesmo uma luneta, é muito útil e importante. Há binóculos de todos os
tamanhos, potências e preços. Se você for um ornitólogo (ou mesmo observador
amador de aves) ou um mastozoólogo, recomendo que, logo de cara, já adquira
um bom binóculo, pois vai valer a pena o investimento. Um bom binóculo também
pode ser útil para entomólogos, especialmente para quem estuda borboletas,
abelhas e libélulas, e tem a vantagem adicional de ainda poder ser usado em
eventos esportivos, shows, para ver a lua etc., mesmo se você desistir de estudar
comportamento animal. Portanto, não será um dinheiro jogado fora. Uma lupa
manual é excelente para quem trabalha com pequenos animais no campo, ou
para quem precisa examinar detalhes em partes específicas de animais
capturados ou de vegetais que são utilizados ou consumidos por esses animais.
Existem lupas com uma pequena lâmpada adaptada e uma alça para prender na
testa, que são muito boas para quem estuda Biologia da Polinização.

e) Lanterna – É mais um equipamento com extrema variação de preço e


tamanho. Pode ser usada tanto em ambiente seco quanto úmido, ou mesmo
debaixo d’água. É um equipamento obrigatório mesmo para quem não vai ao
campo à noite. Você pode precisar iluminar um oco de árvore, por exemplo, ou
seu carro pode quebrar e você ter que passar a noite no mato. Para quem lida
com invertebrados, ter um pedaço de papel celofane vermelho para colocar na
frente da lanterna é essencial. Insetos e aranhas não enxergam a luz vermelha
e você irá perturbar muito menos o comportamento desses animais se os
observar à luz vermelha. Uma boa lanterna também é um equipamento básico
de segurança. Certa vez, eu estava trabalhando sozinho em uma savana,
durante a noite, o que é uma tolice! De repente, percebi que estava sendo
seguido por alguém que não se identificou. Caminhei um pouco na direção da
pessoa, que se afastou e se escondeu. Prendi minha lanterna num galho de
árvore, direcionando o foco para o último ponto em que vi o vulto, e me afastei
na direção oposta, fazendo o contorno pelo mato, até alcançar a segurança do
meu veículo novamente. A lanterna foi de fundamental ajuda, neste caso.

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Material de Orientação:

f) Bússola ou GPS – A velha e boa bússola ajuda muito, mas o GPS é um


equipamento cada dia mais acessível, devido à queda em seu preço de venda.
Atualmente, o GPS (Global Positioning System) é um equipamento básico para
marcação de localidades, medição de distância e para esquadrinhar áreas
naturais. Hoje, muitos telefones celulares já vêm com as funções de GPS
acopladas. São equipamentos de fácil uso e manuseio e com enorme
confiabilidade dos dados que captam, armazenam e podem transmitir. Para
quem trabalha nos trópicos, como a Amazônia, as savanas tropicais e as
florestas chuvosas do Sul da Ásia, ou ainda em regiões remotas, como desertos
quentes ou frios, o GPS é um equipamento obrigatório em qualquer kit de
sobrevivência.

Dicas importantes:

► Considero o telefone celular um equipamento básico de orientação e


segurança.

► Sem um carregador adaptado à bateria do veículo, o telefone celular não


serve para nada.

- Material de Coleta de Informação:

g) Trena – Serve para a medição de distâncias e alturas, sendo um dos mais


úteis equipamentos para registro de trabalhos de campo.

h) Paquímetro – Este instrumento, que consta de uma escala graduada fixa,


duas garras e um cursor, permite a medição precisa de animais, partes de seus
corpos e partes florais, por exemplo.

i) Cronômetro – É um instrumento indispensável para o registro de


comportamentos, para quantificação da duração de atos comportamentais.

j) Termômetro e termo-higrômetro – Desnecessário dizer que um termômetro


serve para medir a temperatura, mas há muitas variações deste instrumento,
desde os comuns, aos mais complexos, que marcam a temperatura máxima e
mínima. Já um termo-higrômetro, além de medir a temperatura, também afere a
umidade do ar.

24
k) Oxímetro e pHmetro de mão – O oxímetro é o instrumento que determina,
fotoeletricamente, a saturação de oxigênio na água. O pHmetro é o aparelho
usado para medição do pH da água. Medir a oxigenação e o pH da água pode
ser necessário para ictiólogos, herpetólogos e limnólogos, em seus estudos
associados a comportamento.

l) Refratômetro – O instrumento utilizado na medição do índice de refração de


uma dada substância permite medir as quantidades de açúcares (geralmente
frutose) presentes em nectários e exsudações vegetais.

m) Balança e pesola – Uma balança e uma pesola (balança vertical manual) são
equipamentos básicos, quando se pretende capturar pequenos animais para
conhecer seu peso.

Dica importante:

► Em alguns países, é bom andar com uma declaração com o objetivo da


pessoa, para não ser confundido com traficantes de drogas, que fazem muito
uso deste equipamento. Não se assuste com esta lista, pois você não vai
precisar de tudo isso. O tamanho de sua mochila de campo vai depender das
respostas que você quer obter. Tem gente que jamais vai usar um medidor de
pH, outros que nunca usarão um refratômetro e assim por diante.

- Material para Coleta:

n) Luvas – São muito úteis no manuseio de invertebrados e também na


manipulação de aves e mamíferos (especialmente roedores e morcegos).

o) Pinças – Há pinças dos mais variados tamanhos e formatos. Aquelas que


estarão em sua mochila deverão atender as suas necessidades. Por exemplo,
uma pinça fina, do tipo de relojoeiro, é útil para quem vai trabalhar com animais
bem pequenos, ou para quem vai precisar fazer manipulações em flores e
botões. Pinças médias, com borda rombuda, é apropriada para quem quer
capturar pequenos insetos e aranhas, sem ferir os animais. Pinças grandes, com
mais de 30cm, são indicadas para quem vai manipular animais perigosos como
aranhas, escorpiões e morcegos. O bom senso do pesquisador deve prevalecer
sempre.

25
p) Redes de captura e puçá – Em muitos lugares, especialmente nos países
tropicais, estes importantes apetrechos são vendidos apenas com autorização
oficial do governo. Um puçá feito de filó, ou melhor, de organza, é um
equipamento de campo básico para todo entomólogo. Na verdade, o puçá nada
mais é que um enorme coador de café . Com ele, você pode capturar pequenos
espécimes: borboletas, abelhas, vespas, libélulas etc., com o objetivo de atender
às necessidades de seu estudo: sexar o animal (examinar o sexo), marcá-lo,
medi-lo e pesá-lo.

q) Potes para coleta – Se você trabalha com invertebrados, como insetos


diminutos, como apanhá-los sem esmagá-los, ou sem que fujam? Potes
coletores, de plástico ou de vidro, de diferentes tamanhos, são muito úteis para
isto. Esses potes precisam ter dois furos. Você suga de um lado, criando um
vácuo e o animal é puxado para dentro do pote.

r) Tesouras – Podem ser necessárias, tanto para o corte de pequenos pedaços


de vegetais, quanto para a preparação de materiais de identificação no campo.

s) Material de herborização – Muitas vezes, você vai precisar saber a espécie


vegetal sobre a qual seu modelo de estudo foi observado fazendo alguma coisa
(pousado, comendo, repousando etc.). Então, você vai ter que saber como
coletar e prensar o material, para futura análise. Assim sendo, é bom saber como
montar uma prensa de campo e como herborizar corretamente o material. Uma
prensa simples de campo consiste de duas placas de madeira, fazendo um
sanduíche com duas placas de zinco (opcionais), folhas de papelão e, por fim,
jornal contento o material vegetal no meio. Tudo isso amarrado por cordões ou
barbantes.

Dica importante:

► Para diferentes tipos de invertebrados há diferentes tipos de equipamentos,


muitas vezes específicos para um determinado grupo. Procure informações na
internet, em publicações específicas ou com colegas.

- Vestuário:

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t) Roupas – Este é um dos itens mais importantes para quem trabalha com
comportamento. As roupas devem ser confortáveis (nem quentes, nem frias);
devem proteger as partes expostas da excessiva radiação solar e de animais e
plantas que podem lhe causar injúrias.
Por exemplo, formigas, aranhas, escorpiões, pernilongos, plantas urticantes etc.
Dica importante:
► Sugiro sempre cobrir a boca da calça com a meia ou apertá-la com um
elástico. Pense como um escorpião que está no solo, vendo um tênis e uma
calça comprida acima dele: “Oba! Um morrinho para subir e entrar num túnel
escuro, úmido e quentinho... Que beleza!”. Pois foi exatamente isso que
aconteceu com minha esposa, quando estávamos no campo. Por sorte, ela não
foi picada. De fato, foi muita sorte, pois estávamos a mais de 100 quilômetros de
distância de um hospital razoável. As cores das roupas usadas pelos
pesquisadores, no campo, também são de grande importância, pois, como
veremos mais à frente, elas podem influenciar no comportamento do animal
observado, estimulando ou inibindo comportamentos.
u) Calçados – A importância deste item deve-se ao fato de que, no campo, o
pesquisador é obrigado a caminhar grandes distâncias e a permanecer muito
tempo em pé. No laboratório, o pesquisador permanecer parado por um longo
tempo. Por isso, é muito importante que você perceba como os calçados ou as
roupas influem em sua circulação sanguínea.
Dicas importantes:
► Botas e perneiras são importantes proteções contra serpentes.
► Talco mentolado nas botas afasta carrapatos.
v) Proteção para a cabeça e para a pele – Chapéu, boné ou mesmo um guarda-
sol pode ser necessário, dependendo do grau de exposição à luz ao qual você
estiver sujeito durante seu estudo.
Dica importante:
► Embora isto nada tenha a ver com o vestuário, se você for trabalhar nos
trópicos, é bom reservar dinheiro para comprar muito protetor solar (FPS de 30
para cima).
w) Traje de mergulho – Aqueles que vão trabalhar em ambiente aquático
provavelmente precisarão de trajes de mergulho feitos de neoprene com, pelo
menos 4 milímetros de espessura, pois os riachos tropicais são muito frios. Dê

27
preferência ao traje azul-escuro ou preto, pois essas cores apresentam menor
influência no comportamento dos peixes.
- Materiais Diversos e Equipamentos de Laboratório:

Há uma grande diversidade de materiais que podem lhe ser úteis, desde
produtos químicos até pequenos utensílios domésticos.

x) Produtos químicos – Álcool etílico, éter sulfúrico, água oxigenada, acetona,


formol, ágar-ágar e detergente são produtos muito usados em comportamento,
principalmente com a função de acondicionamento e preservação de materiais
coletados.
y) Recipintes – Potes de vidro e/ou plástico, desde diminutos tubos eppendorf,
potes coletores para exames laboratoriais de urina e fezes, até grandes sacos
de plástico e pano podem ser úteis para acondicionar e transportar animais do
campo para o laboratório. Mais uma vez o bom senso deve imperar. Como o que
mais coleto são pequenos artrópodes, prefiro potes plásticos de acrílico
transparente com tampa de pressão, pois são muito duráveis, leves, de fácil
manuseio e permitem um exame detalhado do animal em seu interior. Muitas
vezes, podemos fotografar partes do corpo do animal, através do pote.

z) Utensílios de laboratório – Placas ou discos de Petri, bandejas plásticas,


lâminas de vidro, algodão hidrofílico, algodão hidrofóbico, alfinetes
entomológicos, etiquetas, papel vegetal, papel de filtro, placas de isopor e
canetas especiais (para escrita em plástico, vidro e metal) são coisas básicas
que sempre me ocorrem na montagem de um laboratório, ou quando tenho que
comprar material de consumo para manutenção.

Alguns equipamentos podem ser fundamentais para a realização de um bom


trabalho.
● Estereomicroscópio – Ter um bom estereomicroscópio (lupa de mesa) é de
fundamental importância para a observação de detalhes de partes dos corpos
dos animais, ou do comportamento de animais pequenos, como formigas e
pseudoescorpiões. Este equipamento, assim como o microscópio óptico, é
imprescindível para a fase de identificação de material animal e vegetal. Para

28
você identificar a espécie com a qual trabalha, ou alguma espécie de interesse
para o seu estudo, você terá que lidar com chaves de identificação que vão de
ordens e famílias, até gêneros, espécies e, algumas vezes, subespécies. As
estruturas que separam os animais podem ser muito pequenas, como um
detalhe na asa de um besouro, ou um pelo diferente no dorso de uma abelhinha.
Como estes equipamentos costumam ser muito caros, os pesquisadores só
conseguem adquiri-los através da ajuda de órgãos governamentais de fomento
à pesquisa.

● Balança analítica de precisão – Ter uma balança analítica de precisão, com


até três casas decimais abaixo do zero, é sempre bom. Mesmo para quem for
trabalhar com ursos, pode haver a necessidade de se pesar e quantificar
pequenas sementes de gramíneas, eventualmente encontradas em suas fezes.
No caso de pequenos peixes, anfíbios, passarinhos, artrópodes, diferenças
mínimas no peso dos animais podem trazer importantes informações sobre seu
comportamento. Há ainda alguns outros equipamentos que eu gosto de ter
sempre à disposição, pois eles podem apresentar usos diversos.
● Aquário / terrário – Além de servir para acondicionamento de peixes, um
aquário pode ser facilmente convertido em um terrário. É um recipiente barato,
portanto não entre nessas de pagar caro e prefira o “faça você mesmo”. A vida
é para ser divertida. Veja bem: o que é um aquário além de cinco lâminas de
vidro e um tubo de cola de silicone unidos com muita paciência e capricho? O
mais importante é como você vai montar o aquário. Há muitas dicas sobre isso
em revistas e livros de aquariofilia. Eu sempre montei aquários muito simples e
que quase não me dão trabalho com manutenção:
1) Uma placa perfurada no fundo, com um tubo plástico, onde entra uma bomba
submersa (o chamado filtro biológico) vai puxar a sujeira para o fundo. 2) Cubra
a placa com uma camada de lã de vidro ou manta acrílica, depois cascalho fino,
areia fina e lavada, cascalho fino e cascalho grosso, nessa ordem, de baixo para
cima. Coloque plantas verdadeiras – nada de plástico.
Vallisneria spiralis é uma ótima opção, por ser uma planta muito resistente.

29
4. ANIMAIS MAIS ESTUDADOS

Nas universidades brasileiras, dezenas de grupos de pesquisa se


dedicam ao estudo do comportamento animal, com os mais variados temas.
Além disso, a Sociedade Brasileira de Etologia busca promover a cooperação
entre pesquisadores, profissionais e estudantes interessados pela área.

1. Primatas

Os primatas ocupam o primeiro lugar no ranking dos animais com


comportamento mais estudado, principalmente pela proximidade com os seres
humanos. O macaco-prego, por exemplo, é conhecido pela inteligência, vida
social complexa e habilidade com ferramentas. Diferentes grupos de pesquisa
no Brasil estudam a manipulação de objetos, aprendizagem individual e
influências sociais na aprendizagem entre os macacos-prego, tanto em semi-
liberdade quanto em populações selvagens.

2. Roedores

Os ratos motivam um grande número de pesquisas sobre comportamento.


Eles servem de modelo para o estudo de patologias comportamentais e ecologia
comportamental. Ratos são onívoros, altamente adaptáveis e inteligentes, o que
ajuda a espécie a se dispersar mundialmente e viver em uma ampla variedade
de climas e habitats. Ratos são noturnos e têm três períodos de atividade, no
início, no meio e no final da noite. São animais extremamente sociáveis. As
brincadeiras são consideradas muito importantes para o seu desenvolvimento
social e o estabelecimento de vínculos.

3. Invertebrados

Formigas, vespas e abelhas aparecem em terceiro lugar na lista. Estudos


apontam que os animais invertebrados, ou seja, todos aqueles desprovidos de
coluna vertebral correspondam a mais de 99% de todas as espécies animais do
planeta. Os animais invertebrados distribuem-se por 33 filos (número que pode
variar dependendo da classificação adotada) reunindo 95% das espécies

30
conhecidas. Os outros 5% pertencem a um único filo, o dos vertebrados. A
maioria dos animais invertebrados é exclusivamente marinha, alguns são
predominantemente marinhos e o restante terrestre.

4. Aves

Um fator que exerce muita influência na expressão do comportamento das


aves é o horário, uma vez que todos os animais seguem o ritmo normal da
natureza. Isso está ligado principalmente ao fotoperíodo – duração da luz solar
em em determinado lugar, dependendo da latitude e da estação do ano. Uma
característica observada no comportamento de aves é a agressividade. Esta
conduta é relacionada principalmente à condição de se estabelecer dominância
no grupo ou a condições de estresse.

5. Ruminantes

Os ruminantes têm a necessidade de interagir com outros indivíduos da


mesma espécie, formando grupos. Criadores e técnicos responsáveis pelos
animais precisam conhecer muito bem o que vem a ser o comportamento normal
das diferentes espécies. Compreender as etapas reprodutivas desses animais é
importante para o crescimento do rebanho.

31
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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